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METODOLOGIA DE ESTUDO DE INVESTIGACAO CIENTIFICA

Licão 1 – Experiência

Experiência

Introdução

Você vai iniciar esta lição colocando-se a si mesmo uma questão central da pesquisa científica que está relacionada com a
maneira como é obtido, em geral, o conhecimento. Você pode indagar-se sobre como é que construímos o conhecimento
que temos. Como é que se aprende a conhecer o mundo em que vivemos? Você pode imaginar que conhecer significa
apreender a compreender algo. Então como é que o Homem/Mulher, como as crianças, como os jovens e os adultos buscam
a compreensão da natureza dos factos e dos fenómenos naturais e sociais e do meio-ambiente? Como buscam o
conhecimento que têm e que não tinham? Ao completar esta lição, você será capaz de:

Objectivos

a) Distinguir o conhecimento científico de outros tipos de conhecimentos;


b) Descrever o papel da experiência e da argumentação na construção do conhecimento científico;
c) Descrever as limitações do conhecimento construído à base do senso comum;
d) Identificar erros ou limitações da construção do conhecimento quando este se restringe à experiência pessoal – devido
a observações inapropriadas, não aprimoradas ou generalizações precipitadas;

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Actividade

Aqui, você vai retomar as questões já expostas anteriormente:

1. como é que construímos o conhecimento que temos?


2. Como é que se aprende a conhecer o mundo em que vivemos?
3. Como é que o Homem/Mulher, como as crianças, como os jovens e os adultos buscam a compreensão da natureza
dos fenómenos naturais e sociais e do meio-ambiente?
4. Como buscam o conhecimento que têm e que não tinham?

Elabore as respostas a estas questões, individualmente ou em grupo usando no máximo duas páginas.

Você pode agora considerar um outro exemplo: a tarefa de colocar um remendo numa câmara da bicicleta é deveras
muito difícil para um jovem dos seus 8 ou 9 anos. Imagine e descreva como uma criança chega ao conhecimento de
remendar a câmara da bicicleta. Busque outros exemplos concretos.

Para responder às questões acima descritas, vamos inicialmente afirmar que o conhecimento é construído a partir e
através da experiência, da argumentação e através da pesquisa/investigação. Mais tarde você vai aperceber-se de que
a combinação destes aspectos, portanto da lógica e da argumentação e da pesquisa desempenham finalmente um papel
preponderante para a construção do conhecimento. Vamos ilustrar isso no quadro de discussão seguinte, pois você já
se apercebeu de que não é nada fácil perceber o conteúdo desta afirmação. Precisamos, antes de mais, de ter uma ideia
sobre o significado dos termos usados.

O que é isso de experiência? O que é uma argumentação? O que tem a ver a pesquisa e a argumentação com a
construção do conhecimento científico?

Experiência A palavra ‘experiência’ tem um significado na linguagem corrente e um outro na terminologia científica, não
obstante em amos, o termo ‘experiencia’ inclui um grande número de factores e de fontes de informação.

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Desafio: Identifique na sua língua maternal o termo apropriado e equivalente ou com o mesmo significado da palavra
‘experiencia. Procure verificar que significados são atribuídos ao termo! Esta palavra tanto pode significar o acto de
experimentar, quer se entenda como conhecimento imediato de uma realidade dada como pode também descrever
actividades e acções específicas relacionadas com o desenvolvimento da experiência pessoal envolvida em várias situações
da vida, como sejam:

1. Trabalho do aluno e do investigador no laboratório (neste caso, a experiência ou a experimentação aparece como
conhecimento de uma realidade provocada no propósito de saber algo, particularmente o valor de uma hipótese científica).

2. Realização de uma prova de avaliação na sala de aula (certamente que você acumulou já uma certa experiência ao longo
da vida estudantil que permite que você planifique o tempo disponível e se organize da melhor maneira e atendendo ao
trabalho de estudo realizado, para responder às questões de uma prova ou exame escrito);

3. Experiência adquirida na vida (crianças e jovens órfãos de pais vítimas do HIV/SIDA);

4. Ideias e conhecimentos baseados em algo aprendido por simples observação ou a partir de informações vindas dos mais
velhos;

5. Observações acidentais ou ao acaso de actividades ou das acções realizados por outros na vida, ou seja, no trabalho, na
escola, no desporto, no jardim infantil, etc.

6. Conhecimentos obtidos por simples observação acidental dos factos e dos fenómenos da natureza e/ou da vida social;
existem muitas limitações do conhecimento quando este é obtido e se restringe unicamente à mera experiência pessoal ou
quando este se baseia simplesmente na forma intuitiva ou se apoia em algumas observações acidentais (portanto não
acuradas) de uma dada realidade experiencial. Você, como iniciante de pesquisa, já observou que existe um conhecimento
empírico ou vulgar. Esta definição é feita simplesmente para esclarecer a ideia de que este conhecimento não está
fundamentado ou enraizado num método; não se identifica um método na produção do conhecimento vulgar. Ele é adquirido
ao acaso. Geralmente é um conhecimento popular. Muitos autores utilizam a terminologia senso comum para poder referir-

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se a todos estes aspectos. Na maioria das vezes, as ideias e conhecimentos adquiridos pela via do senso comum levam a
generalizações precipitadas. O senso comum refere-se ao conhecimento obtido geralmente quer de forma espontânea e
intuitiva, quer à base de crenças e tradições enraizados na própria cultura. Muitos dos conhecimentos baseados no senso
comum parecem óbvios. Portanto, o conhecimento baseado no senso comum refere-se a descrições, esclarecimentos e
explicações produzidas de forma óbvia. Embora óbvias, as afirmações elaboradas não são necessariamente verdadeiras.
Por exemplo, a História da Física está repleta de exemplos que mostram a evolução, ou seja, a transformação de ideias e
de modelos mesmo dentro da ciência. Este processo ocorre, obviamente, também fora dos domínios da ciência. Por vezes,
a evolução e a transformação de ideias e de conceitos ligadas ao senso comum ocorre tanto fora como dentro do domínio
da ciência. Um exemplo interessante na história foi (e talvez é) a questão sobre se é o SOL que gira em torno da TERRA ou
é a TERRA que gira em torno do SOL?

Durante muito tempo, acreditou-se que o Sol girava em torno da Terra. Também algumas pessoas chegaram a pensar que
uma determinada raça fosse superior às outras. Afinal ainda em África houve genocídios que devastaram de forma
catastrófica e desumana populações de determinadas regiões no RUANDA por razões étnicas. Depreende-se desta análise
que o senso comum necessita da análise e crítica científica. A ciência não pode dispensar o senso comum, afinal os próprios
cientistas encontram-se impregnados na cultura e no meio em que vivem sob influência de conceitos e ideias óbvias de uma
determinada realidade. O que gostaríamos de sugerir para você como investigador (afinal você acaba de se iniciar agora) é
a necessidade de assumir uma nova atitude de observação aturada dos fenómenos da natureza, sociais e culturais e pautar-
se pela busca incessante da verdade e da explicação e da razão de ser das coisas. Para isso, você vai precisar de conhecer
e aprender a identificar problemas, a elaborar as questões e as hipóteses e a adoptar os métodos de investigação
apropriados. Curiosamente, as coisas começam pelos problemas. Certamente você já se apercebeu de que geralmente
onde o ser humano enfrenta dificuldades ou não possua a capacidade para a resolução de problemas, ele recorre à
experiência de outros incluindo às autoridades, sobretudo, à autoridade científica (Veja que você pode considerar-se como

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autoridade científica quando o seu sobrinho não consegue remendar o pneu da bicicleta ou não consegue acertar uma
equação de uma reacção química ou não pode calcular a densidade a partir do volume e da massa de um dado corpo.

Para todos os efeitos, podemos considerar autoridade científica um especialista qualquer, um cientista, um professor, um
político, um familiar e um amigo seu, etc.) desde que este seja detentor de uma experiência valiosa, estudada e
fundamentada no conhecimento profundo. Mas mesmo uma autoridade científica é falível; “ninguém é infalível”, isto é,
ninguém é dono exclusivo da verdade e ninguém está acima da verdade.

Sumário

Você acabou de desenvolver e reconhecer o significado multifacetado do termo ‘experiência’. Não foi nossa intenção esgotar
o tema. Você pode continuar o debate. Mostrámos que o conhecimento pode estar incorporado na experiência pessoal e,
consecutivamente, ser o resultado de um trabalho sistemático. Quando o conhecimento pessoal é unicamente baseado em
observações inapropriadas, não acuradas e não sistemáticas, incorrese na produção de generalizações precipitadas sem
nenhuma base sustentável.

Nas ciências naturais (física, química e na biologia) o termo ‘experiência’ tem um significado específico relacionado com o
trabalho do aluno e do investigador no laboratório. Neste caso, a experiência ou a experimentação aparece como
conhecimento de uma realidade provocada no propósito de saber algo, particularmente o valor de uma hipótese científica.
É a chamada experimentação experimental destinada à verificação de hipóteses.

A experiência é um procedimento científico que procura gerar uma realidade (dita realidade provocada) agindo sobre os
objectos e processos da realidade de forma consciente e sistemática. A experimentação envolve complexas operações
mentais e motoras como as de planificar, observar, prognosticar, reexaminar/verificar e avaliar. Além disso, os órgãos dos
sentidos desempenham um grande papel na observação e registo pormenorizado do fenómeno em estudo.

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Uma grande limitação à produção científica está relacionada com o senso comum. Quando a produção de conhecimento se
restringe ou se baseia exclusivamente no senso comum, incorre-se no risco de na sua produção validar-se ideias erradas e
com várias limitações e, por vezes com consequências nefastas à própria sociedade.

Autoridade científica: especialista, cientista, professor e a literatura científica detentora de uma experiência valiosa, estudada
e fundamentada do conhecimento profundo.

Auto-avaliação

1. Explique o que distingue o conhecimento científico de outras formas de conhecimento?


[Resposta: O método científico. O conhecimento científico é construído com base em observações sistemáticas]
2. Explique o termo “experiência” tendo em conta que este termo “ tem um significado multifacetado!
[Resposta: A palavra ‘experiência’ tem um significado na linguagem corrente que se refere ao conhecimento obtido
pela prática. Assim o termo ‘experiencia’ subsoma um grande número de factores e de fontes de informação O
significado dado ao termo “experiência” na linguagem científica refere-se ao acto ou efeito de experimentar: para
significar conhecimento imediato de uma dada realidade (observação experiencial) ou conhecimento de uma realidade
provocada, no propósito de saber algo, particularmente o valor de uma hipótese científica (experimentação
experimental).
3. Discuta e exemplifique as limitações do “senso comum”!
4. Elabore alguns exemplos de “generalizações precipitadas”
5. Elabore alguns exemplos de “observações não acuradas”!
6. Dê exemplos do senso comum no ensino de física em Moçambique. Discuta cada caso. Elabore as etapas de
transformação do senso comum numa concepção científica, nos exemplos mencionados.

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