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FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE(FEBF-UERJ)

ALUNO: LEONARDO DA SILVA COSTA/ GRADUAÇÃO: GEOGRAFIA


DISCIPLINA: ECOLOGIA POLÍTICA 1/ TURNO: NOITE
PROFESSOR RESPONSÁVEL: FELIPE TAVARES

RELATÓRIO ANALÍTICO A RESPEITO DO TRABALHO DE CAMPO


NO MORRO DA FORMIGA (17/12/2022).

17 de dezembro de 2022,as 8:00 horas de um dia que se inicia nublado, os alunos


dos turnos da manhã e noite da disciplina de ecologia política se encontram na
avenida Conde de Bonfim, uma das principais artérias do bairro da Tijuca, zona
norte do Rio de Janeiro, na altura da rua Medeiros Pássaro (altura de numero
800) que dá acesso ao objeto de estudo deste trabalho de campo, o Morro da
Formiga.
Em meio a inúmeros prédios na avenida principal, adentrar por aquela rua foi
quase como passar por um portal entre o urbano e o “natural”, pois já chegando
no local é possível ouvir o barulho da cascata em harmonia com o canto
estridente das maritacas. Mas para além da mudança ecológica da paisagem vista
ao subir por aquela rua, notava-se também uma extrema diferenciação
socioespacial gradativa, já não haviam mais prédios e lojas de departamento, o
asfalto dali certamente era muito mais antigo que o da avenida principal e as
casas para além de humildes, não passavam dos 20m.
Seguindo o roteiro do campo,aproximadamente as 8:30, e um pouco mais acima no
morro, nos encontramos com o Sr. Orlando liderança na horta do morro da formiga
do projeto Hortas Cariocas, um programa da secretaria municipal de conservação e
meio ambiente criado em 2006 no intuito de diminuir a insegurança alimentar de
famílias carentes, além de gerar empregos e renda para que a comunidade possa se
sustentar de forma digna. Possui hortas presentes em 29 comunidades e 27 escolas
da rede municipal do estado do Rio de Janeiro. De forma muito educada e solicita
, Sr Orlando nos falou da importância do projeto para a comunidade do morro da
formiga e de como suas praticas ecológicas e métodos de plantio eram elogiados
e eficientes, sem de forma alguma danificar a natureza. A comunidade coexiste
com a mata atlântica de uma maneira surreal, e o senhor Orlando nos contou sobre
a limpeza voluntaria que ele próprio realizou no Rio cascata, afluente do rio
Maracanã, que chega até a encosta do morro Sumaré (Parque Nacional da Tijuca),
ele fez questão de falar que os moradores tinham sim sua parcela de
responsabilidade pela poluição tanto do rio, quanto da natureza em si;
a pergunta que me fiz, lembrando-me da diferenciação que vi ao subir pela rua
foi: Será que se o Estado fosse eficiente na forma de coletar e lidar com o lixo
produzido, e ainda, se preocupasse com o lixo produzido nas favelas, haveria
tanta poluição no rio do morro da formiga? Sendo ainda mais profundo, se o
Estado como um todo fosse mais eficiente no desempenho de suas funções, ainda
haveriam problemas assim? Tal pergunta idealista me seria esclarecida mais a
frente naquele dia com um choque de realidade material, e por uma personalidade
que já se encontrava na horta de Sr. Orlando, a Dona Nanci Rosa, agente pública
de saúde e líder comunitária. Conversando ali mesmo na horta com Dona Nanci,
descubro que sua família estava diretamente ligada a historia da comunidade, o
nome de sua irmã, Nilza Rosa, foi inclusive dado ao centro municipal de saúde
do Morro da Formiga.
A aproximadamente 10:00 horas, saímos da horta comunitária para caminharmos um
pouco pela comunidade acompanhados por Dona Nanci, que nos mostrou centros
culturais, lojas de roupa, arte urbana, a praça da bíblia e a quadra de esportes
onde algumas crianças de kimono se preparavam para um treino de jiu-jitsu, nessa
quadra enquanto recuperávamos o folego da subida, a Dona Nanci falava sobre a
importância de tais espaços na vida dessas crianças e da comunidade em si, neste
momento aproveitamos para perguntar assuntos de interesse a ela. Visto que da
quadra era possível ver a UPP (unidade de policia pacificadora), logo a
perguntei sobre como a foi a recepção da comunidade a esse projeto do Estado,
Dona Nanci me diz que a unidade foi recebida de bom grado pela população local,
que se sentiam de fato mais seguros, mas que como praticamente todas as UPP’s,
foi sucateada e praticamente abandonada com o tempo.
Subindo mais o morro, e já passando da área da policia, nos foi recomendado por
Dona Nanci que não tirássemos mais fotos do local, pois a partir dali e em um
novo choque de materialismo, o Estado já não operava, e sim o poder paralelo da
maior facção criminosa do Rio de Janeiro, ainda assim, era perceptível que a
principal força atuante não era do Estado e nem do Estado Paralelo a este, e sim
de uma força comunitária ativa e de historia intrínseca à região e comunidade.
Caminhando um pouco mais por uma paisagem linda que misturava o urbano a
floresta da Tijuca, chegamos a uma mina d'água estruturada pelos moradores,
nesse momento, minha duvida inicial foi respondida, o Estado não atua de forma
eficiente no desempenho de suas funções, pesquisando ali mesmo pelo celular
sobre as minas d'água do Morro da Formiga, fiquei sabendo sobre as sociedades de
água. Um dos projetos de sustentabilidade mais antigos de manejo comunitário dos
recursos hídricos, Estabelecidos por moradores muito antes da prefeitura prover
um sistema para a comunidade, as sociedades de água geriam as nascentes
encontradas em vários locais no morro. Apesar de a CEDAE agora abastecer água na
comunidade. A água da CEDAE é encanada das ruas até uma cisterna localizada
dentro da floresta e acima da favela. Lá, a água é tratada com cloro para
remover bactérias, mas há relatos de que os moradores do Morro da Formiga
preferem a água natural e cada uma das sociedades de gestão de água gera uma
nascente.
As sociedades de água da comunidade estabeleceram cisternas para que a água de
cada nascente fosse enviada diretamente para a casa dos membros por meio do seu
próprio encanamento. Os membros são proibidos de encanar suas águas para outras
casas. Sistemas de água como a unidade Boa Vista, construída em 1949, e a
unidade de São Jorge, 1964, vem provendo água para a comunidade por mais de meio
século. As unidades ainda funcionam hoje e cada uma fornece água para
aproximadamente 20 casas.

Além das sociedades de água, os moradores do Morro da Formiga organizam e


implementam projetos sustentáveis como grupos de coletores de livros e equipes
de reflorestamento para melhorar o bem estar social e ambiental de sua
comunidade. Tocando nesse ponto é importante lembrar também que a própria
comunidade se une em mutirão de reflorestamento desde a década de 80, pois nessa
época houve um desabamento ocasionado por chuvas que acabou por matar 6 pessoas.

Segundo a Prefeitura, a cidade do Rio tem cerca de 18 mil moradias em áreas de


alto risco em 117 comunidades. Em 2011, mais de 900 pessoas morreram em
deslizamentos na Serra Fluminense, cerca de 100 km distante da capital, na maior
tragédia ambiental do país. Com o reflorestamento das encostas dos morros
cariocas, tais acidentes são evitados naturalmente.

Na descida, enquanto contemplava as belezas da mata atlântica e a cascata do


Morro da Formiga, pude pensar sobre como o poder publico chegava para aquela e
para outras comunidades, sobre como os indicadores socioeconômicos vistos no
decorrer do trabalho de campo poderiam separar aquela comunidade da natureza
caso não houvesse uma forte liderança comunitária empenhada e engajada nas
causas ecopolíticas. O estado até se mostra presente na comunidade do Morro da
Formiga, mas a ineficiência e falta de comunicação com os locais ocasiona
praticamente na independência total da comunidade perante a sociedade. Por isso
estuda-se e fala-se hoje em dia sobre Ecologia Politica, pois separar o urbano
do natural já se mostrou mais que obsoleto e o bem estar social de comunidades
inteiras dependem de politicas publicas eficientes no âmbito sociológico e
ecológico.
Fonte extra de conhecimento:

https://www.terra.com.br/

https://wikifavelas.com.br/index.php/P%C3%A1gina_principal

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