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2.

A AGRICULTURA SOB O FEUDALISMO

“Historicamente, cabe esclarecer que a produção feudal, que antecedeu a


produção capitalista, dominou quase todo o território europeu. Esta mesma
Europa foi também, posteriormente, locus do nascimento do capitalismo.” (pag.
13)

“A produção feudal reinou durante muitos séculos, e por isso deixou marcas
profundas na paisagem europeia.” (pag. 13)

2.1. A servidão

O modo feudal de produção tinha como estrutura básica de seu


desenvolvimento a propriedade do senhor sobre a terra (os feudos) e a
propriedade limitada do senhor sobre o camponês servo (servidão). Através
dessa propriedade limitada do senhor sobre a pessoa do camponês servo foi
edificada a coerção feudal. Ela permitia que o senhor pudesse exigir os tributos
e as prestações pessoais. Não se trata aqui da propriedade total e absoluta
como no escravismo.” (pag. 13)

“Várias foram as formas e os graus de servidão durante o feudalismo, entre


os quais se destacavam: os servos de domínios, os fronteiriços, os aldeões, os
vilões e os camponeses propriamente ditos.” (pag. 13)

2.2. Os feudos

“à agricultura sob o feudalismo obedecia a uma lógica interna própria, na qual,


portanto, a servidão era traço fundamental da coerção” (pag. 13)

‘o senhor feudal dividia suas terras em duas partes:


O domínio: era a parte de suas terras, em geral de ampla extensão, onde, sob
sua tutela ou de seus agentes, os servos trabalhavam os "dias de dádiva”,
horas de trabalho para o senhor, a corvéia”. .
Essas terras diretas do senhor abrigavam as suas habitações, as construções
que se destinavam à exploração agrícola, as oficinas e as casas dos servos
que trabalhavam diretamente apenas para ele.” (pag. 13)

“As parcelas: formavam a outra parte das terras do feudo, que eram divididas
e concedidas aos camponeses. Estes, por sua vez, ficavam obrigados a
entregar tributos exigidos sobre a produção de sua parcela e, além disso,
prestar dias de trabalho pessoal (corvéia) para a exploração do domínio direto
do senhor.” (pag. 13)

“Em geral, essa jornada de trabalho gratuito era a cessão de renda em trabalho
para o senhor feudal. Além disso, estavam os servos camponeses obrigados a
utilizar o moinho ou o forno senhorial, pelos quais também pagavam em
espécie. Assim, a fração da produção entregue pela cessão da terra e pelo uso
do moinho eram rendas em produto transferidas dos camponeses ao senhor
feudal. Portanto, duas formas de renda da terra aparecem no feudalismo: no
início era mais forte a presença da renda em trabalho, que, em função das
lutas dos camponeses contra a corvéia, foi diminuindo em vários lugares,
aumentando a participação da renda em produto.” (pag. 14)

“A produção parcelaria, que é o traço característico da agricultura feudal,


apareceu em toda a Europa, e, embora recebesse denominação local
diferenciada, essas denominações todas guardavam identidades comuns.”
(pag. 14)

“A cultura dos três campos foi o ponto principal dessa sociedade, interpretada
por vários autores como doméstica, fechada, que bastava a si mesma, uma
verdadeira sociedade do território.” (pag. 14)

3. A TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO

“À medida que as terras escasseavam, surgia a tendência ao monopólio do


mais considerável dos meios de produção, a terra. Lutas encarniçadas eram
travadas entre a nobreza e os camponeses, e o resultado sempre foi favorável
aos nobres feudais, que obtinham do Estado o auxílio necessário para derrotá-
los. Rompeu-se o equilíbrio do sistema de cultivo dos três campos, pois, no
início, o que mais convinha aos nobres feudais era a exploração das florestas
para a obtenção de madeira, que, com o crescimento das cidades, era muito
procurada, até o momento em que foi substituída pela hulha e pelo ferro.” (pag.
16)

“Os camponeses, que antes dispunham em comum dos bosques, tiveram que
passar a comprar tudo o que lá outrora buscavam gratuitamente. O mesmo fato
aconteceu com as pastagens quando as indústrias urbanas crescentes
passaram a exigir mais matérias-primas, a lã, por exemplo.” (pag. 16)
“Essas duas atividades — a exploração das florestas e a pecuária de ovinos,
embora praticadas em moldes capitalistas, não exigiam grandes somas de
capital e nem grande número de mão-de-obra, mas exigiam a propriedade
privada das terras comuns.” (pag. 16)

3.1. Propriedade parcelaria X propriedade individual

O antagonismo estava criado, foi Kautsky quem muito bem narrou esse
momento de ruptura.” (pag. 16)

“Agora, surgia o mercado com as suas exigências instáveis, desenvolvia-se a


desigualdade entre companheiros da aldeia, entre os quais alguns produziam,
quando produziam em suas terras, apenas o indispensável para si mesmo, ao
passo que outros produziam em excesso. Uns, os pequenos, continuavam a
colher para o seu consumo próprio, agarrando-se com unhas e dentes à
comunidade territorial.” (pag. 16)

“Qualquer que fosse a procura do mercado, só podiam plantar nas suas


lavouras o que a comunidade territorial prescrevia. Do mesmo modo,
desenvolveu-se um antagonismo do interesse em relação ao resto da
pastagem comum. O pequeno camponês dela dependia, pois não tinha meios
para passar a uma forma mais alta de exploração. A subdivisão da pastagem
comum lhe impedia quase a posse de animais. O que procurava,
principalmente, era uma maior quantidade de esterco. A partilha lhe daria,
talvez, mais terra, mas diminuiria as suas provisões de adubo, porque obrigava
a reduzir o número de suas cabeças de gado. Os camponeses abastados, ao
contrário, consideravam um desperdício criminoso o emprego, como pastos, de
glebas que poderiam, com seus recursos, explorar de maneira muito mais
produtiva.” (pag. 16)

“Para a passagem a esse modo de exploração (capitalista) impunha-se a


ruptura do compromisso entre o comunismo fundiário e a propriedade privada,
representado pelo sistema de cultivo da Idade Média. Impunha-se o
estabelecimento da propriedade privada completa, a partilha da pastagem
comum, a supressão da comunidade territorial e da coerção da folha (ou
campo), a eliminação do emaranhamento dos lotes disseminados, e a sua
reunião numa unidade. O proprietário fundiário se tornaria assim o proprietário
completo de suas terras dispostas numa superfície contínua, superfície que
poderia então explorar de modo exclusivo segundo as regras da concorrência e
do mercado.” (pag. 17)

Referência

OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. Modo capitalista de produção e


agricultura. São Paulo, Ática, 1986. (cap. 2, 3 e 4).

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