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ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL MARECHAL MASCARENHAS DE MORAES

Atividade 5 - Filosofia Turmas: MM15/16/17/18 – Professor: Marcos Pedroso


Nome: Turma: Data:
A dúvida outro questiona ou propõe, é que nos abrimos
Vamos concentrar agora nossa atenção sobre verdadeiramente para uma troca de percepções e
uma atitude importante no processo de filosofar: a dúvida. reflexões e para o aprendizado. Daí a importância do
Ela sintetiza os dois primeiros passos da experiência diálogo.
filosófica – o estranhamento seguido do questionamento. Nesse processo, podemos descobrir que a outra
Veremos adiante que o ato de duvidar nos abre, pessoa – que observa o mundo a partir de uma
com frequência, a possibilidade de desenvolver uma perspectiva diferente da nossa – percebeu coisas que não
percepção mais profunda, clara e abrangente sobre tínhamos percebido ainda, notou problemas nos quais não
diversos elementos que compõem nossa existência. havíamos pensado até então e vice-versa. Isso amplia
Indagação - O pensamento busca novos nossa maneira de ver as coisas e a nós mesmos – nossos
horizontes horizontes –, alargando também nossas possibilidades de
A importância de perguntar, ter dúvidas, mesmo escolha para a construção – individual e coletiva – de uma
que provisoriamente, é algo desejável para alcançar um vida mais justa, sábia, generosa e feliz.
conhecimento maior. Por que será, então, que as pessoas Atitude filosófica
tendem a expressar poucas dúvidas, a fazer tão poucas Como você já deve ter percebido, a filosofia é
perguntas umas às outras em seu dia a dia? uma atividade profundamente vinculada à dúvida e às
Isso pode ser observado, por exemplo, na sala de perguntas. Portanto, para aprender a filosofar, é
aula. Quando uma professora ou um professor pergunta à fundamental adotar uma atitude indagadora. Como afirmou
classe se alguém tem alguma dúvida sobre o que acabou o pensador alemão Karl Jaspers (1883-1969), “as
de expor, qual é a reação mais comum? Silêncio ou perguntas em filosofia são mais essenciais que as
algumas perguntas tímidas. A maioria tem alguma dúvida – respostas e cada resposta transforma-se numa nova
ou muitas dúvidas –, mas não ousa expressá-la. Essa pergunta”.
postura ocorre também em universidades, empresas, Isso ocorre justamente porque a filosofia busca
encontros culturais, almoços e jantares, mesas de bar etc. essa ampliação da paisagem e seus horizontes: cada
Por que isso é tão frequente? resposta (cada paisagem e horizonte conquistados) gera
Uma explicação pode estar na dificuldade de um novo terreno para dúvidas e perguntas (uma nova
expressão, isto é, na dificuldade de encontrar as palavras paisagem, com mais um horizonte a ser explorado).
certas para expressar a dúvida que se tem, o que é muito Assim, mesmo que você não tenha nenhuma
comum. Outra razão possível seria que grande parte das intenção de se tornar um filósofo ou uma filósofa,
pessoas não ousa expressar sua dúvida por medo de falar desenvolver uma atitude indagadora e “escutadora”, isto é,
em público. Esse temor também é bastante comum. O filosófica, pode ser de grande utilidade em muitos
desenvolvimento de maiores habilidades de expressão momentos de sua existência.
linguística e de comunicação oral poderia mudar esse Na infância, principalmente nos primeiros anos,
cenário. essa atitude é bastante comum ou natural. A maioria das
Pode haver, porém, outro motivo que nos parece crianças vive mergulhada no encantamento da surpresa,
ainda mais fundamental: muita gente acredita, mesmo sem da novidade, da descoberta, que se desdobra em
estar consciente disso, que ter dúvidas e perguntar é interrogações intermináveis: “o que é isso?”, “o que é
expor uma fragilidade, um sinal de dificuldade intelectual aquilo?”, “por que isso é assim?”, “como você sabe?” e
ou de falta de “conhecimentos”. Como nossa cultura assim por diante. Desse modo, junto com outras
valoriza muito a inteligência e a informação (ou, pelo experiências, elas vão formando imagens, ideias,
menos, o parecer inteligente e bem-informado sobre tudo), conceitos dos diversos elementos que compõem a
poucos se arriscam a ser interpretados como tolos, realidade. Por exemplo:
ignorantes ou confusos ao fazer uma simples pergunta. – Mãe, o que é tulipa?
Assim, a conversação entre as pessoas costuma – É uma flor, filha.
ser, com frequência, uma sucessão de monólogos ou de – Uma flor como?
enfrentamentos, em que cada um dos interlocutores está – Uma flor muito delicada e bonita, com a forma de um
mais preocupado em dar o contra ou exibir seus sino, só que invertido, com a boca para cima.
“conhecimentos”, suas certezas, do que em entender o – Que cor tem?
outro ou aprender com ele– ou junto com ele. Em resumo, – Tem tulipa de tudo quanto é cor: vermelha, amarela,
o que está em jogo é mais o amor-próprio, a vaidade branca, lilás.
pessoal do que a aprendizagem. E, quando não entram – E por que a gente não tem tulipa no nosso jardim?
nessa disputa, as pessoas “optam” pelo silêncio. O silêncio – Porque é preciso saber cultivar essa planta, ela vem de
de quem não apenas não fala, mas também não ouve. regiões de clima frio, como a Holanda...
Isso tudo nos parece um grande equívoco. Não – Holanda? onde fica a Holanda?
há nada mais inteligente do que perguntar. Perguntas são, E assim por diante. Às vezes, as crianças dão
no mínimo, a expressão do desejo de avançar uma reviravolta nas questões que abordam, fazendo
continuamente no conhecimento sobre o mundo e as perguntas insistentes e até geniais, verdadeiras torturas
pessoas, até o final de nossas vidas. Quanto mais se vive, para os adultos, que se veem obrigados a parar e pensar
mais se aprende, desde que haja abertura para isso. sobre as coisas. Com o passar dos anos, porém, a vida vai
Fazer perguntas pode revelar também um deixando de ser novidade: elas mergulham no cotidiano
interesse por nossos semelhantes – pelo que o outro das respostas prontas e “acabadas” e, de modo geral,
pensa, sente e é. Assim, o gosto pela indagação costuma esquecem aquelas questões para as quais nunca
vir aliado ao gosto pela escuta, pois apenas quando nos conseguiram explicação.
dispomos a escutar, dando a devida atenção ao que o
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A atitude filosófica constitui, portanto, uma suspensão do juízo – assim se denomina a interrupção
espécie de retorno a essa primeira infância, a essa temporária do fluxo de ideias prontas que uma pessoa
maneira de ver, escutar e sentir as coisas. É como possui sobre determinado assunto. É uma espécie de
começar de novo na compreensão do mundo por meio da duvidar das próprias crenças. Por exemplo:
dúvida e de sucessivas indagações. Tenho o seguinte juízo: “Ele é mau”.
É claro que esse “começar de novo” não é Suspensão do juízo: “Ele é mau?”, “o que é ser
possível no sentido literal da expressão, porque você já mau?”, “Como ele é?” e assim por diante.
conhece, sente e imagina muitas coisas a respeito do Para que serve suspender temporariamente os
mundo, das pessoas e de si mesmo ou si mesma, e não é juízos? Para escapar dos limites impostos por nossos
possível apagar toda essa vivência. Você já tem um preconceitos e permitir que outras percepções e reflexões
“repertório” de conceitos, imagens e sentimentos sobre afluam à nossa mente. Novamente aqui a disposição para
tudo o que foi fundamental para sua existência até este escutar revela-se muito importante, pois é somente dessa
instante, mesmo sem ter consciência disso. Então, é forma que nos abrimos à possibilidade de reunir um
normal que você se mova pela vida orientado ou orientada número maior de antecedentes ou conhecimentos
por esse “mapa”, sem precisar fazer tantas perguntas fundamentais sobre o assunto que estamos investigando.
quanto uma criança, que ainda não montou seu próprio Somente depois de cumprir esses passos é que
“repertório”. podemos voltar a formular um juízo, isto é, nossa opinião a
Há momentos, porém, em que o “repertório” que respeito do tema investigado, agora de maneira mais
uma pessoa tem não serve para enfrentar determinada estruturada e justificada: sob a forma de um raciocínio ou
situação: não é completamente satisfatório, amplo, argumento.
renovador ou “criativo”. É então que surge a quebra, o A dúvida filosófica não é, portanto, ociosa, não é
estranhamento (que mencionamos anteriormente) em uma especulação vazia ou fútil, nem constitui uma prática
relação ao fluxo normal do cotidiano. Trata-se de uma meramente destrutiva, um questionar por questionar, uma
oportunidade para começar a pensar na vida de uma chatice de quem não tem o que fazer (o chamado “espírito
maneira filosófica, isto é, para começar a indagar e de porco”). A pessoa que a pratica visa se articular
duvidar. racionalmente no sentido de construir uma explicação
Dúvida filosófica sólida e bem fundamentada, um conhecimento claro e
É nos momentos críticos de quebra e confiável sobre o tema que é objeto de sua preocupação.
estranhamento do cotidiano que costumam surgir dúvidas Regra da razão
sobre temas fundamentais e permanentes da existência Para construir explicações sólidas e bem
humana, dos quais trata a filosofia. fundamentadas sobre as coisas é preciso ter método, isto
Isso significa que nem todo tipo de dúvida é é, uma forma sistemática e organizada de realizar a
filosófico. Por exemplo: “Quem será o campeão brasileiro investigação sobre o assunto em questão, geralmente
de futebol deste ano?” não é uma dúvida filosófica, e sim seguindo um conjunto de regras ou princípios reguladores.
uma simples especulação sobre algo que está para Veremos que a filosofia não tem um método
acontecer, por mais angustiado que se sinta o torcedor exclusivo de investigação, pois ele varia conforme a
com essa questão. Pode ser um bom exercício teórico tradição filosófica à qual pertence o pensador.
discutir com colegas ou especialistas as possibilidades de Existe, porém, um princípio ou regra básica que
seu time do coração em comparação com as de outros você, e todo aquele que pretende filosofar, deve seguir:
times, para saber suas opiniões. Mas a resposta a esse tudo o que se afirma ou nega deve ser demonstrado, isto
tipo de dúvida virá da própria sucessão dos é, explicado por meio de uma argumentação sólida.
acontecimentos (ou jogos) ao longo do tempo (ou do Por enquanto, lembre-se de que, para filosofar, é
campeonato), tornando-se um fato inquestionável. importantíssima a regra da razão: você tem de dar razões,
A dúvida filosófica propriamente dita surge de isto é, justificativas racionais para suas opiniões. Essas
uma necessidade inquietante de explicação racional para razões devem estar articuladas de maneira coerente, não
algo da existência humana que se tornou incompreensível contraditória, e, se houver alguma que seja duvidosa, a
ou cuja compreensão existente não satisfaz. Geralmente explicação cai por terra – você não conseguiu demonstrar
são temas que não têm resposta única e para os quais a sua opinião.
mente humana sempre retorna. Por exemplo, quem já não
se fez, mesmo que intimamente, a pergunta “Por que tanta QUESTÕES:
maldade?” Ao saber de mais uma das atrocidades, 1. A primeira virtude do filósofo, dizia Platão, é o espanto
aparentemente inexplicáveis, de que são capazes alguns (thaumázein, em grego), a curiosidade insaciável, a
seres humanos (ou desumanos)? Tal questão conduz a capacidade de admirar e problematizar as coisas.
outras, mais básicas e fundamentais, como “o que é o Interprete essa afirmação, relacionando-a com o que você
mal?”, “o que é o ser humano?”, “É da essência do ser entendeu sobre “a importância de duvidar e perguntar” e “a
humano ser mau ou ser bom?”. atitude filosófica”.
Portanto, a dúvida verdadeiramente filosófica é 2. O que quis dizer o filósofo espanhol Manuel García
aquela que favorece o exercício fecundo da inteligência, Morente (1886-1942) quando afirma que para filosofar é
do espírito, da razão sobre questões teóricas importantes importante “puerilizar-se”, ter uma disposição infantil?
para todos nós (e que costumam ter uma enorme 3. Analise as principais características da dúvida filosófica,
incidência prática em nossas vidas, sem nos darmos conta buscando justificar a seguinte afirmação: “nem todo tipo de
disso. dúvida é filosófico”.
Suspensão do juízo uma condição importante 4. Que método utiliza a filosofia? Que regra básica não se
para começar a duvidar de maneira filosófica é praticar a deve esquecer para aprender a filosofar?

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