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METODOLOGIA DO

ENSINO DE
CIÊNCIAS

Adriana Fernandes
Gonçalves
M593 Metodologia do ensino de ciência [recurso
eletrônico] / Organizadora, Adriana Fernandes
Gonçalves. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.

Editado como livro impresso em 2016.


ISBN 978-85-69726-29-6

1. Educação. 2. Metodologia de ensino - Ciências.


I. Gonçalves, Adriana Fernandes.
CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


O que é ciência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Contrastar os conceitos prévios acerca do termo ciências.
„„ Apontar as características das quatro principais linhas da ciência.
„„ Relacionar ciência à tecnologia, destacando sua importância para
o desenvolvimento da sociedade.

Introdução
Neste texto, será discutido, num sentido global, o conceito de ciências
como disciplina, refletindo sua importância para o desenvolvimento
da sociedade, sua relação com a tecnologia, além de caracterizar as
principais linhas e as etapas do método científico.

Linhas da ciência
A palavra “ciência” deriva do latim scientia que significa conhecimento,
saber. Conforme o dicionário, “ciência” significa: “Conhecimento atento e
aprofundado de algo; corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via
observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias
de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente.” A partir des-
tes conceitos é possível perceber que fazer ciência não é algo complicado, mas
necessita de algumas habilidades específicas do cientista. Para fazer ciência
necessitamos de um conjunto de saberes que nada mais são que observações
do objeto e/ou situação em questão. Em qualquer idade ou nível de ensino é
possível fazer ciência, utilizando metodologias menos ou mais sofisticadas,
de acordo com seu nível de conhecimento. É claro que crianças pequenas
não tem compreensão das etapas da metodologia científica muito menos das
linhas da ciência, mas observam e relacionam conhecimentos.
Ward et al. (2010, p. 20) dissertam sobre as quatro linhas da ciência: “Os
procedimentos científicos são diferentes das habilidades e incluem a natureza
da ciência, a coleta e análise das evidências e o desenvolvimento de ideias
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científicas.”. Para cada uma destas linhas é necessário o envolvimento do alu-


no/pesquisador para que não caia em monotonia e que faça algum sentido em
seu dia-a-dia. Não é permitido ter preconceitos ou distinções, ao contrário,
para ser científico é necessário respeitar as evidências, ser inventivo, curioso,
cooperativo, crítico, ter a mente aberta, entre outras características. Para fazer
novas descobertas é necessário aceitar que muitas vezes elas estarão de forma
diferente dos nossos valores e condutas.

Fique atento

Aprender e ensinar ciência é ter a capacidade de entender o mundo a nossa volta.


É pensar de forma reflexiva sobre os mais variados assuntos. Seja capaz de explorar,
questionar, conhecer, interagir!

Em geral, quando falamos em ciência, vem à cabeça a imagem de pes-


soas vestidas com jalecos brancos e manipulando tubos de ensaio coloridos
e fumacentos; porém, o conceito de ciência é mais amplo do que apenas as
ciências naturais, como as ciências contábeis (responsáveis pelas contas de
empresas e pessoas físicas), as ciências sociais (história, geografia, direito,
antropologia, entre outras), as ciências atuariais (que atua na matemática fi-
nanceira) e as ciências exatas (baseadas em cálculos).
Então, para seguir as linhas da ciência é feito o uso da metodologia cien-
tífica, que nada mais é do que um conjunto de procedimentos usado para
comprovar ou negar uma hipótese formulada acerca de um assunto.

Exemplo

Imagine que é verão, a temperatura está escaldante, além disso, você está treinando há
uma hora na academia. Qual a resposta de seu corpo para esta situação? Isso mesmo!
Suar! O suor é uma resposta do corpo para momentos em que o calor excessivo pode
prejudicar algumas funções importantes. Mas para entender o que é o suor e para que
ele serve, você deve saber sobre os sistemas excretor e endócrino, os estados físicos da
água e sobre calor e temperatura. Estudar ciências biológicas faz com que o aluno ad-
quira um conhecimento além daquele necessário em sala de aula: traz o conhecimento
da vida, do funcionamento do corpo e do mundo!
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Procedimento científico
Além de necessitar que o pesquisador tenha as habilidades listadas anterior-
mente, a metodologia científica ou procedimento científico, também precisa
de outros procedimentos para que seja aceita e comprovada em qualquer situ-
ação, por qualquer pessoa, que são eles:

„„ Observação: analisar de maneira crítica o objeto/fato;


„„ Questionamento: o que precisa ser solucionado ou esclarecido? Elaborar
uma pergunta nesta etapa;
„„ Formulação de hipótese: desenvolver uma ou mais respostas ao questio-
namento anterior;
„„ Realização de dedução: baseado na minha hipótese (resposta ao questio-
namento), o que é possível que aconteça?
„„ Experimentação: testar as diferentes deduções formuladas, quanto mais
deduções forem possíveis de testar, mais credibilidade terá;
„„ Conclusão: aceitar ou negar as hipóteses formuladas.

Para fins de comprovação, é necessário documentar todas as etapas de um es-


tudo realizado por meio da metodologia científica (por relatórios objetivos, fotos,
filmagens, etc.), para que o objeto de análise possa ser comprovado por outros
cientistas que utilizem a mesma metodologia. Como foi citado anteriormente, o
aluno que estiver pesquisando um determinado assunto, deve ser criativo para que
possa executar diferentes experimentos para a testagem de suas hipóteses.

Fique atento

Para fazer ciência, não é necessário ser cientista! O método científico não é uma receita
pronta, ele dependerá da criatividade, inventividade e curiosidade!

É possível realizar estudos através da metodologia científica, mesmo em


atividades realizadas dentro da sala de aula, em qualquer nível de escolaridade,
desde a pré-escola até o ensino superior. Para cada ano deve-se adequar o tema,
o nível de pesquisa e as experimentações a serem realizadas. Não é possível, por
exemplo, querer comprovar determinada situação utilizando fórmulas químicas
complicadas em laboratórios onde se requer material e equipamentos mais so-
fisticados com crianças muito pequenas, pois não faz sentido para elas.
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Exemplo

O professor entra na sala de aula de uma turma do 7º ano, e os alunos encontram-se de


certa forma excitados, pois um colega afirmou que seria possível congelar uma mosca
viva e após descongelada ela permaneceria viva. Será que esta afirmação é verdadeira?
O professor então estimula os alunos a iniciarem as etapas da metodologia científica,
para comprovar ou negar esta afirmação. Primeiro, apresenta aos alunos o filo dos in-
setos dentro do Reino Animal. Estudam o modo de vida das moscas, suas estruturas
corporais, interação com outros seres vivos, etc. Após, propõe uma discussão sobre a
afirmativa feita pelo colega. Seria possível um ser vivo ser reanimado após ser conge-
lado? Formulam-se duas hipóteses: o animal morreria ou viveria. O professor inicia a
experimentação congelando duas moscas, cada uma em um recipiente plástico com
tampa no freezer do laboratório da escola. No dia seguinte, reúne os alunos e nova-
mente discutem sobre a experimentação que estão realizando. Para testar as hipóteses,
fazem o descongelamento rápido de uma das moscas e a outra é descongelada lenta-
mente. Após os descongelamentos, observam que as duas moscas estão mortas, não
sendo possível reanimá-las. A partir deste experimento simples, os alunos elaboraram
um relatório, arquivado no laboratório da escola, negando a informação de que seria
possível congelar um animal vivo e reanima-lo após o descongelamento.

Ciência e tecnologia
Atualmente, temos uma explosão de novas descobertas na área da ciência, e
a cada dia podemos acompanhar novas doenças que foram descobertas, vaci-
nas, medicamentos, tratamentos médicos, produtos disponibilizados nos mais
variados mercados desde a construção civil até os automóveis. Tudo isso é
possível ao trabalho incansável dos cientistas. A curiosidade é o que move a
ciência.
Por outro lado, as inovações tecnológicas também podem causar destrui-
ção, degradação ambiental, miséria, etc. É necessário tratar com cuidado
deste assunto com os alunos, pois vivemos em uma sociedade altamente con-
sumista e produtivista. Nosso modo de vida não é favorável ao meio ambien-
te e se faz necessário refletir muito sobre isso, gerar reflexões, discussões e
entendimentos sobre a evolução que ocorre rapidamente no meio tecnológico.
Vemos uma sociedade totalmente enraizada no descartável, baseada no
uso e descarte de materiais. Não é exatamente esse o objetivo da ciência ao
desenvolver novas tecnologias, apesar de atingir também esse fim. Precisa-
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mos de jovens críticos e entendedores do mundo em que vivemos, para que


possam julgar aquilo que lhes parece mais sustentável e benéfico para todos.
Segundo Menon (1992, p. 123):

O progresso da ciência e da tecnologia propiciou o surgimento das socie-


dades industriais modernas caracterizadas pela riqueza, e a expectativa
crescente de que esta estará disponível a todos. Além disso, possibilitou o
aumento da produção de alimentos e a melhora dos sistemas preventivos
de saúde, o que levou a altas taxas de crescimento populacional, princi-
palmente nos países em desenvolvimento. Estes dois aspectos, a saber,
os altos padrões de consumo junto com as aspirações da humanidade
em continuar neste modelo de desenvolvimento, e as altas taxas de cres-
cimento populacional constituem as duas matrizes da pressão sobre o
ambiente.

E com relação ao estudo da ciência e o desenvolvimento de novas tecnolo-


gias, Ward et al. (2010, p. 14) afirmam: “Entretanto, a formação de cientistas
não é a única razão para a necessidade de desenvolver o ensino de ciências
nas escolas: ’a ciência e a tecnologia são essenciais [...] para nossa qualidade
de vida, e estão no centro de nossa história e cultura.”.
A ciência e a tecnologia andam juntas, podemos observar nas escolas ou
em seus horários de descanso que a maioria dos jovens utiliza-se de ferramen-
tas tecnológicas como smartphones, jogos de videogame, tablets. Por que não
aproveitar estas tecnologias a favor do ensino? Existem diversos aplicativos,
vídeos, infográficos, jogos disponíveis gratuitamente ou dentro de portais
educacionais (disponibilizados aos alunos que adquirem as obras da editora).
Questionar, explorar, criticar é possível não apenas em situações reais dentro
de sala de aula, mas também em situações virtuais. Os novos professores pre-
cisam estar atentos às novas tecnologias para utilizarem estes meios e atrair a
atenção dos alunos para o ensino de ciências.
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Fique atento

As novas tecnologias digitais podem e devem ser aliadas dos professores, como novas
ferramentas didáticas que promovem novas práticas pedagógicas. Estimular o uso da
internet em sala de aula poderá ser uma ferramenta importante para prender a atenção
do aluno!

Referências

MENON, M. G. K. O papel da ciência no desenvolvimento sustentável. Estudos Avança-


dos, São Paulo, v. 6, n. 15, p. 123-127, maio/ago. 1992. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141992000200010> Acesso em: 02 jun.
2016.

WARD, H. et al. Ensino de ciências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

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