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Atividade de História
Nomes: __________________________________________________________________________________

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Valor: 5 pontos Turma:_______________ Data:________________ Nota:________________

Instruções:
1. As questões devem ser respondidas à caneta e em letra legível. Evitem rasuras.
2. As repostas devem ser feitas em uma folha separada e enumeradas.
3. A folha de respostas também deve conter o nome do grupo.
4. A atividade deve ser feita até o final da aula.
5. Cada grupo receberá 2,0 (dois pontos) pela entrega da atividade. Os 3,0 (três pontos) restantes serão atribuídos durante a
correção coletiva.

QUESTÃO 1:

Anões em ombros de gigantes....


Uma ideia comumente associada ao renascimento é aquela que o define como um período de (re)vivifica-
ção dos valores da cultura clássica greco-latina. Diante dos antigos – os gigantes –, os letrados do renascimento
seriam uma espécie de anões, apesar de lhes estar facultada a possibilidade de escalar os ombros dos antecessores
para poderem enxergar mais longe (...)
Na Itália do Renascimento, “antico” (= antigo) invocava uma era distante no tempo e, ao mesmo tempo,
exemplar, cujo valor mágico e inspirador aproximava a história da mistificação (...) Giorgio Vassari distinguiu
uma “maneira antiga” de criação – que durou até meados do século 13 – de uma “maneira moderna” (...) Além
disso, esse admirador de Michelangelo destacava a arquitetura que, em todas as partes, imitava os antigos: “È
di belissima architettura in tutte le parti, per avere assai imitato l’antico”.
Essa oposição entre antigo e moderno, no Renascimento, não punha em confronto o passado e o presente,
mas duas formas de progresso: o circular, que celebrava o antigo (o eterno retorno), e o linear, que se desviava
da Antiguidade. Para ser valorizado, o moderno deveria imitar o antigo, através do qual seria exaltado, como
escreveu François Rabelais: “Agora todas as disciplinas foram restituídas”. Ainda na França, Perrault (1628-
1703) comparou a época de Luís XIV, o chamado Rei Sol, ao século de Augusto (primeiro imperador romano):
A bela antiguidade sempre foi venerável,
Mas não creio que ela fosse adorável.
Eu vejo os antigos, sem dobrar os joelhos,
Eles são grandes, é verdade, mas homens como nós
E podemos comparar, sem cometer injustiça,
O século de Luís ao século de Augusto.
MICELI, Paulo. História Moderna. São Paulo: Contexto, 2018, p. 30-31 (adaptado).

A partir da análise do texto de Paulo Miceli é possível afirmar que o Renascimento foi uma era de “anões em
ombros de gigantes”? Justifique sua resposta elaborando uma definição adequada para o conceito de Renasci-
mento.
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QUESTÃO 2:

Texto 1
Hitlodeu: A nobreza e a lacaiada não são as únicas causas dos assaltos e roubos que vos deixam desolado;
há outra exclusivamente peculiar à vossa ilha.
— E qual é ela?
Hitlodeu: Os inumeráveis rebanhos de carneiros que cobrem hoje toda a Inglaterra. Estes animais, tão
dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte, são entre vós de tal sorte vorazes e ferozes que devoram mesmo
os homens e despovoam os campos, as casas, as aldeias.
De fato, a todos os pontos do reino, onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa, acorrem, em disputa
de terreno, os nobres, os ricos e até os santos abades. Essa pobre gente não se satisfaz com as rendas, benefícios
e rendimentos de suas terras; não está satisfeita de viver no meio da ociosidade e dos prazeres, a expensas do
público e sem proveito do Estado. Eles subtraem vastos tratos de terra à agricultura e os convertem em pasta-
gens; abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros. Transfor-
mam em deserto os lugares mais povoados e cultivados. Temem, sem dúvida, que não haja bastantes parques e
bosques e que o solo venha a faltar para os animais selvagens.
Assim um avarento faminto enfeixa, num cercado, milhares de jeiras; enquanto que homens cultivadores
são expulsos de suas casas, uns pela fraude, outros pela violência, os mais felizes por uma série de vexações e
questiúnculas que os forçam a vender suas propriedades.
MORE, Thomas. A Utopia. São Paulo: Martins Claret, 2007, p. 29.

Texto 2
Desde o começo do capitalismo, a guerra e a privatização da terra empobreceram a classe trabalhadora.
Este fenômeno foi internacional. Em meados do século 16, os comerciantes europeus haviam expropriado boa
parte da terra das Ilhas Canárias para transformá-la em plantations de cana-de-açúcar. O maior processo de
privatização e cercamento de terras ocorreu no continente americano, onde, no início do século 17, os espanhóis
tinham se apropriado de um terço das terras comunais indígenas sob o sistema da encomienda. A caça de escravos
na África trouxe como consequência a perda de terras, porque privou muitas comunidades de seus melhores
jovens.
Na Europa, a privatização da terra começou no final do século 15, coincidindo com a expansão colonial.
Ela assumiu formas diferentes: despejo de inquilinos, aumento de aluguel e impostos elevados por parte do
Estado, o que levou ao endividamento e à venda de terras. Defino todos esses processos como expropriação de
terra, porque, mesmo quando a força não era usada, a perda da terra se dava contra a vontade do indivíduo ou
da comunidade, solapando sua capacidade de subsistência. Duas formas de expropriação de terra devem ser
mencionadas: a guerra — cujo caráter mudou nesse período, uma vez que passou a ser usada como meio para
transformar arranjos territoriais e econômicos — e a reforma religiosa. “Antes de 1494, o conflito bélico na
Europa havia consistido principalmente em guerras menores, caracterizadas por campanhas breves e irregula-
res”.
Elas frequentemente ocorriam no verão para dar tempo aos camponeses, que formavam a maior parte
dos exércitos, de semear seus cultivos; os exércitos se enfrentavam durante longos períodos, sem que houvesse
muita ação. No entanto, no século 16, as guerras tornaram-se mais frequentes e apareceu um novo tipo de con-
flito, em parte devido à inovação tecnológica, mas principalmente porque os Estados europeus começaram a
recorrer à conquista territorial para resolver suas crises econômicas, financiados por ricos investidores. As cam-
panhas militares tornaram-se muito mais longas. Os exércitos cresceram dez vezes em tamanho, tornando-se
permanentes e profissionais. Foram contratados mercenários que não tinham nenhum laço com a população. O
objetivo da guerra começou a ser a eliminação do inimigo, de tal maneira que deixava em sua esteira vilarejos
abandonados, campos cobertos de cadáveres, fome e epidemias, como em Os quatro cavaleiros do Apocalipse (1498)
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de Albrecht Dürer. Esse fenômeno, cujo impacto traumático sobre a população foi refletido em numerosas re-
presentações artísticas, mudou a paisagem agrária da Europa.
Muitos contratos de arrendamento também foram anulados quando terras da Igreja foram confiscadas
durante a Reforma, que começou com uma apropriação de terras massiva por parte da classe alta. Na França,
um apetite comum pelas terras da Igreja inicialmente uniu classes baixas e altas no movimento protestante, mas,
quando a terra foi leiloada, a partir de 1563, os artesãos e os trabalhadores diaristas, que haviam exigido a
expropriação da Igreja “com uma paixão nascida da amargura e da esperança” e que haviam se mobilizado sob
a promessa de que eles também receberiam a sua parte, foram traídos em suas expectativas (Le Roy Ladurie,
1974, p. 173-6). Os camponeses, que haviam se tornado protestantes para se livrar dos dízimos, também foram
enganados. Quando defenderam seus direitos, declarando que “o Evangelho promete terra, liberdade e emanci-
pação”, foram selvagemente atacados como fomentadores da sedição. Na Inglaterra, grande parte da terra tam-
bém mudou de mãos em nome da reforma religiosa. W. G. Hoskin descreveu essa mudança como “a maior
transferência de terras na história inglesa desde a conquista normanda” ou, mais sucintamente, como “O Grande
Saque”. Na Inglaterra, todavia, a privatização de terras foi realizada basicamente por meio de cercamentos —
um fenômeno que foi associado de tal modo com a expropriação dos trabalhadores da sua “riqueza coletiva” que,
em nosso tempo, é usado por militantes anticapitalistas como um significante para cada ataque sobre os direitos
sociais.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017, p. 130-133 (adaptado).

Relacione o texto ficcional de Thomas More à situação da Inglaterra moderna descrita por Silvia Federici, des-
tacando o papel exercido pelos cercamentos e pela reação senhorial na passagem do feudalismo para o capitalismo.

QUESTÃO 3:

Leia os textos abaixo e, em seguida, responda às questões.

Da crueldade e da piedade –
Se é preferível ser amado ou temido
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria
necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais
seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis,
simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-
te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti;
quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou inteiramente em suas palavras, encon-
trando-se destituído de outros meios de defesa, está perdido: as amizades que se adquirem por dinheiro, e não
pela grandeza e nobreza de alma, são compradas mas com elas não se pode contar e, no momento oportuno, não
se torna possível utilizá-las. E os homens têm menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a
quem se faça temer, posto que a amizade é mantida por um vínculo de obrigação que, por serem os homens
maus, é quebrado em cada oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que
jamais se abandona.
Deve o príncipe, não obstante, fazer-se temer de forma que, se não conquistar o amor, fuja ao ódio, mesmo
porque podem muito bem coexistir o ser temido e o não ser odiado: isso conseguirá sempre que se abstenha de
tomar os bens e as mulheres de seus cidadãos e de seus súditos e, em se lhe tornando necessário derramar o
sangue de alguém, faça-o quando existir conveniente justificativa e causa manifesta. Deve, sobretudo, abster-se
dos bens alheios, posto que os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
Além disso, nunca faltam motivos para justificar as expropriações, e aquele que começa a viver de rapinagem
sempre encontra razões para apossar-se dos bens alheios, ao passo que as razões para o derramamento de sangue
são mais raras e esgotam-se mais depressa.
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Mas quando o príncipe está à frente de seus exércitos e tem sob seu comando uma multidão de soldados,
então é de todo necessário não se importar com a fama de cruel, eis que, sem ela, jamais se conservará exército
unido e disposto a alguma empresa.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Ebook. Disponível em: https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/o-principe.pdf. Acesso em:
03 set. 2023.

Em louvor à amizade e contra a vontade única do tirano


A verdade é que o tirano nunca é amado nem ama.
A amizade é uma palavra sagrada, é uma coisa santa e só pode existir entre pessoas de bem, só se mantém
quando há estima mútua; conserva-se não tanto pelos benefícios quanto por uma vida de bondade.
O que dá ao amigo a certeza de contar com o amigo é o conhecimento que tem da sua integridade, a
forma como corresponde à sua amizade, o seu bom feitio, a fé e a constância.
Não cabe amizade onde há crueldade, onde há deslealdade, onde há injustiça. Quando os maus se reúnem,
fazem-no para conspirar, não para travarem amizade. Apoiam-se uns aos outros, mas temem-se reciprocamente.
Não são amigos, são cúmplices.
Ainda que assim não fosse, havia de ser sempre difícil achar num tirano um amor firme. É que, estando
ele acima de todos e não tendo companheiros, situa-se para lá de todas as raias da amizade, a qual tem seu alvo
na equidade, não aceita a superioridade, antes quer que todos sejam iguais.
Por isso é que entre os ladrões reina a maior confiança, no dividir do que roubaram; todos são pares e
companheiros e, se não se amam, temem-se pelo menos uns aos outros e não querem, desunindo-se, tornar-se
mais fracos.
Quanto ao tirano, nem os próprios favoritos podem ter confiança nele, pois aprenderam por si que ele
pode tudo, que não há direitos nem deveres a que esteja obrigado, a sua única lei é a sua vontade, não é compa-
nheiro de ninguém, antes é senhor de todos. Quão dignos de piedade, portanto, são aqueles que, perante exem-
plos tão evidentes, face a um perigo tão iminente, não aprendem com o que outros já sofreram!
Como pode haver tanta gente que gosta de conviver com os tiranos e que nem um só tenha inteligência
e ousadia que bastem para lhes dizer o que (no dizer do conto) a raposa respondeu ao leão que se fingia doente:
“— De boa mente entraria no teu covil; mas só vejo pegadas de bichos que entram e nenhuma dos que dele
tenham saído”.
Esses desgraçados só veem o brilho dos tesouros do tirano e ficam olhando espantados para o fulgor das
suas suntuosidades, deslumbrados com tanto esplendor; aproximam-se e não veem que estão a atirar-se para o
meio de uma fogueira que não tardará a consumi-los.
LA BOÉTIE, Etienne. Discurso da servidão voluntária. Ebook. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/plugin-
file.php/2014171/mod_resource/content/1/Servidao_voluntaria_Boetie.pdf. Acesso em: 03 set. 2023.

a) Quais características próprias ao Antigo Regime (absolutismo) podem ser destacadas dos textos de Ma-
quiavel e La Boétie? Complemente sua resposta citando um exemplo de monarquia absolutista e eviden-
cie as principais razões pelas quais ela pode ser assim classificada.
b) Utilize as ideias dos textos apresentados para analisar uma situação atual.

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