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COMISSÃO DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL.

PARECER AO PROJETO DE LEI ORDINÁRIA Nº 33/2022.

Matéria: Projeto de Lei Ordinária Nº 33/2022

APRESENTAÇÃO: 07/06/2022

EMENTA: Institui o “Banco de Alimentos” no âmbito do Município de São Sepé, e dá outras


providências.

I - RELATÓRIO: A matéria em análise tramita nesta Casa Legislativa, por iniciativa do Poder
Executivo Municipal, com o objetivo de Instituir o “Banco de Alimentos” no âmbito do
Município de São Sepé, e dá outras providências. Assim, o projeto encontra-se nesta comissão,
em atendimento às normas regimentais que disciplinam sua tramitação, estando, portanto,
sob a responsabilidade desta Relatoria, para que seja exarado o parecer sobre sua legalidade e
constitucionalidade.

II- FUNDAMENTAÇÃO: Em análise ao projeto de lei ordinária em epígrafe e considerando o


parecer jurídico da assessoria desta casa (doc.anexo). O projeto de Lei atende as exigências de
técnica legislativa. A análise da presente matéria inicia sob a perspectiva da doação de
alimentos, destaca-se que o tema tratado no Projeto de Lei, em exame, é da alçada federal,
descolando[1]se do âmbito local, no que importa aos critérios dos alimentos. Sobre a matéria,
no dia 24 de junho de 2020 foi publicada no Diário Oficial da União a Lei 14.016 que dispõe
sobre o combate ao desperdício e a doação de excedentes de alimentos para o consumo
humano. A referida Lei permite que estabelecimentos relacionados à fabricação de produtos
alimentícios, desde produtos industrializados até refeições prontas para o consumo e
alimentos in natura, possam doar seus excedentes, desde que atendam os critérios legalmente
especificados, assim, o PL merece ampliação de seu debate, observando os critérios
estabelecidos na legislação sobre o tema. Ultrapassada essa análise inicial, cumpre referir é de
competência comum dos entes federativos proporcionar os meios de acesso à educação e à
cultura, e combater as causas e fatores de marginalização, promovendo a integração social dos
setores desfavorecidos (art. 23, V e X, Constituição da República). Quanto à instituição do
Banco, passa-se à análise: Observa-se que o banco de alimentos é apresentado, no art. 1º, de
pronto criando atribuição ao Escritório de Cidadania, sem esclarecer sobre o órgão Apenas
fixando pormenorizadamente suas atribuições no art. 8º Nas razões que motivam o PL é
informado que o Escritório de Cidadania já existe na Estrutura Administrativa Municipal, sendo
assim, as atribuições fixadas no art. 8º deverão ser articuladas em alteração à lei que cria o
órgão. No art. 2º, é exigido que o banco tenha estrutura física e logística para oferta de
captação e distribuição gratuita de gêneros alimentícios oriundos de doações dos setores
públicos e privados e que serão direcionados aos indivíduos, famílias e instituições públicas ou
privadas sem fins lucrativos, caracterizadas como prestadoras de serviço de assistência social,
de proteção e defesa civil, estabelecimentos de saúde e demais unidades de alimentação e
nutrição. O § 1º do art. 2º indica que deve haver captação de alimentos em condições de
próprias para o consumo junto a produtores rurais, estabelecimentos comerciais, industriais e
na comunidade em geral, do que se volta a mencionar a necessidade de atentar para os
termos da Lei nº 14.016, de 2020. No art. 3º fixa-se as regras para o recebimento das doações
por Associações, contudo, a adesão das Associações deverá passar por Edital para manifestar
interesse e a correspondente fiscalização. Ademais, não há previsão clara sobre o cadastro e
recebimento das doações por pessoas/famílias que necessitem, apenas criando a vedação do
art. 4º, assim, deve haver disposição sobre o cadastro dos beneficiários do programa. Já no art.
5º cria a possibilidade de móveis e utensílios, citando o termo cessão. Neste ponto, cumpre
observar que, apesar de também configurar caráter assistencial, não deverá ser tratado no
mesmo PL, visto que deverá observar a regulamentação sobre a recepção de bens móveis pela
Administração e a forma de aquisição e doação, que deverá respeitar os termos da legislação
que versa sobre bens públicos e licitações. Portanto, recomenda-se sua supressão, ou a
reformulação do PL, desde sua ementa, dispondo sobre banco de alimentos, móveis,
utensílios, observando as particularidades de cada doação, assim como o espaço físico para
sua recepção e manutenção. O art. 6º insere a prerrogativa de voluntariado na Administração
Pública, a fim de atender às demandas do Banco. No que tange ao conteúdo, cumpre ressaltar
a natureza do trabalho voluntário e sua regulamentação na Lei Federal nº 9.608, de 1998, que,
em seu art. 1º assim dispõe: Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a
atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza,
ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais,
educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade. Parágrafo
único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza
trabalhista previdenciária ou afim Da leitura do dispositivo, verifica-se que o serviço voluntário
é aquele exercido por pessoa física, e é cabível para as circunstâncias que envolvem atividades
de natureza cívica, cultural, educacional, científica, recreativas ou de assistência social, isto é,
atividades de interesse público geral em que se exige a participação não só da Administração
Pública,mas também de membros da sociedade dispostos a empregar parte de seu tempo e
conhecimento na prestação de auxílio e no desenvolvimento destes objetivos. Assim,
recomenda-se atenção à Lei 9.608, de 1998, especialmente destacando o que dispõe o
parágrafo único do art. 1º, acima colacionado, e seja verificado, em âmbito municipal, a
regulamentação sobre o trabalho voluntário. Por fim, observa-se que o PL não veio instruído
com estudo de impacto orçamentário e financeiro, instrumento necessário para análise do
programa, uma vez que sua realização demandará uso de bens público e estrutura de
servidores. Diante do disposto nos art. 7º, 9º e 10, recomenda-se que a matéria seja
estruturada como Programa Governamental. A Constituição Federal no art.165 indica que os
programas governamentais devem compor o orçamento público, interligando as leis do plano
plurianual, das diretrizes orçamentárias e do orçamento anual. O Programa somente será
viável se integrar as leis do plano plurianual, das diretrizes orçamentárias e do orçamento
anual, pois disso depende técnica e legalmente a sua execução. Assim, no ano em curso, o
Prefeito, deve encaminhar projeto de lei para a Câmara visando alterar as leis do plano
plurianual, das diretrizes orçamentárias e do orçamento anual em vigor para instituir o
programa desejado. III. Dito isto, consoante às ponderações deduzidas, conclui-se: a) Que o
Projeto de Lei, em análise, não apresenta, quanto ao exercício de sua iniciativa obstáculo
constitucional para a sua apreciação legislativa. b) Que o Banco de Alimentos seja estabelecido
na forma de Programa Governamental, visto que para sua articulação demandará atuação
direta da Administração, como fixado no art. 7º, do PL. c) Que em 2022, embora previsto em
lei (caso o Projeto seja aprovado) a execução do Programa somente será possível por projeto
de lei de iniciativa do Prefeito, a fim de inclui-lo, mediante alteração legislativa, nas leis do
PPA, das Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento Anual. d) Que, para incluir o Programa de
auxílio e assistência nas leis do plano plurianual, de diretrizes orçamentárias e do orçamento
anual, indispensável especificação mais detalhada de seu custo de implementação. e) Que haja
revisão e atenção quanto à legislação que dispõe sobre a doação de alimentos, Lei nº 14.016,
de 2020. f) Seja observada a necessidade de os objetos da lei serem claros e articulados, assim,
recomenda-se atenção ao disposto no art. 5º, do PL, apesar de atender a objetivo assistencial,
demandará outro tipo de estrutura de guarda e de recepção do material, desta forma, para
sua implementação, o PL, assim como o Programa, deve ser reformulado e analisado
conjuntamente, não sendo viável somente citá-lo em artigo. g) Haja especificação quanto ao
Escritório de Cidadania, alterando e fixando novas atribuições na Estrutura Administrativa
Municipal, assim como a necessidade de lotação de servidores. h) Sejam fixados os critérios de
cadastro e recebimento das doações por pessoas físicas/famílias que necessitem das doações.

III- VOTO: Considerando, portanto, os fundamentos legais e constitucionais, esta Relatoria


resolve exarar parecer de forma FAVORÁVEL A TRAMITAÇÃO da matéria. Este é o parecer,
salvo melhor juízo.

Sala das Comissões, 13 de Junho de 2022.

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