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HIDROLOGIA
Marília/SP
2022
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
“
A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.
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emissão de conceitos.
HIDROLOGIA
PROF. GIULIANO TORRIERI NIGRO
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA 07
CAPÍTULO 04 PLUVIOSIDADE 44
SUMÁRIO
CAPÍTULO 14 IMPACTO HUMANO NO CICLO HIDROLÓGICO 167
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À
HIDROGEOGRAFIA
Ela é tão fundamental para a nossa sobrevivência que conseguimos resistir vários
dias sem nos alimentarmos, no entanto, sem água não sobrevivemos mais do que
3 dias, haja vista que ela participa de todas as reações químicas que ocorrem no
nosso corpo. Por isso, a busca por água sempre foi e continua sendo essencial para
o estabelecimento humano nos territórios.
mesmo que ainda não haja condições técnicas e materiais para tal retirada. Ele pode
ser utilizado de forma direta ou indireta. Vejamos a água, objeto nosso aqui de análise,
ela pode ser utilizada de forma direta para bebermos, tomarmos banho ou lavarmos a
louça, mas pode ser utilizada de forma indireta para a geração de energia, por exemplo.
Mas se a água é um recurso natural, cabe a pergunta que muitos se fazem: será
que a água do planeta vai acabar? Vejamos a resposta do professor Bittar Venturi em
entrevista concedida ao Jornal USP notícias (2015):
Portanto, na verdade, o que está em risco não é a água acabar e sim se tornar
inviável a sua extração, tratamento e disponibilidade para consumo potável. A água
não está acabando no planeta, o problema é que ela não está sempre disponível
quando e onde o ser humano necessita. Ai sim, quando se discute sobre esse prisma,
podemos tratar a água como um recurso escasso.
Por fim, o professor coloca que na grande maioria das vezes, os problemas
relacionados à falta de água não estão ligados às ações atmosféricas, mas sim da
falta de planejamento e políticas públicas de saneamento, uso e tratamento da água.
Então, devemos refletir que, embora a água seja um recurso inesgotável, não quer dizer
que possa ser utilizada de maneira indiscriminada e não se exime a responsabilidade
das sociedades em conservá-la e utilizá-la de forma sustentável. Ao contrário, por
compreender que se trata de um recurso vital para a natureza e as sociedades, mas
que a capacidade humana de tratar e distribuir essa água geograficamente, de acordo
com a demanda, é limitado, seu uso racional deve ser estimulado.
CAPÍTULO 2
DISPONIBILIDADE E DEMANDA
DOS RECURSOS HÍDRICOS
Caro(a) aluno(a), você pode observar que embora a superfície de nosso planeta
seja composta por quase 70% de água, a ponto da Terra receber o apelido de “Planeta
Água”, perceba que aquela própria para o consumo humano, denominada “água doce”,
gira em torno de 2,5%, apenas. No entanto, quase 70% desse montante (dos 2,5%)
encontra-se em estado sólido, nas geleiras e calotas polares e apenas cerca de 30%
estaria disponível e apropriada para o consumo. Ocorre que não conseguimos aproveitar
grande parte dessa água por questões de inviabilidade técnica, econômica ou financeira,
haja vista que a maior parte é subterrânea. Ou seja, da água mais acessível ao uso
humano e dos ecossistemas, tem-se um percentual muito pequeno, de quase 0,3%
do total de água doce disponível.
ANOTE ISSO
Assim, embora a Terra apresente 1.386 milhões de Km³ de água, apenas 0,007%
dessa quantidade está disponível para o uso humano, o que é muito pouco frente
à totalidade da água disponível no sistema. É exatamente por isso que devemos
considerar a água um recurso precioso e sua disponibilidade para consumo depende
também de um uso consciente e sustentável do meio.
Você pode estar se perguntando, mas e a água subterrânea? Atualmente, as reservas
subterrâneas constituem fonte acessível de água para o consumo humano, sobretudo
em áreas secas onde as chuvas e o escoamento são escassos. De acordo com a
UNESCO (2015), as águas subterrâneas são fundamentais para a subsistência e a
segurança alimentar de mais de 1 bilhão de pessoas nas regiões mais pobres da África
e Ásia, além de servir de suprimento doméstico para grande parte da população, em
diversas parte do mundo.
No entanto, embora relativamente mais abundante que a água doce superficial,
o grande problema do uso da água subterrânea para o consumo reside nos altos
custos de exploração e nas limitações técnicas, devido a necessidade de utilização
de tecnologia avançada, tanto para a extração do recurso quanto para a investigação
O autor.
https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/cinco-fatos-
importantes-sobre-dessalinizacao#:~:text=A%20dessaliniza%C3%A7%C3%A3o%20
envolve%20a%20remo%C3%A7%C3%A3o,produz%20polui%20os%20ecossis-
temas%20costeiros.
ANOTE ISSO
Alguns países se encontram em regiões muito secas, como é o caso dos países do
Oriente Médio e da África, outros dispõem do recurso de forma abundante, como no
caso do Brasil, que detém 12% da reserva hídrica do planeta. O continente americano
detém 39,6% das águas de superfície e a maior parte se concentra na América do
Sul (60%). A Ásia possui 31,8%, a Europa toda apresenta 15% e a África com apenas
9,7% da reserva hídrica mundial.
Nota-se, entretanto, que essa irregularidade continental não obedece à lógica da
demanda por esse recurso. É exatamente esse o grande problema da crise hídrica
mundial. Muitas vezes, ou podemos dizer que na maioria das vezes, a necessidade
por água se dá em regiões altamente povoadas, onde os recursos são escassos.
ANOTE ISSO
Crise hídrica é o termo que utilizamos quando não há uma quantidade suficiente
de água potável disponível em uma determinada região capaz de satisfazer as
necessidades humanas.
O autor
Vejamos o caso da África, por exemplo. De acordo com a UNESCO (2015), o acesso
ao fornecimento de água é o menor entre as regiões do mundo, tanto das populações
rurais quanto urbanas. Podemos observar isso confrontando os dados absolutos de
disponibilidade de água na África com os dados de densidade demográfica e demais
dados populacionais. As regiões mais problemáticas, nesse ponto, localizam-se na
África subsaariana, principalmente nas áreas rurais, onde as condições climáticas e
socioeconômicas dificultam o acesso das pessoas à água potável.
Embora a maior parte dos países da América Latina possam usufruir de satisfatória
cobertura de água potável e de saneamento, ainda existe muita diferença entre os
países, mas, sobretudo, entre as áreas urbanizadas e as áreas rurais, haja vista que
as áreas rurais geralmente são muito pobres e tanto o abastecimento de água potável
quanto às questões de saneamento são precárias.
Com o aumento da população mundial, decorrente do crescente processo de
urbanização, aumenta-se a demanda por água, não apenas para o consumo doméstico,
mas também, e em maior quantidade, para as atividades econômicas de abastecimento
alimentar e industrial. A irrigação agroindustrial, a utilização de água pelas indústrias
de bens de consumo e também de produção de energia tendem a aumentar na mesma
proporção em que aumenta a população humana e os padrões de consumo.
Na realidade, o aumento do uso da água está mais ligado ao estilo de vida das
populações do que ao número absoluto da população. Um exemplo disso é os EUA,
que possuem o maior uso per capita de água entre os países do mundo, consumindo
cerca de 2,5 vezes a mais do que todos os países da Europa juntos. Dessa maneira,
o exacerbado consumismo difundido pela globalização econômica aponta para um
uso cada vez mais predatório da água, contribuindo negativamente para um cenário
que não é muito animador.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), caso não sejam realizadas
políticas públicas necessárias à proteção dos recursos hídricos e caso as taxas de
consumo e crescimento populacional não se reduzam, metade da população mundial
não terá acesso à água limpa a partir de 2025. Esse problema já assola cerca de 20%
da população mundial, o que representa aproximadamente 1 bilhão de pessoas.
Nesse cenário, estima-se que a falta de água e a disputa pelo acesso a esse recurso
será, provavelmente, uma das causas, juntamente com a disputa territorial, em regiões
pobres do globo, principalmente na África subsariana.
Machado e Torres (2013) apontam que, de acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a quantidade mínima de água necessária para usos domésticos é de
50 litros/habitante/dia, admitindo-se que em situações de extrema pobreza esse valor
possa cair para 25 litros/habitantes/dia.
Segundo os autores, para que uma comunidade humana não enfrente problemas
relacionados à escassez hídrica, é necessário um uso per capita da água de 4.657 litros/
pessoa/dia. Esse cálculo inclui produção de alimentos (agricultura), atividades industriais
e energéticas, além do uso doméstico da água. A ausência da água potável, nesse
contexto, causa a morte de 12 milhões de pessoas por ano, de doenças decorrentes
da falta de acesso à água potável e/ou consumo de água contaminada.
Outra questão que dificulta o acesso da água é a poluição e a contaminação,
tanto das águas superficiais quanto das sub superficiais. Esse assunto será melhor
detalhado no capítulo 15.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49243195
ANOTE ISSO
Fonte: https://publica.ciar.ufg.br/ebooks/saneamento-e-saude-ambiental/modulos/5_modulo_saneamento/02-6.html
É claro que estes dados representam uma média do consumo mundial, porém,
conforme já tratamos anteriormente, o consumo da água é extremamente variado
nas diversas regiões do globo, principalmente por conta dos diferentes níveis
de desenvolvimento econômico, mas também por razões de acessibilidade e
comportamento de consumo.
De acordo com o PNUD (2006), são significativas as diferenças no consumo da
água quando se faz uma comparação simples entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento. A Tabela 1 expressa, de forma clara e simples, essa discrepância,
principalmente em relação aos usos industriais e agrícolas.
Observa-se que o fator chave para compreender essa discrepância é a questão da
industrialização. Os países mais desenvolvidos tendem a ser mais industrializados
e, em contrapartida, tendem a ter uma atividade econômica menos dependente da
agricultura.
Atividades Países desenvolvidos Países em desenvolvimento
A figura 9 ilustra a retirada de água para consumo, no Brasil. Observe que 30%
dessa água, o que representa 27,9 trilhões de litros/ano são “perdidos” no processo
natural de Evaporação, processo integrante do Ciclo Hidrológico (assunto que iremos
abordar de forma detalhada no capítulo 3).
Por ser um país economicamente forte, porém em desenvolvimento, observe que
o Brasil tem um consumo de água muito similar aos países dessa categoria, com a
diferença no destaque à produção agropecuária. Nesse ponto, cerca de metade da
água é destinada à irrigação, enquanto aproximadamente 9% serve para abastecimento
animal. Por outro lado, o uso da água para a atividade industrial é de cerca de 10%.
Esses dados, apresentados de forma mais detalhada na figura 9, demonstram a
concentração econômica em torno do agronegócio.
O problema é que grande parte dessa água potável retirada das reservas hídricas
para o nosso consumo não são, de fato, aproveitadas para realizar as tarefas do dia
a dia. Estima-se que de cada 100 litros de água tratada no Brasil, apenas 63% são
consumidos, ou seja, 37% são perdidos em vazamentos e ligações irregulares.
Além disso, outra grande parte dessa água é utilizada de forma indiscriminada
pela sociedade, seja para varrer a calçada da residência, lavar louça ou tomar banho,
tudo isso de forma demorada. Estima-se que uma torneira gotejando consuma 46
litros de água por dia. A limpeza de calçadas e garagens por 30 minutos, utilizando
mangueira com água corrente gasta um total de 280 litros e o banho com duração
de 15 minutos, consuma em torno de 144 litros de água.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2019 o Brasil
desperdiçou um volume de água que seria suficiente para abastecer 63 milhões de
pessoas. Esse número representa quase 40% do total de captação de água potável
no país.
CAPÍTULO 3
CICLO HIDROLÓGICO
Caro(a) aluno(a), conforme vimos nos capítulos anteriores, a água pode ser encontrada
no estado sólido, líquido e gasoso. Ela está presente nos oceanos, na atmosfera, na
superfície terrestre e no subsolo.
Embora possamos estimar a quantidade de água em cada um desses ambientes
mencionados, é importante frisar que a água está em constante movimento,
constituindo o que didaticamente denominamos ciclo hidrológico (Figura 11). Esse
ciclo tem na energia solar seu motor propulsor, haja vista ser ela a energia responsável
pelo aquecimento da água e sua consequente evaporação, tanto das águas oceânicas
quanto das continentais. Não podemos esquecer também que a energia solar é a
responsável pela evapotranspiração da massa vegetal.
ANOTE ISSO
A água que infiltra é absorvida pelo solo e pelas rochas por meio de seus poros,
fissuras ou fraturas. O limite inferior da percolação da água se dá quando esta atinge
rochas impermeáveis, não apresentando mais porosidade devido à pressão das rochas
sobrejacentes (que estão acima). A profundidade máxima que isso ocorre é cerca de dez
mil metros, a depender do tipo de rocha e da situação topográfica.
Dessa maneira, por ação da gravidade, toda a água tende a atingir esse limite inferior,
onde sofre represamento, ocupando todos os espaços em direção à superfície. Essa zona
cujo espaço é completamente preenchido por água denominamos zona saturada ou zona
freática. A água que vai se infiltrando acaba por atingir a zona saturada e vai compondo
as reservas de águas subterrâneas. Essa composição é chamada recarga dos aquíferos.
Acima desse nível, os espaços vazios estão preenchidos parcialmente por água, mas
também por ar. Assim, a água não consegue ocupar todos os espaços. Essa parte do
solo é denominada zona não saturada ou zona aerada.
Conforme observamos na Figura 15, o solo é composto por uma zona não saturada
e por uma zona saturada. Na zona saturada (aquíferos), os poros ou fraturas das rochas
estão completamente preenchidos pela água, apresentando saturação. O nível freático
representa o limite entre a zona saturada e a não saturada. Isso é facilmente observado
com a abertura de um poço raso no local, assim, o nível d’água que se encontra representa
a profundidade do lençol existente naquele ponto.
ANOTE ISSO
ANOTE ISSO
Os lençóis freáticos geralmente têm uma água bastante limpa devido à filtração
natural que ela sofre ao escorrer pelo solo poroso. Tanto é que as águas minerais
podem ser consumidas sem necessidade de tratamento. Mas, nas grandes cidades,
ou mesmo no campo, devido ao uso de agrotóxicos, a qualidade da água presente
nos lençóis freáticos é bastante prejudicada, principalmente junto aos lixões.
ANOTE ISSO
Perceba, caro(a) aluno(a), que o ciclo da água é dinâmico, haja vista que ela está
sempre alterando de estado físico e mudando de posição no espaço. Dessa forma,
a água que hoje está no oceano pode ter sido subterrânea, ou, ainda, a própria água
subterrânea já passou pela atmosfera, pelos rios, lagos e oceanos, por exemplo.
O ciclo hidrológico é responsável pela movimentação de uma enorme massa de
água pelo globo. A maior parte da água na Terra não passa pelo ciclo hidrológico
rapidamente, ou seja, não muda de um lugar para o outro de forma frequente. A maior
parte da água, então, tende a se depositar em reservatórios e o tempo em que ela
reside nesse local varia muito (tempo de residência). Quando a água penetra no solo,
por exemplo, ela pode levar milhares de anos até atingir os aquíferos mais profundos.
Outra parte da água da Terra passa por esse ciclo de forma mais rápida.
Reservatórios Período médio de renovação (tempo de residência)
Oceanos 2.500 anos
Água subterrânea 1.400 anos
Umidade do solo 1 ano
Áreas permanentemente congeladas 9.700 anos
Geleiras em montanhas 1.600 anos
Solos congelados 10.000 anos
Lagos 17 anos
Pântanos 5 anos
Rios 16 dias
Biomassa algumas horas
vapor d’água na atmosfera 8 dias
Tabela 2 – Período de renovação da água em diferentes reservatórios da Terra
Fonte: SETTI et al. (2001, p. 65).
O ciclo hidrológico em uma superfície pode ser expresso por uma fórmula simples.
Nesse caso, utilizaremos como exemplo o trabalho de Setti et al. (2001) sobre o ciclo
hidrológico nos continentes:
Pc = Evtc + ESs + ESb
Onde:
Pc = a quantidade de precipitação que cai sobre sobre os continentes;
EVTc = evapotranspiração nos continentes;
ESs = escoamento superficial
ESb = escoamento subterrâneo (infiltração)
Portanto, observa-se, na Figura 18, que, anualmente, cerca de 119 mil km³ de
água são precipitados sobre os continentes, dos quais, aproximadamente, 74.200
km³ evapotranspiram e retornam para a atmosfera (vapor), 42.600 km³ escoam
superficialmente em direção aos corpos hídricos (rios, lagos e oceanos) e 2.200 km³
infiltram no solo, formando o chamado escoamento subterrâneo.
Km³, ou seja, podemos concluir que o volume de água que escoa dos continentes
para o oceano é igual ao valor que retorna dos oceanos para os continentes sob a
forma de vapor d’água, fechando o ciclo (SETTI et al., 2001).
É importante ressaltar que a quantidade de água do oceano que sofre evaporação
é superior à quantidade de água que retorna a ele através da chuva no continente. Ou
seja, a maior parte da chuva (cerca de 90%) que precipita nos continentes é proveniente
da água evaporada do mar.
Baseando-se nesse cálculo expresso anteriormente, também é possível estimar o
ciclo hidrológico de uma bacia hidrográfica, por meio de uma equação simplificada:
P = Etp + R + I
Onde:
P = quantidade de precipitação que cai sobre a bacia;
Etp = quantidade de água que volta à atmosfera em formato de vapor;
R = quantidade de água que escorre superficialmente;
I = água que infiltra no solo.
ANOTE ISSO
Fonte: https://www.estantevirtual.com.br/livros/samuel-murgel-branco/aventuras-de-uma-gota-dagua/2521375294
Caro(a) aluno(a), a essa altura, você já percebeu que, embora possamos expressar
didaticamente o ciclo hidrológico iniciando na precipitação e finalizando na evaporação
ou infiltração da água no subsolo, é correto advertir que o movimento é cíclico e
sistêmico, a água está em movimento contínuo, tanto em localização quanto em
estado físico. Dessa forma, não há um início e nem um fim.
A água é o bem da vida, elemento essencial à manutenção de todos os ecossistemas
da biosfera, além de ser vital à manutenção das atividades econômicas dos seres
humanos. Por isso, o estudo do ciclo hidrológico, seus conceitos e funcionamento
são de vital importância para a Geografia.
Além da importância em si mesmo, o ciclo ainda contribui para a ocorrência de outros
ciclos naturais, principalmente devido à precipitação atmosférica e ao escoamento
superficial, que contribuem para a ciclagem de diversos elementos, entre eles o carbono,
o nitrogênio, o fósforo e o enxofre.
CAPÍTULO 4
PLUVIOSIDADE
ANOTE ISSO
Na medida em que o vapor d’água vai ganhando altitude, ele se resfria e se condensa,
até atingir seu ponto de saturação, ou seja, sua capacidade de conter umidade. A
condensação é o processo pelo qual o vapor d’água contido no ar atmosférico é novamente
transformado em água líquida. É assim que as nuvens são formadas. A condensação
desse vapor no interior de uma massa de ar se dá quando atinge a saturação, isto
é, quando há diminuição da capacidade de retenção de vapor de água (MACHADO;
TORRES, 2013). Dizemos, então, que o ar está saturado quando ele apresenta a
concentração máxima de vapor d’água que pode conter.
ANOTE ISSO
ANOTE ISSO
Um estudo divulgado pela revista Science e reproduzido pelo Jornal da USP (2018)
revelou como a presença atmosférica de partículas ultrafinas de aerossol pode
intensificar o processo de formação de nuvens e também as chuvas que caem
sobre a região amazônica.
“As partículas de aerossol são essenciais no processo de formação de nuvens
porque são elas que oferecem uma superfície para o vapor d’água se condensar. As
gotículas formadas pela condensação são pequenas, mas elas acabam colidindo
umas com as outras e, assim, crescendo. As gotas aumentam de tamanho e,
quando ficam pesadas o suficiente, precipitam”
Conforme vimos no tópico anterior, a chuva pode ser definida como o conjunto de
águas originárias do vapor de água atmosférico que se precipitam, em estado líquido,
sobre a superfície terrestre. Sua formação sempre está relacionada à ascensão das
massas de ar quente e úmida e à formação de nuvens.
Elas podem ser classificadas em três tipos principais, relacionadas à sua gênese:
chuvas convectivas; chuvas chuvas frontais; chuvas orográficas ou de relevo, conforme
demonstrado na Figura 20.
As chuvas convectivas (Figura 20-1) são formadas pelo aquecimento das massas de
ar concentradas, que se encontram em contato com a superfície aquecida (terra ou
oceano). Ao aquecer, essas massas de ar quente e úmida ganham altitude e condensam,
em função da temperatura. Esse tipo de chuva é bem comum em regiões equatoriais
onde a evaporação é mais intensa. Ocorrem também com maior frequência no verão,
em clima tropical. As chuvas se caracterizam por serem intensas, mas de curta duração.
As chuvas frontais, também chamadas de chuvas normais (Figura 20-2), são as mais
comuns e resultam da instabilidade causada pelo encontro de duas massas de ar,
normalmente uma massa de ar quente que se choca com uma massa de ar frio. No
encontro das duas massas, a frente de contato da massa de ar mais quente e úmida
é empurrada violentamente para cima, causando o resfriamento dessa massa e, como
consequência, a precipitação.
Diferentemente das chuvas convectivas, que são de curta duração, as chuvas frontais
costumam ser intensas, contínuas e afetam grandes áreas. São mais comuns em
áreas de médias latitudes. Essas chuvas, associadas a frentes frias, são geralmente
bem severas e geram tempestades e ventos fortes.
As chuvas orográficas ou de relevo (Figura 20-3) ocorrem devido à ascensão forçada
de ventos úmidos causados por um obstáculo do relevo, geralmente montanhas
ou serras. Essa massa de ar que se eleva, gradativamente se esfria, provocando a
condensação e a posterior precipitação. As vertentes do obstáculo voltadas para o
vento se denominam barlavento e são nelas que as chuvas vão cair. Do outro lado do
obstáculo, denominado sotavento, o ar descendente é seco e mais frio.
Observa-se, na Figura 21, que o pluviômetro pode ser utilizado em diversas situações
em campo. Por exemplo, imagine que faremos um estudo em que precisamos coletar
dados pluviométricos de uma determinada área e estabelecer a relação da cobertura
vegetal com a quantidade de água que cai no solo. Dessa forma, posicionamos
nossas amostras em lugares heterogêneos. A exemplo da figura citada anteriormente,
primeiramente, posicionamos o instrumento em uma área aberta (a); em seguida,
colocamos outro instrumento em uma área com vegetação arbórea (b); e, depois,
colocamos outro no tronco da árvore para medir o escoamento da água nesse ambiente.
Como resultado, teremos índices diferentes em cada uma das amostras, haja vista
que, na área aberta, por exemplo, não haverá interceptação da água por parte da
vegetação. Na área (b), a vegetação vai interceptar a água da chuva e essa água vai
cair no instrumento de maneira mais lenta, comprovando a importância da vegetação
para evitar o escoamento superficial.
Outro instrumento muito utilizado é o pluviógrafo (Figura 21). Trata-se de um
instrumento um pouco mais sofisticado e se difere do pluviômetro basicamente por
ter um mecanismo de registro automático da precipitação, gerando informações mais
CAPÍTULO 5
BACIAS HIDROGRÁFICAS:
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Podemos ver que, entre os autores discutidos nos parágrafos anteriores, há algumas
relações de ideias que podem nos ajudar em uma definição mais simplificada do termo.
Dessa maneira, podemos definir bacia hidrográfica como a área delimitada por um
divisor de águas, denominado interflúvio, que drena as águas da chuva para um curso
principal (rio ou córrego), convergindo para uma única saída (exutório), desaguando
diretamente para um rio maior, um lago ou para o oceano. Ou seja, a bacia é constituída
por um conjunto de vertentes, sobre o qual a água precipitada escoa para compor uma
rede de drenagem formada por cursos d’água que confluem até o exutório, também
denominado foz.
Dessa forma, as bacias são drenadas por um rio principal e por todos os seus
afluentes (rios e córregos), também denominados tributários. Geralmente, as bacias
recebem o nome de seu rio principal. Por exemplo, o município de Marília se localiza
na bacia hidrográfica do rio do Peixe, no qual esse rio é o principal e a bacia recebe
esse nome. Um dos rios que banha o município é o ribeirão Barbosa, que é tributário
do rio do Peixe, que, por sua vez, é tributário do rio Paraná.
A rede fluvial, ou rede de drenagem, que compõe uma bacia, é constituída por
rios, córregos e riachos e é a responsável pela coleta e distribuição das águas e
dos sedimentos de uma área para a outra. Além da própria composição da rede de
drenagem, outros elementos também são importantes e interferem diretamente na
captação de água e sedimentos em uma bacia hidrográfica, entre eles a rocha, o solo,
a vegetação e o próprio uso humano do solo.
Nesse sentido, todas as mudanças ocorridas em uma bacia interferem nos rios que a
compõem. A água dos rios é alimentada diretamente pela precipitação e indiretamente
pela água infiltrada que abastece o sistema de forma mais lenta. Por isso, qualquer
modificação nos elementos apontados anteriormente podem alterar drasticamente
a rede fluvial, em diferentes porções da bacia.
ANOTE ISSO
Os rios são responsáveis pela drenagem de uma bacia, isto é, por transportar
sedimentos de um ponto para outro e, por isso, são capazes de alterar as formas
do relevo ao longo do tempo.
Lembrando o que já vimos, uma parcela dessa água precipitada sofre infiltração ou é
interceptada pela vegetação, sendo posteriormente evaporada.
• Exorreica: quando a bacia drena suas águas direta ou indiretamente para o mar.
A maior parte dos rios têm essa dinâmica.
• Endorreica: quando a bacia hidrográfica drena suas águas para um lago ou um
mar fechado, como, por exemplo, nos rios que deságuam nos Grandes Lagos,
entre os Estados Unidos e o Canadá. Não temos esse tipo de drenagem em
nosso país.
• Arreica: quando há escoamento das águas para o lençol freático, alimentando
as águas subterrâneas ou evaporam pela ação do forte calor. Esse tipo de bacia
é muito comum em regiões desérticas.
• Criptorreica: quando a água dos rios que formam a bacia hidrográfica se infiltra
no subsolo, formando os chamados rios subterrâneos. Esse tipo de bacia é
comum em áreas de formação calcária.
A forma como vai ser desenvolvida a atividade fica a critério de cada professor. No
entanto, podemos sugerir a seguinte ideia:
• Leve a folha de couve para a sala de aula e explique que ela, neste momento,
pode ser compreendida como um modelo mais simples de representação da
bacia hidrográfica.
• Explore a imagem e pergunte aos alunos que, se a folha de couve fosse a nossa
representação de bacia hidrográfica, onde seria o rio principal, seus afluentes e o
curso d’água.
• Pergunte aos alunos qual parte da couve podemos considerar a foz do rio e qual
seria a sua nascente. Explique que faz parte da bacia hidrográfica toda a água
superficial e subterrânea em direção ao leito de um curso d’água. Aproveite esse
momento para relembrar o ciclo da água com os alunos e também a formação
das águas subterrâneas responsável por manter o equilíbrio hídrico dos rios e
lagos.
• Lembre-se que isso é apenas um recurso didático e, de forma alguma, deve
substituir o conteúdo explicado em sala. O professor deve procurar relembrar os
conceitos antes, durante e depois da atividade proposta.
Uma vez definido o que se entende por bacia hidrográfica, como podemos definir,
então, seu limite? Como estabelecemos que um determinado tributário faz parte de
uma determinada bacia e não da outra ao seu lado, por exemplo?
Não importa a técnica utilizada, a bacia é sempre delimitada identificando os
interflúvios, que são seus divisores topográficos. Entendendo-se que uma bacia
hidrográfica é definida como um conjunto de vertentes que direcionam a água para
o ponto mais baixo, e o escoamento superficial se dá pela ação da gravidade, vindo
das cotas mais altas, fica simples compreender que a região das áreas mais altas
estabelecem uma divisão de terreno, onde, a depender da localização da água, ela irá
escoar para uma bacia ou para outra.
Observe que, na Figura 26, o divisor de águas (Interflúvio) são as áreas mais altas
da bacia e representa o limite entre as bacias do rio A e a do rio B. Dessa forma, as
águas que escoam superficialmente no lado esquerdo da vertente vão compor a bacia
do rio A, ocorrendo o mesmo para a bacia do rio B.
Perceba que as duas bacias estão separadas por um interflúvio cuja cota altimétrica é de
113 metros de altitude, provavelmente representando um topo de morro. O que podemos
compreender com isso? Toda a água que vai escoar à direita dessa vertente pertencerá à
bacia do córrego B, conforme facilmente observado no perfil traçado da referida Figura.
Repare que as curvas de nível representam cotas de 5 em 5 metros. Dessa forma,
na bacia do córrego B, os pontos mais baixos estão a 100 metros de altitude, enquanto
o córrego A está a 95 metros de altitude.
A resolução espacial dessas imagens, que estão disponíveis para acesso livre e uso
irrestrito, é de 90 metros. As imagens SRTM podem ser obtidas nos seguintes sites:
NASA – http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/
EMBRAPA - http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br
EMBRAPA - http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/index.htm
INPE - Projeto TOPODATA:
http://www.dsr.inpe.br/topodata/
http://www.dsr.inpe.br/topodata/data/geotiff/
http://www.dsr.inpe.br/topodata/data/geotiff/
CAPÍTULO 6
PADRÕES DE DRENAGEM
E MORFOLOGIA DE
CANAIS FLUVIAIS
ANOTE ISSO
ANOTE ISSO
O tempo de contribuição (Tc) é definido como o tempo necessário para que toda a
bacia contribua com a vazão até o exutório. Esse tempo se inicia na precipitação, ou
seja, no momento em que a água cai na bacia hidrográfica.
É bom que se esclareça que a Figura 29 apresenta bacias hidrográficas com formatos
diferentes, mas com a mesma área de drenagem e com as mesmas características
físicas. Em outras palavras, em igualdade de fatores geológicos, pedológicos, de uso e
ocupação do solo, entre outros fatores, quanto mais arredondada for uma bacia, maior
será a sua tendência à ocorrência de cheias e possibilidade de enchentes. É claro que,
quando fazemos esse tipo de análise, outros fatores, descritos anteriormente, devem
ser considerados, pois também influenciam na vazão da água.
As bacias de formatos retangulares, trapezoidais ou triangulares, também são menos
suscetíveis a enchentes do que as circulares, ovais ou quadradas (ROCHA; KURTZ,
2001).
Há diversas métricas para a análise da forma da bacia, entre os principais estão os
índice de compacidade (kc), que relaciona o perímetro da bacia e um círculo de área
igual; e o índice de circularidade (Ic), que expressa a relação existente entre a área da
bacia e a área do círculo de mesmo perímetro.
Observa-se, pelo mapa da Figura 30, que a bacia apresenta baixos valores de
declividade. As regiões Norte e Oeste apresentam os menores valores, variando de 0
a 3% e no máximo 8%, nas vertentes de maior comprimento. Nesses pontos, o relevo
varia de plano para suavemente ondulado e o escoamento superficial é de lento a
médio, apresentando ligeira suscetibilidade à erosão.
As declividades maiores que 8% se encontram nas baixas vertentes, onde o
relevo já começa a ter características de ondulação, com superfícies mais inclinadas.
Nesses pontos, a declividade já começa a ser um fator mais incisivo ao aparecimento
de processos erosivos e a suscetibilidade à erosão é considerada moderada.
As áreas que indicam valores entre 20% e 23% se localizam nos fundos de vales, bem
próximos às áreas de drenagem. Nesses pontos, o relevo já apresenta forte ondulação
e o escoamento superficial passa a ser mais rápido. São esses os pontos onde deve
haver maior atenção ao uso e ocupação do solo, haja vista que a suscetibilidade a
processos erosivos é considerada forte.
Esse exemplo foi utilizado apenas para ilustrar a importância da declividade nos
processos hídricos e no monitoramento das fragilidades ambientais em uma bacia
hidrográfica. No entanto, uma análise de fragilidade deve levar em conta uma quantidade
muito maior de fatores fisiográficos e de ocupação do solo, não apenas a declividade.
dizer que esse tipo de separação e caracterização é feita para facilitar os estudos
morfométricos. Nesse sentido, pode ser considerado o primeiro passo para a análise
das bacias hidrográficas (TAVEIRA, 2018).
Existem diversos sistemas de classificação para hierarquização dos canais fluviais,
no entanto, vamos nos concentrar na classificação de Strahler (1957), amplamente
utilizada na hidrogeografia. Nesse sistema, todos os canais que não têm afluentes são
considerados de primeira ordem, incluindo as nascentes. Assim, os canais de segunda
ordem são formados pela união de canais de primeira ordem e os canais de terceira
ordem originam-se da confluência dos de segunda ordem, e assim sucessivamente,
conforme descrito na figura 35.
Na medida em que a ordem dos canais aumenta, para jusante, há uma tendência
de diminuição das declividades, diminuindo a velocidade do fluxo da água, onde ocorre
a deposição de sedimentos trazidos do trecho superior. Dessa maneira, as vazões
tendem a ser mais uniformes e as águas mais turvas, em virtude dos sedimentos
transportados (MACHADO; TORRES, 2003).
Perceba, caro(a) aluno(a) que são muitas as variáveis que definem as características
e os padrões de drenagem em uma bacia hidrográfica. Conhecer os conceitos de
grande parte delas, entendê-los e aplicá-los, sempre de forma integrada, é importante
ao geógrafo e contribui para o manejo e gestão do território.
CAPÍTULO 7
GEOMORFOLOGIA FLUVIAL
E AS FORMAS DE RELEVO
A crosta apresenta valores médios de 40 km, com 70 km nas partes mais espessas
e 5 km nas menos espessas. Podemos ver, então, que sua espessura é bem fina, haja
vista que a espessura média do manto é de aproximadamente 2.870 km e o raio médio
do núcleo teria cerca de 3.480 km (ROSS, 2019).
Entre o núcleo e a crosta encontra-se o manto, que é composto por rochas de
densidade intermediária, em sua maior parte constituída por oxigênio com magnésio,
ferro e silício. Trata-se da região que forma a maior parte da Terra sólida e abrange
profundidades que vão desde 40 até 2.900 km (PRESS, et al., 2006). O manto ainda
pode ser dividido em superior e inferior. O manto superior é formado por rochas em
estado pastoso, em virtude do calor emanado pelo núcleo. O manto inferior, por sua
vez, tem formação basicamente líquida, haja vista que as rochas se fundem por conta
da alta temperatura do núcleo.
ANOTE ISSO
As informações atuais que temos das camadas profundas da Terra, seus materiais
componentes, espessura e densidade foram adquiridas de forma indireta, por meio
das observações de dados sísmicos, haja vista que as maiores profundidades
atingidas até hoje pelas perfurações humanas na crosta não ultrapassam os 6.000
metros.
O comportamento das ondas sísmicas altera-se de acordo com a sua passagem
nos diferentes elementos que constituem cada camada da Terra. As liberações
de ondas sísmicas são constantes em regiões de cadeias orogênicas, fossas
submarinas e nas cadeias oceânicas. A maior parte é de baixa intensidade e pode
ser captada apenas pelo uso de sismógrafos. Apenas sentimos esses tremores na
superfície quando sua intensidade é maior.
Somente por meio dos métodos indiretos de análise que os cientistas passaram
a conhecer de forma mais complexa o interior da Terra. Os estudos realizados no
assoalho oceânico, por meio de equipamentos de sondagem e radar, a partir da
década de 1960, possibilitaram compreender diversas características das rochas
e do relevo submarino, características que nos auxiliaram no entendimento da
dinâmica atual e pretérita da crosta terrestre.
Wegner afirmava que as massas continentais “flutuavam” sobre uma camada rica
em silício e magnésio, denominada sima e, reunindo dados geológicos, paleontológicos,
biogeográficos e climáticos, comprovou a hipótese da fragmentação do supercontinente
Pangeia nos continentes Gondwana e Laurásia, dos quais os continentes atuais teriam
se originado, a partir de uma nova fragmentação.
Durante as décadas de 1940 e 1960, um grande volume de pesquisas e dados
científicos, potencializados pelos novos avanços tecnológicos do período pós-guerra
permitiram reunir uma série de evidências cruciais à elaboração da hipótese de
expansão do fundo oceânico, apresentada pelo norte americano Harry Hess, em 1959.
A descoberta da dorsal meso-oceânica (Figura 39), cadeia de montanhas localizada no
fundo oceanico, entre os continentes sulamericano e africano, de aproximadamente
84.000 km de comprimento por 1.000 km de largura, contribuiu para consolidar a
hipótese levantada pela teoria da deriva continental. Boas e Marçal (2014, p. 86)
explicam que:
ANOTE ISSO
Você sabia que o motivo do Brasil não sofrer com abalos sísmicos de maneira
intensa está ligado ao fato de se situar no centro da placa tectônica Sul-americana?
A movimentação dessa placa não gera movimentos convergentes, fazendo
com que não tenhamos terremotos em grande escala, embora possamos sentir
tremores irradiados, principalmente da região de convergência entre as placas de
Nazca e a Sul-americana, responsável pelo soerguimento da cordilheira dos Andes.
Mas a litosfera é formada por placas do mesmo tipo e com a mesma composição
de rochas? Na verdade não, ela se constitui de duas famílias de rochas com formações
e idades diversas. Essa diferença estrutural culminou em uma divisão da litosfera
em duas partes distintas: uma crosta continental ou ciática e uma crosta oceânica
(ROSS, 2019).
Há inúmeras diferenças entre as duas crostas, sobretudo no que tange à espessura,
na tipologia das rochas e nas formas do relevo. Enquanto a crosta terrestre apresenta
espessura média de 40 km, podendo atingir até 70 km, a crosta oceânica tem espessura
média de 7 km. Além disso, a quase totalidade das rochas oceânicas são ricas em
silicatos de magnésio e ferro (SIMA), pertencentes ao grupo de rochas magmáticas,
como o basalto ou diabásio. Pela sua composição, apresentam densidade um pouco
mais elevada do que as rochas da crosta continental, ricas em silicato de alumínio
(SIAL), compostas por rochas metamórficas, ígneas ou sedimentares. Outro fator que
as diferencia é a idade, enquanto as rochas do assoalho oceânico possam chegar aos
250 milhões de anos, as da crosta terrestre são datadas do pré-cambriano, podendo
ter 4,5 bilhões de anos (ROSS, 2019).
A teoria da tectônica de placas também foi fundamental para uma melhor análise e
compreensão dos mecanismos de formação e modelagem do relevo. Primeiramente,
devemos compreender que o relevo é o resultado de duas forças atuantes:
De acordo com Ross (2019), podemos dividir o relevo do fundo oceanico em três
grandes unidades: a margem continental; as bacias oceânicas; e os sistemas de
cordilheiras mesoceânicas, conforme ilustrado na figura 39.
CAPÍTULO 8
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Devemos saber que todo tipo de rocha e solo possuem poros, mesmo que esses sejam
poucos em quantidade e pequenos em tamanho. Porém, existem solos, sedimentos
e rochas que possuem maior quantidade de espaços porosos, como é o caso do
arenito e do calcário, por exemplo. A quantidade de espaços porosos é denominada
porosidade e ela se refere à porcentagem do volume total que é ocupada pelos poros.
Nesse sentido, a porosidade vai depender do tamanho e da forma do grão e como
eles estão dispostos. A porosidade é mais alta em sedimentos e rochas sedimentares,
podendo chegar a 40%, enquanto que em rochas ígneas e metamórficas pode chegar
a 2%, apenas (PRESS et al., 2006).
Existem dois tipos fundamentais de porosidade nos materiais terrestres, a porosidade
primária e a porosidade secundária. Segundo Teixeira (2000, p. 121):
ANOTE ISSO
Quando a água infiltrada, encontra uma barreira com dimensão restrita na zona
não saturada, tal como uma lente argilosa, por exemplo, podendo se acumular e ficar
armazenada temporariamente e formando o que chamamos de aquífero suspenso.
Em épocas sem chuva, quando não há recarga, estes aquíferos tendem a se esgotar
(IRITANI; EZAKI, 2008).
O aquífero confinado (Figura 44) é carregado de água, cujos extremos inferiores e
superiores são limitados por rochas praticamente impermeáveis, entre elas as rochas
vulcânicas maciças e argila. A água desse aquífero denomina-se artesiana e, geralmente,
sua pressão é mais elevada que a pressão atmosférica. Dessa forma, ao se perfurar
o aquífero a água poderá jorrar por causa da diferença de pressão existente.
https://www.nasa.gov/jpl/grace/study-third-of-big-groundwater-basins-in-distress
planeta, ao menos os que possuem maior relevância e que são mais comumente
estudados. Entre eles destaca-se o Arenito Núbia, que se localiza no Egito, Chade, Líbia
e Sudão, apresentando dimensões de 2 milhões de km² e capacidade de 150.000 km³
de água; o aquífero Kalahari Karoo, localizado na Namíbia, Botswana e África do Sul,
cuja extensão é de 135 mil km²; o Digitalwaterway vechte, localizado na Holanda e
Alemanha, que apresenta aproximadamente 7,5 mil km²; o Aquífero Praded, localizado
na Polônia e República Checa, com dimensões de 3,3 mil km²; o Bacia Artesiana, que
está localizado na Austrália, apresentando extensão de 1,7 milhões km²; e o Bacia
Murray também localizado na Austrália, com extensão de 297 mil km².
A combinação das estruturas geológicas com fatores geomorfológicos e climáticos
do Brasil resultou na configuração de 10 províncias hidrogeológicas, que são regiões
com sistemas aqüíferos com condições semelhantes de armazenamento, circulação
e qualidade de água (REBOUÇAS et al., 2002).
Tendo seu nome sugerido como forma de homenagear a memória da nação Guarani,
O referido aquífero é considerado uma das maiores reservas de água subterrânea
do mundo e se estende desde a Bacia Sedimentar do Paraná até a Bacia do Chaco-
Paraná. Possui dimensão aproximada de 1,2 milhão de quilômetros quadrados; tem
dois terços (840 mil km²) distribuídos em oito estados brasileiros (SILVA, 2011).
A porção aflorante deste aquífero, isto é, aquela que se pode observar na superfície
do terreno e que tem comportamento de aquífero livre, é pequena ao compararmos
com sua área total.
Formado há cerca de 130 milhões de anos, é constituído, predominantemente, por
arenitos de granulação média a fina, depositados pela ação eólica, em um ambiente
desértico. Como este arenito é bastante homogêneo, possui grande quantidade de
poros interconectados, que imprime uma elevada capacidade de armazenar e fornecer
água, conforme apontam Filho et al:
CAPÍTULO 9
BACIAS HIDROGRÁFICAS
COMO INSTRUMENTO DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO
lento. Por isso, qualquer interferência nas áreas próximas aos rios poderá causar
modificações na rede fluvial, em diferentes porções da bacia hidrográfica.
Pela sua distribuição espacial, apresentam, na maioria dos casos, diferentes
paisagens que, em geral, representam diferentes estágios de sua evolução. Nesse
termos, Nascimento e Carvalho (2021) advertem sobre a adoção de metodologias de
análise integrada da paisagem quando é utilizada a bacia hidrográfica como recorte
espacial de análise geográfica:
É exatamente por isso que a análise geográfica deve levar sempre em conta as
interações do ser humano com a natureza e as implicações disso para as sociedades,
tanto do ponto de vista da interferência negativa na qualidade de vida humana quanto
das consequências negativas que esse uso causa nos ecossistemas e na paisagem.
Na área da bacia é que desenvolve todas as atividades de exploração econômica
(urbanas, industriais, agrícolas), que geram consequências diretas e indiretas sobre
o meio físico natural da bacia hidrográfica. Nesse contexto, qual escala de análise é
a ideal para compreensão desses processos?
De acordo com Porto e Porto (2008), a questão da escala de análise a ser utilizada
vai depender do problema a ser solucionado. Citando alguns exemplos, os autores
explicam:
O uso de bacias hidrográficas como unidade de gestão natural teve sua consolidação
na década de 1970 em consequência da necessidade de promover a recuperação
ambiental e a manutenção de recursos naturais escassos como a água.
No entanto, a gestão dos recursos hídricos baseadas nesse conceito só ganhou
força a partir de 1992, com a criação e difusão dos Princípios de Dublin, quando
passou a adotar a bacia hidrográfica como uma unidade de integração físico-territorial
de planejamento, determinando que a prioridade para o uso dos recursos hídricos é,
primeiramente, para o consumo humano e posteriormente para fins múltiplos. Esse
documento também prezava a gestão descentralizada e participativa da água, assim
como o seu efetivo reconhecimento como item econômico.
ANOTE ISSO
No Brasil, a Lei 9.433/97, denominada Lei das Águas, instituiu a bacia hidrográfica
como unidade territorial básica de análise para fins de planejamento e gestão do uso
e ocupação do solo, em função de suas características naturais, principalmente, onde
há grande pressão antrópica em função do crescimento populacional (SANTOS, 2004).
Dessa forma, embora no Brasil seja papel da União prezar pela gestão dos recursos
hídricos (BRASIL, 1988), a bacia hidrográfica é vista mais como unidade territorial do
que como recurso hídrico, propriamente dito. Sendo assim, a gestão desses territórios
deve ser integrada e pulverizada entre as três esferas administrativas: União, Estados
e Municípios, em que a bacia esteja contida.
Onde:
V= vulnerabilidade
G = vulnerabilidade para a variável Geologia
R = vulnerabilidade para a variável Geomorfologia
S = vulnerabilidade para a variável Solos
Vg = vulnerabilidade para a variável Vegetação
C = vulnerabilidade para a variável Clima
Dessa forma, foi proposta uma escala de vulnerabilidade que estabelece 21 classes
de vulnerabilidade à perda do solo (Figura 49). Esses valores representam o estágio de
evolução morfodinâmica das unidades territoriais analisadas. Assim, a unidade será
estável quando prevalece a pedogênese, apresentando valores mais próximos a 1.0;
intermediária, quando houver equilíbrio entre pedogênese e morfogênese, apresentando
valores próximos a 2.0; e instável quando prevalecer a morfogênese em detrimento
da pedogênese, atribuindo-se valores próximos a 3.0 (CREPANI et al, 2001).
Em relação à escolha das cores, procurou-se obedecer aos critérios cartográficos que
buscam associar às cores “quentes” e seus matizes (vermelho, amarelo e laranja) situações
de emergência, e às cores “frias” e seus matizes (azul, verde) situações de tranquilidade.
Assim, aos valores que resultam entre 1,1 e 1,9 são atribuídas as variáveis das cores
azul e verde, ficando mais verde quando se aproxima de 2,0. As cores resultantes da
combinação do verde com vermelho correspondem aos valores que se situam entre
2,1 e 2,9, aumentando o vermelho quando se aproxima do valor 3,0.
Esse modelo pode ser adotado por qualquer estudo em qualquer bacia hidrográfica.
No entanto, os modelos sempre devem, quando necessários, sofrerem alterações em
função dos objetivos e escalas de cada estudo.
a bacia comporta um único regime climático. Nota-se que a autora utilizou também
um recorte temporal em seu estudo, fato que não iremos nos ater neste exemplo.
CAPÍTULO 10
POLÍTICA NACIONAL E A
GESTÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS NO BRASIL
10.1 Lei Nacional das Águas e as gestão dos recursos hídricos no Brasil
A mudança principal preconizada por essa Lei tem relação com os mecanismos
de gerenciamento, deixando de adotar um modelo centralizador e adotando medidas
de participação conjunta entre setores governamentais e da sociedade civil. A Lei da
água adere, então, os princípios de Dublin, sendo eles: adoção das bacias hidrográficas
enquanto unidades territoriais para gestão, planejamento e organização do território; a
prioridade de uso dos recursos hídricos devem estar voltados às necessidades básicas
dos seres humanos; a gestão deve ser integrada e participativa; e reconhecimento da
água como item econômico.
A PNRH tem por objetivo assegurar à atual e futuras gerações a necessária
disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos,
visando sua utilização de maneira racional e integrada, além da prevenção e defesa
contra eventos hidrológicos críticos, de origem natural ou antrópica, decorrente do
uso inapropriado dos recursos naturais (TAVEIRA, 2018).
Braga et. al (2008) resumem bem os princípios sobre os quais se baseia a política
nacional e gestão dos recursos hídricos em nosso país:
de forma compartilhada com o poder público, dando a eles (comitês) o poder de tomar
decisões sobre um bem público comum. Então, antes de se tornarem leis e normas
para o uso da água, elas passam primeiramente pelo comitê (TAVEIRA, 2018).
Segundo a ANA (2011), cabe aos comitês a competência de promover o debate
acerca das questões de interesse da bacia hidrográfica, relacionadas aos recursos
hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes. Complementa que cabe
aos comitês:
https://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/CEDOC/Catalogo/2012/CadernosDeCapacitacao1.pdf
ANOTE ISSO
Porém, a maior parte (63%) está situada no Brasil, com uma área de aproximadamente
3,8 milhões de km², e 7 mil km de extensão. Abrange os estados do Acre, Amazonas,
Rondônia, Roraima, Amapá, Pará e Mato Grosso. A região hidrográfica drena grandes
cidades, cuja população total é de aproximadamente 9,6 milhões de habitantes (IBGE,
2010). Embora detenha 72% de toda a água do território brasileiro, a região é habitada
por menos de 8% da população brasileira, fato que nos remete ao assunto tratado
no capítulo 2 acerca da distribuição desigual dos recursos hídricos em nosso país.
Seu tributário principal nasce na região dps Andes peruanos com o nome de Ucaiali,
atravessa a selva equatorial do Peru e penetra em território brasileiro, no estado do
Amazonas, com o nome de Solimões, que encontram as águas escuras do rio Negro,
passando nesse ponto a ser chamado de rio Amazonas, constituindo-se o maior rio
do mundo em volume d’água e o segundo maior em extensão, perdendo apenas para
o rio Nilo, na África.
Caro(a) aluno(a), embora saibamos muito sobre o rio Amazonas, sua nascente
ainda é controversa. Somente recentemente, por meio do avanço das
Geotecnologias, foi possível detectar as origens do rio Ucayali, rio Peruano que dá
origem ao rio Amazonas.
Confira a reportagem na íntegra:
https://www.cartacapital.com.br/educacao/onde-nasce-o-rio-amazonas/
A região hidrográfica do Paraná (Figura 55) é uma das mais importantes regiões
hidrográficas do país, pois abriga aproximadamente 32% da população nacional:
cerca de 56 milhões de habitantes, concentrados em grandes e médias cidades.
Ou seja, trata-se da região hidrográfica mais densamente ocupada, cuja área é de
aproximadamente 880 mil quilômetros quadrados, abrangendo parte dos estados de
São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Distrito
Federal, representando cerca de 10% do território nacional (IBGE, 2010).
O rio Paraná possui extensão de 2570 km (até sua foz no rio do Prata); somando-
se aos 1170 km do rio Paranaíba, seu afluente principal, totaliza 3.740 km, sendo o
terceiro rio mais extenso das Américas.
Por ser uma área com alta densidade populacional, os recursos hídricos sofrem
sobrecargas constantes para atender ao uso urbano e rural. A densa ocupação
urbana em bacias de cabeceira na região configura um fator complicador quanto à
contaminação dos mananciais pelo lançamento de efluentes sem tratamento. Esse
problema é recorrente em grandes conglomerados urbanos, como a região Metropolitana
de São Paulo e Curitiba, apenas para ficar nos exemplos mais problemáticos.
Por ser uma região altamente urbanizada, a supressão histórica da vegetação
nativa é um fator importante para a degradação dos corpos d’água e soterramento
de nascentes, fenômeno que contribui para as constantes crises hídricas ocorrentes
na região.
Embora existam esses problemas característicos das áreas altamente urbanizadas,
essa região hidrográfica é a que apresenta as melhores condições de saneamento,
no qual cerca de 98% da população é abastecida e 70% possui coleta de esgoto
(TAVEIRA, 2018).
O rio São Francisco é de extrema importância para a Região Nordeste, pelo volume
de água que transporta em plena região semiárida, inclusive durante os períodos de
estiagem. Com águas perenes, o São Francisco tem suas cabeceiras na Serra da
Canastra, em Minas Gerais, onde há precipitação relativamente abundante. Porém, a
região sofre com uma baixa oferta hídrica, especialmente nas porções onde o clima
é mais seco.
A maior demanda de retirada de água nessa região é a irrigação, representando
cerca de 77% do total do uso desse recurso (TAVEIRA, 2018). Com isso, há um conflito
pelo uso da água por parte da agricultura e do abastecimento humano.
O aproveitamento hidroelétrico é relevante, equivalente a 15% do total nacional, com
destaque às hidrelétricas de Xingó e Sobradinho. Inúmeras obras de engenharia têm
contribuindo com a diminuição de sua vazão, como é o caso da construção da Usina
A região é composta pelo rio Araguaia, que é o principal afluente do rio Tocantins.
Juntos, formam uma região hidrográfica que drena uma faixa de transição entre o
Cerrado e a Floresta Amazônica. A vazão média das águas do Tocantins-Araguaia
corresponde a 9,6% do total do país.
CAPÍTULO 11
DRENAGEM URBANA
Geralmente, as áreas centrais das cidades são mais quentes, devido à intensa
urbanização, enquanto as áreas periféricas apresentam temperaturas mais amenas.
Porém, na cidade de Maringá, no estado do Paraná, ocorre o oposto.
Segundo o pesquisador da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paulo
Germano, as áreas centrais da cidade apresentam temperaturas menos elevadas,
contrariando grande parte das pesquisas direcionadas às ilhas de calor urbanas
(Figura 60).
Figura 60 – Sensoriamento remoto aplicado à ocorrência de hot spots em ilhas de calor de superfície na cidade de Maringá-PR.
Fonte: https://www.cbnmaringa.com.br/noticia/quais-sao-os-bairros-mais-quentes-de-maringa
“Este resultado diferente observado na cidade de Maringá pode ser explicado pela
arborização viária do município. Nós observamos que, na área central de Maringá,
nós temos espécies de árvores de grande porte que promovem o sombreamento
de ruas, casas e calçadas, atenuando o efeito de ilhas de calor. Já nos bairros mais
novos, essa arborização viária geralmente é de pequeno porte ou ainda não está
desenvolvida, gerando mais eventos de ilhas de calor”
https://www.cbnmaringa.com.br/noticia/quais-sao-os-bairros-mais-quentes-de-maringa
ANOTE ISSO
Hidrograma é a definição dada ao gráfico que relaciona a vazão (Q, m3/s ou L/s)
de uma dada bacia hidrográfica e o tempo (minutos, horas, dias). A relação entre a
precipitação (quanto, como e onde choveu) e a vazão é uma interação de todos os
componentes do Ciclo Hidrológico que existem entre a ocorrência da precipitação
e a vazão produzida na bacia hidrográfica. Costuma-se representar um hidrograma
em escala gráfica, colocando no eixo das abscissas o tempo, e no eixo das
ordenadas o valor correspondente à vazão.
Para alterar esse quadro crítico relacionado às cheias, a adoção das medidas de controle
de inundações se faz necessária. Tais medidas são comumente classificadas em estruturais
e em não estruturais. As medidas estruturais incluem a modificação estrutural do rio,
mediante a realização de obras hidráulicas como barragens, diques e canalização, entre
outros. Já as medidas não estruturais são aquelas realizadas sem a transformação do
rio através de ações preventivas, como zoneamento de áreas de inundação e sistema
de alerta ligado à Defesa Civil. Para o controle da inundação de forma eficaz torna-se
necessária a combinação de medidas estruturais e não estruturais, para garantir o mínimo
de prejuízo possível para a população (BARBOSA, 2006).
Diversos estudos de impacto da ação pluvial em áreas urbanas são realizados, com
diferentes abordagens e propósitos. Trazemos aqui os estudos de Bocato (2017) e
Nigro (2020), relacionados à drenagem urbana que impacta diretamente uma região
de fundo de vale, onde se localiza o Parque do Ingá, na cidade de Maringá, Paraná.
Os dois autores, com abordagens diferentes, concluíram haver grande impacto
no interior do fundo de vale, relacionado à captação da água pluvial na bacia do
córrego Cleópatra (Figura 64).
CAPÍTULO 12
VEGETAÇÃO E A PROTEÇÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS
Caro(a) aluno(a), neste capítulo vamos olhar mais de perto o papel da vegetação
para a manutenção, proteção e estabilidade dos recursos hídricos em nosso país.
Primeiramente, iremos abordar, dentro de uma perspectiva histórica, alguns pontos
importantes acerca da legislação brasileira, no que diz respeito à conservação da
natureza. Porém, com finalidade de atendermos aos objetivos da disciplina, iremos
fazer isso com o foco no estabelecimento das Áreas de Preservação Permanente
(APP) e dos processos legais que levaram à legislação atual. Após essa breve análise,
discorreremos sobre a importância da manutenção da vegetação e as consequências
quando de sua supressão.
Somente em 1965 com a efetivação do novo Código Florestal Brasileiro (Lei Federal
nº 4.771) é que algumas questões foram revistas e aperfeiçoadas. Embora tenha
possibilitado a substituição de florestas nativas por florestas alteradas, o código
avançou no sentido de regulamentar a proteção mais efetiva dos regimes hídricos,
estabilidade geológica e para a manutenção da biodiversidade e da paisagem, com
vistas ao bem-estar humano. Esse código determinou a exigência do estabelecimento
de APP em áreas previamente delimitadas.
Anteriormente ao estabelecimento do Código Florestal de 1965, não existia legislação
específica de proteção aos fundos de vale e florestas marginais, ficando a proteção destes
recursos sujeita ao interesse de cada local. Somente mais tarde, com a efetivação do novo
Código algumas questões foram revistas e aperfeiçoadas. Foi a primeira regulamentação
em relação ao tratamento das APP, determinando uma faixa mínima de proteção de 5
metros em cada margem dos cursos d’água com até 10 metros de largura.
Após o estabelecimento do código de 1965, diversas outras resoluções federais,
estaduais e municipais foram aperfeiçoando e alterando as regulamentações previstas.
Em 18 de setembro de 1985, por meio da resolução CONAMA nº 04, ficaram definidas
como reservas ecológicas as florestas e as demais formações vegetais que se situam ao
longo dos corpos d’água, tais como rios, córregos, lagos, lagoas, represas e nascentes.
Somente em 1989, por meio da Lei nº 7.80310, foi alterada para 30 metros de
proteção, em cada margem, dos cursos d’água com até 10 metros de largura. Além
de proibir a substituição de florestas heterogêneas por homogêneas, a referida lei
também foi importante para afirmar sua aplicabilidade em solo urbano e reafirmar a
obediência dos princípios e limites estabelecidos por ela, obedecendo o disposto nos
planos diretores municipais.
No final da década de 1990, outros decretos, leis e resoluções foram promulgadas
em favor da proteção ambiental. Como destaque, há a Resolução SEMA (Secretaria
de Estado e Meio Ambiente) 031/1998 que estabelece critérios e procedimentos
administrativos referentes ao licenciamento e autorizações ambientais, assim como
anuência prévia para desmatamento. Também podemos destacar a Lei Federal nº
9.065/98 (lei de crimes ambientais), que, em seu artigo 38, considera crime destruir
florestas de preservação permanente, mesmo que em estado inicial de formação.
Em meio a uma série de discussões duradouras e polêmicas de flexibilização
ambiental, foi aprovado o novo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651, de 25 de maio
de 2012), que consiste em uma readequação do antigo Código de 1965. Para a maior
parte da comunidade acadêmica e dos ambientalistas, a implementação deste novo
código é considerada uma anistia ambiental para com aqueles que desmataram antes
de 2008. As maiores implicações legais das mudanças da legislação são refletidas
nas áreas rurais (NIGRO, 2020).
https://www.youtube.com/watch?v=jgq_SXU1qzc
12.2 Mata ciliar e a vegetação da bacia como fator de conservação do solo e dos
recursos hídricos
Figura 71 – Erosão em córrego por conta da retirada da mata ciliar, em Campo Grande (MS).
Fonte: https://www.questoesdevestibular.com.br/questao/http-mundoeducacaoboluolcombr-o-processo-ilustrado
ANOTE ISSO
A situação 2 mostra uma parte da vertente sem cobertura vegetal, onde vai ocorrer
o agravamento. Na situação 3, a água da chuva vai formando canais de drenagem,
auxiliando a agravar o deslizamento. A terra e os detritos caem na rede e podem se
dividir por meio dela, multiplicando a área de devastação e arrastando materiais para
regiões relativamente distantes. A situação 4 mostra como as ocupações irregulares em
encostas de morros podem piorar mais a situação, pois as construções vão eliminando
a cobertura vegetal da área. Além disso, as habitações nas encostas criam lacunas,
que podem canalizar e intensificar os deslizamentos.
Portanto, caro(a) aluno(a), veja a importância que a cobertura vegetal desencadeia
para a estabilidade dos processos geológicos das vertentes, proteção dos recursos
hídricos para manter a qualidade da água que vai ser consumida pelos seres humanos
e para a manutenção dos ecossistemas, tão importantes para a qualidade de vida
das populações. Por todos esses fatores, ações de manejo e reflorestamento são
recomendadas para recuperação de áreas degradadas nas bacias hidrográficas,
principalmente onde a fragilidade ambiental é mais evidente.
CAPÍTULO 13
PRÁTICA DE CAMPO:
ESTUDO DA VEGETAÇÃO
APLICADA À HIDROLOGIA
13.1 Aula prática: atividades pedagógicas para simular os efeitos da mata ciliar
e a erosão do solo
Embora simples e de fácil confecção, o experimento que iremos abordar neste item
é extremamente eficaz e seus resultados são de fácil visualização. Ele visa demonstrar
a relação entre a precipitação, a erosão do solo, a proteção dos cursos de água e a
vegetação.
Antes de apresentá-lo aqui, é bom que se saiba que não há uma única maneira
de fazê-lo e existem diversas variações que podem apresentar alguns resultados
Na garrafa (C) podem ser inseridas a vegetação juntamente com a terra. A vegetação
pode ser mato ou grama, pois é mais fácil encontrar. Ao retirar do local, é necessário
que a terra acompanhe, pois nela ficarão as raízes das plantas já estabelecidas.
Também há a opção, e daí o resultado certamente será melhor, de plantar sementes
de crescimento rápido, como é o caso do alpiste, por exemplo. Nesse caso, o resultado
do experimento será melhor, pois a vegetação estará melhor enraizada no solo e a
quantidade de sedimentos que irá cair no recipiente será menor.
Conforme se observa na figura 75, após despejar água sobre a superfície da terra
nas três garrafas houve diferença na quantidade de água e de material particulado
dissolvido na água retida nos três recipientes coletores. Na garrafa cuja terra não tenha
qualquer tipo de cobertura, houve maior quantidade de água e com aspecto barrento,
demonstrando que a água despejada funcionou analogamente a chuva, favorecendo o
escoamento superficial e possibilitando o carreamento de sedimentos e os acumulando
no recipiente coletor.
Na garrafa com cobertura de folhas observou-se uma redução da quantidade de água
retida Esta água possui aspecto menos barrento, quando comparada com a garrafa
anterior. Dessa maneira, é possível observar que as folhas reduziram o impacto da água
diretamente no solo, mas não impediram que a mesma escorresse superficialmente
e carregasse partículas de solo, acumulando-as no recipiente coletor, demonstrando
a importância que a serapilheira tem na estabilidade do solo, mas que não é maior
do que a própria vegetação.
Na garrafa com cobertura vegetal, foi observada menor quantidade de água retida
no recipiente coletor, demonstrando o poder de infiltração da vegetação, pois a água
irá demorar para sair. Observa-se que a água apresentou a coloração mais clara e com
menos sedimento, em comparação com a água dos demais recipientes coletores. O
fato de ter ido menos água para o coletor, demonstra a capacidade de infiltração da
vegetação, mas também o papel de interceptador de parte da água que cai no solo.
Existem outras variações desse mesmo experimento. Na aula prática da disciplina,
fizemos um experimento parecido, mas ao invés de colocar serapilheira na garrafa
(B), colocamos grande quantidade de pedras. As garrafas (A) e (C) demonstraram o
mesmo comportamento relatado acima, no entanto, o escoamento superficial foi muito
superior na garrafa (B). Ou seja, a água não penetrou no solo e escorreu rapidamente
para o coletor. Essa situação é similar a do asfalto, mostrando alta impermeabilidade.
Antes da utilização da maquete, garrafa pet (II) deve ser preenchida com água
e em seguida, com o auxílio de uma garrafa com diversos furos em sua tampa ou
com um regador de jardim, a água deve ser despejada nos dois lados da maquete,
simulando a chuva. É importante que a água seja pulverizada e não concentrada, pois
deve simular, de maneira mais fiel possível, a precipitação que ocorre naturalmente.
De maneira similar à maquete anterior, a água que apresentou maior sedimentação
é fruto da falta de cobertura vegetal.
Dentro de uma mesma ideia de atividade, é possível realizar uma variação. No
entanto, nesse exemplo haverá um maior empenho dos alunos na construção da
maquete, pois ela é um pouco mais complexa. Devemos sempre lembrar que há
diversas formas de fazer, aqui segue apenas um exemplo.
Essas áreas foram separadas em “unidades de vegetação” por serem áreas mais ou
menos homogêneas, com características próprias que as diferenciam umas das outras, no
conjunto da paisagem. Dentre as unidades de paisagem presentes na bacia, selecionou-
se oito pontos para a análise, na tentativa de ter a maior representatividade possível das
áreas de fundo de vale que fazem parte do recorte espacial da pesquisa.
O município de Maringá é drenado por 20 córregos, sendo que 19 deles possuem suas
nascentes dentro da área urbana. Os cursos d’água apresentam leitos “encaixados” nos
vales (SALA 2005), assim chamados de fundos de vale, os quais drenam a malha urbana
do município, percorrendo cerca de 70 km. A bacia hidrográfica do córrego Cleópatra/
Moscados pode ser considerada de terceira ordem, pois os córregos principais que a
compõem (Moscados e Cleópatra) são considerados rios pequenos, de terceira ordem,
originando-se da confluência de dois canais de segunda ordem.
Com base nos trabalhos de Bedê et al. (1997), Puglielli Neto (2008), Sampaio (2013)
e Cardoso (2016), atribuiu-se valores aos parâmetros previamente estabelecidos, com
finalidade de quantificar a realidade estudada e, por meio de uma análise multicritérios,
Figura 79 – critérios para análise da degradação dos fragmentos em fundos de vale na área de estudo.
Fonte: NIGRO (2021)
Por meio da compilação dos dados diagnósticos obtidos, cada fragmento florestal
foi classificado de acordo com grau de degradação, separados em alto, médio e baixo,
conforme a pontuação estabelecida para cada unidade de vegetação. Desse modo,
entende-se que os valores mais altos sugerem áreas menos degradadas, necessitando
de poucas ações de manejo. Em contrapartida, os índices mais baixos sugerem
intervenções quanto à conservação dessas áreas.
Com base na análise dos mapas de uso da terra (Figura 80) no recorte temporal entre
2003, 2013 e 2018, foi possível observar aumento significativo das áreas florestadas
na bacia do córrego Cleópatra/Moscados, principalmente nas áreas de fundo de vale,
objeto de estudo deste trabalho.
É possível notar o aumento considerável da vegetação entre os anos de 2003 e
2013, ao mesmo tempo que aumenta o tamanho das áreas urbanizadas e diminui as
áreas de vazios urbanos. Em 2003, havia uma cobertura florestal de aproximadamente
6,7% em relação à área da bacia, que no ano de 2013 subiu para 9,6%, aumentando
novamente em 2018 para 9,92%. Em termos de áreas, em 2003 os fragmentos florestais
analisados ocupavam 1,75 km2. Dez anos mais tarde, em 2013, passaram a ocupar
2,51 km2, praticamente dobrando de tamanho. Entre 2013 e 2018 observou-se pouca
diferença, porém, houve pequeno aumento para 2,57 km2, permanecendo na casa
dos 9%.
Observa-se que entre os anos de 2003 e 2013, na maior parte desses fragmentos,
houve recomposição parcial da vegetação. No ano de 2003, não havia vegetação
florestal com espécies lenhosas na área, e, no ano de 2013, é possível observar que
parte dela já se encontrava recomposta, com presença de espécies lenhosas em grande
parte do perímetro. No ano de 2018, a área se apresentava quase completamente
recomposta com vegetação florestal.
Nesse sentido, fragmentos que se mantiveram conservados ou já estavam
parcialmente recompostos tendem a apresentar estágios sucessionais mais avançados,
e os que se recompuseram integralmente ou de maneira quase completa tendem a
apresentar estágios menos avançados de sucessão. É claro que se deve ponderar
que essa tendência pode se confirmar ou não, a depender de outras variáveis que
influenciam na dinâmica vegetacional dos fragmentos, como o tamanho e o formato
destes, declividade do terreno, entre outras.
Dentre os pontos analisados, o que apresentou maior suscetibilidade a processos
erosivos foi o ponto 2. A área apresenta formato côncavo e está associada a duas
vertentes retilíneas e côncavo-retilíneas. A vertente (A) apresenta declividade média
de 7,3%, com valor máximo de 10,8%. A vertente (B) apresenta declividade média de
9,4%, com inclinação máxima em 15,4%, considerada média, de acordo com a literatura.
A característica topográfica da área, aliada ao alto adensamento urbano e
impermeabilidade da matriz, favorece o carreamento de materiais para o interior do
fragmento, desencadeando processos erosivos nas margens do córrego Cleópatra.
Apesar da baixa declividade e drenagem pobre, o córrego Cleópatra pode apresentar
elevados picos de enchente e elevada ocorrência de processos erosivos dada a taxa
de impermeabilização dos terrenos, o que faz aumentar o escoamento superficial,
contribuindo com o aumento da velocidade de escoamento da água pluvial. Isso ocorre
pelo fato de toda a bacia se localizar em área urbanizada e a parte norte ter alto grau
de adensamento urbano. Dessa forma, as águas pluviais coletadas na drenagem
urbana são lançadas no interior dos fundos de vale (ZAMUNER; NOBREGA; MARTONI,
2002; BORSATO; MARTONI, 2004). Essa condição foi observada, também, ao longo
do córrego Moscados, principalmente na porção NE.
Também foram observados processos erosivos nos pontos 6 e 7. Mesmo
localizados em áreas de baixa densidade urbana, é possível notar que os interflúvios
são impermeabilizados e a declividade é alta em algumas áreas dentro da unidade
de vegetação, nas partes mais baixas da vertente. Além disso, a ausência de uma
CAPÍTULO 14
IMPACTO HUMANO NO
CICLO HIDROLÓGICO
ANOTE ISSO
De acordo com Tucci (1998), a poluição das águas decorre da adição de substâncias
ou de formas de energia que, diretamente ou indiretamente, alteram as características
físicas e químicas do corpo d’água de uma maneira que prejudique a utilização das suas
águas para usos benéficos. Torna-se importante ressaltar a existência dos seguintes
tipos de fontes de poluição: atmosféricas, pontuais, difusas e mistas.
ANOTE ISSO
Efluente é o termo usado para as águas que perderam suas características naturais,
ou seja, aquelas que foram alteradas. São compostas por água doméstica, excretas
dos seres humanos, água dos comércios e também das indústrias. Os efluentes
são formados pelo esgoto doméstico ou industrial.
Cada uma das fontes de poluição citadas determinam um certo grau de poluição
no corpo hídrico atingido, que é mensurado através de características físicas, químicas
e biológicas das impurezas existentes. Por isso, com fins didáticos, podemos separar
os tipos de poluição nos corpos d’água em três: Poluição química, física e biológica
(PEREIRA, 2004). A figura 83 resume os tipos de poluição existentes e o ciclo de
poluição da água.
https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/08/30/oleo-nordeste-dois-anos.htm
As medidas para conter esse tipo de contaminação são simples, porém requerem
grandes investimentos. As soluções passam pelo adequado manejo e descarte final
dos resíduos, que devem ser realizados em aterros sanitários adequados.
https://www.ferrovelhocoradin.com.br/os-problemas-da-destinacao-incorreta-de-residuos/
Figura 87 – Funcionamento de um aterro sanitário.
Fonte: https://movimentolixocidadao.com.br/como-funciona-um-aterro-sanitario/
Quando cai a chuva ácida, os metais tóxicos chegam à água, que por sua vez é
ingerida pelo homem. Isso pode causar sérios problemas de saúde no decorrer do
tempo, como problemas renais, cardíacos e de hipertensão. Há também associação
desse tipo de intoxicação com outras doenças graves.
Perceba, caro(a) aluno(a), que são inúmeros os problemas decorrentes das atividades
econômicas humanas. Cabe a nós, educadores, transmitir esse conhecimento aos
nossos alunos, buscando a conscientização e sensibilização na perspectiva de um
futuro melhor, onde o uso da água respeite os preceitos da sustentabilidade.
CAPÍTULO 15
USO DA ÁGUA, GERAÇÃO
DE ENERGIA E IMPACTOS
AMBIENTAIS
Caro(a) aluno(a), com base nesses dados, conseguimos enxergar que o Brasil possui
um enorme potencial hidrelétrico a ser explorado nos próximos 20 e 30 anos. A maior
parte desse potencial encontra-se na bacia amazônica, devido a maioria dos seus
tributários serem rios de planalto, pois boa parte de seu curso atravessa terras mais
elevadas. Essa característica confere à bacia grande potencial hidroelétrico. Tamanho
potencial explica a existência de um ambicioso projeto que prevê a construção de 76
novas usinas hidrelétricas ANEEL (2012).
Porém, cerca de 60% deste potencial apresenta algum tipo de restrição, haja
vista que as grandes hidrelétricas tendem a causar inúmeros impactos ambientais,
principalmente relacionados à inundações de Unidades de Conservação e de Terras
Indígenas.
Embora as hidrelétricas são fonte de energia renovável e sua produção é menos
custosa (não levando em conta o investimento para a construção) que as demais
energias consideradas limpas, tais como a solar e eólica, por exemplo, são inúmeros
os impactos socioambientais proveniente de grandes obras para a instauração de
hidrelétricas. Entre esses impactos, destacam-se: o desmatamento e a perda da
biodiversidade; assoreamento do leito dos rios; alterações na água do reservatório
relativas à temperatura e oxigenação; o deslocamento de milhares de pessoas de suas
moradias; retirada de povos originários de seus territórios; e prejuízos econômicos
causados às regiões; entre muitos outros. Com a instauração de grandes barragens,
por exemplo, o rio perde uma grande quantidade de espécies de peixes importantes
para a população ribeirinha, levando essas comunidades a prejuízos econômicos e
sociais.
Durante muito tempo, acreditou-se que as hidrelétricas eram fontes de energia
limpa, porém, hoje sabe-se que elas causam grandes impactos ambientais como,
por exemplo, a decomposição da vegetação submersa que dá origem a gases como
o metano, o gás carbônico e o óxido nitroso, componentes que contribuem com as
mudanças climáticas globais.
Além disso, a construção de usinas hidrelétricas levam à diminuição da vazão da
bacia hidrográfica em alguns pontos. Esse fato ficou bastante latente na construção
da Usina Hidrelétrica de Sobradinho (BA). A jusante da barragem, o nível das águas
do rio diminui dramaticamente nos meses de seca, comprometendo, inclusive, o
abastecimento de água dos moradores da região. Esse grande empreendimento formou
um lago de 3.970 km², caracterizando-se como o maior represamento de água do
Brasil. Estima-se que, pelo menos, 70 mil pessoas foram removidas de suas áreas
para locais mais distantes, em consequência da construção da represa, cujas águas
inundaram dezenas de povoados e deixaram submersas quatro cidades: Pilão Arcado,
Santo Sé, Casa Nova e Remanso.
Caro(a) aluno(a), além de ser um recurso finito, a água é cada vez mais consumida no
mundo todo, seja para abastecimento das populações, seja pelas atividades econômicas
dependentes de grande quantidade de água, conforme vimos no capítulo 2. Ainda que
o Brasil detenha cerca de 12% de toda a reserva mundial de água potável, nos últimos
anos temos passado por inúmeras crises hídricas em grande parte do nosso território.
Dentre essas crises, damos destaque à crise energética de 2001, que obrigou o
governo a adotar o racionamento de energia para conter as suas consequências.
Assim como em outros momentos, essa crise teve múltiplas motivações que passaram
tanto pela escassez das chuvas quanto pela falta de planejamento e investimentos
no sistema de produção e geração de energia.
Já em 2021, ano em que o país presenciou a pior falta de chuva em 90 anos, a
crise hídrica se repetiu, preocupando especialistas e governantes quanto aos impactos
socioambientais relacionados à falta de acesso de água por parte das populações,
assim como das atividades econômicas.
Primeiramente, devemos entender que uma crise hídrica sempre é consequência
direta da escassez pluviométrica. Os volumes de chuva nos últimos anos têm diminuído
muito por conta de variações climáticas. Atualmente, estamos passando por um ciclo
de chuvas de baixo volume e irregulares, com concentrações em períodos curtos,
dificultando a recarga de aquíferos subterrâneos (aquíferos profundos e lençóis
freáticos), de mananciais e reservatórios.
A exemplo do sistema Cantareira, no estado de São Paulo que sofreu seguidamente,
durante vários anos, diversas crises hídricas. Nesse ponto, o Senado Federal (2014,
p.2) argumenta que:
no fenômeno que chamamos de Rios Voadores. Por outro lado, o aquecimento global
provoca secas mais prolongadas e o fim dos períodos de invernada (longo período
de chuvisco lento que auxilia na recarga dos lençóis subterrâneos, responsáveis pelo
reabastecimento dos corpos hídricos superficiais).
No entanto, muito além da questão climática e da falta de planejamento por parte
do poder público, muito das escassez hídricas sentidas, sobretudo no Centro-Oeste,
Sul e Sudeste do Brasil, têm como parte da explicação o assoreamento dos rios; a
destruição; o soterramento das nascentes; e o desmatamento das áreas de recarga do
lençol freático subterrâneo. Todos esses impactos causam a diminuição das vazões
de água no conjunto das bacias hidrográficas.
Grande parte das reduções de corpos d’água superficiais encontram-se próximos
às fronteiras agrícolas, o que sugere que o aumento do consumo, construção de
pequenas represas em fazendas, que provocam assoreamento e fragmentação da
rede de drenagem e que vem junto com o desmatamento e aumento de temperatura,
são fatores que podem ajudar a explicar a diminuição da superfície da água no Brasil.
Segundo a ANEEL (2002), entre 1950 e os dias atuais, o número de grandes barragens
no mundo passou de 5.750 para mais de 43 mil, fato que alterou radicalmente a
dinâmica da vida aquática e modificou completamente a paisagem global. Uma vez que
a água é barrada como parte do funcionamento das hidrelétricas, o rio passa a ter sua
vazão controlada, alterando suas oscilações naturais. A dinâmica morfológica própria
dos rios é alterada, assim como sua biodiversidade, pois o local, então, apresentará
características de lagos (água parada).
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2021/08/23/brasil-perdeu-15percent-dos-seus-recursos-hidricos-nos-ultimos-30-anos-uma-perda-quase-o-dobro-
da-superficie-de-agua-de-todo-o-nordeste.ghtml
Aliado a todos esses fatores, devemos levar em conta que, a partir da segunda
metade do século XX, por conta da urbanização e melhoria das condições de vida das
pessoas, a população mundial cresceu exponencialmente. O aumento do consumo
mundial também acompanhou esse processo. Já desenvolvemos esse assunto de
forma detalhada no capítulo 2.
Outros fatores que explicam a escassez hídrica estão relacionados à urbanização,
entre eles: soterramento das nascentes e mananciais; a impermeabilização do solo;
e canalização de rios e córregos.
Das inúmeras interferências antrópicas em meio fluvial, uma das mais comuns é a
retificação do canal fluvial, que consiste na alteração do trajeto de um rio, tornando-o
reto. Isso implica em diversas modificações, como impermeabilização da calha do rio,
asfalto. Como as várzeas, em seu formato natural, funcionam como “esponjas” para
facilitar a infiltração da água, uma vez que impermeabilizadas, deixam de cumprir sua
função e as águas ficam empoçadas.
Como boa parte das cidades brasileiras foram e são ocupadas sem nenhum
planejamento prévio, são poucos os cuidados tomados que visam a diminuição dos
impactos. Esse fato se reproduz ao longo de todas as vertentes da bacia e nas áreas de
topo do relevo. Não se considera a inclinação e morfologia das vertentes; a morfologia
do canal fluvial; bem como outros parâmetros morfométricos e a própria morfodinâmica
das bacias hidrográficas (MALVEZZI; MIYAZAKI, 2018).
Segundo os autores, essas falhas relacionadas ao planejamento errôneo ou própria
falta de planejamento, podem:
Portanto, caro(a) aluno(a), percebam que os impactos que levam à escassez hídrica
constituem uma série de fatores complexos que se inter-relacionam. Fatores esses
que fazem parte de um conturbado processo histórico de ocupação do território
brasileiro. Não conseguimos explicar a falta de água ou escassez apenas pelo ponto
de vista climático, e nem tão pouco somente pelo ponto de vista da falta de gestão
e planejamento do uso do solo. Trata-se de um compilado das duas situações, que
devem ser compreendidas de acordo com as especificidades de cada local.
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a) vimos que são inúmeros os problemas e desafios que temos pela
frente ao pensarmos na necessidade de gestão da água em nosso país de forma
sustentável e inclusiva. Reitero que é necessário pensarmos em um desenvolvimento
sustentável, que leve em consideração a capacidade de regeneração dos ecossistemas
e que alinhe crescimento econômico, meio ambiente e desenvolvimento socioambiental
das comunidades humanas, sobretudo àquelas mais carentes de políticas públicas
que visam a proteção dos recursos hídricos.
Devemos sempre refletir e tentar abrir novos caminhos no sentido de propor soluções
a esses problemas, sempre realizando a necessária crítica ao atual modelo de vida,
no qual o consumo predatório da água pode levar à sua poluição, contaminação, ou,
até mesmo, à escassez.
Nosso dever enquanto geógrafo e/ou professor de Geografia é sempre buscar pensar
formas de desenvolvimento que agridam menos o meio ambiente e não prejudiquem
as comunidades humanas. Nesse sentido, a gestão da água deve ser realizada de
forma sustentável, a fim de garantir a perpetuidade do acesso à água para as futuras
gerações.
É papel da Geografia compreender as relações dos seres humanos com a natureza
e as dificuldades impostas por essa conturbada relação que aqui, se materializa na
falta de cuidados com os recursos hídricos. Mas também é seu papel pensar em
como superá-las.
Cabe ao professor de geografia promover o conhecimento de forma integradora
e emancipadora. Devemos procurar provocar, em nossos alunos, a assimilação do
conteúdo, de uma maneira que ele reflita sobre esses inúmeros problemas e que, por
meio da geografia, possa buscar possíveis soluções.
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BRASIL. Lei nº. 12651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação
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