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pÀmNA r~ BI!

ANCO
,..,
OBSERV AÇOES

SITUA.~ OMIC

A. C. HEREDIA

~
" , . LISBOA

TYPOGRAPHIA &WATTOS &WOREIRA


IS. Praça doa Restauradores, 16

1888
pÀmNA r~ BI!ANCO
~ITUA~ÃO ELONOMI~A DA ILHA DA MADEIRA

1. PARTE
A

Qrganisaçâo da propriedade rural.-Absorpção do contraoto de colonfa;


emancipação do colono e do senhorio.-Credito rural; capitaes
baratos.

As terras de vinculo n'uma situação economica. e a colonia n'ou-


tra, em circumslancias e cóm interesses por vezes differentes e 0Ppos-
tos. deram á propriedade rural uma organisação anomala, verdadeira·
mente extravagante, que tem sido desde longa .data causa principal do
atrazo e de muitos dos maiores desastres da agricultura. O vipeolo
era a grande propriedade, o contrato de colonia a propriedade' infi-
nitamente pequena, horrivelmente afreladas, conspirando a param. da
outra, e reciprocamente, pará o seu aniquilamento.
Desnecessario é expõr o que eram as terras de vinculo ou de
morgado, que se lransmittiam indivisiveis de uns para outros admi.
ni~tradores, ernqoanto que, em resultado do· contrato de colonia. a
bemreitoria n'ellas feitas se transmittia, como ainda hoje se transmitte,
dividida e subdividida, aos herdeiros dos colonos. Existiam assim
grandes proprietarios de propriedades infinitamente pequenas. A abo-
lição do~ morgados não deu porém independencia á terra nem á
bemreiLoria; não dissolveu os vinculos que as escravisavam. A terra
continuou· pertencendo a determinados individuos, a outros 3S hemfei-
feitorias que o'ella demoram; menos grande a propriedade terra, que
ficou sugeita ao direito commum, mas sempre progressiva a subdivi-
são que n'ella opera o movimento da bemreiloria, sempre a despropor-
ção, o desiquilibrio, o retalhamento que mata tudo.
No contrato de colonia, que é de direito consuetudinario, o se-
nhorio entrega as terras a colonos com a obrigação de lhe darem estes
melade do producto bruto da sua lavoura, deduzidas apenas as semen-
tes de cereaes. O colono a par das culturas que emprebende, no que
é completamente livre, faz sobre a terra do senhorio, além de paredes
que sustentam a terra das enco~tas, casas de habitação. palheiros para
gado, e abi vive com sua familia, não podendo comtudo levantar fru-
ctos sem assistencia do senborio ou arrendatario d'elle. Esle systema
de colonia, que ninguem seguirá boje, generalisou-se antigamente, e em
geral ficou a elle sujeita a propriedade rural da Madeira. Alguns se-
nborios aggravam a situação do colono~ vendendo-lhe a agua precisa
para a irrigação das soas terras!
Este contrato que primitivamente o colono não sentiu oneroso por
que a productividade das terras, e o alto preço dos product.os, recom-
pensando largamente os trabalhos da lavoura (tanto que não era raro
baver colonos relativamente ricos) substituiam a equidade que n'elle
n~o bavia, foi pouco a pouco, e á proporção que as riquezas naturaes
do solo, exbaurindo-se, careciam do auxilio e reforço que lhe não eram
dados, sendo causa de maior ou menor indisposição do colono contra
o senborio, que, quanto mais se lhe reduziam os rendimentos, por efIeito
da escassez das colheitas e da reducção dos preços do principal produ-
elo agrícola, maior rigor exigia no cumprimento das obrigações con-
tratadas entre elle e os colonos. que, em épocas já reruotas chegaram
c
,

a sublevar-se em algumas freguezias da ilha. não conseguindo as suas


sublevações, sempre reprimidas pela força e pelas justiças do tempo,
o s~u Objecto expresso, que consistia- em reduzir a renda do senborio
ao terço do producto da terra colonisada.
Pouco depois de uma d'eslas sublevações preparavam os politicos
do tempo o estabelecimento do reinado do sr. D. Miguel de Bragança,
e 6S frades serviram·se da indisposição, sempre aescente, dos colonos
contra os senhorios, para fazerem proselytos entre aquelles, o que lbes
foi (acH conseguir, meUendo na cabeça d'elles colonos que, estabelecido
o governo do sr. D. Miguel, não só não pagariam melade dos productos
aos senhorios, mas até ficariam proprietarios das terras d'estes.
Foi assim que, ao desembarcarem as tropas miguelistas na Madeira
em 1828, se viu, com geral surpreza, levantarem-se por toda a parte
os colonos, homens e mulheres, como fervorosos partidarios do usurpa-
dor, e irem sem ordem nem indicação de auctoridade alguma, prendendo,
escoltando e conduzindo ás cadeias e calaboiços, todo o proprietario ou
senborio que apanhavam descuidoso, enchendo-se de tal modo as pri-
sões de toda a melhor gente da terra que não linba podido ou não ti.
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nha sabido escapar-se. Tal foi a obra rapida e completa do coofessio-


nario.
Estabelecido o governo do sr. D. Miguel, os colonos n50 ficaram
sendo proprietarios como lhes tinham promettido os frades, mas os bens
dos proprietarios malhados e malhados eram quasi todos elles, foram
J

confiscados, os colonos em muitos casos depositarios, sem contas, dos


rendimentos, que mais tarde eram por elles mesmos arrematados por
preços infimos; e d'esse e de outros modos usufruiam quasi tudo o que
produziam as terras. Se não se realisava inteiramente o ideal aununcia-
do pelos frades, a prosperidade era tamanha que criou o convencimen-
to de ser o governo do sr. D. Miguel o melhor dos governos do mundo.
Cinco annos d'este modo de vida fizeram dos colonos, dos qoaes $e
compõe quasi toda a população rural, e ainda dos seus filhos e netos,
que pela maior parte não chegaram a gosar plenamente d'aquellas de-
licias, miguelistas (l'estes d'antes quebrar que torcer.
Findo os 5 anDOS, os senhorios que não foram enforcaaos, 00 po-
deram viver nos degredos, Das masmorras, DO exílio ou DO homizio',
voltaram ás suas casas e readquiriram os seus direitos. Eram eDUio'im-
possiveis as explosões de odios, mas os odios recrudesceram por effei-
to de vinganças mal entendidas, concentraram-se, mantêem-se, ora sur·
damente, ora manifestando-se nas lutas eleitoraes em que, n'om ou
n'ou1ro ponto, as influencias politicas, chamadas liberaes, logram fazer
passar a sua lista como contraria ao senhorio ou senhorios da localida-
de, ora seguindo a bandeira da republica, que, sendo cousa bem dUJe-
rente. e inteiramente ao envel da violação do direito. se lhes afigura
comtudo como uma forma de governo de resultados anatogos·. aos do
governo do sr. O. Miguel, cuja historia tem sido tegularmente traos':
mittida á lareira a filhos, Delos e bisnetos, durante os ultimos 53
annos.
Mas n'o meio de tudo isto nem augmentavam as producções da
terra nem o valor d'ellas nos mercados. A pequena cultura, pobrissima
e ignorante, não podia remediar o mal da escassez das producções,
nem o senhorio, pouco menos ignorante, sabiá nem podia evilaI·" por·
que lh'o impedia, não só a vinl~ulação, inimiga do credito rural, mas lám-
bem o proprio contrato de colonia, que obsta á intervenção do senhor
das terras nos processos da cultura. e na escolha das culturas a ado:-
ptar, sobretudo por que não havendo harmonia entre o senhorio e o
colono, este desconfia de tudo o que é aconselhado ou indicado por aquel-
le;-da escassez das producções, que a todos foi empobrecendo, veio
a adopção do systema de arrendamento, que garantisse aos proprieta-
rios um talou qual rendimento certo, isento das lutas com o colono;
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dos arrendamentos a especuladores, tão contra rios aos interesses dos


senhorios como aos dos colonos, veiu a esterilidade de muitas terras,
cujas bemfeitorias eram tomadas aos colonos em pagamento de dividas
de frutos, ou abandonadas pelos mesmos colonos perseguidos pelos
rendeiros, e ahi, quando já eram muitas as causas de desgosto e de
ruina, começou a emigração, que, então como hoje, só excepcionalmen-
te significa ambições desordenadas.
Em 1842 appareceu a molestia das batatas, que não sendo uma
producção rica, constituía n'uma grande parte do anno a alimentação
do colono. e dava aos senhorios um redito considera\'el. Dez annos de-
pois, proprietarios e colonos foram assaltados pela primeira molestia
geral das vinhas, (oidium) que logo foram totalmente destruidas em to-
da a ilha, com excepção de alguns, poucos, pontos dafreguezia do Por-
to de Moniz; desastre que. não obstante serem muito baixos os preços
dos vinhos, do que resultava em toda a parte reduzir-se sensivelmente
todos os annos a cultura das vinhas com abandono das terras que, á fal-
ta d'agua, não serviam para outras culturas. originou comtudo pobresa
geral mais sensivel. Com a falta d'estes produclos, que a todos reme-
diavam um pouco, cresceu a triste necessidade de mais rigorosa par-
tilha dos frutos da lerra entre o colono e o senhorio. e cresceram com
ella as razões da emigração, que outros querem atlribuir, absoluta e
exclusivamente, a superabundancia de população. e confundem o bem
individual de alguns dos que emigram com o da terra d'onde emigram,
para a qual esse bem raro reverte, sem reflectirem que, se a popu-
lação superabunda agora é principalmente por que e~quanlo elIa cres-
ce, decresce a producção. de que se não cuida, e por que se não apro-
veitam para a que vai crescendo as terras incultas, que são quasi tan-
~s eomo as cultivadas, vindo em ultima analyse a superabundar,
sómente o abandono em que têem estado os interesses economicos
d'aquelle paiz.
A população superabunda, e os salarios sobem, e, outras vezes não
se acham braços para os trabalhos agricolas f
Os senhorios ou proprietarios de terras comprehenderam então a
conveniencia de um esforço tendente a sal vai-os e aos colonos. que tam-
bem sentiram um pouco a necessidade de se deixarem dirigir e auxi-
liar; todos viram por fim na cultura da canna de assucar, que fôra uma
das primeiras. da Madeira, uma substituição vantajosa da cultura da vi-
nha. Mas a cultqtâ da canna, muito menos dispendiosa que a da vinha,
carecia .todavia de capitaes para o amanho das terras n'e~te sentido, e
de aguas de regadio de que a vinha não precisava; mas os \'inculos
.atiam aiada oppondo resistencia invencivelao credito agrícola, e as
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obras, dispendiosissimas, de aproveitamento de abundantes aguas de


irrigação, só podiam ser emprehendidas á custa do estado, cujo go-
verno inscrevia no respectivo orçamento verbas tão insignificantes para
taes obras, que ainda hoje (ha vinte e seis annos) estão longe de con-
clusão as que se ccmeçaram ou continuaram com o intuito de ravorecer
a cultura da canna!
Os proprietarios, em grande parte empenhados, foram comtudo
fazendo sacrificios sobre sacrificios para auxiliarem 08 colonos, tão res-
trictamenle como as circumstancias permittiam, mas auxiliando. aqui
com planta de canna, acolá aproveitando uma ou outra nascente mais ou
menos insignificante, além construindo tanques, alargando e melhorando
outros, reparando levadas antigas mal construidas, e por fim, passados
nove annos de trabalbosa e altribulada vida, isto é. quando a desvin-
culação, se não trouxe comsigo dinheiro barato, como podia trazeI-o se
fosse desde logo acompanhada de toda a legislação economica corres-
pondente e auxiliar d'essa grande medida, proporcionou-o todavia com
menor difficuldade, e, embora a tO e a t2 %, levantaram-n'o os proprie-
tarios, que não preferiram a venda de parte das terras, para accudirem
á situação dos seus predios; tal era a urgencia de os não deixar por
mais tempo baldios, e a fé na, em verdade abençoada, cultura da canna
d'assucar, que, n'um dado terreno com pouca agua de irrigação produz
por exemplo, taOOo réis, que já pagam com um pequeno lucro as des-,
pezas da lavoura, e n'um terreno sufficientemente regado, e sem maior
despeza, produz dez vezes mais, o que mostra a sua alta importancia.
Foi com estes esforços dos particulares que se generalisou om
pouco a cultura da canna d'assucar, tão valiosa que, apesar de carissimo,
. por muito pesado, o seu· transporte, por ,pessimos caminhos, para os
portos de mar, e d'abi para os centros de fabrico, era já considerado
uma verdadeira riqueza pelos preços· que obtinha.
Duas causas vieram, porém, logo diminuir estes preços e portanto'
reduzir esta riqueza, sem darem tempo sequer a indemnisação dos sa-
crificios feitos para a obter: rnonopolio di) fabrico, e lei de direitos do
assucar da ..Uadeira.
O monopolio. nada palriotico, quasi criminoso quando praticado
pelos conterraneos dos que, com sacrificios enormes, deram .origem e
vida activa e prospera áquelle ramo de commercio e industria, podia
ser combatido pela concorrencia, embora difficil pela importancia dos
capitaes precisos para a fazer efficaz, e de facto uma companhia se es-
tabeleceu para mon~r uma fabrica de assucar por um dos systemas
mais modernos e ,cti~felçoados, que, aproveitando a maio~ quantidade
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possivel da parte sacchario3 da canna, podesse elevar o preço d'esta,


()U reduzir o do Cabrico ainda abaixo do que existia quando o mono-
polio elevou este e reduziu aquelle. Com tanta infelicidade, porém, que
a nova fabrica estabelecida demandava despeza de costeamento que s6
podia ser coberta por uma quantidade de fabrico para a qual não bavia
ainda producção agricola sutlieiente, e os preços da canna em vez de
subirem desceram ainda. A nova fabrica, depois de mil vecissitudes, fe-
ebou, e voltou a imperar o monopolio.
O que porém está muito longe de ser natural e justo, o que é em
extremo extravagante e absurdo, é a criação de direitos sobre o assuear
dá Madeira. E' a unic~ producção do reino e ilhas que paga direitos
de tmportação; equipararam·na á do labaco, por que, diziam os fuo-
darpentos da previdente disposição de lei - c podem os madeirenses
inporlar cannas para fazerem assuear, e lambem assucar, que depais
transportarão para o reino sem pagamento de direitos.--·E disse-se e
esereveu~se, e assignou·se, e legislou-se isto! Dois impossíveis.

Cannas d'a~sucar embarcadas dias depois de coibidas, em .viagem


longa no calor do purão de um navio, em completa fermentação, aze-
dadas umas, apodrecidas outras. pagando fretes enormes de transporte
em terra e no mar, da terra para o mar ao embarcarem, do mar para a
terra ao desembarcarem. para depois fazer assucar, que ainda teria de
pagar fretes da ilha para o reino! .•.
-Assucar de contrabando nas costas da ilha da MadPiral-como
se foram joias nos bolsos do colete do contrabandi~ta-ou em saccos
e barris' ás eostas dos trabalhadores, que em geral são produelores
de cannas, subindo ladeiras, com 40 0/0 inclinação. e passando por
entre todos os cultivadores da cannas da beira mar, qu~ é onde princi-
patmente existe esta cultura!. •• Faz vontade de dar um viva á previ-
dancia de taas legisladores.
Mas as circomstancias da ilba teem de dia em dia empeiorado. e as
vieUmas do desacerto legislativo reclamaram contra elle uma vez; a
muito custo foi concedida a isenção .de direitos por um determinado
espaço de tempo, e desde então, mas já nas vesperas de expirar o
praso das anteriores concessões, tem sido concedidas novas isenções,
sempre por determinado espaço de tempo, mas com taes besitações
e demoras, sempre tanto á ultima bora que, na duvida de ser ou não
retia a enorme cOncessão, que iguala apenas a produeção agricola de
umdistricto ás de todos os outros, suspendendo uma excepção odiosis-
~ma, os preços da canna baixam, e quando cbega a isenção, que devia
wantel.os como estavam, não tornam a subir, oÜ'sobem muito menos
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do que tinham descido, porque o especulador aproveitou as duvidas


e hesitações para reduzir o preço, e o momento critico da colbeita
coincidindo, quando muito, com a noticia da isenção, quando não vem
antes, obriga os produclores a venderem pelo preço que lhes impõem
os fabricantes de assucar, que são simultaneamente os compradores da
canna.
A par dos esforços empregados para a plantação da canna de as-
sucar, outros não menos valiosos, mas com grandissimos sacrificios, se
fizeram para replantação de vinhas quando se vio que o enxofre com-
batia com vantagem o oiJium; esforços que pouco depois eram com-
pletamente inulilisados pela nova molestia das vinhas. o philoxera, que
antes de colheitas remuneradoras, destruiu as vinhas replantadas. E
como se isto fosse pouco, não tardou que a cultura da canna já
definhada pelas causas que deixo apontadas, fosse tambem, como Coi,
atacada de molestia e destruida quasi na sua totalidade.
Que é o que fica depois de todo isto para o colono repartir com
.() senhorio, ou para este auxiliar aquelle? A miseria de ambos.

Remedios.
São muitos os remedios de que se póde lançar mão, mas nenhum
é muito facH, como o seria cada um de per si se administrações pre·
videntes tivessem opportunamente e successivamente amparado a agri-
cultura e o commercio que, sem 'sombras de duvida, caminhavam pre·
cipitadamente para a mais lamentavel das situações; porque todos es-
ses remedios, todas as providencias a adoptar dependem agora, mais
ou menos, uns dos outros, para que possam todos combaler effieaz-
mente e promptamente, o mal gravissimo, composto de tanlos, males
despresados, que arremessa violentamente para o abysmo aquella po-
bre terra, em tudo indicada pela natureza para ser rica e feliz, com a
só condição de caber a mãos de homens que soubessem aproveitai-a,
ou tivessem olhos de vêr o que d'ella se podia fazer.
Felizmente, se é tarde para os que cansados e eihaustos, teem
atravessado todas as crises, e soffrido todas as consequencias da in-
curia governativa, que, desde longa data. tem respondido ás reelamaçõ~s
sempre zelosas de todos os representantes da Madeira, taxando de ques-
tões de campanario verdadeiras questões economicas, que devi.m 'ter
sido resolvidas sem procrastinações, ainda é tempo de preparafum
futuro risonho para os que apenas começam a conbecer as vicissiludes
da vida ; e de que o governo actual sinceramente deseja8Qtrar no bom
tO

caminbo, acaba elle de dar aos madeirenses iniquhocas provas, come-


caodo por atenoar immediatamente, com algomas das providencias já
tomadas. parte dos males que amigem os habitantes d'aquella ilha, pro-
curando com oulras resoh'er de futuro as questões importalltissimas de
irrigação e viação, e dando com a sua solicilude,-promptamente des-
envolvida, rundada esperança de que se occupará com emeacia, e sem
detença. dos mais importantes de todos os problemas a rt'sol ver- reor-
ganisaçiio da propriedade, credito rural, liberdade commercial- na falta
da solução dos quaes está o mal dos males. a origem da emigração,
das agitações, das resislencias, dos tumultos. que são como o choro das
creanças, manirestações de soffrimento que se não sabe explicar.
Uma nova constituição da propriedade, promovida sem offensa
grave de direitos de quem quer que seja, mas igualando tanto quanto
possivel o de exclusão entre colono e senhorio, o que é o menos que se
pôde exigir d'este, ai:; na minha opinião a base principal de um fuluro
de prosperidade para a agricultura.
Como já vimos, a propriedade bernfeitoria, perlencente ao colono,
criada sobre a propriedade terra. pertencente ao senhorio. transrnitte·
se por titolo gratuito ou oneroso aos descendentes dos colonos, a com-
pradores e a credores, dividindo e subdividindo a terra infinitamente,
reduzindo-a a insignificantes retalhos em que nenhuma cultura impor-
tante é possível, e de tal arte que por effeito de successívas transmis-
sões da propriedade bemfeitoria. proprietarios de terras ha, e não poucos,
que, tendo sómente um ou dois ronlos de réis de rendimento, teem
cada um, sobre as suas terras. \'ivendo d'ellas uma parte do anno, pelo
menos trezentos, quatrocentos e quinhentos colonos, que o são tambem em
outras terras pertencentes a outros senborios, e que similbantemente sub-
dividem e retalham improductivamente. Cada um d'estes colonos repre-
senta uma divisão da propriedade terra, demarcada pela bemfeitoria ao
mesmo colono pertencente. Não se calcula, mas é com certesa importan-
tissima, a extensão de terra ioutilisada, .pelas paredes que demarcam
as bemfeitorias de cada colono.
E' de toda a força necessario que uma d'estas propriedades absor-
va a outra, sem o que nada está feito, e nada ba que fazer de dura·
doura prosperidade. A desconfiança reciproca, os excessos e abusos de
parle a parle. do senhorio e do colono, são de tal ordem, talo antago-
nismo. apenas. e mal, disfarçados em momentos para ambos doloro-
sos, que não· ha vida nova possivel sem o divorcio.
Ê certo que o rigor na partilha dos frutos só chega, só pode che-
gar ás grandes producções, por exemplo, do vinho e canna d'assucar,
H.

cuja fiscalisação é menos ditlicil ao senhorio; é certo que das batatas.


dos inbames, dos legumes, das hortaliças, das frutas, etc., o colono se
utilisa de muito mais de metade do producto bruto, e tem na sua mio
os meios de assim o conseguir, já fraudulentamente comendo de tudo
isso antes da partilha, como não raro acontece, já pondo o senhorio na
collisão de mandar ir para sua casa, por que não tem venda facH nos
locaes da pr01ucção, distantes dos do consumo geral, a parte que lhe
pertence n'estes prodllctos, ou arrendai-os ao mesmo colono pelo preço
que elle assim facilmente impõe ao seu desastrado socio, quando não
é este que o castiga a elle colono não mandando o feitor assistir á par-
tilha em tempo devido, e deixando portanto perderem-se muitas das
producções;-é certo que o colono pasta e engorda o porco. o boi, os
carneiros e as cabras-que vende leite e em alguns pontos fabrica
manleiga,-que a criação d'esses gados se faz nas proprias terras que
os colonos cultivam, ou nos prados naturaes das terras das serras, e
que nenhum dos interesses d'ahi resultantes é partilhado com o senbo-
rio; é certo que o colono, com o fito de garantir-se contra a exclusão,
abusa do que tem por seU direito fazendo, além das paredes uleis que
susteem a terra das encostas, outras inteiramente inuteis, prejudiciaes
até. pejando as terras planas que não carecem de nenhuma d'estas pa-
redes, que são feitas com as pedras que vão sendo encontradas nas
cavas dos terrenos, e qt1e longe de se amontoarem assim 'no solo
produclivo inutilisando·o, deveriam ser lançadas fóra do predio, 00
servirem sómente de muros de defesa d,'este; é certo qne estas mal...
feitorias, bem como as que são verdadeiras bem feitorias, nas quaes se
comprehendem as paredes que sustem a terra, :tS cepas e arvores plan-
tadas, a planta da canna, a socca de inhame. as casas de habitação" os
palbeiros de gado, etc., tudo é exageradamente avaliado. em caso de
exclusão dos colonos, por avaljadores geralmente tirados da classe
d'estes. e o preço a que chegam. muitas "ezes igual, e algumas supe-
rior ao valor da terra. tem de ser pago 3 dinbeiro pelo senborio; é
certo que o colono está sempre de má vootade contra qualquer genero
novo de cultura que lhe não deixe na terra garantia contra a exclusão,
e se para as culturas antigas o senhorio rlá, por exemplo, a planta da
canna e o bacello para as respectivas plantações, se mesmo auxilia os
trabalhos com algum dinheiro, a bemfeitoria cepa e planta de canna
hade ficar pertencendo ao colono para que lhe seja paga em caso de
exclusão, sem o que, o senhorio nada de bom consegue d'eUe. Mas
suppondo que tudo isto compensa largamente o colono da dureza da
partilha dos frutos de que o senhorio pode haver completa a sua me-
tade, que inleresse podem ler os senhorios em serem proprietarios de
grandes terrenos assim parcellados. onde ludo se faz á enxada (e que
enxada!) onde slo impossíveis a grande cultura, o emprego de meios
eceoomlcos de lavoura. as experiencias a tentativas de novos methodos
d'esta, e o proprio tratamento regular das plantações, boas ou más, an-
tigas ou modernas, bem ou mal feitas desde a sua origem?
Despedindo os colonos todos, pagando-lhes as bemfeitorias, por
qtJe preço lhes ficam os predios, e de que capitaes não precisam os
senhorios para esse fim? Occupando-se directamente da cultura, como
attender á de dezenas de predios situados em freguezias e concelhos
ditferent~s, e na mesma freguezia a grande distancia uns dos outros?
- Como resolverem, perante a tendencia para a emigração, que cres-
ceria com a exclusão geral dos colonos, a questão de braços, sem urna
elevação ruinosa de salarios, que ainda assim não produziria numero
sufficienle de trabalhadores?
Que perde pois o senhorio deixando dar ao colono, que almeja por
ser proprietario da localidade, no sitio em que nasceu - proprielario
da terra em que são feitas as suas queridas bemfeitorias, a sua casa,
e plantado as suas arvores, as suas vinhas, e arranjado os tristes com-
modos da sua trabalhosa vida, o direito de lhe pagar a elle senhorio o
predio em que tem gasto toda a sua vida, em que gastaram a que vi-
veram os seus antepassados, e em que o senhorio nunca ou quasi nunca
põe o pé nem os olhos, e a que por tanto o não prende o amor que
teem á terra quem n'ella vive, e n'ella emprega todo o seu tempo e to-
dos os seus cOldados, semeando, plantando, podando, regando, vendo
cresr.er e produzir, tudo dirigindo e colhendo por fim o fruelo do seu
trabalho~

Tem ludo a ganhar o senhorio em dar ao colono o direito de ad-


quirir a terra em que fez "as bemreitorias, boas ou más que estas sejam,
não podendo, como não póde, usar em termos vantajosos para si e para
a producção agricola em geral, do de excluir os colonos de todos os
seus predios. Mas este novo direito, do qual resultará de futuro a trans-
fo~mação completa da propriedade rural, que se transmittirá - insepa-
ravel a terra da bem feitoria , e vice-versa - não deve ir e não irá, se-
gundo o· meu pensamento, até negar ao senborio a preferencia para a
exclu$ão do colono quando assim lbe convenha, nem tão pouco até pode-
rem colonos de um dado predio excluir o senborio, sem que os restantes
colonos do mesmo p,.edio o excluam lambem, por que a não ser assim,
08 senborios viriam a ser, em muitos casos, senbores de pequenas por·
ções de lerras encravadas nas de que tivessem sido excluídos, o que,
além de gra vissima injustiça, seria quasi lão prejudicial aos interesses
da. agricultura como o proprio conLrato de calonia.
i3

Por um lado o colono adquirindo terras e formando propriedades


normaes. susceptiveis de melhor e mais desenvoh'ida cultura, que lhe
deem independencia e futuro certo, tirando-lhe preoccllpações ácerca
de melhoramentos, que hoje só lhes parece serem em exclusivo pro-
veito de senhorio; por outro lado o senhorio, com o capital producto
das terras de que é excluido, excluindo pela sua parte os colonos dos
predios que ql1izer conservar, em que possa fazer melhores interesses,
e dar exemplo de melhoramentos, que serão segoidos sem repugnan-
cia pelos que já nada teem que receiar do senhorio, nem do feitor,
nem do rendeiro. - E' a terra absorvendo a bemfeitoria. e a bemfei-
toria absor\'endo a terra, absorvendo ambas o contrato de colonia; a
emancipação do colono e do senhorio.

Quando o colono e~tiver livre do feitor e do rendeiro; quando não


tiver de esperar por nenhum d'elles para fazer as colheitas que elles
muitas vezes deixam perder em grande parte, por demoras involunta-
rias, e por pirraças com que castigam reacções e culpas mais ou me-
nos prejudiciaes a todos; quando o colono deixar de empenhar·se na
1ucla annual para conseguir um arrendamento. que o livre de fiscalisa-
ção sem o obrigar a pagar metade do produclo bruto do seu trabalho
applicado (Í terra, e não tiver de liquidar os seus productos seja por
que preço fôr. ou distrahir·se da f\ua lavoura para ganhar em trabalhos
alheios com que complete a importancia precisa para pagar o preço do
arrendamento que conseguiu; quando, emfim, fôr verdadeiro proprie-
tario, quando fôr sua a terra em que demoram as suas bemfeitorias, e
ainda mesmo independentemente de outras providencias que melhorem
a sorte do lavrador, a emigração nociva terá acabado, por que a grande
emigração da Madeira não é senão de colonos, e os colonos em geral,
não emigram senão em resultado do mal estar a que são condemuados
pelo contrato de colonia, que, sendo para elles vexatorio, não é real-
mente vantajoso para o senhorio ainda mesmo nos casos em que con-
segue receber melade das producções, metade. que é menos, do que
a terra podia produzir para elle, se não fosse ao mesmo tempo obje-
cto de cultura e campo de batalba de interesses, que deviam ser iden-
ticos e communs, e todavia estão sempre ou quasi sempre em guerra
aberta de inimigos tanto mais irreconciliaveis quanto mais dependentes
estão um do outro.

Mas para este movimento. para esta transformação da proprieda-


de que salvará o fuluro da agricultura, são indispensaveis dois meios:
liberdade amplissima para a transmissão da propriedade; estabelecimen..
to do credito rural e com elle capitaes baratos.
t4.

'*
'* '*
E' de absolula necessidade suspender, em quanto se não opera
esta transformação da propriedade. a lei do imposto ou direitos de trans-
missão por titulo oneroso, lei anti·economica a lodos os respeitos, sem-
pre ilIudida e sempre apesar d'isso vexatoria em todos os tempos e em
toda a parte, e que absorvendo toda a propriedade que fosse 9 ou tO
vezes vendida, lornaria impossível muito antes d'esse seu resultado fi-
nal, o grande e rapido movimento que tem de operar-se nas duas pro-
priedades-lerra e bemfeitoria-para em toda a parte as unir, e cons-
tituírem, unificadas, propriedade logica, normal, acceitavel como campo
susceptível detrabalbos ou explorações regulares, e de esperançoso fu-
turo· agricola.
Com a suspensão dos direitos de transmissão, a criação do credito
raral.
Mas temos - dir·se-ha - a Sociedade Geral de Crpdito Prf!dial.
De credito predial !
Que nom,e tão bonito e tão esperançoso pozeram á maior das ca-
sas de prego que tem o paiz f
Para arrancar d'este sorvedoiro a propriedade do reino e ilhas que
ali está sacrificada por grandes necessidades e por grandes impreviden-
eias, deveria o estado adoptar medidas promptas e energicas, que por
não ser~m faceis ninguem dirá que sejam impossiveis nem de extrema
diffi~tlldade. Mas eu não me occupo aqui senão da ilha da Madeira, e
não teria forças para indicar os meios de derribar aquelle monstro pre-
dialcom fóros de instituição economica, por que queria matai-o sem
matar nem ferir interesses legitimamente criados ou adquiridos á som-
bra d'elle, que é filho da monstruosidade da nossa legislaç.ão economica,
que por monstruosa não deixa de ser legislação, na qual os capitaes
confiaram.
Não é com capitaes a juro de fi nem mesmo de 5 % que se pó de
,accudir á agricultura; quem vai buscai-os por esses preços vai impel-
lido por uma necessidade, por uma crise qualquer, momentanea, que
conta resolver de prompto, subtrabindo-se sem demora ruinosa ao jugo
de um jllro que, sendo permanente, não correspunderia aos interesseS
que tem em vista proteger. Mas se uma vicissitude qualquer impede o
pagamento do capital mutuado, o sacrificio torna-se enorme, embara-
çosa a situação do mutuario, os reditos que deviam augmenlar não au-
gmentam ou diminuem, as difficuldades crescem a lodos os momentos,
t5

e com ellas começa e cresce o atraso das prestações por conta de jo-
ros, e quando tres ou quatro prestações esUo em divida sem qoe a sf-
tuação agricola tenha melborado, póde dizer-se consumada a roina, por-
que a amorlisação tem sido insignificaotissima, e vem a expropriaçlo
salvar o credito da Sociedade instituída para criar o do proprielario, I
quem involuntariamente arruina !
O'este resultado não é. não póde ser ninguem livrado peto cuida·
do, cordura. boa vontade e muita benevolencia com que os adminis-
tradores e lndos os empr~gados da Sociedade procuram tornar menos
dura a sorte dos que lá eahem, no numero dos quaes me conto. O de-
feito é da in--tituição imprevidente ou traiçoeira, que em ~ez de cuidar
de juros pequenos e amorlisações grandes, inverteu as idéas economl-
cas e estabeleceu amorlisação pequeníssima para iIludir os incautos, e
juro ~rande. di~farçado eom a modicidade da amorlisação, tanto mafs
pe411ella, tanto mais aUrahente. isto é. tanto mais ruinosa quanto maior
é o praso do emprestimo.
E não contente com isso, a instituiçãosinba armou-se logo contra
o mutuario previdente ou bom adminislrador, que quizesse pagar ante-
cipadamente o capital mutuado ou parte d'elle, porque Ibe probibiu de
o fazer sem que pague ao mesmo tempo a 0/0 sobre a importancia an-
tecipadamente paga! ..~ e~panloso. Uma multa de a 0/\1 a quem quizer
desonerar-se. a quem qnizer libertar-se, a quem quizer pagar o que
deve antes de desfazer-se em juros!
A Sociedade de credito não quer que lbe paguem em quanto ella
sente d'onde tirar os seus juros; quando estes começam a estar em
risco ,"em então a expropriação beneficiar o devedor fortificando-
lhe o credito pela ruina. A monstruosidade é tamanba que ultima·
mente sofIreu moditicações, mas sómente com relação aos novos em-
preslimos de 5 %. Heconbeceu·se o absurdo, a violencia, mas dei-
xa-se subsistir de qualquer modo. Quem quizer pagar antecipadamente
ba-de pagar mais do que deve; este é o principio.
Mas olhemos um pouco mais para dentro da Sociedade geral de
credito predial.
A benefica insliluição cc meça logo por exigir. a quem vae oITere-
cer-lhe a caueça, um deposito de determinada quantia, a titulo de des-
pezas de avaliação, registos, etc., e até ahi não ha que estranbar; mas
quer o emprestimo se faça quer não, quer as despezas tenham moota-
do á importancia do deposito quer não, chegando-se ou não ás de re-
gisto, ele., o deposito não é restituido, nem no todo nem tJm parte, ao
infeliz que realisou ou não realisou o emprestimo que pretendia! € co-
t6

mo nas agencias de casas para alugar, nas quaes se depositam cinco


tostões sero o que não se diz onde é a casa, mas qoer o pretendente
fique quer não fique na casa inculcada. a iIIostre agenda come em
todo o r.aso os cineo loslõesínhos. Melhor, mais filJalga I~ a agencia
de creatlos, a qual só cnme os cinco tosli,es flnanflo o criado fira por
mais de H' dias na casa que o procurou; paga-se do serviçn realmente
prestado; não ba extorsão.
Feito o deposito. !'eglJem·~e as avaliaçi,es para as quaes o~ ava-
liadores parece que teem. segundo o regulamento. instrw'çi,es especia-
lissimas, que os ohriga ti não darem aos predios o seu va lor real, a faze-
rem a respeito de cada producção observ3çl,es 11lf'terl'ologicas e rpiphyti-
CDS, e em cada predío descontos enigmaticos segundo o futuro da lavoura
adivinhado pela sbruxas agrícolas. Feita esta avaliação desleal e esquipa-
lica, que todavia varia para melhor ou peinr segundo a independencia e
escrupulo do avaliador, ou ~e~llrHlo as recommendaçues que o preten-
dente consegue arranjar. passa o negocio a srr apreciado pelas dilTe-
rentes eSlações da Sociedade, cada uma das quaes, se lhe parece bem.
tira ainda, a olho, um hocado ao valor dado pelo perito, por que a So-
ciedade é obrigada a ter medo de ludo; e não empresl a senão pouco
sobre terras de pomares de olheiras, por exemplo, por qne as eolhei-
tas são mnito irregulares, e o azeite i· sugdto a grande flnctllação cie
preços. menos sohre terras de ,'inhas porque tem medo do philoxera,
menos sohre ~earas porque leem medo dos cereaes da America, me-
nos sobre terras producloras de cortiça porque tem medo da cortiça
da Algeria. menos ainda sobre pomares de laranjeiras porque a la-
ranja desceu de preço em Inglaterra, e é sujeita a doenças, e nada so-
bre terras de pastagens porque diminuiu a exportação de gados~ nada
sobre umas terras porque são alagadiças e sobre outras por que são
seceas; e as casas de morada dos lavradores e as adegas e lagares de
azeite e de ,'inho, todos os diversos estabelecimentos da industria agri-
cola, ludo é material sem importancia nem valor para os regulamentos
da Sociedade, cujos receios (alguns) são até certo ponte fundados, mas
não é precavendo-se uma inslituiç,ão de credito com as mais estupen-
das precauções contra terramotos. inundações, avalanches. e contra to-
dos os microbios conhecidos e desconhecidos. que ella póde servir de
esteio a uma agricultura que tem urgente necessidade. quer seja de
substi tuir-se, quer de transformar-se, quer de simplesmente se des-
envolver.
Quando o cidadão que carece de uma certa quantia consegue ficar
dependurado no prego da Sociedade, por quantia quasi sempre inrerior
á de que precisa, alterando todos os seus calculos, reduzindo todos os
17

seus trabalhos, acanhando e tornando consequentemente pouco produ-


cliva a sua empresa agricola, está estafado e mais os seus agentes, que
todos teem ganbo dinbeiro, e, depois €le ter pago adiantadamente, an-
tes de ter recebido um real, a primeira prestação de um semestre, como
adiantadamente ha de pagar todas as outras, deixando a Sociedade,
sua protectora a ganbar, desde logo, com a importancia do dinheiro d'el-
le, juros que ella não tem de pagar aos portadores das obrigações pre-
diaes senão seis mezes depois, quando já teem recebido outra prestação
adiantada. depois de tudo isto, digo. vae vender ao mercado as obri·
gações prediaes que lhe dão como dinheiro sujeito a juro na sua totali·
dade, as quaes. estando sempre abaixo do par, não representam real-
mente a quantia que se diz emprestada, sofIrendo um desconto conside..
ravel, um prejuizo grande, que, com todas as outras despezas, e con-
sequencias da mesquinhez com que é feito o emprestimo, eleva espan-
tosamente o preço d'esle. E por fim, para coroar a obra de protecção
ao credito predial. se o mutuario falta, um dia que seja, ao pagamento
das prestações devidas pelos juros do emprestimo, tem de pagar juros
de juros I
E' portanto ob\'io que o meio de obter dinheiro, quer para a trans-
formação da propriedade na Madeira, quer para outros melhoramentos
agrícolas, não está no denominado Banco Hypotbecario, cujos registos
são os de um cemiterio de proprietarios.

A propriedade bemfeitoria, no seu estado actual, de nenhum mo-


do produz, nem póde produzir credito rural; ninguem a aceita nem
póde acceitar como garantia de capital emprestado, sujeita aos direitos,
aos caprichos, aos erros e tolices do senhor da terra, por etreito dos
quaes póde elIa tornar-se, de um para outro momento, um valor per-
dido.
As bemfeitorias, porém, tornam-se de valor apreciado no mercado
quando o possuidor d'ellas o seja da terra em que demoram. O em-
prestimo ao colono da quantia precisa para a compra de terra fica ca-
balmente garantido pelo valor d'esta, accumulado ao da hemfeitoria
quasi sempre igual ao d'aquella~ quando não é ~superior. Mais clara-
mente, se preciso é, o colono pede iOOóOO O réis para pagar ao se-
nhorio a terra que Ibe compra ou de que o exclue, bypolbeca para es-
te fim a terra que comprou, o que já rasoavelmente cobre o empres-
timo, e hypotheca conjunctamente a bemfeitoria, que vale outro tanto,
~
J8

e que constituindo agora, com a terra comprada, um só predio inde-


pendente, se torna, por esse simples facto, de valor mais subido que o
das duas propriedades separadas e com donos difIerentes. Plenamente
garantido, portanto, o emprestimo feito ao ex-colono convertido em pro-
prietario independente.
E' porém, absolutamente necessario que o juro de taes empresti-
mos não seja superior a 3 %, por que a agricultura não dá para mais,
e que a amortisação, que deve começar dois annos depois de realisado
o emprestimo, tambem seja de 3 °/0, pelo menos. Como conseguil-o?
Parece-me que um simples acordo do governo com o banco emis-
sor, competentemente auctorisado, produziria dinbeiro por aquelle preço,
sem risco de crises de papel moeda.
Titulos ou notas especiaes, ou não especiaes, que representassem,
por exemplo, '1./5 dos emprestimos afazer, garantida a sua amortisa-
ção pelo governo. resolveriam facilmente a questão, emprestando o ban-
co os outros 3/5 em numel'ario, vencendo a totalidade o juro de 3 %,
igual a Ü % sobre 3/5 em dinbeiro. Os juros e a amortisação cobrados
dos mutuarios cómo a contribuição predial, com as mesmag penas, sem
moralorios, rigorosamente em dia, sem altenção a nenhumas considera-
ções. O governo garantindo o banco e o publico; os mutua rios garan-
tindo plenamente o governo.
Pão e pau. Perdoem-me este modo de expressar a minha idéa de
fazer o beneficio, impedindo o beneficiado de ser nocivo a quem Ih'o
faz e a si proprio. Parece-me que não ba outro meio de criar bons
coslumes, cuidando nas cousas da vida, em um paiz onde todos estão
habituados a pagar as suas faltas aos usurarios com capitalisação de
juros, augmento de juros, juros de juros, que livram de um aperto
de momento, para mais tarde produzirem desgraças diante das quaes
o usurario, até ali de benevolencia matreira, se torna inexoravel quan-
do nada mais tem que sugar.
Mais, muito mais do que lembro, faz o governo francez para pro-
teger a agricultura do seu paiz, proporcionando-lhe capitaes baratos.
Oir-se-ba que o meio que indico para obter capitaes baratos, não con-
tendo nenhuma novidade. póde comtudo tambem ser requerido para
as differentes provincias du reino se fôr adoptado para a Madeira, e que
não seria muito justificada uma excepção em favor d'aquella ilha; mas
eu, recollhecendo que esse expediente seria tah'ez um dos mais profi-
cuos para sal var a prupriedade do reino, suspensa por um tio de re-
troz sobre o abysmo do banco bypotbecario, respondo desde já que o
objecto principal, especialissimo, da medida ql1e indico, é uma consti-
19

tuição nova da propriedade, sem a qual a salvação publica é ali impos-


sivel, e que essa hypothese se não dá no reino, onde os males da agri-
cultura são grandes, sim, mas menos profundos e menos complicados,
por que não começam por derivarem·se do modo de ser da proprie-
dade. Depois d'isso, esta providencia, com o caracter de excepcional,
é um ensaio que póde resolver favoravelmente as duvidas que possam
baver sobre a sua applicação em mais larga escala.
2,A PARTE

'J?roducçôes agrícolas, aguas de irrigação. Arborisação das serras. Vias


de communicação. Acção da auctoridade administrativa na appli-
cação e desenvolvimento das providencias a adoptar.

A agricultura em nenhum dos seus ramos tem sido cuidada na


Madeira segundo a sciencia.
Em arboricultura quasi' que tudo é obra do acaso; em horticul·
tura deve·se o pouco que ha á fecundidade do solo e ao instincto do
horticultor, que ao mesmo tempo se occupa de todas as lavouras; a
propria viticultura, ensinada por seculos de pratica. está longe dos
aperfeiçoamentos, já nada modernos, n'ella introduzidos em toda a Eu-
ropa ; os processos de plantação são geralmente errados pelo que toca
á profundidade em que os bacellos são mettidos; os de adubar, cavar
as vinhas feitas, e podar, quanto ao tempo e modo, dão em resultado
as producções tardias e escassas, e, por tanto, caras, de que quasi
todos se queixam; da zootechnia não ha nem 8S mais simples no~ões ;
da sylvicultora só se occupára a natureza, deixando ao homem o cui·
dado, unico que elle tem tido, de destruir as maltas por elia criadas.
E todo este estado de atrazo é ainda obra do contrato de colonia.
Comtudo a ilha da Madeira produz, como é sabido, legumes, inha..
mes, batatas doces e das chamadas inglezas, e hortaliças, de que ge-
ralmente se alimentam as classes pobres. Com abundancia de aguas
de irrigação estas producções, hoje escassas, podem ser abundantissi·
mas, e, abundantes que sejam, não póde haver fome n'aquella ilha.
21

Pruduz cereaes em limitadissima escala. Pessimamente cultivado o


trigo, tia quatrocentos annos nas mesmas terras, e em geral sem adu-
bos de especie algllma, por que faltam meios para os adquirir. O cen-
teio. em muita pequena quantidade, é semeado nas terras de folbas, de
7 em 7 annos.
o milho, que podia auxiliar grandemente a alimentação durante
todo o anno, á falta de aguas de irrigação, é produzido em mui estrei-
tos limites. E todavia o milho e o trigo da Madeira, como todas ou
quasi todas as producções d'aquella ilha, são de qualidade superior á
das de todos os outros paizes; muito aromaLicos, muito substanciaes,
dão ao pão, e a lodos os alimentos que com elles se preparam, sabor
parlicularissimo. O milho de sequeiro não póde ser ali produzido; os ter-
renos de sequeiro são tão seccos que o não permittem, não sendo, como
não são, quasi nunca, auxiliados pelas chuvas em tempo opportuno para
aquella cultura.
São raros na Madeira os prados artificiaes, e. os naturaes, muito
bons por sua naturesa, são extremamente escassos; a falta de aguas de
irrigação para os primeiros, e de chuvas e até de orvalhadas e de sereno
para todos, não os deixa desenvolverem-se; seccam-se cedo; a engorda
do g.ldo vaccum torna-se difficilima, muito cara, e sendo apesar d'isso
cada dia mais barata a carne, porque as embarcações consumidoras de
grande quantidade de bois procuram subtrabir-se, n'outros portos de
escala, á nossa insensatez fiscal, não entra ainda assim na alimentação
de quem não possue uns certos meios. Os pobres, mas os pobres que
trabalham, e os pobres são quasi todos os habitantes, não comem carne
senão uma ou duas vezes no anno, pelo Natal e na Pascboa, e isso
mesmo quando o anno não é de todo desastrado. A carne é excellente,
mas não ha quem a pague; os fretes dos bois para o continente, e os
impostos que aqui pesam sobre as carnes verdes ou salgadas, absor-
veriam todo o valor do gado, que é de casta pequena, sem que o seu
tamanbo influa na despesa de fretes, que é sempre a mesma, devendo
ser por tanto um dos expedientes a aconselhar aos lavradores, depois
de se lhes facultarem capilaes baratos, a introducção e generalisação
na ilha de outras raças de gado.
Emquanto no reino se paga geralmente pessima manteiga estran-
geira a 800 réis e 900 réis cada kilo, e pela nacional de boa qualidade
ti$OOO réis e 1i$200 réis, a manteiga fresca da Madeira, de excellente
qualidade, para o que contribue poderosamente a qualidade dos pas-
tos, é ali vendida a 320 réis r Pouca, por que poucos são os pastos, e
por tanto poucas as vaccas de leite, mas preciosissima manteiga.
Porque não é esta manteiga transportada para o reino onde obte-
ria bons preços ?-Não vem para cá porque é pouca, e a que vem não
presta lambem pela mesma rasão de ser pouca. Eu explico este absur-
do que acabo de escrever. Raros são os lavradores que possuam mais
de uma vacca; cada um dos poucos que as teem \'ae fazendo diaria-
mente 500 grammas ou um kilo de manteiga, que, ou vende aos con-
sumidores da ilha, ou aos especuladores que a compram para revende-
rem em Lisboa; o especulador vae comprando a cada productor pe-
quenas porções de manteiga que esteve mal preparada, esperando em
casa d'este prefazer um peso que pagasse a pena de vir ao Funchal
vendel-a perdendo um dia de trabalho, com o que a manteiga, mal fa-
bricada, já não vem bem; o especulador vae juntando estes poucos ki-
los ou meios kilos de cada vendedor, com procedencias diversas, e de
systemas de fabrico mais ou menos imperfeitos, e quando tem conse-
guido encher um barril, ou uma grande lata de manteiga, já esta está
deteriorada, e chega a Lisboa se não sempre pôdre, em muito mau
estado.
Eis como não presta, por ser pouca a que se fabrica, a manteiga
que se exporta da Madeira.-Tenham os lavradores á sua disposição
dinheiro para a compra de beas vaccas, aperfeiçoamento de fabrico e
possibilidade de alargar e conservar os pastos, e a industria da man-
teiga, que. sem protecção, excluiu do mercado da ilha a manteig3 es-
trangeira, tornar-se-ha uma industria importantissima, sobre tudo pela
qualidade do genero; importantissima para o productor, e para o con-
sumidor do reino que tem manteiga por menos 50 % do que hoje
lhe custa.
Muitos são os pontos do reino onde podia ser fabricada boa man-
teiga, mas dos desleixos que por cá vão, com prejuizo de muitas deze-
Das de contos de réis de direitos que o paiz paga, não teria eu diante
de mim vida bastante para me occupar, quando mesmo tivesse para
isso competencia. Só sei e só posso dizer que bastava uma parte do
Ribatejo para fornecer Lisboa de manteiga com abundancia.
O tabaco produzido na Madeira é excellente; mas a cultura do ta-
baco que a muitos tem illudido n'outras partes, felizmente não tem
feito victimas na Madeira, que instincLivamente se tem occupado sem-
pre da cultura intensiva, que, auxiliada por sufllcientes aguas de irri-
gação e por capitaes baratos, póde produzir em extensão muito limita-
da, n'um torrão fertil como o d'aquella ilha, a subsistencia de uma famí-
lia. Pobrissimo o tabaco como genero agricola que só recebe valor gran-
de no consumo depois de pagos os direitos. carece de grandes exten-
23

sões de lerreno que não possam ter outra applicação, e em que a sua
cultura possa ser alternada, para dar resultados vantajosos. O tabaco
reduz a tabaco a terra em que é cultivado sem interrupção, e na Ma-
deira não ba terrenos sufficientes, nem que se aproximem dos que
bastam, não digo já para alternar com outras a cultura do tabaco, mas
mesmo para darem pela extensão o interesse que é impossivel tirar em
limitados tratos de lerra. Pôde-se com tudo, com cultura mui cuida-
dosa, obter algumas pequenissimas porções de tabaco de qualidade
superior.
Os pomares de laranjeiras, que nunca cbegaram a ter importancia
senão em mui poucos pontos da ilha, desappareceram por etreito da
molestia que em toda a parte os teem atacado; os de castanheiros tam-
uem não teem sido poupados pela doença, mas ainda produzem em al-
gumas freguezias alimento valioso para os colonos; assim tambem os
de nogueiras, pouco vastos, proporcionam interesses ao productor. Um
dos males das laranjeiras era o da falta d'agua de irrigação, falta que
poderosamente contribuiu para as destruir.
É abundante em fructas a ilha da Madeira, posto que ali as arvo·
res de frueto geralmente nasçam e se criem ao acaso; mas poucas são
as que produzem receita importante, especialmente desde que pouco a
pouco teem desapparecido do porto do Funchal as embarcações que o
demandavam para resfrescarem, e onde davam um movimento annual
de cem mil passageiros, que, pelo menos, dispendendo uma libra cada
um, deixavam todos os annos na terra cem mil libras, que se distribuiam
pelos fornecedores não só de fruclas, mas tambem de hortaliças finas,
carne, peixe, gallinhas, ovos, e de mil objectos de qequenas industrias,
taes como obra de vimes, de marceneiro, bordados, etc., e por tantos
outros individuos em pagamento de difIerentes serviços que lhes eram
prestados, de barcos, cavallos, carros, redes, boteis, etc., ficando por-
tanto aql1ella importante quantia espalhada entre os que d'ella mais
necessitavam, e que por isso não deixava de chegar em parte aos pro-
prielarios que, com alguns de taes interesses ou lucros eram em-
bolsados do preço ou de parte do preço dos seus arrendamentos aos
colonos.
Tudo ou quasi tudo se perdeu em honra e proveito do fisco, que
está aproveitando agora as bonras e lucros da miseria publica.
Entre as fructas que se exportam com vantagem, e que tinham
um consumo prompto por bons preços a bordo dos navios, figuram as
bananas, as anonas e os mangos. A mais geral e a mais importante d'es-
tas fructas é a banana; mas a cultura das bananeiras, isto é, a sua maior
extensão, depende da questão d'aguas de irrigação, o que não quer di-
zer que não dependam lambem da resolução d'essa questão as outras ar-
vores de fructo mais ou menos interessantes para o productor.
Mas as duas culturas verdadeiramente e altamente importantes da
Madeira são a da vinha, e a da canna d'assucar, que a da beterraba, e
a do sorgo, ambas interessantes, mas que lambem exigem irrigação, em
caso nenhum poderiam substituir com vantagem. A canna de assucar
produz em i8 mezes, sendo depois annual a sua producção.
A cultura das vinhas não poderá por ventura restabelecer-se nas
proporções em que antigamente existiu, mas é susceptível de grande
desenvolvimento com a plantação de cepas resistentes.
Emquanto á cultura da canna, mostra já a experiencia que terrenos
cansados e planta degenerada, e já atacada do mal proveniente em parte
do empobrecimento da terra, são a causa do aniquilamento d'essa cul-
tura, que começou por dar producções cada anno mais escassas, até
que, exigindo-se sem cessar de planta cada vez mais enfesada, tirada
da canna, por tantas causas enfraquecida e viciada, se chegou ao mo-
mento de a encontrar improductiva e podre, tendo contribuído para
este resultado não só a ignorancia dos lavradores. mas tambem, princi-
palm~nte. a falta de meios, que obrigava a procurar rendimento na re-
producção incessante da mesma planta, que por sua naturesa a tal se
não prestava.
A cultura da canna reviverá porém, como já em muitos pontos da
ilha está revivendo, reconhecido que seja em toda a parte quaes os ele-
mentos de fertilidade que para ella faltam ao solo, e dando-lb'os. alter-
nando-a em terrenos adquados, bem adubados, talvez de preferencia
com os adubos para esta cultura indicados por mr. Bloudeau, abundan-
temente regados, e com planta de outros paizes, já experimentada com
bom exito por agricultores previdentes, não eivada do nenhuma moles-
tia e em todo o seu vigor.

'*
'* ,.
Já se vê, portanto quão grande é a importancia da questão de
aguas de irrigação na ilba da Madeira, e até onde as culturas e as in-
dustrias apontadas, protegidas, auxiliando-se e desenvolvendo-se simul-
tanea e reciprocamente, podem constituir uma verdadeira riqueza, de
que o estado tirará opportunamente valiosos recursos, largamente com-
pensadores dos adiantamentos com que agora a fomentar.
25

Não obstante, quem olhar para os montes e serras da Madeira,


para metade da parte superior da ilha, inteiramente escalvados, dirá que
imperam ali as theorias de mr. l'allés, contra as de mr. Jules Clave
seguidas em toda a parte, e contra os mais convincentes factos de todos
os tempos e logares, por elle e por Blanqui, Michelet, Charle Conte, e
tantos outros apontados, sobre a influencia, a todos os respeitos bene-
fica, das florestas no regimen das aguas.
Mas não, não são nem talvez conhecidas ali aquellas tbeorias; ha,
pelo contrario em toda a gente a convicção, adquirida n'uns pela obser-
vação, formada n'ontros pela tradição, de que as arvores chamam as
chuvas, protegem as fontes, susteem as terras de maior pendor, e mo-
deram os calores. A explicação da nudez das serras está no desleixo de
secnlos. que causou males irremediaveis para muitas gerações, e na po-
bresa de muitos annos que não teem deixado remediai-o, como cumpre,
. para as gerações futuras.
As aguas actualmente aproveita veis não são tantas quantas o ~olo
cultivavel precisa, mas sem ellas é impossivel o desenvolvimento das
culturas que mais de prompto podem pôr termo á miseria geral; cui-
demos da sua applicação immediata; mas cuidemos tambem desde já
da sua conservação, do seu futuro, da sua maior abundancia, de novas
nascentes, e de tornar perennes as que existem, o que, como é sabido,
acharemos na resolução da ponderosa questão da arborisação das ser-
ras da ilha, com a qual se consegue tambem evitar o gravíssimo mal
-um dos maiore:; que annualmente sofIre a ilha, que é toda formada
de montanhas com rapidos declives - do arrastamento das terras por
efIeito de chuvas violentas do inverno, que deixam descarnados os mon-
tes. e formam por entre estes torrentes ímpetuosissimas, que na sua
passagem por predios cultivados destroem quanto encontram, até cai-
rem nos valles em que se formam as ribeiras, cujos terrenos margi-
naes, geralmente cultivados, são ainda por ellas enormemente prejudica-
dos, sepultando-se todos os annos no mar, com culturas deslruidas,
grandes e numerosas camadas da terra mais fertil de todas as localida-
des mais sujeitas a estes estragos.
Em toàos os tempos se tem tratado, isto é, em todos os tempos
se tem fallado muito da arborisação da Madeira, cuja desnudez é em
parte devida á brntalidade e malvadez dos carvoeiros, inteiramente li-
vres de policia rural, e á antiga miseria geral provocadora do vanda-
lismo de alguns proprietarios que procuram um redito pequeno ou
grande, de que vivam, quaesql1er que sejam as cünsequencias da quan-
tidad,e. modo e tempo em que cortam lenha e madeiras para vender;
26

- em todos os tempos se tem fallado muito de tudo isso, digo, mas


pouco ou nada se tem providenciado.
Não sei mesmo se tiveram etIeito a respeito d'aquella i1ba as dis-
posiçües do decreto de 2 t de Setembro de i86i e respectivas instruc-
ções - se chegaram ou não até lá os estudos mandados fazer sobre este
assumpto no reino, onde o desenvolvimento das maltas tambem não ac-
cusa a melhor comprehensão da sua importancia.
Mas sabe-se, mostra-o longa experiencia, qual é o pinheiro que na
l\Iadeira melhor e mais promptamente se desenvolve, bem como que
para elle são proprias todas as terras altas e plan'altos da ilha.
Que o governo pois forneça penisco em larga escala ás camaras
munil'ipaes e senhores de terras que tiverem onde lançai-o com pro-
veito; que previamente o director das obras publicas do districto, sem
se prt~nder muito ás Instrucções do citado decreto de .. 867, o que eter-
nesaria o negocio, levante uma planta dos terrenos que em cada conce-
lho devem ser semeados de pinheiros sem prejuiso de pastios valiosos,
e com designação dos proprietarios a quem esses terrenos pertencem;
- que o governador civil convoque em cada um d'esses concelhos, e
na capital do distric10 reuniões d'esses proprietarios com as camaras,
e ahi, combinando todos os meios de interessar os colonos nas semen·
teiras, e na conservação das poucas maltas existentes, quer cedendo-
lhes em retribuição do trabalbo da sementeira uma parte do terra que
ha ~eculos anda abandonada nas serras sem nenhuma utilidade dos do-
nos nem do publico, quer contratando rasoavelmente com elles partilha
do produclo das mattas ou florestas creadas e a criar; e em harmonia
todos, lodos trazidos até abi por auctoridade iIlustrada, cheia de pres-
tigio e de confiança publica, baseada em provas de benefica adminis-
tração pratica, despreoccupada da politica local, que é o microbio de-
vastador da sociabilidade e harmonia das terras pequenas, levar·se·ha
a etTeito sem grandes difficuldades a medida transcendente da arborisa-
ção das serras, sem ser precigo recorrer aos meios coercivos emprega-
dos em França para o megmo fim.
Sem o acordo e cooperação dos colonos é que nada se fará. por
que a vigilancia d'elles, a d'elles e nenhuma outra, é precisa, indispen-
savel para obstar a destruição pelos gados, das sementeiras, e até das
anores já crescidas; sem que um interesse real os ligue áquella cul-
tura, são os primeiros, com raras excepçõe'), senão a destruil-a, a dei-
xar que os seus gados, soltos nas terras de pasto, a destruam. - E,
do momento em que correr politica nas levadas, em que os corrilhos de-
rem directriz ás estradas, e em que as sementes a distribuir germina-
27

rem sob a influencia da humidade partidaria, todos os bons desejos


do governo serão frustrados, illudida para todos a esperança de rapi-
dos melhoramentos.
Para dirigir tudo o que depende de direcção superior, para influir
beneficamente no espirito publico, para desfazer todos es atritos e des-
confianças, para vencer todas as repugnancias, todas as incredulidades.
e conseguir para o bem commum o poder immenso do querer uniforme
e firme de todos os que' soffrem, é indispensavel, unida á aucloridade
que delega o poder central, a aucloridade do nome do chefe do distri-
eto. Tem por certo o actual governador civil do Funchal muitas das
qualidades que a situação da ilha requer; illustradissimo, amicíssimo
da sua terra, pela qual tem feito em todos os tempos e circumstancias
não pequenos sacriflcios, sempre mal agradecidos, empregando o seu
tempo, que é precioso, o seu talento, que é incontestavel, a sua scien-
eia. que é vasta, e a sua boa vontade, que é sem limites, em tratar,
com mais ou menos infelicidade, das cousas publicas mais importantes;
mas, e ainda mal. acontece sempre que aquelle que faz directamente
em qualquer localidade o serviço de reprimir a desordem, e o não pó de
fazer senão com o emprego violento da força publica, não fica sendo a
pessoa mais propria para solicitar e obter, nos negocios que se tratam
na paz, o acordo dos que foram submettidos á acção repressiva da
aucloridade, especialmente quando os reprimidos se contam por mi-
lhares.
Era bom que assim não fosse, que se não tornassem impopu-
lares aquelles a quem se deve o beneficio do restabelecimento da or-
dem, antes do qual nenhum outro beneficio é possivel; mas as cousas
são como são, e o galardão a que tem jus a auctoridade que em taes
circumstancias cumpre bem o seu dever, não deve ser dado de modo
que fique actuando sobre as animosidades e odios, que elIa, embora muito
contra sua vontade, criou, e que excitados pódem, dada qualquer op-
portunidade, produzir novas e mais sérias sublevações, que tragam im-
presso o caracter terrivel de vingança popular.
Mais tarde, o tempo que tudo gasta, e a todos faz justiça, recon-
ciliará sinceramente os que agora irados sentem a dor da repressão,
com aquelle que, pelo bem de todos, com magua sua maguou a muitos.
Insisti tanto n'este ponto, e tão sem reserva, porque o considero
da mais alta importancia nas criticas circumstancias em que está o
districto do Funchal, e porque o actual governador civil d'aquelle dis-
tricto é tão patriota, tão dedicado amigo da sua terra, tão independente
por caracter e fortuna que, se se convencer, como me parece se con-
28

vencerá, da impropriedade que n'este momento se dá na sua pessoa


para conciliar vontades, promover acordos, e bem dirigir e executar
boas idéas e bons propositos, será o primeiro a pedir a sua substitui-
ção, e a coadjuvar franca e lealmente o quem o substituir.

Os caminhos e estradas mais urgentes são os que devem dar


communicação facil entre os centros de producção e os portos de mar,
e entre o norte e o sul da ilha. Chegados os productos aos portos, se-
guem d'ahi por mar por preços commodos para todos os pontos da
ilha onde convenha levai-os, quer para consumo immediato, quer para
as localidades de fabricas de assucar e aguardente.
A canna d'assucar é um genero pesadissimo; os fretes do seu
transporte, não havendo meios faceis de conducção, tiram ao productor
uma grande parte do v~lor do seu producto; e se o productor vende
este sobre a terra, a despeza de conducção aggrava-se, porque o
comprador calcula·a exageradamente, e offerece pela canna tanto me-
nos quanto no seu calculo exagerado lhe deve custar o transporte,
e, confundida a importancia da despeza do transporte com a do preço
da canna, o pobre lavrador ou não dá por ella, ou para livrar-se de
desembolsos com que não póde, de incommodos, cuidados e perda de
<lias de trabalho para acompanhar o seu producto até ás fabricas, en-
trega-o pelo que lhe ofIerecem.
Parece-me bem que o governo conheça todas estas particularida-
des, para que não consinta que as verbas destinadas para caminhos
e estradas deixem de ser, com preferencia, applicadas aos que derem
mais promptamente o resultado de fazer chegar a toda a parte os pro-
ductos agricolas sem grandes dispendioso Ninguem fará projectos de
estradas na Madeira que não sejam uteis, mas é indispensavel ver
bem as razões economicas de cada um d'elles, e preferir na ordem
dos trabalhos a executar as mais urgentes, mais protectoras da agri-
cultura, ás que o são menos. Ora, na minba opinião, as estradas que estão
n'este caso são, como deixo dito. as que derem transporte facil era-
pi do entre o norte e o sul da ilha, e entre as localidades da producção e
os portos de mar. As estradas centraes, ao longo da ilba, não digo
que não são urgentes, porque ali tudo é urgente, mas não produzem
beneficio tã() immediato como as outras. Nos portos pequenos caes e
guindastes que facilitem o embarque e desembarque dos generos em
transito.
Em todo o caso, tanto quanto a questão de braços o permittir, as
obras de estradas e levadas, devem ter promptamente o maior desen-
volvimento, e concluir-se dentro do presente annl) as de levadas que
estão começadas ba 26 annos, por que com muito menos de outros 26
de demora já não encontram, a quem soccorrer. Convem observar tam-
bem que ha levadas pertencentes a particulares, em muito mau estado
de conservação, e cujos reparos demandam despesa que os respectivos
proprietarios não podem fazer.
Estas levadas regam terrenos de freguezias inteiras; é geral o bem
que resulta da applicação aos reparos d'ellas de uma parte da verba des-
tinada para obras no districto. Aproveitar-se-ba grande quantidade de
~guas que pelo pessimo estado dos encanamentos se perdem, e o be..
netido far-se-bit logo sentir por que as obras a fazer ahi são de facil e
prom pta execução.
A verba inscripta no orçamento para obras publicas n'aquella ilha,
não sendo muito inferior á que o actual governo pr.evidentemente acaba
de destinar para esse fim, applicada a juro e amortisação de um em-
prestimo de 900:0005000 réis, dividido em series de 300:0UO~OOO réis,
satisfaria n' estes dois ou tres primeiros annos, ás mais urgentes neces-
sidades de viação, reparos e conclusão de levadas, e de outras obras de
aproveitamento de aguas.
3. PARTE
A

Reducção e isenção de direitos de importação e exportação.


Navegação livre.

Quando em 1866 eu regressava de uma inspecção ás ilhas da Ma-


deira e Açores, dizia no meu relatorio d'esse anno ao governo que, se
o tbesouro publico podesse prescindir momentaneamente de uma re-
ceita de 340:0006000 réis, que era então a receita liquida d'aquellas
alfandegas, proporia sem hesitar a extincção das alfandegas das mesmas
ilhas, dando a todas ellas ampla liberdade commercial; mas que não
podendo as finanças portu~uezas supportar então uma medida de tal
ordem, restringia a minha proposta ás ilhas das Flores, Carvo, Pico,
S. Jorge, Gracioso, Santa Maria, cuja despesa de fiscalisação, inelficaz
J

era superior á receita em réis 4::;87~65~, e à ilha do Fayal, cuja al-


fandega produzia receita liquida apenas de 38:0006000 a 40:000~000
réis; e fundamentava ii minha proposta, combatia as objecções que en-
tão se faziam a essa medida. que deveria completar-se com a construc-
ção de um porto de abrigo nas formosas bahias da Horta, cuja impe·
riosa necessidade demonstrei.
São pa~sados vinte e dois annos, e não só não tenho tido n'este
longo periodo rasões para mudar de idéas, mas tambem tenho tido o
gosto de ver ultimamente pretenderem levaI-as de certo modo e até
certo ponto á execução, dois dos mais notaveis ministros da fazenda que
temos tido, Fontes Pereira de Mello e Marianno de Carvalho, e o porto
de abrigo lá está emfim na Horta sendo um facto.
31

Agora, no mais lisongeiro estado as finanças do paiz. não se po-


deria muito juslificadamente negar, com particularidade á ilha que mais
sofIre, a da Madeira, pelo menos, reducções de direitos e isenções, que
lhe façam possivel e barata a subsislencia, e tenham força para tor-
nal·a sem rhal entre os portos de escala que a assoberbam, chamando
de novo a si as riquesas commerciaes de que a teem esbulhado dis-
posições fiscaes mal pensadas, e, por vezes, peior executadas.
Um passo, ao menos, para a liberdade commercial bem entendida.
Acabe o erro, a mania de uniformidade de legislação para prote-
ger interesses diversos, que só por meios difIerentes podem ser para
o thesouro fonte de receita que não prejudique o desenvolvimento da
riqueza publica.
Simplifique o governo o serviço na alfandega do Funchal, onde,
como nas dos Açores, não póde ter verificadores a lodos os respeitos
competentes, se os não mandar de cá, dos mais praticos, lodos os an-
nos em commissão; prescinda dos direitos fixos da pauta A, com a qual
lá ninguem se entende bem; estabeleça direitos ad valorem que, exce-
ptuados os tabacos, e os casos de protecção a industrias que lenham
rasão de ser, em nenhum outro caso sejam superiores a tO 0/o, man-
tendo correspondentemente n'este systema os direitos actuaes que forem
inferiores a essa percentagem, ou, fazendo de outro modo, menos sim-
ples e menos facil, uma pauta especial para a Madeira; reduza as ta-
xas da pauta actual o'aquella proporção, conservando em todo o caso,
n'um ou n'outro systema-se interesses mais geraes do reino não exi-
girem augmentados-os direitos de importação de cereaes, com exce-
pção do milho, e os do assucar, vinho, aguardente e melaço -bem
como os que em differentes classes são pagos por unidade, mas pro-
porcionalmente reduzidos, acabando consequentemente, na hypothese
dos direitos ad valorem, as restricções respectivas dos preliminares da
mencionada pauta F :
Dê livres, além dos artigos que já o são:
LO -Na classe La da pauta F o gado vaccum e suino;
2. 0 -Na classe 4. a (algodão) brins, brinzões, lonas e meias-lonas
para vellas de embarcações, e o fio dos artigos 57, vh e 59;
3. o-Na classe 5. a (linho) lonas, meias·lonas, brins e brinzões para
velas de embarcações; linho em rama (artigo 82. 0 )-linho sedado (ar-
tigo 84.°) e o fio de linho dos artigos 85, 86 e 87;
4. o -Na classe 6. a -madeira para mastreação de embarcações,
32

aduellas e arcos para vasilhame; barrotes, barrotões, varas, paus, ripas,


vigas, vigotas, pranchas, e madeira ordinaria serrada em tabuas ou ro-
lhas;
5. 0 -Na classe 7. a -carvão de pedra, de coke, agglomerações de
carvões mineraes, e petroleo;
(LO-Na classe 8. a-ferro coado ou fundido, batido ou laminado,
em bruto, e pregadura para forro de embarcações;
7. 0 Na classe 9. a -bacalhau, arroz, favas, batatas, farinha de pau
e milho.
8. o Na classe tO. a_ instrumentos, apparelhos, ferramentas, utensí-
lios e peças separadas de machinas para agricultura e jardinagem; ma-
chinas de vapor; machinas indnstriaes não especificadas; apparelhos de
cobre de distillação e concentração no vacuo; instrumentos, ferramen-
tas, uten~ilios. peças separadas de machinas, não especificadas: para
trabalhos industriaes, e geradores de vapor.
9. 0 Na classe 12. a-cordame, cabos, amarras, cordas, correntes,
cadeias e ancoras de qualquer metal, para uso da navegação ou da
pesca.
.
Conceda ludo isto o governo, e completa isenção de direitos de expor-
tação, deixe inteiramente livre de direitos de tonelagem e das inuteis
restricções de cabotagem, de todas as peias e formalidades imperti-
nentes, a entrada e saida das embarcações, realisem estas ou não rea-
lisem operações commerciaes; considere as procedencias da Madeira co-
mo estrangeiras, salvas as producções nacionaes, que se não pódem con-
fundir com as estrangeiras; e não tenha medo das facturas falsas, nem de
quaesquer descaminhos, que teem o correctivo na propria moderação dos
direitos, nem de que a receita da alfandega se não equilibre em breve es-
paço de tempo, nem finalmente. de que elta não augmente, progressiva e
consideravelmente. quando a revolução economica que se contêm no con-
juncto de medidas indicadas tiver produzido todos os seus naturaes et-
reitos, se então. volvido ávida aquelle paiz, não convier ainda dar o
ultimu passo para inteira libertação do commercio, e procurar n'ou-
tras fontes já abundantes, em nova e rica materia collecla vel, a receita
que dava a alfandega.
E mais-porque é lançanfio mão de lodos os recursos, protegendo
todas as industrias, e todos os interesse~ mais ou menos geraes, que se
regenera um povo que chega ao extremo de miseria a que~ por mil im-
previdencias e mil fatalidades. chegou o povo da Madeira-mais conceda
33

o governo livre permutação, a bordo dos navios, das producções da ilha.


por quaesquer generos alimenticios estrangeiros, Aimitaçlo do que ~esde
o anno de i833 está estabelecido nas ilhas das Flores e Corvo, e que tem
feito a prosperidade d'aqueIlas ilhas; e deixe entrarem no continen-
te do reino, tambem livres de direitos de consumo: o gado bovino (ar-
tigo LO da pauta F)-a carne limpa de gado bovino, fresca e salgada
(art. 5.°) a aguardente de canna (art. 2Lo e 22.°) que nlo prejudi-
ca a aguardente nacional de vinho, nem mesmo a de cereaes, que
todavia bom era, por mais de uma razão, probibir;-as pobres anonas
fruelo delicioso, dos poucos que ainda n'aquella terra dão algum di-
nheiro, mas sujeito a grandes deteriorações e a perdas totaes nas via-
gens, e que não escaparam, apesar d'isso, á estupidez do art. 36. 0 da refe-
rida pauta F; - as bananas (art. 38.1»; e, finalmente, a manteiga (art
4.6.°) cujo fabrico se desenvolverá e aperfeiçoará em resultado de muI-
tas das medidas indicadas, e poderá de futuro com um imposto ra-
zoavel.
Nas indicações que deixo feitas vão, como é obvio, protegidas as
subsistencias, e muitas induslriôs pequenas, que, desenvolvendo-se si-
multaneamente, espalbam beneficios por muitas centenas de familias,
dando ao paiz um certo grau de bem estar, que o ajudarA aprogredir
no caminbo dos melboramentos e da prosperidade.
O ponto de escala - com porto de abrigo - que" dispensa grandes
fornecimentos nos portos da procedencia dos navios;-onde tudo é en-
contrado bom e barato; onde ha probabilidade e facilidade de transac-
ções grandes ou pequenas; onde nada atraza nem incommoda a nave-
gação, livre de direitos de tonelagem, e de restricções de cabotagem,
que elevam enormemente o preço dos fretes, limitando as oecasiões de
transito para mercadorias nacionaes, inutilisadas dezenas d'ellas em
navios estrangeiros;-onde legislação bem pensada dá os meios de se
e~tabelecerem officinas para construcção e concerto de mastros, lemes,
helices, rodas e outras peças dos macbinismos dos navios, grandes de-
positos de velames, apparelbos, correntes, cordas, madeira, ferro, car-
vão, etc.;-ba de necessariamente ser de novo procurado por todos as
embarcações, que d'elle fugiram por que acima do prazer de visitar
uma terra encantadora, e de abi se demorarem commodamente os via-
jantes que quizessem ou precizassem fazer suas viagens longas de mo-
do meDOS violento, estavam os interesses das companhias de navega-
ção, prejudicados por disposiçGes fiscaes inconsideradas.
Vem então de novo, annualmente, os cem mil passageiros em tran-
sito, que deixam no paiz, nas poucas horas que abi se demoram, pelo
3
3'
menos, como n'oulro Jogar já referi, cem mil libras que se distribuem
por numerosos individuos dos mais necessitados, em troca de mil pe-
quenos productos e de mil pequenos serviços, que hoje não ha a quem
fazer nem com quem trocar. Veem, com as cem mil libras, os interes-
ses geraes que em toda a parte dá a liberdade de commercio n'um grau
já elevado, como o que fica indicado, sem prejuizo de industrias que
não vivam á custa do consummidor.
A
4. PARTE

A ilha oonsiderada como grande hotel de saude do mundo

Con~iderada a ilha como grande botei de saurle do mundo, quali-


dade de que. bem explorada. póde tirar grandissimas vantagens, tem
o governo algumas cousas que fazer com não grande custo.
E' consideravel o numero de estrangeiros de differentes paizes
que vão residir na Madeira durante o inverno, geralmente desde o
mez de outubro até ao de abril. A importancia economica d'estefacto é
tamanha, que não ba poupar despezas para dar commodidades, facilida-
des em tudo áquelles nossos bospedes, tornando-lhes de todos os mo-
dos agradavel a sua residencia ali, sempre de todos os modos attraben-
te o paiz. Bastaria o numero consideravel de boteis de primeira ordem, e
de casas particulares que ha no Funchal, praparadas para alugar aos
estrangeiros, para explicar alé que ponto a riqueza publica se resen-
Uria do desaproveitamento das vantagens com que a natureza dotou a
ilha, pelo que respeita ás suas condições climatericas.

Da na Madeira pontos de vista arrebatadorei, quasi todos a gran-


de distancia do Funchal, sem casas de abrigo nas proximidades d'elles,
e sendo preciso transitar por pessimos caminhos para lá chegar; di8--
froetal-os mais de urna vez em cada anno é dos poucos divertimentos
36

que teem os estrangeiros, que lamentam sempre os trabalhos e incom-


modos que Ibes occasiona uma visita a qualquer d'elles, abslendo·se a
maior parte de emprehender laes digressões pelos perigos a que se ex-
põem, sendo. como é, geralmente melindrosa a sua saude.
Sua Magestade EI-Rei recordar-se-ha que mais de uma vez, por
occasião dos jantares de Sua Magestade a Imperatriz d'Austria, na Madeira,
recahindo a conversação sobre os pontos de vista da ilha, se lamentou ali
a falta de bons caminhos e de casas para descanso e abrigo, nas oc-
casiões em que os excursionistas são surprehendidos pela chuva, por
quanto é sempre no inverno que aflluem em grande numero os estran-
geiros á Madeira. Sua Magestade EI-Rei não só assistiu a estas conver-
sações, mas tambem experimentou as faltas de que trato, não digo já
no percurso do caminbo para a quinta do Palheiro do Ferreiro, onde
Sua Magestade era confortavelmente e galbardamente recebido pelo
gentil conde de Carvalbal, e que, não sendo bom, não é contudo dos
peiores caminbos, mas nos do Curral dos Romeiros, Curral das Freiras,
,e Rabaçal, d'onde ao regressar não pequeno iDcommodo sofIreu ao
alra vessarmos no sitio da Agua do Cana rio, entre a Ponta do Sol e a Ri-
beira Brava, o estreito caminho que ali ba, aberto na rocha, sujeito ás
aguas que do ponto mais alto d'esta sobre elle cahem constantemente,
e ameaçado das ondas do mar que por vezes envolvem com grande
perigo os viandantes, indo depois Sua Magestade embarcar ao sitio do
Logar de Baixo, onde, por falta de um caes, não pequeno foi o perigo
que correu ao entrarmos no mar, em um pequeno barco que. o
conduziu a bordo da corveta Sagres, na qual seguiu para o Funchal.
Recordo estas circumstancias, para lembrar justificadamente ao go·
vemo o interesse que tem em solicitar da benevolencia de Sua Ma-
gestade, os esclarecimentos que Sua Magestade tão superiormente póde
dar sobre as necessidades que n'este particular aponto, e que o mesmo
augusto senbor de cerlo muito quererá que, como todas as outras, se-
jam atlendidas, interpondo para isso o seu valimento immenso, por
que Sua Magestade que, n'isto, nada perde do caracter de rei escrupu-
losamente constitucional, de nenhum modo esquece a recepção, embora
simples e singela, atIectuosa e alegre, franca e leal, que por mais de
urna vez lhe fizeram os madeirenses - singela e simples por que jã en-
Uo era muita a pobreza, que os governos de Sua Magestade depois nun-
ca soccorreram, e foi por isso alastrando até ã miseria, subindo até ao
desespero, que obscurece e como que ameaça desengastar da corôa por-
tugueza, aquella tão preciosa pedra que outr'ora tanto brilbára sobre a
cabeça de reis magnanimos, que de muito a apreciarem tantas provas
deram.
37

Os melboramentos dos caminhos a que n'este logar me refiro, nio


demandam despeza com que o estado não possa; e insignificente é a
de constrl1cção de casas de abrigo, em que os excursionistas possam
descansar, e pernoitar quando necessario seja, sendo certo que taes ca-
sas serão logo tomadas de arrendamento ao governo pelos donos dos
holeis do Funcbal, que teem interesse em preparai-as, fornecei-as de
tudo quanto possa ser agradavel aos seus proprios bospedes, e a todos
os que visitarem aquelles sitios encantadores, cujos pontos de vista.
sempre surprebendentes, variam a cada momento segundo o movimento
das nevoas e a claridade mais ou menos brilbante do dia, sendo por
isso precisa demora ali para tudo gosar.
Pense o governo que mil estrangeiros que visitem aquellas localida-
des em cada anno significam, pelo menos, uma distribuição de mais
dez mill ibras, por todas as classes mais necessitadas dos campos da ilha,
e não hesite em proporcionar-lhes o ganho d'elles, por muito que pa~
reça tomar parte em emprezas de que, em geral, só devem o(~cupar-se
os particulares. E mais pense que, por muito que tenba chegado a to-
dos os paizes a noticia do que ba de bello para ver nos campos da
ilha da Madeira, a par d'essa noticia anda a das difficuldades e tormen-
tos de transito para os disfructar, e que afugentam milhares de estran-
geiros ricos, cujo officio é viajar, ver o mundo, mas viajar, ver tudo
com commodidade. Convidai-os, pedir-lhes que vio ali deixar uma pe-
quena parte das suas rendas, que será uma grande parte do bem estar
das classes trabalhadoras, é simplesmente assegurar-lhes que não que-
brarão as cabeças nem as pernas nos caminhos, nem correrão risco de
molbadellas que lbes estraguem a saude.
:II:

:II: •

A administração dislrictal na Madeira não pôde ser saloia como no


rAino; tem de ser necessariamente diplomatica; diplomatica com illus-
tração, e illustrada sem pobreza.
Raras vezes terá o governador civil do Funchal de tratar de nego-
cios internacionaes, ou que impliquem com o direito internacional; mas
moitas de precisar de ser escrupuloso observador de todas as con-
veniencias sociaes, e de contribuir para manter as boas relações do
seu paiz com paizes estrangeiros representados ali, embora não offi-
cialmente, por centenas de personagens.
O governador civil do Funchal, tendo de tratar constantemente
com commandanles de esquadras de todas as nações, membros das ca-
38

maras legislativas de França, Inglaterra, Hespanha, Estados-Uuidos etc.,


altos titulares. príncipes e princezas de todos os paizes, e homens ii-
lustres de toda a parte do mundo, não pó de ser um gebo, nem um
funccionario vulgar, nem qualquer que viva e faça economias com réis
t :6006000 de ordenado; tem de ser necessariamente um bomem do-
tado de meios para despezas de representação. polido, de fino trato,
intelJigente, para quem a litteratera não seja cousa estranha, muito co-
nbecedor de línguas, e, pelo menos, da bistoria e da administração ci-
vil e politica do seu paiz e dos paizes estrangeiros, sobre as quaes tem
de conversar muitas vezes, bem como sobre a nossa politica commer-
dai e colonial, não deixando envergonbados os portuguezes nem a rir
os estrangeiros que o ouvirem.
Principalmente agora, no estado de pobreza em que está a Ma-
dei ra, e na falta immensa do generoso conde do Carvalbal, só pó de e
de'"e fazer as honras da terra o governador civil, que é procurado por
todos os estrangeiros, que vêem n'elte a pessoa com quem mais prom-
ptamente podem tratar e conviver agradavelmente, mas que sendo por
muitos d'elles frequentemente convidado para jantares, para muitas fes-
tas. para passeios e excursões pelos campos, não póde corresponder a
nada d'isto de maneira digna, por que não tem meios nem para percor-
rer a ilha a cavallo com qualquer principe que para isso o convide; re-
flectindo-se tristissimamente no go,erno da nação a figura deploravel
que ali faz o seu representante, que, assim, e por muito estima veis
-que sejam as suas qualidades moraes, que os estrangeiros não tratam
de averiguar, perde e faz perder á terra que administra a consideração
que é mister tenbam em grau elevado, e que no caso de que se trata,
-e n'um mundo e n'um tempo em que as exterioridades valem tanto, não
"Se consegue nem se mantem com virtudes espartanas sómente.
Do papel do governador civil como dono da casa na recepção dos es-
trangeiros que visitam a ilha, do acolbimento que lbes faz, dos escla..
recimentos que lhes presta, das (acilidades com que lbes torna tudo
agrada\'el, das distracções e divertimentos que lbes proporciona, da
,promptidão e amabilidade com que, emfim, os attende em ludo, sem
descer um ponto da sua posição elevada, e obrigando a todos pela gen-
tileza, que não pelo prestimo de simples e vulgar serviçal, d'esse pa-
pel, nobremente desempenhado, digo, está em grande parte dependente
a boa impressão que muito convem que a Madeira deixe a todos os que
a visitam, quer seja por muito ou pouco tempo.
Para tudo isto é indispensal que o palado de S. Lourenço, desti-
nado á residencia do governador civil, esteja elegantemente mobilado,
,e que o governador civil, embora com o ordenado actual, tendo á sua
39

disposição os meios necessarios para despezas de representaçlo, ali


viva como um gentleman, e dê as festas a que o obrigam e ã nação as
que em sua honra dão os estrangeiros.
Não sei se deixo convencidos a todos d'esta alta conveniencia,
n'um paiz onde ainda se não comprehendeu que a primeira condição
da boa administração dos districtos, é a respeitabilidade da posiçãO so-
cial que n'elles tomam os governadores civis, e onde se julga democra-
tica prova de patriotismo e economia, terem os ministros de estado
pouco mais do vencimento de um guarda d'alfandega dos Estados-Uni-
dos, esquecendo-se que não ha comparações possiveis de paizes
grandes com paizes pequenos quando se trata da aucloridade, que em
toda a parte é a auctoridade, e em toda a parte deve de certo modo
estar em tudo acima de todos e de tudo, quer o paiz seja grande ou
pequeno, rico ou pobre, sem proporções relativas ou absolutas que não
sejam as do sufficiente para manter em todas as circumstancias a res-
peitabilidade e brilho da posição que se occupa.

'* '*
A hypothese do começo de epidemias ignoradas pelos passageiros
DOS paizes d'onde vão para a Madeira, e a das que podem desenvol-
ver-se a bordo durante a viagem, devem estar prevenidas, porque Dlo
o estando, como não estão, acontecerá, como tem~acontecido em algu-
mas estações, não irem á Madeira doentes que ali costumam ir, re·
ceiando que as quarentenas os obrigue a seguirem do Funchal para
outro dos portos de escala onde toquem os navios em que embarcam.
Ua um lazareto no Funchal, mas creio que mal situado, mal edificado
e mal organisado; é indispensavel estabelecei-o em condições de para
elle entrarem os passageiros, sem repugnancias, e com as commodida..
des que se podem ter em estabelecimentos d'esta ordem; ediftcado
dentro de uma espaçosa quinta murada e ajardinada, e com boleI per-
feitamente montado, disfarçando de todos os modos possiveis o facto
de clausura, proporcionando mesmo distracções que nlo deixem sen-
tir amargamente o tempo da quarentena=

Ponho de parte muitas cousas pequenas, providencias de não grande


alcance, posto que de muita utilidade, para que me não chamem muito
impertinente; mas não terminarei sem lembrar que é valiosissimo o
auxilio que os estrangeiros prestam aos estabelecimentos de beneficen-
40

cia da ilha, especialmente quando a isso instigados por meio de con-


certos musicaes e de bazares, promovidos directa ou indirectamente pela
auctoridade administrativa, e por pessoas da terra, em beneficio d'aquel-
les estabelecimentos.
O problema da beneficencia publica é duas vezes difficil n'om paiz
onde todos estão pobres; a residenr.ia dos estrangeiros na Madeira du-
rante uma parte do anno importa solução d'este problema; tudo o que
tiver por fim chamai-os, ou tornar-lhes de todos os modos agradaval a
sua residencia ali, entra na ordem das medidas de interesse geral, com
especialidade em quanto definhada a agricultura e paralysadas as indus-
trias fabril e commercial, a vida que se vive vem principalmente da
receita que a pobre terra liquida como hotel de saude do mundo.

Bemfica, 28 de Janeiro de t888.

ANTONIO CORRRA HEREDIA.


REFORMA DE ALFANDEGAS
pÀmNA r~ BI!ANCO
E ALFANDEGAS

Tratando de reforma de alfandegas não venho fazer côro com os


que tudo julgam mau sem todavia nos darem exemplo de cousa boa
ou isenta de defeitos. Como já em outra occasião escrevi, não conhe-
ço nada tão racH como pôr duvidas e objecções. notar faltas, descuidos,
erros, más intenções, nos trabalhos alheios, especialmente em assumpLo
de tão difficil regulação como é o do serviço de alfandegas; em sub-
stituir esses trabalhos, de modo que se aproximem da perfectibilidade,
é que está o merito, ao premio do qual todavia não concorrem os cri-
ticos que parece tudo conhecerem e ludo saberem.
Mesmo sem o intuilo de mal dizer, a minha antiga pratica uo ser-
viço não bastaria, agora que estou, e ha muito, fóra de exercício de car-
gos aduaneiros, para apreciar, sem profundo e mui detido estudo,
idéaa e trabalbos de outros, que terão de certo achado muito bons fun-
damentos para a sua obra, e com elles a sustentarão. Venho defender
bases de reforma que, desde longa data tenho formulado, e que Lendo
sido adoptadas na reforma recentemente decretada, com deducções que
eu d'ellas não tiraria, soffrem impugnações de uma parte da imprensa,
e entre empregados que me aUribuem prejuízos de direitos e interes-
ses que lhes não causei directa nem indirectamente.
Andam, desde o anno de t866 até ao de 1885, publicadas em dif·
rerentes relatorios, representações, officios, e em outros documentos
offieiaes de commissões a que tenbo pertencido, as minhas idéas sobre
uma reforma geral de serviços, interno e externo, das alfandegas, e
sobre differentes providencias fiscaes e economicas, que mais ou me-
DOS se relacionam com a questão de augmento das receitas aduaneiras;
seja·me permittido recordai-as aqui, mui resumidamente, e referir de-
pois os fundamentos das que com particularidade, e por indicação do
meu amigo sr. Marianno de Carvalho, tive, ba mais de um anno, a
honra de submetler á apreciação de s. ex!

Aqui e~dá o que, depois de longa observação, e estudo bem ou


mal feito, indiquei a todos os governos com quem servi durante aquelle
perlodo, e se comprova pelos documentos alludidos, que teem sido
impressos e publicados.
Começando pelas duas principaes bases d'uma remodelação geral
de serviços, expuz ao governo:
-Não ha, e não pódem haver alfandegas sem um conselho, e uma
administração geral regularmente organisados, providos de pessoal ha-
bilitado pela intelligencia, pela instrucção e pela pratica dos assumptos
upeciaes que é chamado a tratar. A propria simplificação do serviço nas
alfandegas está sobretudo dependente da organisação e da competencia
do conselho e da administração geral.
Redigir leis, explical·as, estabelecer regras, fixar direitos. resol-
,er questões, dar ordens, sem conbecimentos tbeoricos e pratieos do
serviço a respeito do qual se delibera ou se legisla, cousa é que nin-
goem póde fazer sempre com acerto. D'abi as antinomias, as contradic-
çães, a confusão, de que estão cheias as leis e disposições regulamen-
tares do serviço das alfandegas, e que dão occasião ás hesitações, âs
consultas, perguntas e respostas, que entorpecem o expediente, enio
deixam as cousas em melhor estado, antes moitas vezes em peiores cir-
COll,lstancias, especialmente se a byp6these implica com principio, ordem
00 regra erroneamente estabelecido por quem tem de resolver, enio
quer revogar oem observar o qoe fez, cortando as difficuldades de mo-
mento por tangentes que no foturo mais embrulbam a meada, jâ extre-
mamente embaraçada. ou, seguindo o systema pernitiosissimo de deixar
sem resoluçio o que diffieil é de resolver.
E tanto mais é necessario, para o regular andamento dos variados
negocios das alfandegas, uma administração geral perfeitamente organi-
seda, qoanto é certo que o ministro, que não tem tempo para descer á
45

apreclaçao minuciosa de todos os serviços do seu ministerio t é obriga-


do a deposiLar confiança absoluta na administração geral, que t não sen-
do a todos os respeitos competentissima, póde levai-o, mesmo involun-
tariamente, a praticar desacertos e injustiças que afIectem a sua repu-
tação, envolvendo-o em difficuldades de que não possa sair airosamen-
te; ou a oueir informações e pareceres df pessoas estranhas, mais ou
menos incompelelltds, e abi o ternos debateQdo-se entre o desejo de acer-
tar provendo de remedia sobre os males que vê ou lhe apontam, ver-
dadeiros ou falsos, e a úttriga de especltlador~s de toda a casta, que at-
lentamente espreitam a opportunidade de fazerem adoptar pelo governo
medidas qUf, sob a appurencia de melhoramento do serviço publico, os
livre de embaraços postos a interesses illegitimos, ou lhes proporcionem
ensejo de satisfazerem uma ambição, uma vingança ou um capricho. O
ministro, por muito intelligente e bem intencionado que seja, se não é
pratico nem feliz, torna-se sob a influencia de laes servidores ou infor-
madores, urn instrumento de maus designios digno de lastima.
Por todas essas razões, porque no conselho geral das alfandegas,
cujo sen'iço não está convenientemente regulado, de\'em estar, como
garantia de resoluções acertadas, homens de conhecimentos theoricos
especiaes, e de longa e (~sclarecida pratica do serviço, sem que sejam ao
mesmo tempo juizes e partes ;--e porque a administração geral deve
similbantemente ser, além do termo final da carreira das alfandegas,
onde chegue o merecimento constantemente provado pelo trabalho, como
que a syntbese da pratica ilIustrada de todo o serviço aduaneiro, para
que as suas resoluções e providencias levem a toda a parte o cunho da
experiencia e da ilIustração, que conquistam o acatamento immediato,
a observancia \'oluntaria e facil de tudo o que é determinado, mora li·
sando ou sustentando a moralidade de todos os que são obrigados a
obedecer, e não obedecem sem constrangimento, sem desamor pelo ser-
viço, quando obedecendo nâo aprendem, quando não é a coherencia, a
razão, o bom senso, o saber, o direito e a jmtiça que mandam ;-por
todas aquellas rasões, digo, e por estas considerações, pareceu-me que
os regulamentos de que fui incumbido não assentavam sobre bases so-
lidas, não podiam ser efficazes t se não barmonisassem com a organisa-
ção do conselho e da administração geral, taes qoaes os concebo para
verdadeira e util coadjuvação ao ministro, prompto expediente dos ne-
gocios, e justas resoluções em todos os ramos do serviço aduaneiro.,
Assim fallava eu ao governo em 1875, e desde então creio que não
poucos ministros terão sentido a verdade das minhas asserções, até que
a reforma de t885, dez annos depois, acceitou as minhas idéas sobre
a melhor organisação dos serviços superiores d'alfandegas, mas infeliz-
46

mente só com o addiccionamento que em 1884 propuz. de ser o admi-


oi.trador geral auclorisado a resoh'er todos os negocios em que, não
podendo ler promplo o despacho do ministro, fosse qualquer demora
prejudieial ao serviço ou ao commercio, mas concedendo emolumentos
apenas ao administrador geral, deixando róra do quadro g~ral os em-
pregados da administração superior, e, o que peior é, não estatuindo
cousa alguma que evitasse cairem das nuvens os administradores ge-
nes sobre as alfandegas. quaes aeronautas desiquilibrados, mergulha-
dos e estatelados no meio d'uma vasta seara. atrastada de povoado, lon-
ge de estratlas e de caminhos, cercada de labyrintos de trilhos, rechada
por largo e espesso bardo de silvado, que difficilmente pódem romper.
O que peior é, digo, por que d'ahi, da falta de uma disposição
previdente, os naurragios dos reformadores que não teem a pruden-
da de pedir ao tempo a experiencia que o tempo ainda lhes não deu,
e o das reformas que os aeronautas de bom senso se absteem de fazer,
e vlo cahir nas mãos de curandeiros, que applicam ás doenças do ser-
vI,o publico as suas alchimias, que, se não deixam logo o doente em
artigos de morte, acabam por lornal-o incuravel.
Não faço allusões o ninguem; homens ha de bom senso e fino ta-
cto raros. talentos especiaes, que. por excepção, podem dar ás alfan-
degas boa administração, sem que com antecedencia tenham sido des-
senvolvidos na pratica das cousas aduaneiras; mas a excepção n'este,
como em todos os casos, não infirma a regra, e era bom ir livrando o
serviço publico da tendencia que leem 08 nossos governos para dispen-
sarem habilitações nos que são cbamados ao exercicio dos mais altos
cargos da administração.
Aqui estou eu como o mais frisante exemplo da incompetencia em-
poleirada. Como se dizia que eu não era mau governador civil, man-
daram-me mudar para as alfandegas, das quaes nada sabia; Deus sabe
o tempo e os trabalbos que me custou a pratica que adquiri, e de quan-
tos desacertos não terei sido reo, com sacrificio do serviço, até adqui-
ril-a. o que pela minha parte sei é que, quando, depois de vinte annos
de serviço aduaneiro, deixei as alrandegas, ainda estava aprendendo, e
que depois de estar cá róra tenbo visto que me faltava muito para sa-
ber tudo. Tal é o resultado de entrar para o serviço pelo telhado das
repartições publicas. ainda mesmo quando se não é destituido de en-
tendimento como eo creio que não era.
Em seguida ás duas indicações que deixo referidas sobre a trans-
formaçiq da direcção geral das alfandegas; e reorganisação do conselbo
geral, mais aconselhei:
.\.7

3. o Que se extinguisse a alfandega de consumo, creando para o


serviço que n'ella se fazia uma delegação da alfandega de Lisboa, ou
uma repartição especial n'esta alfandega, tornando homogenea e sujeita
a uma só acção administrativa a fiscalisaçio das duas casas fiscaes en-
tão existentes.
4.. o Que, sendo a linha da circumvallação de Lisboa o faclo fiscal
mais absurdo que se conhecia, por que era defenjida por um muro
que protegia o descaminho de direitos, e tinba a dois passos de dis-
tancia, por um lado, povoações que produziam e eram deposito de ge-
neros sujeitos a impostos de consumo, e por outro, contiguas. povoa-
ções que estavam quasi em contacto com embarcações estrangeiras,
se estabelecesse uma nova linba que, partindo do extremo occiden-
tal do concelho dos Oli vaes, e terminando em Algés ou no Dáfondo,
formada por um vaUado com pontes dando entrada para a cidade, e dei-
xand(} diante de si um campo extenso, descoberto, abrangesse povoa-
ções não mais pobres que a de Lisboa, e que escapam com grande
parte da de Lisboa que n'ellas vive mais da quarta parte do anno, ao
pagamento do imposto, cujo rendimento assim augmentaria centos de
contos de réis, não só por se tornar mais elevado o numero de contri-
buintes, mas lambem, e muito especialmente, por se tornar facil e effi·
eaz a fiscalisação - muito difficeis os descaminhos. t
5.° Que se extinguissem as antigas alfandegas da raia e de 2. a
classe marítimas, que pela reforma de 4885 passaram :l denominar·se
alfandegas de 3. 0 e 4. 0 grupo, convertendo-as em delegações das al-
fandegas de Lisboa e Porto, e formando um só quadro de empregados
aduaneiros do serviço interno, sem prejuizo de direitos adquiridos a
promoção.
6. o Que se estabelecesse proporcionalidade na organisação das
classes de que se compozesse o novo quadro geral, garantindo aos
empregados promoção provavel dentro de um espaço de tempo ra-
soavel.
7. o Que se criassem logares de sub-directores nas alfandegas de
Lisboa e Porto.
8. o Que se criasse uma classe de terceiros verificadores nas duas
referidas alfandegas.

1 Vi, um anIlO depois, apresentada esta idéa COlHO cousa nova n'um relatorio
da alfandega de consumo.
48

9.. ODe se criasse um conselbo de direcção em cada uma das men..


cionadas aIrandegas, composto de empregados superiores d'esta, presi-
didos pelos respectivos directores, que deveriam ouvil-os nos casos im-
portantes 00 omissos, ficando livre a soa acção para obrarem como
entendessem, mas dando sempre conta ao governo, quando se não con-
formassem com o voto consultivo do mesmo conselho, das razões pelas
guaes assim tivessem procedido; e que, finalmente, se désse a este
conselho de direcção attribuições deliberativas em todos os casos ur-
gentes ou omissos, em que o comm':!rcio carecesse de uma deliberação
prompta. que só com demora prejudicial podes se ser tomada pela
direcçlo geral, e em todas as questões que se levantassem sobre a
interpretação e applicação de resoluções do conselho geral das alfan-
degas.
to. Que se descentralisasse para os chefes de repartição e de se-
O

cçio a resolução de todos os negocios de mero expediente, com re-


curso para o director; organisando em cada repartição serviços com-
pletos, não confundindo especialidades, e tornando faceis a i~pecção,
e o apuramento de responsabilidades.

t t. o Que fossem supprimidas as classes de chefes de serviço e


de reverificadores, e feito o serviço de reverificações por commissão,
reforçado tanto esse serviço como o de verificações.
I ~.o Que' os serviços de contagem e conferencia de bilhetes de
despacho fosse desempenbado por empregados verificadores.
13.0 Que a estatistica fosse feita a par do expediente diario de
verificações.
44. 0 Que fossem garantidos os vencimentos aduaes dos emprega-
dos das alfandegas de Lisboa, Porto e consumo, e melhorados os dos
empregados das alfandegas dos grupos 3.° e ft.. o
45. 0 Que depois de vinte annos de bom serviço, julgado distincto
pelo governo, fosse augmentado o vencimento do empregado com
tO %; e com 20 % depois de trinta annos de serviço egualmente
distincto, não podendo porém o serviço ser julgado distincto sem voto
unanime do conselho da direcção.
46. o Que fosse dispensada a edade para as aposentações, e se tor..
Dasse obrigatoria a aposentação aos 70 annos, mas não podendo ter
logar nenhurua aposentação sem o voto unanime do conselho de dire-
cção; e qoe, finalmente o vencimento dos aposentados correspondesse
a cada anno de serviço dúsde o anno em que começasse o direito á apo-
sentação.
t 7. o Que se estabelecesse que o empregado em serviço diverso do
dcl alfandegas, perdesse o direito aos emolumentos.

I H. o Que fosse demiltido l' empregado que nos primeiros 6 mezes


de serviço mostrasse não saber desempenhar o &erviço para que tivesse
sido nomeado, fazendo o director, sob sua responsabilidade, a propos-
ta de demissão acompanhada das provas de incapacidade do empregado.
t 9. o Que o empregado promovido que mostrasse, nos primeiros
tres mezes posteriores á promoção, não saber desempenhar cabalmen-
te o seu novo logar, fosse immediatamente collocado na classe d'onde
sahira.
;!O. o Que se estabelecessem condições especiaes de admissão ao
serviço das alfandegas, tanto para o serviço de' verificações como para
o de administração; regulando-se as promoções simplesmente pelas in-
forrnaçõe~ do conselho de direcção, ouvidos os chefes das respectivas
repartições; exigindo novos concursos sómente para a promoção d'u-
mas para outras classes de verilicadores; não podendo o tempo de ser-
viço dar direito de preferencia senão em igualdade de circumstancias
pelo que respeila a capacidade; e comprehendendo na admissão aos
concursos de 3. os verificadores os despachantes e todos os individuos
que satisfizessem plenamente a todas as condições de admissão.
2t. o Que os direitos de 3 0/0 addicionaes para emolumentos
fossem incluidos nos direitos geraes, e dados em compensação aos em-
pregados uns tantos por milbar sobre a receita geral, correspondentes
á media dos emolumentos que elles percebiam, acabando assim o tra-
·balho de contagem dos referidos 3 o/I) em cada bilhete de despacho, e
simplificando-se por tanto congideravelmente o serviço.
Que se separasse, em termos habeis, o serviço da fiscalisa-
'22. 0
ção externa propriamente dita, do serviço interno, deixando-os sob a
acção de chefes independentes um do outro, distinguindo bem onde co-
meçavam e acabavam as aLtribuiçõas de ambos, as quaes facilmente po-
diam ser confundidas por empregados pouco inteIligenles, por quanto
havia actos externos, começo o complemento de serviço interno, que de
nenhum modo podiam estar a cargo ou na dependencia da fiscalisação
externa.
Mas que não lendo isto sido comprebendido, se passára do extre-
mo condemnavel de sujeitar inteiramente a flscalisação externa á acção
~
50

dos directores das alfandegas, ao extremo, peior ainda, de lhe dar uma
iodependencia complela. com acção de invadir a administração interna
das alfandegas. era urgentíssima uma reforma racional n'este importan-
tíssimo ramo de serviço. E tendo exposto o qne era a fiscalisação ex-
terna, a origem dos sem; males, a natureza d'esles, e os meios de os
remediar. insisti em '188i, como havia indicado em 1875, que se dés-
se organisação e commandos geraes militares aos corpos da fiscalisa-
ção, retribuindo melhor us guardas empregados no seniço da raia e
da costa. garantindo-lbes, e ás familias, a sllbsbtencia quando se inu-
tilisassem ou morressem no serviço e por efr~itú do serviço, e promo-
vendo immediatamente os que prestassem serviços importantes e arris-
cados.
23. 0 Que fosse adoptado () projecto de penalidades, com definição
de contrabando, descaminho de direitos e transgressões que em 1884-
formulei, o qual julgo conveniente dar em appendice n'este folheto, pa-
ra ser comparado com o decreto n. o ~), qne o tomou por base.
24.. 0 Que as multas por descaminho de direitos (ossem applicadas
na sua totalidade aos apprehensores e descobridores, evitando-se com-
tudo o premio demasiado ao denunciante.
'2!5. o Que se extinguissem as coro panhias de trabalhos braçaes das
alfandegas, seLdo de com missão os logares de fiscaes, de chefes de
trabalho e fieis de deposito, desempen hados por empregados escolhidos
entre terceiros ofliciaes e aspirantes. e\'itando os desaguisados e confli-
clos constantes entre os ehefes das repartições e os de uma corpora-
ção de trafego com visos de independencia; creando logares de fieis de
balança, torlos retribuidos pelo tbesouro, constituindo os impostos por
salarios receita do estado, cobrada pelo thesoureiro da alfandega; refor-
mando a labella dos salarios, tomando por base d'estes o pezo dos vo-
lumes, e evitando uma tão extensa como complicada e ridicula pauta
como a que tem vigorado sobre o assumpto.
26. 0 Que nas alfandegas só podessem despachar despachantes en-
cartados, exceptuando d'esta regra sómenle os passageiros pelo que
respeitasse ás suas bagagens, dando as vantagens e designando as ha-
bilitações. fiança e responsabilidades dos mesmos despachantes para
com o commercio e para com a alfandega, em ordem a tornar res-
peitavel, utll a si e ao publico esta classe. da qual, bem constituída,
podiam sair os melbores verificadores praticos, que são sempre de fa-
cto os primeiros.
27. o Que se estabelecesse o despac ho por declarações de volumes
que contivessem mercadorias bomogeneas.
51

28. o Que fossem reformados os preliminares da pauta, com os ad-


diccionamentos. modificações e substituições indicados em diversos rela-
torios meus de t875, em ordem a tornal·os claros e simples. e a aca-
bar peias e restituições sem razão de ser, e a todos prejudiciaes.
~n. o Que fosse abolido o systema de classificação de assucares por
meio de typos. (tres typos) o qual criava lorpeços ao expediente das al-
fandegas, em baraços ao commercio de boa fé. pretextos para intermÍ-
naveis questões, elc.
30. 0 Que, debitados nas alfandegas os importadores ou despachan-
tes de tabacos, fossem os direitos cobrados depois da manipulação, á
saida das fabricas. ficando assim garantidos os direitos que então se
cobravam, e os de que a mais podes~em entrar nas fabricas, quer fosse
por meio de imporlações clandestinas quer pelo emprego de materias
extranhas na fabricação dos tahacos, as quaes d'este modo. sujeitas aos
direitos, deixariam de ser empregadas no fabrico, ficando lambem assim
garantida a saude publica, que nunca o seria pela inspecção e analyse
impossíveis dos processos de fahricação. e simplificando-se portanto a
questão de fiscalisação de tabacos, reduzida á da importação de tabacos
manipulados estrangeiros.
31. o Que se attentasse bem na importancia da fiscalisacão da raia
e da costa. especialmente da costa do sul. mostrando por essa occasião
que tendo sidD a receita de tabacos pela alfandega de Lisboa em 4875
de 2.088:2516470 róis. e no de 1876 2.053:8t4t$930 réis, tendendo por-
tanto ainda a diminuir, e tendo eu. quando em f 876 tomei conta da
direcção geral das alfandegas, tornado um pouco mais desenvolvida e
efficaz a fiscalisação da raia do Alerntejo, e toda a do Algarve, o ren-
dimento do tabaco em '1877, pela mesma alfandega de Lisboa, tivera
um augmento de 358:150614.7 réis, o que mostrava o erro dos que sup-
ponham que a fiscalisação na raia era impossível, e a traziam para o
centro das povoações. onde os descaminhos eram geralmente protegi-
dos; mas que. desviada posteriormente da raia a fiscalisação, o rendi-
mento do tabaco logo descera quasi tanto quanto subira. E que, final-
mente, muito convinha ponderar que os direitos excessivamente altos,
nos tecidos e n'outros artigos. promoviam a associação, tão poderosa
como temível, dos descaminhadores dos direitos d'esses artigos com
os descaminhadores dos direitos do tabaco, sendo, por tanto, isolai-os,
isto é, tirar aos primeiros o incentivo para o descaminho, um dos meios
mais certos de fazer subir a receita dos tabacos.
32. o Que se alterasse a area fiscal das alfandegas, restringindo a
das alfandegas da raia, a qual então (e não sei se ainda hoje) quasi que
abrangia todo o paiz, tornando clara a das alfandegas situadas nas
margens dos rios, alargando a dos caminbos de ferro. e sujeitando á
acção liscal todas as estações, armazens e quaesquer edificios que fos-
sem pertenças dos mesmos caminhos.
33. 0 Que se organisasse policia fiscal occulla nos termos que indi·
quei no projecto de regulamento que acompanhou o meu relatorio de
4875.
3~.O Que o imposto do real d'agua fosse cobrado nas localidades
da producçãO. onde, ainda com grandissimas isenções para os produ ..
clores. e a despeito de muitos abusos, produziria receita muito maior
com menor despeza.
35. 0 Que fossem cobrados por deposito os direitos a que as pro-
postas de lei sujeitassem quaesquer mercadorias, a contar do dia imme-
diato áqueHe em que essas propostas fossem apresentadas pelo gover-
no ás camaras legislativas, e restituidas ou levadas á receita, segundo
as propostas de lei fossem ou não approvadas. t
36. o Que fossem abolidos os direitos de exportação, reexportação
e baldeação, e se désse liberdade commercial ás ilhas dos Açores e Ma-
deira, com as raras restricções aconselbal1as pelo interesse de industrias
que tivessem rasão de ser.
Eis ahi, pelo que respeita a medidas geraes. as indicações ou ba-
ses que offereci á consideração dos difIerentes ministros da fazenda
com quem servi, as quaes tenho visto, ora umas ora outras, de um
mOtlo ou outro, com mais ou menos nexo, mais ou menos criterio,
quasi todas adoptadas nas ditrerentes reformas parciaes e geraes que
n'estes ultimos viote annos teem sido decretadas, o que é para mim
subido premio do meu estudo sobre o assumpto. E, sem me occupar
agora em especial de providencias que annualmente proPQz ou ado-
ptei_ na antiga direcção geral, nas tres principaes alfandegas que dirigi,
e em todas as outras que inspeccionei, bem como a todo o serviço de
fiscalisação externa, passo a tratar da reforma recentemente decretada,
no sentido de sustentar ou defender, como deixo dito, as minhas idéas
n'ella aproveitadas mas não por mim applicadas ou desenvolvidas.
Satisrazendo, tanto quanto me era possivel, ás indicações do meu
amigo sr. Marianno de Carvalho, expuz-Ihe !) seguinte:

1 Esta indieação é do anno de 1875. e só foi adoptada em t886 - onze annOB


tkpoi, !
53

QUADROS
Alfandegas de Lisboa e Porto

«A reforma decretada em fS8n supprimiu e criou logar~s das al-


fandegas. Do confronto da suppressão com a criação de logares nas al-
fandegas de Lisboa. Porto e Consumo, resulta uma diminuição de des-
peza de réis t3:!)ü06000. Ficaram todavia muito imperfeitamente orga-
nisados os quadros das alfandegas mais importantes do paiz, das quaes
sahiu essa economia. para o bom arranjo das quaes fôra principalmente
o pensamento primordial da reforma. e boje não é (acil remediar o mal
feito, porque a economia de t3:950~OOO réis já teve decerto outra ap-
plicação.
E sobre tudo notavel, e de funestos resultados, a desproporção em
que ficaram as classes inferiores dos empregados das alfandegas de
Lisboa e Porlo, com relação ás classes superiores.
A reforma reduziu nas alfandegas de Lisboa e Porto de 6 a ~ os
chefes de serviço. de to a 7 os primeiros officiaes, de t3 a tO os pri-
meiros verificadores. de t6 a lo&. os 2. oS officiaes, e de 30 a t5 os 3.°1
officiaes, elevando de 7 3 9 os reverificadores e de 62 a 92 os aspi-
rantes, conservando os 18 segundos verificadores existentes, e criando
a classe de 3. os verificadores em n. o de t8.
A reforma criou a classe de 3. 01 verificadores por mim indicada e
reclamada desde o anno de i875 (dez annos antes) mas infelizmente,
antes de ser estabelecida essa classe, e contra as rasões que determi-
navam a sua instituição, foram despachados, saltaram diversos empre-
gados de aspirantes para segundos verificadores, erro funestissimo tantas
vezes até ahi commettido, desigualdade repugnantissima tantas vezes
condemnada, e cujas consequencias pelo que respeita aos primeiros pas-
sos errados, ainda boje se estão fazendo sentir vivamente na incompe-
teneia d'alguns segundos e primeiros verificadores.
Estabelecida porém a classe dos 3. os vereficadores, ainda a inex-
periencia do serviço de verificações foi, má sina d'este serviço, Cavore-
cida pela referida reforma, que criou 3. OS verificadores em numero igual
ao dos segundos, abreviando, facilitando áquelles o accesso para os 10-
gares d'estes. Podem responder-me com os concursos, mas eu, com
magoa o digo, em geral, não creio, sou obrigado a não crêr em con-
cursos, e menos creio n' elles do modo como estão estabelecidos no de-
creto 0.° 3 da alludida reforma de 1885. A impossibilidade de satisfa-
zer a programmas tão apparatosos como complicados, é uma porta
aberta pela cbave da benevolencia para a entrada e promoção da igno-
rancia no serviço publico. Entendo que é urgentissimo desfazer esta
unirormidade de Ilumero Ilas classes de ~.os e 3. 0j verificadores, a qual,
depois de ser prejudicial ao serviço, é em ultima allalyse uma desigual-
dade injuslissima com respeito a outras classes.
Emquanto a classe de 3.°8 verificadores, igual em numero á dos
2.°1 verificadores, têm diante de si um futuro animador. probabilida-
des de promoção, a classe dos aspirantes, composta de noventa e dois
empregados, só tem a esperar as vagas que podem deixar quinze ter-
ceiros officiaes. Nas classes de 2.°8 e 3.°8 verificadores i8 para i8; nas
classes de aspirantes e 3.°5 otliciaes not'enta e dois para quinze. Quando
cbegará o ultimo, o 92.° aspirante a 3.° omeial? r Qual dos aspirantes
poderá dizer que não será o ultimo? r
Mas ainda ba mais. Emquanto ba '15 logares de 3. 0i officiaes para
as promoções de 92 aspirantes, ha 9 logares de reverificadores para
promoções de 10 primeiros verificadores r
Accresce que são 92 aspirantes onde, com a organisação decretada
em i885, não ba ~ervjço proprio d'esta classe para 9~ individuos, e
onde começam logo, portanto, muitos d'elles, a oecupar-se de trabalbos
pertencentes a outras classes, ~em a retribuição nem as outras vanta-
gens d'ellas, deixando de habilitar-se cabalmente no serviço proprio da
sua catbegoria, falba de que hão de no fuluro resenth··se qualquer que
seja a posição que occupem, porque a aprendizagem dos seniços con-
siderados como o A. n. C. das alfandegas, é para os serviços superio-
res o que a instrucção primaria é para a secundaria.
Para tornar menos dispendiosa a administração convêm que as
classes inferiores sejam maiores que as superiores, e bem assim para
dar occasião a um largo tirocinio dos primeiros serviços que, embora
simples, são a base de outros mais importantes, de que é preciso que
os empregados superiores abi chegados por concurso ou antiguidade.
se occupem com perfeito conhecimento de causa: mas nunca de tal
modo maiores as classes inferiores que os empregados d' ellas percam
a esperança de cbegar ás superiores.
A reforma de i885. porém, cahiu em dois extremos: despropor-
ção de numero na classe de empregados de administração, difficul-
lando extremamente a promoção; desproporção, no sentido inverso, nas
classes de verificadores, facilitando extremamente o accesso aos logares
de serviço tecbnico, que é exactamente o que exige maior e mais de ..
5 a"

morado exercicio em cada uma das classes em que ~e adquirem os di!-


ferentes graus de capaeidade.
;\ão se decreta pacienda nem virtude. Cortar 35 aspirações dos ser-
vidores tlu estado {' matar o seniço publico, especialmente se, como
1141 caSl) de que se trata. as aspirações são cortadas a uns e favorecidas
a outros. E' fal'll de calcular o resullado deploravel de situações injusta-
mente dt'~iglJaes.
o incenth'o, a ~aralltia de bom serviço e~tá menos em augmen-
tar a retrihuição penmiaria. do que na perspectiva de um futuro lison-
~eíro. pro\'J\"el. mais ou menos proximo. Augmente-se o vencimento
do empregado inferior. qller seja il custa das classes superiores, quer
não: i'e não St~ lhe torna provavcl a promoção n'um espaço de tempo
rasna\'el. não se tem feito nada; o empregado estacionario. olhando á
rotia de si. não "enfIo mais que um angmenlo de reaes. que não póde
ser grande nem progressi\'o. e não esperando nada do futuro, em que
se lornarú"? - i'ownta e dois aspirantes sem poderem passar para
diante. ou com extrema rlitliculdade de passarem, serão noventa e dois
martyres a canonisar. ou ne\'enta e dois peecadores a condemnar.
N'outras classes a rlesproparção não é tamanha. mas não deixa
por isso de ser desproporção, que muito convinha ter evitado.
De lodos os logares superiores das alfandegas de Lisboa, Porto e
Causumo, os mai~ dispensa\'eis, desnecessarios até, são os de cbefes
de serviço. Oito chefes de serviço fazendo uma despeza aDnual de réis
t 6:000 ~OOO, comprehendidos ordenados c emolumentos, sem utilidade
real para o serviço como o tem demonstrado experiencia de mais de
t'inlP armos. Uma classe de simples ornamentação.
Pois aqui, n'esta classe inutil, a reforma de t885 tirou só um
empregado a cada alfandega, para tirar ás do Porto e Lisboa os de que
ellas não podiam prescindir; supprimiu empregados das classes uteis
e indispensaveis. dos que mais e mais importante serviço produzem,
cujo numero era o menor que podia ser t para conservar a classe de
chefes de serviço que até hoje oioguem sabe para que fim especial le-
nha prestado. Não faço al1nsões a indivíduos; trato da classe na organi-
sação dos quadros e no desempenho do serviço das alfandegas.
E a reforma de t 885 conservando tres repartições em cada uma
das alfandegas de Lishoa e Porlo, conservou sómente dois cberes de
serviço em cada uma d'ellasl Ou lodos ou neohum.
Pois por que hão-de ser dois cbefes de serviço o não tres'l Qual a
razão de supprimir só um? Que papel é distribuido na reforma aos dois
ehe(es do serviço que escaparam ao podão do refurmador? Nada diz a res-
peito d'elles em especial o capitulo 2.° do titulo 3.° do decrelo n.O 3. N'es-
se capitulo, que trata das aUribllições e deveres especiaes dos emprega-
dos do serviço aduaneiro, nada se altribue, nenbum de\"er se impõe
aos chefes de serviço; passa-se ahi dos directores para os chefes de
repartição. d'estes para os reverificadores. verificadores, tbesoureiro, etc. ,
e dos chefes de serviço, que são as primeira~ figuras do quadro. 1wm
palavrtl! Serão elles os chefes de repartiç?ío? Mas então fica sem chefe
uma das repartições, que são tres, on haverá uma repartição bastarda,
de que será cbefe um empregado menos qualificado? Mas se uma das
repartições, que são egualmente im portantes, dispensa chefe de servico.
como o não dispensam as outras? Se não são para chefes de repartição.
nem para substituir o director. porque na organisação ha sub-director,
que ficam sendo ou fazendo os chefes de serviço? Cousa nenlmma que
n50 possam (azer os primeiros officiaes, dispensando-se uma classe
cara, que nenhuma applicação util tem tido ou póde ter.
Ao serviço de reverificações, que mais carecia reforçado, a refor-
ma de 1885 só deu mais dois empregados, um para a alfandega de Lis-
boa. outro para a alfandega dn Porto, desatlendendo ainda aqui a pro-
porção com que os empregados do quadro geral devem ser distribui-
dos pelas duas alfande~as, por quanto a alfandega do Porto com 18
verificadores ficou com 4. re\erificadores, e a de Lisboa com 28 verifi-
cadores ficou com 5 reverificadores sómente.
Cinco reverificadores na a!fanl1ega de Lisboa para reverificarem,
na devida proporção, as verificações que fazem 28 verificadores. Sup-
pondo que um verificador só faz, termo medio, fO verificações em cada
dia, teremos, pelo menos, o lotai de 280 reverificações, ou 56 verifica-
ções para cada reverificador; e suppondo lambem que baste reverificar
metade das verificações, ainda assim fica distribuido a cada reverifica-
dor trabalho de 28 reverificações diarias, que, embora não comprehen-
dam em cada volume toda a fazenda verificada, é trabalho que nunca
fez nenbum reverificador, nem mesmo comprehendendo na conta as re-
verificações reitas fóra das horas do expediente. em que ha emolumen-
lós pessoaes, que activam o serviço, e porque o activam ajudam a de-
monstrar a proficuidade da idéa, que ha muito tenho expendido, de ser
da commissão o serviço de reverificações.
Com o andar dos tempos o reverificador vitalicio, como o chefe
de sen-iço, torna-se funccionario priviligiado, por fim oraeulo, que não
sabe do sanetuario, onde só dá as respostas e pareceres que bem lhe
apraz sobre o presente e o futuro da chi mica e da industria fabril, repre·
sentadas pelas mercadorias a reverificar t que, á sombra da estabilidade
57

e inviolabilidade de um tal sacerdote, vão saindo das alfandegas pela


maior parle sem reverificação.
Em fiscalisaç,ão. estabelecer o receio é metade do serviço, e para
estabelecer o receio não é preciso reverificar tudo; mas quando a ex·
periencia mostra que os meios de iIIudir são quasi infinitos, e a ousadia
lambem infinita. é preciso reverificar muito. Quando o serviço de re-
verificações fur de commissão, qnando a gratificação de quem revel'ifica
mal ou pouco passar para quem reverifique o sulficiente e bem o traba-
lho de reverificações será tão desenvolvido e productivo quanto coO"ém
que seja, e em quanto o for; a commissão que deverá ser conferida pelo
ministro sob proposta do conselho de direcção, está garantida a quem
uma vez a exerceu. e torna-se, pelo bom serviço, tão vitalicia como hoje
é o logar especial de reverificador.
E' a historia antiga que diz o que deixo apenas referido, Veremos
o que dirá a historia moderna. Em tudo ha excepcões, e ha de havei-as,
relativamente mnitas, com particularidade a respeito dos reverificadores
novos; - não nos iIIudamos todavia com ellas; os reverificadores de
boje não serão os oe ámanhã.
Concluindo esla parte do meu pequeno trabalho: para equilibrar
as classes e attender con venientemente a todos os serviços, sem prejuizo
de ninguem, parece-me acertado, se V. Ex. a não quizer entrar em re-
organisação wais ampla, substituir, com relação ás alfandegas de Lis.
boa e Porto, a labella n. o 2 annexa ao decreto n.O 3 da reforma, pela
seguinte:
2 directores a 900aOOO réis .................... . 1:8006000
2 thesoureiros a 6Ú06000 réis .................. . t:2008000
7 primeiros omciaes a 5006000 réis ....••........ 3:5005000
t 4. segundos omciaes a 3505000 rl-lis ............. . 4:900~000
28 terceiros offidaes a 2406000 réis .............. . 6:7208000
56 aspirantes ti IuO~OOO réis ...•................. 8:~00~OOO
t 2 primeiros verificadores a Õ005000 réis ......... . 6:000t5ÜOO
24. segundos verificadores a 350t$000 réis. . .. . .... . 8:4.005000
~6 terceiros reverificadores a 24.0t$000 réis ......... . 8:64.0~000

i81 49:5605000
Gratificações por parte do governo aos primeiros verifica-
dores que fizerem o serviço de reverificações ...... . t :2005000
50:7608000
E sendo a despeza actual de •.............•........ 52:2208000
Haverá n'este caso reducção de despeza de .......... . i:~608000
58

e a par d'essa economia um grande acto de justiça para com os empre-


gados, e de alta conveniencia para o serviço, ficando todas as classes
perfeitamente proporcionadas, o serviço de verificações e reverificaÇões
amplamente reforçado, e todos os outros aUendidos.

A reforma de i88:J dava ás alfandegas de Lisboa e Porto 46 veri-


ficadores e 9 reverificadores; ao todo 54, empregados technicos; o qua-
dro que deixo lranscripto contem 72; applicados que sejam f 2 ao ser-
viço de reverificações, ficam ainda 60, que não são de mais. porque o
serviço de verificações é mnito e tende acrescer, embora se adopte o
systema de despacho por declarações, que o não dispensam, e porque
o serviço de contagem e conferencia de bilhetes de despacho, deve to·
do ser desempenhado por verificadores, necessidade que é cada dia
maior, e de que já no meu relatorio publicado em t875 me occupei
nos lermos seguintes:

«A lei impõe aos contadores e conferentes responsabilidades espe-


ciaes e graves, mas não lhes marca habilitações, nem lhes concede di-
reitos correspondentes aos deveres, ou vantagens proporcionadas ao
serviço especial que prestam.

D'esta sorte nunca baverá bons contadores e bons conferentes; e


tudavia é e~te ramo do serviço um dos mais importantes das alfande-
gas. Ha tal identidade entre a competencia dos contadores e conferen-
tes e a dos verificadores, que me parece que aquelles deviam de algum
modo entrar na classe d'estes ou d'ella sairem. Casos ha, e não pou-
cos, em que os contadores e conferentes deveriam ser empregados que,
além de já terem passado pelas provas que dão os verificadores, fossem
ainda mais experimentados que elles; mas de tal modo são as cousas
que o contador e o conferente, que teem de examinar rapidamente, e bem,
uma parte importante do serviço do verificador, e de fazer emendar er-
ros d'este. pódem ser empregados que pouco ou nenbum conhecimento
tenham da materia, e de facto nenbumas habilita·iões se lbes exi-
gem .•

Ainda hoje isto é assim, e d'ahi a morosidade, imperfeição e peri-


gos no serviço de contagem e conferencia.

Aceresce que o serviço de direcção de casas de despacho só póde


ser bem desempenhado por quem saiba vêr o que n'ellas se faz, e não
póde apreciar bem como corre o serviço de verificações quem não fôr
verifica dúr.
59

Alfandega do Consumo

Tambem O quadro da alfandega de consumo, segundo a reforma


de f88~, está muito imperfeito, contendo 3 primeiros officiaes, 8 se-
gundos, t ~ terceiros officiaes e 30 aspirantes. Se esta alfandega tives-
se de subsistir, eu eliminaria o logar de cbefe de serviço e formaria o
quadro-além do director e do tbesoureiro-com 4. primeiros ofliciaes,
8 segundos, t 6 terceiros e 26 aspirantes.

Mas não ha razão nenhuma para a conservação d'esta alfandega. e


até o embaraço das dilferenças de vencimentos, comparados com 8S dos
empregados das alfandegas de Lisboa e Porto, já acabou; desapparece-
ram os inconvenientes e subsistem as razões poderosas que sempre se
deram para incluir no serviço da alfandega de Lisboa e da alfandega de
consumo, do mesmo modo que na alfandega do Porto esteve sempre
incluido o da cobrança dos impostos do consumo, real d'agua, etc. Eco-
nomia, apuramento e aproveitamento de capacidades dispersas, para os
trabalhos especiaes que as recldmam; homogeneidade de administração
e fiscalisação, fazendo chegar melhor o pessoal para o serviço, facilitan-
do este e tornando·o mais igual e mais energico pela unidade de acção;
tudo aconselba a inclusão do serviço d'uma d'estas alfandegas na outra.

E sendo assim, o quadro das alfandegas de Lisboa, Porto e consu-


mo ficaria organisado do modo seguinte:

~ directores a 900~000 réis .................•..... ~:8001000


2 thesoureiros a 6008000 réis •.................... 1:2001000
t t primeiros ofliciaes a 5006000 reis .............. . 5:5006000
22 segundos officiaes a 350t$OOO reis ...•......•..•. 7:i005000
4.4. terceiros officiaes a 2~OJOOO réis ............... . tO:8006000
88 aspirantes a t 50~000 réis ..•....•............•. t3:~00~OOO
f2 primeiros verificadores a 500t$OOO réis .•.......... 6;000~OOO
2ft. segundos verificadores a 350aOOO réis ..........•. 8:4006000
36 terceiros verificadores a 240~OOO réis .•........•. 8:6406000
62:5~OõOOO
Despeza actual ................................. . 66:0008000
Reducção de despeza .....•....................... 3:480~OOO

Aqui temos, pois, as classes equilibradas, todos os serviços do


mesmo modo que na primeira hypotbese atlendidos, e a despeza infe-
rior á que actualmente faz o estado com as tres alfandegas.
60

Extincçã.o das alfandegas do 3.° e do 4.° grupo. - Duas alfandegas, e


um só quadro de empregados de serviço interno no continente
do reino.

As alfandegas maritimas de 2. a classe, e as da raia de La e 2.3-


classe, boje anfandegas de 3.° e de 4.° grupo segundo a denominação
da reforma de '1885. nunca foram e não serão nunca, com raras exce-
pções. mais que \'iveiros de empregados, embora inlelligentes. mais
ou menos j[}babeis. Ainda que esses empregados tenham intelligencia,
como de certo muitos teem, ainda que queiram, não teem onde adqui-
rir conhecimento pratico completo do serviço. exclusivamente entregues
ao expediente d'aqueHas pequenas casas fiscaes.
Se porém a organisação das alfandegas fôr tal que todos os em-
pregados aduaneiros passem, mais agora ou mais logo. pela escola das
aUandegas de grande movimento, e ahi se demorem, dentro de alguns
annos haverá um pessoal numeroso habilitado, de que se possa dispõr
para todos os serviços, aproveitando.se os mais inlelligenles e mais
babeis para os trabalhos mais importantes, e applicando-se os outros
aos serviços que demandarem menos capacidade.
Com a organisação actual, que é, com pequenas differenças, a an-
tiga, não ha possibilidade de escolha, de apuramento do pessoal sus-
ceptivel de se habilitar. Hão de estar necessariamente uns tantos em ..
pregados n'uma alfandega, outros n'outras, sempre os mesmos, bons 00
maos; permanecerão os maus onde se não podem fozer bons, os bons,
por -ventura bons de mais para os serviços que lhes são incumbidos,
onde a ~ua intelligencia é desperdiçada, onde não teem a que applicar-
se, nem meios praticos de esclarecer-se.
Mas esses empregados, diz a reforma de t885, teem accesso, me-o
diante concurso, para 3S alfandegas de todos os grupos. Vejamos
como:
Nos concursos para ingresso em logares de aspirantes das alfan-
degas de Lisboa, Porto e consumo, diz o decreto n.o 3, artigo 24..·-
que só poderá ser admitlido quem apresentar titulo de approvação nas
disciplinas do curso do commercio, ou pelo menos approvação nas dis-
ciplinas das cadeiras t. a , 2. a , 3. a , !... a, 5.·, 7. a e 15. a do curso dos
lyceus, segundo o artigo 6.° da lei de 14 de junho de i880;
Nos das alfandegas do 2.° e 3. 0 grupos, simplesmente approva-
ção em porluguez, (rancez, inglez e aritbmetica;
61

Nos das alfandegas do 4.° grupo, meramente exames de instruc-


ção primaria e francez.
E comtudo o mesmo decreto, artigo 48. 0 e tabella 0. 0 8, admitie
aos concursos para as alfandegas do L o grupo, os que entraram para
as elo 2.°, 3.° e 4.° grupos com habilitações muito inferiores ás que
para aquellas alfandegas exige o art. 241
Indo os candidatos á academia das ilhas, são dispensados do curso
de commercio; passando pelas universidades da raia ficam examinados
nas disciplinas de todo esse curso e das das difTerenles cadeiras dos
lyceus, e são admitlidos aos concursos para as alfandegas do LO gru-
po, do me~mo modo que aquelles a quem se exigiu o curso completo
do commercio, ou os conhecimentos de sete cadeiras do lyeeu devida-
mente comprovadosl
Que exame poderá fazer um empregado das alfandegas do 4.° gru-
po, ainda que tenha psssado pelas do 3.° e 2.°, a quem foram dispen-
sadas as principaes habilitações de admissão aos ('·oncursos para as do
LO grupo? Approvado por favor, ou por desenvolvimento feliz da scien-
da do papagaio. que base de conhedmentos theoricos e praticos traz o
candidato para as alfandegas de La ordem, onde o serviço é outro, muito
difTerente a muitos respeitos do das alffindegas dos grupos 3.° e 4. 0 ,?
Direi aqui como sobre o mesmo assumplo disse no mesmo relato-
rio publicado em 1875:
-Da raia, com pratica ou sem pratica o empregado passa para as
alfandegas marítimas de 2. a classe, onde a não t~m, d'eiÍa para a t. a
classe onde menos a tem, e está velho sem saber nada do serviço que
definitivamente tem de desempenhar, e sem lhe servir de nada o que
estudou na raia, se estudou, por que não volta para lá .•
Não variaram as circumstancias. Nada tenbo que alterar boje n'es-
tas observações. Dão·se agora os mesmos factos, com as mesmas con-
sequencias, por outra fórma.
Acabe-se pois com isto por uma vez; entrem por uma vez todos
os empregados das alfandegas dos grupos 3.° e 4. 0 no quadro das al-
fandegas de Lisboa e Porto, e adquirirão ahi, em quanto é tempo de
aprender, a pratica do serviço que vale pelo maior numero de provas
dos mais pomposos concursos.
Hoje, com os caminbos de ferro, não teem razão de ser alfandegas
insignificantes, onde se não faz nem se póde fazer o serviço corno em
delegações das alfandegas de Lisboa e Porto, providas de empregados
62

d'estas conveniefltemente escolbidos, e podendo ser facilmente substi-


tuídos quando se deem d'estas circumstancias que aconselham a sub-
stituição sem exigirem a demissão, nem mesmo a suspensão, que as
mais das vezes só serve para desmoralisar os empregados.
Por outro lado, nada tão efficaz para manter a disciplina do que
terem os directores das alfandegas a faculdade de mandarem os empre-
gados pouco assiduos. os madraços, os relaxados, por que os ha, fe-
lizmente por excepção, em todas ou quasi lodas as repartições do es-
tado, para as delegações onde mais lhes custe servir. O receio d'este
meio disciplinar, que não tem a fórma nem o nome de castigo, é na
minba opinião eillcacissimo e altamente moralisador.
As leis e os regulamentos, e os governos mais que as leis e os
regulamentos, teem tirado aos directores das alfandegas todo o presti-
gio, toda a dependencia que d'elles devem ter, no maior grau, os seus
subordinados; é preciso re~titllir-Ihos de todos os modos.- Lembra~me
que a unica demissão que propnz ao governo, não Coi approvada por
que a "ietima da minha singnlar ferocidade era filho de um director ge-
raL Ri então dos que me chamavam exlremamente benevolo, por que
o eram mais do que eu.
~Ias podem os directores abusar~ Não escolha o governo directo-
res, nem bem cl'eados e bene\'olos de mais, como dizia o meu amigo
dr. Teixeira qlle el1 era, nem que façam consistir o seu cabotismo, que
é sempre um mau prenuncio, na má creação, na brutalidade e nos ri-
gores injustos. Em todo o caso o perigo do abuso, que tem remedio,
não póde impedir o uso que é indispensavel.
Por todas as considerações que deixo expostas, e por que a sim-
plicidade da organisação das alfandegas facilita todo o serviço; por que
a desacuml1lação da administração geral de negocios das alfandegas me-
nores. que são melbor e mais facilmente apreciados nas alfandegas de
Lisboa e Porto, que com identicos negocios lidam diariamente, simplifica
a administracão superior qlle todavia conhecera do serviço d'aquellas
delegações como hoje conhece das que existem, sem descer ao exame
minucioso das pequenas duvidas e questões, qne se resolvem sem a sua
intervenção nas alfandegas de 'I. a ordem: considero como medida de
grande alcance, base de tudo quanto se possa fazer de melhor na re-
gulamentação do serviço adllaneiro, a extincção das alfandegas dos
grupos =3. 0 e 4.°, substituindo-as por delegações das alfandegas de
Lisboa e Porto, com as mesmas atlribuições que boje teem aquellas
alfandegas, e entrando os seus empregados no quadro das referidas
alfandegas de Lisboa e Porto, em categorias correspondentes, segundo
63

os vencimentos, ás que hoje teem. Os postos fiscaes com despacbo


subordinados as alfandegas ou delegações mais proximas.
Devo porém prevenir a V. Ex. a de que essa medida, pela adopção
da qual insisto desde o anno de t875, encontrará, como até agora tem
encontrado, resi~tencia formal da parte dos empregados das alfandegas
de Lisboa e Porto, soh pretexto de darem os caminhos de ferro, que
ligam aquellas alfiwdegas, quer de portos de mar, quer da raia secca,
com os grandes centrus de consumo. grande movimento ás mesmas al-
fandega~, devendo ellas por isso ter uma autonomia; mas essa razão
não colhe purque, quanto mais importante fôr o fado que assim se
aponta como meio de resistencia, maior é a necessidade de que as re-
f~ridas casas Hscaes sejam servidas por empregados complelamente ba-
bilitados, e não os podem ter senão escolbidos e destacados das alfan-
degas de Lisboa e Purto, e sob a administração e vigilancia d'estas ca-
sas tiscaes.
As razões Y€rdadeiras da resistencia são, por um lado o receio dos
incommodos a que ficam sujeitos os empregados das alfandegas de Lis-
boa e Porlo, e por OlltiO o accrescentamento do divisor dos emolumen-
tos por efTeito da entrada d/IS empregados das alfandegas dos grupos
:3. o e IJ. o fiO quadro das mencionadas alfandegas de Lisboa e Porto.
Esta ultima circumstancia, porém, que se não tem allegado, mas
que se podia allegar, porque tem uma certa imporlancia, póde e deve,
na minha opinião, ser aLtendida pelo governo embora não deva obstar
á adopção de uma medida de tamanha conveniencia para o ~erviço.

Creio que não ba quem seja mais interessado do qne- eu na divi-


são dos emolumentos, e, sem pretender de modo algum dar ramo acto
de abnegação a minha proposta ou indicação, insisto pela adopção d'ella
ba '11 annos, com a co(wicção de que importa um grande bem para o
serviço, e de que o governo altenderá razoavelmente a qualquer pe-
queno interesse ferido.
Tamhem se dirá, eomo se tem dilo, que os directores das alfan-
degas de Lisboa e Porto, que jfi não podiam com o seniço das suas
alfandegas, menos poderão altender ao de novas e tantas delegações
mais.
Os directores não podiam nem podem com o serviç,o segundo a
legislação antiga, embora aliviado pela reforma de 1885, que, segundo
proposta minha, os auxiliou com sub-directores, porque n~n são dire-
ctores mas cbefes de cada uma das repartições, occupando-se de mil
64

insignificancias e impertinencias. e de assumptos de que ~ó devem co-


nhecer por via de recurso ou por meio de inspecção.
Descenlralisados os serviços, fazendo das ditTerenles repartições ou
estações fiscaes outras tantas pequenas direcções. como chefes imme·
diatamente responsaveis pela regularidade do serviço, resolvendo todos
os negocios sugeitos a disposições de execução permanente, como n'ou-
tro logar mais desenvol\"idamenle indicarei, os directores lerão tempo
para tudo o que diz respeito á sua alta missão, que nunca tem sido
comprehendida, e que é preciso que o seja, para que elles possam ins-
peccionar. e a sua inspecção frequente poder garantir a boa ordem de
todas as cousas do serviço; para que possam pensar sobre o modo de
resoh'er com acerto os casos novos que todos os dias pedem ao bom
senso solução, que lhes não dão nem podem dar as leis e regulamentos.
que não chegam nem podem chegar, não previnem nem podem preve-
nir esses casos; e para que tenham tempo de razer observações e estudo
sobre os inconvenientes e melhoramentos das disposições regulamenta-
res, bem como sobre 08 dados estatisticos com relação aos interesses
fiscaes e economicos, discutindo e propondo ao governo as medidas
que os seus conhecimentos praticos lhes suggerírem para () melhor
exito da administração publica.
Quando os directores forem isto, e conto que o serão se V. Ex.&
adoptar a organisação de serviços que proponho para as alfandegas de
Lisboa e Porto, em fsubstituição do decreto n.O 6 de I885, não virão de
modo algum perturbai-os, nem tirar-lhes muito tempo, os negocios das
delegações novas, os quaes correrão serenamente pelas diversas repar-
tições ou pequenas direcções, como correm lodos os outros negocios
das alfandegas. Longe de lhes difficultar a administração, o conheci-
mento directo do que se passa n'uma maior circumscripção aduaneira
habilital·os·ha a melhor servirem, quer pelo que toca a providencias
fiscaes, que não teem de encontrar-se com a acção de outros adminis-
tradores, quer pelo que respeita á formação de juizo sobre os etIeitos
economicos e financeiros da legislação aduaneira. E se o contencioso
fiscal fôr entregue a juizes especiaes de t. a instancia, com recurso para
a relação respectiva, havendo junto d'elles um promotor de justiça fis-
cal-unica fórma de garantir plenamente os interesses do estado e os
direitos das parLes-sobrará tempo aos directores do desempenho ca-
bal das suas funcções importantes.
Extincta pois a alfandega de cousumo, annexado o seu serviço á de
Lisboa, e passando as dos grupos 3.° e 4.° a ser delegações das de
Lisboa e Porto, entrando todos os empregados d'aqllellas com os d'es-
tas n'um só quadro geral, ficará este assim composto:
65

2 directores a 900~OOO réis ............•••..•••. 1:800~000


2 thesoureiros a 6006000 réis ............•.....• t:200~OOO
J 5 primeiros officiaes a 500,$000 réis ..........••.• 7:5006000
24 segundos ditos a 3nO~OOO réis ..........••..... 8:4006000
70 terceiros ditos a 2106000 réis ................ . 16:8006000
J 38 aspiran tes de J. a classe a J õ08000 réis ........ . 20:7006000
70 diLos de 2. a classe o 120,$000 réis ......•....... 8:4006000
t 2 primeiros verificadores a 50015000 réis ......... . 6:000t5000
24 segundos ditos a 3~01>OOO réis .....•........... 8:400~000
36 terceiros ditos a ':H0t5000 réis ................. . 8:6406000
----------
393 87:8406000

Gratificações aos verificadores que fizerem serviço de re-


verificação ................................ . 1:2006000
89:0406000
Despeza actual com todas as alfandegas do continente .. 9t:8806000
Reducção de despeza .....................•..•.... ~:8~06000

Numero de empregados dos quadros actuaes ..•....... 376


Numero de empregados do novo quadro ........•..•• 393
DifIerença para mais do novo quadro ..............•. t7

Dezesete empregados. que não serão demais por que embora o


serviço todo feito em casas apropriadas, como em tempo propuz, poupe
empregados, os que a reforma de J885 criou n'um dia, já no dia
seguinte nem aproximadamente bastavam, por que ficaram desde logo
nada menos de 13 empregados da extincta companhia braçal fazendo
serviços importantes de empregados do quadro, taes como os de con-
ferencia de descarRa, visitas a navios, escripturação de receita geral e
classificada, entrando empregados novos para o serviço de trafego, que
aquelles podiam desempenhar se não fossem reclamados para o serviço
que prestam, pela exiguidade do quadro criado pela referida reforma
de 1885, sendo certo que a melhor disposição das novas casas de des-
pacho em caso algum póde produzir uma economia de t3 empregados,
crescendo como cresce todos os dias o ex pediente.
Todos os empregados das alfandegas, dos grupos 3.° e .&..0 ficam
n'este quadro com vencimentos um pouco melhores, como é de neces-
sidade e justiça que tenham, são conservados os actuaes vencimentos
ás classes extinctas e ás que subsistem dos antigos quadros das alfan-
degas de Lisboa, Porto e Consumo, e é reduzido a despeza de orde-
nados, como fica demonstrado, na importancia de 2:84.0aOOO réis.
5
66

Não ha em todas as classes d'este quadro a mesma proporciona-


lidade que apparece DOS dois primeiros quadros que indiquei, mas tam-
bem não ha desproporção que demore demasiadamente a promoção de
umas para outras classes. A classe de 3. os officiaes é que não tem pro-
babilidades de promoção tão grandes como as outras, mas na posição
de 3. o omeial já se pó de esperar um pouco sem desanimo.
Eis como entendo deverem ser na transcripcão preencbidas as
difIerenles classes:
Cbefes de serviço preenchendo, sem prejuízo de vencimentos, 10-
gares de 1. os ofliciaes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . • • . 5
I. c,; otllciaes actuaes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . • iO
Numero de L o,; otficiaes do novo quadro. . . . . . . . . • . • • • . . . . • . t5

~. os officiaes actuaes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . 22
Ditos do novo quadro... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.&.
DifIerença para mais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . • • . . . . . 2
aos quaes teem de se:' promovidos '2 terceiros officiaes.
3.oS otlil'.iaes actuaes. . . . ... ... . . . .. .... .... .. . ..• . ....• •. 27
Promovidos a 2. os ••••••••••••• '. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 2
25
3. o, offidaes do nov(J quadro.............................. 70
45
Directores e todos os empregados das alfandegas dos grupos 3. 0
e 4.° que teem ordenados de 3006000 réis. . • . • . . . • . . • • • 23
Reslam ..................•. ~ • . . • . • . . . . . . . . . . . • . . . • . . • • • 22
para os quaes teem de ser promovidos 22 aspirantes dos quadros
acluaes das alfandegas de Lisboa, Porto e Consumo:
Aspirantes actuaes....................................... t 22
Promovidos a 3. os officiaes... . . . • . . . . . . . . . . • . . • . • • . . . . • . • • 22
tOO
Novo quadro, t. a classe •.....•..••.••....•.••.•••.••••••• 136
Restam . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . • • . . . . . . . . . • . . • . • . . • • • . . • • 36
para os quaes entrarão os empregados das alfandegas dos grup(:s
3.° e 4.° que teem ordenados inferiores a 300~000 réis, com
excepção dosaspirantes, e que são tambem exactamente 36.
Os logares de aspirantes de 2. a classe do novo quadro são 70, e
de 70 é o numero dos aspirantes das alfandegas dos grupos 3. 0 e 4. 0
que para elles teem de entrar J e assim tudo aqui se completa.
6i

Os reverificadores, como os chefes de serviço, preenchem até on ..


de chegar o seu oumero, logares de t. os verificadores e continuarão no
serviç,o de reverificações; e os 1. os verifiCéldores que em consequencia da
entrauiI dos reverificadores na sua classe não couberem n'esta, preen-
cherão logares da que se lhe segue, tudo, já se vê, sem prejuiso de ven-
cimentos nem de gratificações. sendo obvio que o preenchimento (na
transição) das classes que ficam subsistindo com empregados das clas-
ses extinctas, sem quebra de interesses nem de dignidade. é incompa-
ravelmente mais barato que o expediente dos addidos geralmente se-
guido na execução de reformas, porque os ordenados e os emolumen-
tos dos addidos ficam pesando por inteiro sobre os respectivos cofres,
a par dos dos OO\"OS logares creados, e não simplesmente as pequenas
differenças dos ordenados de umas classes para as outras. como acon·
tece no systema que adopto.
Vê-se, portanto, que a formação de um só quadro com os empre-
gados de todas as alfandegas do continente, não prejudica, do modo co-
mo o organiso, a promoção dos actuaes empregados das alfandegas
de Lisboa, Porto e Consumo, e antes dá occasião á promoção de 2 ter·
ceiros officiaes e de 22 aspirantes, promoção que em taes proporções
tarde viria sem a reforma de que se trata. Se entram 23 empregados
das alfandegas dos grupos 3.° e 4.° para 3. os oillciaes do novo quadro,
e flue ficarão á esquerda dos seus collegas, sóbem ao mesmo tempo 2~
aspirantes do antigo quadro para 3. os otliciaes, como deixo dito, e a
classe dos aspirantes não só não fica sobrecarregada de pessoal que es-
torve mais que até agora a promoção, mas tambem, compondo-se de
i36 individuos, te em diante de si 70 logares de 3. os ofliciaes a que as-
pirar. além de 36 de 3. oS verificadores, emquanto que com o quadro
actual (o de 1885) compondo-se de 122 empre~ados, só teem promoção
nas vagas que deixarem '1.7 terceiros officiaes e i8 terceiros verificado-
res, o que em resumo quer dizer-nos quadros da reforma de t885-
~5 promoções para 122 aspirantes, e no quadro que organisei {06
para 136.
Oe futuro, quando vagarem os logares que ficam occupando os cbe-
fes de serviço, póde ser reduzida a classe dos 1.OS otliciaes se as cir-
cumstancias então assim aconselharem.
Resta a questão dos emolumentos. Esta questão é menos impor-
tante do que á primeira vista parece, não só por que tendendo a subir
as receitas crescem de anno para aono os emolumentos. fazendo em pou_ .
co tempo desapparecer quaesquer difIerenças nos vencimentos, resultan-
tes da entrada dos empregados dos grupos 3.° e 4.° no quadro geral,
68

mas tambem porque se não poderia esperar que o governo, tocado um


certo limite, conservasse inalteravel a percentagem que hoje tem es-
tabelecida para os emolumentos; sobre tudo porque os empregados dos
grupos 3.° e 4..0 trazem para o novo quadro os seus emolumentos, que,
segundo vejo de uma Dota que me foi dada, assignada pelo chefe de
serviço Lencastre. os emolumentos das alfandegas do 3. 0 grupo já ti·
nham aUingido a 97 0/0, e porque o governo, que n'esta reforma eco·
nomisa 2:8.\OhOOO réis de ordenados, e conhece perfeitamente a coo-
veniencia de bem remunerar os empregados fiscaes, providenciará de
modo que a reforma que tiver por necessaria não prejudique por tem·
po algum os interesses dos funccionarios que teem de executai-a.

ALFANDEGAS DAS ILHAS DOS AÇORES E MADEIRA

Pelo que respeita ás alfandegas das ilhas, uma pequena alteração


proponho. porque a minha opinião é que sejam extinctas, por me pa·
recer que a prosperidade d'aquellas ilhas virá principalmente de ampla
liberdade commercial. A sua juncção ás alfandegas de Lisboa e Porto,
pelo mesmo melhodo que adopto para as do 3.° e ~.o grupo não seria
similbantemente justitlcada.
Parece-me terem sido excessivamente reduzidos os quadros de al-
gumas d'aquellas alfandegas, mas sem que a experiencia mostre se póde
ou não ser feito o serviço com tão pouco pessoal, não me pdrece acer..
tado restabelecer os quadros anteriores.
A disposição. porém, que carece alterada é a que manda formar
um cofre commum dos emolumentos de todas as alfandegas da8 ilhas.
No relatorio que precede os decretos da reforma de {88ã diz-se que
a razão de estabelecer esta igualdade de vencimentos é que empregados
que prestam o mesmo serviço, a quem se exige as mesmas habilitações,
a quem se dá uma identica competencia, não devem ser diversamente
remunerados. Mas o reformador não viu que o meio de tornar diversa
a remuneração é exactamente o que adoptou para a igualdade que ima-
ginou. Na difTerença de vencimentos é que estava a igualdade da retri-
buição do trabalho, porque a vida na ilha de S. Miguel, por exemplo,
é mais cara que em qualquer das outras dos Açores, e na ilha da Ma-
deira mais cara de 30 a 40 por cento que na de S. Miguel, e foi alten ..
dendo a essas circtlmstancias que a reforma de 23 de dezembro de
{SGO, feita pelo sr. Braamcamp, estabelecendo ordenados iguaes a to-
dos os directores das alfandegas das ilhas e a outros empregados, não
69

só deixou subsistir independente o cofre dos emolumentos da alfandega


do Funchal, mas lambem estabeleceu gratificações de residencia, com-
putadas na divisão dos emolumentos, para que ficasse sendo sempre
relativamente igualo vencimento dos referidos empregados, e estes in-
demnisados da ditTerença dos ordenados então fixados como deixo dito.

A reforma de t885 desorganisou tudo isto. Gratificações de resi-


dencia do Funcbal e Ponta Delgada, e emolumentos da alfandega do
Funchal, tudo foi sacrificado a uma falsa idéa de igualdade, que toda-
via foi incoherentemenle desprezada com relação ao ordenado do rlire-
Clor da alfandega de Ponta Delgada fixado em 500~000 réis, e ao do dire-
ctor da alfandega do Funchal em 7006000 réis, em quanto que os dos ou-
tros directores foram fixados em 4006000 réis, de maneira que aquella
regra de não remunerar de modo diverso quem presta o mesmo serviço
só teve applicação á divisão dos emolumentos, ficando altamente preju-
dicados os outros empregados, com muita particularidade os da alfan-
dega do Funchal.

Repor as cousas no estado anterior á reforma de 1885 é, na mi-


nha opinião, o mais simples e o mais justo, até resolução definitiva so-
bre o grau de liberdade commercial a estabelecer para as ilhas.

VENCIMENTOS

Ordenados e emolumentos

Sem alterar os vencimentos, julgo todavia da maior conveniencia


adoptar outra fórma de os pagar pelo que respeita a ordenados e
emolumentos geraes.

As disposições do titulo 2.°, capitulo ~.o


do decreto D. O 3 de 1885
sobre emolumentos, isto é, metade dos emolumentos de 9 %, uma se-
ptima parte dos emolumentos do tabaco, tres quintas partes dos direi-
tos dos cereaes, Ires quintas partes dos emolumentos de 9 % que se
cobram na alfandega de consumo, tres quartas partes dos emolumen-
tos das tabelios 4 e 5, com excepção das dos artigos 9.° e 10. 0 da
tabella n. o 4, para os empregados, e as outras partes correspondentes
para o tbesouro, razem lembrar a di visão de um barco de peixe-
um tanto para o barco, um tanto para o santo, um tanto para a cal-
deira, um tanto para o imposto, um tanto para o arraes, um tanto
para cada um dos companheiros, etc., etc.
70

Parece-me assás ridículo, todo este processo, que sobre ser ridi-
culo, demora o expediente para fazer-se em cada bilhete de despacho
a contagem dos tantos por cento que sobre os direitos paga cada
mercadoria, e depois, fóra do bilbete, a do que pertence ao estado e
aos empregados.
E porque não !la razões perfeitas que determinem a retribui-
ção. parcial apenas, do empregado, por meio de emolumentos;
por que. quanto mais depender· a boa retribuição do empregado
da melhor cobrança da receita publica, maior vigilancía será exer-
cida sobre esta, e mais zeloso será o serviço. proponbo que, in·
cluidos todos os addicionaes para emolumentos nos direitos geraes,
sejam os empregados retribuídos com uns tantos por milbar sobre a
receita geral, correspondentes á media dos vencimentos 3ctuaes, po-
dendo o governo reduzil·os, esses tantos por milbar, sempre que as-
sim o indique um augmento desproporcional de receitas. Ficará assim
tudo simplifieadíssimo.
A quota para o monte-pio das alfandegas na importancia de réis
2:7006000, e as despezas do expediente. passarão a ser pagas pela
verba de despezas eventuaes, o que n'este caso não augmenta nem di·
minue a despeza para o estado, por que os tantos por milbar para os
empregados são calculados segundo a importancia que elles recebiam,
liquida d'aquelles encargos.
Quando porém possa haver duvidas, que não tenho, sobre a con·
veniencia de incluir nos direitos geraes os addicionaes para emolumen-
tos, e sobre o pagamento dos actuaes ordenados e emolumentos, por
meio de uns tantos por milbar sobre a receita das alfandegas, poderá
ser adoptado o mesmo systema com relação sómenle aI) prodl1cto de
todos os emolumentos de 3 %. .

Ficarão, em qualquer dos casos, subsistindo sómenfe os emolu-


mentos pessoaes e de processo, de que tratam as tabellas n. OI 4., 5 e
6 do decreto n.O 3 de -1885, os quaes não poderiam ser abolidos sem
graves inconvenientes.
A distribuição, porém, que faz o referido decreto n.O 3, no seu
titulo 2.°, cap. 4..0, artigo 52 n.O 5, e ~ 2.°, é inconveniente e in-
justa.
Os emolumentos dos artigos 2.°, 3.°, 4..0, 5.°, 6.° e 7.° devem
pertencer integralmente ao tbesouro segl1ndo o systema que proponho
de retribuição dos empregados, porque n'este systema os empregados
não leem que ver com taes emolumentos; mas no systema de reforma
7.
que tratamos de reformar, deduzia-se, e era injusto e mesquinho deduzir
d'elles llma quarta parte para o estado, assim como é injusto e inconve-
nientissimo que dos emolumentos dos processos, como dispõe o artigo
5~.O § 't. o , só uma quarta parte constitue remuneração dos empregados
que prestam os serviços respectivos.
A reforma de t 885 quer, e quer muito bem, a celeridade dos pro-
cessos, mas lira logo, reduz á !... a parle, o incentivo unico que havia
para a celeridade. Monte-se o serviço do contencioso fiscal convenien-
temente; se os empregados para ess-:} serviço designados são poucos,
se os emolumentos para tão poncos são excessivos, estabelet;a·se uma
classe especial com pessoal slltliciente. mas não se reduzam ao extre-
mo da quarta parte os emolumentos, que são a melhor garantia do an-
damento rapido dos processos, por que não basta fixar prasos, que
podem não ser bastantes, nem impor penas que podem ser injuslissi-
mas, e por isso dentro em pouco deixem de ter applicação. O escrivão
do contencioso respoderá todas as vezes que poder,-e são muitas as
em que elle póde-com o non possumus, e se fôr substituido, o substi-
tuto não será mais virtuoso, e os processos param ou andam vagarosa-
mente.
E' preciso, porque são muitos os processos, que o escrivão e to-
dos os empregados do contencioso fiscal trabalhem na repartição e fóra
da repartição, de dia e de noite, nos dias de trabalho e nos santifica-
dos ou feriados, para poderem dar eonta rasoavel do serviço do con-
tencioso fiscal. Ora este trabalho, que eu conheço de perto. não se
obtem nem se remunera com a quarta parte dos emolumentos dos pro-
cessos. Já houve tempo em que os empregados do contencioso fiscal
não recebiam emolumentos pessoaes; o resultado foi um atrazo dos pro-
cessos, que por muitos annos intorpeceu todo o expediente n'este ramo
do serviço.

'* '*
Tratando de vencimentos, não posso deixar de referir-me ás dis-
posições do titulo 2.°, cap. ~.o, art. 52, ~ 4..0 do decreto n.O 3 de 1885,
que privam de metade dos emolumentos os empregados que por mo-
lestia grave se achem impossibilitados de prestar serviço! Afiguram-se-
me estas disposições tão brutaes. tão inspiradoras de odio ao serviço
publico, tão similhantes ao effeito de um accesso de raiva, que não
julgo necessario demorar-me em demonstrar a conveniencia de as tirar
sem demora da legislação aduaneira que conspurcam; e tanto mais
sem demora quanto é certo que já os empregados as corrigiram. deli-
72

berando entregar aos collegas n'aquellas circumstancias o que lhes de ..


veria pertencer, ficando assim na lei apenas a nodoa da ferocidade sem
etreito algum.

Acho justo que o empregado perca emolumentos, que se repar-


tam pelos que fazem o seu trabalbo, quando elle está DO goso de li·
cença com saudei de nenhum modo impossibilitado de trabalhar. e
isto só com o fim de evitar abusos. por que de resto os emolumentos
fazem parte dos ordenados, que são pequenos por que ha emolumentos,
e creio que ainda ninguem se lembrou de tirar uma parte dos ordenados
aos empregados de outras repartições que adoeçam,

Aposentações

As disposições, antigas e modernas, sobre a aposent:lção dos em~


pregados aduaneiros, não teem atlendido nunca aos principios de jus-
tíça. estabelecendo-se n'ellas desigualdade absoluta e relativa repugnaD~
tissima. Assim. por exemplo, na tabella n.O 9 do decreto n.O 3 de t88ã
são attendidos, posto que irregularmente, os iO annos de serviço que
vão dos 20 aos 30, e os 5 que vão dos i5 aos 20, mas não só ficam
com remuneração igual todos os annos que vão dos t5 aos 20, e dos
25 aos 30, e tanto faz ter t5 annos de serviço como 20 para ter 25 %
do ordenado e t5 % dos emolumentos. 20 ou 29 annos e 364 dias
para ter 50 % do ordenado e 30 % dos emolumentos, mas tambem
se despreza todo o tempo de serviço até ~os t4 anDOS e 364 dias, de
maneira que o empregado que, tendo bem servido este longo espaço
de tempo. tem a desgraça de se inulilisar pbisicamente DO fim d'elle,
vae pedir esmola ou morrer de fome. É demasiadamecte longo o pri-
meiro periodo para a aposentação, desigualissimos e injustissimos to-
dos os outros,

Se pois subsistisse o actual systema de pagar aos empregados em


atrectivo' serviço, eu proporia que se regulassem as aposentações do
seguinte modo:

Aos tO annos de serviço 20 % do ordenado e jO % dos emolu-


'mentos; por cada anno mais de serviço 4 % sobre o ordenado e 20/0
sobre os emolumentos, o que dá em resultado, aos 30 annos de ser-
viço, tOO % do ordenado e 50 % de emolemenlos, tendo bavido du-
rante todo esse periodo, um augmento gradual de vencimento corres-
pondente a cada anno de serviço prestado, para a bypotbese da apo-
sentação em qualquer anno,
73

o mal para o estado não está em ser mais ou menos longo o pri-
meiro periodo de aposentação; estã em aposentar quem não deve ser
aposentado; o remedio não consiste na injustiça que encerra o despreso
de t 4. annos de bom serviço, mas sim na moraadade dos actos do go-
verno.
Adoptado porém que seja o systema que proponho para a retri·
buição dos empregados em etIectivo serviço, o vencimento dos aposen-
tados tem de ser pago pela mesma fórma, mas em todo o caso sempre
proporcional ao tempo de serviço.

CONCURSOS E EXAMES

Não sei d'onde veio a idéa de se fazerem todos os exames perante


o conselho superior das lllfandegas, que não tem nem pode ter compe-
teneia nenbuma para exames relativos ao serviço de administração.
Mesmo para o exame de verificadores na parte pratica, quem ha
no conselho com a indispensavel competencia? -Um ou dois verifica-
dores que façam parte do conselho, e mais ninguem, se exceptuarmos
os casos em que toda a gente conbece a natureza das mercadorias, que
são muitos, mas não aquelles em que é mais precisa a competencia do
examinador.
E será justo que a sorte dos concorrentes, nos pontos mais diOi-
ceis e mais importantes do exame, esteja invariavelmente nas mãos de
dois verificadores ou reverificadores que fazem parte do conselbo~­
Eu assisti e prezidi aos exames de muitos concorrentes aos logares de
verificadores; vi que na parte tbeorica eram interrogados sobre assume
ptos que nunca baveriam mister' conhecer para serem bons verificado-
res, e que na parte pratica, o voto de um ou dois verificadores do con·
selho, é que decidiam da sorte d'eUes, volando os outros vogaes do
conselbo segundo o que decidiam os dois mestres.
Peior porém do que isso é o conselho a organisar pontos sobre
assumptos de administração, de que não entendem nem mesmo os ve-
rificadores que d'elle fazem parte, e a interrogar os concorrentes sobre
esses assumptos.
É horroroso tudo isto; e em barmonia com este borror, e como
consequencia das praticas até aqui seguidas, está o programma para con-
cursos a que se refere o decreto n. o 3 da reforma, programma que não
Seria muito mais desen voi vido se houvesse de servir par a um concor-
74

rente ás pastas de ministro da fazenda e do commercio e industria reu-


nidas.
Eu diria, sr. ministro da Fazenda, que~ a começar por mim, ainda
não houve um director geral das alfandegas que, submetLido a exames
sugeitos a um tal programma, e interrogado por vogaes do conselho
estranhos ao que é essencial saber para o desempenho do serviço das
alfandegas, não obtivesse todos os R R de todos os abecedarios das
linguas conhecidas no mundo. Seria perguntado por tudo. menos pelo
que é preciso saber, do mesmo modo que tenho visto aspirantes, nas
mãos do mell amigo sr. Luiz d'Almeida e ALbuquerque, a fazerem quasi
que exame vago de economia politica, por que elle, o talentoso e eru-
dito professor, que tanto honra o seu paiz pelo seu talento e saber,
pouco ou nada sabe do serviço de administração das alfandegas, que
chega a ser incompativel com as grandes capacidades, que como elle
se enjoam, e o repellem e não podem por isso conhecer.
E não é preciso ser nem mesmo approximar-se o empregado de
uma grande capacidade para detestar o serviço das alfandegas, não
querer e não poder mesmo entrar no conhecimento d'elle.
Aqui estou eu que sinto a respeito d'esse serviço uma repugnancia
real. e o pouco que sei d'elle, sei porque não tinha remedio senão sa-
bei-o. e estou agora mesmo, n'este pequeno trabalho, violentando-me,
luctando ainda contra a minha antipathia, quando só convinha ao meu
espirito cançado estar onde nem se faltasse de alfandegas.
Seja porém como rôr, examinadores que não teem pratica do ser-
viço sobre o qual versa o exame, não são examinadores, e o exame não
é exame, e o examinando, com raras excepções, ou não é approvado
porque mostra não saber o que não precisa saber, ou é approvado não
tendo dado provas do que era chamado aprovar, porque 3 consciencia
dos que lhe perguntaram outra cousa só acha na benevolencia tangente
para escapar ao remorso.
Como já n'outra parte notei, todos os empregados de todas as aI·
fandegas, pódem vir parar ás alfandegas de Lisboa e Porto, mas as con-
dições de admissão aos concursos são diversas para os empregados dos
differentes grupos de alfandegas, de maneira que, no fim de alguns annos,
encontram-se reunidos n'estas alfandegas sabios e ignorantes de todas as
especies. fazendo o mesmo serviço com as mesmas vantagens e posições.
Vem o da raia com instrucção primaria, do mesmo modo e para o mes-
mo fim que o das ilhas com portuguez, francez e inglez, e do mesmo
modo que todos os outros com t 5 cadeiras do Iyceu ás costas, para ser
cada um a 92. a antiguidade curiosa do museu aduaneiro.
75

Isto não póde ser; é incôngruente, injusto, sem utilidade real nem
apparente, e por fim irrisorio.
HabilItações para admissão aos concursos, iguaes para todos; pro-
grammas para os concursos, racionaes, modestos, muito praticos, de
possivel desempenho, e especiaes para as ditTerentes classes; pontos fei-
tos pelos examinadores; exames perante empregados competentes; e,
embora os exames de verificadores sejam feitos perante o conselbo su-
perior das alfandegas~ façam parte do jury tres ou quatro verificadores
de La ordem além dos que são do conselho. Classificações só dllas-
«bom ou inslI/fidente.;-mais do que isto é pôr a nomeação nas mãos
do examinador. E' preciso, corno jã n'outra occasiãn escrevi. que a con-
sciencia do examinador não tenha onde refugiar-se. que não possa fazer
meia justiça a uns para proteger outros com a conhecida contradança
de B. B. e JJ. AJ. B. B.
Assim, e não bastando para a lIomeação ou promoção do emprega-
do a approvação no exame sem informação explicita do conselho de di-
recção sobre o merecimento real do concorrente, voto pelus concursos,
que obrig!lm a estudar, e ficam equilibrados pelo parecer do conselho
de direcção, que hade ser sempre competentissimo e insuspeílo, res,
peitador da justiça que deve aos interessados, que teem de o apreciar
de perto, e fundado no conhecimento do serviço e do trato de todos os
dias, que é o mais importante.
Na promoção respeitada a antiguidade sómente em igualdade de
circumstancias, entendendo-se por igualdade de circumstancias compe-
teneia igual no desempenbo pratico do serviço. De outra sorle eterni-
zar-se-bia a incompetencia ou ignorancia nos logares superiores das al-
fandegas. Como já tive oecasião de dizer em outros documentos offi-
ciaes, sem tirar a promoção á incapacidade. sem dar á inditIerénça, á
indo!encia e á má vontade, que manteem a ignorancia, o castigo do es-
tacionamento. nenhuma reforma de seniço póde n'esta parte dar resul-
tados promptos e satisfatorios.

Despachantes

o nosso commercio é em geral pouco conhecedor das cousas das


alfandegas, e os seus caixeiros, pela maior parte, ignorantissimos; a sua
ingerencia nos actos do despacho não é senão uma causa de demora,
um elemento de confusão e de desordem; não entendem nada, trocam
tudo o que se diz, queixam-se do que não devem queixar-se, e sujei-
tam-se ao que não devem sujeitar-se, e veem cá para fóra dar uma idéa
76

quasi sempre errada do que é a alfandega, e do que n'esta se passa,


levando muitos caixeiros, e não poucos despachantes dos que não te em
competencia, os seus patrões e constituintes a pugnarem pelos interes-
ses d'elles, pensando que estão defendendo os seus proprios.

Diz·me a experiencia que todo o serviço se Caria placidamente.


com muito mais celeridade, acerto e segurança, se, além dos donos de
bagagens, só despachantes habilitados, previamente submettidos a pro-
vas de competencia, podessem correr despachos nas alfandegas, e que
as suas fianças respondessem pelos actos d'elles, não só para com o
commercio, mas lambem para com a fazenda publica. Nos tribunaes ju-
diciaes só os ad vogados e os solicitadores devidamente habilitados, tra-
tam dos negocios das partes.

Antigamente os fiadores dos despachantes respondiam para com a


fazenda; na commissão de melhoramentos da alfandega de Lisboa op-
puz-me tenazmente a que isto deixasse de ser assim, - para que a Ca-
zenda não perdesse esta garantia; mas só votou comigo um dos vogaes
da commissão. e as fianças dos despachantes respondem hoje sómente
pelos prejuízos que estes possam causar ao commercio, e isto com o
fundamento de que o negociante responde para com a fazenda pelos
actos dos seus agentes!

Mas onde irá a fazenda indemnizar-se quando o despachante des-


pacha e prevarica em nome de desconhecidos, ou de conhecidos que
não lêem em que se lhes pegue? Mas por onde e como responderá o
negociante, reo por actos seus ou pelos do seu despachante, quando
em seguida, por exemplo, a um descaminho de direitos, fôr encontrado
fallido de boa ou má fé, reduzido á mizeria ou fugido, como não raras
vezes tem acontecido?

A solidariedade estabelecida no artigo 14.9.° do decreto n.- 3 de


1885 não abrange o fiador, e o despachante póde ler por unica pro-
priedade o alvará de nomeação, e por unica pena a fuga, que nem sem-
pre será para elle verdadeira pena.

Divisão de serviQos nas alfandegas de Lisboa e Porto

Apresentarei aqui tão resumidamente quanto possivel as indica-


ções que n'este particular dei ao sr. Marianno de Carvalho, principal-
mente porque de algumas d'ellas apenas me ficaram apontamentos, e
por que não trato agora de fazer uma reforma de serviços.
i7

A accumulação de muitos serviços, disse eu a S. Ex. a, e de ser-


viços dh'ersos, em uma só reparlíção, é a causa principal da morosi-
dade do expediente, da confusão em que por fim se encontram muitas
vezes os documentos d'esle, da quantidade enorme d'esses documentos
amontoados, dificultando a sua busca e exame, facilitandJ o seu extra-
vio, e, finalmente da impossibilidade. que não raras vezes se dá, de
apurar responsabilidades.
Digne-se S. Ex. a ver as obrigações que, por exemplo, são impos-
tas ao chefe da La Hepartição, pelos difIerentes artigos do decreto n.o
6 da refurma. e facil se convencerá da impossibilidade do cumprimento
de taes deveres, e da facilidade com que umas d'essas prescripções cedo
cairão em desuso. e outras mal observadas darão a desordem e oca-
hos ao serviço. Semelhantemente verá a impossibilidade de altender o
chefe da 2. a Hepartição aos serviços de despacho de importação, que
se subdivide em despachos de bagagens, de estiva, em acto successivo
e de arrnazem. aos de exportação, reexportação, transito, transferencia
e baldeação. com as respeelivas verificações. aos de contagem e confe-
rencia de bilhetes. e eonferencia por saída, e aos qoe mais são expres-
sos ou se derivam das variadissimas disposições do titulo 3.° capitulos
t.o, 2.° e 3.° do decreto n.O 6.
Subdividir pois a direcção geral da alfandega em direcções par-
ciaes, em que as responsabilidades se não possam declinar nem illu-
dir, occopando-se cada urna de serviços distinclos. embora relaciona-
dos estes com outros, resumidos, de facil inspecção superior, e facili-
tando aos importadores ou despachantes todos os actos que teem de
praticar para o despacho. sem sahirem do recinto em que o serviço tem
de ser começado e conel uido; parece-me ser a fórma unica de dar or-
dem e garantias sérias de procedimento regular no despacho dos nego-
cios das alfandegas de grande movimento. Desdobrar a alfandega grande
em alfandegas pequenas, cada alfandega pequena com um ramo de ser-
viço completo, cada ramo de serviço commettido á responsabilidade de
um empregado qoe tenha possibilidade de o desempenhar, e fazer des-
empenhar, de conhecer a tempo de tudo o que n'elle se faz ou se passa,
e portanto obrigação de dar sempre de tudo contas regulares e claris-
simas.
Assim, e estabelecido o juizo do contencioso fiscal. eu subdiviria
a administração ou direcção geral da alfandega nas seguintes direcções
ou repartições; e digo direcções ou repartições porque o nome é in-
differente uma vez que elle designe divisão bem entendida de ser-
viços:
78

t.' Direcção do serviço do porto e policia externa.


2. a Direcção do serviço de descarga;
3. a Direcção do serviço de armazens;
4. a Direcção de despacho externo, comprebendendo o de propor-
ções de peso (Esth'a) e o de mercadorias de armazens alfandegados
ou affiançados;
5. a Direcção do serviço de despacho interno mas em acto succes-
sivo comprehendendo o de bagagens;
6.- Direcção do serviço de des,pacho geral comprehendendo todo
o de mercadorias depositadas nos armazens da alfandega;
7. a Direcção do seniço de despacho de saída, comprehendendo
os de exportação, baldeação, transito e transferencia;
s.a Direcção do serviço de despacho sobre impostos de consumo.
9. a Direcção do serviço de contabilidade;
40. a Direcção do serviço de secretaria, comprehendendo o serviço
do archivo geral.
A celeridade do serviç,o de descarga e da remessa de volumes para
os armazens, ou para as casas de despacho, depende essencialmente,
como a de outros serviços, da simplicidade dos documentos e metho-
dos do expediente, e da divisão do trabalho, resumindo e extremando
sempre serviços e responsabilidades.
Tem sido sempre causa de falta de regularidade e de pre~leza na
remessa de volumes para os armazens, a exigencia de particularidades
desnecessarias nas folhas de remessa, quanlo á designação dos volumes,
como as de marcas, divisas e numeros, etc. Estas minuciosidades,já depois
da conferencia dos vólumes com as folhas de descarga, ou levam, para
serem satisfeitas, um tempo immenso, entorpecendo o movimedto, de-
morando e complicando todos os actos que no local da conferencia e no
armazem se seguem para nova conferencia de marcas, divisas, nume-
ros, ele., ou não são preenchidas regularmente, que é o que com fre-
quencia acontece, e a confusão que d'essai rregularidade resulta, muitas
vezes não se remedeia senão com buscas e trabalbos de dias, deixando
a escriptoração cheia de erros, e depois, de emendas, que nem sem-
pre põem as cousas claras para serem entendidas fóra da occasião em
que s~ passaram.
79

Uma vez feita a conferencia das folhas de descarga com os volu-


mes e com o manifesto, por marcas, numeros, divisas, ele., não ha
necessidade de tornar a fallar em marcas, divisas e numeros, nem nas
folhas com que os conferentes de descarga remettem os volumes para
os armazens, nem na escripturação d'estes. A designação da contra-
marca. do numero de volumes e da sua qualidade satisfaz a todas as
necessidades do serviço. O encarregado do armazem responde por
aquelle numero de volumes e pela sua qualidade, e aquelles volumes
são os que constam do manifesto. Se os volumes não estiverem no ar-
mazem, não serve de nada estarem na escripturação com marcas e nu-
merús; se esth'erem no armazem é escusado perder tempo em procu-
rai-os no li v1'0 ; o bilhete de despacho que está conferido com o conhe-
cimento da parte, e este com o que vem junto ao manifesto, designam-
lhe as marcas, numeros, divisas, elc. ; são encontrados do mesmo modo
que se tivessem estas designações no lhro ; sabem como é officialmente
pedido, e descarregando-se simplesmente pela quantidade e qualidade,
primeiro com a designação do numero de ordem do bilbete de despa-
cbo, e depois pelo numero de receita como adiante mostrarei, fica o ser-
viço feito com segurança e presteza. Os manifestos e os conbecimentos
esclarecem todas as duvidas.
A alfandega não satisfaz o importador entregando.lhe o que tem
escripturado, é obrigada a entregar-lhe o que consta do conhecimento.
Mas póde-se assim trocar os volumes nos armazens e roubar' o con-
tbeudo. porque o encarregado ti~a obrigado a dar conta sómente do
numero e qualidade dos volumes? E como é que as marcas escriptu-
radas no li vro evitam a troca e o roubo? O volume que substitue não
póde ter as mesmas marcas? Se a troca foi innocente, se se entregou
um por outro dos volumes depositados, a escripturação de marcas nada
remedeiou, se não bastou a conferencia das marcas do bilhete de despa-
cho e do conbecimento com as do volume.
Que a descarga dos generos de Estiva se faça separadamente, em
caes differentes dos de descarga para deposito, e dos de carga para
reexportação, não se transigindo com a supposta difficuldade, que nfio
é senão pretexto, de separação a bordo dos volumes de despacho de
Estiva, e acabando por tanto com a confusão, morosidade e perigos, resul-
tantes de fazer-se no mesmo local o serviço de carga e descarga de
generos que teem destinos e importancia fiscal dHlerenles. Que ne-
nbum trabalbador ponba contra-marcas em volumes de mais de um
navio ao mesmo tempo; que nenhum conferente de descarga se occupe
ao mesmo tempo da conferencia de mais de uma contra-marca; que,
bem feita a conferencia de descarga, em casa para isso apropriada, por
hO

marcas, numeros e divisas, etc., sejam os volumes remettidos para


os arm3zens ~implesmente designados nas respectivas folhas por con-
tra-marcas. quantidades e qualidades; que pelo mesmo systema, e até
com os duplicados d'essas folbas, como antigamente estabeleci, se faça
a escripluração dos armazens por entrada; que um dos duplicados des-
sas folhas e os dos volumes que forem em acto successivo remetlidos
par(j as casas de despacho, documentem a escripluração da descarga;
qu~ hap tanto!\ li\TOS de escripturação de descarga quantos forem os
conft'rente" (resta, e cada conferente escripture exclusivamente o seu
IiHO. por contra-marcas; que haja um livro especial de descarga e veri-
fic31:j(l dt~ generos para armazens alfandegados ou affiançados, na fórma
do mOIJelo (1,°1 aqui junto; que o commercio adopte o systema racU
de m:H1dar pôr nos volumes, nas localidades da procedencia, ao lado
da sua marca. designações genericas e mui simples. taes como decidos',
• bebidas ... Il alil1lt)llI icios • etc., ajudando assim a celeridade de que tanto
cart:'ce l' tanto reclama, e o serviço de descarga e remessa para os
armazens far·~e-ha com a maior facilidade, presteza e segurança.

Em cada armazem dois empregados; um que recebe a escripluracão


por entrada. outro que entrega e escriptura por saída. A escripturação
da t'ntrada documentada pelos duplicados das folhas de remessa, a da
saída dn('umentada, pro\'isoriamente pelas ordens da casa de despacbo,
e depois pelos duplicados dos bilhetes de despacbo abi archivados, e
jogando l'om a escr1pturação de receita, como adiante indicarei. A ar-
rumação nos armazens por contra-marcas, em cada arrumação a, desi-
gnat;ão da contra-marca em leUras e de modo que de longe se distinga
bem, Despejados os Jogares de uma contra-marca, nos diversos arma-
zens em que os volumes d'ella estiverem distribuidos, os directores
dos seniços de armazens e de descarga procedem immediatamente á
liquidal;ão da mesma contra-marca pelos bilhetes de despacho existen-
tes nos mesmos armazens e nas direcções de despacbo, abi arcbiva-
dos tambt'm por eontra-marcas, como fica dito, confrontados com a
escriptura('ão de descarga; conferindo os bilhetes de despacho com a
descarga. será lançada na escripturação d'esta, e na dos armazens, a
nota de .liquidada» rubricada por ambos os directores dos serviços
de descarga e de armazens, os quaes ficam responsaveis pela exactidão
d' este seniço.

Liquidada a contra·marca, os bilhetes de despacho respectivos pas-


sam ao arehivo geral, em troca de recibo do archivista, e este recibo
continuará documentando em globo a saida do armazem dos volumes
da contra-marca liquidada.
Bt

Assim. com o livro, modelo n.O t, para a organisaçio do qual cha-


mo a attenção do leitor, e com os de receita de que em seguida trata-
rei, creio que o serviço fica de tal modo claro e seguro, tão prompto
e facilmente conhecido o que se tem passado a respeito do carregamen-
to de cada navio, que se não praticará abuso que não seja logo desco-
berlo. Nunca mais desapparecerão bilbetes de despacbo, que ficam sen-
do a resalva dos encarregados dos armazens, e da escripturação das di-
recções de despacho como adiante veremos.
Por mais que queira resumir aqui tudo o que tive a honra de in-
dicar ao sr. Marianno de Carvalho, não posso deixar de referir por ar-
tigos o que indiquei a respeito d'uma das direcções de despacho, para
que possa ser bem comprebendido o meu pensamento. Referir-me-bei,
pois, mais minuciosamente ao seguinte:

Despacho em aclo successho interno


ARTIGO 1.0

o despacbante ou importador que pretender despachar quaesquer


mercadorias em acto successivo, apresentará ao encarregado da confe-
rencia da descarga uma folba, em duplicado, segundo o modelo n.O 2,
e por elle assignada. na qual terá preenchido os dizeres relativos á da-
ta. contra-marca, volumes, etc.
ARTIGO 2.°
o encarregado da descarga remeUerá os volumes designados na
fórma do artigo 1.° á casa de despacbo em acto successivo. acompa-
nhados das folbas no mesmo artigo referidas, e rubricadas por elte en-
earregado da descarga.
ARTIGO 3.°
O encarregado da recepção de volumes na casa de despacho im-
mediato •• conferindo com as folhas de remessa os volumes que recebe,
rubrica uma das mesmas folbas e devol ve-a aQ encarregado da confe-
rencia de descarga, o qual com ella documentará a sua escripturação de
descarga; e com o duplicado fórma a escripturação por entrada da ca-
sa de despacho immediato, dando baixa aos volumes cujo despacbo se
tenha concluído, por meio dos numeros de ordem e de receita dos bí~
lhetes de despacbo, lançados nas columnas respectivas do duplicado re-
ferido, sendo com um dos duplicados dos mesmos bilhetes, archivados
por contramarcas, docu~enlada a sua escripturação por saida.
6
ARTIGO 4..0
Quando, por qualquer circumstancia, não tenham descarregado todos
os volumes constantes da folha apresentada pelo despachante ou impor-
tador, e este pretenda despachar sem demora os volumes já descarre-
gados, substituirá a primeira folha feita por uma que contenha sómen-
te estes volumes, a qual terá logo seguimento,' e outra pelos restantes.
ARTIGO 5.°
Satisfeitas as prescripções dos artigos LO, 2.°,3.° e 4..0, o despa-
cho em acto suecessivo corre os mesmos tramites que outro qualquer
despacho.
ARTIGO 6.°

Haverá na casa de despacho em acto successivo, como em todas


as casas de despacho, serviço d'ella privativo de contagem, conferen-
cia, cobrança e escriptoração de receita, e archivo, devendo a receita
ser escripturada na fórma do modelo n. ° 3.
~ t. o A importancia de direitos cobrada, é remettida no fim do
dia ao thesoureiro geral da alfandega com uma guia, que designe a sua
procedencia, segundo a qual será escripturada no livro da receita ge..
ral. N'um dos duplicados o thesoureiro passa recibo.
~ 2.° O ltrchivo, que constará dos livros de entrada e saída de
mercadorias e de receita, dos bilhetes de despacho que as documentam,
e dos recibos do tbesoureiro geral, ficará a cargo do encarregado do
livro de entrada e saida de volumes e mercadorias.
§ 3. 0 Á proporção que são liquidadas as contra-marcas, os bilhetes
de despacho respectivos a cada uma d'estas são remettidos para o ar-
chivo geral pelo mesmo systema indicado para os que são provisoria-
mente arcbivados nos armazens. No archivo geral todos os bilhetes
archivados por contra-marcas.
Serão substituidos mensalmente os recibos diarios do thesoureiro
por um recibo de toda a receita do mez, evitando-se a accumulação de
documentos na casa da direcção do despacho.
Parece-me baver n'este systema segurança e simplificação de ser-
viço importantes, facilidade de inspecção, clareza a respeito do destino
dado aos volumes a despachar em acto successivo, sem ser preciso o
trabalho insano de procurar nos bilhetes de despacho archivados, a
prova de ter o encarregado da descarga mandado efIectivamente para
83

aquella casa de despacho e de terem lá chegado, os volumes que nas fo-


lhas de descarga e na sua escripturação tiverem essa indicação.
As folhas dos objectos a despachar em acto successivo, feitas pe-
los despachantes. para quem esse pequeno trabalho é facil, tarnam o
expediente muito simples e rapido; cada despachante faz a sua folba,
em quanto que o encarregado da descarga teria de fazeI-as todas, ou o
serviço na fórma actual imperfeitíssima, e essas mesmas folhas ficam
ao mesmo tempo constituindo documentos da descarga, e livro de es-
cripturação de entrada e saída na referida casa de despacho.

'*
'* III

Nas oulras direcções de despacho, na fórma do artigo 6. 0 acima


referido e dos ~§ d'este que lhes forem applicaveis, o serviço será feito
como indkam os modelos n.O S 4, 5, 6, 7 e 8.
Os bilhetes de despacho de cada uma das direcções terão uma nu-
meração de ordem especial.
Os chetes de todas as direcções de despacho serão verificadores
de reconhecida capacidade.
Na direcção de despacbo externo estarão reunidos todos os servi-
ços relativos á descarga, verificação, reverificação depositos, fianças,
cobrança e escripluração de receitas, e o archivo especial dos livros e
documentos de todos estes serviços, a começar pelo livro do modelo
n. O t.
As mercadorias para despacho externo serão enviadas de bordo
dos navios para as pontes ou caes da respectiva casa de despacho, com
rolhas de descarga especiaes. Quando aconteça vir de bordo com volu-
mes para deposito algum de despacho ext.erno, será este enviado, com
guia, pelo encarregado da descarga geral, ao director do despacho ex-
terno, que lhe dará o devido destino.
A escripturação de volumes descarregados para despacho externo
ou de estiva far·se-ba pelas respectivas folhas, nas quaes serão Dotadas
quaesquer (altas. Feita a escripturação. tanto quanto possivel a par do
despacho, serão as folhas de descarga, anotadas quando com esta não
estiverem conformes, remetlidas ao conferente da descarga geral da
alfandega para os eft'eitos da conferencia definitiva com os manifestos.
O despacho dos generos depositados nos armazens alfandegados
ou affiançados, feitos nos termos ordinarios.
Todo o serviço referido á contra· marca; a escriplnração de des-
carga dando conta da distribuição de todo o carregamento; a escriptu-
ração de armazens, e das casas de despacbo danrlo conta da saída ou
destino definitivo de cada uma das partes de que o c'lrregamento se
compunba.
Desaccumulado e subdividido o serviç.o de verificações: desaccu-
mulada e subdividido o serviço de contagem e conferencia; desaccu-
mulado e ~ubdÍ\·idido o de escripturação de receita; a celeridade do
expediente nada deixará a desejar, e ficará uma estatística do consumo
dos principaes generos sempre feita. a responsabilidade dos armazens
sempre presa á escriptlJração da receita, fiscalisando-se e liquidando-se
uma pela outra sempre que se queira ou seja necessario, por que, co-
mo se verá dos modelos citados. o armazem d'onde saiu a mercado-
ria que pagou direitos está designado no livro de receita que ella pro-
duziu, livro ql1e a divisão do trabalbo estabelecida n'este systema per-
mitte escripLurar com desenvolvimento.
Seguro o servit;,o na descarga. nos armazens e nas casas de des-
pacho, o da conferencia de volumes ás porlas de sabida perde urna
grande parte da sua jruportancia actual.

Reentrados
o serviço de armazens e despacho de volumes a reentrar e reen..
trados, é melindroso; eu segural-o-ia com as seguintes disposições:
L a - Nenhum volume sabido de um armazem pode voltar para o
mesmo armazem em que primitivamente entrou.
2. a - O volume que reentra, intacto ou não, é sempre sellado, e
segue para o armazem de reentrados com o bilhete do modelo n. o 9
se vae intacto, e com o bilhete do modelo 0.° tO se d'elle se fez al-
guma extracção.
3. a - O encarregado do armazem de reentrados fórma a sua escri.
pturação com os bilhetes acima referidos, collados a uma encadernação,
ficando debitado nos talões dos mesmos bilhetes, que ficam em poder
do chefe da respectiva casa de despacho.
4. a - O cbefe tia casa de despacho transcreve no talão do bilhete
ós dizeres da verit1cação lançados n'este pelo verificador.
85

5. a - Quando de um volume reentrado por demora na casa de des-


pacho, ou a pedido do despachante, se peça posteriormente extracção
de parte da mercadoria. proceder-se-ba primeiramente como se o vo-
lume sabisse definitivamente; e a reentrada realisa·se do mesmo modo
que a de volumes ou parte de volumes sahidos de outros armazens.
(La -Os bilhetes de despacho (duplicados) com os qnaes é pedida
e verificada a mercartoria reentrada são arcbivados no armazem de re-
entrados. e documentam a escripturação d'estes por sabida, dada a baixa
pelos numeros de ordem e de receita.
7. a - Os hilhetes de despacho com os quaes sahem dos armazens
primitivos "olumes que passem, no todo ou em parte, para armazens
de reentrados, são archivados nos mesmos armazens primitivos, e do-
cumentam a escripturação d'estes por sahida, quer tenha havido extrac-
ção e pagamento de direitos. quer não, mas tendo. lançada pelo chefe
da respectiva casa de despacho a seguinte nota - c Reentrou pelo bilhele
de reentrada n. o»
8. a - Dos volumes reentrados conserva-se definitiva a competente
baixa nó conhecimento. O despachante tirará uma copia do bilbete de
reentrada, a qual, conferida e assignada pelo chefe da casa de despa-
cbo, lhe servirá de conhecimento das mercadorias depositadas no ar·
mazem de reentrados.

Eslalislica
Estatistica geral, exacta, prompta, diaria, barata, como a todos os
respeitos convem que seja, só podem fazel-a os encarregados do serviço
de verificações a par do processo da verificação. Estabelecidas que se-
jam as verificações por um verificador e um coadjuvante. não me pa-
rece que haja objecções que oppõr a este metbodo de fazer a e~tatis­
tica.
O coadjuvante munido dos modelos necessarios segundo as classes
e artigos da pauta, á proporç.ão que se verificam as diflerentes merca-
dorias contidas n'um volume, vae fazendo o extracto de cada artigo ve-
rificado no modelo correspondente, e no fim do dia está a estatistica
feita, restando sómente separar por classes os ditIerentes modelos em
que se fez o trabalho estatistico, e sommar nos extractos de todos os
verificadores as addiçõAs relativas a cada classe e artigo da pauta, de
sorte que se póde chegar á perfeição de publicar no dia 3 de cada mez
a estalistica de todos os generos despachados no dia primeiro, e assim
successivamente, corrigindo-se no fim de cada semana, ou de cada mez,..
86

as pequenas differenças dos bilbetes de despacbo verificados e não pa-


gos. Nos volumes de mercadorias homogeneas, que constituem a maior
e a mais importante parte da importação, este systema é de tão facil
e rapida execução, que de per si está condemnando o de deixar amon-
toar os bilbetes de despacbo para fazer d'elles os extractos dias ou se·
manas depois, com outro pessoal, com mais despeza, e com uma de-
mora que diminue de 50 % a utilidade da estatistica.
Deve cada alfandega ter a sua estatistica especial. A estatistica ge-
ral de nada serveá administração e fiscalisação de cada alrandega, cuja
direcção, pelo systama actual, só póde conbecer factos estatísticos
quando já os não póde apreciar com relação ás circumstancias que pre-
senciou, quando já não póde comparar o movimento commercial de cada
dia, relativo a cada classe da paula, com a receita produzida pelos di-
reitos respectivos.
Reunidas as estatiscas das diversas alfandegas, facilmente seria or-
ganisada a estatística geral por quaesquer empregados da direcção ou
administração geral.
Os mappas comparati \'OS do movimento das mercadorias importadas,
exportadas, reexportadas, e sabidas por baldeação e transito, bem como
os da navegação, etc., etc., racilmenle seriam feitos nas respectivas re-
partições das alfandegas, e por elles os mappas geraes na secretaria
da administração.
Em vez de se encaminharem as cousas n'este sentido, criou-se no
conselbo geral das alrandegas uma apparatosa e dispendiosa repartição
de estalislica que não nos dá senão noticias bistoricas de factos com-
merciaes, e que no momento em que aqui estou transcrevendo estas
obse~vações, custa ao estado, com o peqneno serviço que presta ao
conselho geral, mais de onze contos de réis, afóra despezas de papel e
impressão, que seriam as mesmas com todas as reformas.

.,.
* ..
Foram estas, a diversos respeitos muito syntbeticamente expostas
aqui, as indicações que para uma reforma de alfandegas tive a bonra
de dar ao sr. Marianno de Carvalho. a pedido de S. Ex. a ; não as dei
melhores porque melhores não sabia dai-as; o seu desenvolvimento ca-
bal seria objecto de regulamentos completos, de que não cheguei a oe-
cupar.. rqe, porque os meus trabalhos com razão passaram a mãos de
obreiros mais babeis, que os aproveitaram n'uns pontos e desprezaram
n'outros, com o criterio que é patente na reforma decretada.
87

Vê-se, porém, que o meu pobre projecto, radical como era, a nin-
guem prejudicava-que procurei, e creio que consegui, aUender n'elle
a todas as conveniencias do serviço, dos empregados e do commercio,
a todos os direitos bem fundados, a todos os interesses legitimos, sem
augmento de despeza para o estado. A reforma decretada adoptou as
mesmas bases geraes da minha, mas tirou d'ellas outras deducções. e
estendeu-se em desenvolvimentos a que eu não teria sabido chegar. Em
conclusão, não digo que o que fiz é melhor nem peior do que a reforma
decretada; digo o que fiz para que se me não aUribua o que não fiz.
A outros pertence a apreciação dos dois trabalhos, nenhum dos quaes
é de certo isento de erro.

Bemfica, 2 de Fevereiro de {888.

ANTONIO CORREA HEREDIA.


MODELOS
pÀmNA r~ BI!ANCO
I
Anno
I
I
AnDo

Contr:marca

I Nome do navio
Mez
-- '''-I--:;:~tado-=-

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Dia 1Veriticador
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r:n
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=
~

~
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Contra-mar- 1 Artitice
~

ca
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~
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Importador
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~
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Accrescimo na descarga
...
~

F'~~:~d'"'''' ,
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Despachante ~ r:n

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~
~

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N.o do rroc~s!'>o por falta
ou acresclmo
=
...
= ...
Quantidade ~
de volumes
= - - - - - , Nota d~-ter
sido ha;~: ==
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-= nisada a differença N
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~

r:n
- - - - - , - N.o d;:r~;~-: bilhete
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de de~pacho
e
Qualidade
dos volumes
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N.o ~;. ~-e'p':~~--~~~ =
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~

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=-
~

I
~ Data da iiyuidaçáo do r:n
deposito e respectivo ~
Marcas dos Jl o de receJla
=
volumes
-----------I-Q uanti..J8dt; peaija a des-
pacho em acto succes·
~
;;"
sivo, para consumo ro'·
exportaçi.Ío ou transito. =
~

Numerosdoli
volumes I Quantidade depositada
~
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r:n

Q.Z
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Referen~ia ba~x; ~~
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-I á
fiança
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----------I--Q~~~~~a~~~d~l~e~~~-a~1
Q.Z
c. 0 '0 navio que descarregou,
~~~ parte em franquio I
~=- ...
g~ª.Q. ...
(D",
-----"r.:o"o do d,,,ino ., ,

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N.- 5
Livro de receita da casa de, despacho em acto successivo
! Machmas,
I

'1 I inslrUllJentos
Tecido.; e obra Tt'cidos e obra Tecido,; e obra Tecidos e obra! f\ apparelhos Diversos
Mercadorias
o
§
-<
.
::e Q'"
Q;l
-.:l

"Z
de seda de lá de linho de algodão I al>lronomico~
I e índustriaes I
artigos
sepa rad a s dI"
lJagagl'ns
Observações

I
I !

I
I I
I
I I

I I I I I
I I
N B. Qualldo Jla e'lhmma de dirt'l' . . o... artifl0"'; !'e comprehender algum do!' flue te em eJassificação digtincta nos livrog de receita das outras
~,

<:::l casas de despacho, fal'-:;e-ha a desiguaçãu d'etitie arti~w na columna das obtiervações em frente da linha em que for inscripta a receita.

N.o 4
Livro de receita da casa de despacho externo
I ~
DIRE!..TOS
-_o
II ~.. I CEREAES I
IOutros artigos I Q.....lid....
Manteiga
"',1...::.:.1I Arroz Madeiras Ferro 01008 Bacalhau
I
PetroJeo
• Q;l

<ê I :e~ I Q~ I Z~ I, ,Em


1 _.
r Em. I I
'-'-'-1-
I
N.O 5
Livro de receita da casa de despncho de abertura
I ~
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II
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.~!
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I
'fecidos e obra Tl'cirio~ e obra
Armazem

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Tecirios II ohra Tecidos e obra


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Outros
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Hec~brados:
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de seda de lã de lillho dI' algollão
I

artigos
II

I I I

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N.O 6

Livro de receita da casa de despacho de pateo


I
I Armazem n.o i Armazem I
I I I I
1 ;l
Tabacos Armazem n. r 3 1 Arrn:z('1Il I Arm~z('m I Arm~zem ,
Armazem n. o 4
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I Manipulado Assucar C.fé 0"'''' .t,. ",.
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I Em folha
I
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I artigos

I
N.- 7
Livro de reeeita da exportação
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'DIREITOS
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"II . " :3 ..!. ~ .:g cu t: c ." ~
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I Outros artigos
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= N. O 8
Livro de receita de reexportação e baldeacão
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~ o:::l 8 I oc 8..s
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Z ~
_1--:- ---1----1 I i--

N. B. Quando foi feito este modelo existiam ainda direitos de reexportação e de baldeação.
I~
(Hodelo l'i. o 8) N.O de N.O de
TALÃO N.o ~50 BI LHETE N. o 150 ordem receita

t886-Julbo to.
Contra-marca _801/86 I(~
t886-Julho to.
Contra-marca _801/86.
De reerntrada
I)or demora na casa de despacho (ou a pedido do despachante)

I
Importador-F. Importador-F.
Despachante-F. Despachante-F.
Do armazem D.o 5. Do armazem D.o 5.
Caixa-J. J. S. Caixa-J. J. S.
N.o de ordem-1529 N.o de ordem do bilbete de despacho t529.
eo
~
Reemtrada por demora na casa Vai sellado.
de despacho (ou a pedido do
despachante).
o chefe da casa de despacho
Sellada.
F.
o cbefe da usa de despacho

F.
""
TALÃO N.o,
"

t

I .. '
,

!:
..,'
(Hodelo n.O "O) N.O de
ordem
N.o de
receita
De reentrada "fi")
~

,~
\~-

~
I
BILHETE DE REENTRADA
",,-/','..,"\

tH86 - Julho
Cpnlra-mar~a
~j.
-- '!:!5/R6 • .~'t'~.
(.. 'I ..,
1~8() ·-JuItJo 5.
el .ntra·rnarca -_USjSti.
Importador - F. Im p()rtador-I~'.
Despachante - F. :~:
!!l.~
O,~spachante- F.
Bilhete primiLi\'o-ll.o 7tt. Bilhete prirniti\'o-n.o 7 t t.
Do armazem n.o 7. fA.~ 00 armazem n.O 7.
~y.< Caixa-~L C. D.
Caixa -M. C. D. rto" • ~

Com. resto do citado bilhete n. o ~ Com re~ to do citado bilhete n. o 7 t I \ a í'aller:


~I 7 ti, a saber: fi~
':v,' Teddos de seda -!I- kilos.
Tecidos de se(la-4 kilos. :~<d Oito~ de linh·) -3 kilo~.
Ditos de linho-~l kilos. ~ :\hnlillh~s de !'ejta - 500 azraínmrts.
Mantinhas de seda-500 gramo ~ Malha de lã - I kilo. -
Malha de lã - t kilo. ~'~·;:í".,;
~, 7
9'
$J)/~~
,',a
...e o verificador
O chere da casa de despacbo de ~ "C

=
=-:I
.,;. F.
~f\'~~ 'r;: t..'
F. ~11.
Q
~
Reentre
,íJ r
~~í~
O
r;)
...
Q

:;: ~ O chefe da casa de despacbo

I
r.;;A~
~!. ,~

, 'li
F.

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