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TECNICA DE PESQUISA
PROFESSORA WANILCE PIMENTEL
2024
A NECESSIDADE DE DESENVOLVER UMA POSTURA CRÍTICA DO
ESTUDO
(TEXTO 3)
A necessidade de desenvolver nos estudantes universitários uma postura crítica
diante do estudo não se deve a um modismo ou a algum princípio pedagógico abstrato,
mas à própria natureza compósita do saber universitário de ciências e ideologias teóricas.
Ninguém desconhece que este saber se proclama científico; que se apresenta como
produzido segundo protocolos de cientificidade; que distribui os seus discursos por área
ditas científicas (ciências humanas, biológicas, exatas,) Assim, sendo, nada mais lógico
do que submetê-lo a um tratamento científico.
Pois bem, o conhecimento científico não é uma verdade definitiva, acabada,
eterna. A correspondência entre este conhecimento e a realidade não é uma relação fixa,
dada de uma vez sempre, mas um processo de aproximação constante. Tal aproximação
não ocorre por acréscimo, mas por retificação. Uma ciência só se desenvolve retificando-
se incessantemente, em seus detalhes e em seus fundamentos.
É este caráter dialético do conhecimento científico que faz das verdades
científicas, verdades polêmicas; é ele também que torna a crítica um elemento
indispensável para o afastamento do erro; indispensável para o estabelecimento
verdadeiro. Portanto a atitude crítica no estudo de uma ciência é uma exigência da própria
ciência. A segunda razão para se adotar uma atitude crítica diante do saber veiculado na
universidade, baseia-se no fato de que “em toda prática científica há elementos
ideológicos que constituem apoios ou obstáculos ao desenvolvimento desta prática. Em
outras palavras: as ciências (principalmente as sociais) não são indiferentes às ideologias,
que são sempre ideologias de classes”.
O conhecimento científico não é produzido numa redoma que o protege dos
interesses de classes; pelo contrário, mantém com esses interesses uma articulação
complexa que deve ser submetida a uma análise interpretativa, se não se quer ser vítima
do engano.
Não se trata, portanto, de uma crítica no sentido de denuncia uma infiltração
ideológica na ciência ou tentar “purificar” o saber científico. Tal atitude continua
prisioneira do mito positivista da neutralidade e da pureza científica. A questão é
identificar que ideologia atua sobre este ou aquele discurso científico, em que condições
concretas atuam e quais os efeitos dessa atuação.
A identificação dos interesses que afetam a cientificidade do saber que circula na
universidade é, portanto, a segunda razão pela qual defendemos o desenvolvimento de
uma atitude crítica diante deste4 saber. Somente a partir daí é possível assumir uma
atitude dialógica com este saber. Mas este objetivo pressupõe evidentemente a percepção
do condicionamento histórico-sociológico e ideológico tanto do conhecimento quanto dos
autores, como nos adverte Paulo Freire (1977).
As duas razões mencionadas anteriormente estão estritamente ligadas ao objetivo
central da disciplina metodologia do Estudo que é o de desenvolver a mentalidade
científica dos estudantes universitários. A terceira razão é de ordem política e diz respeito
à função que o saber veiculado pela universidade exerce na sociedade, o que implica
levantar questões como: para que serve este saber e a quem serve? Que é a universidade?
A este respeito, entendemos, que a universidade faz parte de um aparelho
ideológico mais amplo, o aparelho escolar, que assumiu o papel dominante na reprodução
da força de trabalho (qualificada e submissa à ideologia da classe dominante) e na
reprodução das relações de produção capitalistas que por, por conseguinte, o saber
dominante da universidade é o saber de que as classes dominantes precisam. Entretanto
não partilhamos do pessimismo nem da atitude de alguns autores, pois entendemos que a
hegemonia (supremacia) exercida pela burguesia, no seio da universidade, é resultado de
uma relação de forças podendo sofrer alterações sob certas condições objetivas.
Pôr a universidade e o saber que ela veicula a serviço da maioria da população e
não a serviço do capital é a terceira razão que nos leva a defender a necessidade de uma
atitude crítica no ato de estudar.
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Esta é a primeira atitude psicológica que você tem que desenvolver. E significa
exatamente que a sua vida deve seguir um destino que você mesmo escolheu.
Tal meta deve se referir a algo que tenha mais valor em si mesmo do que o seu
próprio destino individual. Mas, ao se colocar a serviço de uma causa superior, você estará
superando a insignificância e o anonimato de uma vida confinada em si mesma.
Quanto ao estudo, você terá de compreender que a aquisição de conhecimentos é
o instrumento que lhe permitirá atingir os seus objetivos. Da mesma forma que você deve
supor que existam conhecimentos inúteis. Você estuda por você e para você mesmo.
Se a sua vida não tiver metas e objetivos, passar a metade de seu tempo às voltas
com o estudo, às voltas com o ambiente escolar, irá lhe parecer o mais absurdo do mundo.
Você vai sentir que o estudo está destruindo sua vida. E, se você deixar que tal atitude
psicológica negativa se desenvolva muito dificilmente você chegará a ser um bom
estudante.
Você tem, pois, de encontrar sentido e razão de ser para o estudo. Só o conseguirá
fixando metas e objetivos para a sua vida, isto é, se transformando em seu próprio projeto.
Imagine a seguinte imagem: se você está aqui e agora, em A, e o objetivo de sua
vida é chegar a C- que é o futuro alcance da meta que agora você fixa para esse momento,
entre o ponto A e o ponto C existe uma ponte que você irá atravessar. Essa ponte tem três
colunas ou pilares: o primeiro é o conhecimento, o segundo, a educação e o terceiro, a
cultura.
Estudar é atravessar essa ponte. Estudar é adquirir conhecimentos, educação e
cultura, e somente com conhecimentos e metas, para poder realizar os seus projetos.
2 O INTERESSE-
Para fracassar no estudo há uma receita que nuca falhou, nem falhará: não sinta o
menor interesse pelo estudo, nem por nenhuma das matérias que terá que estudar.
Para o bom êxito no estudo, porém, deve-se aplicar a receita inversa: sentir o maior
interesse pelo estudo em si, quer dizer, como processo mental definido, e por cada uma
das matérias que você estuda.
É que existe estreita relação entre interesse e bons resultados, entre desinteresse e
fracasso nos estudos.
Mas esta necessidade de se interessar deve ser observar os resultados dos
conhecimentos adquiridos.
3 O ENTUSIASMO
A seguinte comparação lhe permitirá compreender, com toda a clareza, a
importância de se ter entusiasmo pelo estudo: o desinteresse será seu melhor aliado para
perder o ano: o interesse o levará à aprovação, mas com notas apenas regulares. Se,
porém, você tiver um verdadeiro entusiasmo, sem dúvida, você estará entre os três
primeiros alunos da classe.
Então, o entusiasmo é a potencialização do interesse. Quando você sente interesse
por uma matéria, suponhamos a História você se envolve com ela; mas se tiver o
entusiasmo é que o envolverá.
Entre as atitudes psicológicas positivas diante do estudo, o entusiasmo tem que ser um
estado de ânimo coerente. Não concebemos que um jovem se diga entusiasmado pelo
estudo, sem que se entusiasme por uma matéria particular. Isso não passaria de ilusão.
4 A VONTADE
Vontade é a capacidade de cumprimos o que nos propusemos a realizar: é a
determinação interior que o jovem deve por em jogo e que lhe permitirá empreender e
terminar os seus períodos ou jornadas de estudo, resistindo às inúmeras tentações que o
cercam: cansaço e sono, divagação, aborrecimento, diversões, amizades, jogos e esportes
etc.
Não queremos dizer que o jovem deva suprimir estes aspectos normais da vida.
Será exatamente com força de vontade que executará o estudo que previu para esse dia:
então, tendo realizado o estudo, terá tempo ou oportunidade para tudo o mais.
E, no momento da distração, se descobre um importante, vantagem: não há
conflito entre estudar e descansar, entre estudar e se distrair, porque o mais importante, o
estudo, já foi feito. O descanso necessário e a distração recomendável serão, de fato,
repouso e recreação.
5 A PERSEVERANÇA
A noção de perseverança está envolvida por duas ideias afins: a primeira é esta
mesma qualidade em circunstâncias em que o jovem não enfrenta dificuldades especiais;
a segunda, que ultrapassa a perseverança é esta qualidade levada a um grau extremo que
a transforma em defeito. Temos assim:
Vontade- perseverança- teimosia.
Dissemos no tema anterior que a vontade é necessária para começar ou terminar
um trabalho planejado e que a perseverança é a força que nos permite manter na luta além
dos prazos previstos para atingir os resultados.
A teimosia, porém, consiste não em lutar para atingir um objetivo ou meta, mas
em querer, inutilmente, salvar a honra, quer dizer, o ego de cada um.
Quem tem vontade aposta e se arrisca; quem tem perseverança continua apostando e se
arriscando até onde houver possibilidade de ganhar; quem é teimoso já não aposta e se
arrisca com sensatez, pois está certo que vai perder, já que não tem mais nenhuma chance
de ganhar; entretanto, continua apostando, até trombar contra um obstáculo maior: o
fracasso.
À vontade e a perseverança são qualidades racionais; nelas predomina a razão:
antes de formular a aposta, a análise da situação já indicou que, sem dúvida, há chance de
se atingir o objetivo proposto. Na teimosia, pelo contrário, predomina a irracionalidade,
pois o seu principal componente é o desespero.
Não preocupa tanto o teimoso não ter conseguido o que desejava, mas sim que seu
orgulho tenha se ferido.
6 A CONFIANÇA
Embora devamos esforçar-nos por não pensar em termos de branco e preto, é
evidente que todo estudante se depara com um destes dois resultados: tem ou não tem
tempo; aprende ou não aprende; lembra ou não lembra; passa ou não passa no exame; sai
do vestibular classificado ou derrotado; tira ou não tira o diploma profissional.
De tal conjunto de possibilidades, de tudo o que está em jogo às esperanças dos pais, as
suas próprias expectativas, o exemplo que dá aos irmãos, os seus planos, etc. e da própria
dificuldade no estudo como tal, nasce por vezes, uma série de duvidas sobre a capacidade
e as possibilidades da gente.
Então, inevitavelmente, em maior ou menor medida, começa a diminuir a
confiança em si mesmo. Que significa esta perda de confiança?
Em qualquer atividade, quem não tem confiança em si mesmo começa a ver-se
como um perdedor e, se você pressente que vai fracassar no estudo, que sentido tem para
você esforçar-se? Não é melhor deixar o barco correr”?.
A falta de confiança produz desânimo, derrotismo e um sentimento antecipado de
frustração e tudo isto equivale a deixar que cresçam no seu espírito os males que
impedirão os frutos esperados de sua inteligência.
7 A SERENIDADE
A confiança é uma certeza que provém da consciência de que você assimilou o
que acaba de estudar; em outras palavras, a confiança é uma certeza que mora na sua
razão.
A serenidade é o estado de ânimo gerado por esta certeza que você tem: você deve
entendê-la como uma forma ou estilo de agir, em tudo o que diz respeito ao estudo.
Sendo sinônimo, a serenidade será algo mais do que a tranquilidade. Como não
existem duas palavras que significam exatamente a mesma coisa, você pode pensar que a
tranquilidade é o que você irradia quando tem confiança em si mesmo e a serenidade é o
que nesse mesmo caso, você irradia ao exterior e também para dentro de si mesmo.
A confiança é a certeza racional verificada pela autoavaliação, que você deve
realizar no fim de cada período de estudo de que possui os conhecimentos necessários; a
serenidade é a emoção tranquila resultante dela.
A serenidade é uma emoção, mas, provisoriamente, você pode entendê-la como
uma emoção que se caracteriza pela ausência de emoções, sobretudo de emoções
negativa.
Existe uma série de sintomas que indicam que um estudante age com serenidade.
Por exemplo:
*os seus movimentos são seguros e harmoniosos. Não demonstra impaciência nem estado
febril
*A sua musculatura se encontra relaxada e não evidencia nenhuma tensão desnecessária.
Não contrai a mandíbula inferior.
*A sua voz é clara e firme. Não se afoba para falar, nem o faz com demasiada lentidão.
Não gagueja.
O ritmo da sua respiração, as palpitações do seu coração e a sudorese são normais. Não
aparenta estar agitado.
*Dorme normalmente, sem necessidade de soníferos. Não acorda antes da hora habitual
e ao levantar-se não acusa sinais de cansaço.
A serenidade é uma atitude psicológica positiva que você deve desenvolver, mas tenha
cuidado com o contrabando de ideias. Você já ouviu falar de contrabando de ideia? Com
esta expressão se designa as ideias ou teses que para serem aceitas e poderem circular,
têm de se disfarçar sob aparências de outras teses ou ideias.
E, infelizmente, assim como a teimosia pode ser contrabandeada como perseverança,
assim também a despreocupação e a indiferença podem ser contrabandeadas como
serenidade.
8 A SATISFAÇÃO
Em cada façanha da espécie humana, seja-a compor a Nona Sinfonia de
Beethoven, construir uma catedral gótica, conceder uma doutrina religiosa ou filosófica,
inventar o xadrez, tornar um país independente, ou escrever uma poesia de amor há
sempre um homem ou mulher feliz por ter realizado tal trabalho.
É certo que pode ter-se atormentado enquanto elaborava a sua obra, mas,
simultaneamente, ao lado desse inevitável padecimento, sente-se uma satisfação autêntica
e profunda por ser criador e realizador.
É que a satisfação tanto é sintoma de que você está progredindo, criando e
realizando, como reação que o impele a prosseguir.
Você, dirá talvez, que, não aspira imortalizar a sua passagem por esta vida, que não
pretende imitar Tiradentes, nem ser um Aleijadinho, nem Guimarães Rosa Dirá que não
pretende ser um criador nem um realizador, simplesmente um bom estudante.
CONHECIMENTO
De acordo com FACHIN (2001) a literatura científica mostra que ao longo dos
tempos a humanidade, num processo lento, reuniu extensas informações que foram
traduzidas como conhecimentos. A necessidade forçou o ser humano a observar o seu
habitat, ou seja, plantas, animais, passando a criar objetos simples, praticando a arte da
cura, facilitando suas atividades cotidianas. E, para satisfazer suas curiosidades, por meio
da imaginação e interpretação, criou mitos que explicam a sequência dos acontecimentos,
isto é, a humanidade, aos poucos, foi abrindo caminhos para descrever os fenômenos que
estavam ao seu alcance, por intermédio da observação e da experimentação.
O progresso científico é produto da atividade humana, para a qual o homem,
compreendendo o que o cerca, passa a desenvolvê-lo para novas descobertas. E, por
relacionar-se com o mundo de diferentes formas de vidas, o homem utiliza-se de
diferentes formas de conhecimentos, por intermédio dos quais se evolui e faz evoluir o
mundo em que vive, trazendo contribuições para a sociedade, acredita Fachin.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
CONHECIMENTO TEOLÓGICO
CONHECIMENTO EMPÍRICO
1
KOCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Caxias do Sul:: VCS, 1979. página
10.
fragmentada da realidade. Para Fachin o conhecimento empírico refere-se à vivência
imediata sobre os objetos ou fatos observados e possui grandes limitações, estão presas a
convicções pessoais, outras vezes, possui crenças arbitrárias com inúmeras interpretações
para a complexidade de fato. Geralmente é fruto de uma inclinação de interesses voltados
para assuntos práticos e aplicáveis somente às áreas de experiência cotidiana, não
proporcionando visão unitária global da interpretação das coisas e dos fatos.
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Este, de acordo com Odília Fachin, pressupõe uma aprendizagem superior, pois
se caracteriza pela presença do acolhimento metódico e sistemático dos fatos da realidade
sensível. Por meio da classificação, da comparação, da aplicação de métodos, da análise
e síntese, o pesquisador extrai do contexto social ou do universo, princípios e leis que
estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal.
No ver da autora, o conhecimento científico preocupa-se com a abordagem
sistemática dos fenômenos (objetos), tendo em vista seus termos relacionais que implicam
noções básicas de causa e efeito, diferenciando-se do conhecimento empírico pela
maneira de conhecer e pelos instrumentos metodológicos que utiliza. O conhecimento
científico, englobando as sequências de suas etapas, configura um método.
O conhecimento científico, de forma geral, se prende aos fatos, tendo uma
referência empírica, mas o transcende. Ele se vale da testagem empírica para formular
respostas aos problemas colocados e para apoiar suas afirmações. Mas este conhecimento
exige constante confrontamento com a realidade e procura dar forma de problema, mesmo
ao que já está aceito.
a) Dê um exemplo que ilustre o parágrafo acima, em relação à ________________
Para Fachin o conhecimento científico apresenta-se em função da necessidade de o
ser humano estar constantemente procurando aperfeiçoar-se e não assumir uma postura
simplesmente passiva.
b) O que você procura com o curso de _____________________? O conhecimento científico adquirido na
instituição pode ajudá-lo?
c) O que pretendes transformar com ele?
CIÊNCIA
O ser humano, diante da necessidade de compreender e dominar o meio ou o
mundo, em benefício próprio ou da sociedade acumula conhecimentos racionais sobre o
seu próprio meio e sobre as ações capazes de transformá-lo. A essa sequência permanente
de acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis da realidade denominamos
ciência. De acordo com Odília Fachin, em virtude da constante busca da verdade
científica efetuada pelo homem, a evolução da ciência tornou-se presente, ampliando,
aprofundando, detalhando e invadindo conhecimentos anteriores.
Pode-se dizer que a ciência é exata por tempo determinado, até que ela passe por
novas transformações, sendo, portanto, falível. Na verdade, a ciência é constituída pela
observação sistemática dos fatos. Por meio da análise e da experimentação, extrai-se
resultados que passam a ser validados universalmente. O fato analisado e testado não tem
condições de ser definido isoladamente, crê Odília Fachin.
a) O ________________ trabalha com o homem inserido nos diferentes tipos de
organizações. É uma tarefa fácil? Por quê? Dê exemplos:
Método Histórico
“Promovido por Boas. Partindo do princípio de que as atuais formas de vida
social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas
raízes, para compreender sua natureza e função. Assim, o método histórico consiste em
investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua
influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual por meio
de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciado pelo contexto
cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que
atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e
de suas modificações”.
Exemplos: para compreender a noção atual de família e parentesco, pesquisa-se
no passado os diferentes elementos constitutivos dos vários tipos de família e as fases de
sua evolução social; para descobrir as causas da decadência da aristocracia cafeeira,
investigam-se os fatores socioeconômicos do passado “(Lakatos, 1981:32).
Portanto, colocando-se os fenômenos, como, por exemplo, as instituições, no
ambiente social em que nasceram, entre suas condições “concomitantes” tornam-se mais
fácil sua análise e compreensão, no que diz respeito à gênese e ao desenvolvimento, assim
como às sucessivas alterações, permitindo a comparação de sociedade diferente: o método
histórico preenche os vazios dos fatos e acontecimentos, apoiando-se em um tempo,
mesmo que artificialmente reconstituído, que assegura a percepção da continuidade e do
entrelaçamento dos fenômenos.
Método Comparativo
“Empregado por Tylor. Considerando que o estudo das semelhanças e
diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribuem para uma
melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza comparações com
a finalidade de verifica similitudes e explicar divergências. O método comparativo é
usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes
e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de
desenvolvimento”.
Exemplos: modo de vida rural e urbano no Estado de São Paulo; características
sociais da colonização portuguesa e espanhola na América Latina; classes sociais no
Brasil, na época colonial e atualmente; organização de empresas norte-americanas e
japonesas; a educação entre os povos ágrafos e os tecnologicamente desenvolvidos”
(Lakatos, 1981:32).
Ocupando-se da explicação dos fenômenos, o método comparativo permite
analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e
gerais. Constitui uma verdadeira “experimentação indireta”. É empregado em estudos de
largo alcance (desenvolvimento da sociedade capitalista) e para estudos qualitativos
(diferentes formas de governo) e quantitativos (taxa de escolarização de países
desenvolvidos e subdesenvolvidos). Pode ser utilizado em todas as fases e níveis de
investigação: num estudo descritivo, pode averiguar a analogia entre ou analisar os
elementos de uma estrutura (regime presidencialista americano e francês); nas
classificações, permite a construção de tipologias (cultura e civilização); finalmente, em
termos de explicação, pode, até certo ponto, apontar vínculos causais, entre os fatores
presentes e ausentes.
Método Monográfico
“Criado por Lê play, que o empregou ao estudar famílias operárias na Europa.
Partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser
considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes, o
método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões,
condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter
generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os
fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos”.
“Exemplos: estudo de delinqüentes juvenis; da mão-de-obra volante; do papel
social da mulher ou dos idosos na sociedade; de cooperativas; de um grupo de índios; de
bairros rurais” (Lakatos, 1981:33).
Em seu início, o método consistia no exame de aspectos particulares, como, por
exemplo, o orçamento familiar, as características de profissões ou de indústrias
domiciliares, o custo de vida etc. Entretanto, o estudo monográfico pode, também, em
vez de se concentrar em um aspecto, abranger o conjunto das atividades de um grupo
social particular, como no exemplo das cooperativas e do grupo indígena. A vantagem do
método consiste em respeitar a “totalidade solidária” dos grupos, ao estudar, em primeiro
lugar, a vida do grupo em sua unidade concreta, evitando, portanto, a prematura
dissociação de seus elementos. São exemplos, desse tipo de estudo, as monografias
regionais, as rurais, as de aldeia e, até, as urbanas.
Método Estatístico
“Planejado por Quetelet. Os processos estatísticos permitem obter, de conjuntos
complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm
relações entre si. Assim, o método estatístico significa redução de fenômenos
sociológicos, políticos, econômico etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística,
que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, obter generalizações sobre
sua natureza, ocorrência ou significado”.
Exemplos: verificar a correlação entre o nível de escolaridade e número de
filhos; pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários e o tipo de lazer preferido
pelos estudantes de 1, e 2 graus “(Lakatos, 1981: 32-33)”.
O Papel do método estatístico é, antes de tudo, fornecer uma descrição
quantitativa da sociedade, considerada como um to0do organizado. Por exemplo,
definem-se e delimitam-se as classes sociais, especificando as características dos
membros dessas classes e, após, mede-se sua importância ou variação, ou qualquer outro
atributo quantificável que contribua para seu melhor entendimento. No entanto, a
estatística pode ser considerada mais do que apenas um meio de descrição racional; é,
também, um método de experimentação e prova, pois é método de análise.
Método Tipológico
“Habitualmente empregado por Max Weber. Apresenta certas semelhanças com
o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria
tipos ou modelos ideais, construídos a partir da análise de aspectos essenciais do
fenômeno. A característica principal do tipo ideal é não existir na realidade, mas servir
de modelo para a análise e compreensão de casos concretos, realmente existentes. Weber,
através da classificação e comparação de diversos tipos de cidades, determinou as
características essenciais da cidade; da mesma maneira, pesquisou as diferentes formas
de capitalismo para estabelecer a caracterização ideal do capitalismo moderno; e, partindo
do exame dos tipos de organização, apresentou o tipo ideal de organização burocrática.
“Exemplo: estudo de todos os tipos de governo democrático, do presente e do
passado, para estabelecer as características típicas ideias da democracia” (Lakatos,
1981:33-4).
Para Weber, a vocação prioritária do cientista é separar os juízos de realidade, o
que é e os juízos de valor, o que deve ser da análise científica, com a finalidade de
perseguir o conhecimento pelo conhecimento. Assim, o tipo ideal não é uma hipótese,
pois se configura como uma proposição que corresponde a uma realidade concreta;
portanto, é abstrato; não é uma descrição da realidade, pois só retém, pelo processo de
comparação e seleção de similitudes, certos aspectos dela; também não pode ser
considerado como um “termo médio”, pois seu significado não emerge da noção
quantitativa da realidade. O tipo ideal não expressa a totalidade da realidade, mas seus
aspectos significativos, os caracteres mais gerais, os que se encontram regularmente no
fenômeno estudado.
O tipo ideal, segundo Weber, diferencia-se do conceito, porque não se contenta
com selecionar a realidade, mas também a enriquece. O papel, do cientista consiste em
ampliar certas qualidades e fazer ressaltar certos aspectos do fenômeno que se pretende
analisar.
Método Funcionalista
“Utilizado por Malinowki. É, a rigor, mais um método de interpretação do que de
investigação. Levando-se em consideração que a sociedade é formada por partes
componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e interdependentes, satisfazendo cada
uma das funções essenciais da vida social, e que as partes são maias bem entendidas
compreendendo-se as funções que desempenham no todo, o método funcionalista estuda
a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema
organizado de atividades”.
“Exemplos: análise das principais diferenciações de funções que devem existir
num pequeno grupo isolado, para que o mesmo sobreviva; averiguação da função dos
usos e costumes no sentido de assegurar a identidade cultural de um grupo”
(Lakatos,1981: 34).
O método funcionalista considera, de um lado, a sociedade como uma estrutura
complexa de grupos ou indivíduos, reunidos numa trama de ações e relações sociais; de
outro, como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas
em relação às outras. Qualquer que seja o enfoque fica claro que o conceito de sociedade
é visto como um todo em funcionamento, um sistema em operação. E o papel das partes
nesse todo é compreendido como funções no complexo de estrutura e organização.
Surgindo com Spencer, em sua analogia da sociedade com um organismo
biológico, a função de uma instituição social toma, com Durkheim, a característica de
uma correspondência entre ela e as necessidades do organismo social. O autor chega a
fazer distinção entre o funcionalismo “normal” e “patológico”das instituições. Contudo,
é com Malinowki que a análise funcionalista envolve a afirmação dogmática da
integração funcional de toda a sociedade, na qual cada parte tem uma função específica a
desempenhar no todo.
Por sua vez, Merton critica a concepção do papel indispensável de todas as
atividades, normas, práticas, crenças, etc, para o funcionamento da sociedade. Cria, então,
o conceito de funções manifestas e funções latentes.
Exemplos: a função da família é ordenar as relações sexuais, atender à reprodução,
satisfazer às necessidades econômicas de seus membros e ás educacional, sob a forma de
socialização e transmissão de status; a função da escola é educar a população, inclusive
no aspecto profissional. Estas finalidades, pretendidas e esperadas das organizações, são
denominadas funções manifestas. É evidente que a análise da real atuação das
organizações sociais demonstra que, ao realizar suas funções manifestas, muitas vezes as
mesmas obtêm conseqüências não pretendidas, não esperadas e, inclusive, não
reconhecidas, denominadas funções latentes. Pode-se citar que a ideologia dominante em
uma democracia é a de que todos devem ter as mesmas oportunidades, o que leva os
componentes da sociedade à crença de que todos são iguais; ora, a função latente
manifesta-se num aumento de inveja, já que até mesmo o sistema educacional amplia as
desigualdades existentes entre os indivíduos, de acordo com o grau de escolaridades (e as
oportunidades reais de obter educação superior são “determinadas” pela classe social).
MÉTODO ESTRUTURALISTA
Desenvolvido por Lévi-Strauss. O método parte da investigação de um fenômeno
concreto se eleva a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da constituição de um modelo
que represente o objeto de estudo, retornado, por fim, ao concreto, dessa vez como uma
realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. Considera que
uma linguagem abstrata deve ser indispensável para assegurar a possibilidade de
comparar experiências, à primeira vista, irredutíveis que, se assim permanecessem, nada
poderiam ensinar, em outras palavras, não poderiam ser estudadas. Dessa forma, o
método estruturalista caminha do concreto para o abstrato, e vice-versa, dispondo, na
segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos.
Exemplos: estudo das relações sociais e a posição que estas determinam para os
indivíduos e os grupos, com a finalidade de construir um modelo que passa a retratar a
estrutura social em que ocorrem tais relações; verificação das leis que regem o casamento
e o sistema de parentesco das sociedades primitivas ou modernas, por meio da construção
de modelos que representem os diferentes indivíduos e suas relações, no âmbito do
matrimônio e parentesco (no primeiro caso, basta um modelo mecânico, pois os
indivíduos são pouco numerosos; no segundo, será necessário um modelo estatístico).
Para penetrar na realidade concreta, a mente constrói modelos, que não são
diretamente observáveis na própria realidade, mas a retratam fidedignamente, em virtude
de a razão simplificante de o modelo corresponder à razão explicante da mente, isto é,
por baixo de todos os fenômenos existe uma estrutura invariante e é por este motivo que
ela é objetiva; assim, toda análise deve levar a um modelo, cuja característica é a
possibilidade de explicar a totalidade do fenômeno, assim como sua variabilidade
aparente. Isso porque, por intermédio da simplificação (representação simplificada), o
modelo atinge o nível inconsciente e invariante; resume o fenômeno e propicia sua
inteligibilidade. Utilizando-se o método estruturalista, não se analisam mais os elementos
em si, ao passo que os elementos podem variar; dessa forma, não existem fatos isolados
possíveis de conhecimento, pois a verdadeira significação resulta da relação entre eles.
A diferença primordial entre os métodos tipológico e estruturalista é quem o “tipo
ideal” do primeiro inexiste na realidade, servindo apenas para estudá-la, ao passo que o
“modelo” do segundo é a única representação concebível da realidade.
Exemplos do uso concomitante dos diversos métodos: para analisar o papel que
os sindicatos desempenham na sociedade, pode-se pesquisar a origem e o
desenvolvimento do sindicato, e a forma específica em que aparece nas diferentes
sociedades: método histórico e comparativo. A análise de Garimpos e garimpeiros de
Patrocínio Paulista, tese de doutoramento da professora Marina de Andrade Marconi, foi
resultado do emprego dos métodos histórico, estatístico e monográfico. O tema exigiu a
pesquisa, no passado, das atividades dos garimpeiros, suas migrações e métodos de
trabalho; na investigação da característica do garimpeiro hoje, foi empregado o método
estatístico; e finalmente, ao limitar a pesquisa a determinada a categoria, utilizou-se o
método monográfico.
Quadro de Referência: a questão da metodologia é importante quando se analisa
o quadro de referência utilizado: este pode ser compreendido como uma totalidade que
abrange dada teoria e a metodologia específica dessa teoria. Teoria, aqui, é considerada
toda generalização relativa a fenômenos físicos ou sociais, estabelecida com o rigor
científico necessário para que se possa servir de base segura à interpretação da realidade;
metodologia, por sua vez, engloba métodos de abordagem e de procedimentos e técnicas.
Assim, a teoria do materialismo histórico, o método de abordagem dialético, os métodos
de procedimento histórico e comparativo, juntamente com técnicas específicas de coleta
de dados, formam o quadro de referência marxista. Outro exemplo diz respeito à teoria
da evolução (Darwin), juntamente com método de abordagem indutivo, método de
procedimento comparativo e respectivas técnicas (quadro de referência evolucionista).
Método observacional:
Início de toda pesquisa científica, servindo de base para qualquer área das
ciências. Este se fundamenta em procedimentos de natureza sensorial. “É uma busca
deliberada, levada a efeito com cautela e predeterminação, em contraste com as
percepções do senso comum”, diz FACHIN (2001:35). O objetivo da observação
naturalmente pressupõe poder captar com precisão os aspectos essenciais e acidentais de
um fenômeno do contexto empírico, é o que a literatura costuma denominar, dentro das
Ciências Sociais, de fatos. Já o produto de um ato observado e registrado é denominado
de dado. Porém, a observação é uma das atividades mais comuns do dia-a-dia, não
devendo ser confundida com a observação como método. A observação científica deve
reunir um bom preparo intelectual, aliado à sagacidade, curiosidade, persistência,
perseverança, paciência e um elevado grau de humildade. FACHIN compreende que “os
fatos devem ser observados com paixão e energias incansáveis na procura da certeza de
uma atitude autocorretiva e também de atitudes éticas.” (p.35) O bom método
observacional, segundo a autora, deve pressupor um objetivo ou vários, um plano,
registros de aspectos mais importantes - conceituando com precisão os aspectos mais
significativos, este geralmente é determinado por meio de conceitos - , verificações e
controles de validade. Esta observação pode ser transformada em amostragem, por meio
de fotos, entrevistas, gravações, filmagens, etc. Mostra FACHIN (2001:36): “Darwin
mantinha um caderno especial de notas, para registrar observações contrárias a sua teoria,
a fim de não desprezá-las ou subestima-las”.
DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1995.
FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3o. Edição. São Paulo: Saraiva, 2000.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991.
LEVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo:
Loyola, 1998.