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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ANNE EVELIN DE OLIVEIRA SILVA

GABRIEL GOMES ALTINO ALVES CRUZ

LUCAS RAFAEL LIMA DOS SANTOS

LUÍSA MENDANHA LEÃO SILVA AMORIM

DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO

A origem do capitalismo (Ellen Wood)

Belo Horizonte

Setembro, 2020
1 - O que Marx chama de “acumulação primitiva”? Capitalismo começaria a existir sem
ela?

O processo de produção capitalista é constituído por um ciclo no qual o lucro é


necessário para fomentar a produção e o aumento dessa produção é o que gera o lucro. Dessa
forma, admitir a criação desse sistema significa pressupor que haja uma acumulação de
capital prévia, a qual foi causa primeira e criou oportunidade para a inauguração desse
processo de produção. Assim, o autor explicita e reúne sob a denominação de “acumulação
primitiva" as transformações que estabeleceram as bases da formação do sistema capitalista.
De acordo com Marx, essa acumulação “é apenas o processo histórico que dissocia o
trabalhador dos meios de produção” (p. 830). Dito isso, o autor enfatiza as modificações
intrínsecas à essa dissociação: a conversão de produtores independentes em trabalhadores
assalariados, que passaram a vender sua própria força de trabalho; e a transformação do
trabalho e dos meios de produção, juntamente com suas respectivas mercadorias, em capital.

Essa dissociação aconteceu de diferentes formas em diferentes países. Entretanto, o


processo histórico ocorrido na Inglaterra foi posto em destaque por Marx, em consequência à
relevância da maneira com que ocorreu, nesse país, a sujeição do trabalhador e consequente
exploração capitalista, por meio de um acontecimento principal: a expropriação dos
camponeses e produtores independentes.

Essa expropriação das terras comunais foi realizada de forma súbita e violenta, que
resultou numa massa de pessoas destituídas das instituições feudais e de seus antigos direitos,
deixando-as à deriva de uma exploração lucrativa do sistema capitalista ascendente. Essa
revolução agrícola fez dessas terras -após a destruição das propriedades dos camponeses que
nela viviam- propriedade privada de grandes senhores e nobres, evento que abriu espaço para
o surgimento do que, mais tarde, seria a base da classe de capitalistas industriais.

Além disso, todo esse processo incluiu extrema violência terrorista e aumento da
pobreza; a participação do poder político do Estado e a expropriação das propriedades
eclesiásticas; a transformação da produção agrícola em agricultura capitalista e das terras em
capital. Tudo isso, juntamente com a enorme dependência -fomentada, inclusive, pela ação do
Estado- desses trabalhadores em relação ao sistema de produção, formam os principais
aspectos da acumulação primitiva de capital, que cria uma concentração de renda e de terras
própria da origem do capitalismo.
2 - Como os “enclosures” se legitimam com a mudança de conceito de família (clã, como
unidade produtiva) e a unidade capitalista?

Em 1489, após o cercamento, ou enclosure, e a transformação de muitas terras de lavouras,


nas quais viviam grande parte dos lavradores independentes, em grandes pastos, que para
produzirem só precisava de um pastor, houve um grande descontentamento por parte da
população camponesa. Como consequência, houve a “decadência de cidades, igrejas, queda
de dízimos”(pág. 834) e, devido à pressão dos camponeses e do clero, o Rei proibiu esses
cercamentos.

Porém esses enclosures eram mais lucrativos que várias lavouras, uma vez que "Se todas
as terras caírem nas mãos de alguns poucos grandes arrendatários, os pequenos lavradores
serão transformados em pessoas que terão de ganhar a vida trabalhando para os outros e
forçadas a ir ao mercado para comprar tudo de que precisam... Haverá talvez mais trabalho,
pois a coação será maior... Aumentarão as cidades e as manufaturas, pois mais gente afluirá
para elas procurando emprego. Este é o sentido em que o açambarcamento das terras
naturalmente atua e em que, há muitos anos, tem realmente atuado neste reino.” (pág. 842).

Por isso, após muitas décadas, os cercamentos se legitimaram ao se tornarem parte da lei
por meio de “decretos com que os senhores das terras se presenteiam com os bens que
pertencem ao povo, tornando-os sua propriedade particular, decretos de expropriação do
povo.”(pág. 840). Em outras palavras, os cercamentos ficavam de acordo com a lei a partir do
momento que os grandes senhores de terras, que eram uma minoria e um dos poucos grupos
com poder no parlamento, adicionavam na lei que as terras seriam tomadas dos camponeses e
redistribuída entre eles mesmos.

3 – Em quais tipos de terras os cercamentos e expulsão de trabalhadores ocorreram?


Por que determinadas terras agricultáveis transformaram-se em floresta, no período?
Houve queda da produção agrária com tais fenômenos?

Os cercamentos de terras ocorriam principalmente nas terras comuns, que eram “A


propriedade comunal, (...) absolutamente diversa da propriedade da Coroa ou do estado (...),
era uma velha instituição germânica que continuou a existir sob cobertura feudal”(pág. 840),
no qual havia grande quantidade de pequenos lavradores, que plantavam e colhiam o
necessário para a subsistência.
Muitas terras, que até então estavam sendo usadas por esses lavradores, passavam a fazer
parte de um terreno muito maior, como visto em Hertfordshire, no qual “24 arrendamentos,
cada um com 50 a 150 acres em média, foram fundidos em 3 apenas, (...) cercaram as terras
comuns na mais ampla escala e a maior parte dos novos senhorios daí surgidos estão
transformados em pastagens; por isso, muitos senhorios não têm 50 acres arados onde
existiam antes 1 500”(pág. 842). Por isso, apenas uma pequena área da nova propriedade era
utilizada e a maioria dela acabava se tornando em florestas ou bosques.

Apesar disso, a produção agrária aumentou, uma vez que “A terra, antes coberta por
pequenos lavradores, estava povoada na proporção do que produzia; no novo sistema de
melhor cultivo e de maiores rendimentos, obtém- se a maior produção possível com a menor
despesa possível”(pág. 846). Isso significa que na terra, antes usada para o cultivo próprio, na
qual o indivíduo plantava apenas para sua família, passou-se a produzir em maior quantidade
para vender.

4 - Como as políticas públicas incidentes sobre o trabalho objetivavam afetar os salários


e quantidade de trabalhadores? Elas eram eficientes?

Os antigos camponeses, ao se tornarem trabalhadores livres mas dependentes desse


sistema econômico ascendente, foram expostos a uma legislação extrema, aprovada em
função da maximização do mais-valia proporcionado pelo sistema capitalista. Esses
produtores expropriados, aos poucos, foram sendo absorvidos pela produção capitalista
crescente, cuja demanda de mão de obra ainda era muito menor do que a grande massa de
camponeses que perderam seus direitos e seu meio de subsistência. Dessa forma, muitas
dessas pessoas acabaram se tornando ladrões e vadios, que viveram sob uma legislação
sanguinária que obrigava essa população a trabalhar de forma análoga à escravidão.
Além disso, a classe trabalhadora que acabou por se integrar nesse sistema foi
dominada pelo capitalismo. Essa população era forçada a vender, como meio de subsistência,
a sua força de trabalho, admitida sob a forma de capital; e o seu salário, que já se configurava
em níveis baixos pelo tamanho da oferta de mão de obra na época, passou a ser regulada pela
ação do Estado. Segundo Marx, “A burguesia nascente precisava e empregava a força do
estado para “regular” o salário, isto é, comprimi-los dentro dos limites convenientes à
produção de mais-valia" (p. 854-855). Dessa forma, foi criada uma legislação, por meio do
“Estatuto dos Trabalhadores", que acabou sendo bem-sucedida em relação ao seu objetivo
final: a redução dos salários visando o lucro e a máxima exploração dos trabalhadores, no
início do crescimento da produção capitalista. Assim, foi estabelecido um máximo legal que
poderia ser pago aos assalariados e a coligação de trabalhadores foi criminalizada. Ao passar
do tempo, essas leis acabaram se tornando dispensáveis, pois o sistema capitalista tinha se
fortalecido suficientemente para promover essa exploração por si só, instituindo leis próprias
em suas fábricas.

5- A inflação foi importante para a gênese dos arrendatários capitalistas? De que forma
ela contribuiu para o fenômeno?

A inflação contribui de forma significativa para a gênese dos arrendatários capitalistas,


não sendo o único fator, mas aliada às formas de exploração, por exemplo o trabalho
assalariado no qual era retirado a mais-valia (excedente produtivo) de quem realmente produz
(proletário).
O capitalismo, por sua vez, tem na inflação a forma de transferência de dinheiro de
quem tem renda fixa para quem tem renda flutuante. Desse modo, o cidadão que
anteriormente se dava por satisfeito ter suas riquezas e produção para a subsistência, agora se
vê motivado a investir seu dinheiro caso queira ter uma riqueza proporcional ao longo dos
anos. Os que abdicaram dessa nova forma de acumulação acabaram por terem suas riquezas
diminuídas ao longo dos anos.
A inflação se deu logo após os cercamentos, assim, o grande proprietário de terra via
proveito em locar as suas terras para os camponeses capitalistas o que valorizava os itens de
cultivo para finalidades comerciais, e consequentemente as terras que agora se firma como o
ponto principal de riqueza.
Fator também que marcou o início da inflação foi que a camada assalariada da
sociedade presente a época não teve seu salário reajustado o que finda numa maior pobreza
destes indivíduos, pois a mercadoria consumidas ficaram significativamente mais caras.
6- O que a dívida pública tem dos Estados a ver com a acumulação primitiva?
A dívida pública, segundo Marx, marca o início da riqueza nacional que “integra a
posse coletiva dos povos modernos” e tomou conta de toda a Europa durante o período
manufatureiro.
O sistema de crédito público alavanca a acumulação primitiva transformando dinheiro
improdutivo e força improdutiva em capital “sem que, para isso, tenha necessidade de se
expor aos esforços e riscos inseparáveis da aplicação industrial e mesmo usurária.” Aliado a
isso, a dívida pública fomenta o crescimento de bancos (devido aos constantes empréstimos
realizados aos Estados) e a moderna bancocracia. Desse modo, essas organizações têm
crescimento exponencial, devido ao monopólio da emissão monetária. Por outro lado,
qualquer cidadão que resolvesse falsificá-las seria devidamente punido.
O empréstimo de capital possibilita os governos a cobrirem seus gastos sem que o
contribuinte perceba de forma clara e imediata. Entretanto, isto gera um aumento significativo
dos impostos. Marx define tal sobrecarga tributária como um princípio que faz com que os
Estados constantemente entrem no pedido de crédito, o que resulta em uma carga cada vez
maior sobre os trabalhadores. Dessa forma, o trabalhador se torna cada vez mais submisso e
aplicado ao seu trabalho.

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