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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Adan Rosler

TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS EM
EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS PARA
A CORRIDA DE RUA

Campinas
2009
Adan Rosler

TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS EM
EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS PARA
A CORRIDA DE RUA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Graduação da Faculdade de Educação Física
da Universidade Estadual de Campinas para
obtenção do título de Bacharel em Educação
Física.

Orientador: Eduardo Fantato Rodrigues


Co-Orientador: Paulo César Montagner

Campinas
2009
ORIENTAÇÕES

ESTA FOLHA DEVERÁ SER IMPRESSA NO VERSO DA FOLHA DE ROSTO.


COPIE A FICHA ELABORADA PELA BIBLIOTECA E COLE ABAIXO,
LEMBRANDO QUE TODAS AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NA
PÁGINA DEVERÃO SER COPIADAS. CASO HAJA DESCONFIGURAÇÃO
DA FONTE, UTILIZE
FONTE ARIAL TAMANHO 10.
EM SEGUIDA DELETE ESTAS ORIENTAÇÕES.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA


PELA BIBLIOTECA FEF - UNICAMP

COLE AQUI A FICHA CATALOGRAFICA


Adan Rosler

TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS EM EQUIPAMENTOS


ESPORTIVOS PARA A CORRIDA DE RUA

Este exemplar corresponde à redação final da


Monografia de graduação defendida por nome
do autor e aprovada pela Comissão julgadora
em: 29/06/2009

Eduardo Fantato Rodrigues


Orientador

Campinas
2009
COMISSÃO JULGADORA

Eduardo Fantato Rodrigues


Orientador

Paulo César Montagner


Dedicatória

Dedico este trabalho a meus queridos pais, Ademir e Angela.


Agradecimentos

Depois de todos os anos de faculdade, tantas amizades, momentos de


descobertas, felicidades e amarguras, fica evidente a importância que as pessoas
possuem na formação de nossa personalidade ao longo do caminho.

Sendo assim, o trabalho aqui apresentado possui uma parcela de contribuição


de cada pessoa com que me deparei nesses saudosos anos de FEF, tanto dentro
quanto fora dela.

Tive o privilégio de ter como pais duas pessoas que nunca mediram esforços
para prover aos seus filhos o melhor possível, o famoso “do bom e do mehor”..

Agradeço ao meu Pai Ademir por todos os conselhos e pela insistência em


mostrar que os estudos são vitais para o homem, não só para fins profissionais mas
também para a construção de um ser consciente de suas responsabilidades com sua
família e com o mundo.

A minha querida Mãe, Angela, a todo o suporte e carinho prestados não só


durante a faculdade, mas sim durante toda a minha vida. Sem dúvida tudo é mais
fácil com ela ao meu lado.

Não poderia deixar de agradecer minha amada namorada Denise, que além de
me apoiar durante as pesquisas e formatações desse trabalho, sempre me confortou
nos momentos de dúvidas e indecisões sobre qual caminho a tomar durante toda a
faculdade.

Dentro da faculdade, não poderia deixar de citar os grandes amigos que tive o
prazer de conhecer ao longo do curso. Alexsandro Zóio, Bruno Chiqueto, Diogão,
Otávio, Léo Tiroli, Morita, Pedrão, F.H, Andrey, Lucimario, Fuzaro, Gugu, Cidinho
e etc..

Gostaria de agradecer todos os professores que ao longo de curso me


ensinaram de maneira ou outra, as diferentes vertentes presentes na educação física
e a maneira como tais interpretações cabem também a todas as relações do dia a dia.
Em especial, aos professores que sempre me faziam ficar por dias refletindo sobre
suas aulas (mesmos por poucas matérias), Jocimar Daólio e Lino Castellani Filho.

Por final, agradeço aos meus orientadores, Eduardo Fantato Rodrigues e


Paulo César Montagner, pelo apoio e suporte que fizeram possível a criação desse
trabalho.

Muito obrigado a todos!


ROSLER, Adan. Tendências tecnológicas em equipamentos esportivos para Corrida de Rua.
2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-Faculdade de Educação Física. Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

RESUMO

O número de equipamentos esportivos disponíveis para a Corrida de Rua aumenta a cada dia,
influenciando significantemente a forma como o esporte é praticado ao redor do mundo. Nesse
estudo, procurou-se apresentar algumas das novas tecnologias envolvidas no desenvolvimento
desses novos equipamentos que possuem a Internet como base para operação e o objetivo de
orientar os atletas durante o treinamento para a Corrida de Rua. Foram apresentados quatro tipos
de tecnologias que servem como fonte de informação para os praticantes de Corrida de Rua, os
Blogs, as Comunidades Virtuais, os Fitcasts e os Pedômetros Digitais. O objetivo do presente
trabalho é de conscientizar os profissionais de Educação Física sobre a importância de conhecer
as novas tendências tecnológicas envolvidas no desenvolvimento e utilização dos novos
equipamentos esportivos, possibilitando assim melhor preparação para orientação aos atletas e
também, quando cabível, a utilização de tais equipamentos em seus métodos.

Palavras-Chaves: Corrida; Tecnologia Esportiva; Treinamento desportivo; Equipamentos


Esportivos; Internet;
ROSLER, Adan. Technological trends in sporting equipment for the street running. 2009.
Work of completion of curse (Graduate)-University of Physical Education. State University of
Campinas, Campinas, 2009.

ABSTRACT

The number of available sports equipment for Street Running increases everyday, modifying
significantly the way the Sport is practiced all over the world. In this study, it is presented some
of the new Technologies applied in the development of this new kind of equipments, which have
the Internet as its operations base and as its main goal, the training orientation for Street Running
practitioners. It is presented four types of technologies which serve as information source to the
street runners, the Blogs, the Virtual Communities, the Fitcasts and the Digital Pedometers. The
objective of the present study is to show to the Physical Education professionals the importance
of knowing the new technological trends applied in the development and utilization of the new
sports equipments, making possible a better orientation to the runners and also, when possible,
the utilization of these equipments in the training methods and planning.

Keywords: Running; Sport Technology; Sport Training; Sports Equipment; Internet.


LISTA DE FIGURAS

Número anual de atletas inscritos nas Corridas de Rua promovidas pela


Figura 1 - 18
CORPORE....................................................................................................

Figura 2 - Número anual de Atletas cadastrados no site da CORPORE....................... 18


Twiike de atleta contendo dados das corridas como distância, ritmo,
Figura 3 - duração e etc.................................................................................................. 44
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Associação Brasileira de Lojistas de Equipamentos e Materiais


ABRALEME
Esportivos
AIMS Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Rua
BPM Batidas por minuto
CBAt Confederação Brasileira de Atletismo
CBD Confederação Brasileira de Desportos
CORPORE Corredores Paulistas Reunidos
FEF Faculdade de Educação Física
IAAF Associação Internacional das Federações de Atletismo
IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
SGMA Sporting Goods Manufactures Association’s
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 13

1. BREVE HISTÓRICO DA CORRIDA DE RUA..................................................... 15


1.1 Corrida de Rua............................................................................................................ 15
1.2 O treinamento para a Corrida de Rua ........................................................................ 20
1.3 A Tecnologia e o Esporte........................................................................................... 25

2. OS EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS DO SÉCULO XXI................................... 29


2.1 Novas tecnologias aplicadas à Corrida de Rua.......................................................... 29
2.2 A Internet ................................................................................................................... 31
2.2.1 Os Blogs ................................................................................................................. 32
2.2.2 Comunidades Virtuais............................................................................................. 34
2.3 Os Fitcasts ................................................................................................................. 36
2.4 Pedômetros Digitais.................................................................................................. 40
2.4.1 Nike Plus e iPod ..................................................................................................... 41
2.4.2 Adidas MiCoach .................................................................................................. 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 51


12

Introdução

Sabe-se que nos dias atuais, em decorrência dos hábitos da vida moderna, o
homem se torna cada vez mais “intelectualizado” e têm uma forte tendência a cultivar hábitos de
vida sedentária, contrariando os hábitos de nossos ancestrais que percorriam em torno de 20 a 40
km por dia efetuando a caça, a pesca e a coleta. Estima-se que em nossas atividades rotineiras
urbanas caminhamos apenas 2 km por dia (WEINECK 2003 apud SALGADO, 2006)
Na busca de valorizar e melhorar a qualidade de vida surgiu à necessidade de
aproveitar adequadamente o tempo livre. O Esporte vem sendo amplamente utilizado como opção
a manutenção da saúde e alívio do stress do dia a dia sendo que dentre as modalidades esportivas
que mais crescem no mundo todo, a Corrida de Rua se destaca pelo crescimento exponencial
obtido nas últimas décadas.
Nos anos 90, corridas se limitavam a 650 participantes (MELLO, 2004), hoje
em dia as corridas chegam a ter mais de 40 mil participantes e correr uma maratona se
transformou em algo normal, não mais uma tarefa impossível para simples atletas de final de
semana.
Dentre os fatores contribuintes para o aumento do número de praticantes de
Corrida de Rua, podemos citar o desenvolvimento da ciência do treinamento e da tecnologia dos
materiais esportivos (MELLO, 2004), ser acessível a toda população e demandar baixo custo
tanto para os organizadores como para o treinamento e participação em eventos competitivos dos
praticantes (SALGADO, 2006).
O aumento do número de praticantes de Corrida de Rua significa o aumento do
número de materiais esportivos consumidos nos grandes centros populacionais de todo o mundo.
Equipamentos que variam desde calçados, shorts, camisetas, bonés, cronômetros, óculos,
pedômetros e etc. despertam o interesse de grandes empresas que procuram a cada dia lançar
novos produtos, cada vez mais tecnologicamente desenvolvidos e eficazes.
13

Com a evolução dos meios de comunicação e dos aparelhos micro-eletrônicos,


não demorou muito para que começassem a surgir novas tecnologias provendo centros de
informação sobre a Corrida de Rua (principalmente na Internet) e que novos equipamentos
esportivos passassem a utilizar essa estrutura como base para divulgação e funcionamento.
Tais tecnologias vêm evoluindo significantemente, prometendo auxiliar o
corredor de maneira integral, chegando até a sugerir a substituição do profissional de Educação
Física pelas novas tecnologias, impactando a forma como os praticantes de Corrida de Rua
planejam e praticam suas corridas significantemente.
O objetivo do presente trabalho é de identificar e descrever algumas das novas
tendências tecnológicas que possuem a Internet como base operacional, utilizadas no
desenvolvimento de novos equipamentos esportivos e na divulgação de informações referentes ao
treinamento esportivo para a Corrida de Rua.
Serão apresentados, através de revisão bibliográfica, quatro tipos de tecnologias
que servem como fonte de informação para os praticantes da Corrida de Rua e que possuem a
Internet como ponto em comum em sua estrutura de funcionamento, são elas: os BLOGs, as
Comunidades Virtuais, os Fitcasts e os Pedômetros Digitais.
No primeiro capítulo, através de uma pesquisa bibliográfica, dissertarei
brevemente sobre a história do atletismo, a evolução da Corrida de Rua e os princípios de básicos
do Treinamento Esportivo e suas aplicações e resultados referentes a essa modalidade esportiva.
No segundo capítulo apresentarei algumas das novas tecnologias utilizadas
pelos praticantes de Corrida de Rua como fonte de informação provenientes da Internet e novos
equipamentos que visam auxiliar os atletas durante o treinamento.
Dentre tais tecnologias, explicarei brevemente o conceito dos BLOGs,
Comunidades Virtuais e Fitcasts, realçando as suas ligações com a prática da Corrida de Rua.
Por final, descreverei os novos aparelhos conhecidos como Pedômetros
Digitais, novas tendências em equipamentos esportivos resultantes da evolução dos equipamentos
micro-eletrônicos e seu poder de conectividade com a Internet.
O principal objetivo do trabalho é de apresentar algumas das novas tendências
tecnológicas utilizadas como meio de divulgação de informação e desenvolvimento de
equipamentos esportivos para a Corrida de Rua, conscientizando assim o profissional de
Educação Física sobre a importância de conhecer tais tecnologias, a fim não só de estar apto para
14

melhor orientar seus atletas, mas também para melhorar os métodos e controles utilizados nos
treinos ministrados.
15

1. Breve Histórico da Corrida de Rua

O Atletismo conta a história esportiva do homem no Planeta. É chamado de


esporte-base, porque sua prática corresponde a movimentos naturais do ser humano: correr,
saltar, lançar. Não por acaso, a primeira competição esportiva de que se tem notícia foi uma
corrida, nos Jogos de 776 A.C., na cidade de Olímpia, na Grécia, que deram origem às
Olimpíadas. A prova, chamada pelos gregos de "stadium", tinha cerca de 200 metros e o
vencedor, Coroebus, é considerado o primeiro campeão olímpico da história (CBAt, 2009).
Os gregos consideravam a corrida como sendo de vital importância para as
funções orgânicas, acreditando que fortaleciam pernas, pulmão, coração, peito e abdômen.
(Fernandes, 2003). A importância das competições era tanta que os vencedores passavam a
receber pensões vitalícias e ficavam isentos de qualquer tributo. (SILVA, CAMARGO, 1978).
Logo nos primeiros jogos olímpicos já eram organizadas competições de
corridas de velocidade com provas de 192 metros, 2 estádios (ida e volta), de resistência sobre 8,
10, 12 e até 24 estádios (4600 metros) (FERNANDES, 2003)
Desde a Grécia antiga, um treinador profissional era uma pessoa importante.
Normalmente, os que haviam sido campeões. Seus métodos de treinamento influenciaram atletas
britânicos até a 2° Guerra Mundial (ERIC, TONY, GLENDA, 2006).
Em 1896, na Grécia, começou a evolução esportiva em todo o mundo,
principalmente no Atletismo, com o estudo das técnicas, aprimoramento dos treinamentos,
melhoria das pistas e do material esportivo (SILVA, CAMARGO, 1978).
O primeiro povo a demonstrar um interesse especial pelas corridas foram os
Ingleses. Os competidores eram mensageiros dos senhores feudais; quando as condições
climáticas dificultavam o transporte pesado, os corredores iam na frente para anunciar a chegada
do seu patrão. Esses corredores eram os running-footman (na Turquia eram chamados de Puchs)
(FERNANDES, 2003).

As competições entre os mensageiros envolviam grandes apostas e inicialmente eram


realizadas em longos percursos. Assim foram surgindo os corredores profissionais que
não muito tempo depois começaram a competir em distâncias mais curtas, resultando um
16

maior incentivo a velocidade. A partir da Inglaterra, as corridas começaram a chegar a


outros países como EUA, Finlândia, Suécia, Alemanha (entre outros) (FERNANDES,
2003).

Na moderna definição, o Atletismo é um esporte com provas de pista (corridas),


de campo (saltos e lançamentos), provas combinadas, como decatlo e heptatlo (que reúnem
provas de pista e de campo), o pedestrianismo (corridas de rua, como a maratona), corridas em
campo (cross country), corridas em montanha, e marcha atlética (CBAt, 2009).
A IAAF – Associação Internacional das Federações de Atletismo é quem
administra as normas do Atletismo mundial, a qual delega aos países a formação de
confederações próprias. A IAFF foi criada em 1912, durante os Jogos Olímpicos de Estocolmo,
na Suécia. O Brasil está filiado a IAAF desde 1914. Sendo que primeiramente, pela antiga CBD –
Confederação Brasileira de Desportos, que dirigia quase a totalidade das modalidades esportivas
nacionais. No entanto, a partir de 1977, a Confederação Brasileira de Atletismo – CBAt é
responsável pelo esporte no Brasil. (SALGADO, 2006)

1.1 Corrida de Rua

Segundo Salgado (2006), as Corridas de Rua surgiram na Inglaterra no século


XVIII onde se popularizou e posteriormente, a modalidade expandiu-se para o restante da Europa
e Estados Unidos. No final do século XIX, após a primeira Maratona Olímpica; As Corridas de
Rua ganharam impulso e popularizaram-se particularmente nos Estados Unidos.
Na década de 1970 ocorreu nos Estados Unidos o primeiro “boom” relacionado
à corrida. A principal causa do crescimento da modalidade estava nos exercícios aeróbicos
estimulados pelo Dr. Kenneth Cooper (MELLO, 2004).
Kenneth Cooper foi o criador do Teste de Cooper, também conhecido como o
Teste de 12 minutos. O teste consiste numa corrida em velocidade constante que varia de acordo
com a idade, sexo e seu desempenho (profissional ou amador). Para um atleta masculino
profissional exige-se um desempenho de 3200 metros em 12 minutos para sua boa forma. Cooper
foi um dos grandes incentivadores da prática da Corrida como um meio para atingir um padrão de
vida saudável.
17

A apreciação da sociedade pela corrida era tão grande que nos anos 70 as
companhias de seguros convencidas dos benefícios do exercício vigoroso, passaram a oferecer
descontos aos corredores. Jornais como o Boston Global e o New Orleans States-Item,
começaram a publicar colunas sobre corrida enquanto uma emissora de rádio, ao anunciar a
previsão do tempo na cidade de Nova York, a NEW-FM, comunicava aos ouvintes se as
condições eram boas ou más para se correr (FIXX, 1980).
Após a copa de 70 no México, Claudio Coutinho então preparador físico da
seleção Brasileira, traduziu o livro de Cooper, influenciando a opinião pública brasileira de que o
Cooper fazia bem e foi fator influente no time campeão mundial. No Rio de Janeiro, em 71, teve
inicio a prática de Cooper matinal, em sua maioria praticada por estrangeiros. (FERREIRA,
1979)
Em 1977 nos Estados Unidos, foram gastos 500 milhões de dólares em sapatos
de corridas sendo que no mesmo período deu se inicio ao surgimento de revistas especializadas
na modalidade. Em 1979, 27 milhões de americanos “joggavam” (jogg significa correr sem
velocidade). (FERREIRA, 1979)
Mas a euforia, a precipitação e quem sabe o modismo, causaram alguns
problemas na propagação do esporte. Um grande número de praticantes de corrida e ginástica
aeróbica se lesionou pelo excesso de treinos e até mesmo pela falta de pesquisas científicas
focalizando essa atividade. Afinal, a ginástica aeróbica fora criada recentemente (MELLO, 2004).
Já nos anos 90, os Estados Unidos conheceram o segundo “boom” da corrida.
Desta vez a corrida cresceu com mais solidez, com base em pesquisas consistentes e com a
presença de tecnologia de equipamentos e treinamento que deram suporte necessário para o
crescimento e a solidificação das Corridas de Rua em todo o mundo (MELLO, 2004).
No Brasil em particular, esse boom teve início em 1998 e até hoje não perdeu a
força (MELLO, 2004). O surgimento de entidades relacionadas à organização de eventos de
corrida são provas da evolução da Corrida de Rua no Brasil.
A CORPORE (Corredores Paulistas Reunidos) é uma entidade fundada em
1982, que envolve o maior Clube de Corredores da América Latina, promovendo Corridas de
Rua, devidamente estruturadas, com apoio e parcerias de patrocinadores (SALGADO, 2006).
18

Segundo as estatísticas divulgadas pela Corpore (Figura 1), podemos observar o


aumento do número de inscritos nas competições organizadas pela entidade e também o aumento
da procura de informações na web (Figura 2) de acordo com o aumento do número de pessoas
cadastradas no site da entidade.

Figura 1 – Número anual de atletas inscritos nas Corridas de Rua promovidas pela CORPORE fonte: CORPORE,
2009.

Figura 2 – Número anual de Atletas cadastrados no site da CORPORE. fonte: CORPORE, 2009.
19

O número de inscritos em provas no estado de São Paulo se quadruplicou no


período de 2000 a 2008 sendo que em 2000 o número de inscritos foi de 28,4 mil corredores
contra 132,1 mil inscritos em 2008.
De acordo com a Corpore, em 2006 o número de Corredores de Rua nos EUA
era estipulado em mais de 40 milhões de pessoas, sendo que 17 milhões participaram de eventos
organizados. No mesmo ano estipulou se no Brasil quatro milhões de corredores de rua, em que
250 mil participaram de eventos competitivos.
O canal de TV Sportv (2007) realizou um estudo em todo o Brasil a fim de
mapear as modalidades esportivas mais praticadas em território nacional. De acordo com a
pesquisa, 5% dos brasileiros praticam corrida em alguma intensidade, grande ou pequena, o que
coloca essa modalidade como a 6ª mais praticada no País. Perdendo apenas para a caminhada,
futebol, vôlei, ciclismo e natação.
De acordo com Mello (2004), o aumento do número de praticantes pode ser
justificado de diversas maneiras uma vez que o benefício da prática regular de esportes para a
saúde é inquestionável. A atividade física é importante do ponto de vista da saúde por vários
aspectos: auxilia na manutenção do peso corpóreo adequado, no controle da pressão arterial, no
tratamento da diabete melito, contribui para a regularização dos níveis de colesterol e combate o
estresse diário a que somos submetidos atualmente. Por todos esses motivos, possui papel
fundamental na prevenção das doenças cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio e o
acidente vascular cerebral.
Em conseqüências da vida moderna, o homem nas últimas décadas vem
sofrendo algumas transformações tanto física como psíquica sendo que ao passar dos séculos
gerou-se uma tendência ao “tecnológico” e sedentarismo, contrariando os hábitos de nossos
ancestrais que chegavam a percorrer até 40 km em busca de sua sobrevivência. (GONÇALVES,
2007).
Com a diminuição da movimentação houve conseqüentemente uma redução do gasto
energético e, simultaneamente, uma maior e melhor oferta de alimentos com elevado
teor calórico. Estes fatos podem ser encarados como um dos fatores geradores do
fenômeno da obesidade que se enquadra dentro das doenças hipocinéticas. Segundo
Allsen et al. (2001), hipocinesia é um conceito novo para designar as doenças
relacionadas à inatividade ou a falta de atividade física regular, que se manifesta
especialmente associada a patologias como as cardiopatias, hipertensão arterial
sistêmica, altos índices de gordura corporal, problemas articulares e lombálgicos.
(SALGADO, 2006)
20

Aliado aos benefícios a saúde, a praticidade é outro fator marcante no aumento


vertiginoso da prática de Corrida de Rua no mundo. Basta uma rua, um espaço, um terreno.
Podemos correr até com chuva, tanto que nos regulamentos das competições de corrida de rua lê-
se: “Os eventos realizar-se-á com qualquer tempo”. Pobres, ricos, altos e baixos, todos podem
praticar essa modalidade e não é preciso ser sócio de nenhum clube parar correr. Todos esses
fatores facilitam e muito a adesão de novos corredores (MELLO, 2004).
Dentre esses e outros motivos, a Copore acredita que esse crescimento advém
da busca pela qualidade de vida, o convívio com outros praticantes que, contagiados pelo prazer
das provas, das medalhas e camisetas recebidas, passam a representar conquistas nos ambientes
de trabalho, familiar e esportivo. O ano Olímpico também estimula a participação em corridas,
que é um esporte popular, barato, que exige baixo investimento, o que acaba atraindo, cada vez
mais, novos participantes para as provas. (SALGADO, 2006)
Segundo a Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Rua, sediada
em Londres, as maratonas, assim como as Corridas de Rua, vem crescendo mais como um
comportamento participativo do que como esporte competitivo (GONÇALVES, 2007).
Atualmente, o critério da Federação Internacional das Associações de Atletismo
(IAAF) define as Corridas de Rua, provas de pedestrianismo, com disputas em circuitos de rua
(ruas, avenidas, estradas) com distâncias que variam de 5 a 100 km. (GONÇALVES, 2007)

1.2 O Treinamento para a Corrida de Rua

A busca pela prática da Corrida de Rua decorre de diversos interesses, que


envolvem desde a promoção de saúde, a estética, a integração social, a fuga do estresse da vida
moderna, a busca de atividades prazerosas ou competitivas. No entanto, deve-se considerar que,
todas as modalidades esportivas, por mais que sejam consideradas como atividades saudáveis, se
praticadas de forma excessiva podem inverter os efeitos benéficos e levar a prejuízos à saúde
(SALGADO, 2006 citando WEINECK, 2003).
21

Em uma pesquisa realizada por SALGADO (2006), corredores de rua que


participaram de quatro diferentes provas (Corrida Integração, Campinas, SP; Maratona de
Revezamento Pão de Açúcar, São Paulo, SP; Volta Internacional da Pampulha, Belo Horizonte,
MG e Corrida São Silvestre, São Paulo, SP) responderam a questionários a fim de delinear
características ligadas à orientação e ao tipo de treinamento praticado. Foi constatado que
aproximadamente 72,7% dos corredores entrevistados não têm orientação específica de um
profissional de Educação Física e treinam baseados em sua própria experiência ou através de
outros meios.
Na mesma pesquisa, os entrevistados que não possuíam orientação profissional
em seus treinamentos foram comparados com os que declararam possuir orientação de um
profissional da Educação Física. Notou se que de modo geral, a proporção dos participantes
entrevistados com acompanhamento da freqüência cardíaca durante os treinos é de
aproximadamente 3,5 vezes maior (OR=3,37) para os corredores que possuem orientação
profissional. Outra diferença preocupante também aparece quando é comparada a proporção de
participantes que realizam exame ou avaliação física prévia sendo que a chance de um corredor
orientado por um profissional de Educação Física realizar exames ou avaliação física prévia é
quase três vezes maior (OR=2,8) do que os corredores sem orientação.
A falta de informação como a importância da hidratação, da alimentação, do
vestuário e calçados adequados, o risco da ocorrência de lesões, ou até mesmo, ainda que em
pequena magnitude, a morte súbita (SALGADO, 2006 citando GHORAYEB; CAMARGO;
OLIVEIRA, 1999) pode trazer sérias complicações aos atletas.
Segundo Gonçalves (2007), embora um benefício considerável seja obtido
através de um treinamento cardiovascular de um programa de corrida, o desenvolvimento de uma
lesão por uso excessivo é relativamente comum. Dados clínicos indicam que o joelho é o lugar
mais comum de uma lesão relacionada com a corrida, seguida pela parte inferior da perna e pelo
pé.
A maneira ideal de evitar problemas comuns as práticas é através da orientação
de um profissional de Educação Física, que por sua vez utilizará os conceitos do Treinamento
Esportivo para assegurar que a prática, além de construir uma base sólida para o desenvolvimento
do atleta, evitará problemas comuns à modalidade esportiva.
22

O Treinamento Esportivo, que é a forma básica de preparação do atleta


(MATVÉIEV, 1977) pode ser brevemente definido como um processo organizado de
aperfeiçoamento, que é conduzido com base em princípios científicos, estimulando modificações
funcionais e morfológicas no organismo, influindo significantemente na capacidade de
rendimento do esportista (BARBANTI, 1997).
Matvéiev definiu o conceito principal do treinamento, adotado e seguido por
vários pesquisadores. Estamos nos referindo aos aspectos fundamentais da preparação do atleta,
um conceito que aborda todos os conteúdos que ele deve receber, não somente no ciclo anual de
preparação, mas durante toda a vida esportiva (DE LA ROSA, 2006).
A preparação do atleta abrange os seguintes aspectos (DE LA ROSA, 2006):
• A preparação física geral e especial.
• A preparação Técnica.
• A preparação tática.
• A preparação psicológica (moral e volitiva)
• A preparação teórica (intelectual)
Os aspectos acima citados devem ser considerados como aspectos básicos da
preparação do atleta de forma que sejam priorizados durante o planejamento do treinamento.
Assim espera-se que cada um dos aspectos esteja presente em cada uma das diferentes estruturas
do treinamento esportivo (DE LA ROSA, 2006).
Abaixo descreverei brevemente o conceito de cada aspecto do treinamento
esportivo, de acordo com o olhar de Barbanti (1997):

A Preparação Física visa o desenvolvimento das capacidades motoras


principais: força, velocidade, resistência aeróbica, resistência anaeróbica, flexibilidade,
habilidade e etc. Ela possui dois aspectos: A preparação Física Geral e a preparação física
especial.
A Preparação Física Geral se objetiva a desenvolver o potencial do indivíduo
no conjunto das qualidades físicas da base. Na preparação física especial visamos desenvolver as
qualidades físicas particulares ao esporte ou disciplina praticada.
23

A Preparação Técnica objetiva aprender a técnica esportiva de forma racional.


È um processo a longo prazo, sem interrupções e que deve ser sempre aperfeiçoado.

Podemos definir a técnica como um processo de movimentos, atitudes e


posições gerais do indivíduo, que se realizam com uma utilidade determinada. É uma sequência
de movimentos baseados na Física e na Biomecânica. Existem diferentes técnicas conforme os
esportes e, inclusive dentro de uma mesma especialidade, existem sequências distintas de
movimentos que determinam outras técnicas.

A Preparação Tática consiste em achar o melhor meio para um indivíduo vencer


uma competição ou atingir o melhor resultado. No atletismo a possibilidade de tática é maior nas
provas de meio-fundo e fundo sendo que ela também depende da condição física e técnica.

A Preparação Intelectual depende do nível intelectual do indivíduo, de sua


motivação e de seu preparo físico. Todo atleta deveria estar psiquicamente preparado para o que
vai realizar. Para isso deve haver uma preparação teórica.

Todos os elementos do conteúdo do treino desportivo, todos os seus meios,


métodos e outros componentes se encontram interligados como partes ou aspectos de um todo
(MATVÉIEV, 1977). Eles são treinados conjuntamente, atendendo a um ou outro em maior
proporção, dependendo da fase do treinamento anual e do nível dos desportistas. (BARBANTI,
1997).
Em se tratando de Corrida de Rua (corridas de longa distância), é necessário entender
os efeitos do treinamento no corpo humano a fim de planejar um treinamento com
sucesso, afinal, o corpo esta constantemente se adaptando e melhorando e correr produz
muitos efeitos para tornar seu corpo uma máquina de corrida cada vez mais eficiente
(GONÇALVES, 2007).

Dentre as adaptações biológicas resultantes das corridas, o sistema circulatório


sofre modificações em praticamente toda sua estrutura.
24

O débito cardíaco em repouso em pessoas não treinadas gira em torno de


51/min e pode aumentar para 251/min em um atleta treinado, fornecendo oxigênio extra,
necessário durante o exercício intenso.

O volume de ejeção do coração em repouso de atletas de endurance treinados pode


aproximar de 200 ml – mais de duas vezes daquele de seus pares não-treinados, por um
lado por causa de seu maior volume cardíaco e, por outro lado, devido ao esvaziamento
mais completo. Em conseqüência, muitos atletas possuem freqüência cardíaca de
repouso abaixo, às vezes bem abaixo, de 55bpm. (GONÇALVES 2007 citando
WEINECK, 2003).

Dentre as várias alterações que acontecem no sistema circulatório, pode-se


esperar que o treinamento de endurance aumente o conteúdo de hemoglobina no sangue,
acompanhado do aumento no volume do sangue total de até 15% (GONÇALVES, 2007 citando
ERIC, TONY, GLENDA, 2006)
O treinamento com distâncias longas melhora três aspectos do metabolismo
aeróbico: Débito cardíaco; Controle da distribuição sanguínea; Controle da Taxa de mobilização
de glicogênio nos músculos.
Em relação aos músculos e aos membros do corpo, uma vez que as corridas de
longa distância utilizam a resistência de força aeróbia (BARBANTI, 1997), o desenvolvimento
da resistência resulta em hipertrofia muscular que possui caráter local, isto é, acontece nos
músculos a serem envolvidos no trabalho. Por exemplo, é revelado que o efeito de adaptação se
manifesta completamente apenas por meio dos trabalhos com os mesmos grupos musculares
treinados, e não se manifesta se o trabalho for feito em outros músculos. O aumento do número
de mitocôndrias e sua adaptação ao trabalho de resistência acontece somente nas fibras
musculares, as quais participam na contração; isto é, treinando uma perna só, a adaptação
acontecerá somente nela (GONÇALVES, 2007).
Na Corrida de Rua, o atleta deve recorrer a todas as suas reservas de energia
para tentar até o último momento um resultado melhor. Durante o treinamento, todas as
observações técnicas devem ser levadas em conta, tendo como fim único mostrar a maneira pela
qual se economiza energias, afastando a fadiga muscular.
Para isso torna-se necessário que os movimentos sejam executados com a maior
perfeição possível, descontraídos e ritmados (FERNANDES, 2003). Os movimentos dos braços,
25

tronco e pernas não devem diferir muito do padrão a fim de evitar, também, micro lesões que em
longo prazo podem causar problemas musculares graves.
GONÇALVES (2007) cita outros tipos de lesões que podem ocorrer em atletas
de Corrida de Rua, entre os fatores responsáveis por essas lesões podemos citar especificamente a
falta de fortalecimento dos músculos dos pés, excesso de treino devido à falta de
acompanhamento das distâncias percorridas, os diferentes tipos de solo onde a corrida é
praticada, assimetrias musculares e diferenças de forças devido a adaptações aos movimentos
repetitivos e a falta de treino específico para o reforço de músculos como os abdominais e
quadríceps.

1.3 A Tecnologia e o Esporte

A industrialização trouxe consigo, além da modernização, o avanço tecnológico


e a valorização da ciência. Os dias atuais caracterizam-se por profundas e constantes mudanças,
onde é crescente e cada vez mais acelerada a inovação tecnológica, colocando a disposição da
população os mais diversos tipos de tecnologia, tais como: tecnologias educacionais, tecnologias
gerenciais e tecnologias assistenciais. (CARVALHO, NASCIMENTO, MARTINS, 2006)
Vivemos numa era tecnológica onde muitas vezes a concepção do termo
tecnologia tem sido utilizada de forma enfática, incisiva e determinante, porém equivocada na
nossa prática diária, uma vez que tem sido concebido corriqueiramente, somente como um
produto ou equipamento. Porém, a temática tecnologia não deve ser tratada através de uma
concepção reducionista ou simplista, associada somente a máquinas, uma vez que tecnologia
compreende certos saberes constituídos para a geração e utilização de produtos e para organizar
as relações humanas (MEHRY E et al, 1997).

No esporte, a tecnologia possui o papel de criar meios para que o atleta atinja seus
objetivos, tanto criando a possibilidade da prática quanto a melhora do desempenho
esportivo. Essa tecnologia varia de técnicas corporais, equipamentos esportivos
utilizados durante competições, máquinas para a melhora de desempenho, substâncias e
outros métodos e materiais utilizados sem o objetivo da competição. (LOLAND, 2002).
26

Segundo Loland (2002), o desenvolvimento de equipamentos esportivos é uma


dentre as várias aplicações da tecnologia no esporte, afinal, sem bolas e bastões não haveria o
jogo do baseball e sem a bicicleta o ciclismo não existiria. O aumento de desempenho também
esta relacionado à aplicação da tecnologia em novos equipamentos esportivos, como exemplo
podemos citar o traje de natação Fastskin, que reduz o atrito com a água, possibilitando aos
nadadores nadar mais rápido.
Outro objetivo da aplicação tecnológica em equipamentos esportivos é a
segurança. O desenvolvimento materiais como capacetes para prática de boxe, tênis de corrida
com amortecedores e proteções para corpo em jogos de hockey são supostamente desenvolvidos
a fim de evitar lesões decorrentes da pratica esportiva.
O número de equipamentos esportivos desenvolvidos especificamente para a
Corrida de Rua é muito grande e varia de simples meias especiais até poderosos celulares capazes
de planejar, acompanhar e avaliar o treino do atleta. Dentre os equipamentos de corrida, estão os
calçados de corrida, shorts e camisetas especiais, polares, cronômetros e MP3 players.
O potencial de consumo desses equipamentos esportivos pela população é
claramente uma oportunidade de negócio lucrativo, uma vez que o esporte possui um mercado
que chega a movimentar mais de 1 trilhão de dólares no mundo todo (ABRALEME, 2008).
Segundo a ABRALEME - Associação Brasileira de Lojistas de Equipamentos e
Materiais Esportivos (2008) a indústria esportiva no Brasil, movimenta em média R$ 31 bilhões
por ano, o equivalente a 3,3 % do Produto Interno Bruto do país.
De acordo com a SGMA – Sporting Goods Manufactures Association’s (2009),
somente nos Estados Unidos, no ano de 2008, foi gasto mais de 66,3 bilhões de dólares em
equipamentos esportivos, dentre esses equipamentos estão inclusos calçados esportivos,
equipamentos de fitness, roupas especiais e transportes recreacionais. Somente os calçados para
corrida representaram 3,16 bilhões de dólares durante 2008 nos Estados Unidos.

Se a tecnologia é mesmo uma das atividades que mais tem influído nos destinos da
humanidade nos últimos séculos e se considerarmos, ainda, o fato de que ao seu redor,
hoje, orbitam várias profissões maduras e altamente sistematizadas, é lícito imaginar que a
sua reflexão se reveste de importância ímpar (BAZZO, 1998).
27

Devido à necessidade de estimular o consumo contínuo dos equipamentos


esportivos, as empresas investem forte no desenvolvimento de novos produtos, criando assim, em
uma velocidade muito rápida, o surgimento de novas tecnologias e materiais esportivos que em
pouco tempo ganham as ruas e novos adeptos.
Do ponto de vista dos profissionais de Educação Física, é necessário o
aprendizado sobre esses novos produtos, suas contribuições e limitações, uma vez que os mesmos
interferem na prática esportiva de maneira significativa.
Segundo Rodrigues (2009), a atualização tecnológica depende muito do
profissional, deve ser uma busca constante daquele que pretende se diferenciar no mercado, mas
também, devemos cobrar e alertar as entidades envolvidas de que elas precisam criar mecanismos
de capacitação dos profissionais para lidar com os avanços que hoje a ciência e a tecnologia
trazem para o esporte.

Os profissionais devem entender a ciência e a tecnologia, com suas implicações e


conseqüências, para poder ser elemento participante nas decisões de ordem política e
social que influenciarão o seu futuro e o dos seus filhos. Para isso ele deve investir na
construção de um conhecimento crítico e consistente, voltado ao aprimoramento do
bem-estar da sociedade. Por isso é preciso perseguir o objetivo de divulgar a necessidade
da análise crítica das conseqüências decorrentes das inúmeras aplicações dos artefatos
científico-tecnológicos. É preciso a vontade de contribuir para a formação de
profissionais com discernimento no trato da ciência e da tecnologia não apenas como
instrumento de poder, mas sim de desenvolvimento humano (BAZZO, 1998).

Segundo Santos (2008), a velocidade com que as novas tecnologias impactam


nossas vidas tem sido maior do que a nossa capacidade de absorver essas mudanças a curto prazo
e feliz ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, o avanço tecnológico nos mobiliza para
novos patamares que são irreversíveis.

É notória a imensa importância que a tecnologia assume junto a todos os seres humanos.
É por isso que se impinge a ela conotações de auto-suficiência, confere-se-lhe posição de
mando nos destinos da humanidade e atribuições que, muitas vezes sem as devidas
análises e reflexões, podem ter caráter danoso (BAZZO, 1998).

Uma vez que os equipamentos esportivos são produzidos por empresas


multinacionais de grande porte, fica a impressão de que não existe dúvida em relação aos
benefícios do uso, causando uma sensação de conforto nos praticantes e também nos
profissionais de Educação Física: “Se esta no mercado e custa caro é porque é bom”.
28

Esse tipo de pensamento evita uma avaliação mais profunda por parte do
profissional de Educação Física em relação aos equipamentos que surgem diariamente nos
centros comerciais, que são lançados sob muita publicidade, possuindo na maioria das vezes
atletas de alto nível como garotos propaganda: “Se o Federer usa, esse produto deve ser bom”.
Bazzo (1998) disse que muitas vezes os equipamentos são desenhados por
profissionais de outras áreas que não possuem experiência na prática e ensino do esporte. É
necessário então sermos instigados pela dúvida e relutantes em deixar estes assuntos para outros
campos de especialização, como se fosse deles a competência exclusiva para tais avaliações.

A tecnologia deve ser compreendida não como sinônimo de perfeição, e sim, de


otimização, de aperfeiçoamento e melhoria para atingir os objetivos de forma mais eficaz.
E requer uma “intimidade” com os recursos até a transição necessária para a intervenção
prática. Essa familiarização é parte do investimento pessoal que o profissional pode fazer
no desenvolvimento de suas habilidades e competências nesse setor. Aliás, é
imprescindível que seja investido tempo nesse processo. Afinal, a chegada de novas
perspectivas interfere nos valores e paradigmas que estamos habituados e quase sempre
gera incomodo. (RODRIGUES, 2009).

Sendo assim, é necessário o entendimento das novas tecnologias e


equipamentos esportivos, dando assim ao profissional de Educação Física, a possibilidade de
impulsionar a Educação Física para o encontro com as transformações pelas quais nossa
sociedade vem atravessando.
29

2. Os equipamentos esportivos do século XXI

2.1 Novas tecnologias aplicadas à Corrida de Rua

Conforme discutimos no capitulo anterior, o surgimento de novos


equipamentos esportivos, resultantes de novas tecnologias e de um mercado trilionário, vem
conquistando novos consumidores a cada dia.
São novos tênis, gadgets (do inglês dispositivo, geringonça), vestimentas e
outros diversos tipos de produtos que através de campanhas publicitárias milionárias são
divulgados e consumidos vorazmente pelo público praticante de esportes e atividades físicas.
Nesse contexto, o papel principal do profissional de Educação Física se
apresenta na forma de orientação em relação aos benefícios e malefícios de cada tipo de
equipamento e tecnologia recém criada. Cabe ao profissional estar ciente das novas tendências e
produtos que seus atletas observam nas vitrines, nas praças esportivas e nas propagandas
veiculadas nas mídias de massa.
Muitos desses equipamentos prometem não só facilitar a prática esportiva,
evitar lesões ou melhorar o desempenho dos atletas. Muitos deles prometem um pacote completo
para a prática de atividades físicas. Inclusos nesse pacote encontram se planejamento dos treinos,
acompanhamento durante a prática e até avaliações posteriores as atividades, com direito a
comparação de resultados com pessoas da mesma idade, geografia ou até com os próprios
amigos.
Tais produtos possuem como estratégia publicitária, passar a idéia de que o
profissional de Educação Física pode ser substituído pelo equipamento, que por sua vez pode
oferecer todos os serviços que um profissional especializado (personal trainer) poderia prover ao
atleta. Abaixo, seguem algumas frases utilizadas nas propagandas desses equipamentos que se
referem à substituição do treinador/professor pelos novos equipamentos:

“Put your personal trainer in your pocket with iTrain, featuring podcast
downloads from celebrity trainers designed to maximize your workout.” - ( Itrain Web Site )
30

“MiCoach is a total coaching system that creates personalized training plans,


keeps tabs on your stats, and coaches you along the way.” - Adidas MiCoach Web Site

“Personalized training in one confortable, complete, easy to use system.


MiCoach is here to help you achieve your ultimate fitness goals” - Adidas MiCoach Web Site

“The personal trainer on your IPod” - ITrainer Website

“It is just like having my own personal trainer” - ITrainer Website

Como podemos reparar, o próprio nome dos produtos muitas vezes já deixam
claro a idéia de substituir o profissional de Educação Física, como exemplo podemos citar o
pedômetro da Adidas, o MiCoach, uma citação clara as palavras “My Coach”, do inglês “Meu
Técnico”. Outro produto que em seu nome possui referência a substituição do treinador pelo
equipamento é o ITrainer, indicando nesse caso o iPod (MP3 player da empresa norte-americana
Apple) como o treinador, passando instruções, motivando e avaliando o desempenho do atleta.
Dentre as inúmeras transformações impulsionadas pelo avanço tecnológico em
nosso cotidiano, a Internet se destaca pelo fato de permitir que qualquer pessoa seja um potencial
veiculador de informações e formador de opinião. Conjuntamente com os novos equipamentos
eletrônicos conhecidos como Gadgets (celulares, MP3 players, PDAS, Smartphones e etc..) a
Internet possibilita o acesso a informação em qualquer momento e em qualquer lugar.
O avanço da tecnologia no campo dos dispositivos eletrônicos possibilita que os
gadgets se tornem cada vez mais integrados, possuindo em um só dispositivo diversas funções
que antes eram executadas por aparelhos distintos. Como exemplo, é normal hoje em dia ver
aparelhos celulares tirando foto, tocando musica, gravando vídeos, navegando na internet e etc.
Do outro lado, as empresas de materiais e equipamentos esportivos, percebendo
a oportunidade de utilizar esses novos dispositivos na prática esportiva, vem desenvolvendo
novos equipamentos que permitem aos usuários, planejar, praticar e avaliar atividades físicas e
esportivas, criando assim uma falsa sensação de autonomia e não necessidade de orientação
esportiva por um profissional da Educação Física.
31

Na Corrida de Rua vemos um grande número de novos equipamentos e


tecnologias que visam orientar o atleta durante todas as fases do treinamento. Apresentarei três
tipos de tecnologias que possuem a Internet como base para seu funcionamento. São eles:

• A Internet (Blogs e Comunidades Virtuais)


• Fitcasts
• Pedômetros Digitais

2.2 A Internet

A Internet é uma rede de pessoas que utilizam vários tipos e modelos de


computadores para se comunicar. Do ponto de vista da informática a Net, ou Rede – como
também é chamada – é uma rede de rede de computadores. A revolução desencadeada pela
Internet no mundo da comunicação é atribuída à capacidade de ser, ao mesmo tempo, uma
poderosa ferramenta de difusão, um mecanismo de disseminação de informação e uma mídia de
interação e cooperação entre indivíduos (PEREIRA, 1998).
A Internet atualmente conecta milhões de pessoas em todo o globo,
representando um poderoso meio de troca simbólica e comunicação interativa. Em 1995, ano
marco da disseminação da Internet, havia 16 milhões de usuários conectados em todo o mundo.
No início de 2001, já eram mais de 400 milhões espalhados por todo o mundo (PEREIRA, 2006).
Estima-se hoje que o número de usuários da Internet passe de 1 bilhão e 500 milhões de usuários
no mundo todo (IBOPE/NetRatings, 2009),
Somente no Brasil, segundo IBOBE/NetRatings (2009), o número de pessoas
de 16 anos ou mais de idade com acesso a internet foi de 43,1 milhões no terceiro trimestre de
2008. Na mesma pesquisa foi constatado que, em média, um internauta jovem no Brasil consome
mais de 2 mil páginas de internet por mês sendo que em dezembro de 2008, o tempo de
navegação do internauta residencial brasileiro foi de 22 horas e 50 minutos.
32

Segundo Pereira (2006), não podemos negar a existência de uma cultura


contemporânea marcada pelas tecnologias digitais, uma “cibercultura”. Podemos compreender a
cibercultura como a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a
cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das
telecomunicações com a informática.
O Esporte, por sua vez, serve de temática no ciberespaço. Presente em
inúmeros espaços online, a cultura esportiva também ganhou espaço nas listas de discussões, na
interatividade dos blogs, nas comunidades virtuais e em sites especializados em treinamento
esportivo.

2.2.1 Os Blogs

Weblog é uma palavra da língua inglesa composta por web (página de internet)
e log (diário de bordo), hoje mais conhecida como blog. São páginas pessoais que têm como
principal característica a publicação de textos datados, o que explica o fato dos blogs serem
também chamados de diários virtuais. A maioria deles possui espaço para comentários sobre cada
texto inserido (o post). O usuário dessa ferramenta é chamado de blogueiro (blogger, em inglês)
(SILVA, 2008).
O início do movimento dos blogs data de 1997, quando as poucas páginas
existentes desse tipo foram noemadas como “weblogs” por Jorn Barger. Em julho de 1999, é
lançado o primeiro serviço com a ferramenta gratuita para a construção de blogs próprios, o Pitas.
Em agosto do mesmo ano, a empresa Pyra lança o Blogger, que viria a popularizar o serviço de
blogs pelo mundo, pois facilitou a criação e manutenção dessas páginas aos usuários (SILVA
citando BLOOD, 2008)
Presente em milhares de sites, jornais on-line, fóruns de discussão e em outros
formatos veiculados pela Internet, o Esporte também ganhou espaço na interatividade dos blogs,
aumentando assim a possibilidade de escolha de fontes de informação por parte do cidadão
comum (PEREIRA, 2006).
33

Através do site da Technorati (www.technorati.com) é possível fazer uma busca


por blogs do mundo inteiro e pesquisando pela palavra “jogging” (correr lentamente) em inglês,
foram encontrados exatamente 10.518 blogs relacionados á Corrida de Rua. Um número
relativamente grande de fontes de informação.

Os Blogs são formas de publicação na Internet criadas facilmente por qualquer pessoa a
partir de sites que oferecem o serviço gratuitamente. A liberdade de expressão e
pluralidade de conteúdos abordados é uma marca característica. Pode-se publicar a
informação que se deseja: o diário pessoal, informações jornalísticas, emissões de áudio
(os audioblogs) ou vídeos (vlogs) e fotos (fotolog), sejam de caráter amador,
jornalístico, humorista, literário, cultural, político, esportivo e etc.. Os blogs agregam-se
ainda em comunidades, onde usuários/leitores podem comentar e adicionar
informações, ampliando a interatividade entre emissor/receptor e reconfigurando a
indústria midiática e suas práticas de produção de informação e entretenimento
(PEREIRA,2006).

Dentre os blogs que possuem como temática principal a Corrida de Rua, é


possível identificar algumas vertentes, caracterizadas de acordo com os objetivos dos autores.
Tais objetivos variam desde diários de corrida de atletas amadores, divulgação de resultados de
atletas profissionais, divulgação de datas e locais de eventos competitivos, notícias sobre o
esporte, dicas de saúde e orientação para o treinamento.
Entre os autores dos blogs sobre Corrida de Rua, encontram-se federações
estaduais como a Federação Paulista de Atletismo, atletas e ex-atletas amadores e profissionais,
revistas e sites especializados, profissionais de Educação Física, canais de TV especializados em
esporte, jornalistas e etc..
Devido à facilidade existente para a criação de um blog, qualquer um pode
escrever da maneira que bem entender sobre qualquer assunto, sendo assim a validade das
informações transmitidas deve ser colocada em cheque pelos usuários, a fim de evitar problemas
durante a prática esportiva. Antes de se utilizar uma metodologia indicada em um blog, é preciso
conhecer a procedência da informação ou então validar a mesma com um profissional
especializado no assunto.
Por outro lado, características dos blogs como abertura para contribuição,
discussão e construção coletiva podem criar caminhos para construções de novas propostas
metodológicas dentro da Educação Física, despertando olhares e vozes que possam dialogar com
a mídia esportiva de maneira crítica, autônoma e questionadora (PEREIRA, 2006).
34

Muitos blogs são mantidos por técnicos e professores conceituados, podendo


assim ser indicados pelos profissionais de Educação Física a seus atletas. Essa comunicação entre
atleta e treinador permite uma troca de mão dupla, onde não só o atleta se envolve mais com o
processo de aprendizado como o professor também pode ser surpreendido com novas
informações captadas pelo atleta, levantadas para a discussão durante a prática esportiva.

2.2.2 Comunidades Virtuais

Comunidades Sociais Online estão se tornando cada dia mais populares,


permitindo assim que usuários conversem, organizem eventos, compartilhem opiniões,
fotografias, vídeos e arquivos digitais e até façam novas amizades ou relações profissionais com
pessoas de qualquer lugar do mundo.
Segundo a concepção de Pierre Lévy, comunidades virtuais são definidas como
a aproximação de indivíduos em torno de “(...) afinidade de interesses, de conhecimentos, sobre
projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independente das
proximidades geográficas e das filiações institucionais” (SILVA, 2008 citando LÉVY,1999).
Tais comunidades estabelecem relações num espaço virtual através de meios de
comunicação à distância, se caracterizando pela aglutinação de um grupo de indivíduos com
interesses comuns que trocam experiências e informações no ambiente virtual, ou seja, a Internet.
Exemplos de Comunidades Sociais Online são o Orkut, MySpace, FaceBook,
Ning, Second Life dentre muitas outras. Cada comunidade possui objetivos em particular, que
vão desde reunir amigos a outros interesses como carreira profissional, relacionamento, estudos e
etc..
Um dos principais fatores que potencializam a criação de comunidades virtuais
é a dispersão geográfica dos membros. O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
minimizam as dificuldades relacionadas a tempo e espaço, promovendo o compartilhamento de
informações e a criação de conhecimento coletivo independente da distância entre os membros.
35

Um dos motivos que levam os usuários a utilizarem as comunidades sociais


online é a busca por informação de maneira rápida, barata e descompromissada, geralmente
disponíveis em comunidades específicas relacionadas a assuntos pré-determinados.
No caso da Corrida de Rua, os interesses dos usuários são diversos. Pesquisa e
negociação de novos equipamentos, dicas de treinamento e nutrição, divulgação de eventos,
tratamento de lesões e procura de parceiros para a prática são só alguns exemplos.
De acordo com a Information Week (2007), o Orkut é a maior comunidade
virtual utilizada no Brasil (estima-se que existam mais de 33 milhões de brasileiros cadastrados) e
possui como característica principal a possibilidade da criação de sub-comunidades ligadas a
algum tema ou assunto em particular.
Procurando pela palavra “Corrida de Rua” na busca de comunidades no Orkut,
são encontradas mais de 100 comunidades sendo a comunidade com maior número de usuários
possui 8338 usuários (busca realizada em 20/05/2009).
Dentro das comunidades é possível criar tópicos de discussão, onde todos os
usuários podem visualizar as perguntas e respostas de cada usuário, permitindo assim a troca de
informações entre os usuários e também gerando um histórico de todas as mensagens enviadas,
que podem ser acessadas todos os dias a qualquer momento.
Na maior comunidade sobre corrida de rua encontrada no Orkut, intitulada de
“Corridas de Rua e Maratonas”, facilmente encontramos tópicos relacionados a perguntas
relacionadas à saúde e ao treinamento, que deveriam ser respondidas por profissionais
especializados.

Alguns exemplos de títulos encontrados em de tópicos de discussão na


comunidade “Corridas de Rua e Maratonas” são:

“tendinite, cura até domingo?”


“Qual tênis é melhor???”
“Comecei a treinar... me ajudem!!”
“MALTODEXTRINA, qual o seu real valor? ”
“Como fazer p/ melhorar o tempo pessoal de corrida? ”
36

Sendo assim, fica claro que as comunidades virtuais também são utilizadas
como meio de obtenção de informação sobre o treinamento esportivo, incluindo a Corrida de
Rua, trazendo a necessidade da interação do profissional da Educação Física com tal meio.
É necessário conhecer o mecanismo de funcionamento das comunidades
virtuais e suas relações com os praticantes de Corrida de Rua, afim não só de estar apto para
orientar os atletas sobre seus benefícios e malefícios, mas também para avaliar a possibilidade de
uso próprio dessa nova tecnologia, que sem dúvida fará cada vez mais parte de nossas vidas.

2.3 Os Fitcasts

Com o avanço dos meios de comunicação, é possível hoje em dia transmitir


arquivos de som e vídeo pela Internet em tempo real, independente da localização do transmissor
quanto do receptor. Esse fenômeno, conjuntamente com a facilidade na aquisição de materiais de
gravação (câmeras de vídeo, microfones e etc..) e dos novos equipamentos eletrônicos moveis
capazes de armazenar e reproduzir arquivos de vídeo e sons (MP3 players e celulares, por
exemplo), contribuíram para o surgimento de séries de programas de áudio criados pelos
usuários da Internet possuidores de uma capacidade imensa de transmissão de informação,
conhecidos como Podcasts.
Podcasts são series de publicações em arquivos digitais, usualmente vídeo ou
áudio, que são disponibilizados na internet para download por usuários amadores ou
profissionais, que criam suas séries de acordo com seus assuntos de interesse. O Podcast é
genericamente análogo de uma série de TV ou de um programa de rádio, só que não é ao vivo,
como nos programas de TV e Rádio gravados.
A principal diferenciação dos Podcasts para os outros arquivos de áudio e vídeo
disponíveis na internet é a forma como os arquivos chegam aos ouvintes. Através de softwares
específicos conhecidos como PodCachers (como exemplo temos o iTunes da Apple Inc.) os
novos episódios (também chamados de programas) são identificados e transferidos
automaticamente para os computadores ou MP3 players dos usuários assim que disponibilizados
na Internet.
37

Os Podcasts podem ser produzidos por uma ou mais pessoas, neste caso em
conferência, onde temas são discutidos de acordo com a proposta do programa. Dentre os temas
discutidos encontramos os mais diversos tipos como Tecnologia, Saúde, Política, Humor e
Economia. Hoje em dia, esse formato de transmissão é muito utilizado por pessoas e empresas do
mundo todo para divulgar notícias e uma infinidade de tipos de informação. Um exemplo são
algumas universidades que começam a disponibilizar aulas neste formato para seus alunos.
O Esporte não poderia ficar de lado, sendo que sua discussão se faz presente em
muitos podcasts ao redor do globo. Essa discussão gira em torno de notícias e informações
específicas sobre o esporte em geral ou sobre modalidades esportivas específicas.
Alguns Podcasts possuem como tema principal o treinamento físico e esportivo,
chegando até a comercializar séries de treinamento, distribuídas em formato de áudio (MP3) de
acordo com os objetivos dos atletas. Esses podcasts são chamados de Fitcasts, ou seja, Podcasts
que possuem como objetivo orientar os praticantes de atividade física e esportes durante o
treinamento.
Podemos definir o Fitcast como um serviço que fornece sessões de
treinamentos em formato de áudio MP3 distribuídos através da internet, geralmente
desenvolvidos por profissionais de Educação Física,
Dentre os sites que disponibilizam Fitcasts mais populares estão os sites
americanos www.itrain.com, jogtunes.com e o australiano www.itrainer.com.au .
O site iTrain (www.itrain.com) possui como chave em sua estratégia
publicitária os profissionais que elaboram e participam na gravação dos arquivos de treino. Todos
são personal trainers localizados na cidade de Hollywood, cidade mundialmente famosa pelos
artistas que moram em suas redondezas.
No site encontram se sessões de treinos gravados em áudio e vídeo para
diversas modalidades esportivas e físicas como corrida, ciclismo, musculação, alongamento,
yoga, pilates, natação, escalada entre outras.
As sessões podem ser compradas individualmente ou em pacotes classificados
de acordo com o nível do atleta. Cada sessão é transferida para o MP3 player portátil do atleta
automaticamente e deve ser reproduzida durante o treinamento para que o atleta receba as
instruções da sessão.
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Logo no início do treino, as instruções começam a ser transmitidas passo a


passo através da voz do Personal Trainer virtual, sempre com um acompanhamento musical ao
fundo. Durante o a atividade são proferidas frases de motivação pelo orientador, que são
potencializadas pela musica de fundo, uma vez que a mesma muda de acordo com o período do
treino. As instruções para os exercícios também são disponibilizadas via vídeo e arquivos de
texto no formato PDF, contendo as posições e direções corretas para executar os movimentos.
O treinamento para Corrida de Rua é classificado em quatro tipos: Caminhada,
Trote, Corrida e Corredores de Elite e são definidos após o preenchimento de um formulário no
próprio site de acordo com a auto-percepção das condições físicas do atleta.
As perguntas presentes no formulário para definição do nível do atleta se
limitam ao local de treinamento, o nível de fitness, sexo e os objetivos do atleta. No site
recomenda-se começar com os níveis mais baixos no caso dos iniciantes.
No treinamento para a Corrida de Rua a aula inicia com uma breve explicação
dos objetivos do treino seguida de instruções para alongamento e aquecimento, acompanhados de
uma música calma e lenta.
Após os alongamentos inicia-se as atividades relacionadas à corrida, que podem
variar de longas corridas, rampas, treinos intervalados de velocidade e caminhada. Os treinos
possuem durações pré-determinadas de 20, 40 ou 60 minutos.
Durante a corrida, o instrutor passa orientações para o atleta como o ritmo da
passada, postura do corpo e principalmente palavras motivacionais, que alinhadas à música de
fundo se tornam ainda mais fortes.
Os Fitcasts do site Itrainer (www.itrainer.com) possui, além das sessões de
treinamentos distribuídas em arquivos de áudio, um calendário online onde o atleta pode
acompanhar o seu progresso e também seu planejamento de treino. Esse calendário pode ser visto
por outras pessoas também, permitindo assim que o personal trainer real do atleta possa
acompanhar o seu progresso mesmo sem estar presente no dia do treinamento do atleta.
Outra função presente no site do Itrainer é a possibilidade de solicitar lembretes
automáticos via mensagem SMS, e-mail ou até ligações telefônicas, informando quando serão as
próximas sessões e os detalhes das mesmas.
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Já o site www.jogtunes.com vende arquivos de áudio preparados para a Corrida


de Rua baseado no número de batidas por minuto de músicas e sua relação com a freqüência da
passada dos atletas durante a corrida. O site possui sessões de treinos completas onde a
freqüência das batidas começam lentas (por volta de 94 BPM), evoluem até o ponto mais alto
(cerca de 180BPM) e voltam a diminuir até o final do treino, tudo isso de acordo com o tipo do
treino selecionado e o nível do atleta.
O usuário também pode montar sua própria seqüência de músicas de acordo
com o seu treinamento. Porém para isso é preciso conhecer seu treino e saber relacionar as fases
da sessão de acordo com a freqüência das batidas das músicas. Para isso o site fornece alguns
exemplos de músicas que devem ser testados pelo atleta de acordo com as fases de seu treino.
Outro site que comercializa trilhas sonoras para corrida baseadas no BPM é o
Running Music Mix (www.runningmusicmix.com). Nele são encontrados diversos gêneros de
música como o Pop, Rock, Alternativo, New Wave, Dance e etc.. distribuídos em treinos
classificados como para caminhada ou aquecimento (135 BPM), trote (entre 135 e 155 BPM),
corrida (entre 155 e 175 BPM) e corrida forte (acima de 175 BPM). Segundo o autor do site,
todas as trilhas sonoras foram criadas por ele mesmo, um corredor amador que pratica o esporte
com fins recreacionais.
O site Run2Rhythm (http://run2r.com) também utiliza músicas para ditar o
ritmo das passadas durante a corrida comparando-as com o BPM das mesmas. A diferença é que
todas as músicas são compostas especialmente para a corrida, criadas pelo idealizador do site, o
pianista e compositor Gary Blake, que percebeu uma melhora em sua performance ao escutar
músicas enquanto treinava para o Ironman australiano de 2006.
Como as músicas que ouvia em seu MP3 player não combinavam com a
cadência de seus treinos, Blake resolveu criar suas próprias canções. Em parceria com um
professor de atletismo, trabalhou em um programa para combinar ritmos e velocidade de corrida
que variam de 150 a 171 BPM.
Apesar dos Fitcasts serem direcionados para os atletas, pois eles serão
instruídos durante o treino, podemos perceber algumas funcionalidades para os profissionais de
Educação Física como o calendário de progresso que pode ser utilizado pelo treinador para
acompanhar diversos atletas ao mesmo tempo e até mesmo a utilização de lembretes sobre a
programação dos treinos como mensagens SMS, e-mail e ligações telefônicas pré-programadas.
40

O uso de arquivos de áudio pré-gravados também podem ser utilizados por


treinadores. Esses podem ser produzidos pelo próprio treinador ou adquiridos de terceiros, após
uma avaliação prévia, sendo assim possível orientar os atletas em situações onde não é possível
estar presente, tornando possível treinar e gerenciar um maior número de atletas ao mesmo
tempo.
Devido ao alto nível de alcance que a Internet possui no mundo todo, se faz
necessário dar importância a tais metodologias de treinamento através da pesquisa cientifica,
impondo assim avaliações e reflexões acerca de seu uso e desenvolvimento.

2.4 Pedômetros Digitais

O avanço tecnológico de dispositivos eletrônicos como os celulares, MP3


Players e monitores cardíacos dedicados a corredores amadores e profissionais criou à
possibilidade do desenvolvimento de equipamentos esportivos focados no suporte a prática
esportiva, indo desde o planejamento até avaliação e acompanhamento pós-treino dos atletas.
Com a redução do tamanho dos equipamentos eletrônicos de hoje em dia e o
aumento de suas capacidades de processamento, é possível juntar diversos tipos de funções em
um só aparelho, criando assim infinitas possibilidades de uso que vão muito além dos objetivos
das primeiras versões.
Através de um pequeno pedômetro acoplado ao calçado é possível identificar o
tamanho e a freqüência da passada de um atleta, disponibilizando assim a velocidade que um
corredor esta correndo e a distância percorrida. Os monitores cardíacos portáteis possibilitam
aferir a freqüência cardíaca do atleta sem qualquer desconforto. Celulares e MP3 players
possuem capacidade de processamento e interpretação de softwares variados, permitindo assim o
surgimento de softwares criados por pessoas e empresas diferentes das produtoras dos aparelhos.
41

A fim de ilustrar o nível de complexidade e autonomia que esses equipamentos


possuem hoje em dia, descreverei através das informações contidas nos sites dos produtos, dois
pedômetros desenvolvidos especialmente para a corrida, o Nike Plus da Nike
(www.nikeplus.com) e o MiCoach, da Adidas (www.micoach.com).

2.4.1 Nike Plus e iPod

Lançado no ano de 2006 em uma união entre as empresas norte-americanas


Nike e Apple, o kit de equipamentos para corrida Nike Plus, além de informar ao atleta seu
desempenho durante a corrida, permite aos corredores ouvir músicas, gravar, armazenar e
compartilhar informações como velocidade, distância percorrida e calorias queimadas com outros
atletas em qualquer lugar do mundo através da Internet.
O equipamento consiste em duas partes principais: um pedômetro agregado a
um transmissor localizado em uma cavidade especial na sola do calçado de corrida e um iPod
(MP3 player) plugado a um receptor. O pedômetro é responsável pela coleta dos dados
referentes à freqüência da passada do atleta, distância percorrida e velocidade, sendo que todos os
dados são transmitidos em tempo real para o receptor conectado ao iPod.
Antes de iniciar a corrida, é preciso configurar o equipamento de acordo com a
estrutura física do atleta, que deve digitar sua altura, peso e o sistema de medida a ser usado. Para
calibrar o pedômetro de acordo com o estilo de corrida do atleta, é necessário andar ou correr em
uma distancia pré-definida com o aparelho em modo de calibragem de maneira que ao final da
distancia percorrida o aparelho se adapte aos padrões de corrida do atleta. Nas próximas corridas
o aparelho irá utilizar os dados captados durante a fase de calibragem para calcular o desempenho
do atleta.
Após ter calibrado o aparelho de acordo com seu padrão de corrida, o atleta
deve selecionar qual o tipo de treino que irá realizar. Existem as seguintes opções disponíveis
atualmente:
42

• Básico: nesse modo o atleta não seleciona nenhum objetivo para a sessão de treinamento,
o aparelho toca musicas e informa durante a corrida a distância percorrida, a duração,
quantidade de calorias queimadas e a freqüência da passada do atleta.

• Tempo: nesse modo o atleta seleciona um tempo de duração para a sessão, o equipamento
mantém o atleta informado (através de comandos por voz) sobre o tempo restante, ritmo,
distância, quantidade de calorias queimadas e a velocidade da corrida.

• Distância: nesse modo o atleta digita a distância que deseja correr e o equipamento passa
a informar a distância restante, a duração, o ritmo, a quantidade de calorias queimadas e a
velocidade da corrida.

• Calorias queimadas: através dos dados coletados pelo pedômetro, o equipamento calcula
quantas calorias foram queimadas pelo atleta durante a prática da corrida. Como objetivo
para a sessão de treino, o atleta pode definir uma quantidade de calorias a ser queimada e
o equipamento irá informando durante a corrida quanto falta para o atleta atingir seu
objetivo.

Além das informações sobre a corrida repassadas ao atleta, o equipamento


possui mensagens de reconhecimento pré-gravadas por atletas mundialmente famosos como
Lance Armstrong e Tiger Woods. Os reconhecimentos são realizados quando o atleta supera
alguma marca pessoal, algumas marcas pré-definidas como os primeiros 500 km.
Após terminar a sessão de corrida, o atleta pode visualizar o resumo da sessão
em seu iPod, incluindo a distância percorrida, velocidade média, total de calorias queimadas e
tempo de percurso. Com o iPod conectado a um computador, tais informações são enviadas para
o site www.nikeplus.com onde é possível visualizar todo o histórico do atleta (quantidade de
sessões, sessão mais rápida, distância total, tempo total de corrida e total de calorias gastas) e
gráficos comparativos das distâncias e tempos de cada corrida, do acumulado na semana ou no
mês.
43

Além de manter as informações referentes às sessões de treino, o site permite ao


atleta criar objetivos que serão monitorados pelo site. Dentre os objetivos disponíveis no site
estão o aumento da freqüência das sessões, correr determinado número de corridas abaixo de um
tempo pré-estabelecido ou aumentar a distância percorrida em cada sessão. A cada sessão
completa o site analisa o progresso do atleta e informa quanto já foi alcançado e quanto falta para
atingir o objetivo.
O site também permite ao atleta a criação de desafios. O atleta cria um desafio e
os outros atletas cadastrados no site podem aceitar e participar do desafio. Dentre os desafios
existentes, temos competições de quem corre determinada distância mais rápida, quem percorre a
maior distância, quem corre mais longe no período de 30 dias entre outras.
Além dos desafios criados e compartilhados na Internet, o atleta pode utilizar
outra função do equipamento como motivação durante a corrida. Chamada de “Power Song”,
uma música pode ser definida pelo atleta para ser disparada a qualquer momento do treino sob
comando do corredor. Espera-se que através dessa música o atleta possa aumentar seu ritmo ou
impor maior energia nos momentos finais da corrida, quando a exaustão geralmente acontece.
Outra forma encontrada para motivar os corredores é a existência de
comunidades virtuais que permitem a integração dos atletas através da Internet. Um exemplo é o
site Twiike (www.twiike.com), uma versão modificada do site de micro-blogging Twitter
(twitter.com) onde os dados de cada corrida do atleta são transferidos para o site e apresentados
em forma de posts contendo a data da sessão, a distância percorrida e o ritmo da corrida (Figura
3).
44

Figura 3 – Twiike de atleta contendo dados das corridas como data, distância, ritmo, etc.

O equipamento Nike Plus somente repassa ao atleta informações sobre seu


desempenho durante a sessão de corrida, não repassando assim, instruções e orientações de treino
ao atleta. Todos objetivos definidos no equipamento são definidos pelo próprio corredor, como a
distância a percorrer ou a quantidade de calorias a perder, se caracterizando assim, como um
controle automatizado do desempenho e um auxiliador para a motivação durante a corrida.
Devido as suas características de agrupamento dos dados das sessões de
treinamento, o equipamento pode ser utilizado também por treinadores profissionais que
procuram ter maior controle sob os treinos dos atletas.
Através do uso do equipamento é possível verificar se o atleta esta realmente
correndo a distância e o tempo planejado, permitindo assim uma maior autonomia ao atleta, que
não precisará do treinador presente em todos os treinos para confirmar que a atividade esta sendo
executada.
No caso do treinador possuir um grupo de atletas sob sua responsabilidade, a
ferramenta também auxilia no controle de informação dos treinos de cada um, possibilitando o
cruzamento dos dados e evitando assim um grande tempo do treinador na criação de tabelas de
controle, gráficos e etc.
45

2.4.2 Adidas MiCoach

De acordo com o site do equipamento (www.micoach.com), o MiCoach é um


sistema interativo de orientação e treinamento desenvolvido para auxiliar os corredores a atingir
seus objetivos durante a corrida.
O equipamento é formado de um aparelho de telefone celular, um monitor de
freqüência cardíaca e um pedômetro que pode ser acoplado a qualquer tênis de corrida. Os três
itens se comunicam sem a utilização de qualquer fio (wireless), medindo e gravando os dados do
corredor durante a corrida.
O monitor de freqüência cardíaca, que é acoplado em volta do peito do atleta,
transmite ao telefone celular a freqüência cardíaca do atleta durante toda a corrida. Antes de
iniciar os treinos é preciso que o aparelho identifique os padrões do atleta e para isso é necessário
executar uma corrida especial para a calibragem do equipamento. A corrida de calibragem
consiste em 1.6 km realizados na maior velocidade que o atleta consiga manter. Após ter
completado os 1.6 km o atleta deve andar por 1 minuto para que o equipamento identifique a
velocidade com que a freqüência cardíaca volte ao normal.
O MiCoach utilizará então os dados obtidos durante a corrida de calibragem
para identificar a freqüência cardíaca máxima do atleta e definir as zonas de treinamento que
serão utilizadas como parâmetro para as instruções enviadas ao atleta durante o treino.

São quatro zonas diferentes:

• Zona Azul – Treinos leves – 60 a 75% da freqüência cardíaca máxima.


• Zona Verde – Resistência – 75 a 85% da freqüência cardíaca máxima.
• Zona Amarela – Força – 85 a 90% da freqüência cardíaca máxima.
• Zona Vermelha – Explosão – 90 a 95% da freqüência cardíaca máxima.

O pedômetro acoplado ao sapato de corrida coleta informações sobre o padrão


da passada, a distância percorrida e a velocidade do atleta durante a corrida. O pedômetro possuiu
a capacidade de identificar os dados sobre as passadas do atleta independente do tipo de terreno e
46

da inclinação do mesmo, porém é recomendado que antes de iniciar a corrida seja feita uma
calibragem do aparelho através de uma corrida com mais de 800 metros.
O telefone celular toca músicas no formato MP3, que podem ser definidas para
tocar durante a corrida de acordo com a intensidade ou o tempo de prática. O aparelho também
fornece instruções ao atleta em tempo real, indicando o momento de aumentar ou diminuir a
velocidade, manter a freqüência cardíaca na zona ideal, repousar entre diversas outras instruções
que variam de acordo com os objetivos do treino. Essas instruções são baseadas no cruzamento
do tipo de treino definido pelo atleta e as informações captadas pelo monitor de freqüência
cardíaca localizado ao redor do peito do corredor e do pedômetro acoplado ao calçado do atleta.
Antes de iniciar a corrida com o equipamento, é preciso que o atleta defina
quais são os objetivos de treino, selecionando no site do equipamento um dentre os programas de
treinamento pré-definidos.
Cada programa de treinamento é baseado em um nível de dificuldade e
freqüência semanal, visando atingir os objetivos do atleta mesclando atividades que utilizam as
quatro zonas de freqüência cardíaca definidas durante a fase de calibragem do equipamento.

Dentre os programas de treinos disponíveis, o atleta possui as seguintes opções:

• Aprenda a correr: O programa visa os atletas novatos, começando com treinos de


corrida livre com 5 minutos de duração. Durante o programa o atleta irá aprender os
conceitos básicos sobre freqüência cardíaca e terminologias próprias da corrida.

• Fique em Forma: O programa visa melhorar a capacidade cardíaca do atleta, atingindo


pela primeira vez as zonas amarela e vermelha através de sprints de velocidade
intervalados. Ao final do programa, o atleta deverá estar apto a correr por mais de 60
minutos dentro da zona verde.

• Perca peso: O programa de redução de peso visa o aumento de energia e saúde do atleta
através de treinos aeróbicos iniciando com atividades de caminhada de 5 a 30 minutos de
duração e desenvolvendo se até corridas com duração de até 50 minutos dentro da zona
amarela.
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• Redução de stress: O programa consiste em cinco níveis contendo dez sessões de treino
com duração máxima de 30 minutos cada. O objetivo é relaxar o atleta através de
atividades que vão desde caminhadas de 10 a 15 minutos na zona verde (nível um) até
treinos intervalados com sprints de velocidade e caminhada com duração de 30 minutos.

• Corra uma Corrida: Este programa visa treinar o atleta para correr provas competitivas
de corrida de rua. Existem quatro tipos de provas que são abordadas pelo programa:
corrida de 5 km, corrida de 10 km, meia maratona e maratona.

O programa de treinamento para a corrida de 5 km possui três níveis sendo que


o primeiro que o atleta percorra 5 km correndo ou andando e o último nível tem como objetivo
deixar o atleta apto para correr os 5 km em menos de 31 minutos com um ritmo de 6 a 12
min/km.
Para a corrida de 10 km, o programa de treinamento também possui três níveis
de dificuldade sendo que o atleta só deve iniciar o programa caso ele consiga correr por mais de
20 minutos ininterruptos.
Ao final do programa para a corrida de 10 km o atleta deve estar apto a
completar a prova abaixo de 55 minutos, utilizando as zonas azul, verde e amarelo durante a
atividade.
O programa para meia maratona possui 249 sessões de treinamento distribuídas
ao longo de 51 semanas. São três níveis diferentes e ao final do programa o atleta deve estar apto
a correr uma meia maratona em menos de 1 hora e 45 minutos.
O programa de treinamento para a maratona possui uma kilometragem média
de 48 km por semana distribuídos em 181 sessões de treinamento ao longo de 37 semanas. Ao
fim do programa o atleta deve estar apto a completar a prova em menos de 3 horas e 30 minutos.

• Termine mais rápido: Esse é o programa mais avançado do equipamento e visa correr as
provas de 5 km, 10 km, maratona e meia maratona com um alto desempenho.
48

Após o treinamento o atleta deve estar apto a correr 5 km em menos de 24


minutos, 10 km em menos de 50 minutos, correr uma meia maratona em menos de 1 hora e 30
minutos e a terminar uma maratona em menos de 3 horas e 20 minutos.
Após definir qual seu objetivo, o equipamento criará um planejamento de treino
incluindo as datas para cada sessão e os detalhes das mesmas. O atleta pode inserir notas,
comentários e dados manualmente, além de alterar as datas de início, o número de sessões por
semana e os dias específicos para cada sessão.
Após o término de cada sessão de treino, o atleta deverá transferir as
informações coletadas pelo celular para o site do equipamento onde os dados serão analisados e
repassados em formas de gráficos e tabelas, indicando em que tipo de atividade o atleta deve
focar para atingir as metas.
Entre as informações analisadas, encontra-se a distância percorrida, quantidade
de calorias queimadas, tempo em cada zona cardíaca, tempo total de treino, freqüência cardíaca e
ritmo da passada. O atleta pode mesclar as informações em gráficos únicos a fim de comparar as
informações coletadas.
Ainda a opção de definir a rota utilizada em um mapa virtual, tornando possível
ao atleta correr a mesma rota novamente no futuro.
De acordo com as normas de uso do equipamento, todos os programas de
treinamento foram desenvolvidos por profissionais qualificados e técnicos especializados
baseados nas pesquisas cientificas mais recentes.
É citada também a necessidade de realizar um check-up médico antes de iniciar
as atividades e que as informações sobre as características físicas e de saúde do atleta podem não
estar corretas, uma vez que o próprio atleta é responsável por apontar tais informações.
Ainda nas normas de uso, os atletas são orientados a alongar e aquecer
previamente ao exercício e para que durante a corrida o atleta de atenção especial aos sinais de
seu corpo como dor, cansaço, falta de ar ou qualquer outra situação fora do comum. Nesses casos
recomenda-se ao atleta parar o treino imediatamente.
Por fim, as normas de uso deixam claro que ao treinar, o atleta assume todos os
riscos inerentes a prática.
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Considerações Finais

Este trabalho pretende apontar os caminhos que a evolução dos materiais


esportivos vem tomando nos últimos anos em relação à Corrida de Rua, transformando os
equipamentos de simples utensílios de treino para equipamentos orientadores que influenciam na
prática esportiva de maneira significativa.
O principal objetivo desta pesquisa foi de apresentar e despertar o interesse dos
profissionais do esporte para essas novas tendências, uma vez que essas se tornam cada dia mais
comuns entre os praticantes de corrida nas ruas, clubes e praças esportivas.
É preciso estar atento aos benefícios e malefícios de cada equipamento
esportivo, não só para melhor orientar os atletas, mas também para melhorar os métodos e
controles utilizados nos treinos ministrados.
Com o aumento significante do número de praticantes de Corrida de Rua nos
últimos anos, grandes empresas investem forte em novos produtos esportivos, cada vez mais
avançados e completos. Ao lançamento de cada novo produto, milhares de dólares são gastos em
marketing e propaganda, que devido as facilidades de comunicação dos tempos atuais, atingem
grande parte da população fazendo com que o novo se torne velho cada vez mais rápido.
São diversos os novos tipos de equipamentos que surgem a cada dia ao redor do
mundo, sendo que muitos deles possuem como objetivo orientar os atletas durante a prática da
corrida, dando assim a idéia de que o profissional de Educação Física não é mais necessário no
processo de aprendizado e aprimoramento deste esporte.
Alguns desses equipamentos utilizam como base para seu funcionamento a
Internet, um fator atrativo para as novas gerações de adolescentes que nasceram e cresceram
acostumadas aos conceitos dessa era digitalizada.
A fim de evitar que o profissional de Educação Física pareça desatualizado e
mal informado diante dessas novas gerações, é preciso que um conhecimento mínimo dessas
novas tecnologias e suas relações com os princípios científicos do treinamento esportivo seja
construído durante o desenvolvimento do profissional por toda sua carreira.
50

É preciso estabelecer uma conexão permanente com os canais de comunicação


relacionados a tais tecnologias e equipamentos, para que seja possível a formação de uma base de
conhecimento crítico e atualizado por parte do Educador Físico.
51

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