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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

O método científico

Maria Rita Marques de Oliveira


INTERSSAN/IBB/UNESP
MU-CONSAN-CPLP

O homem sempre esteve em busca de respostas e explicações aos fenômenos


que envolvem a sua existência na terra. Houve a época em que a maioria das
explicações vinham de Deus, ou seja, acreditava que os fatos aconteciam por
obra do Divino. Aos poucos o homem foi buscando dominar a natureza e usando
a razão para encontrar as respostas que precisa e para propor soluções para os
problemas que enfrentava. Também ao longo da história o encontro com o belo
e a estética foi consolidando nas artes. Assim, tem origem os conhecimentos
religioso, do senso comum e das artes. Aristóteles (384-322 a.C.) falava de
conhecimentos teóricos, poiéticos e práticos. Os conhecimentos teóricos
dedicavam-se a compreender a realidade. Os conhecimentos poéticos voltavam-
se para a elaboração de um produto (técnicas e artes). Enquanto os
conhecimentos práticos voltavam-se à prática cotidiana, aquilo que se devia
fazer para conduzir a vida de maneira justa e alcançar a felicidade.

A história do conhecimento científico, um marco importante nos remete a Platão


(430-347 a. C.), segundo ele, o conhecimento poderia ser dividido em dois graus.
O primeiro, particular, mutável e relativo. O segundo, intelectual, universal e
absoluto. Para Platão, o conhecimento científico, construído a partir de
particulares para o geral é o conhecimento certo, universal. O conhecimento para
Platão obedece um caminho dedutivo.

No século XVII surgiu a ciência moderna. Descartes (1596-1650), é um dos seus


principais representantes. Hoje se tem claro que a ciência moderna é
determinista, mecanicista, infalível, dogmática, produz verdades e certezas. No
método cartesiano, a dúvida sistemática e a decomposição do problema em
pequenas partes culminam com a descrição do todo. A ciência moderna aposta
no progresso e coloca-se como detentora da verdade. A ciência moderna é
indutiva.

Hoje já se admite que a ciência é imprevisível, passível de interpretação, falível,


sofre influência da história, é probabilística, as verdades são transitórias e
provisórias.

Ciência e tecnologia
A ciência está a serviço do conhecimento. As ciências (ou campos de
saberes) pressupõem um objeto de estudo e um método. O conhecimento
produzido a partir das ciências pode ser aplicado ou não. O conhecimento
produzido pelas ciências básicas não tem aplicação imediata.

Enquanto ciência produz conhecimento, a tecnologia caracteriza-se pela


solução de problemas. A ciência aplicada também produz solução, mas
nem toda tecnologia produz-se a partir da ciência. O conhecimento
originado no senso comum também resulta em tecnologia.

O método científico

A produção do conhecimento científico pode ser abordada de diferentes


maneiras. O método nada mais é do que o caminho para a produção do
conhecimento científico; juntar evidências, propor teorias, sistematizar e
realizar sínteses de conhecimento.

As evidências baseiam-se em observações sistemáticas, logicamente


analisadas. Os métodos podem ser: dedutivos, indutivos, hipotético-
dedutivo e dialéticos.

O método dedutivo parte de premissas verdadeiras (normalmente de


ordem geral) e permite a sustentação de uma verdade sólida
(normalmente de ordem particular). Exemplo: Todo ser vivo se alimenta
(verdade irrefutável), assim a descoberta de uma nova espécie de vida
pressupõe que este ser se alimente. O método indutivo trabalha com
probabilidades a partir de uma série de observações. Exemplo: As abelhas
em ambientes contaminados por agrotóxicos mudam seu padrão de
reprodução, isso dito porque foram observados muitos campos cultivados
com agrotóxico. Já o método hipotético-dedutivo (amplamente usado)
pressupõe um problema e uma hipótese a ser testada (aceita ou rejeitada).

Nas ciências sociais, podemos partir do confronto de ideias (dialética), o


ciclo dialético prevê: tese, antítese e síntese. O método dialético não prevê
hipótese, mas sim pressupostos. Outros métodos podem ser
considerados, como por exemplo a fenomenologia que busca estudar os
fenômenos por si a partir da experiência humana.

As teorias sistêmicas levam em conta a complexidade da realidade e


buscam uma visão mais totalizante a partir do diálogo de saberes e a
inter/transdisciplinaridade.

Na figura 1 apresentam-se os passos para o método científico (hipotético-


dedutivo), com uma aproximação ao método dialético. O intuito é
meramente pedagógico. Um primeiro trabalho é o de definir uma pergunta
de pesquisa e torna-la significativa. A proposição do tema parte do
interesse e experiência do aluno. De posse do tema, o aluno deve formular
uma pergunta, significativa e exequível. Para isso, o conhecimento do
cenário da pesquisa e da literatura pertinente são imprescindíveis. A
formulação da hipótese (a ser testada) ou pressuposto para o trabalho
(produto) representa o passo seguinte e pressupõe a previsão de onde se
quer chegar (objetivo). A verificação consiste no método propriamente dito,
a abordagem metodológica e todas as etapas a serem seguidas para
responder ao objetivo. A última etapa prevê a interpretação dos resultados
obtidos, com uma conclusão ou considerações sobre esses mesmos.

Figura 1. O método científico. Adaptado de: Laville;Dionne, 1999.

Os passos para a elaboração de um projeto de pesquisa podem ser assim


sumarizados:

1º Passo – Definir o que se pretende. Tornar claro o problema a partir de um


olhar atento sobre a realidade. Observar, ouvir, consultar dados e informações
locais fazem parte dessa etapa.

2º Passo - Empreender esforços em exaustiva pesquisa do tema. Tendo definido


o problema da pesquisa, há que se buscar na literatura como um problema como
esse (ou semelhante) vem sendo abordado na comunidade científica. Isso é
importante para delimitar o trabalho, é importante saber quanto esforço será
necessário e qual o alcance das pesquisas na área.
3º Passo – Definir o problema em forma de pergunta. Ao definir o problema na
forma de pergunta significa que já se tem cloro o caminho possível a ser seguido.
Que problema dentro de uma temática poderá ser
explicado/desvelado/aprofundado.

4º Passo – Definir a hipótese/pressuposto. A hipótese nada mais é do que uma


resposta provisória à pergunta da pesquisa. Essa resposta poderá ser
confirmada ou negada. Se a pesquisa a ser realizada não pressupõe meios para
rejeitar ou aceitar a hipótese, se trabalha com pressupostos sobre os resultados
da pesquisa.

5º Passo – Definir o objetivo geral (o que será feito) para testar/averiguar a/o
hipótese/pressuposto. Num único enunciado, com o verbo no infinitivo (ação) se
define o que será feito.

5º Passo – Definir os objetivos específicos (detalhamento do objetivo geral). A


pesquisa deverá ser distribuída em objetivos menores, todos contemplados no
objetivo geral. Normalmente são elaborados a partir dos procedimentos ou das
etapas do trabalho.

6º Passo – Escrever a metodologia – as atividades a serem realizadas


considerando os objetivos específicos (como). Descreve detalhadamente o
caminho a ser percorrido: a abordagem metodológica, o loca, os sujeitos e os
procedimentos. Deve ser coerente com todos os objetivos específicos.

7º Passo – Preparar o cronograma das atividades (quando). Considerando o


tempo disponível, deve elencar todos as atividades necessárias à elaboração,
execução do projeto e redação de um artigo decorrente.

8º Passo – Levantar os recursos necessários. Consideramos recursos não só


os financeiros e matérias, mas também o tempo e as pessoas. A demonstração
da viabilidade do projeto passa pelos recursos disponíveis.

9º Passo – Formatar o projeto. O projeto deve ser formatado segundo as


normas, seguindo um roteiro pré-definido e normas para as referências. No Brasil
seguimos a ABNT, mas podem ser outras, como por exemplo a Vancouver.

A escolha do tema

Para escolha do tema, as perguntas seguintes podem ajudar a nortear a essa


escolha:

1. Qual é o território em que me encontro?

2. Quais são, dentre os conhecimentos que possuo, os que me ajudaram a


conhecer e me interessar por esse tema no meu território?
3. Meus valores, ou seja, minha visão de mundo, minhas preferências por
determinados temas, orientaram minha escolha? Como?

4. Minhas experiências de vida tiveram alguma influência em minha escolha?


Que tipo de motivação me influenciou? (Sem considerar o fato de ter que fazer
o trabalho)

5. Como é minha rede de relacionamentos (formal ou informal) com os atores


sociais e governamentais envolvidos com este tema?

O tema de uma pesquisa é mais abrangente que a pergunta, a qual define um


ângulo de abordagem de um tema. Há que se delimitar o ângulo do trabalho,
tanto na escolha do tema, quanto do aspecto ao qual o tema será abordado
(problema). Há que se levar em consideração o quanto o trabalho a ser
desenvolvido mostra-se viável (medida para a sua delimitação) e o quanto esse
trabalho se justifica, qual o seu significado em termos de contribuição com novos
conhecimentos, alcance social e aplicabilidade. No caso específico do curso de
Especialização em SAN, serão priorizados trabalhos que envolvam os cenários
de práticas e da gestão das políticas de SAN, com a participação de seus atores.

Figura 2. Escolha do problema de pesquisa

O “bom problema”, a “boa pergunta”

Lembre (Laville; Dionne, 2003):

“ Se é bom que uma pergunta seja significativa em si mesma, é ainda melhor


que seja reconhecida como tal.”

“Ser o único a tentar abrir um caminho pode ser um sinal de genialidade, mas
também de perda de tempo no não significativo”

“Para ser significativa, uma pesquisa deve ser original”


A pergunta de pesquisa não pode deixar dúvida ou produzir duplas ou
múltiplas interpretações, seja para o pesquisador, seja para os quais a pergunta
deve ser comunicada. Não tenha receio de escrever e submeter à apreciação
dos colegas o enunciado de sua pergunta. Confira se ele reproduz o que foi
pensado.

A pergunta, tomada como problema de pesquisa, a qual se buscará uma


resposta dever ser exequível. Verifique os meios para a realização, o acesso aos
dados (quando for o caso) e não deixe de buscar antecipar (prever) todas as
dificuldades técnicas e metodológicas.

Uma revisão da literatura cuidadosa e detalhada é condição


indispensável para a elaboração da pergunta.

Revisão da literatura

A revisão da literatura permite definir o problema de pesquisa e será


imprescindível para a elaboração da introdução e justificativa do projeto.

O que procurar na pesquisa na pesquisa bibliográfica:

Porque este tema? O que é que justifica fazer esse trabalho, quais os
problemas que ainda não foram solucionados ou lacunas do conhecimento
exitem.

Que resultado quero alcançar? Com a realização desse trabalho, qual


problema será beneficiado/solucionado, o que pode ser esperado.

Qual o valor desse resultado para quem a pesquisa se destina? Quais serão
dos benefícios desse trabalho.

Que método será seguido? A partir de trabalhos semelhantes como a pergunta


será respondida. Qual o passo a passo seguido por outros, ao qual esse trabalho
poderá se espelhar.

A revisão deve ajudar a definir:

• O que vai ser feito

• Por que será feito

• A quem se destina

• Como será feito

Referências Bibliográficas:
ALVARENGA, M.A.F.P.; ROSA, M.V.F.P.C. Apontamentos de metodologia
para a ciência e técnicas de redação científica. 3 ed. Porto Alegre: SAFE, 2003,
181 p.

CRUZ, C.; RIBEIRO, U. Metodologia científica: teoria e prática. 2 ed. Rio de


Janeiro: Axcel Books, 2005, 218 p.

LETICIA, M. JACOBINI, P. Metodologia do trabalho acadêmico. 4 ed.


Campinas: Alínea, 2011, 110 p.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. São Paulo: Cortez,


2007, 335 p.

VIEIRA, S.; HOSSNE, W.S. Metodologia científica para área da saúde. Rio de
Janeiro: Campus, 2001, 192 p.

LAVILLE, C; DIONNE, J. A construção do saber. Belo Horizonte: Editora da


UFMG, 1999, 340 p.

AZEVEDO, I.B. O prazer da produção científica. São Paulo: Editora Hagnos,


2004, 206 p.

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