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OS PRIMEIROS PASSOS EM FISIOLOGIA

DO EXERCÍCIO: BIOENERGÉTICA,
CARDIORRESPIRATÓRIO E GASTO
ENERGÉTICO

AUTORES
GUSTAVO ALLEGRETTI JOÃO
AYLTON FIGUEIRA JUNIOR
OS PRIMEIROS PASSOS EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO:
BIOENERGÉTICA, CARDIORRESPIRATÓRIO E GASTO
ENERGÉTICO
Conselho Regional de Educação Física
da 4a Região – CREF4/SP

Conselheiros
Ailton Mendes da Silva
Antonio Lourival Lourenço
Bruno Alessandro Alves Galati
Claudio Roberto de Castilho
Erica Beatriz Lemes Pimentel Verderi
Humberto Aparecido Panzetti
João Francisco Rodrigues de Godoy
Jose Medalha
Luiz Carlos Carnevali Junior
Luiz Carlos Delphino de Azevedo Junior
Marcelo Vasques Casati
Marcio Rogerio da Silva
Marco Antonio Olivatto
Margareth Anderáos
Maria Conceição Aparecida Conti
Mário Augusto Charro
Miguel de Arruda
Nelson Leme da Silva Junior
Paulo Rogerio de Oliveira Sabioni
Pedro Roberto Pereira de Souza
Rialdo Tavares
Rodrigo Nuno Peiró Correia
Saturno Aprigio de Souza
Tadeu Corrêa
Valquíria Aparecida de Lima
Vlademir Fernandes
Wagner Oliveira do Espirito Santo
Waldecir Paula Lima
Gustavo Allegretti João
Aylton Figueira Junior

OS PRIMEIROS PASSOS
EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO:
BIOENERGÉTICA, CARDIORRESPIRATÓRIO
E GASTO ENERGÉTICO

2019
Comissão Especial da Coleção Literária 20 anos
da Instalação do CREF4/SP
Responsáveis, junto a diretoria do CREF4/SP, pela avaliação, aprovação e revisão
técnica dos livros
Prof. Dr. Alexandre Janotta Drigo (Presidente)
Profa. Ms. Érica Beatriz Lemes Pimentel Verderi
Prof. Dr. Miguel de Arruda

Editora Revisão
Malorgio Studio Cecília Hamm

Coordenação editorial Imagens de capa


Paolo Malorgio Freepik.com

Capa Projeto gráfico e diagramação


Felipe Malorgio Rodrigo Frazão

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971

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Telefone: (11) 3292-1700
crefsp@crefsp.gov.br
www.crefsp.gov.br
Sumário

Apresentação ..............................................................................................................7

Fisiologia do exercício ..............................................................................................9


Conceituando uma linda área de estudo? .......................................................9

Metabolismos: aeróbico e anaeróbico .................................................................13


Vias metabólicas ................................................................................................13
Macronutrientes associados aos metabolismos ............................................20
Carboidratos ....................................................................................................20
Gordura ...........................................................................................................23
Proteínas.........................................................................................................26

Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço ............................................33


O que é VO2?.....................................................................................................33
Função respiratória (pulmonar) .......................................................................34
Transporte de oxigênio ....................................................................................35
Transporte de dióxido de carbono ...................................................................36
O que é VO2 máximo? VO2 máximo absoluto e relativo tem diferença?
VO2 máximo vs. VO2 pico? .........................................................................36
Fatores determinantes VO2 máximo? .............................................................38
Fatores limitantes do VO2 máximo? ...............................................................41

Consumo de oxigênio pós o esforço e taxas metabólicas basal e de repouso ...47


Taxa metabólica de repouso e taxa metabólica basal ...................................47
Consumo de oxigênio pós-esforço ..................................................................49

Termorregulação & alterações hormonais durante o exercício ......................53


Homeostasia .......................................................................................................53
Retroalimentação ...............................................................................................54
Regulação da temperatura corporal ...............................................................55

5
Avaliação do VO2 máximo ...................................................................................61
Limiar aeróbico e anaeróbico...........................................................................62
Avaliação do VO2 máximo sem teste de esforço físico ...............................63
Avaliação do VO2 máximo com testes de campo ........................................66
Avaliação do VO2 máximo (preditor) com testes com ergômetros
(máximos e submáximos) .............................................................................68
Protocolo de ellestad estimativa do consumo de oxigênio ...............................69
Protocolo de velocidade do consumo de oxigênio máximo .............................69
Protocolo de ãstrand ........................................................................................70
Prescrição do exercício utilizando os valores do teste de esforço ..............73

Gasto calórico vs exercício.....................................................................................85


Consumo de oxigênio e mensuração da produção de energia ...................85
Equivalência metabólica de trabalho (met) ...................................................88

Referências bibliográficas ........................................................................................95


Apresentação

Esta é a segunda coleção literária que o Conselho Regional de Educação


Física da 4ª Região - CREF4/SP lança, dessa vez para comemorar os 20 anos da
sua instalação. O fato histórico de referência é a Resolução 011 de 28 de outubro
de 1999, publicada pelo CONFEF, que fixou em seis, o número dos primeiros
CREFs e, entre eles, o CREF4/SP, com sede na cidade de São Paulo e jurisdição
em nosso Estado.
Nesse momento, remeto-me à luta que antecedeu essa conquista, e que se
iniciou com a “batalha” pela regulamentação de nossa profissão, marcada pela
apresentação do Projeto de Lei nº 4.559/84, mas que somente foi efetivada pela
Lei 9.696/98, passados 14 anos do movimento inicial no Congresso Nacional.
Logo após essa vitória histórica, a próxima contenda foi a de atender aos requisi-
tos estabelecidos pelas normas do CONFEF para a abertura de nosso Conselho,
que à época exigia o registro de 2 mil profissionais. Com muito orgulho me lem-
bro da participação de minha cidade natal - Rio Claro - neste contexto, por meio
do trabalho iniciado pelo Prof. José Maria de Camargo Barros, do Departamento
de Educação Física da UNESP. Vários professores e egressos dos Cursos se mo-
bilizaram para inscreverem-se e buscarem novas inscrições em nossa cidade,
tarefa na qual me incluí, tendo número de registro 000200-G/SP.
Atualmente o CREF4/SP é o maior Conselho Regional em número de regis-
trados, com uma sede que, além de bem estruturada, está bastante acessível aos
Profissionais que se direcionam para a capital, estando próximo às estações de
metrô São Bento e Anhangabaú. Também conta com a Seccional de Campinas
bem aparelhada e atuante em prol da defesa da sociedade e atendimento aos
Profissionais de Educação Física. Tudo isso demonstra que esses 20 anos foram
de muito trabalho e empenho para a consolidação de nossa profissão, e assim
destaco a força de todos os Conselheiros do passado e do presente e dos valo-
rosos empregados que ajudaram a construir esta realidade.

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Por isso insistimos em comemorar, agora os 20 anos do CREF4-SP, ofere-
cendo aos Profissionais de Educação Física, aos estudantes, às instituições de
formação superior, bibliotecas e à sociedade uma nova Coleção Literária com-
posta de 20 obras, uma para cada ano do aniversário. Buscamos permanecer
“orientando o exercício profissional, agindo com excelência, justiça e ética”,
uma das missões de nosso Conselho.
Enquanto Presidente do Conselho Regional de Educação Física da 4ª
Região (CREF4/SP) apresento a Coleção Literária em Comemoração aos 20 Anos da
Instalação do CREF/SP, composta por livros que procuraram acolher as neces-
sidades do campo profissional, atendendo o quesito de diversificação de con-
textos e de autores, priorizando temas inéditos em relação ao que vem sendo
produzido por este Conselho.
O faço na esperança de que os Profissionais de Educação Física leitores
dessas obras demostrem o mesmo empenho e amor pela profissão que seus
próprios autores dedicaram, oferecendo seu tempo e cedendo os direitos au-
torais dessa edição, tanto em relação ao livro físico quanto à versão digital de
forma voluntária. Com esse gesto entram em conformidade com os pioneiros
do CREF4/SP que assim o fizeram, e de certa forma ainda fazem, afinal não é
por acaso que nosso lema atual é: “Somos nós, fortalecendo a profissão!”
Parabéns para nós Profissionais de Educação Física do Estado de São Paulo.

Nelson Leme da Silva Junior


Presidente do CREF4/SP
Fisiologia do exercício

Conceituando uma linda área de estudo?


A fisiologia do exercício pode ser entendida como todos os processos fi-
siológicos que ocorrem no corpo humano durante o esforço (GARBER et al.,
2011; SWAIN, 2000). Tais processo fisiológicos exigem do nosso corpo deman-
da energética de aproximadamente 15-20 vezes acima do valor de repouso.
Além da demanda energética, temos os ajustes cardiovasculares, pulmonares,
circulatórios e metabólicos como parte desse processo. Dessa forma, o nosso
organismo deve ser ajustado rapidamente ao aumento da demanda em curto e
médio período de tempo (efeito agudo e efeitos subagudos). Essa exigência em
curto e médio período de tempo faz com que o nosso organismo torne alguns
desses mecanismos fisiológicos mais eficientes ao longo do tempo (efeito crôni-
co) (HAWLEY et al., 2014; SWAIN, 2000).
Tanto os efeitos agudos/subagudos quanto os efeitos crônicos estão associa-
dos ao tipo de esforço realizado. A atividade física pode ser definida como qual-
quer gasto energético acima do repouso em função da contração muscular. Dessa
forma, podemos entender que qualquer movimento muscular gera gasto calóri-
co acima de valores de repouso, por exemplo, limpar a casa exige uma demanda
de energia (gasto calórico) acima do valor de repouso. No entanto, quando pen-
samos em atividade física frequentemente associamos aos exercícios. Contudo,
por definição, exercícios são atividades programadas, sistematizadas com metas
e objetivos pré-estabelecidos (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
Quando falamos de metas e objetivos dos exercícios estamos falando indi-
retamente da prescrição, que podemos definir como manipulação das variáveis
de volume e intensidade a fim de atingir as metas e os objetivos.
Por exemplo, quando perguntamos a um indivíduo que está acima do
peso corporal ideal qual é o seu objetivo, o mesmo responderá que o seu

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Os primeiros passos em fisiologia do exercício

objetivo é reduzir o seu peso corporal e sua meta (a ser alcançada) será de,
por exemplo, 10 kg. Dessa forma, devemos manipular de forma correta as
variáveis de volume e intensidade para alcançarmos a meta do indivíduo e,
consequentemente, seus objetivos.
Parece fácil realizar a prescrição do exercício agora que sabemos a meta e o
objetivo do indivíduo, mas qual exercício o indivíduo deve realizar para alcançar
mais rápido sua meta? A resposta é bem simples: todos os exercícios podem ser
prescritos para alcançar essa meta. O motivo para essa resposta ser bem simples
está no fato que todos os exercícios podem ser prescritos, pois o importante nesse
momento não é o tipo de exercício associado ao metabolismo, a execução me-
cânica do movimento e/ou aos benefícios musculares que os exercícios podem
acarretar. Todos os exercícios podem ser prescritos, pois o que os diferenciam
na prescrição será a dose-resposta, e não o tipo do exercício. A dose-resposta
do exercício pode ser definida como a manipulação das variáveis (volume, fre-
quência e intensidade) para um determinado objetivo e meta (LOPES et al., 2017;
SCHOENFELD et al., 2014; SCHOENFELD; OGBORN; KRIEGER, 2017).
Portanto, quando um indivíduo vai ao médico e se queixa de dor de gar-
ganta, o médico examina e prescreve o tratamento, por exemplo, 75mg de an-
ti-inflamatório de 8h em 8h durante 7 dias. O médico acabou de realizar uma
prescrição de dose e reposta a uma enfermidade, para a qual 75mg representa
a intensidade do medicamento, 8h em 8h a frequência e 7 dias a duração do
tratamento, ou seja, intensidade, frequência e volume.
No caso do Profissional de Educação Física, quando um indivíduo está aci-
ma do peso corporal devemos então prescrever exercício, mas o exercício em
si não é o fator determinante para alcançar os objetivos e as metas. O fator de-
terminante será a dose e a resposta que será aplicada àquele indivíduo. Nesse
contexto, os exercícios podem ser diferentes em relação à sua execução, ao ma-
terial utilizado e até ao seu objetivo e meta, mas, por outro lado, podem exigir
demandas fisiológicas iguais.
Por exemplo, esteira (andar ou correr), bicicleta ou elíptico, são exercícios
com características de movimentos diferentes, mas geram ajustes fisiológicos
semelhantes caso sejam realizados com a mesma dose e para os mesmos objeti-
vos e metas. Portanto, quando falamos em exercícios devemos levar em consi-
deração suas variáveis de volume, frequência e intensidade.
Dessa forma, um indivíduo pode emagrecer realizando frequência de
treinamento de 2 vezes na semana, andando na esteira à 6 km/h durante 1
hora, mas também pode realizar a mesma frequência semanal de 2 vezes por
semana, mas ao invés de andar ele correrá à 12 km/h durante 30 minutos. A
pergunta será: qual dessas prescrições podem levar o indivíduo a alcançar

10
Fisiologia do exercício

seus resultados mais rapidamente? Com certeza, nesse momento muitos


devem ter pensado na segunda opção (correr à 12 km/h durante 30 minu-
tos) em comparação com a primeira opção (andar à 6 km/h durante 1 hora).
Ficarão surpresos ao dizer que ambas as prescrições, correr à 12 km/h durante
30 minutos ou andar à 6 km/h durante 1 hora, tem a mesma dose-resposta.
Portanto, o produto final será de ambos será de 6 km percorridos e a longo
prazo o resultado será o mesmo associado ao emagrecimento e gasto calórico
do indivíduo, por exemplo.
É provável que muitos ainda devem estar se questionando, como seria
possível duas prescrições tão diferentes em relação ao volume e intensidade
trazerem os mesmos resultados. Como mencionado inicialmente, o importante
não é o exercício, ou uma variável isolada e sim a combinação das variáveis que
determinará o resultado final.
Dessa forma, andar a 6km/h durante 1 hora ou correr o dobro de velo-
cidade da primeira prescrição (à 12 km/h) na metade do tempo, ou seja, 30
minutos trará os mesmos resultados. Qual é o melhor exercício para desen-
volver força muscular para o músculo do peitoral? Muitos alunos/praticantes
responderão afirmando que é o exercício supino reto. Então qualquer pessoa
deitada em um banco reto segurando um cabo de vassoura para realizar o
movimento articular do exercício supino reto desenvolveria o peitoral? A res-
posta com certeza é não, pois será necessária uma sobrecarga adequada para
desenvolver esse grupo muscular. Portanto, o exercício não é o fator determi-
nante, e sim a dose-resposta do exercício que será determinante para alcançar
as metas e objetivos desejados.
Ainda nesse contexto, existe grande discussão em relação ao emagrecimen-
to associado a correr na esteira, correr na rua, ciclo ergômetro, subir escada,
elíptico entre outros exercícios disponíveis em academias de todo o mundo.
Seguindo a ideia de que o exercício não é o determinante, o exercício que
mais auxilia no emagrecimento será aquele através do qual a dose-resposta for
maior e não o tipo de exercício. Outro aspecto importante nesse processo de
ajuste fisiológico e dose-resposta do exercício é a demanda enérgica.
Para manter a demanda energética adequado para o exercício, o nosso or-
ganismo utiliza diversos alimentos que contêm nutrientes com funções bio-
lógicas que serão transformados em substratos energéticos para o trabalho
celular (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Dessa forma, podemos definir o
trabalho celular como o metabolismo de todas as células.
O corpo humano utiliza material orgânico como carboidratos, proteínas e
gorduras (macronutrientes) e transforma seus substratos glicose, aminoácidos
e triacilglicerol em energia química para ser utilizado pela célula sempre que

11
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

necessário, como por exemplo, para realizar contrações musculares, ou sim-


plesmente para manter funcionando o nosso organismo durante o período de
baixo esforço e repouso.
Todos os alimentos e seus substratos energéticos são transformados pelo
nosso organismo em uma única moeda energética quimicamente chama-
da de adenosina trifosfato – ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016;
MACDOUGALL et al., 1998; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; ROBERGS,
2004). O motivo para que o nosso organismo faça isso é muito simples: se o
organismo tivesse que, a todo momento, processar diversas moedas enérgicas
diferentes haveria uma grande confusão e isso tornaria nosso organismo muito
lento. Seria a mesmo que se chegassem em uma loja de conveniência vários
estrangeiros para comprar uma garrafa de água, mas cada um desejasse pagar
com sua moeda de origem ao invés da moeda local. O vendedor teria que ter
diversas moedas de diferentes países para fornecer o troco adequadamente.
Portanto, daqui em diante discutiremos como o nosso organismo ressin-
tetiza o ATP gasto durante o trabalho celular conhecido como metabolismo
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

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Metabolismos:
aeróbico e anaeróbico

Vias metabólicas
Para melhor compreendermos o metabolismo, devemos compreender prin-
cípios básicos da bioenergética e das vias metabólicas.
Em repouso, em atividade, durante o sono ou acordado é preciso ener-
gia para manter as funções corporais. No entanto, quando praticamos ati-
vidades físicas, os músculos precisam de energia para gerar a força que
produz os movimentos corporais. Dessa forma, os nutrientes orgânicos con-
sumidos na forma de alimentos constituem as principais fontes de energia
(combustível) que abastecem o corpo humano. As fontes de energia consu-
midas na forma de alimentos (nutrientes) são convertidas em substratos,
possibilitando assim que o organismo absorva compostos orgânicos e que
as células do nosso corpo os transformem em energia química por meio
das vias metabólicas, que será utilizada pelo nosso corpo para manutenção
do metabolismo ou gerar energia necessária para qualquer atividade física
(MACDOUGALL et al., 1998; PARRA et al., 2000; GASTIN, 2001; ROBERGS
et al., 2004; HUG et al., 2005; BURGOMASTER et al., 2006; CHANCE et al.,
2006; VOLP et al., 2011).
O processo químico de conversão do alimento em energia é denomina-
do em bioenergética. Esse processo é similar em muitos aspectos ao uso de
qualquer fonte de energia como por exemplo carvão ou gasolina para forne-
cer energia a uma máquina em funcionamento. No corpo humano, quando os
substratos energéticos (glicose, ácido graxo e aminoácido) dos macronutrientes
(carboidrato, gordura e proteínas) são quebrados, liberam energia contidas em
suas ligações químicas tornando-a em energia mecânica, resultando nas con-
trações musculares (GASTIN, 2001; ROBERGS et al., 2004; HUG et al., 2005;
BURGOMASTER et al., 2006; CHANCE et al., 2006; VOLP et al., 2011).

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Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Conforme mencionamos ao final do capitulo I, todos os substratos ener-


géticos (glicose, triacilglicerol e aminoácido) são transformados em uma úni-
ca moeda enérgica aceita por todo nosso organismo chamada adenosina tri-
fosfato (ATP) (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MACDOUGALL et
al., 1998; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; ROBERGS, 2004).
Nosso organismo, com objetivo de facilitar os processos metabólicos,
criou uma única moeda identificada por ATP. A adenosina trifosfato con-
tém ligações ricas em energia de uma adenina e ribose a três fosfatos. Cada
vez que o nosso organismo consegue quebrar (hidrolisar) 1 ATP, o mesmo
liberará essa energia química armazenada em suas ligações. Temos uma
pequena quantidade de ATP intracelular que corresponde a aproximada-
mente 20 mmol/kg/músculo. Portanto, o nosso organismo deve encontrar
uma forma de realizar ressíntese do ATP que foi depletado pela demanda
energética (ROBERGS, 2004).
Contudo, para que algumas reações químicas aconteçam e produzam ATP
é necessária quantidade suficiente de oxigênio. Quando temos disponibilida-
de suficiente de oxigênio, obtemos energia pelo metabolismo aeróbico. No
entanto, ainda é possível produzir ATP mesmo quando não houver quantida-
des suficientes de oxigênio. Dessa forma, quando a produção de ATP ocorrer
sem a presença de oxigênio o metabolismo é anaeróbico. O metabolismo
anaeróbico pode ser subdividido em dois: alático e lático (GASTIN, 2001;
JUEL et al., 2004; ROBERGS et al., 2004; HUG et al., 2005; BURGOMASTER et
al., 2006; CHANCE et al., 2006).
A primeira via metabólica faz parte do metabolismo anaeróbico, ou seja,
sem a presença suficiente de oxigênio para gerar energia. Outro fator interes-
sante é que essa via metabólica também é conhecida como alático, ou seja, não
forma lactato como subproduto final. Portanto, o nosso organismo utiliza a
via chamada ATP-CP ou sistema fosfagênio como primeira via energética com
objetivo de ressintetizar ATP. Para que isso ocorra, essa via utiliza a fosfocrea-
tina (Creatina + Fosfato inorgânico – CP + Pi) armazenada dentro do músculo
em pequenas quantidades de aproximadamente 80 mmol/kg/músculo, e, por
meio da enzima creatinaquinase, depleta a fosfocreatina liberando seu fosfa-
to rico em energia e ressintetizando o ATP utilizado (ADP ATP) (GASTIN,
2001; CROWTHER et al., 2002; LEBLANC et al., 2004; ROBERGS et al., 2004;
MEIRELLES et al., 2004; GRASSI, 2005; HUG et al., 2005; BURGOMASTER et
al., 2006; CHANCE et al., 2006; SCOTT, 2011b).

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Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

Figura 1
Sistema Fosfagênio (ATP-CP)

Fonte: adaptado de (POWERS; EDWARD, 2014).

Nosso organismo não é capaz de armazenar grandes quantidades de


creatina fosfato no músculo, invariavelmente somos capazes de manter o
esforço por aproximadamente 10-15 segundos com predominância des-
sa via metabólica. Dessa forma, essa via metabólica sustenta atividades
de alta intensidade e curta duração, por exemplo, prova de 100 metros no
atletismo, levantamento de peso olímpico, 50 metros na natação entre ou-
tras (BUITRAGO et al., 2013; CHRISTOPHER B. SCOTT, 2018; FRY, 2004;
MACDOUGALL et al., 1998).
A via metabólica seguinte é a chamada de via glicolítica do metabolismo
anaeróbico lático, na qual ocorre a formação de lactato como seu subproduto
final. Essa via metabólica utiliza o substrato energético glicose (C6-H12-O6) para
restaurar o ATP (GRASSI, 2005; MACDOUGALL et al., 1998).
Essa via metabólica tem duas fases importantes e distintas, sendo a primei-
ra de investimento de energia e a segunda fase de ganhos “lucro”. Na primeira

15
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

fase, o nosso organismo investe energia para posteriormente ganhar. Dessa


forma, 1 molécula de glicose será inicialmente quebrada em dois gliceroldeído-
-3-fosfato, e para que isso ocorra, é necessário o investimento de 2 ATPs. Note
que a molécula de uma (1) glicose foi dividida em duas, o que será importante
para o salto final em ATPs. Após a fase de investimento, iniciamos a fase mais
importante do ciclo que são os “lucros”. Dessa forma, a partir de cada molécula
de gliceroldeído-3-fosfato teremos 2 moléculas de piruvato e durante esse pro-
cesso metabólico serão produzidos 2 ATPs por gliceroldeído-3-fosfato. Como
cada 1 molécula de glicose gera 2 gliceroldeído-3-fosfato, então o saldo final
será de 4 ATPs (CROWTHER et al., 2002; ROBERGS, 2004).

Figura 2
Cascata metabolica via Glicolíca

Fonte: adaptado de (POWERS; EDWARD, 2014).

A via metabólica glicólica não rende muitos ATPs, ou seja, ao final de


seu processo metabólico temos o saldo de apenas 2 ATPs, pois utilizamos
2 ATPs para iniciar o ciclo na fase de investimento. Portanto, ao final do
ciclo o saldo de 4 ATPs na verdade será de 2 ATPs. Mas a via glicolítica faz
outro papel muito importante, gerando alguns NADH. O NAD (nicotina-
mida adenina dinucleotídeo) são carregadores de elétrons (energia), que

16
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

têm um papel importante no final do processo metabólico. Portanto, a via


glicolítica gerou poucos ATPs (2 ATPs), mas gerou também 2 NADH e 2
Piruvatos (C3-H4-O3). Podemos notar que essa via também gera pouca ener-
gia (2 ATPs) por molécula de glicose. Dessa forma, essa via metabólica sus-
tenta atividades de curta duração, mas por outro lado, em alta intensidade
(MACDOUGALL et al., 1998; PARRA et al., 2000; CROWTHER et al., 2002;
ROBERGS et al., 2004; GRASSI, 2005; HUG et al., 2005; BURGOMASTER et
al., 2006; CHANCE et al., 2006).
A via metabólica seguinte é a que gera a maior quantidade de ressín-
tese de ATP e faz parte do metabolismo aeróbico por utilizar o oxigênio
disponível para gerar energia. Essa via é conhecida via oxidativa e/ou ca-
deia respiratória e está associada ao ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs
(KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH,
2016; ROBERGS, 2004).
A partir de cada piruvato, quando há oxigênio suficiente presente, segui-
mos para o metabolismo conhecido como aeróbico. Quando falamos em pre-
sença suficiente de oxigênio, entende-se como quantidade adequada de oxi-
gênio chegando na célula muscular. Dessa forma, o oxigênio que respiramos
durante o exercício está tendo tempo hábil entre captação, consumo e absorção.
Para que isso aconteça, o exercício não pode ser de alta intensidade, mas, por
outro lado, pode ser de longa duração (BURGOMASTER et al., 2006; CHANCE
et al., 2006; FURBER et al., 2017; GASTIN, 2001; GRASSI, 2005; HUG et al., 2005;
JUEL, 2003; KAPLAN, 2001; LEBLANC et al., 2004; ROBERGS, 2004).
Seguindo o ciclo a partir de cada piruvato, com a presença de oxigênio
o piruvato entra no ciclo de reações químicas dentro da matriz mitocondrial
chamado ciclo de Krebs (homenagem ao fisiologista que o descobriu, Hans
Krebs), no qual o piruvato será oxidado (perderá energia) gerando muitos 4
NADH, 1 FADH (flavina adenina dinucleotídeo, carregador de elétron, mas
com menor capacidade em comparação ao NAD) e 1 ATP (1 GTP, gonina
trifosfato, mas o nosso organismo converte rapidamente a gonina em adeni-
na). Além disso, serão retiradas do nosso organismo 3 moléculas de carbono
por meio da respiração pulmonar eliminando dióxido de oxigênio (CO2)
de cada piruvato (C3-H4-O3). O metabolismo anterior gerou 2 piruvatos, e,
dessa forma, teremos o saldo final de 8 NADH, 2 FADH e 2 ATPs. Notem
que o ciclo de Krebs gerou poucos ATPs (apenas 2), mas, por outro lado,
oxidou por completo a molécula de glicose e gerou muita energia contida
agora nos NADH e FADH (BURGOMASTER et al., 2006; CHANCE et al.,
2006; FURBER et al., 2017; GASTIN, 2001; GRASSI, 2005; HUG et al., 2005;
JUEL, 2003; KAPLAN, 2001; LEBLANC et al., 2004; ROBERGS, 2004).

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Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 3
Ciclo de krebs

Fonte: adaptado de (POWERS; EDWARD, 2014; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Essa energia contida nos NADH e FADH serão atraídas pelo oxigênio
dentro da matriz mitocondrial e liberadas entre as membranas interna e
externa da mitocôndria por meio do complexo ubiquinona I, II, III, IV, car-
regador fosfato e enzima ATP sintetase (em alguns livros ATP sintetase).
O NADH e o FADH liberam sua energia e com isso a enzima ATP sinteta-
se será acionada ressintetizando o ADP ao juntar 1 fosfato inorgânico (Pi).
Cada NADH pode ressintetizar aproximadamente 2,5 ATPs e o FADH 1,5.
Dessa forma, o saldo total de ATPs ressintetizado por meio metabolismo
aeróbico será de aproximadamente 32 ATPs (Figura 4) (BURGOMASTER et
al., 2006; CHANCE et al., 2006; FURBER et al., 2017; GASTIN, 2001; GRASSI,
2005; HUG et al., 2005; JUEL, 2003; KAPLAN, 2001; LEBLANC et al., 2004;
ROBERGS, 2004).

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Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

Figura 4
Local onde ocorre a cadeia respiratório e onde estão localizados
os complexos ubiquinona e a enzima ATP sintetase

(a) (b)
Fonte: POWERS; EDWARD (2014).

A cadeia respiratória só acontecerá quando houver a presença de oxi-


gênio suficiente para a demanda energética do exercício. Quando isso não
acontecer, o piruvato será transformado em lactato (aceitando dois elétrons
do NADH, tornando-se NAD novamente e podendo auxiliar o reinício do
metabolismo a partir de outra molécula de glicose). Esse processo metabó-
lico é conhecido como fermentação lática. A enzima lactato desidrogênase
(LSH) é responsável pela conversão do piruvato para lactato. As fibras sub-
jacentes do tipo I contêm enzima LDH. É possível tornar o lactato de volta a
piruvato e de piruvato volta a ser glicose. Quando o lactato entra na corrente
sanguínea, chegando até o fígado e iniciando assim o ciclo conhecido como
ciclo de Cori, no qual, converte o lactato em glicose novamente, podendo ar-
mazenar a glicose na forma de glicogênio hepático ou liberar a glicose para
o sangue se os níveis glicêmicos estiverem baixos (BURGOMASTER et al.,
2006; CHANCE et al., 2006; FURBER et al., 2017; GASTIN, 2001; GRASSI,
2005; HUG et al., 2005; JUEL, 2003; KAPLAN, 2001; LEBLANC et al., 2004;
ROBERGS, 2004).

19
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 5
Formação e remoção de lactato

Fonte: adaptado de (POWERS; EDWARD, 2014).

Macronutrientes associados aos metabolismos

Carboidratos
Podemos notar que até o momento a ressíntese de ATP foi realizada por
meio do carboidrato que tem como substrato energético a glicose (C6-H12-O6).
Os carboidratos são encontrados em três formas: monossacarídeos, dissacarí-
deos e polissacarídeos. Os monossacarídeos são as formas mais simples de
açúcares, por exemplo, glicose, frutose, galactose. Os dissacarídeos correspon-
dem à associação de dois monossacarídeos, por exemplo, glicose + glicose =
maltose, frutose + glicose = sacarose (açúcar de mesa). A principal diferença
entre o monossacarídeo e o dissacarídeo está no fato que o dissacarídeo deve
ser degradado antes de ser absorvido pelo organismo. Os polissacarídeos são
compostos por 3 ou mais monossacarídeos, como, por exemplo, amido, graus,
fibras, celulose. (ARAGON; SCHOENFELD, 2013; ASCENSÃO et al., 2003;
GRASSI, 2005; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
A absorção de cada grupo de carboidrato é diferente e alteram a velocida-
de da sua biodisponibilidade. Os monossacarídeos, embora o trato digestivo
possa assimilá-los após sua a absorção, na maioria das vezes são convertidos

20
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

pelo fígado em glicose. Os dissacarídeos e os polissacarídeos são degradados


em monossacarídeos antes de serem absorvidos (ARAGON; SCHOENFELD,
2013; CHANCE et al., 2006; GRASSI, 2005; HAWLEY et al., 2014; KRAEMER;
FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
O principal motivo para que o metabolismo prefira a utilização dos carboi-
dratos (glicose) para fornecer energia para nosso organismo está na relação as-
sociada a biodisponibilidade e o armazenamento (ARAGON; SCHOENFELD,
2013; CHANCE et al., 2006; HAWLEY et al., 2014).
O nosso organismo é capaz de armazenar glicose na forma de glicogênio
(polissacarídeo com moléculas de glicose) no músculo e no fígado, além da quan-
tidade de glicose circulante no sangue (glicemia). Existe diferença entre o glico-
gênio dos músculos e do fígado em relação a sua biodisponibilidade. No fígado,
o objetivo do estoque de glicogênio será restaurar os níveis normais de glicose
no sangue (glicemia sérica). No músculo “mais egoísta” a depletação do glico-
gênio em glicose-6-fosfato será imediatamente utilizada pelo próprio músculo
(em atividade) como substrato para iniciar a via metabólica glicolítica que vimos
no capítulo anterior. Portanto, a quebra do glicogênio intramuscular não ocor-
re para restabelecer os níveis apropriados de glicose no sangue, deixando esse
trabalho para o glicogênio armazenado no fígado, ou seja, o glicogênio hepático
(ARAGON; SCHOENFELD, 2013; CHANCE et al., 2006; HAWLEY et al., 2014).

Figura 6
Utilização da glicose e do glicogênio muscular

Fonte: adaptado de (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

21
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

A ingestão adequada de carboidrato é importante para a manutenção


do exercício, pois em aproximadamente 1h de exercício o estoque de gli-
cogênio hepático pode reduzir em 55% e após 2h de exercício extremo o
glicogênio muscular e hepático esgotam quase por completo. Além disso,
em exercícios prolongados, por exemplo maratona, o carboidrato é o subs-
trato metabólico para atender as necessidades energéticas para atividade
física (ARAGON; SCHOENFELD, 2013; CHANCE et al., 2006; HAWLEY et
al., 2014).
Dessa forma, o correto fornecimento de substrato energético pode re-
duzir ou postergar a fadiga gerado pelo exercício. A depletação do glico-
gênio está relacionada com fadiga, a conversão da glicose em ATP pelo
músculo é quase duas vezes mais rápida quando comparado com outros
macronutrientes (proteínas e gorduras). Quando a glicemia está baixa e os
estoques de glicogênios muscular estão terminando, o ritmo de uma cor-
rida, por exemplo, é reduzir e aumenta a participação da gordura no me-
tabolismo de energia. Além disso, o uso de glicose sanguínea priorizando
os músculos em atividade reduz a função do sistema nervoso central, ge-
rando maior estado de fadiga central, concomitantemente ao aumento da
dependência das fibras musculares do tipo II (ARAGON; SCHOENFELD,
2013; CHANCE et al., 2006; FRY, 2004; GRASSI, 2005; HAWLEY et al., 2014;
PARRA et al., 2000).
Vale ressaltar que o consumo de carboidratos deve ser adequado à de-
manda energética do exercício. Por exemplo, vários indivíduos estão trei-
nados para uma corrida com a distância de 5 km. Seguiram as orientações
básicas de consumo de carboidrato referente à demanda desse exercício. Na
tentativa de melhorar todos os aspectos de sua preparação para a corrida, um
indivíduo estava consumindo muito carboidrato. Os outros indivíduos do
grupo não tinham certeza, e ao verificarem com o departamento de fisiologia
e lerem alguns estudos sobre o assunto, constataram que, devido à curta dis-
tância, o carboidrato adicional armazenado não seria de fato necessário, além
de cada grama de glicogênio são armazenados 5 gramas de água. Portanto
a sobrecarga de carboidrato não seria benéfica (ARAGON; SCHOENFELD,
2013; CHANCE et al., 2006; FRY, 2004; GRASSI, 2005; HAWLEY et al., 2014;
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MACDOUGALL et al., 1998;
MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; PARRA et al., 2000).

22
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

Gordura
Outros macronutrientes podem fornecer energia para os processos me-
tabólicos, como, por exemplo, a gordura e seu substrato energético chama-
do de triacilglicerol, e a proteína por meio dos aminos ácidos (ARAGON;
SCHOENFELD, 2013; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016; ROBERGS, 2004).
A gordura pode ser armazenada no corpo por meio do tecido adiposo (adi-
pócitos). A grande vantagem da gordura em comparação aos outros macronu-
trientes está no fato do seu grande fornecimento de energia. Outra vantagem
é que a gordura é hidrofóbica, portanto, não carrega água em sua molécula
tornando-a mais leve. Dessa forma, 0,450 kg exigiria 2,7 kg de glicogênio para
fornecer a mesma quantidade de energia (ARAGON; SCHOENFELD, 2013;
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).
A gordura pode ser classificada em saturada, de origem animal (o que
pode aumentar o colesterol ruim - LDL). Ela contém quantidade máxima
de hidrogênios, e não apresenta ligações duplas entre os carbonos. Também
pode ser classificada em insaturada, de origem vegetal (pode diminuir o co-
lesterol ruim - LDL). Não apresenta a quantidade máxima de hidrogênios e
apresenta pelo menos 1 ligação dupla entre os carbonos, sendo suas subclas-
sificações: monoinsaturados, que apresentam pelo menos 1 ligação dupla, e
poli-insaturados, com mais de 1 ligação dupla entre os carbonos (ACHTEN;
JEUKENDRUP, 2004; ARAGON; SCHOENFELD, 2013; ASCENSÃO et al.,
2003; SILVA, 2014)..
Quando os estoques de glicogênio hepático e muscular estão baixos, o
organismo utilizará os estoques de gordura armazenadas nos adipócitos. Por
meio do hormônio sensível lipase, ocorrerá a lipólise (catabolismo), a quebra
do triacilglicerol liberando ácidos graxos livres. Cada molécula de triacilgli-
cerol carrega 3 moléculas de acil (ácido graxo) unidos por um glicerol. Ao
sensibilizar ocorrerá a separação dessas moléculas. O glicerol é facilmente
convertido em di-hidroxiacetona fosfato, que é a reação intermediária da
glicólise. Dessa forma, o glicerol, após ser convertido em di-hidroxiacetona
fosfato pode ser metabolizada pelo organismo em glicose ou piruvato e se-
guir para a cadeia respiratória.

23
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 7
Destino metabolico do glicerol após à desassociação da
molecula de triacilglicerol

Fonte: adaptado de (Robergs et al., 2004; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Figura 8
Via metabolica glicolitica: di-hidroxiacetona fosfato

Fonte: adaptado de (Robergs et al., 2004; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

24
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

Já o ácido graxo deverá ser beta oxidado. A beta oxidação é o nome do processo
metabólico que é dado para a metabolização da gordura transformando em
energia. O ácido graxo, uma vez livre, é direcionado para dentro da mitocôndria.
No entanto, ele não é capaz de atravessar a camada bilipídica da membrana
mitocondrial. A enzima carnitina acil transferase auxilia a passagem do ácido gra-
xo para dentro da matriz mitocondrial (Figura 9) (SAMPSON; GROELLER, 2016).
Uma vez dentro da matriz mitocondrial o ácido graxo será oxidado, retirada a
cadeia carbônica de 2 em 2 e formado 1 acetil-CoA, 1 NADH e 1 FADH. Por exem-
plo, o ácido palmítico contém 16 carbonos (C16-H32-O2), ao ser separado de 2 em 2
pela beta oxidação teremos 7 voltas na beta oxidação e a produção de 8 acetil-CoA,
7 NADH e 7 FADH. Cada acetil-CoA da beta oxidação, seguirá para o ciclo de
Krebs, que produzirá mais 3 NADH, 1 FADH e 1 ATP por acetil-CoA. Portanto, os
8 acetil-CoA produzidos do ácido palmítico produzirão um total de 31 NADH, 15
FADH, 8 ATPs. Cada NADH vale 2,5 ATPs, FADH 1,5, ou seja, teremos ao final da
beta oxidação aproximadamente 108 ATPs a partir uma 1 molécula de ácido graxo
(ACHTEN; JEUKENDRUP, 2004; ARAGON; SCHOENFELD, 2013; ASCENSÃO
et al., 2003; ROBERGS, 2004; SILVA, 2014).

Figura 9
Carnitina Acil transfere-se auxiliando a entrada do ácido graxo
na matriz mitocondrial

Fonte: POWERS; EDWARD (2014).

25
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

É necessário estar atento ao fato de que uma pequena quantidade de


gordura (ácido graxo) é capaz de gerar muita energia (aproximadamente
108 ATPs). Dessa forma, muitos estudos discutem a relação do tempo
em exercício em baixa intensidade, quando a quantidade de oxigênio é
suficiente para ficar predominantemente no metabolismo aeróbico e com isso
oxidar gordura. Por outro lado, pouco se discute em relação à quantidade
de energia que 1 molécula de gordura é capaz de fornecer. Não adianta
realizar exercícios de longa duração com predominância do metabolismo
aeróbico, com objetivo de metabolizar gordura, porque poucas moléculas
de triacilglicerol são capazes de fornecer grandes quantidades de energia
(~ 106 ATP). Lembrando que o triacilglicerol deverá ser sensibilizado por
hormônios (ex. hormônio sensível a lipáse), sendo divididas em 3 moléculas
de ácidos graxos e muito provavelmente apenas algumas dessas moléculas
de ácidos graxos serão realmente beta oxidadas e produziram quantidade
enorme de energia, suficiente para mais de 1 hora de exercício. Dessa forma,
pouca quantidade de gordura é capaz de fornecer muita energia dificultando
assim a redução do tecido adiposo somente pela realização de exercícios
com predominância no metabolismo aeróbico (ACHTEN; JEUKENDRUP,
2004; ARAGON; SCHOENFELD, 2013; FIELDING et al., 2018; LANZA;
SREEKUMARAN, 2009; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Proteínas
Além da gordura e do carboidrato, e proteína também fornece energia
quando depletada para gerar ATP. A proteína pode ser encontrada em alimen-
tos de origem animal, por exemplo, carne e de origem vegetal, como soja, grão-
-de-bico, entre outros.
A proteína não é armazenada no organismo para posteriormente ser utiliza-
da como energia semelhante ao carboidrato (glicogênio hepático e muscular) e a
gordura (tecido adiposo). Por outro lado, temos proteínas encontradas no tecido
muscular que podem e serão utilizadas (proteólise muscular) como fonte de ener-
gia quando outros estoques de energia, por exemplo, a glicose estiverem baixos. O
organismo utilizará aminoácido para fornecer energia nos seguintes casos:

1. dietas hipocalóricas extremas - os aminoácidos são captados inclusive


dos músculos para serem metabolizados e fornecer energia;
2. ingestão incomumente elevada de proteínas - ocasiona o maior uso e
proteínas na produção de energia;
3. dietas típicas (carboidratos, gorduras e proteínas) - apenas um pouco
dessa proteína é usada na produção de energia;

26
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

4. enzima capaz de degradar aminoácido são chamadas de proteases en-


contradas no músculo;
5. o exercício pode auxiliar a redução de gordura e diminuir o metabolis-
mo de proteínas (necessidade musculares);
6. hormônio glicocorticoides estimula a quebra de gorduras e proteínas
para produção de açúcar. O principal é o cortisol secretado quando esti-
ver em estado de estresse, fuga e luta (ACHTEN; JEUKENDRUP, 2004;
ARAGON; SCHOENFELD, 2013; FIELDING et al., 2018; KAPLAN,
2001; LANZA; SREEKUMARAN, 2009; NINDL et al., 2009).

Portanto, as proteínas substratos aminoácidos podem ser utilizados para ge-


rar compostos não nitrogenados, por exemplo: glicose, piruvato, ∂-cetoglutara-
to. Dessa forma, quando oxidados geram ATP, mas para isso será necessário a
retirada do grupo amina dos aminoácidos, pois a amina é amônia tóxica para o
organismo. A amônia deverá ser convertida em ureia e eliminada na urina.
Os aminoácidos são compostos orgânicos formados por carbono, hidrogê-
nio e oxigênio como a glicose e o ácido graxo. Todos os aminoácidos têm estru-
tura semelhante sendo: 1 hidrogênio central ligado a 1 carbono; grupo amina:
1 nitrogênio associado a 2 hidrogênios; grupo ácido: 1 carbono associado a 1
hidrogênios e 2 oxigênios com 1 ligação dupla; cadeia lateral: única de cada
aminoácido, distingue aproximadamente mais de 20 diferentes (Figura 10).

Figura 10
Aminoácido Alanina

Cadeia Lateral

H
H C H Cadeia Ácido

Cadeia Amina O
H N C C O H
H H
Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

27
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Devido ao grupo amina ser tóxico quando isolado na forma de amô-


nia, a metabolização dos aminoácidos para a retirada do nitrogênio ocorre
por meio de dois processos chamados de desaminação e/ou transaminção
(Figura 11).
Na transaminação ocorre a transferência do grupo amino para outro ami-
noácido, por exemplo: oxaloacetato, aspartato, argininasuccinato, fumarato,
glutamato, sendo a enzima amino transferase que auxilia esse processo. A de-
saminação acontece no fígado, quando o grupo amina é convertido e elimina-
do na forma de ureia formando ∂-cetoglutarato (sem a presença do nitrogênio
eliminado pela urina) (Figura 11).

Figura 11
Exemplo de transaminação que ocorre no músculo

Fonte: McArdle et al. (2008:38)

O ciclo chamado Alanina-glicose é um bom exemplo de como o aminoáci-


do alanina é convertido em glicose por meio da desaminação no fígado (Figura
12). Além disso, ambos os processos desaminação e transaminação o glutamato
será transformado em ∂-cetoglutarato.

28
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

Figura 12
Ciclo Alanina-glicose exemplo de desaminação que ocorre no fígado

Glicose
Fígado
Glicose Glicogênio

Glicogênio Glicose
Piruvato
NH2
Piruvato
Uréia NH2
Alanina

Aminoácidos
Músculo
Alanina

Alanina

Fonte: McArdle et al. (2008:41)

O nosso organismo utilizará os aminoácidos para fornecer energia por


vários motivos. Como já mencionado anteriormente, quando as dietas são
hipocalóricas ao extremo, os aminoácidos são captados inclusive dos mús-
culos para serem metabolizados e fornecer energia e/ou quando a ingestão
está incomumente elevada de proteínas, ocasiona o maior uso e proteínas
na produção de energia. Dessa forma, os aminoácidos serão depletados por
desaminação e/ou transaminação e utilizados para gerar energia por meio
do ciclo de Krebs (Figura 13). Quando um aminoácido é degradado e entra
no ciclo de Krebs, exemplo o ∂-cetoglutarato, ao termino da sua volta no
ciclo produzirá 1 ATP, 2 HADH e 1 FADH que posteriormente seguirá para
a cadeia respiratória e possibilitará aproximadamente 8 ATPs.

29
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 13
Transaminação e desaminação associado ao ciclo de Krebs

AA ∂-cetoglutarato

NH2 Ureia
Desaminação (perda do grupo amina)

∂cetoácido Glutamato ∂-cetoglutarato


correspondente
(sem o N) Transaminação

Ox

Citrato
alo
ac

to
et

ita
ato

on
Ac
-
cis
Ma
aspartato lato
Isocitrato

arginasuccinato ∂-c
o
arat eto
Fum glut
ara
to
Succin
ato
cin

il-CoA
Suc

Fonte: Adaptado de KRAEMER et al.

Os aminoácidos são utilizados em inúmeros processos anabólicos, como


sintetizar a proteína ou outros compostos, como hormônios, além de desem-
penharem papel-chave na regulação metabólica e fisiológica. Portanto, os ami-
noácidos devem ser preservados para a função estruturar muscular (síntese
proteica) e regulação metabólica, evitando assim a sua utilização para obter
energia. Dessa forma, a ingestão adequada de outros macronutrientes e a in-
gestão adequada de aminoácidos evitam o balanço nitrogenado negativo. Por
outro lado, quando ocorre a ingestão adequado de aminoácidos, na qual as
proteínas ingeridas são proporcionais ou ultrapassam aquelas eliminadas via
ureia (nitrogênio) chamamos de balanço nitrogenado positivo. O organismo
não consegue elaborar reservas proteicas, portanto, o principal objetivo do
balanço nitrogenado positivo é a formação de novos tecidos (principalmente
muscular) a partir da proteína adicional.
Em resumo, podemos concluir que os macronutrientes são compostos orgâ-
nicos que obrigatoriamente contêm carbono em sua estrutura molecular e adi-
cionalmente hidrogênio e oxigênio. Os macronutrientes são carboidratos, pro-
teínas e gorduras. Nosso organismo utiliza os macronutrientes transformando

30
Metabolismos: aeróbico e anaeróbico

material orgânico em energia química ATP por meio do metabolismo celular.


O metabolismo ocorre de duas formas: aeróbica, quando temos a presença de
oxigênio ou anaeróbica, sem a presença de oxigênio. As vias metabólicas para
ressintetizar ATP iniciam por meio do sistema fosfagênio que restaura ATP uti-
lizado, para isso necessitamos da participação da fosfocreatina armazenada no
músculo. A via glicolítica utiliza somente a glicose como substrato energético
para ressintetiza ATP. A cadeia respiratória oxida o produto da glicólise (piru-
vato) por meio do ciclo de Krebs e produz muito energia ao final do ciclo. Por
meio da respiração celular é possível oxidar outros macronutrientes como gor-
dura e proteína para auxiliar a demanda energética. A gordura, após ser retira-
da do tecido adiposo na forma de ácido graxo, será beta oxidado e segue para
o ciclo de Krebs entrando na forma de Acetil-CoA. Um ácido palmítico gera,
por meio da cadeia respiratória, aproximadamente 106 ATPs. As proteínas são
macronutrientes estruturais e reguladores metabólicos, além de auxiliarem na
produção hormonal. Dessa forma, devem ser preservados, mas na falta de ou-
tros macronutrientes ou ingestão em excesso do mesmo são desaminados ou
transaminados e também entram no ciclo de Krebs e podem auxiliar na ressin-
tese de aproximadamente 10 ATPs.

31
Fisiologia cardiorrespiratória
aplicada ao esforço

O que é VO 2?
Os sistemas cardíaco, respiratório e circulatório trabalham de forma inte-
grada para fornecer oxigênio ao nosso corpo (músculos e órgãos) adequada-
mente durante o esforço ou repouso.
A sigla VO2 representa o volume de oxigênio consumido durante o re-
pouso ou esforço. O consumo de oxigênio nada mais é do que a utilização do
oxigênio pelas mitocôndrias na célula para a produção de energia conforme
discutido no capítulo II. Vale relembrar que todas as células do corpo humano
são dependentes da presença do O2 para a produção de energia por meio da
cadeia respiratória que chamamos de metabolismo aeróbico (ALMEIDA et al.,
2011a; DENADAI, 1995a, 1995b, 1996).
Dessa forma, podemos definir o VO2 como a capacidade de captar pelos
alvéolos pulmonares, realizar a hematose, transportar o oxigênio pelo san-
gue e utilizar (consumir) nas mitocôndrias por unidade de tempo. Portanto,
para que o oxigênio chegue, por exemplo nos músculos, será necessário o
trabalho em conjunto de três sistemas (cardíaco, respiratório e circulatório).
Além disso, um bom metabolismo muscular será necessário para a utili-
zação do oxigênio de forma eficiente (ALMEIDA et al., 2011a; DENADAI,
1995a, 1995b, 1996).
Logo, o sistema cardiovascular realizará a bombeamento e a circulação do
sangue oxigenado chamado de sangue arterial. Já nos músculos, a mioglobina
transporta o oxigênio para dentro das mitocôndrias, onde ocorrerá a produção
de energia por meio da respiração celular (ALMEIDA et al., 2011a; DENADAI,
1995a, 1995b, 1996; SILVA, 2014).

33
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Vale ressaltar que os tecidos que mais consumem oxigênio são cérebro e
músculo, mas para que o oxigênio chegue até eles é necessário o trabalho in-
tegrado dos sistemas supracitados. Além disso, o consumo de oxigênio é uma
capacidade que pode melhorar ou até mesmo piorar ao longo do tempo. Por
exemplo, o processo de envelhecimento reduz a capacidade de consumo de
oxigênio, a perda da massa muscular, o sedentarismo, entre outras caracterís-
ticas, e estes são fatores que podem contribuir para a redução da capacidade
de consumo de oxigênio (DENADAI, 1995a; GRIES et al., 2018). Por outro
lado, por meio de exercício é possível melhorar a capacidade de consumo
de oxigênio utilizando treinamentos de características aeróbicas (corridas na
esteira ou na rua, caminhadas, ciclo ergômetros, dentre outras) e/ou anaeró-
bicas (treinamentos com intervalos de alta intensidade podendo ser realizado
em esteiras, ciclo ergômetro, treinamento de força popularmente chamado de
musculação, dentre outros).

Função respiratória (pulmonar)


Na fisiologia a respiração pode ser dividida em dois subgrupos, a res-
piração pulmonar (ventilação) e respiração celular (difusão). A respiração
pulmonar está associada ao processo de respiração propriamente dita e à
troca de gases (O2 e CO2) nos pulmões. A respiração celular, também co-
nhecida por difusão, está associada à utilização de O2 e à produção de CO2
pelos tecidos.
Dessa forma, o termo ventilação refere-se ao processo mecânico de deslo-
camento de ar para dentro e para fora dos pulmões. Já a difusão refere-se ao
movimento aleatório das moléculas, de uma área de alta concentração para
outra de menor concentração. Como a tensão de O2 nos pulmões é maior do que
no sangue, o O2 move-se dos pulmões para o sangue e vice-versa.
Durante a ventilação (V) a quantidade de gás ventilado por minuto é o
produto da frequência respiratória (f) pela quantidade de gás deslocada por
respiração (volume corrente – Vc): V = Vc x f.
Em um homem de 70 kg, o V em repouso geralmente é algo em torno de
7,5 L/min. com um volume corrente de 0,5 L e uma frequência igual a 15 res-
pirações/min. Durante o exercício máximo, a ventilação pode chegar a 120 -175
L/min com uma frequência de 40-50 respirações/min e um volume corrente
aproximado de 3-3,5 L (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016; POWERS; EDWARD, 2014).

34
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

Tabela 1
Exemplo de valores ventilatórios (homem de 70 kg)

Repouso V = 0,5 L x 15 respirações/min = 7,5 L/min

Exercício V = 3,5 L x 50 respirações/min = 175 L/min

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Fique ligado!
• Respiração pode ser respiração pulmonar (ventilação) e respiração celular
(difusão).

• Ventilação refere-se ao processo mecânico de deslocamento de ar para dentro e


para fora dos pulmões.

• Difusão refere-se ao movimento aleatório das moléculas, de uma área de alta


concentração para outra de menor concentração.

Transporte de oxigênio
O O2 é ligado a hemoglobina das hemácias responsável pelo transporte o
O2 pelo sangue. Cada molécula de hemoglobina transporta 4 moléculas de O2
formando a oxiemioglobina. Já a hemoglobina que não se liga ao oxigênio é
chamada de desoxiemoglobina. A diassociação do O2 da hemoglobina pode
ocorrer por diversos fatores como temperatura corporal, aumento da acidose,
entre outros.
Com o pH constante, a hemoglobina apresenta afinidade pelo O2 inversa-
mente à temperatura do sangue. No entanto, durante o exercício ocorre o aumento
dos íons de hidrogênio, que se ligam à hemoglobina e diminuem a capacidade desta de
transportar O2. Esse mecanismo é o que melhor explica o efeito de Bohr (carac-
terizado pelo estímulo à dissociação entre o oxigênio e a hemoglobina).
Dessa forma, quando ocorre incremento da acidose (íons hidrogênio no
sangue), a afinidade da hemoglobina pelo O2 reduz, facilitando a dissociação
do O2 nos músculos durante o exercício, uma vez que o nível de acidez é maior
nos músculos.
No músculo encontramos a mioglobina responsável pelo transporte do
oxigênio no interior celular para dentro da mitocôndria. Grandes quantidades
de mioglobinas são encontradas nas fibras do tipo I.

35
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Fique ligado!
• Hemoglobina das hemácias responsável pelo transporte o O2 pelo sangue.

• Durante o exercício ocorre o aumento dos íons de hidrogênio, que se ligam à


hemoglobina e diminuem a capacidade desta de transportar O2.

• Mioglobina responsável pelo transporte do oxigênio no interior celular para


dentro da mitocôndria.

Transporte de dióxido de carbono


O dióxido de carbono (CO2) é transportado pelo sangue em três formas:
CO2 dissolvido cerca de 10%; ligado à hemoglobina cerca de 20%; e por bicar-
bonato cerca de 70% (HCO3-). Podemos observar que a maior parte do CO2
transportado no sangue está na forma de bicarbonato, convertido em bicarbo-
nato (nas hemácias) do seguinte com a enzima anidrase carbônica que conver-
te o CO2 associado a H2O em ácido carbônico e posteriormente em bicarbonato:
CO2 + H2O H2CO3 H+ + HCO3-.

O que é VO 2 máximo? VO 2 máximo absoluto e


relativo tem diferença? VO 2 máximo vs. Vo2 pico?
Agora que definimos e entendemos o que é VO2, devemos entender como
ele interage com o esforço. Dessa forma, o que é VO2 máximo (VO2 máx.)? Vale
ressaltar que VO2, de forma resumida, é a capacidade de captar, transportar
e utilizar o oxigênio conforme discutido anteriormente. No entanto, quando
falamos de VO2máx. podemos defini-lo como a capacidade de realizar exercício de média
e longa duração, dependendo principalmente do metabolismo aeróbico (DENADAI,
1995a, 1995b, 1996). Portanto, o VO2máx. também é uma unidade de medida para
avaliação da potência aeróbica máxima.
Um fato curioso sobre o VO2 é a diferença de consumo de oxigênio entre
indivíduos treinados e destreinado em repouso. Embora indivíduos treinados
durante o esforço máximo apresentam em média valores de VO2máx. duas vezes
maior quando comparados com indivíduos sedentários o VO2 em repouso é
muito similar (DENADAI, 1995a) .
Dessa forma, durante o exercício a demanda por ATP pode aumentar até 20
vezes quando comparado com o repouso. Portanto, o aumento da intensidade
do exercício ocorre concomitantemente com o incremento do VO2.

36
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

O VO2máx. pode ser expresso em valores absolutos ou valores relativos.


Quando falamos em valores absoluto a unidade de medida é litros por unidade
de tempo minuto (L/min). A medida de VO2 máx. absoluta é importante princi-
palmente em atividades que não envolvem o peso corporal. Por exemplo, exer-
cícios realizados na bicicleta, quem está sustentando parte do peso corporal é a
bicicleta. Dessa forma, para exercício de bicicleta é mais interessante utilizar os
valores absolutos em L/min.
O VO2máx. relativo deve ser composta pelo valor do VO2 associado a outra
variável, por exemplo, o peso corporal. Dessa forma, o VO2máx. será expresso por
(mL/kg/min), ou pode ser associado à massa livre de gordura (MLG) w então
será expresso (mL/kg/MLG/min). Por que as medidas do VO2máx. relativo são im-
portantes? A resposta é simples: a medida relativa permite a comparação mais
precisa entre indivíduos com diferentes tamanhos corporais e composição corpo-
ral. Por exemplo, podemos ter um homem com o valor de VO2máx. absoluto maior
quando comparamos com uma mulher. No entanto, quando corrigimos esse va-
lor para VO2máx. relativo levando em consideração o peso corporal, pode ser que a
mulher tenha o VO2máx. relativo maior em comparação ao homem. Portanto, para
comparar o VO2máx. entre dois indivíduos devemos utilizar o VO2máx. relativo.

Fique ligado!
• VO2máx. é a capacidade de realizar exercício de média e longa duração,
dependendo principalmente do metabolismo aeróbico

• Unidade de medida para avaliação da potência aeróbica máxima

• VO2máx. Valores absolutos unidade de medida é litros por unidade de tempo


minuto (L/min).

• VO2máx. Valores relativos composta pelo valor do VO2 associada a outra variável
por exemplo o peso corporal

• VO2 máximo não se alteram (platô)

• VO2pico o indivíduo chega a um ponto no qual não consegue continuar o teste

Outro fator importante que deve ser compreendido é a diferença entre o


VO2máx. e o VO2pico. O VO2máx. é atingido quando o indivíduo durante o teste
chega ao seu consumo máximo de oxigênio. Se mesmo com o aumento da
intensidade do teste os valores de VO2 não se alteram (platô), podemos chamar

37
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

de VO2máx. Por outro lado, durante o teste progressivo de intensidade, o indiví-


duo chega a um ponto no qual não consegue continuar o teste. A isso chama-
mos de VO2pico, porque o individuo não atingiu o seu máximo e não entrou em
um platô de consumo de oxigênio. Independente do teste utilizado, segundo
Denadai (1995), pesquisas têm demonstrado que somente metade dos indiví-
duos testados, apresentam platô de VO2 durante o exercício máximo.

Tabela 2
Valores de referência VO2máx. relativo

VO2máx. Relativo
(mL/kg/min)

Homens Mulheres

Esquiadores de cross-country 84 72

Corredores de distância 83 62

Sedentários: jovens 45 38

Sedentários: adultos de meia-idade 35 30

Paciente em pós infarto do miocárdio 22 18

Fonte: adaptado de Powers et al. (2014)

Fatores determinantes VO 2 máximo?


Diversos fatores determinam o VO2máx. como fatores genéticos, idade, sexo e
estado de treinamento. Fatores genéticos associados ao VO2máx. começaram a ser
estudados no início da década de 60. Em resumo, os estudos não são conclusivos,
já que fatores genéticos podem ser responsáveis pela variabilidade de 25-50%
do VO2máx. A idade e o sexo são considerados fatores que podem influenciar no
VO2máx. Com crianças, principalmente abaixo de 8 anos, testes de VO2máx. são mui-
to difíceis de serem realizados. As crianças apresentam curto período de aten-
ção e baixa motivação, reduzindo de forma drástica a confiabilidade dos testes.
Além disso, os protocolos e equipamentos são para adultos, tornando difíceis
para crianças realiza-los.
Em ambos os sexos (meninas e meninos) demonstram aumento em média de
11% de forma gradual do VO2máx. (L/min) em função da idade cronológica até os 16
anos. No entanto, entre meninas entre as idades de 13-15 anos ocorre queda gra-
dual. Outros estudos demonstraram diferenças mais acentuadas do valor de VO2máx.
entre meninas e meninos. A hipótese para essas diferenças pode estar associada ao
nível habitual de atividade física maior entre meninos do que entre meninas.

38
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

Figura 14
Relação entre o consumo de oxigênio (L/min) e
idade cronológica em crianças

Fonte: Adaptada de (DENADAI, 1995ª appud ARMSTRONG & WELSMAN 1994).

O pico do VO2máx. ocorre entre 18-20 anos de idade e posteriormente


ocorre decréscimo gradual. Dessa forma, a média de declínio é de aproxi-
madamente 9% por década em indivíduos inativos e saudáveis. Por outro
lado, em indivíduos que realizam com frequência atividades rigorosas o de-
clínio pode oscilar entre 1-5% por década. Outros estudos vêm demonstran-
do que a redução das funções fisiológicas associadas ao VO2máx. decorrentes
da idade, mesmo em indivíduos treinados, é em média de 5-7% por década.
Indivíduos sedentários apresentaram declínio de aproximadamente 15%
por década (TRAPPE et al., 1996).
Estudos recentes (GRIES et al., 2018) compararam os níveis máximos
de VO2 e a condição física muscular dos participantes, sendo: Grupo 1 =
indivíduos de ambos os sexos que se exercitavam durante os últimos 50
anos (média 5 dias/semana, total ~ 7 horas); Grupo 2 = indivíduos de ambos
os sexos da mesma geração que não haviam praticado muitas atividades
físicas ao longo da vida; Grupo 3 = homens e mulheres 20 anos mais novos
e ativos fisicamente.

39
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

O estudo evidenciou que o coração e o cérebro, por exemplo, podem re-


juvenescer cerca de 35 anos. Os participantes mais velhos que se exercitavam
tinham composição muscular parecida com a dos mais jovens. Homens e mu-
lheres de 75 anos apresentaram saúde cardiovascular e VO2 semelhante a indi-
víduos de 40 ou 45 anos. Além disso, exercício feito ao longo da vida preserva
a capilarização do músculo esquelético [vasos sanguíneos] e as enzimas aeróbi-
cas, independentemente da intensidade e, consequentemente, ocorre melhora
da função muscular.
No processo de treinamento, diversas variáveis podem interferir e alte-
rar o VO2máx. O VO2máx. pode incrementar de 4-93%. No entanto, de 15-20%
são os valores mais frequentemente encontrados quando indivíduos seden-
tários realizam um programa de treinamento a 75% VO2máx., três vezes por
semana, 30 minutos por dia e ao longo de seis meses (DENADAI, 1995a,
1995b, 1996).
Nesse contexto, o fator que pode influenciar no VO2máx. é a responsivida-
de individual associada ao treinamento. Atualmente os estudos tem proposto
a existência de pessoas que “respondem” e outras que “não respondem” ao
treinamento. Portanto, se o nível inicial de condicionamento físico for ele-
vado, menor será a melhora relativa do VO2máx. Os maiores incrementos de
VO2máx. são atingidos dentro de 8-18 meses de treinamento, porém, cada indi-
víduo tem um nível limitado de VO2máx. que pode ser atingido (ALMEIDA et
al., 2011b; PRESTES et al., 2018; TRAPPE et al., 1996).
Os ajustes fisiológicos são determinados pelo tipo de estímulo que re-
cebemos, ou seja, outro fator determinante para o incremento de VO2máx. é a
especificidade do treinamento. Por exemplo, se avaliarmos por meio de er-
gômetro (esteira) nadadores antes e após período de treinamento em piscina,
possivelmente não encontraremos grandes melhoras. O porquê disso é bem
simples, devemos obrigatoriamente respeitar a especificidade ao movimento
utilizado pelo atleta em seu esporte. Seria possível melhorar o VO2 de cor-
redores realizando treinamento em ergômetros de braço? A resposta é sim,
poderíamos encontrar pequenas melhoras no VO2máx. desse atleta de corrida
que realizou um período de treinamento com ergômetro de braço. Por outro
lado, se o treinamento for específico ao movimento utilizado pelo atleta, no
exemplo, ergômetro de braço, a chance de ocorrer incremento significante ao
VO2máx. desse atleta será bem mais plausível.

40
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

Fique ligado!
• Fatores determinantes do VO2 máximo = genéticos, idade e sexo, estado de
treinamento. Fatores genéticos.

• O VO2máx. pode incrementar de 4-93%, contudo, valores entre 15-20% são mais
frequentes.

• Declínio do VO2 máximo 9% por década em indivíduos inativos e saudáveis;


indivíduos ativos declínio pode oscilar entre 1-5% por década. Outros estudos,
indivíduos treinados em média de 5-7% por década.

• Indivíduos sedentários apresentaram declínio de aproximadamente 15% por década.

Fatores limitantes do VO 2 máximo?


Sabemos que o VO2 máx. é a interação dos sistemas cardíaco, respiratório e
circulatório que são responsáveis por captar e transportar o oxigênio que será
utilizado pelas mitocôndrias durante o exercício.
O sistema cardiovascular é responsável pelo transporte de gases (oxigê-
nio e dióxido de carbono). O sistema respiratório tem a função de captar e
por meio da hematose, absorver o oxigênio liberando o dióxido de carbono
pela difusão alvéolo-capilar (ventilação pulmonar). A ventilação pulmonar
durante o esforço máximo geralmente é inferior à ventilação voluntária
máxima, e a saturação de oxigênio do sangue normal. Portanto, durante o
esforço máximo, nem a ventilação pulmonar, nem a capacidade de difusão
alvéolo-capilar de oxigênio parecem limitar o VO2máx. Para confirmar essa
hipótese, alguns estudos realizaram avaliações em um grupo de pratican-
tes que foram submetidos a exercício com pequena hiperóxia de oxigênio,
demonstrando ser suficiente para prevenir a dessaturação e incremento no
VO2máx. em aproximadamente 10%. Concluindo que a presença de oxigênio
no sangue pode ser um fator limitante do VO2máx. (CONSTANTINI et al.,
2017; DEMPSEY; WAGNER, 1999; DENADAI, 1995a).
Além da presença de oxigênio no sangue, outro fator limitante é a diferença
artério-venosa (dif a-v) de oxigênio. Para compreender o que é dif. (a-v) vamos
estudar o princípio de Fick.
Adolf Eugen Fick (1829-1921) desenvolveu equação que permite calcular o
VO2 (VO2 = débito cardíaco x dif. a-VO 2).
A partir dessa equação duas hipóteses vêm sendo discutidas em relação aos
fatores limitantes do VO2máx. A primeira hipótese diz que os fatores centrais são

41
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

mais determinantes no VO2máx. Nesse caso, o débito cardíaco pode ser o fator
limitante o VO2máx.
Para entendemos essa hipótese discutiremos as variáveis que envolvem o
débito cardíaco. Mas primeiro vamos relembrar o que é débito cardíaco e os
fatores que o influenciam.
O débito cardíaco (DC) pode ser definido como o volume de sangue bom-
beado por minuto. Os fatores que influenciam o DC são: frequência cardíaca
(bpm); volume de ejeção (ml). A frequência cárdica (FC) é a quantidade de ba-
timentos por minutos (bpm) que nosso coração realiza por minuto. O volume
de ejeção (VEJ) é o volume sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo.
Dessa forma, podemos dizer que o DC é o produto da FC pelo VEJ (DC=
FC x VEJ) e pode ser expresso em L/min ou ml/min. Normalmente, homens
e mulheres saudáveis apresentam o DC próximo a 5 L/min (5000 ml/min).
Por exemplo, 75 batimentos por minutos (bpm) e 70-60 mililitros (ml) de
sangue são ejetados, o DC é de 4500 ml/min = 4.500 - 5.000ml ou aproxima-
damente 4,5 - 5 L/min. Curiosamente, indivíduos sedentários apresentam
o mesmo DC em repouso quando comparados com indivíduos altamente
treinados. Como isso é possível? A lógica é simples, a FC de um indivíduo
sedentário oscila de 70-100 bpm e o VEJ de aproximadamente 70 ml. Por
outro lado, indivíduos altamente treinados e atletas, aumentam o VEJ de-
vido ao volume plasmático aumentado e/ou contratilidade do miocárdio.
Quando comparamos o indivíduo treinado e o sedentário, o DC de repouso
acaba sendo o mesmo devido a uma balança compensatória. O atleta não
precisa de tantos bpm, pois cada bpm ejeta grandes volumes de sangue. Já o
sedentário não apresenta grandes volumes de ejeção, portanto, necessita de
mais bpm. O volume de ejeção no exercício aumenta 40-50% do pico consu-
mo O2 em todos os indivíduos.

Tabela 3
Valores de comparação dos parâmetros centrais do
VO2máx. entre sedentários e treinados

Débito Cardíaco Frequência Cardíaca Volume de ejeção


(ml/min) (bpm) (ml)

Sedentários 4900 70 70

Treinados 4900 49 100

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

42
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

Vale ressaltar que o aumento do VEJ é a principal responsável da bradicar-


dia definida como a redução da FC de repouso.
O VEJ é a subtração de dois fatores: volume diastólico final (VDF) e volume
sistólico final (VSF), ou seja, VEJ = VDF – VSF. Vale relembrar que a sístole e o
período de contração e a diástole é o período de relaxamento do coração, e am-
bos fazem parte do ciclo cardíaco. O VDF é volume de sangue que está presente
em cada um dos ventrículos ao final da diástole e equivale a aproximadamente
120 ml. O VSF é o volume de sangue que está presente em cada um dos ventrí-
culos ao final da sístole e equivale a aproximadamente 50 ml. Portanto, quando
ocorre o aumento do VDF associado a redução e/ou manutenção do VSF temos
como resposta o incremento do VEJ.
Frequentemente atletas/praticantes (maratona, triátlon, ciclismo de longa
distância, etc.) expostos frequentemente a treinamentos vigorosos apresentam
maior tempo em diástole. Consequentemente há redução do VDF e aumento o
VEJ justificando a bradicardia (Tabela 4).

Tabela 4
Influência do Volume Diastólico Final e o Volume Sistólico Final
no Volume de Ejeção

Exemplos VDF (ml) VSF (ml) VEJ (ml) Resposta fisiológica do VEJ
Normal 120 50 = 70
Situação 1 130 50 = 80
Situação 2 120 60 = 60
Situação 3 130 60 = 70
Situação 4 110 40 = 70
Situação 5 120 40 = 80

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
* volume diastólico final (VDF); volume sistólico final (VSF); volume de ejeção (VEJ)

Está comprovado que, quando os indivíduos altamente treinados param


de treinar, o VO2máx. diminui com o passar do tempo. Por quê?
O destreinamento, ou seja, a falta de atividade física pode alterar rapidamente
os valores de DC e VO2máx. A inatividade física nos primeiros 12 dias, ocorre
redução do VO2máx., decorrente da queda do VEJ, após 21 dias causa redução de
aproximadamente 26% no DC e VO2máx. associado a redução do VEJ (DENADAI,
1995a). A queda do VEJ pode estar associada à perda rápida de volume plasmático

43
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

com o destreinamento. Por outro lado, a FC e a dif. a-v permaneceram as mes-


mas ou até podem aumentar. Entre o 22-84 dias de destreinamento, a redução do
VO2máx. é decorrente da redução da dif. a-v (DENADAI, 1995a; FOUREAUX et
al., 2006; KRAEMER et al., 2016; POWERS & EDWARD, 2014).
Dessa forma, a primeira hipótese associou os fatores centrais sendo mais li-
mitantes do VO2máx relacionando a ofertar de oxigênio dependente do débito
cardíaco (DENADAI, 1995a; FOUREAUX et al., 2006).
A segunda hipótese defende que o fator limitante do VO2máx. está associado
aos fatores periféricos, sendo mais determinantes. Portanto, a extração periférica
do oxigênio pode ser o fator limitante o VO2máx.
A extração periférica de oxigênio, por exemplo, extração de oxigênio pelos
músculos, chamada de dif. (a-v). O tecido muscular tem um papel fundamente
na utilização do oxigênio no sangue. O músculo realizará difusão sangue-teci-
do, que nada mais é do que a retirada e transporte do oxigênio do sangue para
ser metabolizado na matriz mitocôndria.
A teoria periférica baseia-se principalmente no potencial oxidativo da fi-
bras musculares, concentração de enzimas específicas no metabolismo celular
aeróbico e na quantidade de mitocôndrias, bem como, marcadores e sinaliza-
dores de biogênese mitocondrial (FURBER et al., 2017; GOMEZ-CABRERA et
al., 2008; JOSEPH et al., 2006; KOH et al., 2017; SILVA, 2014).

Figura 15
Alterações do VO2máx associado ao destreinamento

15 • VO2máx
• FCmáx
10
• VSmáx
• Qmáx _
• Diferença (a-v )O2máx
5
Alteração porcentual

-5

-0

-15

-20
0 12 21 56 84
Dias de destreinamento

Fonte: POWERS; EDWARD (2014: 299)

44
Fisiologia cardiorrespiratória aplicada ao esforço

Estudos clássicos demonstraram a importância das adaptações periféricas


relacionadas ao incremento do VO2máx. Saltin et al. (1976) submeteram indiví-
duos a realizarem protocolos de treinamento ergométricos em bicicletas utili-
zando apenas uma perna. Na perna não treinada, o VO2máx., densidade capilar,
enzimas e mitocôndrias não foram afetadas. Em contraste a perna treinada
apresentou incremento de VO2máx., densidade capilar, enzimas e mitocôndrias.
Os autores demonstraram a importância das adaptações periféricas para o au-
mento do VO2máx. (SALTIN et al., 1976; SALTIN & STRANGE, 1992).
Concluindo que ambas as hipóteses apresentam fundamentação cientifica
e justificativas plausíveis, sendo necessário que separemos as noções de de-
pendência parcial do oxigênio, ou seja, “muito sensível à” e “limitado por”
sendo dependência única. Além disso, existe forte correlação entre o VO2máx. e a
pressão parcial de oxigênio da musculatura ativa mesmo quando a quantidade
de oxigênio ofertado é reduzida ou incrementada (DENADAI, 1995a, 1995b).

Fique ligado!
• Fatores limitantes são presença de oxigênio no sangue e a diferença artério-venosa

• Equação de Fick (VO2 = débito cardíaco x diferença artério-venosa O2)

• Indivíduos sedentários apresentam o mesmo Débito Cardíaco de repouso quando


comparados com indivíduos altamente treinados.

• Aumento do Volume de Ejeção é a principal responsável da bradicardia definida


como a redução da frequência cardíaca de repouso.

• A falta de atividade física pode alterar rapidamente os valores de Débito Cardíaco


e VO2máx.

• Nos primeiros 12 dias, ocorre redução do VO2máx. devido à inatividade física,


decorrente da queda do Volume de Ejeção.

• Após por 21 dias de inatividade física, causa redução de aproximadamente 26%


no Débito Cardíaco e VO2máx. associado a redução do Volume de Ejeção.

• 22-84 dias de destreinamento, a redução do VO2máx. é decorrente da redução da


diferença artério-venosa

• Dependência parcial ou dependência única do oxigênio.

45
Consumo de oxigênio pós o esforço e taxas
metabólicas basal e de repouso

No capítulo anterior abordamos o VO2 durante o esforço e os fatores que


podem determinar e limitar o VO2. Neste capítulo, abordaremos o consumo de
oxigênio em repouso para a manutenção homeostase sistêmica e o consumo de
oxigênio pós-esforço.

Taxa metabólica de repouso e taxa metabólica basal


O aumento acentuado da obesidade e sobrepeso são assuntos que vêm ga-
nhando grande destaque em todas as áreas da saúde, justificando a necessi-
dade de intervenções para reverter esse quadro. Nesse contexto, a atividade
física pode contribuir de duas formas: alterações fisiológicas agudas e crônicas.
As alterações fisiológicas agudas estão relacionadas com o gasto energético do
exercício (assunto do próximo capítulo) e recuperação (Consumo Excessivo de
Oxigênio Pós Esforço - EPOC). As alterações fisiológicas crônicas relacionam-
-se com a taxa metabólica de repouso (TMR).
Para desempenhar as funções vitais do organismo, cada indivíduo neces-
sita de uma quantidade de energia denominada taxa metabólica basal (TMB).
Vale ressaltar que existe uma pequena diferença entre o TMB e taxa metabó-
lica de repouso (TMR). Na TMB, os valores são mensurados em condições de
laboratório controladas, sendo ligeiramente inferiores aos valores TMR, que é
avaliada entre 3 a 4 h após refeição leve (pós absortivos), sem atividade física
prévia. Portanto, a TMR com frequência substitui a TMB e costuma ser mais
utilizada, contudo, é indispensável reconhecer as diferenças.
Além da TMR, outros componentes complementam o gasto energético
diário total (GEDT), frequentemente divididos em componentes agudos e
crônicos.

47
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Podemos dividir o GEDT em três componentes: a TMR, que correspon-


de a aproximadamente 60 a 75% do GEDT, os efeitos térmicos induzidos
pela alimentação, que são responsáveis por cerca de 10%, e a atividade física
corresponde por 15 a 30% restantes (FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006;
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;
POWERS; EDWARD, 2014).

Figura 16
Componentes do Gasto Energético Diário Total

Efeito térmico 60-75%


10%
da alimentação
(Ingestão alimentar;
estresse induzido pelo frio; 15-30%
substância termogênicas)
• Termogênese obrigatória
• Termogênese facultativa
Efeito térmico
da atividade física
(Duração e intensidade)
• No trabalho
• No lar Taxa metabólica de repouso
• No esporte e na (Massa corporal sem gordura;
recreação sexo; hormônios tireóideos;
renovação da protína)
• Metabolismo ao dormir
• Metabolismo basal
• Metabolismo ao despertar

Fonte: McArdle et al. (2016:340)

Portanto, o GEDT associado à atividade física pode promover o aumento


do gasto energético total tanto de forma aguda quanto de forma crônica. De
forma aguda, refere-se ao gasto energético durante a realização do exercí-
cio (discutiremos no capítulo seguinte o gasto energético do exercício) e
a fase de recuperação. A forma crônica está associada às alterações da TMR
(FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006; KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

48
Consumo de oxigênio pós o esforço e taxas metabólicas basal e de repouso

Consumo de oxigênio pós-esforço


Além do consumo de oxigênio e da energia para a para desempenhar as
funções vitais do organismo, ao término do exercício inicia-se o período de
recuperação, no qual o principal objetivo do nosso organismo é recuperar as
estruturas e repor os estoques de energia utilizados durante o esforço.
Dessa forma, após o término do exercício, o consumo de oxigênio não
retorna aos valores de repouso imediatamente. O consumo de oxigênio após
o esforço é conhecida como consumo excessivo de oxigênio pós o esforço
(termo em inglês: Excesso Post Exercise Oxygen Consumption – EPOC)
(FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006; KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). O EPOC após o exercício consiste
em componente rápido e prolongado.
O consumo de oxigênio aumentado pós esforço está associado a necessi-
dade de ressíntese de ATP/CP, redistribuição comportamental dos íons (au-
mento na atividade da bomba de sódio e potássio), remoção e/ou utilização
do lactato, restauração do dano tecidual. O período de duração do consumo
de oxigênio pós esforço pode ser de aproximadamente 1h, conhecido como
componente rápido.
No entanto, durante o componente prolongado, o processo para rees-
tabelecer o equilíbrio dinâmico homeostático ocorre continuamente, porém
com velocidade inferior quando comparado com o componente rápido su-
pracitado. Esses processos podem incluir: ciclo de Krebs; modulação hor-
monal [cortisol, insulina, ACTH, hormônios da tireoide e GH]; ressíntese de
hemoglobina e mioglobina; aumento da atividade simpática; incremento da
respiração mitocondrial pelo aumento da concentração de norepinefrina; res-
síntese dos estoques de glicogênio muscular e hepático, aumento da tempe-
ratura. Vale ressaltar que ainda não existe na literatura um consenso sobre à
magnitude e duração do EPOC (Figura).

49
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 16
Fluxograma dos componentes rápidos e lentos associados ao EPOC

Fatores que contribuem para o Excesso de Consumo


de Oxigênio Pós Esforço

Débito de oxigênio
COMPONENTE RÁPIDO ou Excesso de consumo COMPONENTE LENTO
de Oxigênio pós esforço

Ressíntese de CP Hormônios elevados


no músculoa nora e adrenalina

Remoção do Elevação da FC
lactato pós esforço

Restauração dos Elevação da


estoques de oxigênio temperatura
dos músculos e do corporal
sangue

Fonte: adaptado de Powers et al. (2000:49)

Recentemente, diversos estudos vêm associando maior gasto energético


para os exercícios mais intensos, partindo do princípio de que é possível reali-
zar mais minutos em alta intensidade com o exercício intermitente se compara-
do com o exercício contínuo. Além disso, a intensidade e a duração constante
do exercício incidem em platô no conteúdo mitocondrial em aproximadamente
5 dias. Por outro lado, quando a intensidade é aumentada progressivamente, o
conteúdo mitocondrial continua a aumentar durante pelo menos várias sema-
nas (MACINNIS; GIBALA, 2017; SKELLY et al., 2014).
O aumento do EPOC associado a intensidade está relacionado com maior
nível de atividade do sistema nervoso simpático (estimulado pelas catecolami-
nas), contribui para elevar a taxa metabólica pós-exercício, visto que a epinefri-
na e a norepinefrina estimulam a respiração mitocondrial e a função celular e
aumenta de 20 a 35% na responsividade lipolítica no adipócito após o exercício
(WHYTE et al., 2013).
Contudo, a taxa de oxidação de lipídios ainda é maior após exercício de alta
intensidade, uma vez que a síntese de glicogênio é aumentada para repor o gli-
cogênio utilizado. Tem sido proposto, ainda, que para as pessoas que querem

50
Consumo de oxigênio pós o esforço e taxas metabólicas basal e de repouso

emagrecer, a magnitude do EPOC (custo energético) é mais importante que a


duração (FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006; WHYTE et al., 2013).
No treinamento de força (utilizando sobrecarga progressiva, por exemplo,
pesos, anilhas, aparelhos; realizados normalmente em academias), dois fato-
res podem estar associados ao EPOC. O primeiro fator refere-se às respostas
hormonais que podem alterar o metabolismo, especificamente catecolaminas,
cortisol e GH. O segundo fator refere-se ao dano tecidual acompanhado do
estímulo para a hipertrofia tecidual, pois a síntese de proteína é diminuída du-
rante o exercício em si. Após o exercício existe um fenômeno compensatório,
em que o turnover de proteína parece ser estimulado. Além disso, o processo de
síntese de proteína exige alta demanda energética (6 ATP por mol de peptídeos
formado) (FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006).

Fique ligado!
• Alterações fisiológicas agudas e crônicas.

• Alterações fisiológicas agudas: gasto calórico do exercício e recuperação EPOC.

• Alterações fisiológicas crônica: TMR.

• Consumo excessivo de oxigênio pós o esforço (termo em inglês: Excesso Post


xercise Ox ge o s mp o – EPOC).

• O EPOC após o exercício consiste em componente rápido e prolongado.

51
Termorregulação & alterações hormonais
durante o exercício

Homeostasia
O termo homeostasia foi criado pelo fisiologista inglês Bradford Cannon
(1871-1945) definido como a manutenção do ambiente interno relativamente
constante (imutável) sob condição de repouso (MOURÃO; ABRAMOV, 2013;
POWERS; EDWARD, 2014). Embora o termo homeostase é associado ao cha-
mado “estado dinâmico estável”, não significa que uma variável fisiológica
apresenta valores de repouso, e sim que esta variável é constante e imutável.
Por exemplo, a temperatura corporal em repouso encontra-se entre 36-37º C,
mas, durante 60 minutos de exercício submáximo, com carga constante, reali-
zado sob condições ambientais termoneutras, a temperatura atinge um platô
novo e estável (imutável) em 40 minutos após o início do exercício (aproxima-
damente 38ºC). Entretanto, essa temperatura constante está acima da tempe-
ratura corporal de repouso normal e não representa a condição homeostática
inicial (MOURÃO; ABRAMOV, 2013; POWERS; EDWARD, 2014).
Portanto, a homeostase durante a atividade física é o macroestado
mais provável (por isto estável), resultante dos microestados que estão se
manifestando (MOURÃO; ABRAMOV, 2013).
O microestado pode ser definido como conjunto de configurações que
os elementos de um sistema podem assumir (ex. variáveis que interferem na
temperatura do corpo: níveis hormônios, metabolismo, frequência cardía-
ca). Alostase é o fenômeno de variação do organismo para manutenção da
constância do todo (microestados). Significa manter a estabilidade através
da mudança. Macroestado é a composição resultante de um certo número
de microestado (desordenados e ordenados). Dessa forma, o macroestado
mais provável é aquele com maior quantidade de microestados possíveis
(STERLING; EYER, 1988).

53
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Retroalimentação
A maioria dos sistemas de controle do corpo funciona via feedback nega-
tivo, pois a resposta do sistema de controle é negativa (oposta) em relação ao
estímulo. O feedback negativo tem importância fundamental, pois restaura os
valores normais das variáveis e assim mantêm a homeostase, por exemplo,
quando ocorre o aumento da concentração (acima do valor normal) de CO2
no líquido extracelular, um receptor informa centro de controle respiratório e
intensifica a respiração com objetivo reduzir os níveis de CO2. Por outro lado,
o feedback positivo, intensifica o estímulo original, ou seja, a resposta ocorre
na mesma direção do estímulo. Por exemplo, no parto ocorre a liberação do
hormônio ocitocina pela glândula hipófise, promovendo o aumento das con-
trações musculares uterinas. No parto, a estimulação da cérvice (terminação
estreita do útero) aumenta e as contrações uterinas se tornam ainda mais for-
tes, e, portanto, mais hormônios são liberados.
Conforme o exemplo de feedback positivo citado acima, a homeosta-
sia está associada a dois sistemas importantes, o sistema neural e sistema
endócrino (sistema neuroendócrino). Em relação ao sistema endócrino, o
corpo possui oito glândulas endócrinas principais que sintetizam e secre-
tam substâncias bioquímicas transportadas pelo sangue, denominadas hor-
mônios, que, por sua vez, auxiliam na manutenção da homeostase, como,
por exemplo, a insulina liberada pelo pâncreas quando temos aumento da
glicemia sérica.
Além disso, o feedback é um sistema de controle biológico composto de um
receptor, um centro de controle e um efetor. O grau em que um sistema de
controle mantém a homeostasia é denominada ganho do sistema. O ganho
pode ser considerado a “capacidade” do sistema de controle. Dessa forma,
um sistema de controle que apresenta ganho amplo é mais capaz de corri-
gir uma perturbação na homeostasia quando comparado com um sistema de
controle com ganho baixo. Exemplificando, os sistemas de controle que regu-
lam a temperatura corporal, respiração e distribuição do sangue apresentam
ganhos amplos (POWERS; EDWARD, 2014).

54
Termorregulação & alterações hormonais durante o exercício

Regulação da temperatura corporal


A regulação térmica corporal é um exemplo de sistema de controle bio-
lógico de feedback negativo. Diversos receptores térmicos espalhados pelo
corpo informam as alterações de temperatura ao centro de controle situa-
do no encéfalo (hipotálamo anterior). Quando a temperatura está acima do
normal, o centro de controle responde ao estímulo com promoção de per-
da ou retenção de calor (vasodilatação, vasoconstrição cutânea, sudorese,
dentre outros). Quando a temperatura corporal é normalizada, o centro de
controle é inativado.
Vale ressaltar que quando a temperatura ultrapassa 45°C, ela destrói as
estruturas proteicas normais das enzimas e resulta em morte. Quando a tem-
peratura está abaixo de 34°C, ela retarda o metabolismo e a função cardíaca,
podendo levar à morte. Para manter a temperatura corporal central constante
utilizamos um “fomo”, e não um “refrigerador’’. Portanto, nossa capacidade
de resfriamento é significativamente restrita. A diferença ideal entre as tem-
peraturas central e externa é de aproximadamente 4°C.
Portanto, nosso corpo consegue produzir calor mais facilmente que perder.
Temos duas formas de produção de calor: voluntária e involuntária.
A voluntária ocorre por meio de contração muscular voluntaria, ou seja,
quando realizamos exercícios físicos. Quando realizamos a contração mus-
cular (descrita nos capítulos 1 e 2), muitas moléculas de ATP são hidrolisa-
das para gerar energia para o músculo. A eficiência energética de 1 mol de
glicose gera aproximadamente 686 kcal. Somando os metabolismos aeróbios
e anaeróbicos são produzidos aproximadamente 38 mols de ATP com eficiên-
cia de 7,3 kcal/mol totalizando 277,4 kcal. Dessa forma, quando dividimos a
quantidade de kcal gerado por 38 ATPs pelo valor calórico de 1 mol de gli-
cose, apenas 40% da caloria total da glicose gera ATP para o trabalho celular
(277,4 / 686 = 0,40 % energia para trabalho celular) e o restante, 60%, dispên-
dio de calor (ROBERGS, 2004).
A forma involuntária de produção de calor pode ser por tremor e/ou hor-
mônios. O tremor máximo pode aumentar a produção de calor corporal em
cerca de 5 vezes. O hormônio tiroxina produzido pela glândula da tireoide
também pode aumentar a taxa metabólica, níveis sanguíneos de catecola-
minas (adrenalina e noradrenalina). Dessa forma, a combinadas da tiroxina
e das catecolaminas é referido como termogênese sem tremor (POWERS;
EDWARD, 2014).

55
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 17
Resposta fisiológica ao aumento da “carga de calor” e ao
estresse provocado pelo frio

Resposta fisiológica Resposta fisiológica


ao calor ao frio

Receptores Receptores
térmicos térmicos

Hipotálamo

Centrais Centrais

Vasodilatação Vasoconstrição
Sudorese Tremor
Liberação de
catecolaminas e
Cutâneos tiroxina Cutâneos

Fonte: adaptado de MCARDLE; KATCH; KATCH (2016)

Falamos das formas de ganhar calor e agora é necessário entender fisiologi-


camente os mecanismos que nos auxiliam a perder calor, uma vez que o nosso
organismo não é muito eficiente em reduzir a temperatura corporal quando
comparado em aumentar.
Na literatura são apresentadas 4 formas de perder calor: radiação, convecção,
condução e evaporação.
A radiação é o conjunto de radiações emitidas por um corpo que se propaga
por meio de ondas eletromagnéticas. A radiação térmica é emitida em virtude de
causas puramente térmicas, independe da natureza do corpo emissor. Segundo
Powers & Edward (2014); McArdle et al. (2016) durante a atividade física por
exemplo corrida de rua, ocorre a transferência de calor por meio da radiação do
sol, radiação térmica do solo por exemplo. Além disso, em dias quentes quando
a temperatura da superfície é maior ocorre ganho de calor. Dessa forma,todo
ambiente em volta ao indivíduo radia calor de volta.. Condução é a transferência
de calor do corpo (átomos ou moléculas) quando objetos mais frios entram em
contato com a superfície corporal. Por exemplo, ocorre quando o corpo em con-
tato com um meio (ex. água) transfere seu calor diretamente a este. O problema
dessas formas de perder calor é que vai do mais quente para o mais frio. Na con-
vecção, a transferência de calor ocorre por meio do movimento vertical do ar que

56
Termorregulação & alterações hormonais durante o exercício

leva o calor. Por exemplo, a convecção forçada por um ventilador que desloca
grandes quantidades de ar para longe da pele. No entanto, essa forma de perder
calor segue o mesmo problema da anterior, a perda de calor vai do mais quente
para o mais frio. Por último, e a mais discutida no exercício, é a evaporação. A
principal forma de perda de calor durante o exercício, responsável por aproxi-
madamente 25% da perda de calor, o calor é transferido do corpo para a água na
superfície da pele por glândulas sudoríparas. Vale ressaltar que o suor por si só
não resfria a pele, é a evaporação que resfria a pele.
Para que ocorra a evaporação o mecanismo fisiológico é o reflexo simpático
que induz vasodilatação na pele e simultaneamente ativa as glândulas sudorípa-
ras. Dessa forma, o aumento do débito cardíaco e da pressão arterial sistólica para
atender às demandas musculares ativam hormônios adrenérgicos que por sua vez
sinalizam o ramo simpático. Também temos a atividade aumentada do hormônio
arginina vasopressina, também conhecido por hormônio antidiurético, que ajuda
na reabsorção de água, evitando que ela vá para a urina e caracterize um quadro
de desidratação induzida pelo exercício. O hormônio angiotensina II auxilia na re-
capturados tanto a água quanto sódio antes de sua excreção renal, restauração do
volume plasmático por estimular a secreção do hormônio aldosterona.

Figura 18
Formas de dissipação do calor durante o estresse físico
Radiação térmica
do céu
Evaporação
(suor) Evaporação
(respiratória) SOL

Radiação solar
Convecção
do sangue Centro
cutâneo do
corpo
Convecção
Reserva Temperatura do ar
metabólica Radiação Umidade do ar

Convecção do fluxo
sanguíneo muscular
Trabalho
Músculo
em contração
Radiação térmica
Condução do solo
Radiação solar
refletida

Velocidade da corrida

Fonte: Powers et al. (2014:266)

57
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

É possível realizar o cálculo da perda de calor por evaporação. Sabemos que


a perda de 1000 ml em suor resulta em perda de calor de 580 kcal (KRAEMER;
FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; POWERS;
EDWARD, 2014). Podemos calcular a taxa de sudorese e evaporação necessária
para a manutenção da temperatura corporal durante o esforço.
Considerando um indivíduo que realizou exercício físico por 1 hora e o
gasto calórico foi de 8 kcal/min, qual foi a perda de calor por evaporação?
Inicialmente multiplicamos os valores de duração da atividade pela kcal/
minuto. Lembrando que a nossa eficiência metabólica é de no máximo 40%,
vamos supor que no nosso exemplo a eficiência metabólica foi de apenas
20%. Portando, das 480 kcal gastas durante 1 hora e esforço, apenas 20% foi
para contração muscular e o restante foi dissipado em forma de calor. Então
nosso segundo passo é calcular 80% de 480 kcal e o resultado será dividido
pelo valor de calorias de 1000 ml de suor (580 kcal). O resultado final será a
perda de 0,660 ml de líquido na forma de suor.

• 60 x 8 kcal/min = 480 kcal

• 1000 ml de suor = 580 kcal

• 480kcal x 0,80 = 384 kcal

• 384 kcal / 580 kcal = 0,660 ml

• Obs.: evaporação necessária para prevenir o ganho de calor. Considerando a


inexistência de outros mecanismos.

Fonte: Adaptado de POWERS; EDWARD (2014)

Outro exemplo, considerando um indivíduo que realizou exercício fí-


sico por 2 horas, iniciando com 87 quilos e finalizando com 85 quilos, com
consumo de 800 ml de líquidos e volume urinário de 150ml. Qual a taxa de
sudorese, em ml/mim?

58
Termorregulação & alterações hormonais durante o exercício

• Massa corporal antes do exercício: 87 kg

• Massa corporal após o exercício: 85 kg

• Alteração de peso: 2 kg

• Líquido consumido durante o exercício: 800 ml (800 ml - 150 ml = 650 ml)

• Perda de suor: 2000 g (2 kg) + 650 ml = 2650 / 120 min (2 h de exercício)

• Taxa de sudorese: 22 ml/min

Fonte: Adaptado de POWERS; EDWARD (2014)

Também é possível estimar o ganho de temperatura por meio de cálculo do


aumento da temperatura corporal durante o exercício. Por exemplo, O marato-
nista pesa 60 kg e realiza um trabalho de 40 minutos a um VO2máx. de 3,0 L/min
(gasto energético de 12 kcal/min). Se esse corredor apresentar uma eficiência
de 20% e conseguir perder apenas 40% em calor. Qual será o aumento de sua
temperatura corporal durante essa sessão de treino?

• 40 min x 12 kcal/min = 480 kcal

• No nosso exemplo o corredor apresentava uma taxa de eficiência de 20% e


perdia 40% em calor

• 480 x 0,40 = 192 kcal

• Quantidade de calor armazenado necessária para aumentar a temperatura


corporal em 1C˚ (0,83 kcal/kg)

• 60kg (massa corporal do corredor) x 0,83/kg = 49,8 kcal/C˚

• 192 kcal / 49,8 kcal/C˚ = 3,86 C˚

Fonte: Adaptado de POWERS; EDWARD (2014)

Em resumo, o principal centro de controle da temperatura corporal é o hipo-


tálamo. O hipotálamo anterior reage às elevações de temperatura, já o hipotálamo
posterior responde à queda da temperatura. Quando ocorre a produção de calor
por exercício, aumenta em decorrência a contração, sendo proporcional à intensi-
dade devido à taxa de degradação de glicogênio muscular aumentando o metabo-
lismo de carboidratos e acúmulo de lactato, chegando ao estado de fadiga induzida

59
pelo calor. A explicação fisiológica para isso está associada ao aumento de radicais
livres. Os radicais livres são moléculas com elétrons não pareados, portanto, são
altamente reativas. O que significa que os radicais livres se ligam rapidamente a
outras moléculas. Dessa forma, resulta em dano à molécula que se combina com o
radical, exemplo, dano causado às proteínas contráteis musculares.

Fique ligado!
• Diversos receptores térmicos espalhados pelo corpo informam as alterações de
temperatura ao centro de controle situado no encéfalo (hipotálamo anterior).

• Formas de produção de calor: voluntária e involuntária.

• Formas de perder calor: irradiação, convecção, condução e evaporação.

• É possível calcular a taxa de evaporação e assim prevenir a desidratação, bem


como, é possível calcular a perda de líquidos e ganho de temperatura corporal.
Avaliação do VO 2 máximo

Limiar aeróbico e anaeróbico


O VO2máx é uma unidade de medida utilizada como parâmetro de avalia-
ção da potência aeróbica máxima e corresponde à taxa máxima de captação,
transporte e utilização de oxigênio pelo organismo (discutida no capítulo 3).
Pesquisas consideram o VO2máx como o melhor indicador da capacidade do sis-
tema cardiovascular e está diretamente relacionado com o débito cardíaco e
com a diferença artéria–venoso (dif a-v), ou seja, o conteúdo arterial de oxigê-
nio menos o conteúdo venoso de oxigênio.
A potência aeróbica e a capacidade aeróbica são fatores que permitem
quantificar, com exatidão, as exigências metabólicas, verificar o limite de
liberação de energia e zona de transição entre os metabolismos aeróbico e
anaeróbico. A potência aeróbica máxima refere-se à quantidade máxima de
captação, transporte e utilização de oxigênio na liberação de energia pelo siste-
ma oxidativo nas fibras musculares ativas por unidade de tempo. A capacida-
de aeróbica define-se pela quantidade de energia disponível para a realização
do trabalho predominantemente aeróbico. Dessa forma, reflete a capacidade
de se manter em determinada intensidade de exercício durante um período
prolongado de tempo, com baixas concentrações sanguíneas de lactato.
Os limiares ventilatórios e a potência aeróbia são parâmetros fisiológicos
considerados importantes preditores para definir a aptidão de um indivíduo
para tolerar exercício de intensidade submáxima e de longa duração (SILVA et
al., 1999). Portanto, a prescrição adequada de exercícios deve ser realizada por
meio de avaliação do VO2máx., que possibilita identificar os limiares ventilatórios.
Podemos definir que os limiares ventilatórios são momentos durante
o esforço progressivo possível identificar a mudança de vias metabólicas
(aeróbica – anaeróbica) predominantes de acordo com o incremento de cargas.

61
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Durante a teste incremental máximo um dos parâmetros com melhor


respaldo teórico é o ponto de compensação respiratória (PCR), caracte-
rizado pela intensidade metabólica, em que os mecanismos de controle
do equilíbrio ácido-base perdem a capacidade de tamponar e a produção
principalmente hidrogênio, (H+) associada a crescente demando do meta-
bolismo glicolítico anaeróbio para atender a demando energética do esfor-
ço. Outros parâmetros que também são avaliados durante teste incremental
máximo, no entanto, com menor precisão quando comparado com o PCR
são: tolerância (tempo limite, tLim): a velocidade crítica (VC), ou potência
crítica (PC) (MASSINI et al., 2016).
Essa alteração ventilatória (VO2/CO2) demonstra que o predomínio me-
tabólico passou de aeróbico para anaeróbico, devido a função compensação
de mecanismos metabólicos que tentam evitar o estabelecimento da fadiga
(exemplos: aumento exponencial de lactato no sangue levando a incapaci-
dade de tamponamento pelo sistema de bicarbonato, remoção pela a enzima
lactato desidrogenase ou metabolização pelo ciclo de Cori e hiperventilação).
Quando o esforço encontra-se acima do PCR podemos observar algumas
respostas fisiológicas: aumento desproporcional da ventilação (V̇ E), aumento
da produção de dióxido de carbono (V̇ CO2), concomitantemente, redução na
pressão expiratória de CO2 (PETCO2) e aumento na pressão inspiratória de O2
(PETO2) (MASSINI et al., 2016).
Nesse contexto, os limiares ventilatórios I e II são utilizados para o
monitoramento de zonas ideais para treinamento no qual ocorrem a perturbação
gasosa. Quando o praticante se exercita abaixo da perturbação gasosa, com
ritmo da frequência cardíaca e volume ventilatório cadenciado podemos dizer
que está no limiar ventilatório I (LI). O LI pode ser identificado quando ocorre
equivalência entre o consumo de oxigênio e a produção de dióxido de carbono.
Por outro lado, quando o esforço está acima do LI, com o aumento da carga
contínua e progressiva e a redução da capacidade adaptativa (cardiorrespira-
tória e principalmente metabólica) atingem seus limites. A partir desse ponto,
ocorre incremento do dióxido de carbono superior ao do volume de oxigênio,
ou seja, perturbação gasosa, aumento abrupto da frequência cardíaca. Essas al-
terações supracitadas ocorrem a partir do PCR também conhecido como limiar
anaeróbico e/ou limiar ventilatório II (LII).
De um ponto de vista prático, o LII ou também conhecido como limiar
anaeróbico, pode ser entendido como a mais alta intensidade que pode ser rea-
lizado um esforço sem a participacao significante do metabolismo anaeróbico.
Na sessão seguinte o objetivo será discutir os protocolos para a avaliação
do VO2máx,. bem como suas interpretações.

62
Avaliação do vo2 máximo

Avaliação do VO 2 máximo sem teste de esforço físico


Podemos avaliar o consumo máximo de oxigênio por meio de testes que
envolvem esforço físico e também podemos estimar o consumo de oxigênio
sem a necessidade de esforço físico. Apontaremos algumas vantagens na reali-
zação de um teste sem esforço físico:

• Técnicas mais simples;


• Menos onerosas e de rápida aplicação;
• Estimar a aptidão cardiorrespiratória em estudos epidemiológicos;
• Principalmente em localidades com pouca infraestrutura, onde não se-
ria possível uma avaliação indireta feita por meio de testes de campo
(piscina, pista de atletismo ou ciclismo, quadras, bosques ou ruas).
• Você é contratado para estimar a aptidão cardiorrespiratória de um co-
légio particular inteiro (700 alunos), porém conta apenas com uma se-
mana para realizar este trabalho;
• Você é contratado para avaliar a aptidão cardiorrespiratória em uma
convenção de vendas (100 vendedores), porém deverá apresentar um
laudo contendo o nível de aptidão cardiorrespiratória de cada sujeito no
final do evento (duração do evento 2 horas);
• Você quer realizar um estudo científico (epidemiológico) na população.
Seu objetivo é mensurar o risco de morbidade e mortalidade por doen-
ças crônico-degenerativas associadas a baixos níveis de aptidão cardior-
respiratória e atividade física. Terá que avaliar o VO2máx. de um grande
número de pessoas.

Existem diversos teste na literatura e foi escolhido o protocolo de George et


al. (1997) para estimativa do VO2máx sem testes de esforço físico.
O protocolo de (GEORGE et al, 1997) necessita de algumas informações
(IMC AF1-10, S, HF1-13), para estimar o VO2máx. Com os dados em mãos, será
realizado um cálculo para estimar o VO2máx: [Equação para ambos os gêneros –
VO2máx. = 44,895 + 0,688 (AF1-10) - 0,823 (IMC) - 7,042 (S) + 0,738 (HF1-13)]. Onde:
IMC = Índice de Massa Corporal em kg/m2; AF1-10 = Nível de atividade física
(escala modificada de 0 a 10, tabela 4); S = Gênero 0 Feminino 1 Masculino;
HF1-13 = Habilidade funcional percebida segundo a tabela 5.

63
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Quadro 1
Escala de pontuação modificada utilizada para avaliar o nível
de atividade física (AF1-10)

Selecione o número que melhor descreve seu nível geral de atividade


física para os últimos 6 meses.
0 = Evita andar ou fazer esforço; Exemplo: sempre usa o elevador, dirige sempre que possível em vez
de caminhar.

1 = Atividade leve: Caminha por prazer, habitualmente usa degraus, ocasionalmente se exercita
suficientemente para ocasionar respiração intensa ou transpiração.

2 = Atividade moderada: 10 a 60 minutos por semana de atividade moderada; assim como golfe,
montar a cavalo, exercícios calistênicos, tênis de mesa, boliche, levantamento de peso, trabalho no
quintal, limpeza de casa, exercício de caminhada.

3 = Atividade moderada: Mais de 1 hora por semana de atividade moderada como descrito acima.

4 = Atividade vigorosa: Corre menos que 1,6 km por semana ou gasta menos que 30 minutos por
semana em atividade física equivalente assim como corrida ou trote, natação, ciclismo, remo, pular
corda, corrida no lugar, ou está engajado em atividades tipo aeróbias vigorosas assim como futebol,
basquetebol, tênis, jogos de raquete, ou handebol.

5 = Atividade vigorosa: Corre de 1,6 km a 8 km por semana ou gasta de 30 a 60 minutos por semana
em atividade física equivalente como descrito acima.

6 = Atividade vigorosa: Corre de 8 km a 16,1 km por semana ou gasta de 1 a 3 horas por semana em
atividade física equivalente como descrito acima.

7 = Atividade vigorosa: Corre de 16,1 km a 24,1 km por semana ou gasta de 3 a 6 horas por semana em
atividade física equivalente como descrito acima.

8 = Atividade vigorosa: Corre de 24,1 km a 32,2 km por semana ou gasta de 6 a 7 horas por semana em
atividade física equivalente como descrito acima.

9 = Atividade vigorosa: Corre de 32,2 km a 40 km por semana ou gasta de 7 a 8 horas por semana em
atividade física equivalente como descrito acima.

10 = Atividade vigorosa: Corre mais de 40 km por semana ou gasta mais de 8 horas por semana em
atividade física equivalente como descrito acima.

Fonte: GEORGE et al. (1997)

64
Avaliação do vo2 máximo

Quadro 2
Escala de pontuação utilizada para avaliar a
Habilidade Funcional Percebida (HF1-13)

Exercício contínuo por 1,6 km. Que ritmo de exercício é correto somente para você não
tão fácil e não tão difícil? Circule o número apropriado (qualquer número de 1 a 13).
1. Caminhada para um ritmo lento (12 minutos e 8 segundos ou mais por km ou 4,9 kph de velocidade).
2.
3. Caminhada para um ritmo médio (11 minutos e 12 segundos por km ou 5,4 kph de velocidade).
4.
5. Caminhada para um ritmo rápido (10 minutos e 11 segundos por km ou 5,9 kph de velocidade).
6.
7. Trote para um ritmo lento (9 minutos e 5 segundos por km ou 6,6 kph de velocidade).
8.
9. Trote para um ritmo médio (7 minutos e 53 segundos por km ou 7,6 kph de velocidade).
10.
11. Trote para um ritmo rápido (6 minutos e 35 segundos por km ou 9,1 kph de velocidade).
12.
13. Corrida para um ritmo rápido (5 minutos e 54 segundos por km ou 10,2 kph de velocidade).
Com que rapidez você percorreria a distância de 4,8 km sem ficar ofegante ou
demasiadamente cansado? Circule o número apropriado (qualquer número de 1 a 13).
1. Eu poderia caminhar a distância inteira em um ritmo lento (12 minutos e 8 segundos ou mais por
km ou 4,9 kph de velocidade).
2.
3. Eu poderia caminhar a distância inteira em um ritmo médio (11 minutos e 12 segundos por km
ou 5,4 kph de velocidade).
4.
5. Eu poderia caminhar a distância inteira em um ritmo rápido (10 minutos e 11 segundos por km ou
5,9 kph de velocidade).
6.
7. Eu poderia trotar a distância inteira em um ritmo lento (9 minutos e 5 segundos por km ou 6,6 kph
de velocidade).
8.
9. Eu poderia trotar a distância inteira em um ritmo médio (7 minutos e 53 segundos por km ou
7,6 kph de velocidade).
10.
11. Eu poderia trotar a distância inteira em um ritmo rápido (6 minutos e 35 segundos por km ou
9,1 kph de velocidade).
12.
13. Eu poderia correr a distância inteira em um ritmo rápido (5 minutos e 54 segundos por km ou
10,2 kph de velocidade).

Fonte: GEORGE et al. (1997)


*kph – quilometro por hora (SI)

65
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Avaliação do VO 2 máximo com testes de campo


Além do teste sem esforço, outra forma muito utilizada para avaliar o
consumo máximo de oxigênio é utilizando teste de campo. A grande maioria
dos testes de campo, existentes na literatura envolvem basicamente três ativi-
dades distintas: caminhada (velocidade inferior a 8 km/h), trote (velocidade
entre 8,1 – 10,7 km/h) e corrida (igual ou superior 10,8 km/h) (BALKE, 1963).
Outro fator interveniente que devemos considerar é sua experiência motora
anterior. Podemos apontar as seguintes vantagens:

• Não necessitam de um ergômetro para sua aplicação;


• Mais próximo a especificidade do treinamento;
• Podem ser aplicados fora de uma situação laboratorial (extremamente
controlada);
• Quase completa ausência de recursos materiais para sua realização;
• Possibilita um grande número de pessoas simultaneamente;
• Mais práticos, baratos, fáceis e rápidos de serem aplicados;
• Apresenta alta aplicabilidade devido à flexibilidade de utilização em
diferentes lugares, tais como: quadras de futebol, pistas de atletismo,
quadras, ruas, ginásios, etc.

A nossa sugestão é o protocolo de Cooper (COOPER, 1968) que consiste


em teste de caminhada ou corrida de 12 minutos. O avaliado deverá per-
correr a maior distância possível em 12 minutos de caminhada, corrida ou
utilize a combinação de ambos. Ela deve ser adequada ao seu ritmo para
poder completá-la. População alvo são crianças, adolescentes, adultos e
idosos com baixo condicionamento físico ou atletas, para ambos os gêne-
ros. A faixa etária é entre 17 a 52 anos. Para realizar o cálculo de estimati-
va do VO2máx. utilizaremos a equação generalizada para ambos os gêneros:
VO2máx. (mL/kg/min) = (0,0268 (DP) – 11,30). Onde: DP = distância percorri-
da em metros.

66
Avaliação do vo2 máximo

Tabela 5
Nível de capacidade aeróbica para MULHERES de acordo
com o resultado da distância percorrida em metros para o teste de
caminhar e correr de 12 minutos

Categoria de Idade (anos)


capacidade
aeróbia 13-19 20-29 30-39 49-49 50-59 60 ou mais

Muito fraca ≤ 1610 ≤ 1550 ≤ 1510 ≤ 1420 ≤ 1350 ≤ 1260

Fraca 1611-1899 1551-1799 1511-1699 1421-1589 1351-1509 1261-1399

Média 1900-2080 1800-1979 1700-1969 1590-1799 1510-1699 1400-1599

Boa 2081-2300 1980-2169 1970-2089 1800-2009 1700-1909 1600-1759

Excelente 2301-2430 2170-2330 2090-2240 2010-2160 1910-2090 1760-1900

Superior ≥ 2431 ≥ 2331 ≥ 2241 ≥ 2161 ≥ 2091 ≥ 1901

Fonte: COOPER (1982)

Tabela 6
Nível de capacidade aeróbica para HOMENS de acordo com o
resultado da distância percorrida em metros para o teste de caminhar
e correr de 12 minutos

Categoria de Idade (anos)


capacidade
aeróbia 13-19 20-29 30-39 49-49 50-59 60 ou mais

Muito fraca ≤2090 ≤1960 ≤1900 ≤1830 ≤1660 ≤1400

Fraca 2091-2209 1961-2119 1901-2099 1831-1999 1661-1879 1401-1649

Média 2210-2519 2120-2409 2100-2409 2000-2249 1880-2099 1650-1939

Boa 2520-2779 2410-2649 2410-2519 2250-2469 2100-2329 1940-2129

Excelente 2780-3000 2650-2830 2520-2720 2470-2660 2330-2540 2130-2490

Superior ≥ 3001 ≥ 2831 ≥ 2721 ≥ 2661 ≥ 2541 ≥ 2491

Fonte: COOPER (1982)

67
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Avaliação do VO 2 máximo (preditor) com testes


com ergômetros (máximos e submáximos)

O teste ergométrico é o método aceito universalmente de baixo custo para


identificar doenças cardiovasculares (isquemia, arritmia, distúrbios hemodinâ-
micos, capacidade aeróbica) e diagnosticá-las. Além disso, possibilita programar
e individualizar o teste com finalidade de avaliar: respostas clínicas, resposta te-
rapêutica, tolerância ao esforço, hemodinâmicas, autonômicas, eletrocardiogra-
ma, metabólicas, ventilatórias (ANDRADE et al., 2010). O teste ergométrico é um
procedimento clínico, no qual o objetivo será avaliar o funcionamento do coração
por meio de eletrocardiógrafo. Já o teste ergoespirométrico permite avaliar o po-
tencial aeróbico utilizando de um analisador de gases que possibilita identificar
as zonas ideais para treinamento aeróbico. O teste ergoespirométrico pode ser
realizado concomitantemente com o teste ergométrico. No teste ergoespiromé-
trico, é utilizado o analisador de gases para obter as seguintes informações: fre-
quência ventilatória, frequência respiratória, quantidade de dióxido de carbono
exalado e o consumo máximo de oxigênio, que por sua vez, permite avaliar o
limiar ventilatório I e II (ANDRADE et al., 2010).
Os testes podem ser realizados com protocolos máximos e submáximos.
No protocolo máximo, o avaliado atingirá 100% do esforço fisiologicamente
possível. Esta é considerada por diversos fisiologistas do exercício como a me-
lhor maneira de identificar problemas ou patologias relacionadas ao sistema
cardiovascular e respiratório. Nos protocolos submáximos, o avaliado atingirá
85% de sua capacidade física máxima e o restante 15% será mensurado por
meio de cálculo de extrapolação da frequência cardíaca ou ainda, tempo de
realização do teste. São geralmente aplicados em populações sedentárias, car-
diopatas, crianças, adultos, idosos e atletas.
No entanto, devemos seguir algumas recomendações e indicações gerais
para a interrupção do teste de esforço físico para adultos aparentemente sau-
dáveis (ACSM, 2000):

1. Início de angina ou sintomas anginosos;


2. Queda significativa (20 mmHg) da PAS ou falha na elevação da PAS c/
aumento na intensidade de exercício;
3. Aumento excessivo da PA: PAS > 260mmHg ou PAD >115 mmHg;
4. Sinais de má perfusão: tontura, confusão, ataxia, palidez, cianose,
náuseas ou pele fria e úmida;
5. Não-aumento da frequência cardíaca com o aumento da intensidade de
exercício;

68
Avaliação do vo2 máximo

6. Alterações perceptíveis do ritmo cardíaco;


7. Solicitação da interrupção do teste pelo indivíduo;
8. Manifestações físicas ou verbais de fadiga severa;
9. Falha no equipamento.

Protocolo de Ellestad estimativa do consumo de oxigênio


Entre os protocolos de rampa, o protocolos de Ellestad é utilizado tanto
por médicos (principalmente cardiologistas) com o objetivo de individuali-
zar e avaliar repostas clínicas e na área dos Profissionais de Educação Física
com objetivo de individualização para a adequada prescrição do treinamento
(ANDRADE et al., 2010). Os protocolos de rampa seguem padrões: incremen-
tos de carga em tempos curtos, não existe tempo para “steady-state”, pouco con-
fortável, maior precisão para identificar limiares.
O protocolo de Ellestad foi criado pelo Dr. Myrvin Ellestad e é apresentado
no quadro abaixo. Para estimar o consumo de oxigênio utilizamos a seguinte
equação preditora: VO2máx. = 4,46 + (3,933 x tempo total do teste em minutos)

Tabela 8
Protocolo de Ellestad

Tempo em Velocidade em Velocidade em Inclinação da esteira


Estágio
minutos milhas / hora km / hora ergométrica

1 3 1,7 3,0 10%


2 2 3,0 5,0 10%
3 2 4,0 6,5 10%
4 3 5,0 8,0 10%
5 2 6,0 9,5 15%
6 2 7,0 11,5 15%
7 2 8,0 13,0 15%

Fonte: MENEGHELO (2011)

Protocolo de velocidade do consumo de oxigênio máximo


Importantes variáveis associadas ao VO2máx., que controla a intensidade do
exercício é a velocidade que se consegue correr na intensidade do VO2máx. cha-
mada de vVO2 máxima (vVO2máx.).

69
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

A vVO2máx. pode ser avaliada utilizando teste progressivo sendo realizado


em esteira motorizada, com inclinação mantida em 1,0% ao longo do protocolo.
A velocidade inicial deve ser de 7,0 kmh-1, com incrementos de 1,0 kmh-1min-1,
progredindo até a exaustão voluntária. Dessa forma, a vV̇ O2max deve ser con-
siderada a velocidade de corrida na qual, ocorreu a exaustão voluntária e que
projetou o V̇ O2máx. (MASSINI et al., 2016).
A vVO2máx. também pode ser avaliada em testes como o Running Field Test 5
min (5RFT) validado por DABONNEVILLE et al. (2003).
O teste 5RFT consiste em o avaliado correr a maior distância possível no
tempo de 5 minutos. A estimativa do VO2máx = m/min x 0,2 + 3,5, onde a
distância (D) deve ser em metros por minutos (distância/tempo/minuto).
Para calcular a vVO2máx podemos utilizar a velocidade instantânea (li-
near), na qual Velocidade = distância (metros) / tempo (segundos) e o resul-
tado multiplicado por 3,6 para obter o valor em km, ou o vVO2máx expres-
so em quilômetros por hora, multiplicando por 12 a distância de corrida
(d, em quilômetros) coberta durante o teste de 5 minutos: vVO2máx = 12 x d
(DABONNEVILLE et al., 2003).

Protocolo de Ãstrand
O protocolo de Ãstrand (1954) não utiliza cargas elevadas e inclinação,
sendo considerado um protocolo seguro para ser realizado por indivíduos
treinados ou sedentários, população jovem ou idosa. Além disso, o protocolo
é realizado em bicicleta ergométrica tornando-o bem seguro e fácil de ser
aplicado fora do espaço laboratorial.

Critérios para a realização do teste:

1 O protocolo é realizado em 2 blocos de 4 minutos sendo:


– Bicicleta ergométrica
– 4 minutos com carga aquecimento (AQ), com 50 a 100 watts
– 4 minutos com carga de esforço (CE), sendo 4% da massa corporal (MC)
em watts
– Portanto cada 50 watts equivalem à 1 kg
2 Frequência cardíaca (FC) na CE deve ficar entre 140 -170 bpm
3 O ritmo deve ser constante entre 50 - 60 rotações por minuto (rot/min),
ou 22 km/h.

70
Avaliação do vo2 máximo

– Recomendação 1: no último minuto da carga de aquecimento, a fre-


quência cardíaca tem que chegar próximo aos 128 bpm, se isso não
acontecer corre o risco da frequência cardíaca, na carga de esforço,
não chegar entre 140-170 bpm. Dessa forma, se no último minuto da
carga de AQ o valor da frequência cardíaca não estiver adequado,
pode ser realizado mais um ajuste de carga acrescentando entre 25 a
50 watts.

– Recomendação 2: caso seja necessário, no 2º minuto da carga de es-


forço é possível realizar um ajuste de carga (incrementar entre 25
a 50 watts) com o objetivo de que a frequência cardíaca permane-
ça próximo aos valores correspondentes dessa etapa do teste (entre
140-170 bpm).

Tabela 9
Protocolo de Ãstrand

Minutos FC Minutos FC
“aquecimento” “aquecimento” “carga de esforço” “carga de esforço”

1 1

2 2

3 3

4 4

Fonte: ÃSTRAND; RYHMING (1954)

Vamos ao exemplo: na Tabela 10, temos um exemplo dos dados coleta-


dos durante um teste com um indivíduo de 45 anos de idade, massa corpo-
ral de 100 kg, sexo masculino, sedentário com sobrepeso, saudável. Após o
ajuste da bicicleta ergométrica, o indivíduo irá realizar 4 minutos com carga
aquecimento de 50 watts (1 kg). Em seguida, acrescentaremos 150 watts com-
pletando 200 watts (4 kg) para os 4 minutos de carga esforço. Tome nota da
frequência cardíaca minuto a minuto.

71
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Tabela 10
Exemplo do Protocolo de Ãstrand realizado com indivíduo
do sexo masculino, massa corporal 100 kg

Frequência Cardíaca – Frequência Cardíaca –


Minutos Carga de Aquecimento Carga de Esforço
(bpm) (bpm)
1 89 143
2 105 156
3 115 157
4 128 166

Fonte: adaptado de (ÃSTRAND; RYHMING, 1954)

Podemos notar na Tabela 10 que o protocolo seguiu todas as recomendações


(1 e 2). Para calcular o valor estimado do VO2máx. será utilizado o valor da FC do
último minuto de teste da carga de esforço (CE), correspondente a 166 bpm.
Com esse valor precisamos do nomograma (Figura 19) para traçar a reta
e então identificar o valor do VO2máx. (em litros por minuto) desse indivíduo.
O nomograma de Ãstrand é autoexplicativo, portanto, é bem simples de
utilizá-lo. Observado o lado esquerdo do nomograma, temos os valores da fre-
quência cardíaca chamada pelo autor de Frequência de pulso de ambos os
sexos (homens ♂ e mulheres ♀). No lado direito temos os valores referentes
a Carga de trabalho em watts de ambos os sexos (homens ♂ e mulheres ♀).
Dessa forma, o primeiro passo será selecionar o valor em watts que foi utilizado
na carga de esforço (no nosso exemplo 200 watts). O segundo passo é encontrar
na coluna da Frequência de pulso o valor de frequência cardíaca atingida no
último minuto de teste (no nosso exemplo 166 bpm). É necessário tracar uma
reta ligando os pontos entre os dois valores (Frequência de pulso e Carga de
trabalho em watts). Essa reta cruzará a coluna do meio (em diagonal) com os
valores relativos ao VO2máx. estimados pelo teste.
Portanto, ao ligar os valores da frequência de pulso (166 bpm) e da car-
ga de trabalho em watts (200 watts), identificamos o valor de 3,6 litros por
minuto de VO2máx. para o nosso exemplo. Além disso, temos um pequeno
quadro no nomograma que são os fatores de correção pela idade e frequên-
cia cardíaca máxima atingida durante o teste. Ainda utilizando os valores
do nosso teste de exemplo, o indivíduo tem 45 anos, então o valor encon-
trado deve ser multiplicado pelo valor de correção (3,6 x 0,78 = 2,80 litros
por minuto de VO2máx.). Concluído, o indivíduo de 45 anos de idade, massa
corporal de 100 kg, sexo masculino, sedentário com sobrepeso, saudável

72
Avaliação do vo2 máximo

que realizou o protocolo de Ãstrand e atingiu 166 bpm no último minuto do


teste com 200 watts de carga de trabalho tem o VO2máx. estimado de 2,80 L/
min ou 28,08 mL/kg/min.

Figura 19
Nomograma de Ãstrand

Fonte: ÃSTRAND; RYHMING (1954)

Prescrição do exercício utilizando os valores do teste


de esforço
Durante os testes de esforço é muito importante que o avaliador mensure
minuto a minuto as variáveis de: frequência cardíaca, percepção subjetiva de
esforço (PSE) e o volume ventilatório (VE). Com esses valores (VO2máx, FC, PSE
e VE), podemos realizar uma análise mais detalhada da resposta fisiológica

73
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

durante o esforço e a partir disso utilizar alguns parâmetros para a prescrição


e/ou monitoramento da intensidade durante o exercício.
Para a melhor compreensão utilizamos um exemplo do teste de Ellestad e
os valores coletados durante o teste (Tabela 11).

Tabela 11
Protocolo de Ellestad com um indivíduo do sexo masculino massa corporal
de 70 kg, 20 anos de idade, saudável, moderadamente treinado.

Idade = 20 anos FCmáx estimada = 200 bpm

Tempo Velocidade Inclinação FC PSE


Estágios VE
(min) (km/h) (%) (bpm) (escala)
1
1
2 3,0 10% 89 6 20
3 92 8
4 115 9
2 5,0 10%
5 125 11
6 134 12
3 6,5 10%
7 141 14
8 156 16
4 9 8,0 10% 165 17
10 178 18
11 186 19
5 9,5 15%
12 191 20 58
13
6 11,5 15%
14
15
7 13,0 15%
16

FÓRMULA DE ELLESTAD
VO2máx. (mL/kg/min) = 4,46 + (3,933 x tempo máximo de esforço (min))
VO2máx. (mL/kg/min) = 4,46 + (3,933 x 12 min) = 51,65

Fonte: adaptado de (MENEGHELO, 2011)

74
Avaliação do vo2 máximo

Utilizando os valores do teste acima podemos iniciar o preenchimento de


alguns parâmetros importantes na ficha do praticante. O primeiro parâmetro
é a Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx) atingido durante o esforço. No nosso
exemplo o valor atingido foi de 191 bpm.
Geralmente praticantes de atividades físicas e profissionais utilizam a
FCmáx para prescrever a intensidade do esforço. No entanto, a frequência car-
díaca deve ser um parâmetro de monitoramento e não de prescrição. A forma
correta de prescrever o treinamento aeróbico é utilizando o consumo máximo
de oxigênio VO2máx.
Contudo, quando o praticante e/ou profissional não tem outra ferramenta,
a FCmáx. pode ser utilizada para prescrição. A recomendação é que utilize o cál-
culo corrigido ou utilize a fórmula da frequência cardíaca de reserva (FCreserva).
Vamos aos exemplos, utilizando a fórmula desenvolvida por Karvonen
(1988): FCmáx = 220 bpm - idade anos. O nosso exemplo na tabela acima tem
20 anos, ou seja, sua FCmáx estimado pela fórmula de Karvonen seria 200 bpm
(220 -20 = 200). No entanto, no teste de Ellestad o máximo atingido foi 191
bpm. Quando o praticante e/ou profissional utiliza o valor predito da FCmáx
para prescrever o esforço, pode ocorrer uma subestimada principalmente com
percentuais de intensidade mais baixos (50 e 60 %FCmáx.). Por exemplo, vamos
prescrever uma intensidade de 60% FCmáx e vamos utilizar o valor da FCmáx.
estimada de 200 bpm. O treinamento deverá ser realizado com a FC de 120
bpm. Sabemos que a intensidade de 60% da FCmáx. é uma intensidade leve para
moderada, no entanto, 120 bpm não representa essa intensidade para um indi-
víduo de 20 anos de idade. Quando utilizamos a fórmula da frequência cárdica
de reserva FCreserva (FCreserva = ((FCmáx. – FC de repouso) x intensidade do esforço
(%)) + FC de repouso encontraremos valores bem diferentes: FCreserva = ((200
bpm – 70 bpm) x 0,60) + 70 = 148 bpm.

75
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 20
Cálculo de intensidade de 60% da Frequência Cardíaca de Reserva

Fonte: adaptado de (Juha Karvonen and Timo Vuorimaa. Heart Rate and Exercise Intensity During Sports
Activities: Practical Application. Sports Medicine 5: 303-312 (1988)).

Dessa forma, podemos notar que a 60% da FCmáx = 120 bpm quando
comparado com a 60% da FCreserva = 148 bpm temos uma diferença de apro-
ximadamente 20%, ou seja, houve subestimativa da frequência cardíaca eu
deveria ser utilizada como monitoramento da intensidade de 60% durante
o esforço (SWAIN, 2000).
Outro exemplo comum que ocorre com praticantes de treinamentos aeró-
bicos é quando eles sabem a frequência cardíaca que estão treinando, mas não
sabem qual percentual representa da %FCmáx.
Para solucionar esse problema podemos utilizar a equação proposta por
Karvonen (1988): %FCmáx. = FC de trabalho – FC de repouso / FC máxima (FC
máxima = 220 - idade) – FC de repouso
Além disso, existe relação entre a FCmáx. e o VO2máx? A resposta é sim, exis-
te relação entre FCmáx. e o VO2máx., no entanto, essa relação não é diretamente
proporcional. Na figura abaixo podemos notar que o 100% do VO2máx. é dire-
tamente proporcional ao 100% da FCmáx. Essa relação permanece muito próxi-
ma até 92% da FCmáx. apresentando diferença de 6%. Por outro lado, quando
ultrapassamos os valores de 85% da FCmáx. e relacionamos com o VO2máx. a
diferença é de mais de 10%. Dessa forma, quando o praticante se exercita e/

76
Avaliação do vo2 máximo

ou profissional prescreve a intensidade do esforço à 60% da FCmáx. o valor do


VO2máx. é menor que 50% (SWAIN, 2000).

Figura 21
Relação entre a Frequência Cardíaca Máxima e o
Volume de Oxigênio Máximo

Fonte: Adaptado de (HEYWARD, 2004)

Segundo o Quadro 3, o valor do VO2máx 100% foi de 51,65 mL/kg/min e o


valor da 100% da FCmáx. igual a 191 bpm. Prescrevendo a intensidade do exer-
cício a 60% da FCmáx. o praticante deveria manter aproximadamente 115 bpm.
O valor de 60% da FCmáx é relacionado 45% do VO2máx. ou 23,24 mL/kg/min.
Observando a tabela 2 do capítulo 3 o valor de 23,24 mL/kg/min são valores
de VO2máx de paciente em pós infarto do miocárdio. Portanto, a prescrição da
intensidade do exercício sem levar em consideração os valores do VO2máx. pode
levar a subestimativa da capacidade física do praticante.
Resumindo a prescrição da intensidade do treinamento aeróbico deve ser
realizado a partir dos valores estimados ou em testes do VO2máx. A frequência
cardíaca deve ser utilizada apenas como controle e monitoramento e controle
de carga e sempre lembrado de utilizar cálculos corrigidos como sugestão a
frequência cardíaca de reserva (KARVONEN et al, 1988).
Para montar uma programação de treinamento para melhora do VO2máx.
para um indivíduo saudável, que pratica regularmente atividade física

77
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

(pratica corrida 2 vezes por semana com distância máxima entre 3 a 5 km,
ritmo médio de 9 minutos por km, velocidade linear de 6,6 km/h), mas nun-
ca correu provas longas. Portanto, o objetivo do cliente/praticante será uma
prova com a distância de 15 km, por exemplo, a São Silvestre que acontece
no último dia do ano. O cliente/praticante é homem, com massa corporal de
85kg, idade de 40 anos, saudável. O primeiro passo é realizar teste para ava-
liar a capacidade máxima de consumo de oxigênio (FCmáx. = 191 bpm, VO2máx.
= 47,7 mL/kg/min). Em seguida, podemos iniciar a prescrição definindo a
frequência semanal de treinamento, ou seja, a quantidades de dias na sema-
na em que iremos estimular com treinamento. A sugestão são de 3 vezes na
semana respeitando intervalo de recuperação de 24h entre as sessões afim
de estabelecer boa recuperação bioenergético e nos tecidos musculares e
conjuntivo (BESSA et al., 2016).

Quadro 1
Sugestão de frequência semanal de treinamento

Exemplos Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

1 x Off x Off x Off Off

2 Off x Off x Off x Off

Fonte: quadro de sugestão dos próprios autores.


*Off = dia sem treinos; x = dia com treino

Na Figura 22, disponibilizamos um exemplo de gráfico para melhor com-


preendemos as sugestões de prescrição e intensidade que utilizaremos. Vale
ressaltar que a nossa prescrição será apenas uma sugestão de prescrição a par-
tir dos dados de um teste de Ellestad, mas é possível usar medidas diretas do
VO2máx. ou ainda utilizar outras avaliações por exemplo, a vVO2máx., Ãstrand,
dentre outras.
Normalmente a partir de 85% da FCmáx. ocorre a predominância do meta-
bolismo anaeróbico. Utilizando a fórmula de Karvonen (FCmáx. = 220 - idade) o
nosso cliente apresentaria FCmáx. = 180 bpm. No entanto, no teste o nosso cliente
atingiu o valor de FCmáx. = 191. Como recomendação utilizaremos o valor do
teste e não a estimativa pela fórmula (KARVONEN; VUORIMAA, 1988).
Como mencionamos anteriormente acima de 85% FCmáx. ocorre a predomi-
nância do metabolismo anaeróbico, a frequência cardíaca do nosso cliente será
de 85% FCmáx =162 bpm. Podemos identificar na Figura 22, a partir do valor

78
Avaliação do vo2 máximo

de 165 bpm o metabolismo anaeróbico é predominante. No entanto, não limi-


ta nosso cliente a continuar o esforço por um período de média duração. Por
outro lado, a FC acima de 178 bpm limita nosso cliente a poucos minutos de
esforço contínuo.

Figura 22
Teste de Ellestad interpretação gráfica para prescrição do exercício
FALTAM AS UNIDADES DOS EIXOS X (FC) e Y (min)

Fonte: Informações baseadas nas experiencias em teste realizados pelos autores.

Quando temos o objetivo de aumento do VO2máx. faz-se necessário realizar


treinos acima do PCR (também conhecido como limiar ventilatório 2), discu-
tido no capítulo 6. Fazendo analogia com treinamento de força (musculação)
quando o objetivo do praticante incremente força ou secção transversa mus-
cular é comum o aumento de carga de trabalho. Por exemplo, 3 séries de 10
repetições são realizadas com a carga de 100 kg. Para promover novos ajustes
fisiológicos (força ou secção transversa muscular) o praticante deve incremen-
tar intensidade ou volume. Lembre-se que intensidade e volume são variáveis
interdependentes, portanto, quando ocorre o aumento em 1 das variáveis a ten-
dência é a redução na outra variável (Figura 23).

79
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Figura 23
Interdependência do volume e intensidade no treinamento

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

Nesse contexto, quando o praticante incrementa a intensidade, por exemplo,


110 kg é comum não atinja o mesmo número de repetições (10 repetições) sen-
do necessário reduzir o volume do treino para 8 repetições consequentemente.
Voltando ao nosso exemplo do praticante de corrida com objetivo de rea-
lizar uma prova de 15 km, é importante o aumento do VO2máx., isso permitirá
a realização da prova em menor tempo e melhor velocidade. Um dos aspectos
importantes na melhora do VO2máx. está na relação do tempo de prova e fadiga.
Lembrando que o nosso praticante tem o ritmo médio 9 minutos por km e veloci-
dade de 6,6 km/h, para terminar 15 km levaria aproximadamente 2 horas e 27 mi-
nutos. Provas muito longa duração, mesmo com velocidade abaixo do LI podem

80
Avaliação do vo2 máximo

levar a fadiga energética (HEYWARD, 2004; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;


POWERS; EDWARD, 2014; ROBERGS, 2004; SCHNEIDER et al., 2017).
Para realizar treinamentos acima do PCR (acima de 85%FCmáx.) será neces-
sário fracionar o treinamento, realizando treinamentos atualmente chamados
de treinamentos intervalados de alta intensidade conhecido pelo termo na lín-
gua inglesa HIIT (high intensity interval training) (MACINNIS; GIBALA, 2017).
Existe vasta publicação na literatura sobre os benefícios do treinamento
HIIT, contudo, os aspectos que dificultam comparação entre as pesquisas so-
bre o HIIT são: fragilidades que apontam no raciocínio teórico; nos diferentes
métodos utilizados; e mesmo nas conclusões, todas derivam de discordância
metodológica associado principalmente ao desenho experimental.
Portanto, não temos um único protocolo de treinamento HIIT, dessa for-
ma, para melhor compreender a utilização de algum protocolo de treinamento
HIIT utilizaremos a definição proposta por Macinnis & Gibala, (2017).
Segundo os autores, o HIIT pode ser definido como esforço próximo do má-
ximo, realizado na intensidade que elícita ≥ 80% (frequentemente 85-95%) da
máxima frequência cárdica separados por algumas propostas: 1) High-Intensity
Interval Training (HIIT): intensidade que elícita igual ou acima de 80% da fre-
quência cárdica máxima, tempo de duração até 2 minutos; 2) Sprint Interval
Training (SIT): esforços “total” ou “supra máximos” 100% da frequência cárdica
máxima, tempo de duração 20, 30, 40, 45, 50, 60 segundo; e 3) Moderate Intensity
Continuous Training (MICT): contínuo e com intensidades entre 80-85% da fre-
quência cárdica máxima, tempo de duração aproximadamente 5 minutos.
Podemos notar que as propostas supracitadas acima são bem diferentes en-
tre volume e intensidade. Devemos escolher a proposta que mais se aproxime
da especificidade da modalidade esportiva e/ou metabolismo exigido durante
a competição.
Nesse contexto, nossa sugestão será moderate intensity continuous training, o
motivo é simples queremos trabalhar o VO2máx. mas não podemos esquecer que
o objetivo do praticante é uma prova de 15 km. Portanto, realizar treinamentos
com intensidades vigorosas e volumes reduzidos podem não ser o suficiente
para melhora do VO2máx. e/ou a manutenção do ritmo de prova.
Nosso praticante já realiza corridas entre 3 a 5 km então devemos incre-
mentar quilometragem velocidade gradativamente durante as sessões de
treinamento.
Podemos iniciar a semana (segunda-feira) com treinamento de moderada
intensidade (75% do VO2máx.), no qual, o objetivo é manter essa intensidade du-
rante 6 km, ou seja, 1 km acima do habitual. No próximo treino (quarta-feira)
podemos trabalhar os treinamentos de alta intensidade (próximo ao 100% do

81
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

VO2máx.) estimulando a biogênese mitocondrial (JOSEPH et al., 2006; KOH et


al., 2017) e ajustes periféricos e centrais associados a VO2máx (CAREY et al., 2001;
HAWLEY et al., 2014) (detalhes dos ajustes periféricos e centrais associados ao
VO2máx. leitura do capítulo 3). Dessa forma, nossa sugestão são treinamentos in-
tervalados com 85-87% do VO2máx., ao invés de marcar por tempo, o praticante
deverá cumprir à distância de 1 km. Para manter o mesmo volume de treina-
mento da primeira sessão de treinamento (segunda-feira) o praticante deverá
realizar 6 “tiros” de 1 km totalizando 6 km.
No último treino da semana (sexta-feira) nossa sugestão de treino regene-
rativo, com intensidade leve, mas volume alto, por exemplo, distância de 8 km
e a intensidade de 70% VO2máx. (Tabela 12).
Para justificar melhor a nossa sugestão de divisão de treinamento asso-
ciado as intensidades e os metabolismos energéticos, seguimos o heterocro-
nismo da recuperação proposto por Monteiro (2011). Dessa forma, quando se
estimula priorizando o metabolismo aeróbico, antes que ocorra outro estímu-
lo para o mesmo metabolismo são necessárias 48 horas (ou mais) de intervalo
entre as sessões de treinamento, para que ocorra recuperação suficiente; já se
o estímulo seguinte priorizar o metabolismo anaeróbio lático, 24 horas são
suficientes para recuperação; e se o estímulo seguinte priorizar o metabolis-
mo anaeróbio alático, apenas 6 horas são suficientes para recuperar. Contudo,
se o estímulo inicial priorizar o metabolismo anaeróbico lático, os intervalos
necessários para uma recuperação adequada são: 48 horas ou mais para ou-
tro estímulo priorizando o mesmo metabolismo, no entanto, 24 horas para o
metabolismo anaeróbio alático e apenas 6 horas para o aeróbico. Portanto,
a sugestão dos treinos mais intensos no início da semana, e o treinamento de
maior intensidade na quarta-feira deixando o treinamento mais longo para o
fim da semana com a maior predominância aeróbica respeitando o heterocro-
nismo da recuperação (Tabela 13).

82
Avaliação do vo2 máximo

Tabela 12
Sugestão de treinamento com objetivo de incremento do
VO2máx. para prova de 15 km

SEMANA
Parâmetros Segunda-feira Quarta-feira Sexta-feira
Intensidade
(VO2máx.) 85-87% VO2máx. 70% VO2máx.
75% VO2máx.
Exemplo: Exemplo: Exemplo:
Frequência cardíaca
entre 156 – 168 entre 178 – 182 bpm (Figura entre 140 – 156 bpm
(bpm)
bpm (Figura 15) 15) (Figura 15)
Velocidade Exemplo: Exemplo: Exemplo:
(km/h) 8 km/h 9,5 km/h 7,0 ou 7,5 km/h
Volume
6 km 6 km 8 km
(km)
Metade do tempo para
Intervalo de realizar o “tiro”. Exemplo
Recuperação - duração de 6 minutos, -
(min) recuperação de recuperação
3 minutos
Observação:
• Monitore a intensidade (VO2máx.) utilizando os valores de FC.
• Utilize a tabela 9 para relacionar o VO2máx. com FCmáx.
• Ajuste a intensidade do treinamento sempre que necessário
• Objetivo será manter a FC próximo ao valor associado a intensidade do VO2máx. evitando a fadiga
precoce.

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

Tabela 13
Heterocronismo da recuperação associado ao metabolismo

Intervalo entre os estímulos


Estímulo inicial Intervalo de Intervalo de Repetir o estímulo (48
6 horas 24 horas horas)
aeróbico anaeróbico alático anaeróbico lático aeróbico
anaeróbico lático aeróbico anaeróbico alático anaeróbico lático
anaeróbico alático anaeróbico lático aeróbico anaeróbico alático

Fonte: Informações baseadas nas experiencias em teste realizados pelos autores e informações
adaptadas de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

83
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

O monitoramento do treinamento por meio da frequência cardíaca deve ser


constante. Assim que a frequência cardíaca começar a reduzir sem alterações de car-
ga de treinamento (volume e intensidade) será o momento de realizar alterações no
volume do treinamento. Realizaremos alterações de volume por motivo bem sim-
ples, o objetivo do praticante não é correr 100 metros em 9,58 segundos (Recorde do
atleta velocista olímpico Usain Bolt). O objetivo será realizar prova de longa distân-
cia 15 km. Dessa forma, precisamos implementar quilometragem e além disso, atin-
girmos velocidade adequado para o término da prova abaixo de 2 horas. A sugestão
será de 8 km/h (1 hora e 52 minutos de prova) ou 9 km/h (1 hora e 40 minutos).

Tabela 14
Periodização de 12 semanas para 15 km

Periodização de 12 semanas

Mês 1 2 3

Semanas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Dias de
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
treino

Objetivo: Entre Entre Entre Dia D


Distância 7-8 km 9-10 km 12-13 km (15km)

Fonte: Informações baseadas nas experiencias em teste realizados pelos autores e informações
adaptadas de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

A Tabela 14 mostra a importância de incrementar volume e posteriormente


velocidade durante a periodização. A periodização deve ser regressiva, ou seja,
uma semana antes da prova o praticante deve ser capaz de correr por 12 km,
mantendo o ritmo de 8 ou 9 km/h. Entre três a quatro semanas antes, o prati-
cante deve ser capaz de correr por 9 a 10 km, mantendo o ritmo de 8 ou 9 km/h.
Entre sete e oito semanas antes, o praticante deve ser capaz de correr por 7 a 8
km, mantendo o ritmo de 8 ou 9 km/h.
Resumindo, a frequência cardíaca deve ser utilizada como parâmetro de
monitoramento do esforço cardíaco. Além disso, a frequência cardíaca está
relacionada com o consumo de oxigênio. Dessa forma, torna-se importante o
monitoramento pela da frequência cardíaca para o controle de carga de treina-
mento. Vale ressaltar que as planilhas de treinamento e/ou exemplos supracita-
das são sugestões de treinamento, e, portanto, devemos levar em consideração
outros fatores tais como: variabilidade interindividual, individualidade bioló-
gica, rendimento crescente, valores iniciais e progressão (HEYWARD, 2004).

84
Gasto calórico vs exercício

Consumo de oxigênio e mensuração


da produção de energia

O gasto energético durante o repouso e o esforço são associados aos


processos metabólicos aeróbico ou anaeróbico, os quais, fornecem energia
oriunda dos substratos energéticos (composto orgânicos) transformando-os
em energia química, resultado em ATP (RATAMESS et al., 2014; ROBERGS,
2004; SCOTT, 2011b; VEZINA et al., 2014) Um mmol de ATP degradado
produz o equivalente a 7,3 kcal. A energia potencial liberada pela oxidação
de um mol de glicose é de 686 kcal. Portanto, o valor de eficiência do meta-
bolismo aeróbia pode ser calculado considerando:

38 mmol de ATPs x 7,3 kcal/mmol = 277,4 kcal

Energia potencial total da glicose = 686 kcal

(277,4 kcal / 686 kcal = 0,4043 ou 40% de energia para trabalho celular)

A eficiência metabólica da cadeia respiratória aeróbica é de aproximada-


mente 40%, sendo que os 60% remanescentes de energia livre da oxidação
da glicose são liberados na forma de calor (GASTIN, 2001; KAPLAN, 2001;
ACHTEN & JEUKENDRUP, 2004; HUG et al., 2005; BURGOMASTER et al.,
2006; CHANCE et al., 2006). Segundo Motta (2007), um homem de 70 kg seden-
tário tem sua necessidade energética de aproximadamente 10.000 kj (2390,05
kcal) e energia contida em 1 ATP após sua hidrolise é de -30,5 kj (-7,28 kcal).

85
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Portanto, esse indivíduo deve hidrolizar o equivalente a 328 moléculas ou 165


kg de ATP por dia. No entanto, o corpo contém somente cerca de 50 g de ATP.
Dessa forma, cada molécula de ATP deve ser ressintetizada e desfosforilada
mais de 3.000 vezes a cada 24 horas para suprir as necessidades energéticas
desse individuo (MOTTA, 2007).
Dessa forma, a produção de energia e calor pode ser mensurada e a uni-
dade de medida utilizada é caloria. A caloria pode ser entendida como o calor
necessário para elevar 1 g de água em 1° C, o que representa valor muito baixo
de calor, sendo adotada a unidade em quilocalorias (kcal) (quilo = 1000 contêm
1000 calorias, 1 kcal = 4,186 kj) para determinar a taxa metabólica (SANTOS,
2013; VEZINA et al., 2014; KRAEMER et a., 2016).
Em atividade física os métodos mais utilizados para mensurar o gasto ener-
gético são: calorimetria direta e calorimetria indireta.
A calorimetria direta consiste em câmara hermética que mede o calor pro-
duzido que eleva a temperatura da água no compartimento envolta da câmara
e a temperatura da água, permitindo calcular as quilocalorias durante determi-
nando período (alimento + O2 à ATP + calor, ATP = calor pelo trabalho celular).
Embora a calorimetria direta seja mais precisa para determinar a taxa meta-
bólica, apresenta custo elevado, técnica complexa, sendo o motivo da maioria
dos estudos utilizarem a calorimetria indireto na estimativa das quilocalorias
utilizadas em atividades ou repouso (BURGOMASTER et al., 2006; GRASSI,
2005; REIS et al., 2011; SCOTT, 2011b; VOLP et al., 2011).
A calorimetria indireta é uma técnica de custo aceitável, não invasiva
na qual os instrumentos são mais leves e facilitam a manutenção da medi-
da. Mas mesmo assim exige que o indivíduo respire dentro de uma máscara
que pode ter dimensões variáveis. Mensura a quantidade de oxigênio (O2)
inspirado e de dióxido de carbono (CO2) expirado pelos processos metabóli-
cos (anaeróbico e/ou aeróbico), a energia fornecida dos substratos energéticos
(carboidratos e ácidos graxos) que também necessitam de oxigênio e produz
CO2 e água durante a sua metabolização (ACHTEN; JEUKENDRUP, 2004;
BURGOMASTER et al., 2006; CROWTHER et al., 2002; DOS SANTOS, 2013;
GRASSI, 2005; KAPLAN, 2001; PINTO; LUPI; BRENTANO, 2011; REIS et al.,
2011; VOLP et al., 2011).
Portanto, todas as reações que liberam energia dependem da utilização
do oxigênio, desse modo, quando medimos os valores O2 inspirado e de
CO2 expirado, é possível determinar o percentual de cada substrato ener-
gético utilizado, bem como a produção de energia e a sua razão de troca
respiratória.

86
Gasto calórico vs exercício

A razão da troca respiratória (RR) refere-se à razão do volume de oxigê-


nio consumido (VO2) e o volume de CO2 produzido durante o metabolismo
(aeróbico e/ou anaeróbico) (VCO2 / VO2). O gasto energético pode ser calcu-
lado pela RR, pois o oxigênio necessário para metabolizar o carboidrato e
lipídio e o CO2 produzido são diferentes e estão em proporção específica.
Para 1 molécula de glicose (C6-H12-O6) são adicionados 6 oxigênios e produ-
zidos 6 CO2 (6 O2 + C6-H12-O6 à 6 CO2 + H2O + 30 ATP). Dessa forma, a RR da
glicose será de 1,0 (6CO2/6O2 = 1,0). Por outro lado, quando ocorre a predo-
minância do triacilglicerol (C16-H32-O2) durante o exercício, são adicionados
16 oxigênios e produzidos 23 CO2 (23 O2 + C16-H32-O2 à 16 CO2 + 16 H2O +
129 ATP), resultando em RR de 0,7 (16 CO2 / 23 O2 = 0,6956) (GASTIN, 2001;
GRASSI, 2005; BURGOMASTER et al., 2006; PINTO et al., 2011; KRAEMER
et al., 2016) (Tabela 15).

Tabela 15
Razão da troca respiratória dos carboidratos e gorduras

Valor
Razão da troca Respiratória (RR)
do RR

Macronutrientes VCO2 / VO2

Carboidrato 6 CO2 / 6 O2 = 1,0

Gordura 16 CO2 / 23 O2 = 0,6956

Fonte: adaptado de (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

Vale relembrar que os valores do consumo de oxigênio podem ser expres-


sos de forma absoluta (litros por minuto – L/min) ou relativa (mililitros por
minuto por quilograma de massa corporal – mL/kg/min) (DOS SANTOS, 2013;
FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006; GRASSI, 2005; MEIRELLES; GOMES,
2004; REIS et al., 2011; ROBERGS, 2004).
Dessa forma, o consumo de oxigênio está relacionado com dispêndio de
energia (caloria) de aproximadamente 5 kcal quando utilizamos uma mis-
tura de carboidrato, gordura e proteínas com 1 litro de oxigênio (ACHTEN;
JEUKENDRUP, 2004; BURGOMASTER et al., 2006; CROWTHER et al.,
2002; DOS SANTOS, 2013; GRASSI, 2005; KAPLAN, 2001; PINTO; LUPI;
BRENTANO, 2011; REIS et al., 2011; VOLP et al., 2011).

87
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Equivalência metabólica de trabalho (met)


Mencionamos no capítulo 4, que a taxa metabólica em repouso deve ser
mensurada em repouso, com o indivíduo em decúbito dorsal, após período de
jejum e sem prática de exercícios. Por outro lado, a taxa metabólica em repouso
varia com a idade e o gênero, sendo menor nas mulheres do que nos homens,
e diminuindo com o avanço da idade (FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006;
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;
POWERS; EDWARD, 2014).
No entanto, em repouso consumo oxigênio para a manutenção fisiológica
do organismo. O consumo de oxigênio em repouso é representado pelo ter-
mo MET (equivalência metabólica de trabalho), igual a 3,5 mL/kg/min. Dessa
forma, em repouso o consumo de 3,5 mL/kg/min será equivalente a 1 MET
(FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006; KRAEMER; FLECK; DESCHENES,
2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; POWERS; EDWARD, 2014).
O gasto energético de atividades físicas pode ser expresso em termos de
múltiplos de unidade de MET, ou seja, a expressão em MET também pode ser
utilizada para expressar a quantidade de calorias gasta pelo indivíduo por kg
de massa corporal por minuto ou hora (FOUREAUX; MAURO; PINTO, 2006;
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016;
POWERS; EDWARD, 2014).
Para converter o consumo de oxigênio (VO2) em calorias utilizamos o equi-
valente calórico de 1 litro de O2 varia de 4,7 kcal para gorduras a 5,05 kcal para
carboidratos. Entretanto, por motivos práticos e comum erro pequeno, 5 kcal
de O2 é o valor usado para converter VO2 (1 litro) em kcal/mim supracitado
(ACHTEN; JEUKENDRUP, 2004; BURGOMASTER et al., 2006; CROWTHER
et al., 2002; DOS SANTOS, 2013; GRASSI, 2005; KAPLAN, 2001; PINTO; LUPI;
BRENTANO, 2011; REIS et al., 2011; VOLP et al., 2011).
Vale relembrar, quando o VO2 estiver expresso em L/min, para converter para
valores relativos em mililitros/kg/minuto (mL/kg/min), deve-se multiplicado por
1.000 para ser expresso em mL/min, e dividir pela massa corporal do indivíduo
expresso em kg. Isso permite comparações entre indivíduos de diversos tama-
nhos corporais conforme mencionado no capítulo 3.2. Exemplificando, homem
de 80 kg com VO2 = 2,4 L/min: (2,4 L/min x 1.000 mL/L) / 80 kg = 30 mL/kg/min.
Dessa forma, para calcular o gasto energético total tanto em repouso quan-
to em atividade física, basta multiplicar as quilocalorias gastas por minuto
(kcal/min) pela duração da atividade em minutos.
Por exemplo, homem de 80 kg em repouso consome por quilo de mas-
sa corporal 3,5 mL/O2/min para a manutenção de funções vitais. Sabemos que

88
Gasto calórico vs exercício

cada 1 L de O2 consumido é equivalente a 5 kcal. Portanto, para encontrar o


valor de mL/min equivalente a massa corporal total, devemos multiplicar 80 kg
por 3,5 mL/kg/min, então, dividir por 1.000 para transformar o valor em L/min
e finalmente multiplicar por 5 kcal (correspondente a 1 Litros de O2) e consecu-
tivamente pelo tempo em minuto.
Exemplificando, homem de 80 kg x 3,5 mL/kg/min = 280 mL/min; 280 mL/
min 1000 = 0,280 L/min x 5 kcal = 1,4 kcal/min x 60 min = 84 kcal/h x 24h =
2016,00 kcal/dia.
No exemplo acima, notamos que um homem de 80 kg consome por minuto
0,280 L/min equivalente a 1,4 kcal por minuto, ou 84 kcal por hora, totalizando
em 24h 2016,00 kcal.
Entendendo essa relação de gasto energético minuto, hora e dia, fica fácil
explicar o motivo que leva a população mundial engordar. Atualmente é muito
fácil consumir calorias, pois há diversos alimentos que apresentam densidade
calórica muito alta, além disso, são alimentos comuns no nosso cotidiano, por
exemplo, balas (4-40 kcal), açúcar (25 kcal por 5 gr) no café ou no suco, bolachas
(469 kcal por 100 gr), barra de cereal (108 kcal por 80 gr), dentre outros. Todos
esses alimentos são leves (entre 5 a 100 gr), mas com alto valor calórico (entre
4 a 40 kcal). Quando dividimos seu valor calórico pelo seu peso notamos que
esses alimentos apresentam alta densidade calórica.
Dessa forma, um homem de 80 kg que consome 84 kcal por hora ao tomar 2
xicaras de café com 4 saches de açúcar, consumiu 100 kcal em 1 hora, apresen-
tando saldo positivo de 16 kcal.
Agora vamos ao exemplo do gasto energético da atividade física, programada,
organizada com exercícios e tarefas a serem cumpridas durante uma periodização.
Seguindo o exemplo supracitado, um homem de 80 kg que realiza na academia
treinamentos 2 vezes por semana durante 1h, os primeiros 30 minutos são desti-
nados a atividade com predominância do metabolismo aeróbico (exemplo corrida
na esteira) e os outros 30 minutos são realizados exercícios de força popularmente
chamados de musculação (series múltiplas, alternado por seguimentos).
Para realizar o cálculo do gasto energético das atividades (musculação e
corrida) precisamos saber qual é o consumo de oxigênio (VO2) durante cada
atividade. Portanto, é imprescindível a avaliação do VO2máx. para estimar o gas-
to energético e para a prescrição adequada do treinamento.
Na Tabela 16, apresentamos os valores exemplos de FCmáx (bpm); VO2máx
(mL/kg/min) e MET. A partir do valor do teste de VO2máx., podemos calcular o
MET máximo basta dividir o valor de consumo de oxigênio de repouso 3,5 mL/
kg/min pelo valor máximo atingido durante o teste (45 mL/kg/min 3,5 mL/kg/
min = 13 METs).

89
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Portanto, o indivíduo pratica a corrida habitualmente em intensidade de 9


METs, monitorada por sua FC de trabalho (FC de reserva + FC de repouso = 70
bpm) que corresponde a 159 bpm e VO2máx. 31,50 mL/kg/min.
Agora que sabemos o valor de VO2 e a equivalência metabólica MET cor-
respondente a intensidade do exercício podemos calcular o gasto energético
dessa atividade.
Exemplificando, homem de 80 kg, VO2máx. 45,00 mL/kg/min, FCmáx 180 bpm,
FCrepouso 70 bpm, realiza 30 minutos de exercício aeróbico a 9 METs = FCtrabalho
159 bpm.
Observe que para calcular o gasto calórico foi necessário converter mL em
L e posteriormente multiplicarmos por 5 kcal (consumo de 1 litro de oxigênio
= 5 kcal). Para facilitar nosso cálculo, iremos realizar isso antecipadamente, di-
vidindo 3,5 mL/kg/min por 1.000 L e o resultado multiplicando por 5 kcal (3,5
1.000 x 5 kcal = 0,0175).
Utilizaremos a seguinte fórmula:

kcal = Intensidade em METs x 0,0175 x Massa Corporal x Tempo de Esforço

Seguindo esse raciocínio: 9 METs x 0,0175 x 80 kg x 30 minutos de exercício


= 378 kcal.
O mesmo caminho deve ser seguido para calcular a segunda metade do
treinamento (musculação). A estimativa que o gasto energético no treinamen-
to de força apresente valores significantemente menores quando comparados
aos treinamentos com predominâncias aeróbicas, contudo, ainda não é con-
senso na literatura (REIS et al., 2017; SCOTT, 2006, 2011a). Em estudos reali-
zados pelo nosso grupo (dados ainda não publicados) o gasto energético no
treinamento de força em diferentes intensidades com volume equalizado em
média 5 kcal/min que corresponde valores entre 3,5 – 4,0 METs corroborando
com valores publicados no (“Compendium of Physical Activitie”, 2018) asso-
ciados ao treinamento de força.
Nesse contexto, podemos estimar que o treinamento de força foi equiva-
lente a 6 METs em média x 0,0175 x 80 kg x 30 minutos de exercício = 252 kcal.
Portanto, esse individuo que realiza 2 vezes por semana durante 1 h de
exercícios, sendo 30 minutos corrida na esteira e os outros 30 minutos na mus-
culação gasta aproximadamente 630 kcal por sessão de treinamento.

90
Gasto calórico vs exercício

Caso o objetivo desse indivíduo seja reduzir 5 kg de gordura corporal,


quanto tempo seria necessário para atingir esse objetivo, considerando o
valor de gasto energético por sessão e sua frequência semanal? Para res-
ponder essa pergunta devemos saber quantas kcal devem ser “perdidas”
para reduzir 5 kg em gordura corporal. Para cada 1 kg de gordura são equi-
valente 7700 kcal, portanto, 5 kg x 7700 kcal = 38.500 kcal (HUNTER et al.,
2015; IWAYAMA et al., 2015; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016; POWERS;
EDWARD, 2014).
Levando em consideração que o gasto energético por sessão de 630 kcal
sendo realizado 2 vezes por semana igual a 1.260 kcal por semana, sendo
4 semanas que compõem 1 mês, totalizando 5.040 kcal o gasto energético
mensal. Dessa forma, se dividirmos o 38.500 kcal (valor necessário para re-
duzir 5 kg de gordura) por 5.040 kcal (gasto energético mensal), o nosso
praticante levaria aproximadamente 8 meses para atingir seu objetivo.

Tabela 16
Parâmetros relacionados ao teste de VO2máx

FCmáx FC reserva FC trabalho VO2máx


%FCmáx %VO2máx MET
(bpm) (bpm) (bpm) (mL/kg/min)

100% 180 110 180 100% 45,00 13


96% 173 106 176 90% 40,50 12
92% 166 101 171 85% 38,25 11
88% 158 97 167 80% 36,00 10
85% 153 94 164 75% 33,75 10
81% 146 89 159 70% 31,50 9
77% 139 85 155 65% 29,25 8
74% 133 81 151 60% 27,00 8
70% 126 77 147 55% 24,75 7
66% 119 73 143 50% 22,50 6
57% 103 63 133 45% 20,25 6

Fonte: adaptado de (ÃSTRAND; RYHMING, 1954; Karvonen et al., 1988;(KARVONEN; VUORIMAA, 1988;
SWAIN, 2000; HEYWARD, 2004; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016).

91
Os primeiros passos em fisiologia do exercício

Atualmente, muitos estudos vêm associando o emagrecimento aos treina-


mentos intervalos. No capítulo 6, mencionamos nossas preocupações sobre a
divergências entre estudos sobre o tema HIIT, a falta de consenso na literatura
relacionado a prescrição do treinamento, o que dificulta a comparação dos seus
desfechos entre as pesquisas. Contudo, o treinamento de alta intensidade pode
ser uma excelente opção treinamento de curta duração (entre 33 a 48 minutos)
com o gasto energético entre 177 a 300 kcal aproximadamente.
No estudo Moriaty et al. (2017) intitulado “The physiology of sprint inter-
val training” Pesquisaram 3 diferentes protocolos de treinamentos interva-
lados associados a gasto energético. O primeiro protocolo (30:30) foi com-
posto por 30 segundos em alta intensidade e 30 segundos realizados em
baixa intensidade. Foram realizados 10 séries de 10 minutos de teste adi-
cionando 3 minutos de aquecimento e 20 minutos de EPOC, totalizando 33
minutos. No segundo protocolo (30:60), foram realizados 30 segundos em
alta intensidade e 60 segundos em baixa intensidade, 10 séries, 15 minutos
de teste adicionando 3 minutos de aquecimento e 20 minutos de EPOC,
totalizando = 38 minutos. No último protocolo (30:90), foram realizados
30 segundos em alta intensidade e 90 segundos em baixa intensidade, 10
séries de 20 segundos de teste adicionando 3 segundos de aquecimento
e 20 minutos de EPOC, totalizando = 43 minutos. Segundos os autores, o
gasto enérgico foi significante maior no protocolo 30:60 em comparação
aos outros protocolos (30:30 e 30:90). A hipótese levantada pelos autores
foi relacionada ao intervalo de recuperação e as vias metabólicas oxidativo
e recuperativo entre os protocolos.

Tabela 17
Gasto energético do treinamento de alta intensidade

Protocolo Tempo (min) Gasto energético (kcal) Gasto energético (kcal/min)

30:30 33 183±25 5,54

30:60 38 294±34 7,73

30:90 43 277±58 6,44

Fonte: Adaptado de (MORIATY ET AL., 2017)

Em resumo, podemos estimar o gasto energético de repouso em atividade

92
Gasto calórico vs exercício

pode meio do consumo de oxigênio. Todas as reações que liberam energia de-
pendem da utilização do oxigênio, desse modo, quando medimos os valores
O2 inspirado e de CO2 expirado, é possível determinar o percentual de cada
substrato energético utilizado bem como a produção de energia e a sua razão
de troca respiratória. Dessa forma, o consumo de oxigênio está relacionado
com dispêndio de energia (caloria) de aproximadamente 5 kcal quando uti-
lizamos uma mistura de carboidrato, gordura e proteínas com 1 litro de oxi-
gênio. O consumo de oxigênio em repouso é representado pelo termo MET
(equivalência metabólica de trabalho), igual a 3,5 mL/kg/min. Dessa forma,
em repouso o consumo de 3,5 mL/kg/min equivale a 1 MET. Da mesma for-
ma, podemos estimar o gasto energético do exercício utilizando o valor de
consumo de oxigênio associado ao MET e o tempo de esforço.
Pelos exemplos supracitados, a prática regular de atividade física e in-
gestão kcal adequada são essenciais para um programa de redução de mas-
sa corporal

Fique ligado!
• Equivalência metabólica da taxa de repouso = 1 MET = 3,5 ml/kg/min (200-250 ml
oxigênio)

• 1 litro de oxigênio consumido pelo organismo equivale a 5 kcal

• Para converter mL/kg/min em MET ou divida por 3,5 mL/kg/min

• VO2 absoluto (L/min) converter para VO2 relativos (mL/kg/min), multiplica-se por
1.000 e dividir pela massa corporal do indivíduo expresso em kg

• Por exemplo, exercício a 9 MET significa que você está 9 vezes acima da taxa
metabólica de repouso

• Constante 0,0175 = 3,5 mL/kg/min dividindo 1.000 L e o resultado multiplicando


por 5 kcal

• kcal = Intensidade em METs x 0,0175 x Massa Corporal x Tempo de Esforço

• 1 kg de gordura = 7700 kcal

93
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100
Livros da Coleção Literária
1. Fragmentos Históricos da Regulamentação da Profissão de Educação Física e da
Criação e Desenvolvimento do CREF4/SP
2. O Desporto Paralímpico Brasileiro, a Educação Física e profissão
3. Treinamento de força: saúde e performance humana
4. Faculdade Aberta para a Terceira Idade: educação para o envelhecimento e seus
efeitos nos participantes
5. Gestão, Compliance e Marketing no esporte
6. Ginástica laboral e saúde do trabalhador
Saúde, capacitação e orientação ao Profissional de Educação Física

7. Projeto Desporto de Base (PDB): 30 Anos de História e Realizações (1989/2019)


Um breve relato de experiência da cidade de Piracicaba/SP e uma proposta
metodológica para programas de formação e lazer físico-esportivo

8. Estratégias de Recuperação e Controle de Carga de Treinamento


9. Atividade Circense
Ações pedagógicas na licenciatura e no bacharelado

10. Os primeiros passos em Fisiologia do Exercício: Bioenergética, Cardiorrespiratório


e gasto energético
11. Eu não estudei para isso: temas emergentes no estágio em Educação Física
12. Métodos contemporâneos para elaboração de programas de treinamento de
esportes de alto rendimento
13. Dinâmicas lúdicas no ambiente corporativo: da teoria à prática
14. Futebol profissional: metodologia de avaliação do desempenho motor
15. Leis de incentivo ao asporte: novas perspectivas para o desporto brasileiro
16. Memórias de Boas Práticas no Esporte: Profissionais de Educação Fisica no
contexto do olimpismo
17. Paralelos entre a iniciação competitiva precoce e a formação de técnicos de Judô
18. Hiit Body Work: a nova calistenia
19. Recomendações para prática de atividade fisica e redução do comportamento
sedentário
20. Orientações para avaliação e prescrição de exercícios físicos direcionados à saúde
Este livro, composto com tipografia Palatino
Linotype e diagramado pela Malorgio Studio,
foi impresso em papel Offset 90g pela Teixeira
Impressão Digital e Soluções Gráficas Ltda
para o CREF4/SP, em Novembro de 2019.
COLEÇÃO LITERÁRIA EM HOMENAGEM
AOS 20 ANOS DA INSTALAÇÃO DO CREF4/SP

O Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região – CREF4/SP


foi instituído pela Resolução CONFEF nº 011/1999 e a designação e
posse de seus primeiros conselheiros, membros efetivos e suplentes,
pela Resolução CONFEF nº 017, de 29/10/1999, com jurisdição no
Estado do São Paulo e sede na sua capital. No dia 06 de dezembro
de 1999, em ato solene de sua instalação nas dependências do prédio
de administração do Ginásio do Ibirapuera, o CREF4/SP iniciou sua
história.
Passados 20 anos, com sede em local privilegiado e de fácil acesso aos
Profissionais de Educação Física do Estado, mudaram Conselheiros e
Diretorias, mas os objetivos deste Conselho permanecem os mesmos:
garantir à sociedade o direito de ser atendida com excelência por
Profissionais de Educação Física, habilitados pelo registro; normatizar,
fiscalizar e orientar o exercício da profissão, de acordo com o que
preconiza o Código de Ética Profissional.
Organizamos uma Coleção de 20 livros com o objetivo de proporcionar
atualização de conhecimentos do Profissional com leituras variadas
e de qualidade, tendo como proposta a orientação e o aumento do
acervo de obras destinadas à Educação Física.
Os livros que compõem esta coleção possuem temas diversificados,
abrangendo as áreas de: história, desporto paralímpico,
treinamento, gestão, atividades para terceira idade, ginástica laboral,
desenvolvimento de projetos, controle de carga, atividades circenses,
fisiologia do exercício, escola, esportes, ludicidade, legislação, relatos
de experiências, exercício e saúde, e combate ao sedentarismo.
Esperamos que a Coleção Literária, em Homenagem aos 20 anos da
Instalação do CREF4/SP, colabore com o fortalecimento de nossa
Profissão.

Conselheiros do CREF4/SP
“Somos nós, fortalecendo a Profissão”

ISBN 978-85-94418-38-8

9 788594 418388 >

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