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CRISE DO WELFARE STATE, NEOLIBERALISMO E

CRIMINALIZAÇÃO EM MASSA NO BRASIL.

Luciana Avila Zanotelli1

1 Advogada, Especialista em Direito do Estado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (Salvador) e Mestranda em
Política Social pela Universidade Católica de Pelotas.
RESUMO

O presente trabalho versa sobre a relação entre o Welfare State, o neoliberalismo e a criminalização
em massa no Brasil. Iniciamos o trabalho revisitando as origens do sistema carcerário e traçando
sua relação com os interesses econômicos da época. Após buscamos traçar considerações acerca da
expansão do Welfare State e seu declínio e assunção de uma política neoliberal em caráter mundial,
suas égides, efeitos e relações com o aumento das taxas de encarceramento. Por fim lançamos
algumas considerações acerca da realidade brasileira, apontando posições quanto aos investimentos
em políticas sociais inclusivas e gastos com segurança pública e sua relação com a assunção por
parte do governo brasileira às políticas neoliberais.
PALAVRAS-CHAVE: criminalidade; criminalização; encarceramento; neoliberalismo; welfare
state.

ABSTRACT

This paper focuses on the relationship between the welfare state, neoliberalism and mass
criminalization in Brazil. We started work revisiting the origins of the prison system and tracing
their relationship to the economic interests of the time. After we try to make some considerations
about the expansion of the welfare state and its decline and assumption of a neoliberal policy on
global character, their égides, effects and relationships with the increase in incarceration rates.
Finally we launched some considerations about the Brazilian reality, pointing positions as
investment in social policies and inclusive public security spending and its relation to the
assumption by the Brazilian government's neoliberal policies.
KEY-WORDS: crime, criminalization, incarceration, neoliberalism, welfare state.

INTRODUÇÃO

Aparentemente pode causar estranheza a relação entre o encarceramento e as mudanças nas


políticas econômicas. Porém, ao se estudar o tem nota-se que a alteração nos objetivos do Estado no
que tange especialmente aos investimentos e políticas sociais ( e tais alterações de objetivos e
investimentos decorrem diretamente das políticas econômicas, ou melhor das linhas diretrizes de
tais políticas), nota-se que quanto menor o investimento público com a manutenção e criação de
políticas sociais, maiores as taxas de encarceramento encontradas.
Certo é que a relação entre o encarceramento e as políticas sociais não é exatamente direta,
mas decorrente, incluindo-se aqui a forma com que a sociedade passa a ver os investimentos sociais
e as responsabilidades e saídas para os problemas referentes à pobreza, à identidade e a exclusão
social.
Para realizar o presente estudo baseamo-nos em literatura tanto da área das ciências sociais,
quanto da filosofia, antropologia e criminologia, especialmente em autores como Zygmunt Bauman,
Loïc Wacquant, Gosta Espin-Andersen, Michel Foucault, Luiz Eduardo Soares, Vera Malaguti
Batista, Alessandro De Giorgi, entre outros, bem como relatórios de órgãos nacionais e
internacionais acerca da pobreza e da encarceração.
Buscamos realizar uma breve análise crítica das relações entre a pobreza, a exclusão, a
efetivação de políticas sociais pelo Estado Brasileiro, o aumento do encarceramento e a implantação
de um Estado menos social e mais penal no Brasil.
Sabemos que pela profundidade do tema não nos será possível abracar todas as relações que
se inserem no tema, sendo assim, trazemos um primeiro panorama, para, quiçá, no futuro ser
possível realizar estudos de forma mai aprofundada sobre o tema.
Iniciamos o trabalho analisando o o encarceramento como um todo, desde a sua gênese
ligada ao liberalismo econômico clássico (casas de trabalho), passando por suas evoluções e
relações com o Wellfare State (mesmo que não tenha verdadeiramente sido vivenciado no Brasil, o
Wellfare State teve influências significativas quanto ao direcionamento do Estado para as Políticas
Sociais afetando o encarceramento), trabalhando, após, sua maximização com a chegada das ideias
neoliberalistas (estas sim em grande expressão no Brasil) e seu relacionamento com as políticas
sociais, para, por fim relacionar a atual situação brasileira quanto ao encarceramento e a punição em
relação à pobreza.

A DESCOBERTA DA RODA: Encarcerar para treinar a mão de obra.

O discurso oficial sobre a gênese do encarceramento como punição diz que a opção pela
prisão como pena deveu-se a um grande salto humanitário, com inspiração nas ideias de Beccaria.
Não deixamos de considerar que o abandono das penas corporais realmente há de ser
considerado um enorme avanço em relação aos direitos humanos, porém há que se questionar os
verdadeiros motivos por trás da opção pelo encarceramento como pena, motivos estes que parecem
estar estreitamente ligados com o surgimento das manufaturas e as necessidades do capitalismo
manufatureiro.
Na Inglaterra pré-revolução industrial a forma de produção feudal havia ruído. Ao final do
século XV e especialmente no século XVI a “maioria imensa da população era composta então, e
ainda mais no século XV, por camponeses livres, que cultivavam as suas próprias terras, fosse qual
fosse o título feudal atrás do qual se escondia a sua propriedade”2. Dissolveram-se os séquitos
feudais e houve a expulsão dos camponeses de suas terras.

O impulso imediato neste sentido foi dado em Inglaterra nomeadamente pelo


florescimento da manufactura flamenga da lã e o correspondente aumento dos
preços da lã. As grandes guerras feudais tinham devorado a velha nobreza feudal, e
a nova era filha do seu tempo, sendo para ela o dinheiro o poder de todos os
poderes. Transformação da terra arável em pastagem de carneiros tornou-se,
portanto, a sua consigna. Harrison, na sua Description of England. Prefixed to
Holinshed's Chronicles [Descrição de Inglaterra. Anteposta às Crónicas de
Holinshed], descreve como a expropriação dos pequenos camponeses arruinou o
campo. «What care our great encroachers!» («Que se interessam os nossos
grandes usurpadores!») As habitações dos camponeses e as cottagesdos operários
foram violentamente arrasadas ou abandonadas à ruína.3

Thomas Morus, trata, em seu livro “A Utopia” da expulsão dos campesinos na Inglaterra de
forma bastante clara, dizendo que:

Os inumeráveis rebanhos de carneiros que cobrem hoje toda a Inglaterra. Estes


animais, tão dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte, são entre vós de tal sorte
vorazes e ferozes que devoram mesmo os homens e despovoam os campos, as
casas e as aldeias.
De fato, a todos os pontos do reino, onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa,
acorrem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e até santos abades. Essa pobre
gente não se satisfaz com as rendas, benefícios e rendimentos de suas terras; não
está satisfeita de viver no meio da ociosidade e dos prazeres, às expensas do
público e sem proveito para o Estado. Eles subtraem vastos tratos de terra à
agricultura e os convertem em pastagens; abatem as casas, as aldeias, deixando
apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros. Transformam em
desertos os lugares mais povoados e mais cultivados. Temem, sem dúvida, que não
haja bastantes parques e bosques e que o solo venha a faltar para os animais
selvagens.
Assim um avarento faminto enfeixa, num cercado, milhares de geiras; enquanto
que honestos cultivadores são expulsos de suas casas, uns pela fraude, outros pela
violência, os mais felizes por uma série de vexações e de questiúnculas que os
forçam a vender suas propriedades. E estas famílias mais numerosas do que ricas
(porque a agricultura tem necessidade de muitos braços), emigram campos em fora,
maridos e mulheres, viúvas e órfãos, pais e mães com seus filhinhos. Os infelizes
abandonam, chorando, o teto que os viu nascer, o solo que os alimentou, e não
encontram abrigo onde refugiar-se. Então vendem a baixo preço o que puderam
carregar de seus trastes, mercadoria cujo valor é já bem insignificante. Esgotados
esse fracos recursos, o que lhes resta? O roubo, e, depois, o enforcamento segundo
as regras. 4

A situação dos campesinos ainda se agrava largamente em decorrência da reforma


protestante, com o fechamento de conventos e mosteiros que atirou seus habitantes à miséria, sendo

2 Marx, Carl. O Capital. Cap. XXIV. 1867. Disponível em:


http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/capital/cap24/cap02.htm . Acesso em: 20/07/2012
3 Idem
4 Morus, Thomas. A Utopia. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000070.pdf .
Acesso em 15/08/2012.
as propriedades da Igreja confiscadas e repassadas ou vendidas por preços irrisórios, sendo
destituídos os campesinos empobrecidos de seu direito à propriedade de uma parte dos dízimos da
Igreja.5
Nesta época não se havia instalado ainda as casas de trabalho, as primeiras instituições
“carcerárias” que surgiram na Inglaterra do Século XVIII, justamente quando da Revolução
industrial, com o intuito de treinar a mão-de-obra necessária ao trabalho nas fábricas.
Na época, a mão-de-obra escassa fazia com que se elevassem os custos de salários, sendo
assim, adotou-se uma política “incentivadora” da expulsão dos campesinos para as cidades, a fim de
que estes se tornassem mão-de-obra barata e farta.
Nesse sentido já explicitava Marx quando dizia que:

De facto, a usurpação da terra comunal e a revolução da agricultura que a


acompanha actuam tão agudamente sobre os operários agrícolas que, segundo o
próprio Eden, entre 1765 e 1780, o seu salário começou a cair abaixo do mínimo e
a ser complementado pelo socorro oficial aos pobres 6. O seu salário, diz ele, «não
era mais do que o bastante para as absolutas necessidades da vida».

Desta forma, são os camponeses, então, privados de seu modo de sobrevivência e expulsos
de seu lugar de origem, enviados às grandes cidades para engrossar as fileiras de trabalhadores das
fábricas, mas, como os mesmos não são possuidores de bens, não são também considerados como
totalmente cidadãos. São vistos como meio de produção do capital, devendo ser adestrados para
aceitar o destino que lhes é reservado, ou seja, trabalhar nos moldes ditados pelas elites, sendo que a
negação a tais condições lhes impõe ab initio a internação em casa de trabalho, e num modelo
posterior ao cárcere (que é tido como meio de adestramento e contenção das massas de
trabalhadores sub-humanas).
A casa de trabalho, nos dizeres de Giorgi era uma:

espécie de manufatura reservada ás massas que, expulsas dos campos, afluíram


para as cidades, dando lugar a fenômenos que preocupavam as elites mercantis (e
proto-capitalistas) da época: banditismo, mendicância, pequenos furtos e last but
not least, recusa a trabalhar nas condições impostas por essas elites. A casa de
trabalho – um “proto-cárcere” que seria depois tomado como modelo da forma
moderna do cárcere no período iluminista (...) não parecia ser outra coisa senão
uma instituição de adestramento forçado das massas ao modo de produção

5 Marx, Carl. op. Cit.


6 O socorro oficial aos pobres refere-se, ao que pensamos, às Leis dos Pobres Elizabetanas e aos Estatutos dos
Trabalhadores e dos Artesãos. Sendo de se notar que em verdade tais leis não possuíam caráter protetor, mas sim
um caráter repressivo e punitivo, com o intuito de realizar verdadeira coerção ao trabalho. BHERING, Elaine
Rosseti et BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 6 ed. São Paulo. Cortez. 2009.p.48.
capitalista7

É nesse contexto que se adota o encarceramento como pena, não exatamente por serem os
suplícios corporais desumanos, mas, principalmente por se descobrir que poder-se-ia utilizar as
hordas para gerar mão-de-obra barata, e, assim, lucro.

O nascimento da prisão se coloca, portanto, na passagem de um regime


penal que aponta para a destruição do corpo do condenado, sobre o qual se
reflete o poder absoluto do monarca, para uma forma de punição que poupa
o corpo a fim de que, na sua produtividade, se evidencie o poder econômico
relativo do capitalista.[...]8

Assim, descobriu-se a roda, uma forma de moldagem dos excluídos aos interesses
capitalistas, uma forma justificada para manter os pobres em seu lugar, a serviço da ordem do
mercado.
É preciso porém fazer uma outra consideração, que a pobreza e a exclusão social vão
aumentando e se agravando quanto mais evolui a sociedade capitalista.
Na medida em que se consolida o capitalismo, consolida-se também uma classe
despossuída, vista como turba ou ralé, ameaçadora e perigosa para a burguesia comercial e
manufatureira.9
É de se frisar que quanto mais cresce a “ralé”, mais o direito penal é chamado à conter e
adestrar os pobres à exploração capitalista, até mesmo porque as próprias leis de auxílio aos pobres,
ao invés de terem caráter protetivo, possuem cada vez mais um caráter punitivo.
Essas legislações estabeleciam distinção entre pobre “merecedores” (aqueles
comprovadamente incapazes de trabalhar e alguns adulto capazes considerados
pela moral da época como pobres merecedores, em geral nobres empobrecidos) e
pobres “não merecedores” (todos os que possuíam capacidade, ainda que mínima,
para desenvolver qualquer tipo de atividade laborativa). Aos primeiros,
merecedores de “auxílio”, era assegurado algum tipo de assistência, minimalista e
restritiva, sustentada em um pretenso dever moral e cristão de ajuda, ou seja, não se
sustentavam na perspectiva do direito.10

Àqueles não considerados merecedores, sobrava, é claro, a casa de trabalho, o adestramento


através do cárcere.
Nesse sentido bem explica Giorgi dizendo que:

A origem da pena detentiva está inserida no contexto das transformações sociais

7 GIORGI, Alessandro de. A miséria governada através do sistema penal. Rio de Janeiro:Revam:ICC, 2006. p. 13.
8 Ibidem, p.40.
9 BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis – drogas e juventude pobre no Rio de janeiro. Rio de Janeiro.
Revam, 2003. p. 37
10 BHERING, Elaine Rosseti et BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 6 ed. São Paulo.
Cortez. 2009.p.49.
que ocorreram na Europa nos séculos XVI e XVII. Naquele período, uma repentina
redução demográfica, ligada em parte à Guerra dos Trinta Anos, havia determinado
uma dramática carência de mão-de-obra, o que resultou na elevação progressiva
dos salários. Essa situação induziu os governos dos países europeus
economicamente mais avançados a rever as suas políticas em relação à pobreza.
Amadurecia a ideia de que os pobres em condições de trabalhar deveriam ser
obrigados a fazê-lo. Através da imposição do trabalho, torna-se possível enfrentar,
ao mesmo tempo, a praga social da vagabundagem e a praga econômica do
aumento dos salários, provocado pela escassez da força de trabalho.[...] A reclusão
começa assim a ser proposta como estratégia para o controle das classes marginais.
[…] Progressivamente, a detenção se afirmará como modalidade hegemônica de
punição , dando origem assim ao “grande internamento” de que fala Foucalt.[...]

Nota-se desta forma a grande ligação que há entre a “invenção” da pena de prisão e os
interesses do capital, e ainda mais, de uma forma sutil, a forma com que se ligam as políticas
“sociais” da época com a coerção ao trabalho e a incriminação de quem se nega a fazê-lo nos
moldes impostos – dentre os moldes impostos estava inclusa a determinação de “taxa máxima de
salário acima do qual não era lícito ir (o que implicava sanção penal)” e até mesmo a determinação
que o “trabalhador aceitasse a primeira oferta de emprego que lhe fizessem11 (o que coincide com as
políticas adotadas atualmente pelo governo brasileiro quanto ao seguro desemprego).
A roda estava descoberta, e ao que tudo indicava funcionaria apropriadamente. Porém em
meados do século XVIII o crescimento demográfico especialmente das camadas pobres fez com
que o trabalho começasse a rarear – mesmo nas casas de trabalho – sendo assim, incorporada ao rol
de punições possíveis ao trabalho forçado e à obrigação de trabalhar nas fábricas o açoite, o ferro,
ou seja as práticas anteriores de punição sobre os corpos.

O trabalho desapareceu completamente da prisão, voltou-se à prática funesta do


lucro privado do guarda, desapareceu todo e qualquer tipo de classificação e
diferenciação, por mais grosseira que pudesse ter sido praticada antes. As seções
femininas do cárcere se transformaram em bordéis regidos pelos carcereiros. Foi
essa situação que provocou a intervenção e os escritos reformadores da segunda
metade do século XVIII, situação sinistramente representada pelo flagelo da gaol
fever, que matava quase a quinta parte dos presos anualmente [...]12

Nesta etapa, implementa-se a função da prisão, agora não mais voltada somente ao
adestramento da mão-de-obra, mas também voltada à segregação e/ou eliminação do excedente,
mantendo-o longe da pacata vida burguesa.
Nesses moldes, no início do século XIX chegou-se às “deterrent workhouse, a casa de
trabalho terrorista, que significava a substituição de qualquer forma de assistência fora das casas de
trabalho (outdoor relief) pelo internamento e o trabalho forçado em seu interior”13.

11 MELOSSI, Dario et PAVARINI, Massimo. Cárcere e Fábrica: as origens o sistema penitenciário (séculos XVI-
XIX). Rio de Janeiro. Revan. ICC, 2006.p.37.
12 Ibidem, p.64.
13 Ibidem, p.66
Nesse estágio procurava-se fazer tão terrível a permanência nas casas que somente quem não
tivesse mais qualquer opção aceitaria submeter-se à seu jugo.
Enquanto isso, os trabalhadores assalariados eram submetidos à jornadas de trabalho
exaustivas, sem qualquer proteção, mesmo contra acidentes de trabalho, doenças, e até mesmo
morte. Crianças, mulheres e idosos homens eram submetidos a torturantes jornadas de trabalho, não
raramente sucumbindo.

Naquele momento – a segunda metade do século XIX –, a força de trabalho reagia


à exploração extenuante, fundada na mais-valia absoluta, som a extensão do tempo
de trabalho, e também à exploração do trabalho de crianças, mulheres e idosos. A
luta de classes irrompe contundente em todas as suas formas, expondo a questão
social: a luta dos trabalhadores com greves e manifestações em torno da jornada de
trabalho e também sobre o valor da força de trabalho – o salário, que deveria
garantir “os meios de subsistência necessários à manutenção do seu possuidor”,
[…] e as estratégias burguesas para lidar com a pressão dos trabalhadores, que vão
desde a requisição da repressão direta pelo Estado, até concessões formais pontuais
na forma das legislações fabris [...]

Tais concessões são o início das políticas sociais na forma de conquistas, como dizia Marx –
mesmo se sabendo que a relação concessão-conquista é delicada para ser aplicada de forma menos
explicada e trabalhada – e tais “conquistas” dão uma possibilidade alentadora a longo prazo –
porém não cumprida, que se caracterizará no surgimento na primeira metade do século XX do
Wellfare State.

WELLFARE STATE: O surgimento de uma promessa não cumprida.

Apesar de a discussão acerca das relações entre o capitalismo e o bem-estar terem se


iniciado no século XIX, por economistas políticos do capitalismo liberal, o Welfare State
propriamente dito somente foi existir um século após.14
Diferentemente do que pregavam os economistas liberais – estes falavam em uma
intervenção mínima do Estado e que o livre mercado deveria prover o bem-estar – , os economistas
do Welfare State pregavam uma maior intervenção do Estado a fim de que através da regulação do
mercado e de políticas sociais fosse possível garantir o bem-estar.
Os primeiros movimentos em direção ao Welfare State se iniciam ainda no século XIX com
as lutas dos trabalhadores por redução na jornada de trabalho e proteção de crianças mulheres e

14 ESPIN-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do Wellfare State. In Lua Nova. Nº 24.Setembro. 1991.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451991000200006&script=sci_arttext . Acesso em
11/05/2012.
idosos, já referidas, que resultaram mesmo que pontualmente em legislações fabris. Essas
legislações, apesar de pontuais, significam uma inédita intervenção do Estado na economia no
sentido de promover o bem-estar (mesmo que tal promoção tenha sido forçada) e não no sentido de
beneficiar o capital (como sempre era feito).
Ainda, com propostas de instauração de um Welfare State monárquico, proposto por uma
importante escola clássica da economia, que afirmava que um poder monárquico seria capaz de
implantar a taxação necessária para promover o bem-estar, o que não seria possível em um governo
democrático, dependente de votação. Correto é, porém que não havia interesse por parte da
burguesia capitalista na implantação de governos democráticos, visto que trariam um aumento de
poder de barganha ao proletariado. Na verdade, pode-se dizer que a proposta do Welfare State
Monárquico no século XIX foi especialmente engendrada a fim de garantir a manutenção do
capitalismo, pois havendo a abertura à democracia, os riscos para a acumulação do capital seriam
enormes.15
É interessante notar que mesmo os economistas políticos de origem marxista eram à época
contrários muitas vezes à legislação social, pois as viam como uma forma de engodo, “ um dique
numa ordem capitalista cheia de vazamentos”, acreditavam que no fundo as mesmas tinham um
caráter anti-socialista e divisionista, ou seja, por trás da proteção social haveria a confirmação do
sistema, seriam uma forma de reprimir a mobilização dos trabalhadores. Porém, com a implantação
de políticas sociais verificou-se que as mesmas possuíam caráter contraditório, pois também
funcionavam como uma forma de redução da dependência dos trabalhadores em relação ao mercado
e aos empregadores, resultando em mobilização social do poder apesar de igualmente servirem
como estratégias para promover o progresso das forças produtivas no capitalismo.16
Em 1914, Henry Ford inaugura uma nova forma de “relação” trabalhista que será espalhada
e conhecida como fordismo. Implanta, em suas fábricas jornada de trabalho de 8 horas diárias e
incentivos a seus trabalhadores de sua linha de montagem automática17 (um exemplo clássico do
estilo de produção fordista é representado por Charles Chaplin em Tempos Modernos).
Os tempos áureos do fordismo e da economia perduraram até a crise da bolsa de Nova York
em 1929, quando começaram a apresentar problemas estruturais, que vão se agravando com a
Segunda Guerra Mundial, permitindo que no pós-guerra se desse uma aliança entre classes que
permitiram a “expansão do chamado Welfare State”18.
O Welfare State caracteriza-se por um grande implemento em políticas e benefícios sociais,

15 Idem.
16 Idem.
17 PENNAFORTE, Charles. Do fordismo ao pós-fordismo: uma visão da acumulação flexível in: 5º Congresso
Brasileiro de Geógrafos. Curitiba.1994. Disponível em:
http://www.charlespennaforte.pro.br/acessoexclusivo/bancodetextos/fordismo_e_pos-fordismo.htm . Acesso em:
25/08/2012.
18 BHERING et BOSCHETTI, Ivanete., op cit p. 91/3
como bem apontam Bhering e Boschetti, quando indicam que três elementos marcaram o período:

O primeiro desses elementos é o crescimento do orçamento social em todos


os países da Europa que integravam a OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico), cuja média de gasto, em
relação ao produto interno bruto, passou de 3%, em 1914, para 5%, em
1940, entre 10% e 20% em 1950 e 25% em 1970. Outro deles é o
crescimento incremental da mudança demográfica, expresso pelo aumento
da população idosa nos países capitalistas centrais, que ampliou os gastos
com aposentadorias e saúde, e pelo aumento da taxa da população
economicamente inativa que mudou a relação contribuinte (ativo) e usuário
das pensões (inativo). O terceiro é o crescimento sequencial de programas
sociais no período.19

Importante é salientar também que na fase de expansão do Welfare State verificou-se uma
taxa de encarceramento particularmente baixa, nos Estados Unidos, sendo que as mesmas passaram
novamente a crescer somente em meados dos anos 1970.20
Porém, as promessas de melhoria no bem-estar trazidas pelo Welfare State acabaram por não
se realizar, pois na maioria dos países do mundo sua implantação foi deficitária. Em muitos países
como, por exemplo, nos Estados Unidos, houve a implantação de um Welfare State residual, tendo a
maior parte das despesas sociais estão ligadas à manutenção da lei e da ordem e da administração21.
Sendo que nesse sentido já alertava Wacquant que:

Mais do que de Estado providencia, seria justo falar em Estado caritativo, na


medida em que os programas voltados para as populações vulneráveis foram desde
sempre limitados, fragmentários e isolados do resto das atividades estatais,
informados que são por uma concepção moralista e moralizante da pobreza como
produto das carências individuais dos pobres. O princípio que guia a ação pública
americana na matéria não é a solidariedade, mas a compaixão; seu objetivo não é
fortalecer os laços sociais (e ainda menos reduzir as desigualdades), mas no
máximo aliviar a miséria mais gritante. 22

Em países como o Brasil, sequer se pode falar na existência de um Welfare State, visto que
os maiores investimentos na área social foram realizados em um período ditatorial, onde havia
então a supressão dos diritos civis, e quando da retomada da democracia, a promessa de
implantação de um Welfare State trazida na Constituição Federal de 1988, na verdade se mostrou
incapaz de vencer o paradigma do neoliberalismo que chegava de forma robusta ao país,
prevalecendo, nessa relação os interesses das “elites alinhadas com a burguesia internacional, em

19 Idem.
20 GIORGI, op. Cit., p.48
21 ESPIN-ANDERS, op.cit.
22 WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos estados unidos.Rio de Janeiro: Instituto
Carioca de Criminologia. F Bastos, 2001. p.20.
detrimento da priorização das necessidades da maioria da população”23.
Na realidade, Espin-Anders indica que exitem, formas diferentes de Welfare States. Além da
residual – onde o Estado só assume a responsabilidade quando a família ou o mercado são
insuficientes, limita suas práticas a grupos sociais marginais e merecedores –, exitem formas
Institucionais – onde o Estado personifica o compromisso institucionalizado com o bem-estar
social procurando estender os benefícios sociais a todas as áreas de distribuição vital para o bem
estar societário –, formas desmercadorizantes – aquelas que permitem que o cidadão tenha a
liberdade de parar de trabalhar quando achar necessário, sem que isso implique em perda potencial
de trabalho, rendas ou benefícios –, formas liberais – onde predomina a assistência aos
comprovadamente pobres, possuindo planos modestos de previdência social e transferências
universais extremamente reduzidas –, formas corporativistas – onde se têm direitos ligados à classe
e à status, tendo o Estado como substituto do mercado (quando necessário) enquanto provedor de
benefícios sociais –, e, sociais-democratas – onde todas as camadas são incorporadas a um sistema
universal de seguros, que são graduados de acordo com os ganhos habituais, mostrando-se como
uma mistura de programas altamente desmercadorizantes e universalistas que correspondem a
expectativas diferenciadas.24
Apesar de formarem-se blocos de WS, não há nenhum modelo puro, havendo, na verdade
uma preponderância de um ou outro modelo de WS. Países escandinavos tendem a ser mais social-
democratas, mas possuem elementos liberais que lhes são essenciais, o sistema americano é
redistributivo, compulsório e não atuarial e os regimes europeus conservadores possuem tanto
características liberais quanto social democratas tornando-se com o passar do tempo menos
autoritários e corporativistas.
Quanto ao encarceramento, é de se notar que o mesmo é deveras reduzido em países com
Welfare States mais abrangentes e eficazes, nos países escandinavos, de tradição social-democrata a
taxa de encarceramento é de 64 (sessenta e quatro) encarceramentos para cada cem mil habitantes
(tendo sido ainda mais baixa, em torno de 40 (quarenta) encarceramentos para cada cem mil
habitantes no início dos anos 1960)25, enquanto nos Estados Unidos passou-se de uma taxa de 100
(cem) encarceramentos para cada cem mil habitantes em 1945, para uma taxa de mais de 200
(duzentos) encarceramentos a cada cem mil habitantes em 1985.26

23 PEREIRA, Potyara Amazoneida P. Pluralismo de bem-estar ou configuração plural da política social sob o
Neoliberalismo. In BOSCHETTI, Ivanete et all.Política Social: alternativas ao neoliberalismo. Brasília. UNB.
Programa de Pós-graduação em Política Social. Departamento de Serviço Social.2004.p.152.
24 ESPIN-ANDERS, op.cit.
25 CHRISTIE, Nils. Elementos para uma Geografia Penal. In Revista de Sociologia e Política. Nº 13. Nov.1999.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n13/a05n13.pdf . Acesso em: 26/08/2012.
26 WACQUANT, op.cit. p.57/59.
NEOLIBERALISMO, GLOBALIZAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO EM MASSA NO BARSIL

Por volta dos anos 1970 a credibilidade das políticas do Welfare State são postas em xeque.
As promessas de pleno emprego não se haviam cumprido, havia um endividamento crescente tanto
na esfera pública quanto privada, e, por fim deu-se de frente com uma grande recessão (que teve
como catalizador a alta dos preços do petróleo em 1973).27
Entra então, o Welfare State em crise (se bem que já se fala não em uma crise do Welfare
State, mas sim de uma mutação), uma crise financeira – decorrente do desequilíbrio entre receitas e
despesas –, uma crise estrutural – com o aumento, em muitos casos da burocratização, havendo um
inchaço no aparelho estatal –, mas, principalmente (hoje se fala) uma crise de identidade com a
sociedade globalizada onde impera o individualismo.28
Surge então um terreno fértil para as novas teorias econômicas que pregam uma volta ao
liberalismo econômico, que alegam que o Welfare State, que seria excessivamente paternalista e o
aumento nos gastos sociais é prejudicial ao desenvolvimento, pregando uma minimização da
regulação estatal na economia.29
A proposta neoliberal para a revitalização da economia e saída da crise tinha como
proposições básicas:

[…] 1) um Estado forte para romper o poder dos sindicatos e controlar a moeda; 2)
um Estado parco para os gastos sociais e regulamentações econômicas; 3) a busca
da estabilidade monetária como meta suprema; 4) uma forte disciplina
orçamentária, diga-se, contenção dos gastos sociais e restauração de uma taxa
natural de desemprego; 5) uma reforma fiscal, diminuindo os impostos sobre os
rendimentos mais altos; e 6) o desmonte dos direitos sociais, implicando na quebra
da vinculação entre política social e esses direitos, que compunha o pacto político
do período anterior.30

Em 1972 firmou-se o chamado “Consenso de Washington”, que corresponde exatamente ao


início de uma política econômica neoliberal mundial, através do qual se impôs, especialmente aos
países da periferia capitalistas duras imposições no que se refere a cortes expressivos em gastos
sociais e transferências maciças de recursos ao adimplemento de dívida externa.
Os países da América Latina vendo-se obrigados (senão coagidos) a saldar seus débitos para
com os credores internacionais, aderem ao “Consenso de Washington”, aderindo de forma
considerável aos ditames do neoliberalismo. Nesse sentido, bem aponta Costa ao dizer que:
27 BHERING et BOSCHETTI, op.cit. p.103
28 HENRIQUE, Wilnês et DRAIBE, Sônia. Políticas Públicas e Gestão da Crise: um balanço da literatura
internacional. Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Caderno de Pesquisa n.1. Campinas. UNICAMP. 1987.
29 BHERING, Elaine Rossetti. Fundamentos de Política Social. Disponível em:
http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto1-1.pdf . Acesso em: 09/04/2012.
30 Ibidem. p.12
Entre 1979-81, os empréstimos privados à América Latina se multiplicaram e em
1985 ficaram negativos. O FMI foi colocado como instrumento dos credores para
pressionar as nações devedoras. Os países acostumados a financiar deu déficits
com empréstimos externos tiveram que se ajustar a um ambiente de redução e/ou
inexistência de empréstimos externos. “Os países devedores não comandavam mais
os recursos de empréstimos, tiveram que limitar seus gastos” - fazendo ajustes:
esforço para obtenção de moeda estrangeira e busca de recursos orçamentários
(superávits).[...]31

Nesse contexto, a redução dos gastos sociais foram priorizadas, fazendo com que fossem
implantadas cada vez mais políticas sociais residuais, tendentes a somente intervir na questão social
quando o mercado, a comunidade e a família não mais pudessem enfrentar o problema.32
O resultado da implantação das políticas neoliberais foi um crescente desemprego estrutural,
aumento da pobreza, da fome e da desigualdade social.
Note-se que a pobreza maximizada pelo sistema neoliberal não diz respeito à diminuição de
produção de bens e alimentos, na verdade, como bem aponta Houtart “vivimos em una época donde
se produce más riqueza que nunca. En 50 años los ingresas mundiales han sido multiplicados por
siete, pero, apesar de ello, em la actualidad, unos 1 300 millones de personas deben sobrevivir com
menos de dos dólar diario”.33
A pobreza, que para o Banco Mundial passou de uma não possibilidade de atuação e
interação com o mercado para ser agora considerada como relacionada à extrema pobreza, como a
pobreza relacionada à fome é “combatida” (na verdade trata-se de propor medidas a fim de
aplacamento) através de políticas que se voltam para o aumento do produto interno bruto dos países,
à integração dos populares ao mercado, deixando de analisar a questão da desigualdade e da
opressão.
Porém além da pobreza e fome material – a fome por alimento que sofre uma enorme
parcela da humanidade (apesar de haver materialmente comida no mundo para todos) – , há uma
fome mais intensa, talvez mais doída, que igualmente à fome material se vê avançando com as
práticas neoliberais.

Há uma fome mais funda que a fome, mais exigente e voraz que a fome física: a
fome de sentido e de valor; de reconhecimento e de acolhimento;fome de ser –
sabendo-se que só se alcança ser alguém pela medição do olhar alheio que nos
reconhece e valoriza. Esse olhar, um gesto escasso e banal, não sendo mecânico –
isto é, sendo efetivamente o olhar que vê – consiste na mais importante
manifestação gratuita de solidariedade e generosidade que um ser humano pode

31 COSTA, Lúcia Cortes da. Os impasses do estado capitalista: uma análise sobre a reforma do Estado no Brasil.
São Paulo. Cortez. 2006.p.93
32 BHERING, op. Cit.
33 HOUTART, François. El sentido de la “Lucha contra la Pobreza” para el neoliberalismo. Disponível em:
http://www.globalizate.org/pobrezayneoliberalismo.pdf . Acesso em 30/05/2012.
prestar a outrem. Esse reconhecimento é a um só tempo, afetivo e cognitivo, assim
como os olhos que veem e restituem à presença o ser que somos não se reduzem ao
equipamento fisiológico. O olhar (ou a modalidade de percepção fisicamente
possível) que permite ao ser humano o reencontro com a sua humanidade, pela
mediação do reconhecimento alheio, é o espelho pródigo que restaura a existência
plena, reparando o dano causado pelo déficit de sentido, isto é, pela
invisibilidade. 34

Nos planos neoliberais, os pobres são vistos (se é que se pode dizer que são vistos de alguma
forma) apenas como números, cifras a diminuir – antigamente se falava em eliminação da pobreza e
hoje se fala em diminuição – são distanciados do mundo do capital e despidos de sua cidadania e
humanidade.
Em um mundo neoliberalista e globalizado, somente é detentor de cidadania e até mesmo de
identidade aquele que está satisfatoriamente engajado no mercado e, principalmente, no consumo.
Sendo assim, o pobre, que não pode estar presente como consumidor, é despojado de sua existência,
passando a ser considerado, no máximo como uma cifra, ou como parte de um discurso caritativo
que visa manter as coisas como estão.
Nasse sentido, já denunciava Bauman quando dizia que

Numa sociedade de consumo, compartilhar a dependência de consumidor – a


dependência universal das compras – é a condição sine qua non de toda liberdade
individual; acima de tudo da liberdade de ser diferente, de “ter identidade”. [...] A
identidade – “única” e “individual” – só pode ser gravada na substância que todo o
mundo compra e que só pode ser encontrada quando se compra. Ganha-se
independência rendendo-se. [...]35

Nesse contexto, ser possuidor, ou melhor, ser consumidor é o que permite a existência na
sociedade, é o que dá o caráter de humanidade. O pobre, despido de tal caráter é visto como alheio,
como um, desculpem a crueza da expressão, “bicho” o qual deve ser temido pela sua estranheza ao
mercado, mas desperta também a caridade – desde que feita de longe e com cuidado para não haver
ataques.
O mesmo autor, nesse sentido, continua dizendo

Numa sociedade sinóptica de viciados em comprar/assistir, os pobres não podem


desviar os olhos; não há mais para onde olhar. Quanto maior for a liberdade na tela
e quanto mais sedutoras as tentações que emanam das vitrines, e mais profundo o
sentido da realidade empobrecida, tanto mais irresistível se torna o desejo de
experimentar, ainda que por um momento fugaz, o êxtase da escolha. Quanto mais
escolha parecem ter os ricos, tanto mais a vida sem escolha parece insuportável
para todos.36
34 SOARES, Luiz Eduardo. O menino invisível se arma. In ATHAYDE, Celso et al. Cabeça de Porco. Rio de Janeiro.
Objetiva. 2005. p.215-6
35 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro. J. Zahar. 2001. p.98-9
36 Ibidem. p. 104
Essa mesma sociedade, ditada pelo consumo e pelas políticas neoliberais, mergulha num
caos onde o medo impera. O medo é generalizado, há um medo entranhado de não pertencer, de não
consumir, de não suprir os impulsos, e nesse contexto, o medo de ver-se expropriado das tão
valiosas quinquilharias adquiridas constantemente faz redobrar o temor já inculcado pela mídia
sensacionalista de se ver violentado pelo pobre, pois

[...] Nosso tempo é propício aos bodes expiatórios – sejam eles políticos que fazem
de sua vida privada uma confusão, criminosos que se esgueiram nas ruas e nos
bairros perigosos ou “estrangeiros entre nós”. O nosso é um tempo de cadeados,
cercas de arame farpado, ronda dos bairros e vigilantes; e também de jornalistas de
tablóides “investigativos” que pescam conspirações para povoar de fantasmas o
espaço público funestamente vazio de atores, conspirações suficientemente ferozes
para liberar boa parte dos medos e ódios reprimidos em nome de novas causas
plausíveis para o “pânico moral”.37

Esse “pânico moral” decorre em excepcional parte dos resultados da política neoliberal,
responsável não só pela consolidação da sociedade de consumo, mas também pela geração de um
desemprego estrutural, maximizador da pobreza aliada à enorme redução dos gastos em políticas
sociais.
Com esse pano de fundo, forjam-se políticas criminais destinadas aos pobres – que sempre
foram a clientela preferencial do sistema penal – como forma de corrigir, com um Estado mais
penal e menos social as desigualdades criadas pelo próprio sistema.

A penalidade* neoliberal apresenta o seguinte paradoxo: pretende remediar com


um "mais Estado" policial e penitenciário o "menos Estado" econômico e social
que é a própria causa da escalada generalizada da insegurança objetiva e subjetiva
em todos os países, tanto do Primeiro como do Segundo Mundo. Ela reafirma a
onipotência do Leviatã no domínio restrito da manutenção da ordem pública -
simbolizada pela luta contra a delinqüência de rua - no momento em que este se
afirma e verifica-se incapaz de conter a decomposição do trabalho assalariado e de
refrear a hipermobilidade do capital, as quais, capturando-a como tenazes,
desestabilizam a sociedade inteira. E isso não é uma simples coincidência: é
justamente porque as elites do Estado, tendo se convertido à ideologia do mercado
total vinda dos Estados Unidos, diminuem suas prerrogativas na frente econômica e
social que é preciso aumentar e reforçar suas missões em matéria de "segurança",
subitamente relegada à mera dimensão criminal. No entanto, e, sobretudo, a
penalidade neoliberal ainda é mais sedutora e mais funesta quando aplicada em
países ao mesmo tempo atingidos por fortes desigualdades de condições e de
oportunidades de vida e desprovidos de tradição democrática e de instituições
capazes de amortecer os choques causados pela mutação do trabalho e do indivíduo
no limiar do novo século.38

Muito mais fácil e eficaz que investir seriamente na redução das desigualdades sociais e da

37 Ibidem. p.48
38 WACQUANT, Loic. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro. J. Zahar Ed.2001.
pobreza é penalizar o pobre. E tal ação acaba ganhando o respaldo da dita “sociedade de bem” pois,
no momento em que ao pobre não é dado pertencer da sociedade – por não ser consumidor – e não é
visto como pessoa, mas como perigo, nada mais coerente do que encarcerá-lo.

O controle do desvio enquanto legitimação aparente das instituições penitenciárias


constitui, pois, uma construção social por meio da qual as classes dominantes
preservam as bases materiais da sua própria dominação. As instituições de controle
não tratam a criminalidade como fenômeno danoso aos interesses da sociedade em
seu conjunto; ao contrário, por meio da reprodução de um imaginário social que
legitima a ordem existente, elas contribuem para ocular as contradições internas ao
sistema de produção capitalista. Em outras palavras, numa sociedade capitalista o
direito penal não pode ser colocado a serviço de um “interesse geral” inexistente:
ele se torna necessariamente, a expressão de um poder de classe. 39

A utilização do encarceramento como mecanismo de contenção das massas empobrecidas e


como meio de legitimação das práticas neoliberais vêm sendo vivenciado e denunciado já há algum
tempo. Nos Estados Unidos, viu-se uma elevação exponencial dos índices de prisão, especialmente
após a adoção das medidas draconianas de redução do Estado Social. Ao mesmo tempo em que se
percebeu uma redução de 42% (quarenta e dois por cento) no valor de compra dos repasses
assistenciais à famílias com filhos e sem nenhuma renda (de 1970 a 1990), verificou-se um
implemento no encarceramento de 314% (trezentos e quatorze por cento), sendo que o implemento
relativo à encarceramento de pessoas de etnia negra foi de 388% (trezentos e oitenta e oito por
cento).40
Da clientela recrutada nesse implemento de encarceramento, notou-se que o recrutamento se
dá prioritariamente “nos setores mais deserdados da classe operária, e notadamente entre as famílias
do subproletariado de cor nas cidades profundamente abaladas pela transformação conjunta do
salariado e da proteção social”41.
No Brasil, o quadro não é diferente, os pobres são estrategicamente afastados da sociedade,
seja por serem dispostos em “bairros” distantes da vida social – e, com isso distantes também de
todo o aparelho municipal voltado ao bem-estar e à cidadania, como escolas, transporte, trabalho,
cinemas, teatros, entre outros – seja pela construção de verdadeiros muros de contenção – como
acontece no Rio de Janeiro, onde estrategicamente foi construído um muro para separar as favelas42,
seja pela expropriação das casas em favelas próximas a bairros elegantes e próximos aos
equipamentos esportivos destinados à copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016 – a chamada
expulsão branca – que vêm ocorrendo sistematicamente nos últimos tempos no Rio de Janeiro e em

39 GIORGI, op. Cit., p.36


40 WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Cit. p. 23-32
41 Ibidem. p. 33
42 Nesse sentido veja-se a matéria entitulada “A Polêmica do muro na favela” veiculada pela revista VEJA em
17/04/2009. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/polemica-muro-favela.
outras cidades, ou, ainda, seja pela rotulação da exclusão, que afasta-os mesmo que próximos
fisicamente.
Nesse sentido, já denuncia Soares que:

Há circunstâncias em que o Estado constrói um cinturão sanitário em torno de


grupos sociais temidos como fontes de perigo pelas camadas superiores das
cidades. O propósito é esterilizar a fonte e apagar do mapa essas comunidades:
explorar sua força de trabalho e, ao mesmo tempo, condená-las à invisibilidade.
Nesses casos, a polícia costuma ser usada para fazer o trabalho sujo. Ela se torna o
princípio ativo do muro.
Aconteceu na Rocinha. As calamidades têm seus profetas, e o medo, porta-
vozes. No calor da hora, um ex-prefeito carioca propôs um muro ao redor da
Rocinha. Vocalizou a fantasia mais perversa, a um só tempo óbvia e recalcada, do
imaginário coletivo. Inaugurou a linguagem pública dos muros, liberando os
fantasmas da apartação que a cidade cultivava em segredo, envergonhada.[...]43

O pobre, no Brasil, está exposto a uma existência infame não só pela privação dos bens
materiais (e aqui inclua-se desde os bens de consumo, quanto a água, o alimento, a educação, etc.),
reforçada pela redução das políticas sociais, mas também pela maximização de um Estado
repressivo com um histórico de violência e abuso, especialmente voltado ao achaque das camadas
pobres.

Na ausência de qualquer rede de proteção social, é certo que a juventude dos


bairros populares esmagados pelo peso do desemprego e do subemprego crônicos
continuará a buscar no "capitalismo de pilhagem" da rua (como diria MaxWeber)
os meios de sobreviver e realizar os valores do código de honra masculino, já que
não consegue escapar da miséria no cotidiano. […] a insegurança criminal no
Brasil tem a particularidade de não ser atenuada, mas nitidamente agravada pela
intervenção das forças da ordem. O uso rotineiro da violência letal pela polícia
militar e o recurso habitual à tortura por parte da polícia civil (através do uso da
"pimentinha" e do "pau-de-arara" para fazer os suspeitos "confessarem"), as
execuções sumárias e os "desaparecimentos" inexplicados geram um clima de
terror entre as classes populares, que são seu alvo, e banalizam a brutalidade no
seio do Estado. Uma estatística: em 1992, a polícia militar de São Paulo matou
1.470 civis - contra 24 mortos pela polícia de Nova York e 25 pela de Los Angeles
-, o que representa um quarto das vítimas de morte violenta da metrópole naquele
ano. É de longe o recorde absoluto das Américas. Essa violência policial inscreve-
se em uma tradição nacional multissecular de controle dos miseráveis pela força,
tradição oriunda da escravidão e dos conflitos agrários, que se viu fortalecida por
duas décadas de ditadura militar, quando a luta contra a "subversão interna" se
disfarçou em repressão aos delinqüentes. Ela apóia-se numa concepção hierárquica
e paternalista da cidadania, fundada na oposição cultural entre feras e doutores, os
"selvagens" e os "cultos", que tende a assimilar marginais, trabalhadores e
criminosos, de modo que a manutenção da ordem de classe e a manutenção da
ordem pública se confundem. 44

Atualmente, conforme explicitam os dados levantados pelo Conselho Nacional de Justiça,

43 SOARES, Luiz Eduardo. Guerra na Rocinha. In Cabeça de Porco. op. cit., p.93.
44 WACQUANT, As Prisões da Miséria. Op cit. p.4-5
no Brasil, existem cerca de 505.638 (quinhentos e cinco mil e seiscentos e trinta e oito) pessoas
encarceradas distribuídas em 2.895 (dois mil e oitocentos e noventa e cinco) estabelecimentos no
território nacional, que, por sua vez contam com um total de 335.829 vagas, demonstrando uma
superlotação dos estabelecimentos prisionais que chega a 150,56% (cento e cinquenta virgula
cinquenta e seis por cento).
A taxa de encarceramento só é menor do que 100 (cem) presos a cada cem mil habitantes em
quatro Estados da Federação, sendo que em oito Estados a taxa gira entre 200 a 300 (duzentos a
trezentos) presos a cada cem mil habitantes e em sete Estados a taxa é superior a 400 (quatrocentos)
presos a cada cem mil habitantes.
É de se notar que o Brasil investiu, no ano de 2008 cerca de R$ 33.551.179.659,38 (trinta e
três trilhões, quinhentos e cinquenta e um milhões, cento e setenta e nove mil, seiscentos e
cinquenta e nove mil e trinta e oito centavos) em segurança pública45, contra um investimento de
cerca de R$ 88.740.000,00 (oitenta e oito bilhões e setecentos e quarenta milhões de reais) em
educação e saúde, e um investimento de R$ 19.861.000,00 (dezenove bilhões e oitocentos e
sessenta e um reais) em programas para a extrema miséria, perfazendo um total de R$
108.601.000,00 (cento e oito bilhões e seiscentos e um milhão de reais) em investimentos46. Nota-se
uma diferença de R$ 33.442.578.659,38 (trinta e três trilhões, quatrocentos e quarenta e dois
bilhões, quinhentos e setenta e oito milhões e trinta e oito centavos) a mais para os investimentos
em segurança pública!
Nota-se, de forma inequívoca a opção brasileira pelo Estado Penal, com investimentos
maciços voltados a repressão criminal de um lado e parcos investimentos sociais de outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pena de prisão, desde a sua instituição foi especialmente direcionada à contenção ou


adestramento dos pobres. Tal realidade se verifica desde a criação das casas de trabalho inglesas,
passando pelo Hospital Geral francês, e chegando ao sistema prisional contemporâneo.
Nota-se que a principal característica das prisões em seu início eram o adestramento da mão-
de-obra para o trabalho fabril, fazendo com que os “vagabundos” se tornassem uma valiosa reserva
de mão-de-obra, capaz de conter a elevação do custo da mesma.

45 Dados disponíveis em:


http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMID6CB4BC7A517B4668A5F12EFC98FFCEFEPTBRNN.ht
m
46 Dados disponíveis em:
http://www.fazenda.gov.br/portugues/documentos/2012/programacao_orcamentaria_2012.pdf
Com o aumento da mão-de-obra disponível e com o crescimento das desigualdades sociais
criadas pelo sistema capitalista, as prisões, porém tomaram uma nova característica marcante,
passaram do adestramento das massas para a sua contenção, assim, já no século XIX foram
utilizadas para a punição inclusive dos trabalhadores que lutavam por melhores condições de
trabalho e renda.
No século XX, especialmente no “período de ouro” das políticas sociais (expansão do
Welfare State) verificou-se uma taxa de encarceramento especialmente baixa, tendo esta um
exponencial aumento a partir da implantação mundial das políticas neoliberais.
Nota-se que quanto mais significativo o investimento em políticas sociais, especialmente as
voltadas efetivamente ao bem-estar da população – como ocorreu nos países escandinavos – menor
a taxa de encarceramento, enquanto que quanto menor o investimento, ou se o investimento se der
mais em políticas sociais voltadas especialmente à segurança pública e administração – como no
caso dos Estados Unidos – maior a taxa de encarceramento.
No Brasil, verificou-se que, na realidade, o Welfare State, nunca foi exatamente implantado,
tendo-se experimentado investimentos sociais mais expressivos em época de supressão dos direitos
civis e de cidadania (ditadura militar), sendo que o retorno à fase democrática no país coincidiu com
a adesão ao “Consenso de Washington”, o que marcou a adesão brasileira às políticas neoliberais.
A realidade brasileira quanto à investimentos sociais é alarmante. O país investe mais de 33
trilhões a mais em segurança pública do que em educação, saúde e programas de combate à extrema
miséria. Uma parcela enorme da população vive em situação de miséria e outra enorme parcela em
situação de pobreza, o que reflete imediatamente na ampliação da repressão criminal contra estas
camadas.
O comprometimento do país com o combate à pobreza e à desigualdade, apesar dos
discursos otimistas, é deficitária, enquanto que o seu comprometimento com a encarceração é de
longe estimulado, revelando um exato compasso com a ideia neoliberal de “mais Estado Penal e
menos Estado Social”.
De todo o analisado vê-se uma orientação do próprio sistema neoliberal à criminalização
massiva das populações pobres, como forma de manutenção do status quo e do sistema capitalista
neoliberal, que se mostra incapaz de manter-se sem a continuidade do sistema de desigualdade, e,
portanto precisa “achar um jeito” de conter a população pobre, que ademais, por não possuir poder
de consumo, deixa de ser considerada em si mesma como parte da sociedade e do projeto social
neoliberal.
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