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Pontifícia Universidade Católica do Paraná - 2023

Paper apresentado na disciplina de marxismo, como exigência parcial para obtenção do título
de especialista em Filosofia do Direito no curso de pós-graduação lato senso em Filosofia do
Direito, por Geraldo Darif Saldanhas, sob a orientação do Prof. Dr. Vitor Stegemann Dieter.

Filosofia do direito: Impactos da teoria filosofica e econômica de Marx e Engels na vida


pessoal e profissional do discente.

O presente trabalho pretende analisar de forma sucinta os impactos da teoria filosofica e


econômica de Marx e Engels na vida pessoal e profissional do discente Geraldo Darif
Saldanhas, aluno da pós graduação, que é advogado por profissão.

Antes de adentrar de forma sucinta nos aspectos que me impactam as teoria de Marx e Engels,
necessário mencionar que este discente foi militar do exército nacional e da polícia militar do
Paraná, por vinte anos. Esta afirmação, por si só, demonstra a doutrinação conservadora e de
direita a que este discente foi submetido. Após despertar dessa alienação, iniciei meu estudos
no ensino superior, me graduando em direito há uma década e estou licenciando em filosofia,
no último período. O processo da doutrinação militar brasileira contra o marxismo é de
conhecimento geral, porém, existem alguns resistentes a essa forma de dominação cultural,
sendo eu um deles.

Os impactos da sintética leitura das obras de Marx e Engels e em especial, dos “Manuscritos
filosóficos econômicos”, foram avassaladores, lapidando ainda mais meu pensamento ético em
relação aos expropriados e perseguidos violentamente pela polícia burguesa, possibilitando a
vista mais próxima do real embate que se dá entre as classes.

Na profissão de advogado, embora não seja da área criminal, e sim da área trabalhista, penso
que a lei burguesa foi elaborada para proteger os poucos que são proprietários, contra a maioria
dos que não possuem nada, apenas seus corpos. Não partilho do pensamento expressado
largamente pelos conservadores de direita, demonstrado em um jargão antiético e popular
nestes tempos hodiernos, que dispõe: “ladrão bom é ladrão morto”, contrariamente, penso que
ladrão só o é, quem foi submetido ao devido processo legal, com o respeito aos direitos
constitucionais e após o trânsito em julgado, aliás, nos estados burgueses, a conclusão que se
tem, é que “ladrão mau é ladrão pobre”, já o “ladrão rico é bom e barão”, pela lógica das leis
que protegem os ricos e poderosos e quando existem, essas leis tem punição mais branda. O
mais deprimente em uma sociedade burguesa, é verificar no dia a dia, que as pessoas pobres
são abandonadas pelo estado, que deveria conceder o mínimo existencial para essas pessoas,
que são pobres não por escolha, mas por imposição intencional dos mecanismos de dominação
burgueses.

O sistema capitalista determina que o trabalho é a única alternativa que os expropriados


possuem para sobreviver, porém, ao revés, de forma estratégica, promovem políticas para
manter as taxas de desemprego em alta, o que aumenta a oferta de mão de obra barata e para os
desempregados sem alternativa para sobreviver, nem mesmo no mercado informal do trabalho
(precariado), resta infringir a lei burguesa, praticando furtos, alguns roubos e o consumo e o
tráfico de drogas proibidas. Importante considerar que esse sistema já encarcera em uma prisão
invisível esses expropriados, em ilhas de pobreza as margens dos condomínios de alto luxo
(favelas). A polícia burguesa é extremamente violenta contra esses infratores, muitas vezes
assassinados pela mesma polícia, e aos que escapam da pena capital sem o devido processo
legal, resta o encarceramento oficializado, que se dá em porões piores que os das sociedades
medievais, as penitenciarias, para o cumprimento de pena por crimes que muitas vezes essas
pessoas nem cometeram e ao término dos longos aprisionamentos, os devolvem a sociedade,
sem prepará-los para o mundo do trabalho, que sem outra opção, por imposição estratégica do
sistema capitalista, cometem novamente os mesmos crimes e voltam a ser encarcerados, em um
looping interminável.

Penso que essa lógica é proposital, com a finalidade de transformar a massa improdutiva em
lucros para os capitalistas licitadores, que auferem seus injustos lucros sobre os aprisionados
nas centenas de penitenciárias espalhadas no estado brasileiro, vendendo peças de vestuário,
alimentos, empregando parte dessa massa em oficinas que produzem produtos baratos para os
capitalistas ou alugando suas propriedades ao estado para a instalação destes ergástulos. Da
forma mais sintética possível, esta é a realidade em uma sociedade burguesa capitalista.

1. INTRODUÇÃO e DESENVOLVIMENTO

Para estabelecer os impactos filosóficos e econômicos de Marx e Engels na vida pessoal e


profissional deste discente, temos que analisar a lógica burguesa ao positivar a propriedade,
transformando-a em direito inalienável e como esse conceito de propriedade transformou a
economia ocidental, pela ascensão da burguesia em 1789, com a revolução francesa. Embora a
ideia de propriedade exista como fenômeno jurídico desde o alvorecer da história antiga, esse
conceito, no ocidente, passou a ter mais importância a partir da revolta dos barões ingleses
contra o rei João sem Terra, através da Carta Magna inglesa, no ano de 1215, a qual limitou o
poder da monarquia inglesa em detrimento dos aristocratas proprietários de terras, os vassalos,
que não tinham intenção em dividir com a realeza, o suserano, as terras que amealhavam nas
guerras entre si e contra outras monarquias.

Necessário traçar uma breve síntese sobre a origem do sistema capitalista, que começou nos
burgos1, aldeias de pessoas encasteladas, que o historiador francês Jacques Le Gof (2007,
p.81), cita que Roberto Fossier classificou esse agrupamento com o nome de encelulamento, pela
divisão das classes sociais dos habitantes, portanto,

Esse período do ano mil e das décadas seguintes é um


período essencial para a reestruturação social e política
do espaço da cristandade, e esta reestruturação deixou na
organização territorial da Europa marcas profundas.
Dada a importância do castelo feudal nesta nova
organização, os historiadores, para designá-la, tomaram
emprestado uma palavra italiana no grande livro de Pierre
Toubert sobre o Latium medieval: o incastellamento, o
encastelamento. Ampliando o vocabulário para o
conjunto do território medieval, Roberto Fossier propôs
falar de encelulamento. Quais são as células
fundamentais dessa organização? Não só o castelo, evi-

1Burgo: Na Idade Média, fortaleza guardada por um contingente militar que servia de abrigo aos habitantes da
povoação ao seu redor, em caso de ataques de inimigos. Disponível em https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/burgo - Acesso em 18 de dezembro de 2023.
dentemente, mas também outras três células de base: o
senhorio, a aldeia e a paróquia. O senhorio designa o
território dominado pelo castelo e engloba as terras e os
camponeses que têm o seu senhor. O senhorio
compreende, portanto, as terras, os homens, as rendas, ao
mesmo tempo que a exploração das terras e a produção
dos camponeses; e também um conjunto de direitos que o
senhor exerce em virtude de seu direito sobre o corpo da
nobreza feudal.

Esses agrupamentos de pessoas que habitavam dentro dos muros dos castelos dos aristocratas,
inicialmente eram compostos por membros do baixo clero, artesãos e comerciantes que em
momento anterior eram camponeses que conseguiam se libertar das garras do arrendatário das
terras e os estrangeiros sem posses. Habitavam também no burgo fortificado, soldados, a baixa
nobreza e os funcionários dos castelos. Essa pequena população dependia dos artesãos e das
pequenas manufaturas para suprir suas necessidades de produtos e para a fabricação de armas
para a guerra constante que os senhores dos castelos travavam. Esses burgos têm origem na
queda do império romano, quando houve uma fuga dos habitantes das cidades romanas, pelo
medo do constante saque dos bárbaros, para o campo. No início do século X, aproximadamente,
esses camponeses saíram dos campos e começaram a retornar para as cercanias dos castelos
que possuíam os burgos, passando a residir nos subúrbios desses castelos.

Com o aumento da população e a necessidade de suprir essa população dos objetos e dos bens
que então necessitavam para viver, houve um aprimoramento dos meios de produção artesanal,
que se expandiu, dando início a uma protoindustrialização, cujos proprietários eram os
burgueses, denominação dada aos comerciantes desses produtos, que além de serem
proprietários, eram donos dos comércios desses produtos. Por essa prática, com o passar do
tempo, começaram a enriquecer e assim, desejar ter mais poder.

Apesar de ricos, os burgueses sofriam restrições dos nobres e da realeza, que os impediam de
possuir terras e assim, ficarem mais ricos. Com a transformação desses burgos em cidades e o
aumento da população, os burgueses ficaram mais poderosos, levando-os a se insurgirem
contra o antigo regime, primeiro, de forma estratégica, pela transformação dos conceitos
jurídicos filosóficos até então aceitos, modificando-os a sua conveniência, e pela religião, prova
são os filósofos ingleses e franceses que escreveram sobre a criação do estado, a liberdade, a
propriedade e o direito a esses princípios e a destruição do conceito da origem divina da realeza,
o que levou a revolução francesa, em 1.789.

Antes da revolução francesa, a ideia de propriedade e sua proteção contra os expropriados, não
existia de forma oficial através de leis, existindo apenas legislações a respeito de regras do
comércio. Essa ideia só se transformou em lei positiva após a revolução francesa, ancorada em
ideias iluministas que deram suporte filosófico e religioso a revolução burguesa, revolução em
que o proletariado francês participou juntamente com a nova classe que surgiu na baixa idade
média, os proletários, iludidos com as ideais iluministas de propriedade, que davam a esses
expropriados a noção de serem proprietários, mesmo que essa propriedade consistisse apenas
em seu próprio corpo, para disporem dele como quiserem.

A estratégia burguesa utilizada para convencer os expropriados para ter sucesso na derrubada
do antigo regime foi, grosso modo, convencer todos os que não eram nobres, burgueses e do
clero, a pensar que eram proprietários, só que, a bem da verdade, os pobres dispunham apenas
do próprio corpo, o que naquele período histórico se pode considerar uma boa conquista, pois
antes eles não tinham direito à liberdade e a propriedade, ficando assim, esses proletários,
convencidos pelos burgueses a participar da revolução.

A democracia instalada após a revolução, a burguesa, era ilusória, como cita o comentador da
obra “Manuscritos Filosóficos Econômicos”, obra guia dessa atividade. Esse comentador,
Osvaldo Coggiola, no prefácio “150 anos do Manifesto Comunista”, ao se referir a Jean-
Jacques Rosseau e ao “Manifesto Comunista” (2010, p.22), disse que,

O caráter ilusório da democracia burguesa já fora


denunciado por Jean-Jacques Rousseau no século XVIII:
"O povo inglês pensa ser livre, porém engana-se
totalmente. É livre somente durante a eleição dos
membros do Parlamento: depois que estes são eleitos é
escravo, não é nada. A soberania não pode ser
representada: consiste essencialmente na vontade geral e
a vontade não se representa. É ela mesma ou é outra
coisa: não há meio-termo". O Manifesto colocou
positivamente a superação da natureza não democrática
do Estado constitucional: "[...] a primeira fase da
revolução operária é o advento do proletariado como
classe dominante, a conquista da democracia".
Democracia e domínio político da burguesia são
incompatíveis, não existe "Estado democrático sob
hegemonia burguesa" — e hipoteticamente sob
hegemonia proletária — mas ditadura burguesa sob
formas democráticas.

Marx e Engels eram alemães, os dois nascidos no estado alemão da Prússia, o primeiro nasceu
em 05 de maio de 1818 e o segundo, em 28 de novembro de 1820. Estes pensadores começaram
a escrever sobre as injustiças que existem no sistema capitalista e a alienação produzida nos
trabalhadores por esse sistema. Esses autores escreveram diversas obras que descreviam como
se davam as relações econômicas em qualquer sociedade humana, com enfoque principal no
sistema capitalista, entre elas, “O Capital”, “ O Manifesto Comunista”, os “Manuscritos
Filosóficos Econômicos”, e muitas outras. Os dois pensadores foram inéditos em descrever a
sociedade capitalista em que estavam inseridos e porque a existência desse modelo social. Para
isso, Marx e Engels criaram conceitos novos ou deram um significado mais abrangente a
antigos conceitos, que foram utilizados para explicar suas teorias sociais e econômicas.

As obras dos dois descreveram como se constituem as sociedades humanas e como acontecem
as lutas de classes na história e de forma específica, como isso aconteceu no modelo capitalista,
assim, segundo LASKI (2010, p.210), comentador do Manifesto Comunista de 1883, a ideia de
Marx e Engels sobre a luta de classes é definida histórica e socialmente, assim,

Não há razão para se negar que, em toda a longa extensão


da História conhecida, a luta de classes tem sido o
princípio central de seu desenvolvimento. É inegável
também que a luta de classes está intimamente ligada às
relações de produção de uma dada sociedade e à
capacidade de desenvolver as possibilidades gerais das
forças de produção em uma época determinada.

Desta forma, verifica-se que essa luta é histórica, e o longo caminho percorrido demonstra que
é fundamentada na luta entres os exploradores e os explorados, tornando-se mais especializada
com a ascensão da burguesia, que aboliu o antigo regime, a qual oprime e aprisiona os
proletários até os dias de hoje, exemplos no Brasil, são as reformas trabalhistas introduzidas
pela ascensão da direita golpista, representada por Temer em 2016 e por Bolsonaro em 2018,
as quais retiraram diversos direitos trabalhistas do proletariado brasileiro, conquistados a duras
penas e privilegiando a classe capitalista. A opressão do proletariado é patrocinada pelo estado
que foi apropriado pela burguesia, a qual reprime severamente o explorado da seguinte maneira,
LASKI (2010, p.210),

Numa análise minuciosa torna-se evidente que a classe


que possui os meios de produção usa o poder estatal para
salvaguardar tal posse, e tenta reprimir o aparecimento de
ideias e valores que a ameacem.

Portanto, os estados burgueses tendem a ser violentos contra as ações que atentem contra a
propriedade privada, exemplo foi a violenta repressão do exército prusssiano contra os tecelões
da Silésia, descrito no prefácio dos “Manuscritos Filosóficos Econômicos”, por Michael Löwy
(2010, p.12 e 13), citando o que Marx escreveu nas “Glosas críticas ao artigo: O rei da Prússia
e a reforma social”, na Gazeta Renana em 1848,

Segundo Marx, o levante silesiano de junho de 1844 era


dirigido não só contra as máquinas – como revoltas
similares na França e na Inglaterra (o assim chamado
“luddismo”) – mas diretamente contra o poder dos
patrões e dos banqueiros, assim como contra a
propriedade privada burguesa. o resultado político foi
que o levante acabou por reforçar “o servilismo e a
impotência” da burguesia.

A igual papel, se presta o aparelho judiciário burguês, punindo com mais severidade os crimes
contra a propriedade privada, utilizando o rigor absoluto da lei contra os expropriados, portanto,
o estado burguês tende a ser policialesco com a intenção proposital de usar esse aparelho de
estado para manter seus privilégios em detrimento dos expropriados.

Para Marx e Engels, a única forma que pode extinguir o sistema capitalista e o estado burguês,
e extirpar as injustiças, é a revolução dos proletários contra os burgueses, acabando com as lutas
de classe, (2010, p.57),

Mas qualquer que tenha sido a forma assumida, a


exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato
comum a todos os séculos anteriores. Portanto, não é de
espantar que a consciência social de todos os séculos,
apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha
movido sempre sob certas formas comuns, formas de
consciência que só se dissolverão completamente com o
desaparecimento total dos antagonismos de classes. A
revolução comunista é a ruptura mais radical com as
relações tradicionais de propriedade; não admira,
portanto, que no curso de seu desenvolvimento se rompa,
do modo mais radical, com as ideias tradicionais.

Essa revolução é necessária para esses autores, pois libertará todos os expropriados dessa
exploração, expressada na obra “O manifesto comunista” (2010, p.57), portanto,
Que as classes dominantes tremam à ideia de uma
revolução comunista! Nela os proletários nada têm a
perder a não ser os seus grilhões. Têm um mundo a
ganhar.

Desta maneira, para Marx e Engels, o único meio de sobrevivência justa da classe explorada é
acabar com as lutas de classe, extinguindo o estado burguês e igualando as classes nessa nova
forma de estado, o comunista, só assim não haveriam mais lutas e todos poderiam usufruir das
propriedades de forma igualitária.

2. A ALIENAÇÃO E O FETICHE DA MERCADORIA.

Para compreender como a luta dos proletários e capitalistas acontece, é necessário entender o
que é a alienação e, embora tenha diversos significados, o conceito de Marx sobre essa palavra
é diferente e original, pois esse autor entende que a alienação é uma espécie de aparato social
das sociedades burguesas, que transforma o trabalhador em consumidor do que ele mesmo,
utilizando sua mão de obra, fabrica, sem ter consciência do real valor do que produz, assim,
esse artefato que ele fabrica, segundo sua visão alienada por estratégia do capitalista, não o
pertence, pois é produto da venda de sua mão de obra ao capitalista, possibilitando a exploração
perpétua, HARVEY (2018, p.193), cita essa lógica, assim,

O trabalhador que cria valor é afastado (alienado) dos


meios de produção, do comando do processo de trabalho,
do seu produto e do mais-valor. O capital faz com que
pareça que muitos dos poderes inerentes (e dádivas
gratuitas) do trabalho e da natureza pertencem a ele e se
originam dele, porque é o capital que lhes confere
significado. Até mesmo a mente e as funções corporais
do trabalhador, assim como todas as forças naturais
livremente investidas na produção, aparecem como
poderes contingentes do capital, porque é ele que as
mobiliza.

O sistema capitalista utiliza de forma estratégica essa alienação, para manter o controle sobre o
trabalhador e a sua produção, porém, o detalhe interessante é que o trabalhador alienado é uma
pré-condição para a continuação desse sistema, desta maneira, de acordo com HARVEY, (2018,
p.193),

A alienação da relação com a natureza e com a natureza


humana é, portanto, uma precondição para a afirmação
da produtividade e dos poderes do capital. Além disso, a
produtividade do trabalho é conduzida por tecnologias
escolhidas pelo capital não apenas para confirmar seu
controle sobre o trabalhador, mas também para minar a
dignidade e os supostos poderes do trabalho tanto na
produção quanto no mercado.

Essa alienação, para Marx, não existia quando o trabalhador era um simples artesão ou possuía
uma pequena manufatura, pois era o dono de todos os meios de produção, até a venda final,
tendo consciência do real valor dos produtos que fabricava. Marx cita que o valor que o
consumidor/trabalhador paga pelo produto que ele mesmo fabricou, é acrescido com a mais
valia, que é o excedente somado ao lucro que o capitalista tem ao comprar a mão de obra do
trabalhador. A mais valia é o fundamento do lucro e da dominação capitalista sobre os
trabalhadores. Esse autor entende que os capitalistas tendem a maximizar de forma exponencial
seus lucros, explorando a classe trabalhadora, tentando baixar o máximo que puder o salário
desses trabalhadores, impondo a eles, jornadas de trabalho cada vez maiores, pelo mesmo preço.

Marx escreveu que há um exército de desempregados tentando obter as vagas de emprego que
surgem ao serem demitidos os trabalhadores que tomam ciência da exploração e das penosas
condições de trabalho e contra ela se insurgem, assim, esse exército reserva é criado de forma
estratégica pelo capitalismo, pois a tendencia é baratear o máximo que puderem a mão de obra,
obtendo assim maiores lucros.

O filosofo alemão também escreveu que no sistema capitalista existe um processo de reificação
(coisificação) do trabalhador, ou seja, a perda de consciência de si, diante do que produz,
transformando os produtos em algo quase humano, o que leva a fetichização da mercadoria.
Nesse processo de fetichização da mercadoria, esses trabalhadores, ao adquirirem esses
produtos produzidos pela sua mão de obra barata, sentem-se humanizados novamente, levando-
os ao consumismo, gerado pelo vazio existencial que o sistema capitalista produz.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS - CRÍTICA

Feitas essas grossas considerações, conclui-se que a leitura e o estudo das obras de Marx e
Engels, é essencial para os operadores do direito, em especial, os advogados, para conhecer a
realidade político jurídica como ela é de fato, portanto, esses profissionais precisam ler e
conhecer, mesmo que de forma superficial as obras de Marx e Engels, que desvelam o fator
econômico como preponderante na constituição das sociedades humanas e as lutas que se
travam nessa sociedades, entre os proprietários e os expropriados, para tornar a atuação
profissional de forma mais ética possível, com a finalidade de se buscar a justiça e combater as
injustiças, em que esferas forem, profissional ou social.

Para esse discente, essa não é a primeira vez que tem contato com o pensamento de Marx e
Engels, porém, nessa disciplina, embora o pouco tempo disponível para o estudo dos principais
conceitos de Marx e Engels, penso que houve uma lapidação dos conceitos anteriormente
aprendidos, antes desse curso de especialização.

De todas as disciplinas que estudei até esse momento no curso de especialização em filosofia
do direito, penso ser a mais importante, pois as demais não fornecem os instrumentos
necessários para compreensão dos mecanismos sociais burgueses e a apropriação do estado pela
classe burguesa, mantendo o “status quo”, com o fim da exploração dos trabalhadores e a
manutenção dos privilégios dessa classe dominante.

Por fim, cito como exemplo, excerto da obra “Il Gatto Pardo”, do escritor italiano Giuseppe
Tomasi di Lampedusa, nascido em Palermo, no dia 23 de dezembro de 1896 e falecido na cidade
de Roma, em 23 de julho de 1957. Esse escritor descreve de forma contundente a estratégia dos
aristocratas proprietários de terras na Sicília, quando da invasão da ilha italiana pelos
revolucionários que unificaram a Itália e aboliram os antigos regimes.

Na obra, o tema é a história do Principe de Salina, Don Fabrizio e sua família, cujo sobrinho,
Tancredi passou a lutar com os revolucionários e disse, pela boca de Lampedusa, “Se queremos
que tudo fique como está, tudo deve mudar”, ou seja, os aristocratas perderam seus títulos
nobiliárquicos, mas ao se misturar com os revolucionários, continuaram proprietários da terras
e explorando os trabalhadores da Sicília, mantendo os antigos privilégios.

Essa estratégia foi utilizada pela burguesia francesa ao iludir a massa trabalhadora para lutar
contra a realeza, incutindo nessa massa a ilusão de que eles também eram proprietários e
precisavam da liberdade e da igualdade, derrubando o rei em 1789.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rodrigo Estramanho de. SEGURADO, Rosemary. Aurora, Revista de Arte, Mídia
e Política. Os Dois Leopardos: Política, literatura e cinema em Lampedusa e Visconti.
Disponível em
https://www.pucsp.br/revistaaurora/ed6_v_outubro_2009/artigos/ed6/6_5_Rosemary_Rodrigo
.htm. – Acesso em 18 de dezembro de 2023.

Dicionário Michaelis online - Uol. Burgos. https://michaelis.uol.com.br/moderno-


portugues/busca/portugues-brasileiro/burgo - Acesso em 18 de dezembro de 2023.

HARVEY, David, 1935- A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI /
David Harvey ; tradução Artur Renzo. 1. ed. - São Paulo : Boitempo, 2018.

LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa / Jacques Le Goff; tradução de Jaime A.


Clasen. — Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

MARX, Karl, 1818-1883. Lutas de classes na Alemanha / Karl Marx e Friedrich Engels ;
[apresentação de Michael Löwy ; tradução Nélio Schneider]. – 1. ed. – São Paulo : Boitempo,
2010. il. – (Coleção Marx-Engels).

MARX, Karl, 1818-1883. Manifesto Comunista / Karl Marx e Friedrich Engels; organização
e introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Alvaro Pina e Ivana Jinkings] - 1.ed.
revista - São Paulo : Boitempo, 2010. il. - (Coleção Marx-Engels)

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