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Direito Eleitoral
Sumário
MÓDULO I – DESAFIOS FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA .................................................................... 2
Unidade 1. O que é democracia? ......................................................................................................... 3
Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa ............................................................. 5
Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta ......................................................... 7
Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme Emenda
Constitucional nº 111/2021 ............................................................................................................... 10
Unidade 5. Crise na democracia? Populismo e representação política ............................................. 12
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 14
Material complementar do módulo I ................................................................................................. 14
MÓDULO II - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL............................................................................. 15
Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral ...................................................................................... 16
Unidade 2. Conceito, fontes, princípios do Direito Eleitoral.............................................................. 20
Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República............................................................. 23
Unidade 4. Partidos políticos ............................................................................................................. 26
Unidade 5. Elementos históricos do voto no Brasil ........................................................................... 31
Unidade 6. Sistemas eleitorais: princípios majoritário e proporcional.............................................. 34
Unidade 7. Sistemas eleitorais referenciados .................................................................................... 38
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 40
Material Complementar do módulo II ............................................................................................... 40
MÓDULO III – PRÁTICA ELEITORAL ........................................................................................................ 41
Unidade 1. Atualidade das leis que regem o Direito Eleitoral brasileiro ........................................... 42
Unidade 2. O sistema eleitoral brasileiro ........................................................................................... 44
Unidade 3. Eleições na prática ........................................................................................................... 45
Unidade 4. Propaganda eleitoral: o que é permitido ou vedado ...................................................... 57
Unidade 5. Gastos em campanha: arrecadação, limites, transparência ........................................... 60
Unidade 6. Vamos realizar o cálculo eleitoral? .................................................................................. 61
Unidade 7. Ações perante a Justiça Eleitoral ..................................................................................... 66
Conclusão do módulo......................................................................................................................... 70
Material complementar do módulo III:.............................................................................................. 70
GLOSSÁRIO DO CURSO DE DIREITO ELEITORAL ..................................................................................... 71
LEGISLAÇÃO E PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS CITADOS ...................................................................... 74
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 74

1
DIREITO ELEITORAL

MÓDULO I – DESAFIOS FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA


Unidade 1. O que é democracia?
Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa
Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta
Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme
Emenda Constitucional nº 111/2021
Unidade 5. Crise na democracia? Populismo, representação política e accountability
Conclusão do módulo

Objetivos:
- Identificar os principais aspectos e conceitos da democracia;
- Distinguir democracia direta, em sua forma original, das modalidades representativa e
deliberativa;
- Identificar as formas de exercício da soberania popular;
- Refletir sobre os conceitos de soberania, povo e interesse público;
- Entender a importância do voto e da participação política;
- Compreender noções básicas sobre as eleições;
- Entender a relevância da representação política para a democracia;
- Relacionar conceitos de Ciência Política e Direito Eleitoral relacionados às eleições;
- Compreender o surgimento da democracia direta e indireta;
- Refletir sobre estudos atuais que apontam a crise da democracia.

Explicação da ementa: serão trabalhados conceitos básicos de democracia: “O que é


democracia?”; “O que é democracia representativa?”; além de serem tratados temas atuais
de regimes democráticos, como a crescente onda de populismo, segundo definição de
autores lidos internacionalmente: a exemplo de “Como as democracias morrem” (de Daniel
Ziblatt e Steven Levitsky). Serão, também, de forma transversal, colocadas discussões
sobre as tensões a oporem mecanismos de participação direta, representativa ou
deliberativa e uma reflexão sobre a importância do voto para a configuração do sistema
político.

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Unidade 1. O que é democracia?

Uma forma interessante de definir o que seja democracia, dado o seu caráter amplo e
multidimensional, é fazendo com que você entenda o que não é democracia.

Imaginem um Estado em que as decisões sejam centralizadas. Um poder quase absoluto


sobre coisas que sejam importantes para você. O líder supremo define a sua profissão,
escolhe os livros que você pode ler, os canais a que pode assistir, a maneira como pode se
vestir. Isso não é democracia.

Contudo, essa realidade existiu e ainda existe. É a situação dos Estados autoritários e, em
sua expressão máxima, dos Estados totalitários. Nessas sociedades, o líder, ou pequeno
grupo de líderes, está acima de qualquer lei e dita aos indivíduos o modo de agir, bem
como guia o Estado pelos caminhos que julga adequados.

Na história, já vimos a ascensão do líder por razões religiosas, hereditárias, competência


no comando de exércitos, entre outras. Não há um meio exclusivo para se entender como
alguém se torna líder supremo em uma sociedade. A característica marcante dos regimes
autoritários, contudo, é esse domínio desproporcional, que permite uma limitação
injustificada das liberdades individuais e coletivas.

Talvez um exemplo de derrocada de liberdades individuais possa ser apontado no


Afeganistão, em 2021, quando o movimento fundamentalista e nacionalista Talibã retornou
ao poder, após a retirada de tropas dos Estados Unidos. Entre as mais marcantes limitações
estão aquelas impostas às mulheres. As afegãs passaram a ser restritas em sua prática
política e a ser obrigadas a utilizar burca nos espaços públicos. Em alguns casos, foram
forçadas ao casamento, agredidas, sequestradas.

Tudo isso está no campo do que não é democracia!

Veja, portanto, que uma característica essencial da democracia se revela a partir do que
vimos até aqui: a democracia pressupõe o respeito a direitos fundamentais
individuais e coletivos.

Então, em uma democracia não existe violação a direitos individuais?


Excelente pergunta.

Até aqui, tratamos de situações extremas, mas nem sempre a mancha à democracia é tão
evidente. Muitas vezes, a distinção entre o que seja liberdade individual ou abuso dessa
liberdade não é muito clara e pode estar sujeita a variações culturais e históricas.

Cabe uma observação: perceba que a comunicação por redes digitais ampliou ainda mais
a incerteza, em virtude da flexibilidade e diversidade comunicativa. O alcance de uma
mensagem, enviada por um usuário da internet, pode ficar na esfera particular, ao ser lida
por amigos e familiares, porém, em alternativa, é possível que tenha uma abrangência
nacional, sendo lida por milhares ou milhões de internautas. “O meio é a mensagem”, diria
MacLuhan.

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Muitas pessoas podem interpretar, em um caso concreto, a limitação a um direito como
justa e devida, enquanto outras interpretariam a mesma limitação como abusiva. E não há
resposta para isso. As desavenças e contradições fazem parte do jogo democrático e
demonstram a sua vivacidade. O mais relevante é que se dê transparência e justificativa
ao exercício do poder, sobretudo em situações de limitação de direito fundamental.

Em verdade, não existe um modelo exato do que seja democracia, porém é possível
identificar diferentes graus de regimes democráticos, conforme suas práticas. Há
parâmetros internacionais firmados em tratados entre países, ou identificados por agências
especializadas em avaliar a qualidade da democracia nos países. Embora não sejam
análises inquestionáveis, contribuem para o debate.

Curiosidade:

Em 15 de setembro é celebrado o Dia Internacional da Democracia, como forma de


lembrar a Declaração Universal da Democracia, assinada em 15 de setembro de 1997
por 128 Estados.
Vídeo das Nações Unidade: Dia Internacional da Democracia.
https://www.youtube.com/watch?v=XuvoXO9brFE
Mais sobre a agenda de sustentabilidade das Nações Unidas: https://brasil.un.org/pt-
br/sdgs

Segundo Jairo Gomes (2020, p. 120-121): a democracia é compreendida nos planos


político (participação na formação da vontade estatal), social (acesso a benefícios sociais
e políticas públicas) e econômico (participação nos frutos da riqueza nacional, com acesso
a bens e produtos); além disso, dá ensejo à organização de um sistema protetivo de
direitos humanos e fundamentais. Na base desse regime encontra-se uma exigência ética
da maior relevância, que é o respeito à dignidade da pessoa humana. Isso implica promover
a cidadania em seu sentido mais amplo, assegurando a vida digna, a liberdade, a igualdade,
a solidariedade, o devido processo legal, os direitos individuais, sociais, econômicos,
coletivos, os direitos políticos, entre outros.

A tipologia das formas de governo surgidas na Grécia Antiga, com Platão, Aristóteles e
Políbio, parte de duas perguntas elementares. A primeira é “quem governa?” e distingue o
governo de um, de poucos ou de muitos. A segunda pergunta é “como governa?”, com o
sentido de indagar se o governo atende aos interesses do governante ou do Estado.

Conforme as respostas a essas duas perguntas, classificava-se o governo, grosso modo,


da seguinte maneira:

 Monarquia – se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício de todos;


 Tirania – se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício próprio;
 Aristocracia – se poucas pessoas – as mais sábias ou mais capazes – constituem o
governo;
 Oligarquia – se pequenos grupos controlam o governo e exercem o poder em
benefício próprio;

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 Democracia – se o poder é disperso por todo o povo. Designa o governo popular no
qual as decisões são tomadas pela maioria dos cidadãos, que pode ser bom ou ruim
conforme seja exercido em prol de todos ou represente a opressão das minorias
pela força da maioria.

A tipologia das formas de governo surgida na Grécia Antiga, com Platão, Aristóteles e
Políbio, parte de duas perguntas elementares. A primeira é "quem governa?" e distingue
o governo de um, de poucos ou de muitos. A segunda pergunta é "como governa?",
com o sentido de indagar se o governo atende aos interesses do governante ou do Estado.

Conforme as respostas a essas duas perguntas, classificava-se o governo, grosso modo,


da seguinte maneira:

 Monarquia - se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício de todos;


 Tirania - se uma pessoa detém o governo e o exerce em benefício próprio;
 Aristocracia - se poucas pessoas - as mais sábias ou mais capazes - constituem o
governo;
 Oligarquia- se pequenos grupos controlam o governo e exercem o poder em benefício
próprio;

Democracia - se o poder é disperso por todo o povo. Designa o governo popular no qual
as decisões são tomadas pela maioria dos cidadãos, que pode ser bom ou ruim conforme
seja exercido em prol de todos ou represente a opressão das minorias pela força da
maioria.

Unidade 2. Democracia direta, representativa e deliberativa

A palavra “democracia” tem origem na Grécia, deriva de demokratia: demos, povo, e


kratos, poder. Em sentido literal, “poder do povo”. Também se atribui a Grécia as
experiências originais de democracia, a partir de reuniões em espaços públicos para
tomada de decisão pelo povo, em uma modalidade qualificada como Democracia Direta.
As decisões eram tomadas por maioria, após debates públicos.

Precisa ser dito, todavia, que não havia sufrágio universal, e o que se entendia por povo à
época se tratava, em verdade, de uma parcela reduzida da população.

A concepção de democracia, enquanto governo do povo, está consagrada logo no artigo 1º


de nossa Constituição.

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Constituição da República (1988)
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

No parágrafo único, segunda parte, perceba que a democracia é prevista para ser exercida
pelo povo, de forma direta (Democracia Direta) ou por seus representantes eleitos
(Democracia Representativa).

Uma informação importante é que a representação “não foi inventada pelos democratas,
mas desenvolvida como uma instituição medieval de governo monárquico e aristocrático”
(DAHL, 2012. p. 43). Passadas poucas gerações, “a representação passou a ser admitida
pelos democratas e republicanos como uma solução que eliminou os antigos limites ao
tamanho dos Estados democráticos e transformou a democracia” (DAHL, 2012, p. 44). As
sociedades complexas puderam presenciar a passagem de um mecanismo que se adequava
apenas às cidades-estados “para uma doutrina aplicável aos grandes Estados nacionais da
era moderna”. (DAHL, 2012, p. 44)

Perceba que as sociedades cresceram e ganharam novos contornos, e isso se tornou um


imenso complicador à democracia direta estrita.

Nos dias atuais, seria inimaginável um espaço público que concentrasse os milhões de
brasileiros e, cada um deles, com direito de voz e voto. Não haveria praça ou estádio de
futebol que comportasse tantas pessoas, nem haveria tempo para que todos se
manifestassem até a exaustão! Imagine isso. Portanto, desenvolve-se a representação por
eleição como opção viável. Além disso, os cidadãos não têm condições de acompanhar
todos os assuntos de interesse do Estado nem podem ser consultados sobre cada nova
regra a ser implementada. As pessoas se incumbem de atividades cotidianas, relacionadas
à família, trabalho e, por conseguinte, não conseguem despender o tempo necessário para
acompanhar e compreender todos os assuntos em pauta em uma Casa Legislativa.

Pelo que já foi visto, a eleição se constitui no método de organização da democracia


representativa, essencial às sociedades complexas. Um mecanismo que permite a
substituição do povo por aqueles que foram escolhidos via processo eleitoral, formando o
governo indireto. Na democracia indireta a vontade do povo é manifesta pelos
representantes eleitos. Os governos são considerados representativos e têm liberdade para
agir segundo os interesses da população em um ambiente de eleições livres, participação
popular ampla e indivíduos com liberdade para agir politicamente.

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Curiosidade:
A democracia semidireta ou mista (GOMES, 2015, p. 124) concilia elementos dos dois
modelos. Os chefes do executivo e membros do parlamento são eleitos pelo povo, mas o
modelo representativo é combinado com mecanismos de intervenção popular direta. No
Brasil, os institutos do plebiscito, referendo e iniciativa popular servem ao propósito de
participação direta (Constituição da República/1988: art. 14, I, II, III e art. 61, § 2º).
Assista:
1- “O que é democracia?”
https://www.youtube.com/watch?v=1sT7ZCkxolw/www.youtube.com/watch?v=1sT
7ZCkxolw
2- “O que é democracia representativa?” https://www.youtube.com/watch?v=m-
l5F_vgC6o&t=103s
3- “O que é democracia participativa?”
https://www.youtube.com/watch?v=ekC5SK-TPtM&t=14s

Por seu papel de representação, o político tem o dever de legitimação de seu mandato
assumindo compromissos e exercendo uma representação articulada com o eleitor, sob o
risco de perder seu voto no escrutínio subsequente. Nesse contexto, o mandatário cumpre
um papel em duas dimensões: primeiro, ao expor suas ideias ainda no período eleitoral,
comprometendo-se com o seu público; segundo, exercendo o mandato em contato com os
interesses dos representados. Daí a importância dos partidos programáticos, para que as
propostas sejam conectadas a plataformas de governo e não fiquem subjugadas ao carisma
personalíssimo de cada candidato.

Uma questão que passou a ser ampla e profundamente discutida por filósofos políticos da
segunda metade do século XX consistia em combinar uma democracia representativa com
a efetiva observância aos interesses da coletividade. Vários autores (Elster, 1986; Manin,
1987; Held, 1995), com destaque para Jürgen Habermas (1997), passaram a apontar a
importância da participação, ou mais do que isso, da deliberação popular na tomada de
decisão. Habermas é o responsável pelo desenvolvimento do conceito de “Democracia
Deliberativa”.

Habermas realça o papel da comunicação para o alcance de resultados racionais e justos,


e, também, aponta que estes resultados devem ser obtidos de forma autônoma pela
sociedade. (Habermas, 1997, v. II, p. 19). Em outras palavras, a legitimidade em uma
democracia estaria associada à pluralidade comunicativa e à autodeterminação. Os
cidadãos participam da tomada de decisão e expõem a sua percepção sobre os assuntos
de seu interesse, de forma livre.

O ideal democrático considera que a todos deva ser reconhecida a liberdade de


participação, mas além de serem ouvidos, seria necessário que cada um dos
interesses fosse igualmente considerado, de tal modo que os grupos minoritários
pudessem integrar a tomada de decisão.

Unidade 3. Mecanismos constitucionais de participação direta

Como visto, o Brasil consolida um modelo de democracia semidireta, pois combina a


representação política com o tempero de mecanismos de participação popular direta.
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Mecanismos que viabilizam a atuação objetiva do povo, sem intermediação para a sua
manifestação de vontade.

Nessa linha, a Constituição considera diretos os mecanismos de consulta ao povo sobre


temas relevantes. Estamos falando de: plebiscito; referendo; iniciativa popular.

Constituição:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
[...]

Por meio do plebiscito e do referendo o povo é chamado a opinar sobre matéria considerada
de elevada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.

Em que se distinguem plebiscito e referendo?


- O plebiscito é realizado antes da elaboração do ato legislativo ou administrativo. Ao
povo cabe, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe seja submetido. Havendo aprovação,
o ato é formulado. O caso emblemático de plebiscito no Brasil é o ocorrido em 1993, quando
os cidadãos opinaram sobre a forma (Monarquia ou República), bem como sobre o sistema
(Parlamentarismo ou Presidencialismo) de governo. O povo decidiu pela continuidade da
República e do Presidencialismo.

- O referendo é realizado após a elaboração do ato legislativo ou administrativo. Nessa


situação, ao povo cabe, pelo voto, ratificar ou rejeitar o ato submetido a sua avaliação. Em
2005, os brasileiros rejeitaram, em referendo, a alteração no artigo 35 do Estatuto do
Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) que pretendia vedar a comercialização de arma de
fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas na própria
lei.

Ok, mas vejam que, ainda, falta uma ferramenta constitucional de participação direta: a
iniciativa popular. Em que consiste essa tal iniciativa popular?

Trata-se do poder conferido aos populares para que juntos possam apresentar projeto de
lei à Câmara dos Deputados. Parece muito salutar que a carta constitucional autorize uma
parcela significativa da população a propor uma lei, prerrogativa que atende a uma série
de autoridades...

Então, por que não permitir que uma parte significativa da população também possa propor
um projeto de lei de modo direto?
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Isso é possível. Obviamente, não seria razoável que qualquer cidadão individualmente
tivesse a prerrogativa de apresentar um projeto e este projeto pudesse ser analisado pela
casa legislativa. Imaginem... Isso sobrecarregaria o Congresso Nacional e não teria o
respaldo comprovado em manifestações de outros cidadãos.

Por esse motivo, a Constituição prevê que o projeto de iniciativa popular seja subscrito
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, com distribuição em pelo menos cinco
Estados, com não menos do que três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

A lei que regula os instrumentos de participação direta, nº 9.709, de 1998, prevê mais dois
aspectos a serem observados pelo instituto da iniciativa popular:
1º) que o respectivo projeto se restrinja a um só assunto;
2º) que este projeto não pode ser rejeitado por vício de forma.
Quando ocorrer vício desse tipo, a Câmara dos Deputados deverá providenciar a correção
das eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.

O legislador quis colocar a salvo, assim, o exercício da cidadania, independentemente de


alguma questão meramente processual que pudesse limitar a atuação da soberania popular
em sua manifestação constitucional.

Importante!

A concepção de soberania popular estabelece que o povo é a base do poder, e a igualdade


dos cidadãos é a essência do processo democrático. Assim, a soberania popular é o eixo
sobre o qual se sustenta o sistema democrático.

Curiosidade
Quem pode propor um Projeto de Lei?
O artigo 61 da Constituição prevê que um projeto de lei pode ser proposto por qualquer
parlamentar (deputado ou senador), de forma individual ou coletiva, assim como por
qualquer comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional, pelo Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos Tribunais
Superiores e pelo Procurador-Geral da República. Além disso, como objeto deste tópico
do curso, vimos que a Constituição prevê a iniciativa popular de leis.
Fluxograma: https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/

O princípio da soberania popular se manifesta em diversos momentos e instrumentos. Não


podemos pensar que a sociedade seja ouvida somente pelos mecanismos literalmente
previstos na Constituição. Há inúmeras outras ferramentas oficiais ou não oficiais
destinadas a promover a participação popular. Os parlamentos e órgãos públicos adotam
ensinamentos de governança. Na atualidade, por exemplo, é permitido ao cidadão
apresentar ideias diretamente ao Senado Federal ou à Câmara dos Deputados, para serem
submetidas a um procedimento e, ao final, se for o caso, convertidas em projeto de lei.

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Unidade 4. Meu voto importa? Participação popular e consultas municipais conforme
Emenda Constitucional nº 111/2021

Como apresentado na unidade anterior, a Constituição procurou estabelecer mecanismos


de participação popular direta. Todavia, em razão de fatores que envolvem burocracia e
custos elevados de execução, não há exagero em mencionar que esses mecanismos
apresentaram resultados que não são exatamente promissores. Foram utilizados de forma
escassa desde a sua criação e não causaram o impacto esperado.

Além de burocracia e custos, mais um importante fator que contribuiu para a rara
ocorrência de ações de plebiscito, referendo e iniciativa popular decorreu de novidades na
área da comunicação social. Vejam que o advento de novas tecnologias tornou a
comunicação mais ágil, a atuação dos cidadãos pela internet criou instrumentos de pressão
que podem ser assimilados por um parlamentar atento.

Ora, parece tarefa simples, para um deputado federal por exemplo, observar a vontade
popular em diferentes municípios e estados e, de modo legítimo, apresentar projeto que
se alinhe à vontade manifesta. Em contrapartida, o parlamentar estaria elevando o seu
capital político, bem como atenderia os critérios para exercício de um mandato responsivo,
orientado por interesses coletivos, como, em teoria, seria desejável.

O cidadão não exerce a atividade política somente no momento do voto, mas também
quando manifesta a sua opinião, de forma livre, protegido por normas constitucionais de
liberdade de expressão. E são inúmeras as formas de se manifestar, seja em canais oficiais,
seja em ferramentas digitais, como as famosas redes: Facebook, Instagram, TikTok,
Whatsapp, Telegram, Twitter, entre tantas outras.

Curiosidade
A história registra, outrossim, casos de manifestação da insatisfação com a classe política
por meio do voto. Foi o que ocorreu em 1959, quando um rinoceronte recebeu mais
votos do qualquer outro candidato a vereador da cidade de São Paulo.
https://www.youtube.com/watch?v=in9EAZZ_Ovs

Na linha de estímulo à participação popular na atividade legislativa, em 2012, o Senado


Federal criou o portal e-Cidadania. Ao longo dos anos, foram consolidadas três formas de
participação por este portal, são elas:

1) Evento Interativo: permite o envio de perguntas, dúvidas, comentários às


audiências públicas, sabatinas ou qualquer outro evento aberto;

2) Consulta Pública: permite que o interessado opine a favor ou contra projetos de lei,
propostas de emenda à Constituição, medidas provisórias ou alguma outra
proposição em tramitação no Senado Federal;

3) Ideia Legislativa: certamente a mais importante ou efetiva ferramenta do e-


Cidadania para a participação popular. Por esta ferramenta, o indivíduo envia um
argumento para ser transformado em projeto de lei ou apoia outros argumentos já
enviados por outros usuários. As ideias que recebem mais de 20 mil apoios, isto é,

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votos virtuais favoráveis, são encaminhadas para a Comissão de Direitos Humanos
e Legislação Participativa (CDH), onde recebem parecer, se deferidas pelos
senadores da Comissão, tornam-se projetos de lei da própria Comissão.

Embora, não se possa falar em iniciativa popular, o mecanismo de elaboração de projeto


de lei apresentado pelo e-Cidadania, via “Ideia Legislativa” é, sem dúvida, um aporte para
a conexão entre os parlamentares e eleitores, dentro do que pode ser visto como uma
atuação específica do senador compartilhada com o público.

A Câmara dos Deputados tem um portal semelhante, o e-Democracia, que, todavia,


apresenta padrões um pouco diferentes. O e-Democracia foi criado como ambiente virtual
de debates, no ano de 2009, e remodelou-se a partir de 2013. Aos poucos, passou a abrigar
ferramentas de participação do cidadão em audiências públicas e de sugestão de alteração
de textos de projeto de lei. As três ferramentas que Câmara dos Deputados disponibiliza
são:

1) Wikilegis: se for do interesse do relator da matéria ou do presidente da comissão


temática, um projeto de lei pode ser publicado no Wikilegis, para receber
colaborações em seu texto, como se tratasse de um editor aberto à participação
coletiva. As sugestões de texto são analisadas por consultores legislativos e podem
ser incorporadas ao projeto, a critério do relator;

2) Audiências Interativas: permite, tal qual no Senado, que os interessados enviem


perguntas, dúvidas, comentários em audiências públicas;

3) Expressão: confere aos usuários a liberdade para criar discussões sobre o tema que
for de seu interesse. Há, igualmente, a oportunidade para que os deputados possam
interagir por escrito ou por vídeos nos debates.

Esses são apenas dois exemplos de portais desenvolvidos para estimular a participação da
sociedade nas atividades legislativas, em atenção ao princípio da soberania popular. As
Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa, assim como as Câmaras Municipais
colecionam muitas outras iniciativas no mesmo sentido, com apoio, vale mencionar, das
emissoras e canais de transmissão dos eventos que ocorrem em cada órgão. Trata-se de
ferramentas de participação popular sem previsão expressa na Constituição, mas que são
por ela viabilizadas, em razão de princípios e regras democráticas.

Perceba que essas formas de contato não prejudicam a importância do voto. Ao contrário,
a proximidade entre parlamentares e eleitores é desejável como modo de ampliar a
fiscalização do exercício dos mandatos políticos. Nadia Urbinati (2008, p. 387-412) sugere
que a atuação do político se fortalece por uma interação constante com os eleitores.
Entende que esse contato contribui para ampliar a legitimidade da representação política.
Bernard Manin (1999, p. 30) considera que o político cumpre seu papel em dois momentos:
primeiro, ao expor suas ideias ainda no momento das eleições, comprometendo-se com o
seu público; segundo, exercendo o mandato conforme os interesses dos representados.

O voto tende a ser, portanto, o momento de maior impacto da democracia, é a festa da


democracia!...quando as pessoas vão dar o seu recado aos políticos. Dizer se continuam
confiando naqueles que já ocupam algum cargo, dando-lhes a oportunidade da reeleição,
ou se entendem que é hora de dar a outro político o seu voto e a sua confiança.

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O seu voto, o meu voto, o de todos nós importa e é por meio da soma deles que podemos
dar recados contundentes aos políticos, de forma a demonstrar o poder de transformação
popular. Vejam que além de seu voto, é possível que você contribua, também, prestando
informações sobre a conduta de políticos no exercício do mandato. Essa fiscalização recebe
o nome de accountability e pode ser realizada por autoridades ou qualquer pessoa que
queira se informar ou pedir esclarecimentos, quando for o caso, sobre a conduta de
vereadores, deputados, senadores ou chefes do executivo.

Unidade 5. Crise na democracia? Populismo e representação política

A ideia de que votos iguais não seriam suficientes para atender à igualdade política é
amplamente observada e identificada no meio acadêmico. Em outras palavras, não
podemos dizer que o fato de todos os cidadãos terem o mesmo direito ao voto, que isso
irá significar, na prática, que o peso político de cada pessoa é idêntico. A vida real é mais
dura do que isso.

Com efeito, a questão econômica é um fator de distorção, talvez o mais significativo, por
favorecer políticos com poder aquisitivo maior, em detrimento daqueles com restrição
financeira. Dificilmente, um político é eleito com recursos escassos. Normalmente os eleitos
aportam elevado montante de dinheiro em sua campanha. O Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) divulga os gastos de cada campanha eleitoral
(<https://www.tse.jus.br/eleicoes/processo-eleitoral-brasileiro/contas-
eleitorais/prestacao-de-contas-eleitorais>)

Porém, não para por aí. O poder de pressão daqueles que detêm maior concentração de
recursos econômicos costuma ser impressionante em todos os processos político-eleitorais.
Os famosos grupos de pressão exercem influência não só na escolha de candidatos como
também para a aprovação de projetos de lei de acordo com os interesses que representam.
A esse fenômeno é dado o nome de lobby – termo em inglês.

Qual o significado da palavra lobby?

Lobby consiste na “ação política em favor de grupos ou corporações específicas, ou seja,


estão em pauta interesses privados, geralmente de ordem financeira, os quais tendem
mesmo a causar a indignação de vastos segmentos sociais” (RODRIGUES; 2008)
https://www.youtube.com/watch?v=WQYe12LsCLo

Ao estudar as regras eleitorais você verá que um dos fundamentos de elaboração de lei na
área reside, justamente, na tentativa de limite ao abuso do poder econômico.

O texto constitucional (1988) impõe o tratamento isonômico às pessoas,


independentemente de características pessoais ou de origem. A Constituição dispõe como
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3º, CR/1988) os seguintes:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
12
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Não é o que acontece no Brasil. Os sistemas eleitorais têm refletido o desequilíbrio social,
ainda que adotados segundo o princípio proporcional de representação. Essa distorção é
passível de ser aferida não somente nos índices de confiança em políticos, mas também
em análise de dados que comprovam a concentração de determinados perfis demográficos
nas instâncias políticas.
Essa questão estaria associada à desproporcional representatividade dos perfis quanto a
etnia e gênero, em comparação à ocorrência na sociedade. Para ilustrar, os 513 deputados
federais eleitos em 2018 assim se distribuem:
i) quanto ao perfil de cor da pele (número por autodeclaração/ percentual): amarela
(2/ 0,39%); branca (386/ 75,24%); indígena (1/ 0,19%); parda (103/ 20,08%); preta
(21/ 4,09%). A distribuição na sociedade brasileira, por apuração do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2019), por
critério de autodeclaração assim se configura: 42,7% dos brasileiros se declararam como
brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas. Há,
desse modo, uma sobrerrepresentação da população que se declara branca na Câmara dos
Deputados.
ii) quanto ao gênero (número/ percentual): mulheres (77/ 15,01%); homens (436/
84,99%). De acordo com a PNAD (2019), a população brasileira é composta por 48,2% de
homens e 51,8% de mulheres. Há, desse modo, uma sobrerrepresentação dos homens na
Câmara dos Deputados.

Quanto aos índices, o Brasil ocupa o último lugar no ranking de confiança em políticos,
segundo análise do Fórum Econômico Mundial (2018). E o mais grave: estas verificações
têm repercussão na descrença com o regime. Análises de diversos institutos indicam a
insatisfação da população com a democracia, quase sempre se declarando insatisfeitos ou
muito insatisfeitos com a democracia.

Os números estariam indicando a necessidade de reformas em vista do risco de ruptura


crescente. Com efeito, as minorias não se sentem incluídas nas instituições políticas nem
os eleitores se sentem conectados a seus mandatários.
. Verifica-se, por conseguinte, que os debates sobre a democracia sugerem a necessidade
da ressignificação da representação política.

Essa descrença com a classe política tem levado autores a descreverem situações comuns
a vários países, em que há um processo de deslegitimação dos sistemas políticos e, na
esteira, a diminuição do valor da democracia para a sociedade.

Como as democracias morrem?

O livro “Como as Democracias Morrem” (2018), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, mostra
como um aparato legal e legítimo pode, de maneira lenta, matar as democracias. Ao
contrário do que se praticava no passado para enterrar um governo democrático, os golpes
militares se tornaram ultrapassados. Contudo, na modernidade, as próprias eleições têm
levado ao poder líderes autoritários. É por via legal que esses líderes descortinam o
autoritarismo e expandem suas forças, com vistas a assegurar a sua perpetuação no poder.

13
Ao final, as democracias morrem pela ineficácia dos seus mecanismos de defesa, que não
conseguem impedir a ascensão desses líderes autoritários.

Para ilustrar, Levitsky e Ziblatt fazem uma metáfora com uma partida de futebol para
explicar o modelo empregado pelos autocratas de desvirtuamento do sistema político. As
técnicas equivaleriam a retirar de campo os melhores jogadores, alterar as regras do jogo
em benefício próprio e reter o árbitro. As mudanças das regras do jogo, no campo político,
se dariam por meio de reformas das instituições, do sistema eleitoral ou da Constituição,
de forma populista e a beneficiar seu próprio grupo de interesse.

Haveria várias maneiras de se chegar ao poder. Todavia, na atualidade, é por meio do voto
popular que candidatos não tradicionais politicamente e que fazem discursos anti-
establishment têm conseguido a ascensão. Segundo os autores, a morte das democracias
é mais comum quando os políticos e discursos autoritários e antidemocráticos são
subestimados.

Apontam, ainda, que é possível identificar os autocratas por meio de quatro indicadores de
comportamentos autoritários, são eles: rejeitar as regras do jogo democrático; negar a
legitimidade de seus oponentes políticos; ser tolerante com e encorajar a violência; ter
propensão a restringir liberdades civis por meio de medidas autoritárias que reduzem
liberdades da imprensa e de adversários.

Para resguardar a democracia de possíveis autocratas, o livro considera que os partidos


políticos poderiam agir como legítimos guardiões da democracia. Isso porque é de
responsabilidade dos partidos políticos a escolha dos candidatos que irão concorrer aos
cargos.

Conclusão do módulo

Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Direito Eleitoral.


Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do
mesmo e responda os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final,
mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos, ainda,
que a plataforma de ensino faz a correção imediata de suas respostas!
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui.

Material complementar do módulo I


Divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea):
URBINATI, Nádia. O que torna a representação democrática?. Lua Nova, nº. 67, p.
191-227. Disponível
em: http://desafios2.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/outras_pe
squisas/urbinati.pdf
Resenha de livro:
DYER, Caio de Mesquita Dyer; SOTER, Eduardo Rodrigues. Resenha crítica do livro
“Como as democracias morrem” de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky. Revista
Culturas Jurídicas, Vol. 5, Núm. 12, set./dez., 2018. Disponível em:

14
<https://periodicos.uff.br/culturasjuridicas/article/view/45190/25956>. Acesso
em: 21 ago 2021.

MÓDULO II - TEORIA GERAL DO DIREITO ELEITORAL


Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral
Unidade 2. Conceitos, fontes e princípios do Direito Eleitoral
Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República
Unidade 4. Os partidos políticos e a lei
Unidade 5. Elementos históricos do voto no Brasil
Unidade 6. Sistemas eleitorais: princípios majoritário e proporcional
Unidade 7. Sistemas eleitorais referenciados
7.1 Sistema eleitoral estadunidense e suas críticas
7.2 Sistema eleitoral alemão e suas críticas
Conclusão do módulo

Objetivos:

- Identificar os princípios do Direito Eleitoral;


- Apresentar os princípios constitucionais que configuram as regras gerais do Direito
Eleitoral;
- Identificar quais são os direitos políticos fundamentais relativos ao voto;
- Entender a organização e funcionamento da Justiça Eleitoral;
- Descrever os princípios que regem a organização e o funcionamento dos partidos
políticos e das eleições no Brasil;
- Indicar a evolução histórica dos partidos políticos no Brasil;
- Discutir sobre a história do voto no Brasil;
- Refletir sobre os mecanismos de votação mais frequentes e as distinções entre eles,
sobretudo, quanto aos critérios de proporcionalidade ou maioria, e divisão em distrito;
- Apresentar o sistema eleitoral brasileiro e criticá-lo;
- Descrever os sistemas eleitorais dos Estados Unidos e Alemanha e compará-los ao
brasileiro.
- Discutir com competência questões de reforma eleitoral.

Explicação da ementa: neste módulo, serão discutidos conceitos e princípios de Direito


Eleitoral contemplados pela Constituição, o sistema partidário no Brasil, bem como serão
tratadas as tipologias de sistemas eleitorais mais comuns e predominantes em países
ocidentais, a evolução histórica e os mecanismos em vigor no Brasil. Em razão de seu
poder de influência sobre outros países, os modelos utilizados em Estados Unidos e
Alemanha serão tratados com detalhamento.

15
Olá, pessoal! Nesse encontro, iniciamos o nosso segundo módulo. Nele vamos trabalhar,
de forma sistêmica e clara, organização da Justiça Eleitoral, conceitos, objeto de estudo,
fontes, objetivos e princípios do Direito Eleitoral brasileiro.

O intuito é introduzir a temática para que, em um momento posterior, possamos trabalhar


o conhecimento do Direito Eleitoral àqueles que desejam atuar nas eleições na condição de
candidato, de cidadão que presta assistência a uma candidatura ou de eleitor interessado
em exercer a sua cidadania.

Unidade 1. Organização da Justiça Eleitoral

A cada dois anos, conseguimos perceber que alcançou o imaginário popular a imagem de
órgãos judiciários organizando as eleições no Brasil. Em época de eleições, não raro vemos
o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão máximo da Justiça Eleitoral,
comunicando à população medidas de transparência e de maior organização do sistema de
votação. Isso decorre de uma acumulação de tarefas por parte dos órgãos judiciários no
Brasil, consolidando os dois pilares da Justiça Eleitoral: 1) administração das eleições e 2)
julgamento dos contenciosos eleitorais.

Cada País tem suas particularidades para organizar as eleições (administração dos
processos eleitorais), bem como para a definição de autoridades específicas para julgar os
processos judiciários envolvendo imbróglios eleitorais (contencioso eleitoral). No Brasil, a
Justiça Eleitoral acumula as duas atribuições. Algo incomum em outros países.

No caso francês, por exemplo, as eleições presidenciais são acompanhadas de uma


comissão governamental – a Comissão Nacional de Controle da Campanha Eleitoral –, à
qual compete assegurar a igualdade entre os candidatos e o respeito às regras de
campanha. Ela é composta de cinco membros: o vice-presidente do Conselho de Estado;
o primeiro presidente da Corte de Cassação; o primeiro presidente da Corte de Contas; e
dois membros do Conselho de Estado, da Corte de Cassação ou da Corte de Contas,
nomeados pelos três primeiros membros. Trata-se de um órgão de natureza
administrativa. Não tem, portanto, o status judiciário comum ao caso brasileiro.

Além da comissão nacional, em cada departamento francês é constituída uma Comissão


Local de Controle; e, além dessas, há também as comissões de propaganda para eleições
parlamentares. Desse modo, ao contrário do que ocorre no Brasil, não há na França uma
Justiça Eleitoral. A matéria eleitoral lá, na França, é submetida a diversos juízos, inclusive
à figura do administrador de região (prefét), cujo ato poderá ser questionado no tribunal
administrativo. Se a questão é relativa à campanha presidencial ou à organização das
eleições (entre outras questões), pode ser submetida ao Conselho Constitucional; se se
tratar de abuso de poder, pode ser enviada à autoridade do Conselho de Estado; mas, se
o assunto envolve fraude, o juízo criminal será o competente.

16
Esse não é o único fator a induzir a pequena regulamentação da propaganda eleitoral
francesa. A escassez de dispositivos legais relativos à propaganda eleitoral se deve também
à forte fiscalização exercida sobre as eleições. O horário eleitoral gratuito em rádio e
televisão franceses, por exemplo, limita-se às redes públicas, e tem o tempo dividido de
modo isonômico pelo Conselho Superior do Audiovisual – CSA. Ao CSA compete, ainda, por
meio de representantes, acompanhar e aprovar a gravação dos programas dos candidatos
para emissoras públicas de televisão e rádio, nos quais não poderão constar mensagens
de cunho publicitário ou que firam a honra de alguém, entre outras restrições.

Nos Estados Unidos, ocorre uma complexidade ainda maior, pois os Estados têm,
isoladamente, autonomia para definir regras de organização de suas eleições. Em um País
de tamanha grandeza, como os Estados Unidos, em que há 50 Estados, é natural que haja
divergências consideráveis quanto à organização eleitoral entre seus entes. Ocorre,
raramente, a solução do contencioso pela Justiça Federal norte-americana. Costuma haver
um posicionamento de corte federal somente quando há violação a alguma regra que esteja
sob a sua tutela. Seria a situação, basicamente, de uma fraude ou de crime relacionado ao
financiamento de campanha.

Para que o julgamento de uma questão relacionada às eleições seja levado à Suprema
Corte – o equivalente ao Supremo Tribunal Federal, no Brasil – é ainda mais raro. Em
regra, antes de chegar a este nível, o processo passa pelo juiz do condado, em seguida
pelo Tribunal de Apelação e pela Suprema Corte do Estado, para, aí sim, poder chegar à
Suprema Corte dos Estados Unidos.

Em linhas gerais, lá, nos Estados Unidos, não há uma Justiça Eleitoral, em que há um rol
de tribunais específicos, como ocorre no Brasil. As cortes que tratam de assuntos eleitorais
não configuram, exatamente, o que possa ser definido como uma Justiça Eleitoral. Para
além da autonomia dos Estados para definir regras e organização de campanhas em seu
território, existem, na dimensão nacional, cortes que julgam contenciosos relacionados à
temática, sem que, todavia, isso configure um sistema independente de procedimentos,
recursos, órgãos e processos.

A prática internacional que podemos verificar nestes dois exemplos, ou em tantos outros,
está em “não acumular” os dois pilares, de tal forma que o órgão que organiza as eleições
não é o órgão que julga os contenciosos. Essa acumulação é complexa e pode
sobrecarregar um dos poderes da República, ou, conforme críticas pertinentes, causar
desequilíbrio entre esses poderes por conferir certa ascendência do Judiciário sobre os
demais.

Portanto, como podemos definir a Justiça Eleitoral?

Como um sistema formado por órgãos de jurisdição especializada, integrante do Poder


Judiciário com atribuições para organizar o processo eleitoral e julgar os contenciosos desta
seara. Tem poder para conduzir os processos de: alistamento eleitoral, impugnação de
candidatura, votação, apuração dos votos, diplomação dos eleitos, entre muitos outros.

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Para que todas essas atribuições sejam exercidas, conforme fundamentação constitucional
(arts. 118 a 121), a Justiça Eleitoral se compõe de:

Última instância eleitoral

TSE
Tribunal
Superior
Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral compõe-se de, no mínimo, sete membros, escolhidos:


I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do
Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de
Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
O Tribunal Superior Eleitoral elege seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os
Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do
Superior Tribunal de Justiça.
Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos,
no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos
na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.

Segunda instância eleitoral

TRE
Tribunais
Regionais
Eleitorais

Há um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no Distrito Federal.


Os Tribunais Regionais Eleitorais compõem-se:
I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores
do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal
de Justiça;
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no
Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo
Tribunal Regional Federal respectivo;
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre os
desembargadores.
18
Primeira instância eleitoral

Juízes
Eleitorais - Juntas
(Cartórios eleitorais
eleitorais)

Os juízes eleitorais são os próprios juízes de Direito de primeiro grau de jurisdição


integrantes da Justiça Estadual e do Distrito Federal (art. 32 do Código Eleitoral), que
autuam no campo eleitoral de forma cumulativa.

OBS. Uma regra comum aos tribunais eleitorais é de que os juízes, salvo motivo justificado,
servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos. Há
também os substitutos, que são escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em
número igual para cada categoria. Se vocês entrarem no site do TSE (em:
https://www.tse.jus.br/o-tse/ministros/apresentacao), verão que há a informação sobre a
composição do tribunal, por 7 ministros efetivos e 7 ministros substitutos.

Competências dos órgãos da Justiça Eleitoral


Informações disponíveis em: https://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-
eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-1-ano-4/justica-
eleitoral-composicao-competencias-e-funcoes

Competências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): (i) processar e julgar originariamente


o registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e
de candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República; (ii) julgar recurso especial
e recurso ordinário interpostos contra decisões dos tribunais regionais; (iii) aprovar a
divisão dos estados em zonas eleitorais ou a criação de novas zonas; (iv) requisitar a
força federal necessária ao cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões
dos tribunais regionais que a solicitarem, e para garantir a votação e a apuração; e (v)
tomar quaisquer outras providências que julgar convenientes à execução da legislação
eleitoral.
Competências dos tribunais regionais eleitorais: (i) processar e julgar originariamente o
registro e o cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos
políticos, bem como de candidatos a governador, vice-governadores e membro do
Congresso Nacional e das assembleias legislativas; (ii) julgar recursos interpostos contra
atos e decisões proferidas pelos juízes e juntas eleitorais; (iii) constituir as juntas
eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição; e (iv) requisitar a força necessária ao

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cumprimento de suas decisões e solicitar ao Tribunal Superior a requisição de força
federal.

Competências dos juízes eleitorais: (i) processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns,
exceto o que for da competência originária do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais
regionais eleitorais; (ii) expedir títulos eleitorais e conceder transferência de eleitor; e
(iii) tomar todas as providências ao seu alcance para evitar os atos ilícitos das eleições.

Competências das juntas eleitorais: resolvem as impugnações e demais incidentes


verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração, bem como expedir diploma
aos candidatos eleitos para cargos municipais.

Há ainda a função administrativa do juízo eleitoral, pois lhe compete a administração de


todo o processo eleitoral. Para ilustrar, são atividades administrativas desta seara:
alistamento eleitoral, transferência de domicílio eleitoral, entre outras medidas para coibir
ou vedar a prática de propaganda eleitoral irregular.

Atenção! Como forma de se limitar o poder regulamentar do TSE e de se garantir a


autonomia da organização partidária, fez-se constar no Código Eleitoral (Lei nº
4.737/1965), por inovação da Lei nº 14.211/2021, a previsão de que:
Art. 23-A. A competência normativa regulamentar prevista no parágrafo único do art. 1º
e no inciso IX do caput do art. 23 deste Código restringe-se a matérias especificamente
autorizadas em lei, sendo vedado ao Tribunal Superior Eleitoral tratar de matéria relativa
à organização dos partidos políticos.

Unidade 2. Conceito, fontes, princípios do Direito Eleitoral

Vamos em frente porque atrás vem gente!


Começamos este tópico com uma pergunta básica e fundamental, qual seja: “O que é o
Direito Eleitoral?”

O Direito Eleitoral é um ramo do Direito Público que regulamenta a maneira como os


cidadãos devem se organizar para disputar as eleições. De modo específico, o Direito
Eleitoral regulamenta as formas legais de aquisição legítima do poder político-
administrativo.

À natureza e ao funcionamento da democracia é fundamental estabelecer regras relativas


à sua forma e ao seu processo. A legitimidade do regime representativo, resulta da forma
como se chega ao poder, ou seja, da maneira democrática como são escolhidos os
representantes. Essa é a base da democracia. As eleições permitem não só a escolha dos
ocupantes de cargos importantes, como também o que se nomeia por accountability, ou
fiscalização com responsabilização, daqueles que não exercerem de forma adequada o seu
cargo.

Como se dá essa accountability pelo próprio público/ eleitorado?

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Dá-se pelo próprio voto. Os eleitores consideraram que o político não exerceu
adequadamente o mandato? Poderão excluí-lo pela escolha de outro candidato, em
alternativa. Esse escrutínio é fundamental em uma democracia e tende a dar mais
transparência aos mandatos.

Perceba, pois, a importância do Direito Eleitoral. É ele que vai disciplinar todos os
procedimentos para a aquisição do poder político-administrativo em uma democracia.

Um processo de escolha legítimo, com disputa entre propostas e candidaturas distintas,


baseado em regras previamente estabelecidas, conhecidas, permanentes e respeitadas por
todos, é fundamental para que se tenha um governo democrático e representativo da
vontade da maioria dos cidadãos.

Em um sistema democrático a troca de poder é salutar. Dentro do cenário de alterações


políticas, a norma eleitoral objetiva assegurar que a oposição alcance o poder. Veja que se
a alternância não fosse garantida, o Direito Eleitoral seria mero instrumento de
conservação do poder pelo partido político dominante.

Bem, vimos que o Direito Eleitoral é fundamental para que se tenha uma democracia
saudável. A segunda indagação que precisamos responder é “De onde provém o Direito
Eleitoral?”, ou seja, “Quais são as fontes do Direito Eleitoral brasileiro?”

A fonte primária do Direito eleitoral é a Constituição da República. É a Constituição que vai


determinar a competência para legislar sobre o Direito Eleitoral. Vejamos o que determina
o artigo 22, inciso I e o artigo 48 da Carta em relação à competência:

 A competência para legislar sobre Direito Eleitoral é privativa da União (art. 22, I,
CF).

 As competências legislativas da União cabem ao Congresso Nacional (art. 48, CF).

Veja que a Constituição é bem clara ao determinar a competência privativa da União para
legislar sobre o Direito Eleitoral. De igual forma, atribui essa competência ao Congresso
Nacional.
Junto a ela, temos as fontes secundárias, responsáveis por todo o processo eleitoral. São
leis que compreendem desde a organização e funcionamento dos partidos políticos (Lei dos
Partidos Políticos, Código Eleitoral), a organização do processo eleitoral da Justiça Eleitoral
(Código Eleitoral), a definição do sistema eleitoral (Código Eleitoral) até os impedimentos
para candidaturas (Lei de Inelegibilidades) e as eleições propriamente ditas (Lei das
Eleições).

Como acabamos de ver, para que possamos participar de eleições é importante conhecer
o Direito Eleitoral, que é a especialidade do Direito Público que disciplina a maneira como
os cidadãos devem se organizar para disputar as eleições e, assim, alcançar legitimamente
a representatividade política.

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São fontes do Direito Eleitoral:

Primária:
 Constituição da República

Secundária:
 Lei dos Partidos Políticos
 Código Eleitoral
 Lei de Inelegibilidade
 Lei das Eleições

Ok. Vimos as fontes, mas precisamos, neste momento, trabalhar os princípios


também, de forma a entender a sistemática do Direito Eleitoral em sua dimensão
teórico-normativa.
Por isso, a pergunta: Quais são os princípios do Direito Eleitoral?

A Constituição assegura a observância aos nomeados princípios do Direito Eleitoral, quais


sejam: i) a soberania popular, ii) o sufrágio universal, iii) o voto direto e secreto com valor
igual para todos e iv) a liberdade partidária. Vejamos do que se trata cada um desses
princípios.

i) Soberania Popular

A soberania popular estabelece que todo o poder emana do povo. Assim, o princípio da
soberania popular é o eixo sobre o qual se sustenta o sistema democrático, sendo o povo
e a igualdade dos cidadãos a base do poder e a essência da democracia.

Ok. Contudo, explique-nos como a soberania popular se realiza?

Para exercer a soberania, o cidadão possui vários modos e procedimentos de poder, como
o referendo, o plebiscito, o voto e a iniciativa popular. Já trabalhamos isso. É por meio do
exercício da soberania que o cidadão interfere na condução da coisa pública, direta ou por
intermédio de seus representantes.

ii) Sufrágio universal


Significa que não se admitem restrições ou exclusões ao direito de voto derivadas de razões
de nascimento, raça, cor, sexo, ideologia ou condições econômicas, como a proibição ao
voto das mulheres.
Somente em 1932 as mulheres obtiveram o direito de votar com a aprovação do Código
Eleitoral. A concretização do voto veio nas eleições do ano seguinte (1933). Além dessas
conquistas, foi instituído a Justiça Eleitoral, que passou a regulamentar as eleições no País.

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iii) Voto Direto e Secreto

O princípio do voto direto e secreto é a forma mais efetiva de o cidadão participar da


condução da coisa pública. No período do governo militar pós-1964 tivemos voto indireto
para presidente da República, governadores e um terço dos Senadores. Para prefeitos de
capitais sequer se votava, pois eles chegaram a ser escolhidos pelos governadores, sem
eleição. O voto direto e secreto é uma importante condição para uma democracia
representativa que se materializa por meio da cédula única de votação e do voto eletrônico.

Sufrágio universal

O voto direto e secreto deve ser compreendido como a defesa do princípio da igualdade
entre os eleitores, uma vez que determina a igualdade da informação eleitoral, a igualdade
de acesso aos locais de votação e a proteção contra influências do poder econômico e
político.

iv) Liberdade Partidária


A liberdade partidária, instituída pela Constituição de 1988, é a grande marca inovadora
do Direito Eleitoral brasileiro. O artigo 17 da Constituição dispõe sobre a liberdade de
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana, e desde que observados alguns preceitos por ela elencados. Estudaremos esses
preceitos quando tratarmos dos partidos políticos.

Princípios fundamentais do Direito Eleitoral

Voto
Soberania Sufrágio Liberdade
direto e
popular universal partidária
secreto

Unidade 3. O Direito Eleitoral na Constituição da República

As normas eleitorais gerais constam dos artigos 14 e 15 da Constituição de 1988. Nesses


dispositivos são estabelecidos como se exerce a soberania popular, quem pode votar, quem
pode ser votado e as condições para que isso ocorra.

Há o núcleo fundamental dos direitos políticos, que se constitui com o direito de votar e
ser votado. Esses direitos também estão disciplinados nos artigos 14 e 15 da Constituição
de 1988. São nesses artigos que sabemos quem pode ser eleitor, como se faz para se
tornar eleitor, como se exerce o direito de votar e ser votado e em que condições.

23
Como adquirir os direitos políticos?

A aquisição dos direitos políticos ocorre no momento do alistamento eleitoral (perante a


Justiça Eleitoral). Como isso ocorre? O sujeito tem seu nome inscrito no sistema da Justiça
Eleitoral e, depois disso, estará em condições de exercer o seu direito ao voto.

O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos e


facultativos para os analfabetos, para os maiores de setenta anos e para quem tem entre
dezesseis e dezoito anos de idade.

Nessa linha, é correto dizer que, para o exercício da capacidade eleitoral ativa, é necessário
ser brasileiro e ter mais de 16 anos (art. 14, §§ 1° e 2°).

Atenção!

Capacidade eleitoral ativa: consiste no reconhecimento legal da qualidade de eleitor, dando


possibilidade à pessoa de votar.

Capacidade eleitoral passiva: consiste na possibilidade de a pessoa ser votada. Para que
alguém seja candidato, além de estar em dia com as obrigações eleitorais, precisa cumprir
as condições de elegibilidade, bem como não pode incorrer em nenhuma situação de
inelegibilidade. (Veremos cada uma das situações, não se preocupem)

A Constituição impõe, também no art. 14, § 2°, que os estrangeiros e os conscritos, durante
o serviço militar obrigatório, não são alistáveis como eleitores. E o que são os conscritos?
Conscritos são os cidadãos convocados para o serviço militar obrigatório. Essa condição se
encerra após cumprido esse período obrigatório ou quando se engajam no serviço militar
permanente.

“Beleza, mas conte agora como é feito o alistamento...” O alistamento eleitoral depende
do requerimento de iniciativa da pessoa. É preciso que o alistamento esteja instruído por
comprovante de qualificação e idade, segundo modelo aprovado pelo Tribunal Superior
Eleitoral.

E para ser candidato (sujeito da capacidade eleitoral passiva) o que é necessário?


São critérios para ter capacidade eleitoral passiva, ou, como se diz, condições de
elegibilidade: 1) ter nacionalidade brasileira; 2) pleno exercício dos direitos políticos; 3)
alistamento eleitoral; 4) domicílio eleitoral na circunscrição (estar registrado como eleitor
no local onde serão realizadas as eleições); 5) filiação partidária; 6) idade mínima.

24
Por disposição constitucional, são condições de elegibilidade:

Art. 14 [...] § 3º
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

O que vem a ser domicílio eleitoral?


Pelo Código Eleitoral (art. 42), é domicílio eleitoral, para efeito da inscrição, o lugar de
residência ou de moradia. A norma também prevê que se o alistando tiver mais de uma
residência, poderá ser considerado domicílio eleitoral qualquer delas.

Curiosidade!
O Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) determina que o domicílio civil
de algumas pessoas é necessário. Ainda que o domicílio civil não importe o domicílio
eleitoral (a jurisprudência dos tribunais eleitorais, até o momento, tem entendido que o
domicílio civil e o eleitoral não se confundem). O artigo 76 do Código Civil e o seu
parágrafo único determinam:
Art. 76. Tem domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o
preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do
servidor público, o lugar onde exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde
servir, e sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do
preso, o lugar onde cumprir a sentença.

E os inelegíveis?
São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Há, na Constituição, outros casos de
inelegibilidades como: em razão de parentesco ou pelo exercício de determinados cargos.
Além disso, a Constituição remete para lei complementar a definição de outras situações.

25
A inelegibilidade pode ser absoluta, proibindo a candidatura às eleições em geral, ou
relativa, impossibilitando a postulação a determinado mandato eletivo.

Inelegibilidade reflexa: art. 14 § 7º (Constituição de 1988) São inelegíveis, no território de


jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Com base na Constituição, mais uma dúvida: a partir de quando passamos a ter
uma lei eleitoral mais estável?

Foi com a promulgação da Constituição de 1988 que passamos a ter estabilidade no campo
eleitoral. O art. 16 da CF/88, ao trazer o princípio da anualidade da lei eleitoral, consagra
uma garantia democrática em benefício da estabilidade e da segurança jurídica do processo
eleitoral.

Mesmo assim, a lei eleitoral era modificada a cada pleito, e o Congresso Nacional se
mobilizava, um ano antes das eleições, para aprovar as novas regras que deveriam orientar
o processo eleitoral.

Atenção! Uma certa estabilidade e coerência foi, de fato, alcançada com a Emenda à
Constituição n° 4, de 1993. A Emenda tornou o texto do art. 16 mais claro e estabeleceu
que a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não
se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Consagrou, assim,
o princípio da anualidade eleitoral.

Unidade 4. Partidos políticos

O ocupante de um cargo político cumpre um papel em duas dimensões: primeiro, ao expor


suas ideias ainda no período eleitoral, comprometendo-se com o seu público; segundo,
exercendo o mandato em contato com os interesses dos representados.

Desse duplo papel, surge a importância dos partidos políticos programáticos, de tal forma
que as propostas sejam conectadas a plataformas de governo e não fiquem subjugadas ao
carisma personalíssimo de cada candidato (MANIN, PRZEWORSKI E STOKES, 1999, p. 30).

Os partidos entram nesse cálculo como as instituições a desempenhar um papel mediador


entre representantes e representados (DUVERGER,1985, p. 58). Entretanto, seu papel
fundamental não lhe livra de um paradoxo: a estrutura das organizações políticas tende a
ser conservadora e oligárquica; razão pela qual não haveria como conceber uma estrutura
partidária duradoura sem imaginar o prestígio a uma oligarquia interna (ROBERT MICHELS,
1982, p. 219-220).

Veja que reflexão interessante... enquanto os partidos clamam por democracia na esfera
política nacional, não raro, incorrem em práticas autoritárias no seio de suas próprias
atividades. Muitos impõem práticas abusivas para a definição de sua Executiva, ou para a
seleção de seus candidatos, nas prévias eleitorais. Comprometem com essas práticas a
identificação que os eleitores teriam com a organização.
26
Em sua origem, na Inglaterra, as siglas partidárias vivenciaram um propósito diferente,
pois se fortaleceram em movimentos sindicais e socialistas (DUVERGER, 1951, p. 8 e
seguintes) e se tornaram peças centrais do funcionamento da democracia. Passaram a ser
consideradas receptoras dos anseios populares, com capacidade para levantar bandeiras
em consonância com as reivindicações do povo, sem descontinuidade nos governos
legalmente constituídos.

A lição parece ser a de que partidos estruturados em programas, objetivos e propostas


plurais consistem em uma condição para que se estabeleçam demandas mais consistentes
dos eleitores aos políticos.

Em nosso País, constitucionalmente, partido político é pessoa jurídica de direito privado,


que goza de autonomia. Após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, os
partidos políticos deverão registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
O artigo 17 da Constituição, que trata dos partidos políticos, estabelece que é livre a
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana, e observados os seguintes preceitos: caráter nacional; proibição de
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes; prestação de contas à Justiça Eleitoral; funcionamento de acordo
com a lei.

Muito importante! É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os
critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua
celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos
estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. O estatuto deve ser registrado no
Tribunal Superior Eleitoral, quando o partido adquire personalidade jurídica e funcionam
como sua lei de organização. Essa questão é tão relevante que o TSE não tem competência
para editar atos normativos que tratem da organização partidária (vedação esta que consta
em lei: art. 23-A do Código Eleitoral).

Passemos à questão da composição e atuação partidária nas casas legislativas...

A composição da Câmara dos Deputados, definida em 513 membros, permite uma extensa
variedade de combinações de siglas partidárias, em número que, por sua vez, tende a ser
majorado pelo ainda mais extenso número de partidos com representação nas Câmaras
Municipais e nas Assembleias Legislativas. Seria bastante comum que diante de um sistema
partidário fragmentado ocorressem partidos com programas definidos, fundados em
alguma clivagem social, regional ou política, dando aos eleitores opções bem embasadas e
bastante diversas na disputa eleitoral. Não é o que se tem verificado no Brasil.

Em virtude, da liberdade de criação de partidos, chegamos perto dos 40 partidos. Sem que
isso signifique a existência de quase 40 partidos com conteúdo programático independente
e inovador a distinguir cada uma das siglas.

De fato, em razão do elevado número de siglas partidárias em atuação no jogo político


nacional e, muitas delas, com o objetivo único de ampliar o número de representantes
eleitos para cada cargo, verifica-se que muitos partidos não seguem um programa
específico ideológico. Essa questão tende a afastar do conhecimento dos eleitores o
27
conteúdo programático dos partidos, o que pode ter como efeito danoso a perda de
influência das siglas e o crescimento da pessoalidade nas eleições, ainda que o modelo
representativo das Câmaras e Assembleias seja o proporcional e não o majoritário.

Um efeito bastante buscado em reformas constitucionais, no campo político, passa pelo


fortalecimento dos partidos por uma linha de coerência programática, já que a
fragmentação teria favorecido o jogo político da coalizão e troca de favores.

Nesse sentido, cabe ressaltar a previsão dos parágrafos 1º, e 3º a 5º do artigo 17 da


Constituição, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017, que
estabelece cláusula de desempenho progressiva para promover o acesso gratuito ao rádio
e à televisão e fundo partidário, é uma reforma que busca reduzir o efeito das chamadas
legendas de aluguel.

Curiosidade
“Diz-se que são “de aluguel” as legendas dos partidos desprovidos de representação no
Congresso ou com escassíssimo número de filiados e/ou parlamentares, e disponíveis
para abrigar candidaturas de políticos – geralmente endinheirados – dispostos a pagar
um preço pela sua inscrição e apresentação da candidatura a um posto eletivo –
geralmente federal e, menos frequentemente, estadual”. LEGENDAS de aluguel. In:
FARHAT, Saïd. Dicionário parlamentar e político: o processo político e legislativo no Brasil.
São Paulo: Melhoramentos; Fundação Petrópolis, 1996. p. 556.

A cláusula de desempenho estabelecida pela mencionada emenda tem afetado a viabilidade


de siglas partidárias muito pequenas.

Conforme previsão da emenda, seriam assim definidos os requisitos por temporalidade


para que os partidos não percam acesso ao fundo partidário e ao tempo de Rádio e TV:
[O caput do artigo determina que: “Somente terão direito a recursos do fundo partidário e
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente...”]

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 97 _ TRANSIÇÃO


1º) 2019 a 2023:
1,5% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados
+
1% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara
ou
9 deputados.

2º) 2023 a 2027:


2,0% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados
+
1% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara

28
ou
11 deputados.

3º) 2027 a 2031:


2,5% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados
+
1,5% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara
ou
13 deputados.

4º) Emenda Constitucional nº 97 _ eficácia plena


A partir de 2031:
3% VOTOS VÁLIDOS da Câmara em 9 estados
+
2% dos votos válidos de cada estado p/ Câmara
ou
15 deputados.
Ressalte-se que ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º
deste artigo [17] é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de
distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de
televisão.

Atenção! É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.


ADEMAIS! Atenção ao § 6º do artigo 17, da CR/88: Os Deputados Federais, os Deputados
Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual
tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de
outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso,
a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros
fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 111, de 2021)

Outro fato que merece menção é que, no Brasil, não existe a figura do candidato
independente (avulso). Não se admite candidatura de quem não esteja filiado a partido
político. Ou seja, a filiação é de caráter obrigatório. É vedado o registro de candidatura
avulsa, ainda que o requerente tenha filiação partidária (Lei das Eleições, art. 11, § 14).

Por último, mas não menos relevante, precisaríamos mencionar uma inovação da Lei nº
14.208/2021, que trata da previsão das federações. Diferentemente das coligações, que
se formam exclusivamente para o momento eleitoral, as federações são uniões que
perduram, no mínimo, uma legislatura (por quatro anos), formando uma espécie de bloco
partidário.

Por definição legal, a federação corresponde à reunião de dois ou mais partidos


políticos, mediante registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, para atuação
como se fosse uma única agremiação partidária (Lei nº 14.208/2021).

29
Federação partidária: o que muda no jogo eleitoral?
Podcast do Estadão Notícias.
https://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-podcasts/podcast-federacao-partidaria-o-
que-muda-no-jogo-eleitoral/

A) Características (conforme a Lei nº 14.208/2021):


I – Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem o funcionamento
parlamentar e a fidelidade partidária.
II – Assegura-se a preservação da identidade e da autonomia dos partidos integrantes de
federação.
III – A federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo no
Tribunal Superior Eleitoral;
IV – Os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por, no mínimo,
4 (quatro) anos.
V – A federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado ao Tribunal
Superior Eleitoral.

B) Prazo de registro:
III – a federação poderá ser constituída até a data final do período de realização das
convenções partidárias; Decisão do STF modificou essa regra, para que as federações,
assim como os partidos, sejam registradas até seis meses antes das eleições. Procurou-
se, assim, manter a isonomia entre as federações e os partidos políticos, de tal modo que
tenham os mesmos prazos para registro.

Em caso de descumprimento do prazo de 4 (quatro) anos de vigência da


Federação ocorre alguma sanção?
O partido que se reunir em federação e descumprir o prazo de 4 anos ficará proibido de
ingressar em federação, de celebrar coligação nas 2 (duas) eleições seguintes e, até
completar o prazo mínimo remanescente, de utilizar o fundo partidário.

Para ilustrar: Se Partido A se desliga de federação Beta, após dois anos das eleições, o
que acontece ao Partido A? Resposta: O Partido A irá ficar, por dois anos, sem acesso ao
fundo partidário.

Ademais, conforme a Lei nº 14.208/2021:


A) Na hipótese de desligamento de 1 (um) ou mais partidos, a federação continuará em
funcionamento, até a eleição seguinte, desde que nela permaneçam 2 (dois) ou mais
partidos.

B) O pedido de registro de federação de partidos encaminhado ao Tribunal Superior


Eleitoral será acompanhado dos seguintes documentos:
I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos de deliberação
nacional de cada um dos partidos integrantes da federação;
30
II – cópia do programa e do estatuto comuns da federação constituída;
III – ata de eleição do órgão de direção nacional da federação.

C) Art. 6º-A Aplicam-se à federação de partidos de que trata o art. 11-A da Lei nº
9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), todas as normas
que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições,
inclusive no que se refere à escolha e registro de candidatos para as eleições
majoritárias e proporcionais, à arrecadação e aplicação de recursos em
campanhas eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de votos, à obtenção
de cadeiras, à prestação de contas e à convocação de suplentes.

Julgado
O Supremo Tribunal Federal julgou a constitucionalidade das federações, reconhecendo
que não se confunde com a figura das coligações.
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=481476&ori=1

Unidade 5. Elementos históricos do voto no Brasil

O Direito Eleitoral, no Brasil, foi muitas vezes objeto de todo tipo de manipulações por
parte de governantes e das forças socioeconômicas dominantes. Em toda nossa história,
poucas foram as oportunidades de aprofundamento das discussões acerca do processo
democrático.

A primeira experiência eleitoral em nosso território foi a eleição em 1532 do Conselho


Municipal da Vila de São Vicente. À época do domínio português, e até 1828,
acompanhávamos as regras ditadas pelo rei de Portugal, com algumas quimeras,
obviamente. Imagine o monstrengo que não foi o momento de domínio de Portugal pela
Espanha. A União Ibérica, junção das coroas portuguesa e espanhola, durou de 1580 a
1640. Não vem ao caso aprofundar isso aqui, mas recomendo a leitura sobre a
complexidade da situação, muitas vezes simplificada nos livros de Direito. Caso tenham
interesse, a obra: “A Dinastia de Avis e a Construção da União Ibérica”, de David Martelo,
apresenta pesquisa detalhada sobre o tema.

Embora a política no Brasil fosse, virtualmente, controlada pelo imperador, pelos


presidentes das províncias e pela oligarquia rural, partir da independência, em 1822,
passamos a ter uma lei eleitoral baseada no modelo francês. À época, o processo eleitoral
era caracterizado por inúmeros vícios, assim como vulnerável a fraudes e à manutenção
das castas no poder.

As eleições passam a ser indiretas na vigência da lei eleitoral de 1860. Nas províncias,
havia os presidentes que agiam como delegados do executivo. A atuação do legislativo
ocorria à sombra do poder moderador que dissolvia, por interesses de ocasião, a câmara
dos deputados.

31
À época, não se falava, por óbvio, em democracia. O regime monárquico governava uma
sociedade que vivia sob o sistema escravocrata. Um modelo mínimo de democracia
demorou a estabelecer-se no País. Mesmo depois da implementação da República, em
1889, o regime democrático não foi implantado de fato.

Marcada pela manipulação e controle das eleições, por lideranças oligárquicas e pelos
chamados “coronéis”, a Primeira República, conhecida como República Velha, também não
apresentou avanços ao regime democrático.

Curiosidade sobre o termo coronelismo:

o coronelismo se apresenta como um sistema político, uma complexa rede de relações


que permeia todos os níveis de atuação política, e não apenas como mandonismo local
(José Murilo de Carvalho. Dicionário FGV) O coronelismo, como sistema surgido na
Primeira República, implica para Vítor Nunes a decadência do poder do coronel, o
enfraquecimento do mandonismo. Desta decadência é que surge a necessidade do
compromisso com o governo estadual, elo inicial da rede que envolveria o sistema como
um todo.

O sistema funcionava como uma rede de coalizões necessárias, mas flutuantes e instáveis
que percorriam de alto a baixo a pirâmide do poder.
José Murilo de Carvalho

Estruturas secundárias: mandonismo, filhotismo, falseamento do voto, desorganização


dos serviços públicos locais.

Coronelismo é concebido “como resultado da superposição de formas desenvolvidas no


regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada”. Não é mera
sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constituiu fenômeno típico da história
colonial. É uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante
poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base
representativa. É sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder
público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais:
os senhores de terra. Estrutura agrária fornece as bases de sustentação das
manifestações de poder privado.

Paradoxalmente, os remanescentes de privatismo são alimentados pelo Poder Público, o


que se explica em função do regime representativo, com sufrágio amplo, pois a situação
do eleitorado rural ainda é de dependência incontestável.
https://www.youtube.com/watch?v=CjcxVvPbfVo

Na chamada Revolução de 1930, começamos a obter alguns avanços no campo social e


político. Foi na década de 30, por exemplo, que tivemos o direito de voto da mulher, o
Código Eleitoral de 1932 e a criação, por Getúlio Vargas, do Tribunal Superior de Justiça
Eleitoral, que era responsável por todos os trabalhos eleitorais.

32
No período de Getúlio Vargas, também tivemos a primeira referência a partidos políticos
na legislação, embora fossem permitidas candidaturas avulsas. Durante os anos seguintes,
de 1937 a 1945, o Brasil viveu sob um regime autoritário, que dentre muitas ações,
extinguiu a Justiça Eleitoral e fechou o Congresso Nacional.

Nas décadas seguintes, o Brasil experimentou um momento de uma certa ordem jurídica
liberal-democrata, com o regime da Constituição de 1946. No entanto, essa experiência
liberal-democrata se encerrou com a instalação do regime autoritário pelo golpe militar de
1964, cujo final se deu com a promulgação da Constituição de 1988.

A partir da Constituição de 1988, passamos por um avanço na experiência democrática.


Um momento importante de nossa história quando aprovamos a legislação eleitoral em
harmonia com as regras constitucionais. Nesse arcabouço, foi promulgada a Lei n° 9.504,
de 30 de setembro de 1997. Uma lei eleitoral que pretendia efetivar com o caráter
permanente e que se propunha a consolidar a democracia, visto que a cada eleição
tínhamos uma reforma, demonstrando de um lado um certo casuísmo eleitoral, por outro
lado uma adequação permanente às novas realidades. O Direito Eleitoral, assim como a
democracia é vivo, vibrante e precisar se atualizar constantemente.

Importante mencionar que a Constituição de 1988 recepcionou o Código Eleitoral, aprovado


pela Lei n° 4.737, de 15 de julho de 1965, em seus aspectos que não colidiam com os
princípios constitucionais. Podemos dizer que a legislação eleitoral brasileira em vigor
constitui uma legislação eleitoral democrática, consistente do ponto de vista técnico e
estável do ponto de vista normativo.

São elementos importantes na legislação brasileira:

1. Lei eleitoral, essencialmente, permanente;


2. Eleição com datas previamente definidas;
3. Possibilidade de alternância de partidos no poder;
4. Pluralismo político, pois exige a possibilidade de participação de muitos partidos,
independentemente de suas inclinações ideológicas;
5. Possibilidade de alianças entre partidos;
6. Ampla divulgação das candidaturas nos meios de comunicação social;
7. Liberdade de organização partidária.

Mas, alguém pode perguntar: como, efetivamente, o Direito Eleitoral se mostrou


relevante na história para contribuir com a democracia?

Ótima pergunta! O regime democrático se consolida: primeiro, como aquele que indica a
forma de organização do poder político estatal e, segundo, como aquele que aponta os
procedimentos e os processos legais para a conquista do poder.

O processo de construção democrática pressupõe um governo baseado nos princípios


eleitorais e na existência de um sistema institucional democrático. São elementos
determinantes de um regime democrático: um Poder Executivo legítimo, um sistema
partidário representativo, um Congresso de representação e de supervisão do Executivo,

33
um sistema judiciário ágil, mecanismos de alternância no poder, organizações civis capazes
de exercer o controle social sobre o aparelho do estado.

Nessa perspectiva, o direito eleitoral exerce um papel fundamental para a democracia ao


dar-lhe forma e conteúdo. Um regime político democrático é aquele que consagra princípios
igualitários, valores universais e um processo de seleção livre, amplo e participativo.

A eleição significa a expressão de preferência entre as opções apresentadas e a realização


de um ato formal de decisão política. Na democracia representativa, a participação dos
cidadãos, direta ou indiretamente, pode ser constatada mediante o exame de seis regras
básicas, conforme pensado por Norberto Bobbio (200, p. 427):

1. Todos os cidadãos que tenham alcançado a maioridade, sem distinção de raça, religião,
condição econômica, sexo etc., devem gozar dos direitos políticos;

2. O voto de todos os cidadãos deve ter peso igual;

3. Todos os cidadãos que gozam dos direitos políticos devem ser livres para votar;

4. Os cidadãos devem ter opções de escolha e não somente uma via;

5. Seja por deliberações coletivas, seja por eleição de representantes, vale o princípio de
maioria numérica, mesmo que possam se estabelecer diversas formas de maioria (relativa,
absoluta, qualificada) em determinadas circunstâncias, previamente estabelecidas;

6. Nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos da minoria, em


particular, o direito de tornar-se maioria em igualdade de condições.

Unidade 6. Sistemas eleitorais: princípios majoritário e proporcional

Dois polos de votação configuram os sistemas eleitorais: majoritário e proporcional. Em


outras palavras, um sistema eleitoral pode privilegiar a representatividade por maioria ou
por proporcionalidade.

Trata-se de um sistema de eleição majoritário aquele que elege o candidato mais votado
dentre todos os outros participantes do pleito. É o sistema mais intuitivo. A maioria a ser
obtida para se declarar eleito pode ser simples (relativa): aquela em que se considera eleito
quem obtiver o maior número dos votos apurados, independentemente do percentual
alcançado; mas pode ser também absoluta. Neste caso, para o candidato ser eleito, precisa
alcançar a maioria dos votos – mais da metade do total de votos apurados.

A exigência de maioria absoluta tem o objetivo de conferir maior representatividade ao


eleito, pois normalmente se aplica a cargos do Executivo. Aqueles em que o eleito tem
34
responsabilidade sobre toda a população do círculo eleitoral em que concorre e não apenas
dedica a sua conduta a satisfazer, prioritariamente, os interesses de um estrato da
população, como costuma ocorrer com os representantes eleitos por votação proporcional
que atuam em casa do Poder Legislativo.

Para ilustrar a representação majoritária, vamos imaginar um município, de nome


“Atenas”, em que há 10.000 eleitores. No município Atenas, a disputa para prefeito e vice-
prefeito, será definida a favor da chapa (composta pelo candidato a prefeito e a vice) que
obtiver o maior número de votos.

Desse modo, suponhamos que quatro partidos tenham se apresentado à corrida para a
Prefeitura, tendo obtido a seguinte votação:

Votos válidos:
Candidatos do Partido A: 4.000 votos;
Candidatos do Partido B: 3.000 votos;
Candidatos do Partido C: 1.600 votos;
Candidatos do Partido D: 1.400 votos.

Podemos identificar, de imediato, que serão considerados eleitos os candidatos a prefeito


e vice-prefeito do Partido A (o mais votado). Este é o modelo de representação majoritária
relativa. Não há necessidade de se alcançar uma maioria absoluta para que a chapa seja
declarada eleita.

Vejamos o caso de um município de nome “Rio de Março”, em que constam 200 mil
eleitores. Adota o mecanismo de representação majoritária absoluta. A disputa para a
prefeitura terminou do seguinte modo:

Votos válidos:
Candidatos do Partido A: 99.000 votos;
Candidatos do Partido B: 80.000 votos;
Candidatos do Partido C: 20.000 votos;
Candidatos do Partido D: 1.000 votos.

Neste caso, em razão da exigência da fórmula de mais da metade dos votos para se
declarar a chapa eleita, ocorre a necessidade de realização de um segundo turno de
votação, do qual participarão somente os candidatos dos dois partidos que obtiveram o
maior número de votos. No segundo turno, verificou-se:

Votos válidos:
Candidatos do Partido A: 99.500 votos;
Candidatos do Partido B: 100.500 votos.

35
Declaram-se eleitos para a cidade Rio de Março, nesta simulação, os candidatos a prefeito
e vice-prefeito do Partido B. Veja que, embora os partidos políticos sejam fundamentais
para a proximidade com os eleitores – uma vez que contribuem para a identificação entre
candidatos e votantes em ração de valores de tradição, ideologia, compromissos assumidos
–, o que caracteriza, de fato, esse modelo eleitoral é a pessoalidade, a apresentação e
difusão de propostas pelo titular da chapa. No caso em questão, o titular da chapa é o
candidato a prefeito.

O sistema proporcional é bastante diferente. Nele, os votos são contabilizados por partidos
políticos. Para que o candidato seja eleito, há que se identificar, antes, o partido político
ao qual faz parte. A votação individual não é decisiva, mas sim o número de votos obtidos
por cada sigla partidária. Há inúmeras fórmulas e meio de se estabelecer a
proporcionalidade de uma eleição. Trabalharemos o tema do cálculo e quocientes eleitorais
no módulo III.

Saiba mais
Vídeo “Poder360 Explica”: sistema eleitoral proporcional
https://www.youtube.com/watch?v=3Jw2hnV3fqY

Como procuramos demonstrar até aqui, as representações proporcionais e majoritárias são


(Tavares, 1994, p. 49-50) alternativas polares excludentes entre si. Desse modo, ao se
analisar o perfil eleitoral de cada país ou região, num universo sem-fim de possibilidades
e variedades da engenharia política, verificamos que existe uma gradação, em que é
possível conhecer os sistemas intermediários entre os dois polos de representação.

Há casos de representação proporcional integral em circunscrição eleitoral única, como


Holanda e Israel, enquanto a Turquia, da década de 50, adotava um exemplo de
representação majoritária extrema, configurada por pluralidade em listas fechadas com
circunscrições no limite do colégio eleitoral único, como ocorria também com a Itália e a
Espanha antes de instituírem a representação proporcional.

Douglas Rae (1967, p. 137-138) pondera que a principal diferença entre as leis eleitorais
está no lugar que ocupam na escala entre a perfeita proporcionalidade e a extrema
desproporcionalidade. Quanto maior a desproporcionalidade, maior o benefício aos partidos
fortes, pois no ambiente que favorece a proporcionalidade da representação, os partidos
menores tendem a ocupar cadeiras no Parlamento e, ao contrário, quando o sistema
eleitoral se aproxima do polo majoritário, poucos partidos tendem a alcançar
representação.

No Brasil, a Câmara dos Deputados privilegia a representação proporcional, e o Senado


Federal privilegia o escrutínio majoritário. Os dois cargos têm atribuições semelhantes,
mas os sistemas eleitorais são diferentes. Giusti Tavares (1998, p. 129-135) expressa o
entendimento de que é essencial que as duas câmaras (baixa e alta) sejam constituídas
por processos eleitorais senão diferentes, pelo menos distintos e independentes, pois se
ambas representassem os mesmos sujeitos ou se constituíssem pelos mesmos
procedimentos eleitorais, uma delas seria supérflua, “tratando-se rigorosamente de uma
configuração representativa unicameral”.

36
O que é um sistema distrital?

O voto ou sistema distrital pode ocorrer tanto por representação majoritária, quanto por
representação proporcional. Seu principal aspecto é a ocorrência de distritos, que são os
espaços territoriais, ou também nomeados círculos (circunscrições) eleitorais, delimitados
para a eleição de candidatos a um determinado cargo. Se cada grupo de eleitores, definido
por porção territorial (distrito), elege somente um candidato, infere-se que o sistema, além
de distrital, seja majoritário, pois será eleito o mais votado naquele território. Se forem
eleitos mais de um candidato por distrito (plurinominal), a votação poderá ocorrer por
escolha majoritária, no qual poderão ser eleitos os mais votados, ou serão eleitos conforme
alguma fórmula eleitoral.

Saiba mais
Vídeo do Estadão: “Voto distrital? Entenda os modelos de sistema eleitoral”.
https://www.youtube.com/watch?v=o8hRVLjFMP4

Para ilustrar:

No município “Alpha”, o Parlamento é composto por 10 assentos e para preencher os 10


assentos foram criados 10 distritos, sendo eleito o mais votado em cada distrito. Cada um
desses distritos tem 1.000 eleitores. Logo a eleição se dará da seguinte forma:

Assento para o distrito 1: preenchido pelo candidato que obtiver maioria de votos;
Assento para o distrito 2: preenchido pelo candidato que obtiver maioria de votos...
E assim sucessivamente...

Perceba que ocorre, praticamente, uma eleição independente para cada assento.

No município “Beta”, há apenas 4 distritos para preencher 16 assentos. Cada distrito,


deverá eleger 4 candidatos. Portanto, é possível que para a eleição em cada distrito seja
adotado um modelo majoritário ou proporcional, conforme a lei eleitoral aplicada ao
município Beta.

Será distrital misto, se parte desses 16 assentos for preenchida por votação proporcional
e outra parte por votação majoritária. Essa combinação está presente no sistema eleitoral
alemão.

37
Unidade 7. Sistemas eleitorais referenciados
7.1 Sistema eleitoral estadunidense e suas críticas

Presidência

A eleição para o posto de presidente dos Estados Unidos acontece a cada quatro anos, e é,
na prática, bipartidária: opondo os partidos Republicano e Democrata. Os eleitores podem
votar por três vias: 1) correios; 2) antecipadamente, para evitar número excessivo de
votantes no dia das eleições; 3) presencialmente, no dia oficial destinado à eleição.

As eleições para presidente são majoritárias por Estado e indiretas. Desse modo, o
candidato que obtiver mais votos em cada Estado terá direito ao número total de votos dos
representantes (delegados), com duas exceções: Maine e Nebraska, que partilham seus
delegados, de modo proporcional, ao número de votos obtidos por democratas ou
republicanos. Vence a disputa, o candidato a presidente que obtiver, pelo menos, 270 votos
dos delegados, de um total de 538.

O número de delegados por Estado é definido por uma lógica que considera o número de
habitantes em cada um deles. Desse modo, enquanto a Califórnia, o Estado mais
populoso, tem 55 delegados, Washington D.C. tem apenas três.

Congresso

O Congresso dos Estados Unidos tem a seguinte composição: 1) a Câmara dos Deputados
com 435 membros; 2) o Senado com 100 membros.

Os deputados são eleitos para mandato de dois anos. Portanto, ao final de dois anos de
mandato do presidente dos Estados Unidos, são realizadas as eleições chamadas “de meio
de mandato”. Nela, são disputados todos os 435 assentos.

Para definir o número de assentos por Estado, há a realização do censo, a cada 10 anos,
no qual se verifica a correspondência de habitantes por assento.

No Senado é um pouco diferente. Os senadores são eleitos pelo voto popular para um
mandato de seis anos. Correspondem a dois por Estado, independentemente do tamanho
da população. Trata-se de uma representação paritária. As eleições acontecem a cada dois
anos, com o objetivo de renovar um terço dos parlamentares. Ocorrem, dessa forma,
durante as disputas presidenciais e durante o escrutínio “de meio de mandato”.

Críticas
Além de uma crítica evidente ao voto indireto, que parece dar um certo distanciamento ao
eleitor nos processos de escolha do presidente, o modelo norte-americano peca pela
ausência de uma representação que beneficie as minorias, estratos sociais que acabam
sendo solapados pela característica da regionalidade, tão consagrada em um modelo que
se baseie no mecanismo distrital puro, de maioria simples.

38
No modelo distrital puro, não há espaço para um uma causa difusa minoritária, que seja
frequente em vários lugares, como a questão étnica, por exemplo. A ausência de espaço
se dá porque a pluralidade de distritos valoriza excessivamente as maiorias regionais, sem
fórmulas que valorizem a votação em distritos mais abrangentes, de forma que a soma
das minorias pudesse ganhar substância representativa.

Saiba mais
Vídeo do Uol: “Eleições nos EUA: entenda como funciona o processo eleitoral americano”.
https://www.youtube.com/watch?v=E305Qq9jZkc

7.2 Sistema eleitoral alemão e suas críticas

O sistema eleitoral alemão tem servido de paradigma a propostas da reforma no Brasil. É


o exemplo mais destacado de sistema eleitoral misto, no qual se combina a representação
majoritária com a proporcional para a eleição dos deputados do Bundestag – o que seria
equivalente aos deputados federais, membros da Câmara dos Deputados, aqui no Brasil.
Por isso, o sistema é considerado misto.

Nas eleições gerais da Alemanha, cada eleitor tem direito a dois votos: 1) um direto e 2)
um voto em legenda.

Com o primeiro voto, o eleitor decide quem irá representar o seu distrito eleitoral. Por esse
mecanismo, de maioria simples, são eleitos 299 representantes. O foco desse voto está no
candidato. Vota-se diretamente nele.

A eleição por distritos é essencial para o modelo. Por esse critério, em regra, metade do
Parlamento é formado. O Parlamento é composto, de modo geral, por 598 membros eleitos.
Número que, em circunstâncias especiais, pode ser alterado.

O segundo voto, que é atribuído à legenda, define a outra metade do Parlamento. Esse
segundo voto é determinante para o tamanho do partido no Parlamento, uma vez que essa
escolha se dá por cálculo proporcional. Quanto mais votos obtiver a legenda, maior será o
número de eleitos, segundo uma lista apresentada por cada partido, em que aparecem os
nomes de quem poderá ser eleito, de forma preordenada. A este modelo se dá o nome de
“lista fechada”.

Funciona da seguinte forma:


O Partido A apresenta a lista, demonstrando que os candidatos a serem eleitos serão:
1º) Fulano;
2º) Beltrano,
3º) Cicrano e assim em diante.

Essa será a ordem a ser observada, conforme o partido A conquiste assento(s). Segundo
esse sistema, se os votos obtidos forem suficientes para eleger somente um representante,
39
elegerá Fulano. Se receber votos suficientes para eleger dois representantes, elegerá
Fulano e Beltrano. Seguindo assim até o apontamento de ocupantes para todos os assentos
que o partido tiver direito.

Na Alemanha há, contudo, uma cláusula de barreira, de tal forma que um partido somente
elegerá representantes, se houver conquistado um mínimo de 5% dos votos válidos. Desse
modo, evita-se que o Parlamento fique excessivamente fragmentado pela composição de
inúmeros pequenos partidos, com um número muito pequeno de representantes.
Devemos mencionar, também, que o chanceler é escolhido pelos deputados do Bundestag.

Críticas
As críticas mais contundentes ao sistema alemão, quanto ao primeiro voto, estão naquelas
direcionadas ao sistema distrital, relacionadas à redução da proporcionalidade
representativa, uma vez que há a valorização da pessoalidade e territorialidade em
detrimento do compromisso programático partidário.

Há, para o segundo voto, a crítica direcionada ao modelo de lista fechada, pois se trata de
um mecanismo a favorecer o “caciquismo”, tão frequente nos partidos políticos. Esse
“caciquismo” consiste no privilégio exacerbado conferido aos líderes partidários, muitas
vezes, considerados, de modo errôneo, “donos do partido” e, não raro, autores de práticas
autoritárias no interior da organização, enquanto a democracia intrapartidária deveria ser
uma diretriz.

Conclusão do módulo

Pelo estudo deste módulo, foi possível conhecer a estrutura orgânica e funcionamento da
Justiça Eleitoral, cuja espinha dorsal se compõe de juízes, tribunais regionais e Tribunal
Superior Eleitoral. Estudaram-se princípios de extrema relevância do Direito Eleitoral, quais
sejam: soberania popular; sufrágio universal; voto direto e secreto; liberdade partidária;
liberdade partidária.

Avançamos para conceitos essenciais do Direito Eleitoral e das razões de seu estudo, o que
não pode ser dissociado do entendimento sobre os partidos políticos, como se verificou em
título próprio. O tratamento histórico do voto no Brasil conferiu a base para seguirmos
adiante com a análise dos modelos de representação majoritária e proporcional, e, na
sequência, estudo sobre os modelos distrital norte-americano e distrital misto alemão, cuja
observação tanto tem a oferecer ao aprimoramento de nosso sistema eleitoral.

No próximo módulo, estaremos aptos a discutir com profundidade a questão, ao trabalhar


de modo detalhado o sistema eleitoral pátrio e entender minúcias relacionadas às regras
de eleição.

Material Complementar do módulo II

BARACHO, José Alfredo. A teoria geral do direito eleitoral e seus reflexos no direito
eleitoral brasileiro. Estudos Eleitorais, Brasília, v. 1, n. 1, p. 23-80, jan./abr. 1997.
Disponível em: <https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/handle/bdtse/969>

40
MÓDULO III – PRÁTICA ELEITORAL
Unidade 1. Atualidade das leis que regem o Direito Eleitoral brasileiro
Unidade 2. O sistema eleitoral brasileiro
Unidade 3. Eleições na prática
3.1 O que é preciso saber para participar de uma eleição?
3.2 Condutas vedadas e incompatibilidades parlamentares
3.3 Condições de elegibilidade e inelegibilidades
3.4 Calendário eleitoral resumido
Unidade 4. Propaganda eleitoral: o que é permitido ou vedado
Unidade 5. Gastos em campanha: arrecadação, limites, transparência
5.1 Financiamento público ou privado
5.2 Fundo eleitoral ou partidário
5.3 Crowdfunding: a vaquinha on-line
Unidade 6. Vamos realizar o cálculo eleitoral?
6.1 Quociente eleitoral e partidário
6.2 Sobras de votos e maiores médias
6.3 Coligações
Unidade 7. Ações perante a Justiça Eleitoral
Conclusão do módulo

Objetivos:
- Compreender as leis que integram o processo eleitoral;
- Compreender o calendário resumido das eleições;
- Discutir regras e impedimentos do período pré-eleitoral;
- Informar sobre regras e impedimentos do período eleitoral;
- Entender o modelo brasileiro de Justiça Eleitoral, suas peculiaridades, suas principais
características, conforme marcos do sistema constitucional e legal;
- Identificar regras que regem o processo eleitoral brasileiro;
- Apontar as principais características do Código Eleitoral Brasileiro, da Lei das
Inelegibilidades e da Lei dos Partidos Políticos;
- Conhecer e discutir sobre os procedimentos básicos de lançamento de candidatura,
comportamento durante as eleições e de verificação de resultados.
- Entender os mecanismos eleitorais que levam à eleição de candidatos em sistema
majoritário e proporcional;
- Entender o funcionamento de algumas das mais usadas ações da esfera eleitoral.

Explicação da ementa: este módulo é o mais rico em detalhes do curso e tem uma
dimensão prática evidente. Nele, serão tratadas disposições contidas em diplomas
informativos do processo eleitoral, assim como procedimentos essenciais a quem deseja
conhecer a dinâmica eleitoral, em sua dimensão legal e experimental.
41
Unidade 1. Atualidade das leis que regem o Direito Eleitoral brasileiro

Um dado que causa impacto: o Brasil tem um dos maiores índices de desconfiança na
classe política do mundo. Em 15 anos, a desconfiança saiu de 37% para 78%, segundo o
Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, dirigido pelo
aclamado Professor Leonardo Avritzer.

Figura 1 Fonte: Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação

Mas não é só isso...


O Brasil é também a democracia mais fragmentada do mundo.
Se pegarmos o cálculo de Markku Laaksu e Rein Taagepera, nós alcançamos, nas eleições
de 2018, o número de 16,4 partidos efetivos. Ou seja, 16,4 partidos que efetivamente
influenciaram a política eleitoral do País naquele ano. A média mundial é de 4 partidos
efetivos.
O número efetivo de partidos decorre de um cálculo que foi elaborado, no final dos anos
1970, por Markku Laakso e Rein Taagepera, como forma de se medir a fragmentação do
sistema partidário dos países. O resultado do cálculo identificaria o número de partidos
que, de fato (efetivamente), influenciam a política na casa legislativa considerada.

Então... passamos por uma situação crítica!


Nós temos mais de 30 partidos com registro válido no TSE e muitos partidos com
assento na Câmara dos Deputados. Há uma tremenda sopa de letrinhas que precisa
ser mudada.

42
E não para por aí...

Nós temos problemas menores também. Mas que, igualmente, comprometem a qualidade
de nossa democracia. Para ilustrar, vale mencionar que:

 O prazo de registro de campanha é, no máximo, até 15 de agosto do ano eleitoral.


Todavia, perceba que o prazo de impugnação de registro é de 20 dias, e o de análise
de recursos e embargos de declaração, com todos os prazos processuais, leva 54
dias. Dessa forma, um candidato pode se candidatar, ser eleito e depois ter seu
registro cassado. Isso tem acontecido muito e dá margem à insegurança no sistema.

Vemos, portanto, a necessidade de ajustes no Direito Eleitoral. Como uma empresa corta
seus custos e atualiza seus processos produtivos, a legislação eleitoral precisa ser
atualizada e ajustada para acompanhar as mudanças sociais e conferir maior solidez à
democracia. Trata-se de uma busca inesgotável e constante!

E há duas formas de ajustes da legislação eleitoral, considerando a natureza da regra


positivada:

I- Uma que visa a alterações menores, legais, para melhorar os processos eleitorais.
Como a questão do registro de candidato, por exemplo.

II- Outra que visa a alterações mais drásticas, de dimensão constitucional. Como a
mudança do sistema eleitoral. Há normas, nesse sentido (de mudança do sistema
eleitoral), em tramitação no Congresso – para a adoção, por exemplo, do sistema
distrital em seus diversos formatos.

Em razão do que mencionamos no módulo II, o princípio da anualidade, todas as mudanças


relacionadas às eleições devem cumprir um prazo de anterioridade às eleições. Em outras
palavras, somente são aplicadas regras aprovadas com, pelo menos, um ano de
antecedência das eleições, ainda que o dispositivo tenha entrado em vigor em sua data de
publicação.

Dada a sua importância para o sistema, convém repetir a previsão do artigo 16 da


Constituição:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993)

Esse dispositivo é considerado uma muralha de proteção da democracia, uma vez que
impõe a necessidade de que as regras aplicadas às eleições sejam previamente conhecidas.
Desta forma, contribui para que os candidatos participem do escrutínio em condições
isonômicas quanto ao conhecimento sobre as regras de disputa.

Várias medidas vieram a atualizar os dispositivos previstos para ter validade durante as
eleições ao longo dos anos. É comum que, antes de cada eleição, haja uma observação

43
dos desdobramentos das disputas eleitorais do ano anterior e isso acabe influenciando a
aprovação de novas leis que alterem os diplomas estruturantes do Direito Eleitoral, que
além das previsões constitucionais (arts. 14 a 17 e 118 a 121), se moldam por:

 Código Eleitoral – Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 e alterações posteriores;


 Lei das Inelegibilidades – Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990 e
alterações posteriores;
 Lei dos Partidos Políticos – Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 e alterações
posteriores;
 Lei das Eleições – Lei n° 9.504, de 30 de setembro de 1997, e alterações
posteriores.

Somados a esses diplomas legais, as resoluções expedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral
e demais atos normativos e decisões da Justiça especializada são relevantes para a
formatação do sistema eleitoral em sua multidimensionalidade.
Por que falamos em multidimensionalidade? Porque as eleições, cada vez mais, não se
resumem ao calendário do ano em que ocorre a votação, mas estão presentes, de forma
contínua ao logo de todos os anos, seja por julgamento de processos envolvendo questões
de registro, cassação, ou qualquer outro contencioso. Assim também são as discussões no
Congresso Nacional envolvendo propostas legislativas relacionadas às eleições – tramitam
de forma perene – expandem-se, também, aos anos ímpares e, não somente, ocorrem nos
anos pares, que seriam aqueles de disputas eleitorais.

Unidade 2. O sistema eleitoral brasileiro

Quando ocorrem as eleições no Brasil?

As eleições regulares, no Brasil, são alternadas a cada 2 anos e ocorrem nos anos pares:

 Eleições municipais: para a escolha de vereadores, prefeitos e vice-prefeitos;

 Eleições Gerais: para a escolha de deputados estaduais, distritais, federais,


senadores, governadores e presidente.

Quais são os sistemas eleitorais aplicados ao Brasil?

Como vimos, no Brasil ocorrem dois sistemas: o majoritário e o proporcional.


O sistema majoritário é aquele em que vence a eleição o candidato que obtiver a maioria
dos votos, seja por maioria absoluta: mais da metade dos votos válidos; seja por maioria
simples.

A escolha de senadores e prefeitos dos municípios com menos de 200 mil eleitores se dá
por eleições majoritárias simples.

No caso dos governadores, presidente e prefeitos de municípios com mais de 200 mil
eleitores, a escolha se dá por eleições majoritárias absolutas. Portanto, não havendo mais

44
da metade dos votos em benefício de um candidato, recorre-se ao segundo turno, com os
candidatos mais votados, para se definir a eleição com mais da metade dos votos válidos
em favor de um deles.

Como se dá o financiamento de campanha?

Financiamento público e por pessoa física. Com base em decisão do Supremo Tribunal
Federal, em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade (STF_ADI 4.650_2015), ficou
vedado o financiamento empresarial de campanha. Desse modo, o STF quis corrigir uma
disparidade eleitoral, que se tratava do aporte milionário de algumas empresas a
determinadas campanhas, o que levava, quase sempre, a uma atuação dos eleitos benéfica
às companhias apoiadoras. Isso repercutia, em muitos casos, em contratações escusas e
licitações públicas viciadas, de forma a favorecer os apoiadores em processos de
contratação de serviços ou de fornecimento de bens aos entes públicos.
Em consequência, no Brasil, atualmente, somente se admite financiamento público ou por
pessoa física, com limites claros de recursos a serem aportados.

Unidade 3. Eleições na prática

3.1 O que é preciso saber para participar de uma eleição?

Alguém que se pretenda lançar candidato ou atuar como assessor durante as eleições,
quanto ao Direito Eleitoral, precisa conhecer leis regentes sobre o tema, determinadas
resoluções expedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e jurisprudência de órgãos judiciários.
Portanto, deve-se fazer um percurso transversal de conceitos e disposições presentes
nesse verdadeiro sistema que cerca a escolha democrática de candidatos para os poderes
Executivo e Legislativo no Brasil.

Pensando nessas questões e na importância do conhecimento prático do Direito Eleitoral,


iremos nesta unidade e nas próximas, percorrer um roteiro em que sejam discutidos os
seguintes tópicos: Condutas vedadas em ano eleitoral; Condições de elegibilidade e
inelegibilidades; Calendário eleitoral resumido; Propaganda eleitoral: o que é permitido ou
vedado; Gastos em campanha: arrecadação, limites, transparência; Financiamento público
ou privado; Fundo eleitoral ou partidário; Crowdfunding: a vaquinha on-line; E para realizar
o cálculo eleitoral? Quociente eleitoral e partidário; Sobras de votos e maiores médias;
Coligações e cláusula de barreira.

O voto favorece diretamente o candidato ou o partido (lista)?

Em eleições proporcionais há a possibilidade de os votos serem conferidos e contabilizados


individualmente ou a uma lista de candidatos, sendo direcionados pelos eleitores a um
partido. Quando o eleitor vota no partido, o que se admite no Brasil, a sigla contabiliza um
voto no concurso com os demais partidos políticos (essa questão ficará mais evidente
quando tratarmos dos cálculos eleitorais.)
No Brasil, utilizamos a lista aberta, pois os eleitores votam nos candidatos, e os candidatos
são ordenados para ocupar uma cadeira no Legislativo de acordo com a classificação obtida
por seu desempenho individual nas urnas. Na lista fechada, o eleitor vota no partido
45
político, mas a ordenação (primeiro, segundo, terceiro...) de quem irá ocupar as cadeiras
destinadas a um determinado partido é definida antecipadamente, antes das eleições,
portanto falamos de uma lista fechada para este caso.

Suponhamos que o partido A obtenha apenas um assento na Casa Legislativa para a qual
concorreu:
I- Em sistema de lista aberta, ocupará o assento o candidato mais votado daquele
partido;

II- Em sistema de lista fechada, não há a contabilização de votos por candidato,


portanto será considerado eleito aquele que o partido indicou como o primeiro de
sua lista no momento anterior ao eleitoral.

Se o partido A tem o direito a dois assentos, em razão de seu desempenho nas urnas. No
sistema de lista aberta, será considerado eleito o segundo mais votado daquela sigla. Mas,
em se tratando de lista fechada, será considerado eleito o segundo da lista indicada pelo
partido, antes das eleições. E assim sucessivamente, se houver novos assentos a serem
preenchidos.

EM SÍNTESE, vereadores, deputados estaduais, federais distritais concorrem às eleições,


no Brasil, pelo sistema proporcional de lista aberta.

Quantos parlamentares cada Casa Legislativa pode ter?

I) Vereadores: O inciso IV art. 29 da Constituição dispõe sobre o número máximo


de vereadores que as Câmaras Municipais podem ter conforme o número de
habitantes da cidade. Porém, as Câmaras Municipais têm a prerrogativa,
mediante Lei Orgânica, de estabelecer a quantidade de vereadores, com
observância desses limites.

O quadro abaixo é bem sintético dos limites. Um pequeno ajuste precisa ser
feito na linha de 35 vereadores, onde deve ser considerado o parâmetro de 1,2
milhão até 1,35 milhão, em lugar do que consta na tabela: “1,25 milhão até
1,35 milhão”.

Figura 2 Fonte: Marketing Político Hoje.


Disponível em: <https://marketingpoliticohoje.com.br/numero-vereadores-municipio/>.
46
II) Deputados estaduais, distritais e federais: por disposição do artigo 45 da
Constituição, a “Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo,
eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no
Distrito Federal”.

Em regulamentação a esse dispositivo, a Lei Complementar nº 78/1993


determinou a observância do censo do IBGE da época para distribuir os assentos
em mínimo de 8, para os Estados menos populosos, e máximo de 70 deputados
federais, para o mais populoso Estado (SP). Total de 513 deputados federais a
compor a Câmara dos Deputados.

Quanto aos deputados estaduais, o artigo 27 da Constituição prevê que o


“número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da
representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de
trinta e seis (a), será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais
acima de doze (b).”

Por exemplo, em São Paulo: 70 deputados federais. Logo, o cálculo será:


condição a) “36” somada à condição b) “70 – 12 = 58”. Soma das parcelas =
94 deputados estaduais.
Desse modo, a composição está assim definida para cada estado:

47
III) Senadores... não há a necessidade de cálculo para a definição de quantitativo
de membros por Estado. Sempre, em distribuição paritária, independentemente
da população de cada ente federativo, serão 3 senadores por Estado e Distrito
Federal, portanto 27 x 3 = 81 senadores no total.

3.2 Condutas vedadas e incompatibilidades parlamentares

Como sabemos, a República Federativa do Brasil é formada por três círculos federativos:
União; Estados e Distrito Federal; municípios. Por essa formação, recebe a classificação de
federação de 3º grau.

Em razão da autonomia dos municípios para se auto-organizar e exercer a administração,


os constituintes consideraram que a melhor formulação seria por tratar temas gerais
relativos ao Poder legislativo e Executivo municipal na Constituição, mas não invadir temas
que se configuram como específicos de órgãos locais.

Desse modo, a Lei Orgânica dos municípios é o meio pelo qual os Municípios se organizam.
Ela está para o município como a Constituição da República está para a União. Sendo assim,
na Lei Orgânica dos municípios, associada ao Regimento Interno da Câmara de Vereadores,
pode haver previsões de condutas que caracterizem a perda de mandato dos vereadores.

Todavia, a decretação de perda de mandato do edil é situação excepcional.


Quando um vereador pode perder o mandato?
1- Por determinação judicial;
2- Por votação da Câmara Municipal, conforme estipulado em Regimento Interno.

Para que não seja determinada a perda do mandato ou seja cassado, o vereador deve
observar as proibições constantes na Constituição da República, mas também se orientar
para o que dispõem a Lei Orgânica do Município e o Regimento Interno da Câmara em que
exerce o mandato. A jurisprudência é pacífica quanto à aplicabilidade dos artigos 54 e 55
da Constituição aos vereadores, embora o caput do artigo mencione somente deputados e
senadores.

Por previsão do artigo 54 da Constituição da República, que insere casos de


Incompatibilidades Parlamentares, os deputados e senadores não poderão:

I - desde a expedição do diploma (após serem atestados como efetivamente


eleitos):
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo
quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior;
48
II - desde a posse para exercício do mandato:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente
de contrato com pessoa jurídica de direito público ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas
no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso
I, "a";
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

Vale ressaltar:

Incompatibilidade é o impedimento do parlamentar para acumular o seu mandato


legislativo com outras situações que ele possuía antes do pleito. (Pinto Ferreira). O artigo
54 trata das incompatibilidades funcionais em razão do cargo.

Vejam que a regra constitucional é da proibição de acumular cargos, mas a própria norma
fundamental admite exceção. O vereador que tenha compatibilidade de horário com o
exercício de seu mandato poderá perceber as vantagens de seu cargo, emprego ou
função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo (art. 38, inciso III). Essa exceção,
contudo, não alcança cargos públicos de direção ou de livre nomeação e exoneração.
Estes não podem ser acumulados com o exercício da vereança.

Cabe mencionar, aqui, que esse dispositivo costuma ser acolhido e reproduzido por
Constituições estaduais, leis orgânicas de municípios e regimentos internos de diversas
câmaras.

Como exemplo, a Lei Orgânica de São Paulo reproduz o dispositivo em seu artigo 17,
enquanto a Lei Orgânica do Rio de Janeiro a reproduz no artigo 48. O artigo 54 da
Constituição deve ser combinado com o 55, para entender as vedações constitucionais a
condutas funcionais:

Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (artigo 55 da Constituição da República/ Lei


Orgânica: art. 18, São Paulo/ art. 49, Rio de Janeiro)
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior [citadas acima];
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

49
Além dessas condutas, o constituinte também considerou prudente punir o agente público
que praticasse ilícito de improbidade administrativa. A moralidade administrativa tem um
valor tão importante para a formação do Estado que recebeu previsão de punições na lei
fundamental:

Conforme § 4º do artigo 37 da Constituição, os atos de improbidade administrativa


importarão a: 1) suspensão dos direitos políticos; 2) a perda da função pública, 3) a
indisponibilidade dos bens e 4) o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Para o entendimento dessas previsões, há o seguinte mnemônico: PARIS


(sanções aplicáveis aos ilícitos de improbidade administrativa)

Perda da função pública


Ação penal
Ressarcimento ao erário
Indisponibilidade dos bens
Suspensão dos direitos políticos

Recepcionado pela Constituição, o Decreto-Lei nº 201/1967, que disciplina a


responsabilidade de vereadores e prefeitos, passou a ser considerado para os vereadores
regra diretiva sobre as práticas político-administrativas:

Conforme artigo 7º do mencionado Decreto-Lei (nº 201/1967), a Câmara poderá cassar o


mandato de Vereador, quando:
I - Utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou de improbidade
administrativa;
II - Fixar residência fora do Município;
III - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara ou faltar com o decoro
na sua conduta pública.

Diversos municípios adotaram essas regras em sua Lei Orgânica, bem como houve
Câmaras que adotaram essas disposições em seu regimento interno. Embora sejam regras
chamadas interna corporis (a serem resolvidas no âmbito interno), é possível ao Poder
Judiciário analisar a legalidade do processo de julgamento do vereador. Em outras
palavras, o Judiciário pode analisar as condições de julgamento político realizado na
Câmara de Vereadores, como forma de assegurar princípios processuais básicos, como
devido processo legal, contraditório, ampla defesa.

Outra lei a ser considerada com relação a condutas vedadas é a de Improbidade


Administrativa, Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, aplicável a todos os agentes públicos,
entre os quais os vereadores. Esta lei, prevê vários tipos de atos que importam em
improbidade administrativa. São classificados em atos que importam em:

50
[Grave a interjeição EPAA!!!]
• Enriquecimento ilícito
• Prejuízo ao erário
• Aplicação ou concessão indevida de benefício tributário
• Atenta contra os princípios da administração pública

Para explicá-los, temos como exemplos fictícios:


• Enriquecimento ilícito (art. 9)
Exemplo: vereador Alfa tem um patrimônio incompatível com sua renda.

• Prejuízo ao erário (art. 10)


Exemplo: vereador Beta utiliza caminhão da Câmara Municipal para o
transporte de carga de supermercado de sua propriedade.

• Aplicação ou concessão indevida de benefício tributário


Situação específica com, por exemplo, a de um imposto ser reduzido abaixo de
sua tarifa mínima como forma de benefício a um particular.

• Atenta contra os princípios da administração pública


Exemplo: vereador Delta realiza concurso público com regras que beneficiem
pessoas próximas a ele.

Agora, veremos as condutas que são proibidas em anos eleitorais:

A razão das vedações que veremos, aqui, está em que a isonomia da disputa eleitoral não
seja comprometida por fatores que favoreçam algum ou alguns dos candidatos, em
detrimento dos demais.
Essas restrições se aplicam aos agentes públicos em geral, incluindo os vereadores, e estão
elencadas nos artigos 73 a 78 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504, de 30 de setembro de
1997).
São proibidas (vedadas) aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou


imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária;

II - usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que


excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram;

III - ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal,


estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de
campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de
expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;

51
IV - fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação,
de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados
pelo Poder Público;

Curiosidade
São proibidas, em período eleitoral, doações de bens e serviços por quem se pretenda
lançar candidato.
https://www.youtube.com/watch?v=9CFCtgv-
ffA&list=PLljYw1P54c4xPBNN6RebC2Cm4Wri5nnJ_&index=2

V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou
readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e,
ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do
pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de
pleno direito, ressalvados:
a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções
de confiança;
b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República;
c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início daquele
prazo;
d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de
serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder
Executivo;
e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de agentes
penitenciários;

VI - vedações nos três meses que antecedem o pleito:

a) realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, e dos


Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos
destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em
andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de
emergência e de calamidade pública;
b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no
mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas
entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade
pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;
c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito,
salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e
característica das funções de governo;

VII - realizar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos órgãos
públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração

52
indireta, que excedam a média dos gastos no primeiro semestre dos três últimos anos que
antecedem o pleito;

VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores


públicos que excedam a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano
da eleição, até a posse dos eleitos.

A Lei das Eleições prevê ainda que, no ano em que se realizar eleição, fica proibida a
distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública,
exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais
autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o
Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e
administrativa. Esses programas sociais não poderão, todavia, ser executados por entidade
nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida.

Além disso, nos três meses que antecederem as eleições, na realização de inaugurações é
vedada a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos. Sem contar que a
qualquer candidato é proibido comparecer, também nos 3 (três) meses que precedem o
pleito, a inaugurações de obras públicas, sob pena de cassação do registro ou do diploma.

3.3 Condições de elegibilidade e inelegibilidades

As condições de elegibilidade consistem nos pressupostos que devem ser atendidos para
que uma pessoa esteja apta a ser candidata a um cargo político. Confere, portanto, à
pessoa a oportunidade para que seja votada, nomeada de capacidade eleitoral passiva.
Enquanto o direito de votar consiste na capacidade eleitoral ativa.

Por disposição constitucional, são condições de elegibilidade, conforme artigo 14, § 3º, da
Constituição:

I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

Pela definição do Glossário Eleitoral: A inelegibilidade importa no impedimento temporário


da capacidade eleitoral passiva do cidadão, que consiste na restrição de ser votado, nas
53
hipóteses previstas na LC nº 64/90 e na Constituição Federal, não atingindo, portanto, os
demais direitos políticos, como, por exemplo, votar e participar de partidos políticos.
(AgRgAG nº 4.598, de 03.06.04)

A inelegibilidade pode ser absoluta, proibindo a candidatura às eleições em geral, ou


relativa, impossibilitando a postulação a determinado mandato eletivo.

Pode ocorrer, ainda, a inelegibilidade reflexa (por disposição do artigo 14, § 7º, da
Constituição): que torna inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de
quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de
mandato eletivo e candidato à reeleição.

Para exemplificar, digamos que a filha do Presidente da República seja vereadora por sua
cidade. Ocorrem eleições Municipais. Nessa oportunidade, ela não poderia concorrer ao
cargo de prefeita da mesma cidade, em razão de inelegibilidade reflexa. Contudo, por já
ocupar o cargo de vereadora, antes mesmo de o pai se tornar presidente, ela poderia se
candidatar à reeleição para o mandato de vereadora.

3.4 Calendário eleitoral resumido

Em 1º de janeiro
I. Os institutos de pesquisa de opinião tornam-se obrigados a registrar as pesquisas, no
Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle), até 5 (cinco) dias antes da
divulgação (Lei n° 9.504/1997, art. 33, caput e § 1º).

II. Fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da
administração pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência
ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício
anterior (Lei n° 9.504/1997, art. 73, § 1º).

III. Fica vedada a execução de programas sociais por entidade nominalmente vinculada a
candidato ou por este mantida, ainda que autorizados em lei ou em execução orçamentária
no exercício anterior (Lei n° 9.504/1997, art. 73, § 1º).

IV. Fica vedado realizar despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais
ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a
média dos gastos no primeiro semestre dos 3 (três) últimos anos que antecedem o pleito
(Lei n° 9.504/1997, art. 73, VII).

Em 5 de março
Último dia para o Tribunal Superior Eleitoral publicar as instruções relativas às eleições (Lei
n° 9.504/1997, art. 105, caput e § 3°).

54
Em 1° de abril
A partir desta data até 30 de julho de 2020, o Tribunal Superior Eleitoral promoverá, em
até 5 (cinco) minutos diários, contínuos ou não, propaganda institucional destinada a
incentivar a participação feminina, dos jovens e da comunidade negra na política, bem
como a esclarecer os cidadãos sobre as regras e o funcionamento do sistema eleitoral
brasileiro (Lei n° 9.504/1997, art. 93-A).

7 meses antes das eleições:


Janela para mudança de partido sem perda do mandato: durante o período de trinta dias
(7 meses antes das eleições) que antecede o prazo de filiação (até 6 meses antes das
eleições) exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional (Lei n°
9.096/1995, art. 22-A, III).

6 meses antes das eleições:


I. Tempo para registrar o partido político no TSE: mínimo de seis meses antes das eleições.
Portanto, todos os partidos políticos que pretendam participar das eleições de 2020 devem
ter obtido registro de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral nesta data (Lei n°
9.504/1997, art. 4º).

II. Tempo para registrar/ mudar domicílio eleitoral do candidato: mínimo de seis meses
antes das eleições. Dessa forma, esta é a data-limite para quem pretende lançar-se
candidato ter domicílio eleitoral na circunscrição na qual deseja concorrer e estar com a
filiação deferida pelo partido, sem impedimento para que o partido estabeleça prazo
superior. (Lei n° 9.504/1997, art. 9º, caput e Lei n° 9.096/1995, art. 20, caput).

III. Data-limite para que o presidente da República, os governadores e os prefeitos


renunciem aos respectivos mandatos caso pretendam concorrer a outros cargos
(Constituição Federal, art. 14, § 6º).

15 de maio
Arrecadação prévia de recursos financeiros para campanha: crowdfunding permite a
arrecadação prévia, a partir do dia 15 de maio do ano da eleição.

30 de junho
Data-limite para a prestação de contas anual dos partidos políticos em relação ao exercício
anterior.

20 de julho
De 20 de julho até 5 de agosto é permitida a realização de convenções destinadas a
deliberar sobre coligações e escolher candidatos (Lei nº9.504/1997, art. 8º, caput).

15 de agosto
Último dia para os partidos políticos e as coligações apresentarem aos tribunais eleitorais,
até as 19 horas, o requerimento de registro de candidatos (Lei nº9.504/1997, art. 11,
caput).

55
16 de agosto
Data a partir da qual é permitida a propaganda eleitoral física ou por meio virtual (Lei
nº9.504/1997, art. 36, caput).

45 dias antes das eleições:


Último dia, observado o prazo de 5 (cinco) dias contados da publicação do edital de
candidaturas requeridas, para qualquer cidadão no gozo de seus direitos políticos dar ao
juízo eleitoral notícia de inelegibilidade que recaia em candidato com pedido de registro
apresentado por partido político ou coligação.

37 dias antes das eleições:


Início do período da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão (Lei
nº9.504/1997, art. 47, caput).

15 dias antes das eleições:


Data a partir da qual nenhum candidato poderá ser detido ou preso, salvo em flagrante
delito (Código Eleitoral, art. 236, § 1º).

5 dias antes das eleições:


Data a partir da qual nenhum eleitor poderá ser preso ou detido, salvo em flagrante delito,
ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou por desrespeito
a salvo-conduto (Código Eleitoral, art. 236, caput).

3 dias antes das eleições:


I. Último dia para a divulgação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão (Lei
nº9.504/1997, art. 47, caput).

II. Último dia para propaganda política mediante reuniões públicas ou promoção de
comícios e utilização de aparelhagem de sonorização fixa, entre as 8 e as 24 horas, com
exceção do comício de encerramento da campanha, que poderá ser prorrogado por mais 2
(duas) horas (Código Eleitoral, art. 240, parágrafo único, e Lei nº9.504/1997, art. 39, §§
4º e 5º, inciso I).

III. Último dia para a realização de debate no rádio e na televisão, admitida a extensão do
debate cuja transmissão se inicie nesta data e se estenda até as 7 horas do dia 5 de outubro
de 2018.

Outubro
I. Primeiro turno das eleições: no primeiro domingo de outubro, do ano respectivo.

II. Segundo turno das eleições (quando for o caso): no último domingo de outubro, do ano
respectivo.

56
Unidade 4. Propaganda eleitoral: o que é permitido ou vedado

A propaganda eleitoral é o meio utilizado para divulgação do nome e propostas do


candidato. É um aspecto cada vez mais valorizado em campanhas eleitorais, contudo é
também motivo de preocupação para quem administra as eleições, pois a propaganda pode
fazer a resultado pender em favor de um dos concorrentes, não somente pelas propostas
apresentadas ou carisma inerente a ele, mas também por técnicas e recursos utilizados na
divulgação de seu nome.

Pensando no equilíbrio das eleições e em impedir que o poderio econômico seja


determinante para eleger um candidato, os legisladores criaram regras para manter a
isonomia da competição. Nos próximos parágrafos, iremos trabalhar alguma dessas regras.

Era comum o uso de adesivos de todo o tipo em veículos e fachadas, alguns substituindo
as pinturas de muro. A Lei das Eleições, pela alteração de 2017, veio a equilibrar este uso
e somente admite adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e
janelas residenciais até 0,5 m².

A propaganda em carros de som e minitrios também passou por ajustes, somente sendo
admitida em carreatas, caminhadas e passeatas ou durante reuniões e comícios, até o
limite de 80 decibéis.

Fica a pergunta: 80 decibéis é suficiente para uma razoável campanha?

Trata-se de uma sonorização considerável. Vejam que, no carnaval de Salvador, os limites


admitidos são os seguintes:
• para trios: máximo de 110 decibéis;
• para os camarotes: máximo de 100 decibéis;
• para os trios infantis: máximo de 80 decibéis.

E, para efeitos da lei eleitoral, o que seria considerado carro de som, ministrio e
trio elétrico?

• carro de som: qualquer veículo, motorizado ou não, inclusive movido a tração


animal, com amplificação até 10.000W (watts);
• minitrio: veículo automotor, com amplificação entre 10.000W e 20.000W;
• trio elétrico: veículo automotor, com amplificação maior que 20.000W.

A Lei das Eleições (nº 9.504/1997) tem um capítulo inteiro dedicado à propaganda na
internet. Entre suas principais previsões estão as formas como podem ser realizadas:

I - em sítio do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça


Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de
internet estabelecido no País;

57
II - em sítio do partido ou da coligação, com endereço eletrônico comunicado à
Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço
de internet estabelecido no País;
III - por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados
gratuitamente pelo candidato, partido ou coligação;
IV - por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e
aplicações de internet assemelhadas cujo conteúdo seja gerado ou editado por:
a) candidatos, partidos ou coligações; ou
b) qualquer pessoa natural, desde que não contrate impulsionamento de
conteúdos.

Além dessas previsões, a Lei das Eleições veda a veiculação de qualquer tipo de propaganda
eleitoral paga na internet, com exceção do impulsionamento de conteúdos, desde que
identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos,
coligações e candidatos e seus representantes. Vejam, portanto, que o impulsionamento
pela internet é permitido, desde que contratado exclusivamente por partidos, coligações e
candidatos e seus representantes.
Seguindo em frente, a Lei veda, também, a veiculação de propaganda eleitoral em portais
(ainda que gratuitamente):

I - de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos;


II - oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública
direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Aplica-se à internet, obviamente, as disposições de que o anonimato na manifestação de


pensamento está proibido, bem como a prerrogativa de Direito de Resposta, quando for o
caso, e a aplicação de multa, em situação de descumprimento de alguma regra.

Outras questões:

Comunicação à polícia sobre evento eleitoral

A realização de qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, em recinto aberto ou


fechado, não depende de licença da polícia (Lei nº 9.504/1997, art. 39, caput). Todavia,
o candidato, o partido político ou a coligação que promover o ato fará a devida comunicação
à autoridade policial com, no mínimo, 24 (vinte e quatro) horas de antecedência, a fim de
que lhe seja garantido, segundo a prioridade do aviso, o direito contra quem pretenda usar
o local no mesmo dia e horário (Lei nº 9.504/1997, art. 39, § 1º). A autoridade policial
deverá tomar as providências necessárias à garantia da realização do ato e ao
funcionamento do tráfego e dos serviços públicos que o evento possa afetar (Lei nº
9.504/1997, art. 39, § 2º).

Distribuição de camisetas, broches, canetas

Durante a campanha eleitoral são vedadas a confecção, utilização, distribuição por comitê,
candidato, ou com a sua autorização, de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes,
58
cestas básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem
ao candidato. O infrator responderá, conforme o caso, pela prática de captação ilícita de
sufrágio, emprego de processo de propaganda vedada e, se for o caso, pelo abuso de poder
(Lei nº 9.504/1997, art. 39, §6º; Código Eleitoral, arts. 222 e 237; e Lei Complementar nº
64/1990, art. 22). Mas isso não implica que o uso desses acessórios seja proibido. A
qualquer tempo, o eleitor pode produzir ou adquirir e usar bandeiras, broches, dísticos,
adesivos, camisetas e outros adornos semelhantes, como forma de manifestação de suas
preferências por partido político, coligação ou candidato.

Requisitos formais da propaganda

A propaganda, qualquer que seja sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda
partidária e só poderá ser feita em português, não devendo empregar meios publicitários
destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou
passionais. (Código Eleitoral, art. 242, e Lei nº 10.436/2002, arts. 1º e 2º). A vedação aos
meios citados não pode ser interpretada de forma a inviabilizar a publicidade das
candidaturas ou embaraçar a crítica de natureza política, devendo-se proteger, no maior
grau possível, a liberdade de pensamento e expressão. (§1º, da Res. TSE nº 23.61). Além
disso, na propaganda dos candidatos a cargo majoritário deverão constar os nomes dos
candidatos a vice ou a suplentes de senador, de modo claro e legível, em tamanho não
inferior a 30% (trinta por cento) do nome do titular (Lei nº 9.504/1997, art. 36, §4º).

Da proibição de showmício e assemelhados

É proibida a realização de showmício e de evento assemelhado para promoção de


candidatos, e a apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade de animar
comício e reunião eleitoral. O infrator responderá pelo emprego de processo de propaganda
vedada e, se for o caso, pelo abuso de poder (Lei nº 9.504/1997, art. 39, § 7º; Código
Eleitoral, arts. 222 e 237; e Lei Complementar nº 64/1990, art. 22). Todavia, essa
proibição não se estende aos candidatos que sejam profissionais da classe artística:
cantores, atores e apresentadores, que podem exercer as atividades normais de sua
profissão durante o período eleitoral, exceto em programas de rádio e de televisão, na
animação de comício ou para divulgação, ainda que de forma dissimulada, de sua
candidatura ou de campanha eleitoral.

Da pré-campanha

Um período que merece atenção e é sempre motivo de dúvida é daquele anterior ao da


escolha do candidato nas convenções partidárias. Pode-se considerar período de pré-
campanha aquele iniciado em 1º de janeiro do ano da respectiva eleição. Porém, não é
uma definição pacífica. Há decisões judiciais que se utilizam deste marco temporal, mas
também já julgados que admitem a ocorrência de campanha antecipada antes do ano
eleitoral. Em regra, a propaganda em pré-campanha deve-se restringir à dimensão
intrapartidária. Fora do partido, a Lei (art. 36-A da Lei 9.504/97) autoriza ações dos pré-
candidatos, como a menção à candidatura, exaltação das próprias qualidades pessoais,
concessão de entrevistas, participação em programas, encontros ou debates, inclusive
podendo expor suas plataformas e projetos políticos, desde que não haja pedido de votos,
assim como se admite a realização de encontros, seminários e congressos em ambiente
fechado e às custas do partido político.

59
Unidade 5. Gastos em campanha: arrecadação, limites, transparência

5.1 Financiamento público ou privado

Em 2015, o Supremo Tribunal Federal foi provocado a opinar sobre a questão do


financiamento empresarial de campanha, em sede da Ação Direta de Inconstitucionalidade
nº 4.650/2015. Em julgamento foi analisada a constitucionalidade de uma empresa poder
atuar de forma incisiva nas eleições, por meio de doação de quantias exorbitantes, como
ocorria até então, em diversos pleitos.

O STF publicou acórdão no sentido de que esse modelo não seria constitucional, pois se
revelava incompatível com a ordem jurídica, por comprometer a pluralidade e isonomia
políticas. Desse modo, atualmente, admite-se o financiamento público de campanha e o
financiamento por particular, na qualidade de pessoa física. Não se admite o aporte de
recursos provenientes de pessoas jurídicas.

Importante ressaltar, ainda, que há limites para os aportes de pessoas físicas, ou mesmo
para o autofinanciamento (recursos do próprio candidato), bem como teto de gastos para
cada campanha conforme o cargo em disputa.

Pela Lei das Eleições (artigo 23), o limite para o autofinanciamento é de 10% de tudo que
o candidato pode gastar na campanha. Enquanto as doações por pessoas físicas se limitam
a 10% da renda bruta anual aferida no ano anterior às eleições.

Para ilustrar:

1) se o candidato Beta concorre a cargo para o qual o teto de gastos divulgado


pelo Tribunal Superior Eleitoral é de 100 mil reais, ele estará limitado a utilizar
10 mil reais de seu próprio bolso.

2) Se Gama, apoiador do candidato Beta, aferiu renda bruta de 50 mil reais no


ano anterior às eleições, estará limitado à doação de 5 mil reais à campanha de
Beta.

A arrecadação poderá se iniciar após o pedido de registro de candidatura e recebimento do


número do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) relativo à campanha.

5.2 Fundo eleitoral ou partidário

A partir da decisão do STF, justificou-se a criação do Fundo Especial de Financiamento de


Campanha (FEFC), apelidado de Fundo Eleitoral. Dois fundos político-eleitorais passaram,
assim, a coexistir, um com dotação orçamentária anual: Fundo Especial de Assistência

60
Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário), outro com aporte em ano eleitoral, que
é justamente o primeiro mencionado: o Fundo Especial de Financiamento de Campanha.

Cabe aos próprios partidos a definição das regras para a administração dos recursos e
repasses a cada candidato a cargo político. Os diretórios nacionais tiveram um prazo para
aprovar essas regras e informá-las à Justiça Eleitoral. O STF determinou, contudo, que o
dinheiro seja dividido proporcionalmente entre os candidatos brancos e negros, bem como
figura a norma geral de que, no mínimo, 30% dos recursos sejam destinados a candidatos
de gêneros distintos.

5.3 Crowdfunding: a vaquinha on-line

Entre as formas possíveis de doação de campanha previstas no artigo 23 da Lei das


Eleições, está o financiamento coletivo por meio de sítios na internet, aplicativos eletrônicos
e outros recursos similares (§4º, IV, incluído pela Lei nº 13.488, de 2017). Essa modalidade
é conhecida internacionalmente como mecanismo de crowdfunding (crowd = grupo,
multidão/ funding = financiamento), palavra em inglês, composta, que pode ser traduzida
como “financiamento colaborativo”. O crowdfunding também é conhecido como “vaquinha
online”.

A arrecadação, por esta via, pode se iniciar antes do registro do candidato, ainda em 15
de maio, mas a lei prevê que, se a candidatura não se confirmar, os valores arrecadados
deverão ser restituídos aos doadores.

Unidade 6. Vamos realizar o cálculo eleitoral?

Como já mencionado neste curso, o Brasil se utiliza de dois sistemas eleitorais: o


majoritário e o proporcional, que correspondem, conforme Volpe Camargo (ÁVALO,
ANDRADE NETO, CAMARGO, LUCON, 2014, p. 123), a “critérios para a escolha dos
candidatos eleitos em um pleito eleitoral”. O modo de escolha majoritário, que define o
presidente, governadores, senadores e prefeitos, é próximo de intuitivo, uma vez que os
mais votados são declarados eleitos.

Para este tópico, interessa-nos aprofundar o cálculo eleitoral das eleições proporcionais,
que passou por ajustes nos últimos anos, até chegar ao modelo atual, embora pretendamos
tratar de forma rápida do cálculo em eleição majoritária. A alteração na fórmula do cálculo
eleitoral é sempre assunto complexo, pois, além de impactar a composição das casas
legislativas, pode levar a certa insegurança sobre as projeções e estratégias a serem
encaminhadas por cada partido político e candidato. Essa instabilidade, a depender da
situação, pode ser favorável à democracia, desde que gere maior pluralidade e isonomia à
disputa, mas pode, ao contrário, gerar efeitos de limitação desses dois princípios. Em geral,
o tempo e a prática demonstram consequências surpreendentes de alterações que se
julgavam, à primeira impressão, sutis.

A última alteração no cálculo eleitoral, se deu no mecanismo de aproveitamento das


“sobras” eleitorais. As sobras, vale dizer, consistem na verificação da média de todos os
votos obtidos por um partido, sem desprezar aquele montante que não foi suficiente para
formar o quociente partidário (daí, o porquê de “sobras”), com o objetivo de preencher
61
assentos não ocupados pelo cálculo de quociente eleitoral e partidário. Veremos, nas
próximas linhas, em que consistiu a mais recente alteração e cada um dos conceitos
mencionados neste parágrafo.

Como se realiza o cálculo eleitoral no Brasil?

Para ilustrar os mecanismos inerentes aos cálculos eleitorais, vamos imaginar um


município, de nome Machado de Assis, em que há 9.000 eleitores. No município Machado
de Assis, a disputa para prefeito e vice-prefeito, será definida a favor da chapa (composta
pelo candidato a prefeito e a vice) que obtiver o maior número de votos. Desta feita,
suponhamos que quatro partidos tenham se apresentado à corrida para a Prefeitura, tendo
obtido a seguinte votação:

Votos válidos:
Partido I: 4.600 votos;
Partido II: 2.000 votos;
Partido III: 1.400 votos;
Partido IV: 1.000 votos.

Podemos identificar, de imediato, que serão considerados eleitos os candidatos a prefeito


e vice-prefeito do Partido I (o mais votado).

Quando se trata de eleição proporcional, a metodologia de contabilidade dos votos tende


a apresentar alguns elementos mais complexos.

6.1 Quociente eleitoral e partidário

Vamos manter o exemplo hipotético do pequeno município Machado de Assis, que dispõe
de 9 assentos de vereadores na Câmara Municipal e o total de 9 mil votos válidos,
distribuídos entre os quatro partidos aptos às eleições.

Quociente Eleitoral
Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965):
Art. 106. Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos
apurados pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração
se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.

Município Machado de Assis


Cálculo Eleitoral

62
• Votos válidos: 9.000
• Assentos: 9

1º Passo: calcular o quociente eleitoral (QE) _ considera-se um único número a todos


os partidos.

• QE = nº de votos válidos / nº de assentos


• QE = 1.000

2º Passo: calcular o quociente partidário e o número de assentos base a cada sigla (QP) _
calcula-se um número específico a cada partido. Estes números são alcançados pela soma
dos votos obtidos pelos candidatos pertencentes ao mesmo partido, bem como pelos votos
diretos neste mesmo partido.

É o seguinte: o eleitor pode votar, como já mencionamos, em um candidato, que


necessariamente estará filiado a um partido (condição de elegibilidade), ou pode votar na
sigla (partido), o que é conhecido como voto em legenda.

Assim, se João, Roberto e Carlos, por exemplo, integram o partido I, a soma dos votos
obtidos por cada um deles irá consolidar, juntamente aos votos diretamente no partido
(voto em legenda), o total de votos daquele partido.

Partido I: 3.550 votos


Partido II: 2.850 votos
Partido III: 1.850 votos
Partido IV: 750 votos

Quociente Partidário
Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965):
Art. 107. Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo
quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a
fração.
https://www.youtube.com/watch?v=a9hc6LWKU7w&t=49s

QP = nº votos partido / QE
• QP(I)=3; QP(II)=2; QP(III)=1; QP(IV)=0

Desse modo, tem-se a seguinte distribuição-base:


Partido I: 3 assentos
Partido II: 2 assentos
Partido III: 1 assento
63
Partido IV: 0 assento

Total: 6 assentos
Há, neste ponto, uma cláusula de desempenho que exige do candidato, para ocupar o
cargo, pelo cálculo de quociente eleitoral e partidário, a votação mínima de 10% do
quociente eleitoral.

Cláusula de Desempenho individual


Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965):
Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham
obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral,
tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal
que cada um tenha recebido.

Importante saber...

Essa cláusula visa a impedir o famoso efeito Tiririca, que consiste no fenômeno do
puxador de votos. Aquele candidato que recebe uma votação absurda, muitas vezes em
razão de sua ampla exposição midiática, e acaba contribuindo para a eleição de colegas de
legenda que não conseguiram um número de votos expressivo. O caso do Tiririca virou
paradigma porque o deputado foi eleito com 1,3 milhão de votos, pelo Partido Republicano
(PR), e contribuiu, assim, para a eleição de outros três deputados que, todavia,
apresentaram votação baixa.

Reforçando o conhecimento
Vídeo da Justiça Eleitoral: “Como são eleitos os vereadores? Entenda o cálculo do quociente
eleitora!”.
https://www.youtube.com/watch?v=pFuosd3opL4

6.2 Sobras de votos e maiores médias

3º Passo: calcular as maiores médias _ para a distribuição dos assentos remanescentes.


Ficaram faltando 3 assentos a serem distribuídos, o que será realizado por meio do cálculo
de maiores médias. Neste ponto, houve uma relevante inovação legislativa aprovada em
2021. Vejamos!

Todos os partidos que participam do pleito poderiam, a princípio, concorrer à distribuição


dos lugares não preenchidos pela aplicação do quociente partidário. Todavia, a Lei nº
14.211/2021 modificou essa previsão, de tal forma que passaram a poder concorrer aos

64
assentos por maiores médias, aqueles partidos que alcançam, pelo menos, 80% dos votos
do quociente eleitoral. E os candidatos precisam alcançar, pelo menos, 20% dos votos do
mesmo quociente,

A previsão literal é de que:


Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos que participaram do pleito,
desde que tenham obtido pelo menos 80% (oitenta por cento) do quociente
eleitoral, e os candidatos que tenham obtido votos em número igual ou superior
a 20% (vinte por cento) desse quociente (Art. 109, III, §2º, Código Eleitoral).

Em nosso exemplo, o Partido IV não alcançou o mínimo de 80% do quociente eleitoral, o


que corresponderia a 800 votos (= 80% de 1.000). Dessa forma, não participa do cálculo
de maiores medidas, e não terá direito a assento na Câmara Municipal de “Machado de
Assis”.

Maiores médias = nº de votos do partido/ (QP + 1)

Partido I 3.550/4=887,5 887,5 887,5 (1)

Partido II 2850/3=950 2850/4= 712,5


(1) 712,5

Partido III 1.850/2=925 925 (1) 1.850/3=616,66

Partido IV 750/1=750 750 750

As três vagas remanescentes serão distribuídas entre os partidos I, II e III, com a ressalva
de que os candidatos a serem considerados eleitos precisarão alcançar votação mínima,
nesta fase, correspondente a 20% do quociente eleitoral.

Resultado:
Partido I: 4 assentos
Partido II: 3 assentos
Partido III: 1 assento
Partido IV: 0 assento
Total: 9 assentos
6.3 Coligações

De forma sintética, Jairo Gomes (2016, p. 112) define que “coligação é o consórcio de
partidos políticos formado com o propósito de atuação conjunta e cooperativa na disputa
eleitoral”. Por esta definição, pode-se extrair os seguintes elementos essenciais à
configuração da coligação partidária: 1) transitoriedade, uma vez que o consórcio de
partidos opera na fase eleitoral, mas não se estabelece no momento posterior às Eleições,
quando se dá a governabilidade; 2) a comunicação dos votos obtidos por cada legenda a
todo o consórcio, em outras palavras, os votos obtidos pelo partido que compõe uma

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coligação são considerados, para efeito de cálculo eleitoral, como se toda a coligação
formasse um único partido.

Para Melo e Soares (2016), “no caso brasileiro, o sistema de representação proporcional
torna-se mais problemático face à possibilidade de coligações eleitorais, pois o emaranhado
de partidos, muitas vezes distantes nos seus espectros ideológicos, dificulta a relação que
o eleitor estabelece com o representante”. Essa possibilidade de associação de partidos em
campos ideológicos antagônicos é uma crítica recorrente à autorização das coligações na
disputa proporcional. A união eventual de partidos tradicionalmente rivais, visando à
eleição de membros do Legislativo (vereadores ou deputados), que, em tese, teriam sua
atuação pautada pelos compromissos assumidos durante a campanha, não admitiria uma
coligação por siglas atuantes em campos ideológicos opostos.

Para ilustrar, seria difícil imaginar que um eleito por partido conservador viesse a abraçar
causas progressistas e vice-versa. Todavia, o histórico de coligações em eleições
proporcionais tem inúmeros casos de eleitores que, ao votar em seus candidatos,
contribuíram para a eleição de político em campo ideológico antagônico. Essa ocorrência
pode ser considerada uma associação programática incoerente, e evitá-la seria um objetivo
do fim das coligações.

Desse modo, com este propósito, a partir de 2020, ficaram proibidas as coligações para
eleições proporcionais, isto é, para cargos de vereadores; deputados estaduais, distritais e
federais. Mas, continuam sendo admitidas as coligações partidárias para os cargos de
prefeitos; governadores; senadores e presidente. Caminhou-se, assim, no sentido da
promoção de uma maior coerência programática.

Unidade 7. Ações perante a Justiça Eleitoral

A Justiça Eleitoral diferencia-se dos demais ramos do Poder Judiciário em razão de dispor
de uma preponderante função administrativa, que é a de organizar as eleições, plebiscitos
e referendos. Além disso, a Justiça Eleitoral desempenha funções normativa e consultiva,
de tal forma que é possível o pronunciamento dessa Justiça, sem a natureza de decisão
judicial, sobre questões que lhe são apresentadas de forma abstrata e impessoal (em tese),
isto é, sem que haja um caso concreto para ser resolvido. Essa é uma característica
particular, pois, em regra, o Poder Judiciário não abriga a possibilidade de consulta.

Também é extremamente relevante a função jurisdicional desempenhada pela Justiça


Eleitoral, uma vez que se destina a solucionar os conflitos que surgem em decorrência do
próprio processo eleitoral, em todas as suas fases. São várias as ações ajuizadas perante
o Poder Judiciário Eleitoral. O quadro a seguir visa a apresentar um resumo para que o
estudante disponha de uma visão ampla da Justiça Eleitoral e de sua fundamental
importância para a democracia brasileira.

66
Ações perante a Justiça Eleitoral

Fundamento
Objeto Prazo Legitimidade Competência Peculiaridade
Legal
Ação de Arts. 3º e 17 Indeferir pedido Cinco dias, Qualquer TSE, quando A rejeição das contas é
Impugnação ao da LC de registro de contados da candidato; candidato a causa de
pedido de registro 64/1990. candidato pela publicação do partido político; presidente ou vice; inelegibilidade, que
de candidatura ausência de edital. coligação; TRE quando enseja a ação de
condições de Ministério Público candidato a senador, impugnação. Porém, se
elegibilidade ou Eleitoral governador e vice, a rejeição das contas
pela incidência deputado federal, estiver sendo
de causa de estadual e distrital; contestada
inelegibilidade. Juiz Eleitoral, judicialmente,
quando candidato a não cabe ação de
prefeito, vice e impugnação.
vereador. O TSE exige que haja,
ao menos, sentença de
1º grau em favor do
interessado, ou
ao menos decisão
cautelar.

Investigação Art. 22 da LC Preservar o Até a data da Qualquer TSE, quando Julgada procedente,
judicial eleitoral por 64/1990. equilíbrio entre os diplomação. candidato; partido candidato a ainda que após a
abuso de poder candidatos a cargo político; coligação; presidente ou vice; proclamação dos
econômico eletivo contra Ministério Público TRE quando eleitos, haverá sanção
e/ou político candidato a senador, de ineligibilidade por
eventual violação Eleitoral
governador e vice, oito anos, além da
por abuso do poder deputado federal, cassação do registro ou
econômico ou estadual e distrital; diploma do candiato.
político. Juiz Eleitoral,
quando candidato a
prefeito, vice e
vereador.

67
Fundamento
Objeto Prazo Legitimidade Competência Peculiaridade
Legal
Reclamações e Art. 96 da Lei Apurar eventual Não tem. Qualquer TSE, nas eleições Quando violado o art.
representações por das Eleições infringência à Lei candidato; presidenciais; TRE, 41-A da Lei das Eleições
descumprimento da nº 9.504, partido político nas eleições para (captação ilícita de
lei das eleições de 1997 (desde que não deputados, sufrágio), não cabe a
integre senadores e representação do art.
coligação); governadores; juízes 96. Segue-se o rito do
coligação; eleitorais, nas art. 22 da LC
Ministério Público eleições municipais
Eleitoral.

Ação de Art. 14, §§ Apurar prática de 15 dias, a contar Qualquer TSE, nas eleições Produz efeitos
Impugnação de 10 e 11. abuso de da diplomação. candidato; presidencias; TRE, imediatos, que é a
Mandato Eletivo poder partido político; nas eleições para perda do mandato, mas
econômico, coligação; deputados, não acarreta renovação
corrupção ou Ministério Público senadores e do pleito, mas
fraude. Eleitoral. governadores; juízes diplomação do segundo
Desconstituir o eleitorais, nas colocado. Renovação do
mandato, mas eleições municipais. pleito quando a
não anula os nulidade ultrapassar
votos. 50% dos votos válidos.
Além disso, a
improcedência da ação
de impugnação não
impede a condenação
criminal quando a
conduta também
configurar crime.

68
Fundamento
Objeto Prazo Legitimidade Competência Peculiaridade
Legal
Ação rescisória Alínea j do No Direito 120 dias a contar O candidato; o TSE, para rescindir Aplica-se,
eleitoral inciso I do art. Eleitoral, a ação do trânsito em partido político; a suas próprias subsidiariamente, o
22 do Código rescisória julgado da coligação; o decisões. Código de Processo
Eleitoral. circunscreve-se decisão Ministério Público Civil. No entanto, não
às questões de declaratória de Eleitoral, desde cabe antecipação de
inelegibilidade. inelegibilidade. que tenham sido tutela, salvo em
sucumbentes na situação teratológicas.
ação que se Quanto às regras
pretende recursais, vale a
rescindir legislação eleitoral.
Ação de perda de Resolução nº Verificar se a Não tem prazo. O partido político O Tribunal Superior Essa ação está
cargo eletivo em 22.610, do desfiliação Mas se o partido prejudicado, nos Eleitoral é regulada na Resolução
razão de TSE. partidária de não ajuizar o primeiros 30 competente para nº 22.610 que, por sua
infidelidade ocupante de pedido em até 30 dias. A partir de processar e julgar vez, ampara- se nas
partidária cargo eletivo dias, dá então, qualquer pedido relativo a decisões do STF nos
teve causa justa oportunidade a interessado e o mandato federal; MS nº 26.602, 26.603
ou não e, nesse qualquer Ministério Público nos demais casos, é e
último caso, interessado e ao Eleitoral. competente o 26.604, que concluíram
“devolver o Ministério Público tribunal eleitoral do que o “mandato
mandato ao Eleitoral de fazê- respectivo estado. pertence ao partido” e
partido”. lo. que cabe à justiça
eleitoral avaliar se a
desfiliação partidária foi
justificada ou não.

Fonte: Kimura, Alexandre Issa. Manual de Direito Eleitoral.

69
Conclusão do módulo

Neste módulo de conclusão do curso, procuramos discutir temas atuais e algumas


polêmicas, envolvendo os processos político-eleitorais. Procuramos dar um
tratamento fundado em experiência e prática, de forma a habilitar o estudante a
compreender a dinâmica eleitoral e, quem sabe, atuar neste meio.

O estudo das leis se mostra fundamental, nessa fase de compreensão da matéria,


por isso fundamos as aulas em disposições de resoluções dos tribunais eleitorais, nos
mais importantes diplomas obre a temática, a saber: Lei das Eleições, Lei dos Partidos
Políticos, Código Eleitoral e alterações posteriores à sua publicação, e a Constituição,
em suas disposições sobre o Direito Eleitoral.
Esperamos que tenha aproveitado o curso e mantemo-nos à disposição para sanar
dúvidas, inclusive dos exercícios relacionados.

Material complementar do módulo III:


1- Vídeo da TV Senado: “Campanha contra fake news é lançada no Senado”.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nJ4LjtXeIH4&t=31s>.
Acesso em 18 ago 2021.
2- Incentivos à candidatura de mulheres e negros:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2021/09/congresso-
promulga-emenda-com-incentivos-para-candidaturas-de-negros-e-
mulheres>.
3- Calendário Eleitoral 2022. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-
br/acesso-a-
informacao/manuais/copy2_of_Calendario_Eleitoral_Secom_v5.pdf

70
GLOSSÁRIO DO CURSO DE DIREITO ELEITORAL

Cláusula de desempenho: é um dispositivo legal que restringe ou impede a


atuação parlamentar de um partido que não alcança um determinado percentual de
votos. Exige do candidato, para ocupar o cargo, pelo cálculo de quociente eleitoral e
partidário, a votação mínima de 10% do quociente eleitoral.

Coronelismo: o coronelismo se apresenta como um sistema político, uma complexa


rede de relações que permeia todos os níveis de atuação política, e não apenas como
mandonismo local (José Murilo de Carvalho. Dicionário FGV) O coronelismo, como
sistema surgido na Primeira República, implica para Vítor Nunes a decadência do
poder do coronel, o enfraquecimento do mandonismo. Desta decadência é que surge
a necessidade do compromisso com o governo estadual, elo inicial da rede que
envolveria o sistema como um todo.
O sistema funcionava como uma rede de coalizões necessárias, mas flutuantes e
instáveis que percorriam de alto a baixo a pirâmide do poder. José Murilo de Carvalho

Estruturas secundárias: mandonismo, filhotismo, falseamento do voto,


desorganização dos serviços públicos locais.

Podemos dizer que o coronelismo é concebido “como resultado da superposição de


formas desenvolvidas no regime representativo a uma estrutura econômica e social
inadequada”. Não é mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constituiu
fenômeno típico da história colonial. É uma adaptação em virtude da qual os resíduos
do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime
político de extensa base representativa. É sobretudo um compromisso, uma troca
de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente
influência social dos chefes locais: os senhores de terra. Estrutura agrária fornece as
bases de sustentação das manifestações de poder privado.

Paradoxalmente, os remanescentes de privatismo são alimentados pelo Poder


Público, o que se explica em função do regime representativo, com sufrágio amplo,
pois a situação do eleitorado rural ainda é de dependência incontestável.

Crowdfunding: Entre as formas possíveis de doação de campanha previstas no


artigo 23 da Lei das Eleições, está o financiamento coletivo por meio de sítios na
internet, aplicativos eletrônicos e outros recursos similares (§4º, IV, incluído pela Lei
nº 13.488, de 2017). Esta modalidade é conhecida internacionalmente como
mecanismo de crowdfunding (crowd = grupo, multidão/ funding = financiamento),
palavra em inglês, composta, que pode ser traduzida como “financiamento
colaborativo”. O crowdfunding também é conhecido como “vaquinha online”.

Direito Eleitoral: é um ramo do Direito Público que regulamenta a maneira como


os cidadãos devem se organizar para disputar as eleições. De modo específico, o
Direito Eleitoral regulamenta as formas legais de aquisição legítima do poder político-
administrativo.

Legendas de Aluguel: diz-se que são “de aluguel” as legendas dos partidos
desprovidos de representação no Congresso ou com escassíssimo número de filiados

71
e/ou parlamentares, e disponíveis para abrigar candidaturas de políticos –
geralmente endinheirados – dispostos a pagar um preço pela sua inscrição e
apresentação da candidatura a um posto eletivo – geralmente federal e, menos
frequentemente, estadual”. LEGENDAS de aluguel. In: FARHAT, Saïd. Dicionário
parlamentar e político: o processo político e legislativo no Brasil. São Paulo:
Melhoramentos; Fundação Petrópolis, 1996. p. 556.

Lobby: consiste na “ação política em favor de grupos ou corporações específicas,


ou seja, estão em pauta interesses privados, geralmente de ordem financeira, os
quais tendem mesmo a causar a indignação de vastos segmentos sociais”
(RODRIGUES; 2008)

Plebiscito: é realizado antes da elaboração do ato legislativo ou administrativo. Ao


povo cabe, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe seja submetido. Havendo
aprovação, o ato é formulado.

Quociente Eleitoral: conforme Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965, art. 106):


Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados
pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se
igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.

Quociente Partidário: conforme Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965, art. 107):


Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo quociente
eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a fração.

Referendo: é realizado após a elaboração do ato legislativo ou administrativo. Nessa


situação, ao povo cabe, pelo voto, ratificar ou rejeitar o ato submetido a sua
avaliação.

Sistema distrital: sistema em que cada membro do parlamento é eleito, de forma


individual e nos limites geográficos de um distrito, pela maioria dos votos (simples
ou absoluta).

Sistema distrital misto: sistema em que parte dos deputados é eleita pelo voto
proporcional e parte pelo voto majoritário.

Sistema eleitoral: Noberto Bobbio define um sistema eleitoral como os


“procedimentos institucionalizados para atribuição de encargos por parte dos
membros de uma organização ou de alguns deles.” Ou seja, sistema eleitoral é a
forma como são estipuladas as regras de uma eleição para a definição do corpo
político legítimo.

72
Sistema majoritário: é aquele em que vence a eleição o candidato que obtiver a
maioria dos votos, seja por maioria absoluta: mais da metade dos votos válidos; seja
por maioria simples.

Sistema proporcional: é bastante diferente. Nele, os votos são contabilizados por


partidos políticos. Para que o candidato seja eleito, há que se identificar, antes, o partido
político ao qual faz parte. A votação individual não é decisiva, mas sim o número de votos
obtidos por cada sigla partidária. Há inúmeras fórmulas e meio de se estabelecer a
proporcionalidade de uma eleição.

Sufrágio universal: significa que não se admitem restrições ou exclusões ao direito de


voto derivadas de razões de nascimento, raça, cor, sexo, ideologia ou condições
econômicas, como a proibição ao voto das mulheres.

Voto censitário: ocorre uma restrição no direito de votar. Somente uma camada da
população tem direito ao voto, de acordo com critérios de renda, propriedades,
religião, nacionalidade ou outros aspectos.

Voto em legenda: o eleitor pode votar em um candidato, que necessariamente


estará filiado a um partido (condição de elegibilidade), ou pode votar na sigla
(partido), o que é conhecido como voto em legenda.

Voto em lista aberta: os eleitores votam nos candidatos, e os candidatos são


ordenados para ocupar uma cadeira no Legislativo de acordo com a classificação obtida
por seu desempenho individual nas urnas. Ocupará o assento o candidato mais votado
daquele partido.

Voto em lista fechada: o eleitor vota no partido político, mas a ordenação (primeiro,
segundo, terceiro...) de quem irá ocupar as cadeiras destinadas a um determinado partido
é definida antecipadamente, antes das eleições, portanto falamos de uma lista fechada
para este caso. Não há a contabilização de votos por candidato, portanto será considerado
eleito aquele que o partido indicou como o primeiro de sua lista no momento anterior ao
eleitoral.

73
LEGISLAÇÃO E PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS CITADOS

1. Constituição da República:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
2. Código Eleitoral:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm>.
3. Lei dos Partidos Políticos:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm>.
4. Lei das Eleições:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm>.
5. Resoluções TSE – diversas:
<https://www.tse.jus.br/legislacao/compilada/res>.
6. ADIN 4650:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10329542
>.
7. ADIN 5617:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748354101
>.

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Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
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1970. Texto editado em conformidade com a Resolução n.º 18, de 1989, consolidado
com as alterações decorrentes de emendas à Constituição, leis e resoluções

74
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