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Português – Ensino Secundário

Ficha de Gramática
Lê o texto.

Perceção vs. realidade

Vivemos num tempo estranho e novo de autoconvencimento: o de julgar que, só por termos acesso rápido
à informação, proveniente aparentemente de várias fontes e de diversos locais do mundo, possuímos um
conhecimento largo e preciso sobre a realidade que nos rodeia. É natural que isto aconteça. Mesmo quem não
lê revistas ou nem se demora mais do que cinco segundos a olhar para os títulos de primeira página de um
5 jornal sente-se rapidamente informado quanto ao que de mais ou menos importante aconteceu nas últimas horas.
Sem precisar, muitas vezes, de tomar qualquer ação ou de procurar informação, as notícias – e, infelizmente,
também as “não-notícias”... – chegam-lhe através de alertas no smartphone, por uma mensagem de um “amigo”
da rede social preferida ou pela exposição a um dos muitos ecrãs com que convivemos, de forma permanente.
Igualmente, sem qualquer esforço suplementar, qualquer um pode participar em discussões intermináveis sobre
10 os mais diversos assuntos e realidades do mundo, reforçando a ilusão de que pode testar os seus argumentos,
as teorias que defende ou o seu próprio conhecimento – sabendo, todavia, que será confrontado com muito
mais posições definitivas sobre tudo e sobre nada do que com as sempre necessárias dúvidas sistemáticas
que têm a função de iluminar a mente de quem participa no debate.
O que sabemos hoje, isso sim, é que raramente na História foi tão generalizada a diferença entre
15 a realidade propriamente dita e a perceção que dela temos; entre aquilo que julgamos conhecer e o
que conhecemos realmente, e como, de forma sistemática e globalizada, as diferentes perceções vão agora
construindo, no fundo, diferentes visões da realidade. O pior é que em grande parte essas perceções se
generalizam, atiçadas à custa do medo e, em simultâneo, da arrogância de quem acha que sabe tudo.
A verdade é que as nossas perceções da realidade vão sendo formadas por visões parcelares dessa
20 mesma realidade. Só que, sem o sabermos, tendemos sempre a avançar depressa para generalizações –
que se revelam erradas, na maior parte dos casos, porque não têm qualquer base mensurável ou científica, e
são apenas fruto de um conjunto de opiniões ou de leituras apaixonadas dos acontecimentos. Uma das
generalizações mais comuns – e perigosas – é a de pensar que o mundo está cada vez pior. Mas não é verdade:
conforme cada um pode comprová-lo ao ver os dados internacionais compilados por um grupo de investigadores
25 da Universidade de Oxford, no site Our World in Data. Também tendemos a pensar, individual e coletivamente, que
estamos no centro do mundo e que, à nossa volta, os momentos de pessimismo ou de otimismo são partilhados
da mesma maneira.

GUEDES, Rui Tavares, 2019. “Perceção vs. realidade”. In Courrier Internacional, n.º 275, janeiro de 2019 (p. 6)

Responde ao questionário anexado à atividade 2, selecionando, em cada item, a opção correta.

Bom trabalho!

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