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Júri:
Presidente:
Doutor Ângelo Miguel Pedregal de Brito, professor auxiliar convidado da
Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa
Vogais:
Doutor José Maria Dionísio Pratas, professor auxiliar convidado da Faculdade
de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa
Doutor Fernando Jorge Lourenço dos Santos, professor auxiliar convidado da
Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa
João Marques
2023
Relatório de estágio em futebol apresentado à
Faculdade de Motricidade Humana, como requisito
para obtenção do grau de Mestre em Treino
Desportivo, sob a orientação técnica e científica do
Professor Doutor José Maria Pratas.
Agradecimentos
iii
Resumo
iv
Abstract
The process and conclusion of this internship report was written based on the state of
the art and reflects the daily life of the intern coach inserted in the technical team of the
U-15 team of the Associação Desportiva de Oeiras during the 2022/2023 season.
Firstly, it is composed of an introduction where a characterization of the internship
context can be found, SWOT analysis on the internship context, and some proposals for
implementation in the club.
Subsequently, a general overview of the literature on the theme "Maturity" is presented.
Some concepts associated with maturity, the various existing methods of evaluating
maturational status, and advantages and disadvantages about the methods of dividing
training categories are presented.
Next, the internship report presents 3 areas as set out in the document's elaboration
standards.
Area 1 deals with the implementation of professional practice. Thus, the entire
management of the training and competition process associated with the methodology
used is described in detail. The entire process is described from the macro plan, the
macrocycle, to the micro plan, the training unit. The game model for the U-15 level of
ADO is also presented in this area.
Area 2 reflects the innovation project developed in the club, with the creation of the SAJ
office to address some existing gaps in the club due to its context.
Area 3 accommodates the realization of an event for the community. The event "
Conversas de treinadores de futebol – 2ª edição " featured several football professionals
with extensive experience and renown, divided into 3 round tables, with moderation by
professional journalists leading the conversations.
v
Índice de conteúdos
1. Introdução............................................................................................................ 12
1.1 Enquadramento geral ................................................................................... 12
1.2 Caracterização do Contexto de Estágio ........................................................ 12
1.2.1 Entidade de Acolhimento ....................................................................... 12
1.2.2 Recursos disponíveis............................................................................. 13
1.2.3 Equipa Técnica e Treinador Estagiário .................................................. 13
1.2.4 Caracterização do Contexto competitivo................................................ 14
1.2.5 Análise Estratégica – Análise SWOT ..................................................... 16
1.3 Objetivos de Formação e Estratégias a implementar .................................... 17
1.3.1 Objetivos de formação ........................................................................... 17
1.3.2 Estratégias a implementar ..................................................................... 18
2. Revisão da literatura ............................................................................................... 21
2.1 Introdução .................................................................................................... 21
2.2 Idade cronológica e biológica ....................................................................... 21
2.3 Efeito da idade relativa ................................................................................. 22
2.4 Idade Relativa vs. Maturação ....................................................................... 23
2.5 Efeito halo .................................................................................................... 24
2.6 Métodos de avaliação do estado maturacional ............................................. 24
2.6.1 Idade óssea ........................................................................................... 25
2.6.2 Idade sexual .......................................................................................... 29
2.6.3 Idade morfológica (somática) ................................................................. 30
2.7 Pico de velocidade em crescimento .............................................................. 34
2.8 Bio-Banding do conceito à prática ................................................................ 36
3. Área 1 - Organização e Gestão Do Processo de Treino ...................................... 41
3.1 Enquadramento teórico ................................................................................ 41
3.1.1 Modelo de jogo ...................................................................................... 41
3.1.2 Sistema tático ........................................................................................ 41
3.1.3 Princípios táticos ................................................................................... 42
3.2 O “nosso” modelo de jogo............................................................................. 42
3.2.1 Organização ofensiva ............................................................................ 42
3.2.2 Organização defensiva .......................................................................... 44
3.2.3 Transição ofensiva................................................................................. 46
3.2.4 Transição defensiva............................................................................... 46
3.2.5 Esquemas táticos .................................................................................. 47
3.3 Organização e Planeamento do Processo de Treino .................................... 52
3.3.1 Macrociclo ............................................................................................. 53
3.3.2 Microciclo .............................................................................................. 56
3.3.3 Unidade de treino - Caracterização do microciclo-tipo ........................... 58
3.4 Condução do processo de treino .................................................................. 62
4. Área 2 - Projeto Gabinete Scouting e Análise de Jogo............................................ 65
4.1 Introdução .................................................................................................... 65
4.2 Enquadramento teórico ................................................................................ 65
4.2.1 Formas de análise ................................................................................. 65
4.2.2 Tipos de análise .................................................................................... 66
4.3 Fatores chaves para a análise de jogo ......................................................... 67
4.4 Da teoria para a prática ................................................................................ 73
4.4.1 Criação e propósito do SAJ ................................................................... 73
vi
4.4.2 Organograma ........................................................................................ 73
4.4.3 Reuniões do gabinete SAJ .................................................................... 74
4.4.4 Divisão do SAJ por áreas de atuação .................................................... 75
4.4.5 Gravação dos jogos ............................................................................... 76
4.4.6 Análise de jogo ...................................................................................... 78
4.4.7 Scouting ................................................................................................ 78
4.4.8 Protocolo de Scouting............................................................................ 80
5. Área 3 - Conversas de Treinadores de Futebol ................................................... 84
5.1 Enquadramento inicial .................................................................................. 84
5.2 Planificação do evento .................................................................................. 84
5.3 Divulgação do evento ................................................................................... 87
5.4 Balanço do Evento........................................................................................ 88
5.4.1 Reflexão sobre as temáticas discutidas nas 3 mesas ............................ 88
5.4.2 Aspetos positivos e a melhorar na organização ..................................... 92
5.4.3 Questionário de avaliação ..................................................................... 93
5.5. Conclusão .................................................................................................. 107
6. Conclusões Finais e Perspetivas Futuras .......................................................... 109
7. Referências bibliográficas .................................................................................. 112
Índice de figuras
Índice de tabelas
viii
Tabela 5 - Coeficientes de regressão para predição da estatura adulta associados a
idades e variáveis para o método ajustado de Beunen-Malina ................................... 33
Tabela 7 - Médias (e desvio padrão) para comparação dos resultados obtidos pelos
diferentes métodos de predição da estatura adulta para o sexo feminino ................... 34
Índice de gráficos
ix
Gráfico 16 - Avaliação da pergunta nº 8 do método presencial ................................ 104
x
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
11
1. Introdução
12
A visão desta instituição é muito mais alargada e visionária do que os meros
resultados desportivos, pretendendo “fomentar o desporto na Juventude, não apenas na
sua vertente competitiva, mas, prioritariamente, na formativa e educativa, para além da
prossecução da estratégia ocupacional bem salutar, visando a prevenção de
comportamentos desviantes tão comuns nestas idades.”
Em particular, no futebol a ADO é um clube de destaque na região contando com
presença de todos os escalões de formação nos campeonatos nacionais. Os juniores
disputam a II Divisão Nacional (sub-19), os Juvenis encontram-se na I Divisão Nacional
(sub 17) e a equipa B de juvenis compete na divisão abaixo. Nos iniciados (sub 15) o Oeiras
tem a equipa principal na II Divisão Nacional, e a equipa B na I Divisão Distrital.
Para além do Estádio Municipal Mário Wilson, que serve de casa à modalidade de
futebol, o pavilhão da Associação Desportiva de Oeiras destina-se às restantes
modalidades.
No estádio municipal o clube pode usufruir de um campo com medidas formais de
105x68m, um ginásio, arrecadação para material de treino, sala de reuniões, lavandaria,
gabinete de fisioterapia e seis balneários divididos para jogadores, árbitros, equipa visitante
e treinadores. O estádio que foi inaugurado em 2002 tem capacidade para 5097 mil
espectadores.
O treinador estagiário faz parte da equipa técnica dos sub-15 que compete na 2ª
divisão nacional Sub-15 organizada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
A equipa técnica é composta por 3 elementos para além do treinador estagiário. O
treinador principal, Luís Vilela, responsável por planear, periodizar, e apresentar soluções
para o planeamento das sessões de treino e da gestão da competição. Seguem-se o
treinador-adjunto André que coadjuva nas mesmas funções e gestão do treino em conjunto
com o treinador-adjunto Davide.
Para a gestão do treino de guarda-redes, o clube tem treinadores de uma escola
de guarda-redes que prescrevem, avaliam, ajustam e dirige todo o trabalho específico
dirigido aos guarda-redes.
13
O planeamento é realizado em conjunto com os treinadores acima mencionadas
designando dias específicos para trabalhar diferentes conteúdos para o treino consoante
o microciclo de competição respeitando os princípios de treino e níveis de prontidão dos
atletas.
14
Este novo formato comtempla duas fases. Na primeira fase os 40 clubes são
divididos em cinco séries com oito clubes cada e são agrupados consoante a localização
geográfica.
As equipas disputam dois jogos entre si, uma vez como visitante e outra vez como
visitado conforme o sorteio e sendo o resultado dos jogos traduzidos em classificação por
pontos.
No final da primeira fase, as equipas que terminam em primeiro lugar mais o
segundo melhor de todas as séries apuram-se para a segunda fase - apuramento de
campeã. Este critério será cumprido até no máximo três equipas B classificadas de todas
as series. Posteriormente procede-se aos critérios de desempate expressos no
regulamento.
Os restantes clubes (34) apuram-se para a segunda fase – Manutenção e Descida.
O formato da segunda fase é idêntico. Tanto no apuramento de campeão como a
manutenção e descida, os clubes jogam entre si duas vezes, como visitado e visitante
consoante o sorteio e com classificação por pontos. O apuramento de campeão conta com
apenas uma serie onde se juntam um representante da Região Autónoma da Madeira e
outro representante da Região Autónoma dos Açores e o primeiro classificado é
considerado campeão nacional da II Divisão Nacional de sub-15.
Já a fase de manutenção e descida, a distribuição por novas cinco series
encontrava-se previamente definido pelo seguinte esquema. Os segundos classificados
foram distribuídos consoante o critério da localização geográfica. Apenas se mantêm na 2ª
divisão nacional os primeiros classificados e o segundo melhor classificado de todas as
séries e os restantes descem aos campeonatos distritais.
15
Figura 1
A análise prévia ao cenário sobre o qual se pretende agir torna-se essencial. Assim
podem ser evitados alguns constrangimentos e saber melhor como aproveitar melhor as
oportunidades. A análise SWOT, neste caso, é direcionada para uma autorreflexão do
estágio curricular por parte do treinador estagiário identificando pontes fortes, pontos
fracos, oportunidades e ameaças para uma melhor clarividência nas suas ações no clube.
16
Tabela 1
Oportunidades: Ameaças:
• Possibilidade de presenciar um
treinador com know-how
17
nossa própria equipa, melhorando o nosso jogar, fazendo perceber aos jogadores os erros
mais comuns e que mais prejudicam o seu desempenho. No escalão de sub-15 a
preocupação com a equipa adversária é mínima por vemos este escalão como uma etapa
de desenvolvimento do jogador, não dando primazia aos resultados embora tendo sempre
espírito competitivo e ganhador.
Na vertente da componente técnica, a participação, discussão e elaboração dos
planos de treino são funções exercidas antes e após os treinos. Durante o período de
treino, o treinador-estagiário tem liberdade para sugerir alterações aos exercícios e muitas
das vezes comanda uma secção do exercício. Tem ainda a função de realizar o
aquecimento que prepara os jogadores para a parte fundamental do treino e no seu final,
realizar o retorno à calma. A montagem dos exercícios também é algo pertencente às
funções do treinador estagiário.
A atualização de documentos de controlo de treino e jogo são outras das funções
do estagiário. Esta atualização é essencial para preparar os microciclos e ciclos
competitivos. O controlo de treino rege-se pelo controlo dos conteúdos abordados e os
seus tempos em cada sessão de treino originando gráficos para mais fácil interpretação.
Já o controlo de jogo passa pelo registo das posições ocupadas por cada jogador,
o seu tempo de jogo e algumas estatísticas macro no desempenho do jogo (golos e
assistências, titular, suplente utilizado, suplente não-utilizado, não convocado.). O registo
dos golos marcados e sofridos é ainda feita através de uma grelha Excel onde se classifica
as situações de golo (Ex: organização ofensiva,) para que também este gere um gráfico,
ficando com a panorâmica dos golos marcados e sofridos da equipa, ajudando a perceber
padrões e onde a equipa é mais forte ou tem mais debilidades.
18
• Criação de sessões de vídeo-análise para complementar o que é aprendido no
campo
• Incluir exercícios de pliometria e coordenação no aquecimento ao invés de
apenas mobilização articular
• Pesquisar previamente ou posteriormente situações que possam suscitar
discórdia, recorrendo à literatura (ex: alongamentos pós treino)
• Propor trabalho de força com lugar no ginásio, por ser uma área de interessante
do aluno e que é essencial no escalão de sub-15.
19
CAPÍTULO 2
REVISÃO DE LITERATURA
20
2. Revisão da literatura
2.1 Introdução
21
Os status refere-se a etapas de maturação, onde o desenvolvimento corresponde
a um estágio. Exemplo disso são os estágios de Tunner para a avaliação da maturação
sexual.
Figura 2
22
Como representado na figura 2, a geração de 1996-1997 é representada numa
grande maioria por atletas nascidos nos últimos dois trimestres do ano. Quando a geração
de 1998-1999 é redigida pelo ano civil o cenário inverte. Os atletas com maior
representação passam a ser os nascidos no primeiro trimestre do ano.
Este fator revela-se crucial na seleção de talento e oportunidades dadas aos jovens
levando ao abandono desportivo os jovens não-selecionados que acabam por desistir mas
que futuramente podiam ter melhor performance do que os previamente selecionados. Este
fator é ainda mais alavancado pelo efeito halo.
É importante frisar então que a idade relativa não está diretamente correlacionada
com a maturação (Towlson et al., 2021). Como apresentam os estudos de Parr et al., (2020)
e Johnson et al., (2017) os jogadores relativamente mais velhos não são sempre os
beneficiários de uma maturação mais avançada. Isto significa então que um jogador
nascido em dezembro pode estar maturacionalmente mais desenvolvido do que um
jogador nascido em janeiro. O mês de nascimento mais perto do ano de corte não significa
uma maturação mais precoce (Towlson et al., 2021).
Nos testes físicos realizados no estudo de Parre et. al., (2020) a idade relativa
demonstrou uma correlação fraca (R= 0,19 a 0,23) com os resultados do desempenho
físico. Por sua vez, a maturação biológica revelou uma correlação forte (R=0,71 a 0,75) e
significativos (p<0.01). Apenas o salto vertical máximo foi significativo para a idade relativa
(p<0.05 e R2 = 0.23).
Na literatura publicada por Johnson, et al., (2017) e Hill, et al., (2019) sugerem que
a maturação e o enviesamento da idade relativa existem mas operam independentemente
um do outro. Incutem que a idade relativa surja como melhor indicador em idades mais
jovens como a infância e a maturação biológica é um preditor mais forte no período da
adolescência.
Assim, a idade relativa, sendo mais facilmente avaliável, bastando perguntar a data
de nascimento não é suficientemente informativa e apenas dá um padrão. A avaliação
maturacional pelos métodos acima apresentados torna-se essencial para a tomada de
decisões dos treinadores, para minimizar as vantagens físicas fruto dos diferentes ritmos
de desenvolvimento e posteriormente para uma categorização justa e desafiadora,
especialmente no período da adolescência.
23
2.5 Efeito halo
24
2.6.1 Idade óssea
2. Método Tanner-Whitehouse
Este método apresenta três versões. É um método europeu que permite economia
de tempo no processo de determinação da idade biológica e é menos dispendioso.
A primeira (TW1) utiliza 20 ossos para a sua avaliação onde 13 ossos são longos
e 7 são ossos curtos. Cada osso é analisado ao pormenor e consoante o seu
25
desenvolvimento, recorrendo a uma tabela pré-estabelecida, é atribuído uma pontuação.
A idade cronológica é considerada para o processo porque a maturação do sexo feminino
e masculino é diferente, isto é, o grau esperado para o desenvolvimento de um osso é
diferente entre géneros. Por exemplo, o osso trapézio no critério “ossificação e forma do
trapézio” no sexo masculino acontece entre o 1º ano de vida e os 14 anos enquanto que
no sexo feminino acontece entre o 1º ano e meio de vida e os 11 anos. É realizada a soma
dos pontos dos ossos longos (máximo de 500 pontos) e ossos curtos (máximo de 500
pontos) e é atribuída uma classificação na escala de 0 (imaturo) aos 1000 (maturo).
Na segunda versão (TW2) muda a pontuação atribuída. Principalmente por este
método dividir a idade óssea dos ossos longos e curtos. São determinadas idades ósseas
para ossos carpais, rádio, ulna e ossos curtos em função do género
A terceira versão (TW3) é a mais utilizada apresentando maior confiabilidade dos
dados onde apresenta a idade óssea do rádio, ulna e ossos curtos por escala RUS (13
ossos) e a idade dos ossos do carpo (7 ossos). (Silva et al., 2010).
Figura 3
3. Método de Fels
É um método norte-americano que é mais dispendioso, mas mais informativo.
Utiliza os ossos do protocolo de TW (rádio, ulna, sete carpos, metacarpos e falanges do
primeiro, terceiro e quinto dedo) e acrescenta ainda o adutor sesamoide e o pisiforme
26
(Tanner et. al., 2001). Para além deste acréscimo, todos os ossos são avaliados consoante
os seus centros de ossificação, o seu formato e as medidas dos ossos longos. São ainda
considerados fatores como a idade cronológica e o género para classificação dos ossos. A
classificação será derivada dos dados introduzidos em softwares para o seu cálculo
(Martinho et al., 2021).
No estado da arte está determinado o espaço temporal em comparação com a
idade biológica determinando assim os estados de maturação.
Delayed – Idade óssea 1 ano mais nova que a idade cronológica
On time- Idade óssea corresponde à idade cronológica
Advanced - Idade óssea 1 ano mais velha que a idade cronológica
(Roche et al. 1988).
Mature – é classificado como maturado quando o jovem atinge o apogeu do seu
desenvolvimento, terminando assim a sua fase de crescimento. (Malina, 1988).
Existe consenso para que seja adotada a medida de 1 ano para a classificação
embora também se sugeriu 0,5 anos. A classificação ficou assim definida para ter o dobro
da magnitude do erro. O erro é associado à predição.
No estudo realizado por médicos do Real Madrid e especialistas (Malina et al.,
2010), onde se avaliou uma população onde não havia suspeita de falsificação do
passaporte, classificaram os atletas através da idade óssea. Os resultados apresentados
na tabela 2 evidencia as seguintes conclusões:
27
Tabela 2
Aos 15 anos, 8% dos sujeitos avaliados (8 em cada 100), já atingiram o seu apogeu
ósseo, a maturidade. Aos 16 anos, 23% dos sujeitos avaliados (quase 1 em cada 4 atletas),
já completaram o seu desenvolvimento total ósseo e aos 17 anos, 39% dos sujeitos
avaliados (4 em cada 10 atletas), já atingiu o estado de maturidade
Estas observações sugerem então que um jogador de 15 anos que compete com
jogadores no seu escalão de 14-15 anos, possa ter uma diferenças de idade biológica de
largos anos. Em casos extremos, comparando dois jogadores de 15 anos em opostos de
desenvolvimento (atrasado e maturo) a diferença pode ser de uma idade biológica de 13
anos de um jogador atrasado maturacionalmente e um jogador com idade biológica de 18
anos quando ainda tem 15 anos de idade cronológica.
Este facto evidencia um gap, quase como se fosse um aproveitamento do sistema
de estruturação dos escalões aproveitado por clubes e treinadores de forma ter vantagem
para alcançar objetivos a curto prazo hipotecando muitas das vezes o futuro dos jovens
jogadores e dos próprios clubes.
28
2.6.2 Idade sexual
Ao contrário do que acontece pelo método da idade óssea, onde os exames são
indicativos do estado maturacional dos 0-20/22 anos feminino e masculino no método de
Fels, no caso da predição da idade biológica pelo método de Tunner, apenas é aplicado
no início da segunda década de vida dos jovens.
Reynolds and Wines (1948, 1951) criaram critérios para a caracterização dos
estágios de desenvolvimento. Mais tarde em 1962 sintetizou-os e popularizou-os de tal
forma que são designados os estágios de Tunner.
29
• Desenvolvimento das glândulas mamárias (sexo feminino)
➢ 1º estágio (pré-púbere): sem tecido glandular: aréola segue os contornos da
pele do tórax
➢ 2º estágio (início da puberdade): forma-se broto mamário, com pequena área
do tecido glandular circundante; aréola começa a alargar
➢ 3º estágio (meio da puberdade): a mama começa a ficar mais elevada e se
estende além das bordas da aréola, que continua a se alargar mas ainda sem
separação dos contornos
➢ 4º estágio (puberdade tardia): aumento e elevação da mama; aréola e papila
formam um monte secundário que se projeta do contorno da mama circundante
➢ 5º estágio (pós-púbere): a mama atinge o tamanho adulto final; aréola retorna
ao contorno da mama circundante, com uma papila central saliente
Este tipo de avaliações é muito, e cada vez mais, suscetível a problemas devido à
invasão de privacidade dos jovens. Embora não seja um método não invasivo por exemplo
ao nível da exposição à radiação (raio-x) é invasivo do ponto de vista pessoal. O estudo de
Martin et al., (2001), comprovou-o, a par de muitos outros estudos, que a autoavaliação
parece ser uma forma com resultados satisfatórios para a avaliação do desenvolvimento
sexual sem que seja invadida a privacidade dos jovens.
Método Khamis-Roche
Este método advém de um estudo longitudinal em americanos brancos dos 2 aos
20 anos (Khamis e Roche, 1994). O objetivo é a predição da estatura adulta sem recorrer
aos métodos invasivos.
Por este estudo ter sido realizado por norte-americanos o sistema de unidades
utilizado foi os inches e lb. Para cada género foram construídas diferentes tabelas com os
respetivos coeficientes para multiplicar pelos dados recolhidos. A estatura, o peso e a
media da estatura dos pais são utilizadas nesta equação agregando uma constante (b0).
30
Como demonstra a tabela (para o sexo masculino), a idade cronológica deve ser
selecionada para escolher e compor a equação. A conversão dos inches para cm da
estatura (b1) e estatura média dos pais (b3) e lb para kg da massa corporal (b2) deve ser
realizada e quanto maior o número de casas decimais utilizadas menor será o erro.
Tabela 3
Fórmula:
= b0 + b1 estatura + b2 peso + b3 estatura média pais
Após realizado este cálculo, onde se obtém a estatura adulta predita, é possível
verificar em que fase do caminho (dado em percentagem) o jovem se encontra do seu
crescimento. Para a obtenção desse resultado, basta dividir a estatura atual pela estatura
predita e posteriormente multiplicar por 100.
Fórmula:
% da estatura adulta predita= (estatura / estatura adulta predita) * 100=
31
Método Beunen-Malina
Surgiu de um estudo longitudinal (Beunen et al., 1997) e pretende predizer a
estatura matura predita. Funciona em crianças entre os 13-16 anos sem problemas de
crescimento somático. Este método necessita da avaliação de medidas como a estatura (
β 1 ) e a altura sentado ( β 2 ) em cm, as pregas subescapular ( β 3 ) e tricipital ( β 4 )
em mm e idade cronológica ( β 5 ) em anos. Após serem recolhidas estas medidas, verifica-
se a idade cronológica para selecionar a linha dos coeficientes da tabela, utilizando-os e
multiplicando pelos dados recolhidos do atleta numa fórmula.
Fórmula:
β0 + β1 Estatura + β2 Altura sentado + β3 prega subs + β4 prega tric + β5 Idade
Tabela 4
32
Tabela 5
Tabela 6
33
Tabela 7
Médias (e desvio padrão) para comparação dos resultados obtidos pelos diferentes
métodos de predição da estatura adulta para o sexo feminino
34
Figura 4
Nota. PHV = pico de velocidade em altura. Maturity offset = onde se situa o indivíduo
em relação à sua curva de PHV.
35
Tabela 8
36
grupos mais equitativos, sejam estes de treino ou competição. Esta classificação engloba
jovens dos 11 aos 15 anos de idade cronológica, pois é na faixa etária onde existem
maiores discrepância no seu crescimento e desenvolvimento (Malina et al., 2019).
O estudo levado por Cumming et al., (2017) propôs perceber as opiniões dos
próprios participantes, pela experiência empírica, para além do que está comprovado na
literatura. Participaram 66 jogadores de futebol de 4 clubes de futebol profissional da
Primier League com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos de idade cronológica.
A avaliação biológica foi executada sobre os pilares do método de Khamis-Roche
(Khamis & Roche, 1994) e foram divididos em escalões consoante o seu crescimento
biológico.
Organizaram-se três jogos para as quatro equipas disputadas em conformidade
com os procedimentos padrão de arbitragem e regras e regulamentos. A única alteração
deveu-se ao tempo de jogo que foi cronometrado para 25 minutos para cada parte.
Entre o segundo e terceiro jogo, foi instruído aos jogadores para relatarem a sua
experiência nos jogos realizados de forma verbal e escrita tendo como comparação
experiências em jogos cuja seleção de jogadores se baseia na idade cronológica.
As recolhas das informações foram classificadas em 4 categorias: desenvolvimento
físico, desenvolvimento técnico e tático, desenvolvimento psicossocial e experiência no
geral.
Em relação à primeira dimensão (desenvolvimento físico), os jogadores de
maturação tardia e precoce experienciaram um jogo mais equitativo. Relataram também
que essa equidade os levou a adotar outro tipo de jogo mais orientado para a técnica e
tática. Os jogadores de maturação precoce acharam o jogo na sua vertente física mais
desafiadora e que teriam de recorrer a outros recursos para ganhar vantagem, preparando-
os melhor para o futuro quando todos se encontrarem no mesmo pé de igualdade.
Na vertente técnico-tática, relacionado com a dimensão anterior, o jogo onde a
vantagem física é minimizada, os jogadores utilizam mais os recursos técnico-táticos para
a resolução dos constrangimentos do jogo. Os maturacionalmente precoces retrataram que
seria um melhor contexto para puder evoluir e os seus treinadores direcionarem o seu foco
para a evolução técnico-táticas ao invés do aproveitamento da vantagem física para ganhar
a curto-prazo. Por outro lado, os jogadores de desenvolvimento tardio, descreveram que
adaptaram o seu jogo e que jogar contra os jogadores mais precoces no seu
desenvolvimento é um desafio maior e melhor para com as suas habilidades motoras e
cognitivas.
37
Na componente psicossocial, os mais atrasados maturacionalmente descreveram
que sentiam mais confiança, autoeficácia e assumindo papeis de liderança na dinâmica de
grupo. Por sua vez os jogadores mais maturados narram o orgulho e ganho de mais
experiência por jogarem com jogadores que acompanham os seus índices físicos e
técnicos.
Quando pedido para avaliar a experiência no seu todo, todos os grupos de
participantes no estudo relataram como sendo uma perspetiva positiva, mostrando vontade
de continuidade do bio-banding e que seria uma medida bem-vinda a implementar.
Esta experiência, prova, para além do conhecimento científico teórico mostrar as
grandes diferenças de maturação intra-individual, o mesmo se verifica no terreno. Os
próprios jogadores, que são os principais agentes do jogo, percecionam as diferenças de
um jogo dividido por idade cronológica ou por bio-banding. Frases como “You learn a lot
more playing like this than you would normally playing with your age group.” representam
a sua perceção dos diferentes tipos de categorização com preferência para o bio-banding.
Apesar de todas as vantagens do bio-banding, existem questões que contrapõem
a adoção deste método. Em primeiro lugar o custo financeiro que isso acarreta para os
clubes ou associações, impõe desde logo um grande entrave à sua disseminação. Este
método deve ser realizado várias vezes no ano e por pessoas classificadas para o efeito o
que dificulta ainda mais o processo e o torna mais dispendioso.
No estudo realizado por Reeves et al., (2018), com a duração de sete semanas,
investigou-se a compreensão e perceções de jogadores, pais e staff dos clubes ao bio-
banding. Após a análise das entrevistas realizadas, relata-se algumas desvantagens
percecionadas com a utilização do bio-banding embora tenham diminuído com o decorrer
do estudo.
A primeira notada, e por falta de compreensão total do conceito de bio-banding,
são as expectativas. Pela permanência num escalão em que não seria suposto permanecer
ou até mesmo descer o escalão é algo que afeta psicologicamente e emocionalmente tanto
jogadores como pais. Apesar de retratarem estas experiências, os mesmos dizem acreditar
que se o staff adotou esta medida é porque é certamente o melhor para os jogadores.
A parte social dos jogadores foi também afetada por potenciais isolamentos dos
seus grupos sociais habituais. O afastamento do seu grupo de amigos foi apontado como
um fator negativo e está bem estabelecido que a participação no desporto em escalões
mais baixos tem uma grande componente social.
Outra questão surge com o nível de intensidade e dificuldade do treino
anteriormente. Os jogadores mais fracos fisicamente já não sentiam a necessidade de
38
aumentar a sua intensidade para tentar igualar e competir contra os mais fortes, resultando
em um menor estímulo. Principalmente os pais mencionaram que “…the boys who have
moved down have developed certain aspects of their game and have been allowed to play
the game at a speed that is comfortable to them as opposed to playing at 100mph constantly
to keep up with the big boys,”. Os técnicos (staff) nas suas entrevistas também
corroboraram este facto embora continuassem a ver o bio-banding como mais benéfico.
Com todos os pontos a favor e contra explanados, a decisão mais consensual no
estado da arte vai de encontro com uma solução híbrida para que se possa ter as
vantagens dos dois sistemas de competição.
39
CAPÍTULO 3
ÁREA 1
40
3. Área 1 - Organização e Gestão Do Processo de Treino
41
Forçados por esse mesmo problema, na 2ª fase do campeonato nacional a
opção do sistema alternativo passou pelo 4x2x2. As características dos nossos
avançados proporcionavam um ataque ao espaço das equipas com blocos muito altos
e por outro lado, aproveitando as características defensivas dos laterais.
42
Princípios gerais
Como princípios gerais para o modelo de jogo, o mesmo assenta nos seguintes
pilares:
• Controlar o jogo – Quando a nossa equipa tem a bola a chance de o
adversário fazer golo é nula. Apesar disso, uma posse de bola
inconsequente, não criando perigo ao adversário não serve ao objetivo do
jogo de futebol, fazer golo;
• Tendência e tempos – Existência de padrões de comportamentos nas
dinâmicas da equipa para maior harmonia no coletivo sabendo que estão
condicionados ao que o jogo proporciona. Devem percecionar e executar no
timing certo;
• Jogar predominantemente no meio campo ofensivo – Quanto mais próximo
estivermos da baliza, mais perto estaremos do objetivo do jogo;
• Criar oportunidades de golo de formas variadas – Utilização de várias formas
para chegar à finalização de modo a aumentar a imprevisibilidade para o
adversário;
• Rigor total defensivo – Mesmo em organização ofensiva, os jogadores
devem perceber como equilibrar a equipa para quando se perde a bola,
estarem perto e bem colocados para voltar a recuperar novamente;
• Jogar sempre que possível no chão – Bola a saltar é um indicador de
pressão para muitas equipas pela demora e dificuldade que causa ao
jogador em dominar a bola. Por esse motivo é preferível, mas não obrigatório
ou nem sempre a melhor opção.
Princípio principal
O princípio com mais primazia no nosso modelo de jogo é a posse e circulação
de bola (o objetivo não é a circulação em si, mas sim uma forma de desgastar \
desorganizar a equipa adversária, para se criarem situações de golo e ao mesmo tempo
ter o controlo do jogo.
Subprincípios
• Largura da equipa- “Campo Grande”. Se a largura é dada apenas por um
jogador, essa opção é feita pelo lateral (3-4-3);
• Constantes alterações de posicionamento apoio\rutura;
• Escolha da execução dos comportamentos consoante o ambiente;
• A bola deve passar pelo triangulo do meio-campo, em movimentos frente-
trás;
43
• A grande preocupação de um jogador em posse de bola deve ser, procurar
o melhor espaço (livre) para receber a bola sem pressão, e daí ter de estar
constantemente a ler o jogo (entrelinhas, largura ou profundidade);
• Caso receba a bola de costas para a baliza adversária, está pressionado ou
não sabe o que se passa nas suas costas, deve jogar no apoio frontal
(coberturas ofensivas) livre mais próximo (exceção quando fez a leitura do
jogo, e está só, aí deve rodar (Trabalhar rotação constante do pescoço, para
se ler o jogo);
• Reação sempre imediata na colocação dos apoios para o jogo, e na leitura
do jogo para posicionamento correto. Ex: lateral do lado contrário à bola,
quando a bola começa a “rodar” para a sua zona;
• Passa e desmarca. Jogadores devem mostrar-se constantemente, dupla
desmarcação é essencial em zonas de finalização.
Cruzamentos
44
• Fechar espaços como equipa de forma a condicionar a equipa adversária o
mais próximo possível da sua baliza, e levá-la a jogar para trás ou para o
lado;
• O nosso bloco será tão alto quanto a nossa capacidade e incapacidade do
adversário;
• Campo curto e estreito, com basculações em função da posição da bola
(bloco dinâmico);
• O espaço é a nossa referência de marcação.
Subprincípios
• Atitude agressiva sobre o portador da bola (lucidez e inteligência na forma
como se é agressivo);
• Eliminar espaço entre e inter linhas;
• Constantes relações de cobertura entre os jogadores;
• Existência de 2 coberturas ao jogador que faz pressão sobre o portador da
bola no corredor central;
• Existência de 1 cobertura interior ao jogador que faz pressão sobre o
portador da bola nos corredores laterais;
• Condicionar a equipa adversária a jogar para um dos corredores laterais e
depois pressionar com 3 jogadores (triângulo defensivo).
45
3.2.3 Transição ofensiva
Grandes princípios
Os princípios de quando a equipa recupera a posse de bola são:
• Não perder novamente e rapidamente a posse de bola;
• Equipa deve perceber de forma clara quando a bola é realmente
conquistada. “Bola no ar não é de ninguém!”;
• Fazer o campo tão grande quanto possível (amplitude e profundidade), esta
transição deve ser feita orientada para o jogo, nunca virando as costas ao
jogo.
Subprincípios
Duas opções:
1ª opção – Jogar em profundidade para contra-ataque ou ataque rápido (não é
necessariamente um passe longo ou pelo ar) e deve ser sempre em segurança.
2ª opção – Tirar a bola da zona de pressão (preferencialmente jogando para o
lado e para a frente) e entramos em organização ofensiva.
Grande Princípio
Temos como grande princípio a redução do tempo e do espaço de execução ao
portador da bola e espaço circundante.
Os três subprincípios são:
A 1ª preocupação. Pressão imediata sobre o portador da bola pelo jogador mais
próximo (com ajuda) criando uma micro zona de pressão em comunhão com
46
agressividade (positiva) máxima neste princípio, de forma a impedirmos contra-ataques
da equipa adversária. “Pressionar até 3 passes do adversário!”;
• Reduzir o espaço de jogo à equipa adversária (fazer “campo pequeno”;
encurtar o espaço subindo, ou seja, estarmos organizados defensivamente,
relativamente ao posicionamento da bola).
Grandes Princípios
• Zona (pontual e estrategicamente Mista \ Bloqueios);
• Sempre ativos - preparados para saltar;
• Importante GR definir como se sente melhor (englobá-lo na estratégia
responsabiliza-o, por ex. se quer jogador no 2º poste nos cantos;
• Defender preferencialmente com zona subida (ex. livres laterais);
• Posicionamento dos jogadores e dos apoios nos cantos/livres abertos ou
fechados.
47
Esquemas táticos: Cantos ofensivos
Figura 5
48
Esquemas táticos: Livres laterais ofensivos
Figura 6
49
Esquemas táticos: Cantos defensivos
Figura 7
50
Esquemas táticos: Livres laterais defensivos
Figura 8
51
3.3 Organização e Planeamento do Processo de Treino
52
3.3.1 Macrociclo
53
Figura 9
54
Figura 10
55
Tabela 9
Legenda
Introdução
Desenvolvimento
Consolidação
Aperfeiçoamento
3.3.2 Microciclo
56
Tabela 10
Foco da
Recuperação Força Resistência Velocidade
sessão
FOLGA
JOGO
Duração
dos
Média Curta Longa Muito curta
exercícios
Complexida
Baixa Elevada Elevada Moderada
de
57
3.3.3 Unidade de treino - Caracterização do microciclo-tipo
A primeira unidade de treino (2ª feira) do microciclo visa a recuperação ativa para
os jogadores que tiveram maiores cargas de jogo e os jogadores com menos carga
igualar ou tentar igualar a carga do jogo que não participaram parcialmente ou na sua
totalidade.
Figura 11
58
Na 4ª feira, as unidades de treino caracterizam-se por terem o maior volume e
intensidade. Para além do trabalho de força (trem inferior) que é incluído no
aquecimento, são utilizados jogos reduzidos com reação à perda da bola em espaços
reduzidos de modo a aumentar a tensão. São priorizadas as transições ofensivas e
defensivas.
Figura 12
59
Na 5ª feira, são as unidades de treino com maior foco nos princípios de jogo,
jogando em espaços maiores e como muito tempo de situações de jogo em escala
macro privilegiando os comportamentos de organização ofensiva e defensiva.
Figura 13
60
Na 6ª feira, a última unidade de treino dentro do microciclo e último treino antes
do jogo, o foco principal passa por não sobrecarregar os atletas. Seguindo os princípios
fisiológicos os exercícios são pensados para a maior utilização anaeróbia alática sendo
assim um treino direcionado para a velocidade. Exercícios de perseguição são os mais
utilizados, com e sem bola. Apesar disso, o aspeto físico não significa uma primazia
sobre os princípios táticos e subprincípios.
Figura 14
61
3.4 Condução do processo de treino
62
Para além desta dinâmica da semana de treinos, no dia do jogo o aquecimento
era liderado pelo treinador-adjunto André Rodrigues coadjuvado pelo treinador
estagiário e treinador adjunto. Após a sua saída, o treinador estagiário passou a liderar
o aquecimento e a gerir o tempo para o regresso aos balneários. O treinador principal
liderava os exercícios mais táticos de preparação para o jogo sempre com muito
feedback e correções. O aquecimento específico de guarda-redes era liderado por um
dos treinadores de guarda-redes da ADO.
O aquecimento tipo consistia na mobilização articular analítica, seguidamente de
passes frontais rasteiros e longos. Seguia-se um período de alongamentos dinâmicos
até passarem para um jogo de posse de bola de 4x4+2 jokers. Para terminar e abordar
as questões mais táticas do jogo, era realizado um exercício de 3x7, com a linha de três
defesas contra os médios e avançados, e os laterais a atacar também. Por fim, eram
abordados os lances de bola paradas, quer defensivos quer ofensivos (livres e cantos)
e terminava o aquecimento com finalização com sprint para o balneário.
A palestra inicial, durante o intervalo e após o jogo, era preparada previamente
com os pontos essenciais a transmitir aos jogadores e assumida sempre pelo treinador
principal.
Após o término do jogo, em consonância com toda a equipa técnica era atribuída
uma avaliação de 1-5 para cada jogador, tanto os titulares como os suplentes que
entraram no jogo.
No que respeita à filmagem do jogo, nem sempre foi possível devido a
inexistência de material do clube. Assim, quando possível filmar, deveu-se à boa
vontade de um dos pais dos atletas que fornecia o material necessário. A filmagem
assegurada algumas vezes pelo treinador estagiário e outras vezes foi realizada pelo
próprio dono dos equipamentos. Posteriormente, após a análise do jogo, o treinador
principal realçava e anotava quais os momentos que seriam para mostrar à equipa. A
edição e montagem ficava a cargo do treinador estagiário para ser mostrada durante a
semana, em dia a combinar, no balneário da equipa com ajuda de um projetor. Na
exposição à equipa, o treinador assumia a preleção e o treinador estagiário o suporte e
manuseamento do suporte digital.
63
CAPÍTULO 4
ÁREA 2
64
4. Área 2 - Projeto Gabinete Scouting e Análise de Jogo
4.1 Introdução
65
Apesar de ser uma forma com mais fiabilidade que a anterior, não deixa de ser uma
fiabilidade discutível. Isto porque se trata de análise realizada em tempo real sem a
possibilidade de revisão ou perda de concentração a detalhes durante a anotação de
fatores determinantes.
A análise baseada em vídeo vem solucionar estes problemas. Existe a
necessidade de gravação do jogo para posteriormente o observador conseguir rever os
lances que pretender, anotar e analisar baseando as suas observações no suporte de
imagens ou vídeo. As limitações deste método são a necessidade de equipamento, o
maior tempo necessário para realização da tarefa e condições locais para a gravação
do jogo.
Por fim, e a forma de análise mais completa e fiável, a análise baseada em
tecnologia informática. Este tipo de análise permite recolher informação de natureza
qualitativa e também quantitativa. Existem diversos softwares que disponibilizam este
tipo de dados onde é necessária alguma familiaridade com os softwares. Exemplos são
o SportsCode, Instat, Wyscout, recursos estes que devido aos seus elevados custos,
não são sempre viáveis para clubes de menores dimensões.
66
Figura 15
Noutro estudo de Sarmento et. al., (2014) foram entrevistados oito treinadores
com vasta experiência no futebol profissional, como, Rui Vitoria, Pedro Caixinha,
Leonardo Jardim, José Peseiro entre outros. O objetivo deste estudo passou por
analisar quais eram os fatores chaves de análise e as dinâmicas das equipas técnicas
na sua utilização.
O estudo propõe um modelo com quatro tarefas, sendo elas a preparação, a
observação, a avaliação e diagnóstico e a intervenção.
Na fase de preparação, o conhecimento do jogo é algo que tem de ser
previamente adquirido. Isto porque sem conhecimento do jogo, torna a tarefa de análise
67
difícil, podendo mesmo empregar-se o provérbio “quem não sabe o que procura, não o
reconhece quando encontra.”
Após esse conhecimento do jogo, que não tem um estado maturo, mas está em
constante mudança e evolução, é necessário definir e implementar estratégias de
observação de modo a que toda a equipa técnica trabalhe em sintonia. Escolher que
tipo de tecnologias e softwares usar, definir items obrigatórios a observar e o número de
observações são temas que os treinadores definiram como prioritários nesta fase. Toda
a escolha destas categorias, varia de treinador para treinador, consoante o seu contexto
atual, experiências passadas, conhecimento do jogo, perspetiva sobre o jogo e todas as
condicionantes associadas.
Figura 16
68
Estes são fatores chaves analisados antes do jogo acontecer. No decorrer do
jogo o processo de análise não tem cessação. A análise de forma mais primitiva é em
direto e realizado durante o jogo e pode ser ajustada consoante o que acontece no
mesmo. Assim os treinadores realçam que se focam no plano de jogo trabalhado
estrategicamente ao longo da semana e principalmente na resposta da sua equipa ao
que foi planeado.
Ficou ainda registado que existem fatores que influenciam a qualidade de
observação. O aspeto emocional do jogo afeta a racionalização da equipa técnica na
tomada de decisões assim como as expetativas que se criaram para o mesmo. Outras
razões anotadas foram a posição no banco (questão de perspetiva), erros do árbitro e
outros, que não foram especificados no artigo.
Os treinadores reconhecem que a observação e análise tem evoluído ao longo
dos anos, levando a que as observações sejam mais eficientes, valorizaram aspetos
que eram menosprezados no passado e afina os fatores chaves já analisados
anteriormente.
Os mesmos apontam que esta evolução na observação e analise advém dos
anos de repetição do processo (experiência) acoplado ao melhor conhecimento do jogo.
A produção de mais conhecimento através da comunidade científica, mas
também de colegas de trabalho, com conhecimento experienciado no campo são outro
fator determinante para este crescimento. Todo este conhecimento é passado às
gerações seguintes através das suas graduações nas instituições de ensino e outros
meios de aprendizagem.
69
Figura 17
70
Na fase de diagnóstico, que sucede a fase anterior, relaciona-se com a avaliação
ou diagnóstico da equipa adversária. Procura-se detetar os pontos fortes e pontos fracos
da equipa para que a equipa se possa precaver contra os pontos fortes e explorar as
fraquezas. Essa análise irá dar conhecimento necessário sobre o adversário e que será
comparada e em consideração com o conhecimento global da própria equipa. A junção
destas duas análises, conhecimento do adversário e da própria equipa irá levar à lógica
da evolução que se caracteriza pela forma como as equipas técnicas decidem abordar
as diferenças, semelhanças, o que o adversário pode explorar na própria equipa e vice-
versa. É nesta fase que entra o dilema adaptação ao contexto ou manutenção do próprio
modelo de jogo independentemente das condições contextuais.
Figura 18
71
e as paragens de tempo existentes ou criadas no jogo. O intervalo surge também como
um período ótimo para a alteração de estratégia para o jogo. Na perspetiva dos
treinadores os fatores determinantes para uma abordagem ao adversário bem-sucedida
surge com a seleção de informação realmente pertinente, o feedback ser acompanhado
de ilustração, a transmissão de informação ser em momentos diferentes, o tipo de
feedback, a duração das reuniões e a linguagem corporal de quem passa a mensagem.
Figura 19
72
4.4 Da teoria para a prática
Pelas condições que o clube dispõe, não existia a possibilidade de constar dos
quadros pessoas especializadas em scouting que pudessem fazer a cobertura de jogos
e identificar jogadores para cada escalão da ADO nem a possibilidade de contar com a
expertise de um analista de jogo, performance, ou de dados. Para suprimir essas duas
lacunas foi pensado e criado o gabinete SAJ. Através da gravação do jogo, as tarefas
de análise e identificação de talento pode ser realizada pelas equipas técnicas em tempo
indeferido, permitindo uma logística mais fácil de modo a conciliar com a vida
profissional extra-clube.
4.4.2 Organograma
73
entregue/submetido perante o coordenador da respetiva área de scouting para uma
avaliação/orientação ponderada, com o devido aval para dar seguimento ao processo.
Se o processo tiver o aval do coordenador técnico, este terá seguimento após a
comunicação com o coordenador administrativo que irá ao encontro, de forma formal,
com o devido clube (durante a época desportiva), ou com o encarregado de educação
(no final da época desportiva).
Durante a época desportiva, é imperativo a comunicação ser realizada com o
clube ao qual o atleta está ligado, reforçando as diretrizes das boas práticas e
integridade da F.P.F.
Figura 20
74
Figura 21
Mapa de reuniões
75
Figura 22
GABINETE SAJ
INICIALIZAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO
FICHA DE GRAVAÇÃO DE
OBERSAVAÇÃO JOGO
ANÁLISE DE
JOGO
SCOUTING
Devido aos poucos recursos tanto humanos como materiais, por vezes a A.D.O.
contou com a boa vontade da sua comunidade envolvente.
A gravação dos jogos foi a base fundamental para que o gabinete SAJ pudesse
funcionar da forma mais eficiente possível e sustentando as avaliações dos treinadores
com o suporte digital.
Assim a gravação dos jogos foi pensada para solucionar não um, mais sim dois
problemas identificados no clube. O SAJ divide-se por isso em duas vertentes.
A primeira vertente relaciona-se com uma perspetiva interna do clube, a análise
de jogo da própria equipa
76
A segunda vertente relaciona-se com a perspetiva externa do clube, a
identificação e recrutamento de talento (scouting).
Mesmo quando a gravação não era possível, a identificação de potenciais
jogadores poderia ser preenchida para constar da base de dados do clube.
Sub-vertente
Pela gravação do jogo da própria equipa, em confrontos seguintes (2ª volta do
campeonato, eliminatórias das taças, etc.) pode ser utilizado esse jogo para realizar a
análise ao adversário. Torna-se importante esse conhecimento, pois como demostrado
no enquadramento teórico o mesmo pode ser incluído em exercícios de treino, tornando
o treino mais próximo da realidade de jogo.
A análise ao adversário, no escalão de sub-15, optou-se por não se mostrar
imagens e vídeos aos jogadores pois considerou-se uma fase ainda precoce e dar
primazia aos comportamentos da equipa e a nossa forma de jogar. Não obstante, a
equipa técnica, sempre que possível, realizava a análise ao adversário e poderia adotar
nuances consoante características do adversário, sendo elas individuais ou coletivas.
Quando foi possível, obteve-se jogos do adversário contra outras equipas que
não a A.D.O. de forma a ter uma maior fiabilidade na análise do adversário. A obtenção
dos mesmos foi da inteira responsabilidade das equipas técnicas interessadas.
Figura 23
77
4.4.6 Análise de jogo
Figura 24
4.4.7 Scouting
78
Ficha de observação de jogadores
Na ficha consta espaço para preencher com os dados como o nome completo,
data de nascimento, escalão, clube que representa, a sua posição e os dados do
encarregado de educação (nome e contacto). Em uma segunda fase é pedida uma
avaliação do jogador numa escala de 1 a 5 onde 1 corresponde a “fraco” e 5 a
“excelente”. Os fatores são divididos em fase de iniciação (futebol 7) e especialização
(futebol 11). Na fase de iniciação incluem-se os fatores velocidade, atitude competitiva,
técnica e inteligência tática. Na fase de especialização, para além dos fatores já
mencionados, estão mais três fatores de avaliação, como a disciplina, a capacidade e
velocidade de execução. No final do documento, consta um espaço para uma análise
descritiva do jogador. Fica possível descrever algo que não conste dos fatores
avaliativos ou outra observação necessária.
Figura 25
79
Para ser um processo mais organizado, os coordenadores tinham a tarefa de
recolher as fichas de identificação de jogadores e transpor para uma base de dados do
clube, para permitir que ao invés de folhas soltas e de diversos escalões, a informação
constasse num único documento e acessível a qualquer pessoa, em qualquer ponto
geográfico, através da cloud disponível.
Figura 26
80
• Os atletas foram inseridos, de acordo com os parâmetros definidos e aprovados
pelos coordenadores de Scouting.
• No período de março a abril, deve ser iniciado o processo de recrutamento dos
atletas selecionados após análise do plantel e revisão das suas
carências/necessidades pelas equipas técnicas dos diversos escalões.
• A abordagem ao atleta ou ao Encarregado de Educação correspondente deve
ser feita pelo coordenador geral a pedido de cada treinador principal, com a
devido aval dos coordenadores técnicos.
Objetivos:
• Melhorar o nível competitivo das equipas de competição
• Por norma, o processo de recrutamento foi realizado em todos os escalões,
sendo o principal foco das observações a performance nas equipas de Futebol
11 e a angariação de atletas na área de iniciação.
• Os locais-alvo das observações foram preferencialmente no concelho de Oeiras
e adjacentes, no entanto, para o Futebol 11 o recrutamento poderá abranger
uma área geográfica mais ampla.
• Procurar o recrutamento de jogadores para acrescentar qualidade individual e
coletiva nas respetivas equipas e que apresentem o perfil do “Jogador ADO”.
Em caso de observação de jogadores de nível semelhante aos que tem origem
no futebol de formação ADO, estes últimos terão primazia no seu recrutamento.
81
Objetivos:
• Melhorar o nível competitivo das equipas de competição
• Por norma, o processo de recrutamento foi realizado em todos os escalões,
sendo o principal foco das observações a performance nas equipas de Futebol
11 e a angariação de atletas na área de iniciação.
• Os locais-alvo das observações foram preferencialmente no concelho de Oeiras
e adjacentes, no entanto, para o Futebol 11 o recrutamento poderá abranger
uma área geográfica mais ampla.
• Procuramos o recrutamento de jogadores que possam acrescentar qualidade
individual e coletiva nas respetivas equipas e que apresentem o perfil do
“Jogador ADO”.
Em caso de observação de jogadores de nível semelhante aos que tem origem
no futebol de formação ADO, estes últimos terão primazia no seu recrutamento.
82
CAPÍTULO 5
ÁREA 3
83
5. Área 3 - Conversas de Treinadores de Futebol
84
Figura 27
O início da ação ficou marcada para as 14h de Portugal Continental com sessão
de abertura do professor Francisco Alves. Posteriormente, os convidados foram
distribuídos por três mesas agrupando assim três temas ao evento.
85
O primeiro tema “Desafios do treinador de futebol de formação” contaram com
os convidados:
• João Tralhão – Treinador com vasta experiência em contexto de formação,
trabalhando em todas as categorias no Sport Lisboa e Benfica e também no
contexto sénior com experiências como treinador adjunto em clubes como
SLB e AS Mónaco.
• Ângelo Brito – Professor da Faculdade de Motricidade Humana que alia a
sua experiência com o seu conhecimento académico. Experienciou o
contexto competitivo da era José Mourinho no FC Porto como adjunto.
Também realizou trabalho de analista de performance no Leixões S.C.
• Luís Martins – Realizou funções de treinador na formação do Sporting em
diversos escalões e também no futebol sénior como adjunto. Passou por
outros clubes como Portimonense, Sp. Braga, Tottenham, Zenit e também
exerceu funções como coordenador e diretor técnico em clubes com
reputação nacional.
• Luís Dias – Mais de 20 anos de ligação ao Sporting Clube de Portugal,
passou nos diversos escalões desde “escolas” até juniores sendo adjunto
de Abel Ferreira. Para além de treinador exerceu funções como coordenador
no mesmo clube.
Esta mesa contou com o apoio como moderador de José Nunes, jornalista da
RTP e comentador na Antena 1.
86
como o Torreense, Olhanense, SC Covilhã, Estoril Praia, Estrela da Amadora,
Vitória de Setúbal e Primeiro de Agosto.
Esta mesa contou com o apoio como moderador de António Botelho, relatador de
jogos de futebol da TSF.
Para alavancar este evento e levá-lo ao maior número de pessoas possível, foi
criado um cartaz (figura 28) dando as informações do local, hora, temas, oradores,
moderadores e link para assistir via remota. Os alunos envolvidos na organização
ficaram encarregues da sua divulgação, seja pela partilha do evento nas suas redes
sociais, que hoje tem um poder muito alargado e grande alcance de pessoas, como
também ficaram encarregues de avisar clubes de forma a potenciar o número de
treinadores na plateia (público-alvo).
87
Figura 28
Mesa 1
A primeira mesa redonda que contou com convidados muito ligados ao futebol
de formação, que experienciaram os escalões mais inferiores até aos juniores em clubes
nacionais de grande reputação e sempre com o suporte académico do professor Ângelo
Brito. À boleia do tema “desafios do treinador de futebol de formação” foram colocadas
questões pelo moderador às quais os preletores refletiram a sua opinião.
Primeiramente João Tralhão foi interpelado pelas características que o treinador
de formação deve possuir. O treinador deve ser altruísta segundo o preletor. Isto porque
o que é mais importante é a evolução do jogador ao invés da sede do sucesso precoce
nas carreiras dos treinadores. O exercício de treino não deve agradar o treinador mas
sim deve servir o prepósito de desenvolvimento dos jogadores. Exercícios padronizados
são de mais fácil controlo por parte do treinador mas nem sempre se reflete ser o mais
benéfico.
Seguidamente Luís Martins, questionado sobre a dicotomia entre liberdade e
rigor tático e técnico, a reflexão passou sobre a importância do erro para o jogador de
futebol aprender e para a permissão do treinador a esses comportamentos e que não
88
os tente inibir. Para isso, entroncando na resposta do preletor anterior, o treinador deve
ser altruísta e não olhar apenas para o seu sucesso mas sim para o desenvolvimento
dos jogadores a longo prazo.
A próxima questão, dirigida a Luís Dias surgiu no tema muito debatido sobre a
especialização precoce ou a diversificação de estímulos através de outros desportos.
Antes da resposta a essa questão aproveitou para complementar as perguntas iniciais
onde indicou a humildade, a capacidade de observação e paciência, pois os resultados
imediatos, a curto prazo, podem ser inimigos do processo.
Retornando à pergunta inicial, o convidado utilizou a sua experiência para
explicar o seu ponto de vista. Referiu que já assistiu a jogadores que tiveram uma
especialização precoce e chegaram à alta competição e outros que não chegaram a
esse nível, e outros jogadores que tinham uma diversificação de estímulos onde alguns
foram jogadores profissionais e outros não atingiram esse patamar. Na opinião de Luís
Dias, a proibição por parte dos clubes em praticar outras modalidades para se dedicar
exclusivamente ao futebol, principalmente em idades precoces (12-13 anos) não faz
sentido, pois nem existe a certeza que serão jogadores no futuro.
O professor Ângelo Brito, interrogado sobre as carreiras dos jovens treinadores,
refere as suas preocupações com as ambições precoces de atingir o topo do futebol. O
principal objetivo de ser querer adquirir o maior e melhor conhecimento possível e
demostrar trabalho em que contexto for antes de exigir de imediato o contexto de elite.
Em uma segunda ronda de perguntas, João Tralhão volta a referir os valores
que o treinador de futebol deve incutir nos jovens pois estão num período critico para os
aprender. Nem todos os jogadores vão ser jogadores profissionais, mas todos os
jogadores vão ser cidadãos. Luís Martins acrescentou ainda que essa passagem de
valores não deve ser de exclusividade do treinador, mas também de toda a estrutura de
um clube através do projeto desportivo dos clubes.
Virando o tema, para as questões técnicas dos jogadores, foi debatido que os
jogadores portugueses não possuem só a parte técnica mas também outras valências
necessárias ao jogo, como o conhecimento do jogo. Todas as valências são de extrema
importância, e o jogador entende que depende muito de si própria para ter sucesso e
que a margem de erro é reduzida.
Por fim, a manipulação de variáveis foi abordada como ferramenta fundamental
para incutir criatividade aos jogadores. Essa manipulação não sendo bem feita e não
identificados os erros para posteriores correções fará com que o trabalho seja feito
constantemente sobre o errado. A perceção-ação deve ser estimulada no treino para
estimular essa mesma criatividade e inteligência no jogo de futebol.
Mesa 2
89
Na segunda mesa redonda, o tema relaciona-se com o tema ” Do exercício ao
modelo de jogo – relação simbiótica”. O painel desta mesa conta com imensa
experiência no futebol de alta competição suportado também pelo investigador da FMH
com uma perspetiva ecológica.
Primeiramente unido à primeira pergunta, na perspetiva de Tiago Fernandes, o
modelo de jogo deve existir para que haja um fio condutor e esse modelo deve ser
alicerçado não apenas no comportamento tático, mas em tudo o que o envolve, como
por exemplo a liderança. A condução do exercício terá impacto no modelo de jogo que
se pretende implementar. Não obstante da existência de um modelo de jogo, a
necessidade de adaptação ao contexto, quer seja ele da própria equipa ou provocado
pelo adversário deve ser tido em conta para ajustar algumas nuances para que se
adapte aos jogadores e ao que o contexto pede.
Na mesma linha de pensamento, o moderador cita Jorge Jesus para dizer
“primeiro vem o modelo de jogo, e só depois vem o sistema tático.” Com mote nesta
frase, Pedro Moreira relatou que pela sua experiência, as ideias de jogo são
inegociáveis. Contrastando um pouco com o preletor anterior, os jogadores são
trabalhados, com recurso ao exercício de treino para jogar da forma que o treinador
acredita ser a mais vantajosa. Para além disto, concorda que as questões de liderança
e logística como lidar com certos problemas, certas situações, certos jogadores, é
fundamental para o sucesso do treinador mesmo que o modelo de jogo seja ideal.
Seguidamente foi abordado o microciclo. Daúto Faquirá, proferiu que o contexto
que o treinador encontra condiciona a forma de pensar. A constante reflexão do
treinador é essencial e a experiência irá trazer maior sabedoria para o futuro. Referiu
como os treinadores anteriores que os aspetos extra exercício, como a comunicação,
forma de estar, gestão de conflitos entre outros, fazem toda a diferença no sucesso do
treinador no clube.
Em relação ao trabalho do microciclo, o treinador prefere trabalhar a organização
defensiva nos primeiros dias do microciclo, com maior volume ao longo do microciclo e
de forma recorrente ao longo da época pois sente que a menor execução desses
exercícios impacta negativamente os comportamentos e rotinas já adquiridos. Mais
tarde, Pedro Moreira deu o seu exemplo, especificando que os primeiros dias do
microciclo procura trabalhar concentrado no processo da sua equipa após análise do
que falhou no jogo. Ou seja, o treino é sempre consequência do que se passou no jogo.
O investigador Daniel Carrilho, trouxe a parte mais científica para o treino. Os
constrangimentos são fundamentais para levar o jogador a entender o que se pretende
através da recolha de informação do ambiente tendo em conta a sua perceção e
consequente ação. Ou seja, o processo, na perspetiva ecológica não é visto como um
90
acumular de informação do modelo de jogo mas sim um processo de afinação para o
mesmo.
A representatividade deve estar sempre presente, em todos os aspetos como a
relação jogador-treinador, relações jogador-jogadores, dinâmicas do jogo e não apenas
na representatividade da estrutura do exercício.
A seguir a este tema, e estando interligado, foi debatido como a teoria pode ser
passada para a prática. O treinador de futebol deve perceber todos esses conceitos
teóricos mas deve arranjar uma forma mais simples para passar a mensagens aos
jogadores, pois são eles que devem entendê-la, para poder aplicar no terreno. Existiu
alguma discórdia neste ponto, houve treinadores refletiram que o futebol não deve ser
tão complexo, com tantos conceitos teóricos e que a simplificação é o caminho.
À boleia do moderador, com a pergunta “quanto tempo demora a implementação
do modelo de jogo” foi discutido que essa aquisição de novos conteúdos é variável. O
contexto (facilidade dos jogadores em aprender, ideias do treinador, formas de liderar,
capacidade comunicacional) vai influenciar o tempo necessária para uma boa aquisição
do conteúdo passado pela equipa técnica. A janela de transferências é um fator que
impacta o mesmo, visto que o treinador pode contar com um novo jogador que se
encaixa melhor no seu modelo de jogo ou vice-versa, perdendo um dos pilares do seu
plantel.
Por fim, a questão da adaptabilidade do próprio treinador foi o último tema
abordado. Pedro Moreira refletiu sobre um exemplo que teve na sua experiência como
treinador-adjunto do Shakhtar, Donetsk onde o trabalho físico de forma analítica é muito
popular e contraria as ideias da equipa técnica de Paulo Fonseca. Levou a equipa a
praticar a suas ideias mas não o tendo feito de forma radical mas sim de forma gradual.
A adaptabilidade também se relaciona com a evolução do futebol onde o
treinador deve acompanhar as novas metodologias, as novas formas de estar dos
jogadores, as novas tecnologias trazem novos desafios e, desse modo, o treinador de
futebol para aumentar as suas chances de sucesso, deve saber adaptar-se a todas
essas mudanças. O conhecimento é a melhor ferramenta para enfrentar o desconhecido
e o que se encontra em constante mudança.
Mesa 3
A última mesa deste evento, mas não menos importante, guia-se pelo tema
“Operacionalização de um processo de treino”. Um painel de convidados com
experiências de relevo em contextos nacionais e internacionais suportados pelo
conhecimento científico e também prático do professor da FMH, Fernando Santos.
Vasco Faísca começou por referir que devido à sua falta de qualificações
académicas, suporta as suas ideias de jogo, exercícios de treino e todo o processo a
91
cargo de treinador na sua vida de jogador profissional anos antes de ingressar nesta
profissão. Assim, a experiência com os diversos treinadores de futebol com quem
contactou tornaram-se fundamentais, pois permitiu recolher certos aspetos de cada um,
gerando uma ideia para o jogo, à sua imagem.
Fernando Santos, questionado sobre se o jogador de futebol treina mais nos dias
atuais do que no passado, relata que hoje em dia existem mais ferramentas que
possibilita aos jogadores trabalhar mais e especialmente de forma mais eficiente. A
recuperação adequada permite também uma melhor disponibilidade para o jogo
competitivo, o que por consequência, aumenta a sua prestação em campo.
Mariano Barreto, reportou que o sucesso de treinador está muito dependente
não só do treinador, mas sim das equipas técnicas. O critério principal deveria ser a
competência e não na base de confiança. É preciso saber fundamentar as decisões aos
jogadores e mesmo dentro da própria equipa técnica para a evolução, aceitação e
eficiência no processo de treino, pois a principal função da equipa técnica é a otimização
do processo de treino.
Leonel Pontes, refere que é importante situar a questão “construir o modelo de
jogo dentro de uma equipa” no contexto. O contexto do clube, o timing de entrada do
treinador da equipa, o nível de qualidade dos jogadores, entre outros aspetos são
necessários de avaliação prévia para a operacionalização no treino e
consequentemente a implementação do “nosso” modelo de jogo.
Após a primeira ronda de perguntas, o tema da conversa foi desviando para as
novas alterações e possíveis futuras alterações no contexto competitivo devido à covid-
19 e formas de otimização do espetáculo desportivo. Abordou-se a alterações de 3 para
5 substituições, onde isto permite uma maior intensidade no jogo e no poder do treinador
em mexer no jogo. Pelos treinadores do painel é visto como algo como positivo, mesmo
devido a tendência cada vez maior da quantidade de jogos em menor período de tempo.
O evento terminou com a exploração de questões como as substituições
ilimitadas, os esquemas táticos de marcação com o pé, expulsão temporária e quais as
suas consequências para o jogo dessas medidas para o jogo e impacto no planeamento
de uma época desportiva e consequências no treino tanto para os treinadores como
para os jogadores.
92
avaliação final é muito positiva e fica a sensação que mais iniciativas como estas são
necessárias e também fazem crescer os alunos em aspetos que as disciplinas
académicas não aportam. Numa análise feita à posterior, ressaltam alguns aspetos que
gostaríamos de ter oportunidade de corrigir em eventos futuros.
Primeiro, a exposição dos preletores ser mais uma conversa em que todos
participassem ao invés de ser atribuído um tempo em que o orador fala continuamente
durante um largo período de tempo. Criar dinâmicas de comentários e troca de ideias
mais assertivas e curtas fomentando o envolvimento com o restante painel e mesmo
com o publico. Embora a organização ache que o mesmo deva ser proporcionado pelo
moderador convidado, poderia a organização no futuro optar por outro tipo de estratégia.
Seguidamente, o cumprimento de horários. É sempre muito difícil que tudo seja
no timing definido. Surgem sempre muitas variáveis como os presentes no auditório na
hora indicada para o começo, a pausa do coffee-break, transição de mesas e diversos
fatores. Apesar disso, é algo que pode ser melhorado no futuro pela experiência de
organização de eventos.
O som na sala não foi realmente dos melhores. Os microfones criavam algum
ruído que algumas vezes era desconfortável para quem assistia na sala. A transmissão
foi ainda amplamente mais afetada por esta questão, sendo o som muito estridente
apesar de todos os esforços da equipa da organização para corrigir esta situação algo
que não se tornou possível.
A criação de credenciais foi algo essencial para a identificação do staff da
organização e também foram criadas para os oradores. O que se verificou foi que os
oradores simplesmente arrumavam as credenciais e/ou os que as colocavam ao
pescoço, por inprint aos restantes convidados acabavam por não as usar, sendo assim
um recurso material inútil.
Por fim, a dinâmica de preenchimento de questionários poderia ser mais
eficiente. Talvez haver uma pausa específica para preenchimento dos questionários
poderia ser uma hipótese que aumentaria o número de feedback embora isso
acarretaria mais tempo de evento ou menor tempo de intervenção dos oradores, algo
que na perspetiva da organização não seria o mais sensato.
Tal como no treino, a avaliação da atividade que decorreu é essencial para retirar
conclusões e melhorar no futuro. Deste modo, foi criado um questionário de satisfação
para que o público que assistiu ao evento pudesse dar a sua perspetiva. Na sala foram
93
recortados e colados códigos QR Code com ligação direta ao questionário enquanto
que por sua vez, o link do mesmo foi disponibilizado e afixado na transmissão online.
Pela diferente perspetiva e sensação de assistir online ou presencialmente,
foram criados dois questionários distintos mas com conteúdo semelhante.
Assim, a primeira questão do questionário pedia a identificação da forma
assistida. Posteriormente à resposta, os avaliadores eram redirecionados para o
respetivo questionário.
Gráfico 1
94
Gráfico 2
Gráfico 3
95
Gráfico 4
Gráfico 5
96
A partir da terceira pergunta as questões foram ajustadas ao método de
participação neste evento. A pergunta para quem assistiu presencialmente pedia a
avaliação, de 0 a 10, a qualidade de som, a facilidade de comunicações, os suportes
digitais e todos os apoios ao evento enquanto que para quem assistiu online a pergunta
foi “A transmissão e qualidade de som foi de encontro às suas expectativas?”.
Gráfico 6
97
Gráfico 7
A quarta pergunta pedia uma resposta binária, de sim ou não, sobre a qualidade
de perceção de perguntas feitas por quem assistia online.
No método presencial houve respostas de sim ou não embora não tenham sido
realizadas nenhuma pergunta via remota.
98
Gráfico 8
99
Gráfico 9
Gráfico 10
100
Já no método online, a pergunta correspondente relacionava-se com a vista para
os convidados e suporte digital na tela de ecrã. A resposta registada foi “sim”.
Gráfico 11
101
Gráfico 12
Gráfico 13
102
Na sétima pergunta, é pedido a avaliação em resposta binaria (sim ou não) se o
tempo para cada mesa foi ajustado.
Gráfico 14
103
Gráfico 15
Gráfico 16
104
Gráfico 17
105
Gráfico 18
Gráfico 19
106
Figura 29
5.5. Conclusão
A criação deste evento teve vários objetivos. O primeiro objetivo, a difusão de
conhecimento para a comunidade seja ela estudantil ou externa à faculdade. Contar
com um painel de treinadores com muita experiência em contextos competitivos altos,
sustentados no conhecimento teórico foi a premissa base para a construção deste
evento.
Segundo, prendem-se com o know-how para organizar um evento, ou seja, o
planeamento. A necessidade de criar linhas orientadoras e delinear o processo surge
como um acréscimo à capacidade dos alunos em planear um projeto. O trabalho em
equipa foi fundamental para uma boa organização do evento e para isso as várias
reuniões entre alunos e partilha constante de avanços e recuos no projeto permitiu
adquirir experiência e conhecimento nesta área, algo que não é estimulado no percurso
académico de forma tão regular e que muitas das vezes surge como necessário nos
contextos profissionais.
Por último, mas não menos importantes, os últimos objetivos associam-se com
a execução, para além do planeamento. A dinâmica de preparar e imprimir credenciais,
criar questionário de satisfação, contactos e formas de divulgação, organização de
salas, coffee-break e lidar com as pessoas em prol do bom funcionamento do evento
surgem como uma mais-valia no currículo pessoal de cada aluno envolvido.
Em suma, o desafio de criar um evento de qualidade para a comunidade serve
o seu prepósito, mas também enriquece os alunos envolvidos na sua organização.
107
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
108
6. Conclusões Finais e Perspetivas Futuras
109
conhecimento pelo jogo, eficiência na utilização de softwares e no processo de
apresentação da análise final.
Para além do processo de treino, e envolvimento nas dinâmicas do clube, a
criação do gabinete SAJ é motivo de orgulho, por trazer para o clube algo que é visto
como extrema importância, tanto para a evolução dos jogadores que se encontram no
clube como para a elevação da qualidade dos planteis e por consequência da
manutenção ou melhoramento dos quadros competitivos do clube.
Pertencente ao processo de estágio, mas realizado fora do clube, o evento da
relação com a comunidade, realizado na FMH com um grupo de aluno do mestrado em
treino desportivo, coadjuvados pelo professor orientador José Maria Pratas, foi uma
experiência gratificante e ficou um sentimento de repetição da experiência, pois é algo
muito positivo pra a comunidade e para quem organiza. Traz perspetivas de pessoas
com muita experiência no contexto desportivo, que já estiveram em grandes contextos
competitivos e fica a oportunidade de interação direta com esses intervenientes, o que
é algo crucial para uma aprendizagem mais eficiente.
Estes dois anos de estudo e ramo profissionalizante marcam um final de mais
uma etapa na minha vida. Foi uma experiência ótima, onde procurei mais e novo
conhecimento para contrastar ou completar ao conhecimento adquirido na Faculdade
de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra e a procura de
novos contextos desportivos, fora da zona de conforto para que houvesse uma
obrigação de transcendência.
Houve o convite para permanecer no clube mas por motivos pessoais mudarei
de local novamente, à procura de novas experiências e que as mesmas me possam
enriquecer da mesma forma ou melhor que esta descrita neste relatório.
Por fim, o principal foco será continuar a evoluir tanto recorrendo ao estado da
arte como acumular de experiências práticas distintas, melhorando como profissional
mas também como pessoa, num processo que é continuo ao longo da vida, procurando
sempre mais e melhor!
110
CAPÍTULO 7
BIBLIOGRAFIA
111
7. Referências bibliográficas
112
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