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Introdução
Professor: Alysson André Oliveira Cabral
François Quesnay foi o grande nome da escola, pois com seu Tableau
économique (publicado em 1758), foi mais longe que os demais [Jaques
Turgot, Marquês de Mirabeau, Mercier de la Rivière, François Le Trosne] na
demonstração da tese central da produtividade do setor agrícola, por meio
da construção de um esquema de registro das transações econômicas que
viria a ser um esboço da contabilidade econômica posteriormente
desenvolvida. A hipótese central era demonstrada claramente com o
exemplo das ervilhas: 100 ervilhas nas mãos de um cozinheiro se
transformam num prato elaborado com 100 ervilhas, enquanto 100 ervilhas
nas mãos de um agricultor se transformam em 1.000 ervilhas após um ciclo
produtivo. O cozinheiro aqui representa todas as demais classes existentes,
consideradas improdutivas nessa concepção, classes que apenas repassam o
valor trabalhado com seu trabalho, ao tempo em que o agricultor é
produtivo, gera mais produção e, consequentemente, mais valor. Essa
máxima vai ser desenvolvida no tableau, mas está contemplada apenas
implicitamente nos conceitos de preço, que trata as atividades de forma
indiferenciada (MARTINS, 2021, p. 52).
áreas para obter ganhos de escala e resultaria em aumento tanto da produção quanto
da produtividade no campo.
Outra importante corrente, também influenciada pelas ideias de Marx, foi
desenvolvida a partir dos escritos de Rosa Luxemburgo e Alexander Chayanov.
Luxemburgo acreditava que o capitalismo necessita de regiões (ou atividades) não
capitalistas para assegurar a reprodução ampliada do capital, e Chayanov de que a
produção camponesa resistiria porque as decisões de produção não seguiria a lógica
capitalista de comparar lucro com custo de produção, mas seria resultado da
comparação entre a necessidade de sobrevivência e o esforço necessário para realizar
tal produção. Assim, haveria a possibilidade de coexistência da agricultura capitalista
com a agricultura camponesa.
Os clássicos trataram a agricultura como atividade suplementar da indústria,
responsável por fornecer tanto matérias-primas para serem transformadas em
produtos industriais quanto gêneros alimentícios para alimentar os operários. Por
isso, a preocupação desses autores com as implicações da agricultura sobre os custos
de produção industrial. Nessa perspectiva, a propriedade de grandes áreas de terras
e o consequente poder dos latifundiários são encarados como um entrave ao processo
de acumulação de capital, o que ficou conhecido na literatura como questão agrária.
A renda obtida pelo monopólio da terra pelos latifundiários ficou conhecida
como renda absoluta, renda territorial ou renda fundiária. O conceito foi
desenvolvido por Marx.
A solução para a questão agrária nas economias capitalistas avançadas foi
atacar o poder monopolista dos latifundiários, por meio da realização de Reforma
Agrária (OLIVEIRA, 2007).
No Brasil, a questão agrária continua sem solução mais de cinco séculos após a
chegada dos portugueses, quase dois séculos após a Independência, mais de 125 anos
de abolição da escravidão e do advento da República e mais de 30 anos do início da
mais recente fase democrática na História do país, a Nova República.
Durante todo esse período, nenhuma política pública foi efetivamente
implementada com vistas à alteração na estrutura fundiária. As parcas propostas
foram no máximo esboçadas, sem efetivamente lograrem transpor a fronteira entre as
ideias e a ação.
A estrutura fundiária brasileira guarda os traços principais da política de
ocupação do espaço implantada pelo sistema sesmarial. O campo ainda preserva a
configuração que os portugueses estabeleceram quando ocuparam esse espaço, ao
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o processo que cria a relação-capital não pode ser outra coisa que o processo
de separação de trabalhador da propriedade das condições de seu trabalho,
um processo que transforma, por um lado, os meios sociais de subsistência e
de produção em capital, por outro, os produtores diretos em trabalhadores
assalariados. A assim chamada acumulação primitiva é, portanto, nada mais
que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção
(MARX, 1996, p. 340).
Onde a terra é muito barata e todos os homens são livres, onde cada um
pode à vontade obter uma parcela de terra, o trabalho não somente é muito
caro, no que diz respeito à participação do trabalhador em seu produto, mas
a dificuldade está em conseguir trabalho combinado a qualquer preço
(WAKEFIELD, [1833], apud MARX, 1996, p. 386-387).
Ainda:
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__________
¹ Este texto é uma adaptação de “Reforma Agrária no Brasil: A reforma (Im)Possível”, tese de
doutorado do autor, defendida em 2021, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
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