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ARQUITETURA
M
2022
ALVAR AALTO E A CASA DE MUURATSALO
EXPERIMENTAÇÃO E PROJETO
Um arquiteto, uma casa e um projeto. A terceira e última parte deste estudo, consiste
numa abordagem própria, ancorada às múltiplas
A presente dissertação propõe-se a um estudo componentes dos dois capítulos anteriores.
específico sobre o arquiteto Alvar Aalto e a sua Neste, projeta-se uma casa de férias na zona
Casa de Muuratsalo, tendo como finalidade um florestal de Maceda, no concelho de Ovar, um
projeto autoral capaz de estabelecer, por si só, contexto particular, com características que,
um paralelo entre dois conceitos experimentais. de certo modo, se poderiam assemelhar ao
plano paisagístico da ilha de Muuratsalo. Aqui,
Partindo da interpretação do arquiteto, foram foram apresentados os desenhos e os escritos
selecionados e apresentados momentos de um projeto que procurou reajustar vontades
significativos da sua vida, ilustrando pon- e evocar referências intrínsecas ao seu autor,
tualmente o seu percurso profissional e demonstrando através de representações
pessoal, construindo um contexto teórico bidimensionais e objetos tridimensionais uma
capaz de albergar a dinâmica do restante reflexão projetual própria, onde se tende a
trabalho. explorar questões que favoreçam a flexibilidade
ou a transversalidade da arquitetura através do
Assim, foi possível transpor esta investigação seu carácter experimental.
para um segundo momento, o estudo da Casa
Experimental de Muuratsalo, onde surgiu a
necessidade de compreender e interpretar
os seus conceitos adjacentes, permitindo,
consequentemente, escolher e desenvolver
temáticas capazes de percorrer a obra de um
modo global.
Abstract
An architect, a house and a project. The third and last part of this study is related
to a specific approach supported by the
This dissertation proposes a specific study components of the two previous chapters. A
about the architect Alvar Aalto and his summer house was designed in the forest area
Muuratsalo House, in order to develop an of Maceda, Ovar, in a particular context, with
authorial project that establishes a parallel characteristics that, in a way, are similar to the
between two experimental concepts. landscape plan of the island of Muuratsalo. Here,
the drawings and texts of a project that readjust
Based on the architect’s interpretation, wills and evoke intrinsic references to its
significant moments of his life were selected, author were elaborated, demonstrating through
illustrating his trajectory as a person and as an two-dimensional representations and three-
architect, solidifying a theoretical context that -dimensional objects a specific design
could sustain the dynamics of the rest of the reflection, which seek to explore concepts that
work. favor the transversality of architecture through
its experimental character.
Thus, it was possible to transpose this
investigation to a second stage, the study of
the experimental house of Muuratsalo, which
developed the need to understand and interpret
its concepts, allowing, consequently, to choose
and develop themes capable of covering the
work in a global way.
Sumário
Resumo
Abstract
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A Casa de Muuratsalo | Obra Já numa vertente mais analista e pessoal, são
escolhidas e desenvolvidas temáticas que tanto
O segundo capítulo remete-nos para a Casa de focam a questão da implantação do conjunto e
Muuratsalo. Aqui, pretende-se compreender a sua distribuição programática, como também
o contexto onde esta se insere para que, se preocupam com a análise da sua estrutura,
posteriormente, nos seja possível analisar, da sua cobertura e do seu pátio.
interpretar e comparar todo o seu conjunto
volumétrico. Por último, são apresentados outros dois
elementos da composição de Muuratsalo, a
Deste modo, através da análise de exemplos Sauna e o Barco. Estes, são mencionados ao
que nos conduzem para a temática da casa longo do presente trabalho como ‘protótipos’,
de férias, tenta-se perceber a questão do uma vez que, tal como o nome sugere,
lugar, onde se problematiza e questiona a sua pretendiam ser exemplares experimentais,
inserção junto das margens rochosas da ilha de permitindo ao arquiteto testar com liberdade e
Muuratsalo. aprender através deles.
A Casa de Maceda | Projeto Para além disso, trata-se também de um grupo
de problemáticas que incidem diretamente
Sendo este um capítulo que, por via da sua sobre a escolha do programa, da volumetria e
componente projetual, procura um paralelismo do tipo de cobertura.
direto e deliberado com a obra de Muuratsalo,
a sua abordagem temática acaba, também ela, Por fim, apresenta-se o objeto final ou tal como
por se assemelhar à estruturação presente no a dissertação denomina ‘A composição dos três
capítulo anterior. volumes’. São assim descritos os principais
espaços que constroem a volumetria: o pátio,
Deste modo, através da escolha de um conjunto o volume comum, o volume dos quartos e por
de fatores essenciais, como a aproximação fim o estúdio.
à floresta e ao mar, opta-se pelo lugar que vai
acolher este projeto experimental, Maceda. Um Assim, este projeto marca o momento final de
local que, pela sua biodiversidade, se poderia uma aprendizagem académica, resumindo,
assemelhar à paisagem proporcionada pela ilha. nele mesmo, parte dos ensinamentos retidos
ao longo destes cinco anos de formação
Neste seguimento, por analogia ao que acontece proporcionada pela Faculdade de Arquitectura
no capítulo anterior, explora-se o conceito da Universidade do Porto.
experimental do projeto. Ou seja, tal como Alvar
Aalto enumera as suas experiências, aqui, o
autor estabelece um conjunto de questões a
responder e/ou resolver em projeto.
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Alvar Aalto | Contextos
“A Mesa Branca da minha infância era grande, A mesa estava dividida em dois níveis, sendo
continuou a crescer e sobre ela realizei o estes relativos a duas fases distintas do seu
trabalho da minha vida.”1 crescimento, um primeiro subordinado, entre
o chão e o lado inferior do tampo, diretamente
De modo a compreender o arquiteto Alvar ligado ao mundo lúdico e um outro subordinante,
Aalto e o contexto onde a sua obra se insere, na parte superior, relacionado com o mundo
é de extrema importância refletir acerca das profissional.
motivações e convicções provenientes das suas
primeiras vivências. Numa reflexão descrita “Eu fui habitante do nível inferior desde que
no seu texto ‘A mesa branca’2, Aalto relembra comecei a gatinhar. Parecia uma espaçosa
momentos significativos da sua infância, dando praça dominada, exclusivamente, por mim.
ênfase à memória do seu pai, demonstrando Depois, alcancei a maturidade suficiente para
um carinho próprio e uma profunda admiração me mudar para o andar superior, para o tampo
pela pessoa que o educou. da Mesa Branca.”5
O seu pai, Johan Henrik, desempenhou um Enquanto criança, Aalto habitava o piso inferior
papel fundamental na sua formação, foi com da mesa como um refúgio, um lugar não visível
ele que, o arquiteto, adquiriu as ferramentas para os adultos, estabelecendo a concessão
mais importantes para a produção de toda espacial da sua infância. A transformação
a sua obra, tendo-lhe proporcionado uma deste objeto doméstico foi determinada pela
primeira aproximação ao mundo profissional. evolução do uso de Aalto enquanto utilizador,
Fruto de toda a sua educação, aprendeu que possibilitando a transição de duas etapas
com ambição, educação e trabalho árduo, adjacentes ao seu crescimento.
poderia alcançar futuros promissores, gerando
a segurança necessária para que fosse Deste modo, a mesa branca representaria
convicto do valor das suas capacidades, nunca o início da sua criação, proporcionando-lhe
menosprezando a necessidade de se instruir e momentos de criatividade e possibilidades
de procurar ser melhor. inerentes a um pensamento livre, constituindo-
-se como um instrumento habilitado a expressar
Sendo o seu pai agrimensor3, a mesa branca uma síntese harmoniosa da sua imaginação.
constituía-se como uma das ferramentas
principais do seu ofício, auxiliando-o nos
desenhos que abrangiam as vastas florestas
da região.4 Esta, consequentemente, impactou a
vida de Aalto enquanto criança e, posteriormente,
presenciou a sua carreira enquanto arquiteto.
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02. Jyväskylä e a componente do desenho
A sua mudança, aos cinco anos, de Kuortane “Guiado apenas pelo instinto, não faço
para a pequena cidade portuária de Jyväskylä, sínteses de arquitetura, muitas vezes os
proporcionou-lhe novos horizontes. Aqui, meus esboços parecem-me infantis e, deste
expôs o seu trabalho por diversas ocasiões modo, nessa base abstrata, a ideia principal
e contribuiu com inúmeros desenhos para toma forma, uma espécie de substância geral
alguns jornais locais, o que lhe permitiu, desde ajuda a harmonizar os problemas parciais e
cedo, estabelecer uma conexão próxima com o contraditórios.”2
mundo do trabalho.1
Aalto relaciona esta ferramenta com a
A ferramenta do desenho tornou-se essencial componente híbrida inerente ao seu pensamento,
ao longo de todo seu percurso, tanto na sua que por vezes resulta de um gesto linear de
formação como ao longo da sua carreira, esta carácter rigoroso e fiável, outras vezes sinuoso
manifesta-se como uma extensão natural do e consequente do seu processo complexo de
seu pensamento, que, para além de facilitar uma pensamento e de trabalho. O desenho pretendia
comunicação imediata, permitia refletir sobre assim, expressar uma síntese da sua imaginação
ideias um quanto abstratas, sujeitando-as a e não um aglomerado de opostos irreconciliáveis,
processos de maturação com a finalidade de as tendo como objetivo a complementaridade entre
transformar numa materialização concreta. o pensamento e o objeto.
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03. Confronto: A chegada a Helsínquia e a guerra civil
Com o intuito de se formar, Alvar Aalto visitou Este enquadramento social incitou um
pela primeira vez a cidade de Helsínquia em sentimento nacionalista inerente à cultura
1916, a grandiosidade da capital pareceu tê- finlandesa, auto valorizando o seu povo, a
-lo deslumbrado face ao carácter imponente sua língua e a integridade do seu território.
e impactante dos seus edifícios, são exemplo O reconhecimento próprio das suas
obras como a Estação Ferroviária de Helsínquia características permitiu uma elevação cultural
(1904-19), do arquiteto Eliel Saarinen ou o única, afirmando um movimento patriota
Museu Nacional da Finlândia (1905-10 / 1916), envaidecido pelas suas próprias raízes, tendo
dos arquitetos Armas Lindgren, Eliel Saarinen e como nome, Romantismo Nacional Finlandês.
Herman Gesellius.1 Em Aalto, facilmente apreendemos as origens
da sua intrínseca relação com o solo finlandês.
Contudo, a Finlândia, juntamente com os O seu país, constituiu-se como a maior
restantes países escandinavos, atravessava referência para o seu carácter, suscitando
um momento de grande turbulência política e e fomentando impulsos primários como a
de escassez económica. A estadia de Aalto, em autoafirmação de um indivíduo pertencente a
Helsínquia, veio a ser fortemente marcada pela uma nação próspera.5
guerra civil finlandesa, acalmando em 1917,
com a declaração de independência por parte Por consequência da guerra, a sua família
da Finlândia, libertando-se do estatuto de Grão- passou por sérias dificuldades económicas,
-Ducado russo.2 tendo sido obrigada a vender a sua propriedade
em Jyväskylä e a mudar-se para a modesta
Para Aalto, a guerra tornou-se numa experiência casa de férias em Alajärvi. Esta, para receber
traumática, o seu irmão Väinö foi gravemente toda a família, precisava de ser reabilitada, o
ferido na batalha de Tampere3, dezenas que, consequentemente, gerou a oportunidade
dos seus amigos foram mortos e sujeitos a para que Aalto realizasse o seu primeiro
terríveis atrocidades cometidas por ambos os projeto.6
lados da guerra. Como resultado, o país ficou
profundamente dividido e empobrecido face à
fragilidade vivida, uma realidade catastrófica
que só viu o seu fim anos mais tarde.4
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04. Armas Lindgren e a formação em arquitetura
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05. Aino Marsio e a viagem a Itália
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A influência proveniente desta época é Este período, no qual Aalto se dedicou
especialmente visível em edifícios como a Casa maioritariamente a projetar edifícios religiosos,
dos Trabalhadores em Jyväskylä (1924-25), permitiu-lhe explorar com maior intensidade as
onde Aalto define um volume principal fechado relações adjacentes à volumetria e à envolvente.
sob uma base composta por colunatas, Tanto na obra da Igreja de Muurame como
convocando referências renascentistas que nos projetos anteriormente mencionados, a
denotam uma preocupação construtiva, ou composição volumétrica revela uma leitura clara,
em projetos, como as igrejas de Töölö (1927), ou seja, os elementos são dispostos de modo a
Viinikka (1927) e Taulumäki (1927), nas quais conseguirem ser facilmente identificados. Para
se optou por uma distribuição programática em além da sua organização estes são implantados
volumes separados, preservando a identidade em zonas estratégicas, normalmente nos
do local.9 pontos mais altos, enaltecendo a sua presença
em ambientes vastos.
Contudo, a única igreja que viria a ser
construída localiza-se em Muurame (1926- Assim sendo, as influências das viagens
-29) nos arredores de Jyväskylä. Esta situa- que inicialmente marcaram a sua obra e
-se num ponto alto da vila e está rodeada por consequentemente pautaram o seu percurso,
uma densa arborização, a sua composição constituíram uma fonte de reflexão sobre o seu
assimétrica de simplicidade volumétrica próprio país. É nele que Aalto encontra o seu
expressa pelos planos de cor bege, capta a propósito, descobrindo na natureza e nas suas
vontade de recriar as paisagens clássicas no diversas formas em constante transformação,
Norte, perpetuando, através da arquitetura, o lugar para a sua criação.
desejos inerentes às suas referências.10
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06. A mudança de paradigma, exposição de Paris de 1925
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07. A transição de conceitos 1
Os anos seguintes viriam a ser fundamentais O trabalho dos dois arquitetos resultou num
para o seu percurso profissional, é durante este marco significativo para a arquitetura moderna
período que Aalto desenvolve o projeto para o finlandesa, o que lhes permitiu, posteriormente,
edifício de escritórios Turun Sanomat (1927- ganhar alguma visibilidade, proporcionando-
-29) e ganha o concurso nacional para a nova -lhes mais oportunidades como novas
Biblioteca de Viipuri (1927 / 1930-35), o seu presenças em congressos e exposições.3
interesse pelo funcionalismo não se limitava
somente à plasticidade dos edifícios, a forma Foi no desenvolvimento destes projetos que
como os mesmos se projetavam tinha mudado, Aalto manifestou a sua transição de conceitos,
as tendências eram diferentes e os seus modos sendo que a sua , até então, maior referência,
de utilização alteravam-se.1 Gunnar Asplund, daria lugar ao vanguardista Le
Corbusier.4
Em 1929, Aalto e Erik Bryggman deram início ao
projeto para a Exposição do 700º Aniversário
de Turku. O programa exigia vários pavilhões
com programáticas distintas, sendo este
dividido pelos dois arquitetos finlandeses.
Bryggman ficou encarregue dos edifícios de
maior importância, ou seja, os dois pavilhões
principais e o restaurante, já Aalto desenvolveu
o projeto para a entrada da exposição que
dispunha de um volume longitudinal ritmado
por três eixos verticais destinados à fixação
publicitária.2
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08. Obra 1: Sanatório de Paimio
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No final dos anos trinta, a Finlândia entrou, “O que foi visto até agora no complexo do
novamente, num período de grande recessão Sanatório parece único para um país nórdico, e
económica. Aalto e a sua mulher Aino, não tinham ouso dizer que Aalto deu início a uma nova era
grande trabalho e sendo que a maioria dos seus na arquitetura finlandesa.”7
clientes passava por algumas dificuldades,
deram início ao plano de pormenorização para O Sanatório foi inaugurado como um triunfo
o Sanatório de Paimio.6 A maioria do mobiliário, em 1933, a densa envolvente florestal fora
como camas, cadeiras, mesas, armários, entre crucial para a sua intrínseca relação com a
outros, foi desenhado pelo casal de arquitetos paisagem, a obra agrega princípios modernistas
que entendia a recuperação da tuberculose claros, nunca descartando a importância de
como um processo demorado, onde os seus corresponder às necessidades psicológicas
pacientes, contrariamente a um hospital, eram e sociais dos seus utilizadores, de certo
sujeitos a longos tratamentos e necessitavam modo, valoriza-se pela harmonia funcional
de elementos cuidadosamente projetados, consequente de uma íntima face humanista.
específicos para as suas necessidades.
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09. A transição de conceitos 2
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10. Obra 2: Villa Mairea
Foi neste seguimento temporal que Aalto se A sua forma em ‘L’ desenvolve-se em torno de
deparou com o projeto para a Villa Mairea (1937- um amplo pátio ajardinado que engloba uma
-39), localizada nos arredores de uma pequena piscina e uma sauna na sua extremidade. De
povoação em Noormarkku, esta constituía-se certo modo, podemos comparar a disposição
na oportunidade ideal para, o arquiteto, poder irregular da piscina às típicas formas dos
explorar novos estímulos arquitetónicos. Por lagos finlandeses, ou relacionar o uso dos
se circundar por uma densa mata florestal, perfis circulares em madeira na escada
os seus clientes, Maire e Harry Gullichsen, principal com uma interpretação própria da
desejavam que a sua casa lhes proporcionasse linguagem organicista. É também notável que,
uma ambiência interessante entre a natureza e face à época, a influência da Casa da Cascata
o quotidiano. (1936-39) do arquiteto Frank Lloyd Wright, se
apresentasse como uma referência, fosse pela
Numa primeira fase, a intenção focou-se, sua relação com a água num meio florestal,
através de uma conexão estratégica, em projetar fosse pela sua configuração arquitetónica
um volume residencial e uma galeria capaz relativa ao conjunto de planos fragmentados.1
de albergar a coleção de arte dos clientes. No A fluidez compositiva do espaço é organizada
entanto, posteriormente, Aalto funde as duas segundo contradições, uma vez que toda
partes num todo, desenhando um conjunto a sua dinâmica dá lugar a um momento de
híbrido que permitia unificar numa grande sala serenidade. Ou seja, contrariamente aos
diferentes partições das suas vidas. O objetivo restantes espaços, a sala desenha-se de forma
foi tornar a casa socialmente sustentável, onde contida, assumindo um carácter protagonista
mundos divergentes pudessem coexistir, de de estabilidade que contrabalança o
modo a que o habitante se sentisse confortável movimento fomentado nas restantes divisões.
numa harmoniosa partilha de ambiências
caracteristicamente pessoais. Aalto demonstra assim, uma preocupação
inerente ao lugar, procurando através da
própria natureza da paisagem uma fusão
entre a arquitetura e toda a envolvente que a
compõem. Na sua obra denota-se uma procura
pelo equilíbrio, onde o respeito pelo local, pela
obra e pelo utilizador, se revelam essenciais.
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A Casa de Muuratsalo | Obra
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No decorrer de uma destas viagens, Aalto e Segundo Juhani Pallasmaa, “Alto comprou
Elissa, depararam-se com as margens rochosas dois lotes de terreno com aproximadamente
da ilha de Muuratsalo. Ali, encontraram as 5000 metros quadrados e começou de
condições perfeitas para a construção de um imediato a desenhar a sua casa de verão.”5
refúgio, o que lhes permitiu, posteriormente, A compra de uma extensão de terreno desta
usufruir de momentos de tranquilidade, dimensão teria em conta o facto de Aalto
impraticáveis nas grandes metrópoles, onde querer construir volumes experimentais em
exerciam as suas práticas profissionais. torno da casa.
Esta obra, motivada pelas teorias da criatividade Tendo como base a análise do material
do seu amigo filósofo Yrjö Hirn4, possibilitou ao desenhado pelo autor, a casa terá sido projetada
arquiteto uma abordagem totalmente pessoal rapidamente, sendo que todo o processo até à
e experimental, permitindo-lhe integrar no sua materialização final não demorou mais que
ambiente da ilha uma solução multifacetada dois anos, demonstrando assim, uma vontade
capaz confrontar diversas problemáticas que conjunta em marcar através da arquitetura e
usualmente, graças à inflexibilidade do cliente, da experimentação um recomeço pessoal e
não poderiam ser postas em prática. profissional.
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12. O conceito da casa Koetalo
Poderemos dizer, primeiramente, que a Casa Contudo, esta vontade experimental antecede
de Muuratsalo consiste num conjunto híbrido a construção da casa em questão, sendo que
capaz de conjugar o mundo do ofício com o logo após o bombardeamento da Finlândia,
do lazer, traduzindo-se não só numa casa de decorrido durante a segunda guerra mundial,
férias, mas também num edifício onde a prática Aalto aproveitou o facto de lecionar nos Estados
profissional se poderia exercer. Ou seja, embora Unidos da América para propor a construção de
esta fosse destinada a desempenhar o papel uma nova cidade experimental no seu país de
de uma casa de férias, o arquiteto procurou origem, com o objetivo de acolher os refugiados
projetar uma solução versátil, permitindo-lhe da região da Carélia.3 Para o autor, esta cidade,
conjugar duas atmosferas distintas, o lazer e para além de poder incentivar o seu país a
o trabalho. De certo modo, a casa funcionou reerguer-se, também podia servir o propósito
como uma espécie de laboratório arquitetónico, da experimentação, resultando na oportunidade
ao qual Aalto chamou ‘Koetalo’1, sendo que lhe ideal para testar e inventar múltiplos conceitos.
permitia, de uma forma prática, testar soluções
que lhe suscitassem curiosidade. Nesta mesma altura, Aalto, também
desenvolveu e construiu a residência de
“O conjunto de edifícios de Muuratsalo foi estudantes para o Instituto de Tecnologia de
pensado como uma espécie de combinação Massachusetts, em Boston (1947-48), um
entre um estúdio de arquitetura e um centro edifício de seis pisos, bastante peculiar pela
de experimentação, onde mesmo aqueles sua forma ondulada em ‘W’. Esta solução
testes que ainda não estão prontos para serem possibilitou a criação de uma métrica onde
implementados em condições normais, podem não existiam quartos iguais, deste modo,
ser realizados.”2 cada estudante usufruía de um ponto de vista
único para o rio, salientando, uma vez mais, a
O conceito experimental foi amplo, não se audácia do arquiteto.
confinou a uma materialidade e/ou forma
específica, o objetivo principal era testar, de Embora já estivessem presentes alguns casos
modo que, ao longo do tempo, estas mesmas de experimentação ao longo do seu percurso,
experiências revelassem a sua condição. foi por volta dos anos cinquenta que esta
Estas, no caso de apresentarem aspetos vontade mais se exaltou.
positivos, poderiam ser implementadas em
obras posteriores sem grandes preocupações A obra de Muuratsalo surge assim, como
adjacentes, ou seja, permitiam ao autor usufruir marco do início de um período, em concreto,
de um maior leque de soluções testadas, relativo à experimentação, que possibilitou, ao
prontas a solucionar múltiplos problemas em arquiteto, projetar e testar novas temáticas,
obras futuras. fossem elas materiais, formais ou estruturais.
De certo modo, resume-se à prática de uma
grande vontade própria, conferindo a viabilidade
necessária para materializar elementos capazes
de o auxiliar ao longo da sua vida enquanto
arquiteto, o que, por sua vez, motivou gerações
futuras a experimentar até aos dias de hoje.
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De um modo mais analítico, durante a cons- As experiências relativas ao tijolo padrão
trução da casa em questão, Aalto enumerou os não foram realizadas, no entanto, o anexos
principais objetivos experimentais, sendo eles: adjacentes ao corpo principal, serviram de
teste para a construção de volumes sem
“1) Experimentar construir um edifício sem fundações e para a disposição não linear do
fundações. (...) 2) Experimentar uma disposição sistema estrutural. Segundo desenhos do
não linear do sistema estrutural, situando-o autor, houve a intenção de dar continuidade a
nos pontos mais favoráveis do terreno. 3) esta ala complementar com outras construções
Construir de forma livre com tijolos, de modo experimentais de maior escala, mas que
a obter um tijolo padrão (...) 4) (...) aproveitar o acabaram por não ser construídas.
calor solar que se acumula nas superfícies das
paredes e da cobertura, que contrariamente Para além das experiências mencionadas,
às outras experiências puramente técnicas, é surgem outras temáticas ao longo do estudo
livre e independente das restantes partes do desta obra, sendo que todas as condicionantes
edifício.”4 envolventes foram pensadas segundo uma
lógica propositadamente inovadora. A ilha, o
barco, a sauna, a implantação, o isolamento
premeditado ou até o acesso condicionado,
fazem parte de um todo experimental, que
procura integrar num mesmo espaço diferentes
soluções arquitetónicas.
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13. A implantação na margem do lago Päijänne
Embora o local escolhido não fosse exatamente Estes dois percursos parecem corresponder
o de uma típica cidade montanhosa italiana, a a duas entradas distintas, sendo que quem
paisagem proporcionada pela ilha terá sido o vem do lago é facilmente conduzido à entrada
principal fator para a escolha do lugar. Por um principal pela grande abertura na parede do
lado, a Oeste, podemos ver o pôr do sol refletido pátio, já quem percorre o caminho pedonal
no lago e por outro, a Noroeste, é possível acaba por chegar do lado oposto.
avistar parte da Igreja de Muurame, edifício que
Aalto projetou durante os anos vinte.1 Esta proximidade para com a água parece, de
certo modo, assemelhar-se à casa de Gunnar
A casa situa-se numa zona privilegiada, uma Asplund, em Stennäs (1936-37).2 Esta casa
vez que se encontra no cimo de um pequeno implanta-se seguindo a pendente do terreno
morro debruçado sob o lago Päijänne. A sua que desce até à baía, fixando-se junto de um
implantação é bastante controlada e subtil, o afloramento rochoso que a protege dos ventos
volume parece ser encaixado delicadamente a Norte.
no terreno e as suas paredes envolventes
permitem estabelecer no seu interior, um pátio Tal como em Muuratsalo, esta distribui-
que relativamente ao nível da água está elevado -se programaticamente segundo duas alas,
cerca de cinco metros. conformando um pátio no seu interior, onde se
destaca a presença de uma lareira. Também
Para além da questão da implantação, é são visíveis alguns anexos entre os quais um
possível aceder ao volume da casa de duas destinado ao armazenamento de lenha e uma
maneiras distintas, ou pela rua mais próxima, sauna. É possível que Aalto se tenha inspirado
a Este, ou pelo lago, a Oeste. O acesso feito nesta obra para a construção da casa em
a partir da rua parece ser encarado como um questão, uma vez que, para além de ter sido
percurso alternativo, sendo percorrido por meio executada previamente, Asplund teria sido
de um caminho sinuoso acompanhado pela uma das suas maiores referências enquanto
densa vegetação florestal. Por outro lado, a arquiteto.
partir do lago, é possível vermos com clareza as
grandes paredes brancas que envolvem a casa. A forma como ambas estão inseridas na
O que parece querer denotar uma preocupação paisagem que as envolve é muito idêntica, isto
pela leitura do volume a partir da água, sendo deve-se maioritariamente ao modo como os
que, o arquiteto, para além de usar a cor como seus arquitetos abordam o local, visto que em
meio de destaque, também procurou que estas nenhum dos casos existe a pretensão de as
mesmas paredes se projetassem na direção fazer surgir como protagonistas de territórios
oposta à pendente do terreno. deslumbrantes por si sós. Ambas preferem
fazer parte de um todo coeso, integrando da
melhor forma o lugar que as acolhe.
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Cozinha
Sala de
estar e jantar
Espaço de
trabalho
Quartos
Instalações
sanitárias
Distribuição
Vãos
exteriores
Vãos
interiores
Anexo
visitas
14. A distribuição programática, duas alas
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Terreno
Fundações
Sistema
transversal
de vigas
Pavimento
15. Uma estrutura multifuncional
Segundo Aalto, com base no texto ‘Koetalo, Os anexos serviram o objetivo experimental
Muuratsalo’ escrito em 1953, a casa em da segunda temática, visto que a disposição
questão tinha como principal propósito dos seus elementos de suporte tem por base a
experimental, integrar novos conceitos questão anteriormente mencionada. Ou seja, o
construtivos, possibilitando ao arquiteto testar sistema de vigas, disposto em função do pré-
e aprimorar novas técnicas. Estas poderiam -existente, serve de suporte para a estrutura
resultar como experiências individuais ou como vertical, que, por sua vez, sustenta as paredes
testes conjuntos, sendo que também podiam envolventes e a respetiva cobertura. Deste
conjugar diferentes tipos de elementos e/ou modo, a modelação estrutural do volume é
revestimentos. irregular, uma vez que tem por base elementos
naturais.
Ao analisarmos a obra estruturalmente
é-nos possível perceber que dentro do leque Por último, é de referir a questão do calor
de objetivos experimentais enunciados retido nas superfícies da casa, sendo que um
anteriormente, existem três temáticas que, de dos propósitos construtivos também seria a
certo modo, estão mais relacionadas com a integração de sistemas solares passivos. O
estrutura, sendo estas, a construção de um facto da sua construção ser maioritariamente
edifício sem fundações, a disposição não linear feita em tijolo e madeira permite essencialmente
dos elementos de suporte e o aproveitamento dois aspetos, o primeiro é que a casa aqueça
do calor retido nas superfícies da casa. naturalmente e com facilidade e o segundo é
que mantenha essa mesma temperatura por
Relativamente à primeira, é de notar que, o maiores períodos de tempo. Para além disso,
arquiteto opta por um sistema misto, sendo que esta casa seria somente habitada durante o
no edifício principal, é possível vermos, através período de verão, o que justifica o uso de um
dos seus desenhos, pequenas fundações nas sistema construtivo desta natureza, uma vez
extremidades, contudo estas evitam que a que ambos os materiais absorvem o calor com
casa esteja em contacto direto com o terreno, facilidade, o que no inverno seria praticamente
uma vez que suportam um sistema transversal impossível.
de vigas onde, consequentemente, assenta
o pavimento. Porém, os anexos adjacentes Poderá haver vários motivos para que o autor
são pousados diretamente sobre o solo, tenha optado por este tipo de soluções, entre
procurando partes de apoio mais estáveis. Isto os quais o experimental e o económico, no
é, são suportados por um sistema de vigas em entanto, aqui, denota-se uma preocupação
madeira, que, consequentemente, é apoiado pela preservação do existente, de certo modo,
sob rochas pré-existentes. Como resultado, esta obra integra o terreno sem intenção de o
à medida que certas partes do terreno cedem, modificar, adaptando-se constantemente às
a parte respetiva ao piso dos anexos é sujeita diferentes problemáticas que a compõem.
a deformações, o que resulta numa constante
deterioração dos respetivos volumes.
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16. A questão da cobertura invertida
Analisando agora a casa numa outra vertente, É possível constatar que este tipo de cobertura
podemos perceber que a sua secção transversal vinha já a ser utilizado antes da construção de
se resume a uma cobertura invertida, contudo Muuratsalo, podendo ser visível em edifícios
não é simétrica, dado que o lado da cobertura como a sua própria casa em Helsínquia (1935-
que sobe para Poente é mais íngreme do que -36), ou na Câmara Municipal de Säynätsalo.
aquele que sobe para Nascente, sendo feita a
drenagem no ponto de menor cota, localizado a Contudo, surpreendentemente, a maioria das
eixo da ala dos quartos. obras posteriores à Casa de Muuratsalo deixa
de utilizar este tipo de cobertura, estando
É interessante reparar que, de acordo com os muito mais presente a opção com uma única
primeiros esboços, foi desenhada, pelo menos, inclinação. Para que a comparação seja
mais uma versão para a casa em questão. Esta percetível servem como exemplos a Casa Louis
não difere muito do projeto construído, contudo, Carré, em França (1956-59 / 1961-63), a Villa
é possível verificar a presença de uma única Aho, em Rovaniemi (1964-65) ou a Villa Skeppet,
inclinação na cobertura. em Tammisaari (1969-70), mais conhecida por
‘Villa Schildt’.
Para além disso, Aalto aproveitou o facto das
paredes serem em tijolo e da cobertura ser Assim sendo, podemos perceber que a obra
inclinada para encaixar as vigas transversais. em questão também pode ter servido para
Isto é, no caso da ala virada a Norte, podemos comprovar aspetos menos positivos, sendo
perceber que a cobertura se apoia sobre as que alguns deles, como é o caso da cobertura
duas paredes paralelas de maior dimensão, invertida, deixam de ser utilizados em obras
estas, por sua vez, contêm pequenas frestas na posteriores, refletindo uma aprendizagem
parte superior ao longo de toda a sua extensão, arquitetónica consequente de uma prática
facilitando o encaixe direto das vigas em ambos experimental.
os lados.
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17. O pátio, expoente da experimentação
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Pátio
Oeste
Pátio
Este
Abertura
Sul
Abertura
Oeste
Para além disto, na obra em questão, é possível Para além de todas as componentes que tornam
verificar a presença de dois pátios distintos, esta casa numa lição experimental, foi no seu
posto que, a Este, definido pela ala dos quartos revestimento exterior que este conceito mais
e pelo volume anexo, destinado às visitas, se destacou. Em todas as superfícies do pátio
encontramos um espaço vagamente percetível, foram aplicadas peças de tijolo e de cerâmica,
maioritariamente delineado pelos volumes e com diferentes tamanhos e tonalidades, tendo
pela topografia irregular. Já a Oeste, junto da sido usados cerca de cinquenta tipos de
entrada da casa, podemos ver o pátio principal, padrões distintos para o seu preenchimento
que, de certo modo, revela uma ligeira influência total, uma prática que, de certo modo, se
mediterrânica por se fechar sobre si mesmo.5 assemelha à técnica do ‘patchwork’.6
Este pátio parece querer estender a imagem Sabe-se que, grande parte destes materiais
da casa para a paisagem através de duas foram reaproveitados de obras anteriores, como
grandes aberturas, uma a Sul, que serve a é exemplo, pela sua proximidade, a Câmara
entrada principal e emoldura a vista da casa Municipal de Säynätsalo, porém os restantes
sobre o lago e outra, a Oeste, não atravessável foram encomendados a uma fábrica, localizada
e dividida em dois níveis. Podemos comparar nos arredores de Riihimäki.7
esta última, aos vãos dispostos pela casa, visto
que está subdividida verticalmente por ripas Podemos verificar que, já existiam estudos
de madeira, o que nos remete para a ideia das anteriores que exploravam esta vertente
janelas com caixilhos, esta particularidade plástica, como é o caso do projeto não
desenvolveu-se em obras posteriores como são executado para a sauna de madeira da Villa
exemplos o seu próprio estúdio, em Helsínquia Mairea, onde o arquiteto conjugava múltiplos
(1954-63) e a, já mencionada, Casa Louis Carré. planos horizontais e verticais nas diferentes
Além do mais, estas ripas verticais, também fachadas.
possibilitam a fragmentação do enquadramento
paisagístico, uma vez que a amplitude visual é Assim, os cinco planos adjacentes ao pátio,
sucessivamente comprimida caso o observador sendo destes, quatro relativos aos alçados,
se desloque obliquamente. onde dois se fragmentam por duas grandes
aberturas comunicantes com o exterior, e um
Assim, verificamos que existem diferenças último, relativo ao pavimento, que une todas as
significativas entre estas duas aberturas, dado superfícies a céu aberto, convocam o expoente
que uma, para além do cariz prático e quotidiano máximo da atmosfera experimental da casa,
concedido pelo seu atravessamento, tende a reunindo assim, todas as componentes
enfatizar a comunicação direta para com o necessárias para uma vivência única do
exterior, já a outra, pelas suas semelhanças aos espaço.
restantes vãos, parece querer destacar a leitura
do espaço interior.
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Ao analisarmos as suas obras desta época, Posteriormente, dois dos trabalhadores
podemos afirmar que o seu gosto pela de Säynätsalo foram encaminhados para
materialidade do tijolo era inegável. Este pode Muuratsalo, isto estará certamente relacionado
ter sido fomentado pela construção do seu com questões geográficas, dado que estas
projeto para a residência de estudantes do obras são relativamente próximas, no entanto,
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, esta questão, não deixa de salientar o facto de,
mais conhecido por ‘Baker House’, no qual, o o arquiteto, ter ficado bem impressionado com a
arquiteto, utiliza predominantemente o tijolo qualidade do trabalho executado anteriormente.
vermelho. Contudo, ao verificarmos os anos
seguintes, já em território finlandês, quase todas Numa outra vertente, sendo esta uma casa
as fachadas dos seus edifícios desta época experimental, o tratamento das suas superfícies
são em tijolo vermelho, são exemplos, uma não se assemelha, diretamente, a nenhuma
vez mais, o edifício de Säynätsalo e o Instituto obra anterior. Será facilmente percetível que
Nacional da Pensão, no entanto, esta temática, a tonalidade das paredes interiores do pátio
também se consta noutras obras, como é o caso difere das exteriores, isto deve-se ao facto do
da Universidade de Jyväskylä (1950 / 1953- exterior ter sido, posteriormente, caiado de
-59), do Edifício de Escritórios Rautatalo (1951 branco, enquanto que o interior manteve a cor
/ 1952-57) ou da Casa da Cultura de Helsínquia original do tijolo. A escolha pelo branco parece
(1952-58), sendo esta fase, posteriormente querer diferenciar aquilo que é construído
referida, por alguns arquitetos, como o ‘Período daquilo que não o é, contudo, este destaque
Vermelho de Aalto’, dado que o uso constante propositado é filtrado pelos múltiplos planos
deste material durou cerca de uma década.8 florestais, combinando num só alçado a fusão
da floresta e da arquitetura.
Para além da questão material, o autor salienta,
num texto dedicado aos trabalhadores da obra Consequente desta alternância de tons, é
de Säynätsalo, a importância de colaborar com percetível uma certa reversão da prática
as pessoas certas para se obter um resultado comum, característica essa, muito presente
arquitetónico coeso. no carácter experimental da arquitetura de
Alvar Aalto, sendo que a cor branca, no exterior,
“O trabalho da Câmara Municipal de Säynätsalo, está associada a uma ideia de delicadeza e
o qual considero ter sido um trabalho de vulnerabilidade, por oposição a um ambiente
alvenaria extremamente importante do ponto interior mais tosco e escuro.
de vista arquitetónico, foi executado por Toivo
Nykänen, Paavo Asplund, Yrjö Marjamäki, Aimo
Renlund, Väinö Puolanen e Sakari Sundvall. É
muito importante para mim, enquanto arquiteto,
promover a arte da alvenaria do nosso país. É
por isso que a fachada e grande parte dos
interiores da Câmara Municipal de Säynätsalo,
foram construídos puramente em tijolo. Devo
dizer que estou muito satisfeito com a nossa
colaboração e que o resultado é um exemplo da
alvenaria finlandesa.”9
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Também podemos notar que a lareira, localizada Por fim, este pátio contém dois elementos que
no centro do pátio, enfatiza a geometria regular merecem o respetivo destaque, sendo que é
do espaço, já o fogo, resultante da mesma, possível vermos em dois dos seus alçados, dois
revela, através da sua luz, a multiplicidade retângulos compostos por azulejos brancos
experimental que o envolve. e azuis. De certo modo, sendo a pintura um
dos passatempos do autor, estes parecem
“Uma lareira ao centro domina todo o grupo de querer convocar, pelas suas semelhanças, um
edifícios. Pela sua utilidade e pelo seu carácter quadro, dado que se destacam pela sua cor e
acolhedor, assemelha-se a uma fogueira em pelo seu enquadramento dos respetivos planos
que o fogo e o seu reflexo na neve proporcionam, envolventes.
ao homem, uma sensação de calor agradável,
quase mística.”10 O pátio torna-se assim, por todas as
componentes que engloba e sensações que
despoleta, na síntese do seu propósito em
humanizar a arquitetura.
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18. Os protótipos, a sauna e o barco
Para que nos fosse possível analisar e interpretar Embora a sauna e a cabana fossem obras
todo o conjunto referente à Casa de Muuratsalo, de arquitetos diferentes, os seus propósitos
não poderíamos deixar de mencionar outras parecem convergir de modo semelhante
duas experimentações adjacentes, a sauna e o para a prática da experimentação, dado que
barco. a cabana teria a pretensão de resumir o
pensamento arquitetónico de Le Corbusier, isto
Localizadas igualmente na ilha de Muuratsalo, a é, esta foi projetada segundo as dimensões do
cerca de oitenta metros, a Norte, da casa, estas ‘modulor’1, constituindo-se num espaço único e
experiências serviram propósitos distintos, sintetizando a ideia do habitar.
contudo é possível perceber que existe, em
ambas, uma certa extensão imaginária do Para além do volume da sauna, também será
volume principal, uma vez que se pretendeu, de importante referenciar o projeto e a construção
uma forma específica, experimentar conceitos do meio de transporte, o barco. Este permitiu
que revelassem a sua condição ao longo do ao autor e aos seus convidados deslocarem-
tempo. -se sem quaisquer impedimentos para a ilha
de Muuratsalo, uma vez que, face à época,
Para a localização da sauna, o arquiteto, não haveria nenhuma alternativa rodoviária de
procurou um ambiente isolado, totalmente acesso, tendo sido somente viabilizada uma
longe da presença humana, sendo somente década depois.
desejável a comunhão entre o utilizador e
o espaço envolvente. Embora a sua função Assim, tendo como base a identificação e
justificasse este tipo de inserção, este volume a análise das diferentes componentes do
pode ter sido influenciado por uma outra obra conjunto experimental de Muuratsalo, nunca
da mesma época, a cabana de Roquebrune- desassociadas da época em que outrora foram
-Cap-Martin, em França (1951-52) do arquiteto pensadas, ser-nos-á possível compreender
Le Corbusier. Esta, tal como o conjunto em a obra no seu todo, desde a questão do
questão, foi construída segundo o propósito isolamento premeditado até aos problemas de
de ser uma casa de férias, o que poderá locomoção.
justificar a sua proximidade com a água, fosse
esta do lago Päijänne ou do mar Mediterrâ-
neo.
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19. Protótipo 1: Sauna
Tal como a casa, a implantação da sauna é A sua aparência rudimentar está relacionada
feita junto à costa, contudo contrariamente com o facto do volume ser construído
à margem rochosa do volume principal, esta unicamente com madeira, o que, de certo
situa-se próxima de uma baía rasa, permitindo modo, acaba por revelar uma preocupação pela
ao autor e aos seus convidados refrescarem-se tradição, sendo que seria costume a utilização
sem grandes condicionantes. deste material em edifícios com esta função.
Podemos perceber, pela análise de outras obras, O encaixe das toras presentes nas paredes
que o elemento da sauna não seria exclusivo à foi feito de um modo subtil, uma vez que as
composição de Muuratsalo, estando este tam- extremidades das peças foram devastadas
bém presente em edifícios como a Villa Mairea, a para que as seguintes pousassem, de certa
Casa Louis Carré ou a Villa Kokkonen (1967-69). forma, encadeiam-se de modo alternado
viabilizando uma maior coesão estrutural.
A solução adotada na Villa Mairea e na Villa Para além disso, Aalto também estipulou
Kokkonen é bastante semelhante, uma vez que, que estas teriam pequenas variações de
em ambas, o volume se localiza no lado tardoz diâmetro, isto permitia que ganhassem uma
da casa junto de uma piscina, delimitando o certa ideia de horizontalidade, dissimulando o
perímetro do pátio. As duas saunas estão ligadas desnivelamento imposto pelo terreno.
às respetivas casas por uma ligeira cobertura, no
entanto, é notória a presença de um afastamento A sua cobertura, ligeiramente inclinada, é
intencional. Já o exemplo da sauna da Casa revestida por uma camada de substrato de
Louis Carré apresenta um carácter mais híbrido, turfa, delimitada por uma pequena platibanda,
visto que embora fosse colocada na extremidade sendo este um material muito fértil, permite ao
do edifício, esta continua a fazer parte do seu edifício, nos meses mais luminosos, usufruir de
conjunto volumétrico. uma pequena vegetação na sua parte superior,
assemelhando-se ao que designamos,
Para além disso, na obra em questão, o facto atualmente, por cobertura ajardinada.
da sauna estar no meio da floresta, também
permitia, ao arquiteto, usufruir do percurso É importante mencionar também, um dos
pedonal, o que conjugava uma certa ambiência símbolos mais icónicos desta sauna, o seu
mística entre a intimidade do utilizador e a puxador. O modo como este surgiu parece ser
essência do lugar. controverso, contudo segundo Pallasma, uma
vez que os desenhos para a sua pormenorização
Analisando agora a sauna de Muuratsalo de um estavam atrasados, os trabalhadores, por conta
modo mais sistemático, é possível compreender do trabalho, improvisaram-no com parte de
que o seu corpo assenta sob quatro pedras uma madeira torcida de zimbro, peça que Aalto
pré-existentes, isto é, estas servem de base acolheu com grande entusiasmo e rapidamente
para a fixação de um conjunto de toras de integrou no projeto final.1
madeira cruzadas, que, por sua vez, sustentam
o volume, sistema este também presente nos Por fim, é de focar a maneira hábil e intuitiva
anexos adjacentes à casa. Como resultado como Alvar Aalto manuseou a sua prática
desta apropriação natural, a sua planta é experimental com o respeito pela tradição,
assimétrica, subdividindo-se interiormente em inovando em aspetos que lhe suscitassem
dois compartimentos, um mais pequeno que essa vontade e adotando convenções que
corresponde à antecâmara e um maior onde se respondessem às suas necessidades, fossem
localiza a sauna propriamente dita. elas fruto do costume ou do acaso.
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20. Protótipo 2: Barco
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Alguns anos depois, em 1996, foi organizado Apesar do fracasso funcional do barco em
um concurso internacional voltado para os questão, Aalto, face à época, dificilmente
estudantes de arquitetura, cujo desafio consistia se dececionaria com a sua posição no
na projeção de um abrigo para a colocação do seu país. Ele teria percorrido um percurso
barco, a competição suscitou muito interesse profissional admirável, sido nomeado membro
entre as camadas mais jovens e consta que da Academia da Finlândia e concluído obras
foram apresentadas mais de duas centenas internacionalmente admiradas. Tal como refere
de propostas. O projeto vencedor, atualmente o seu amigo e colaborador suíço, Alfred Roth,
construído, foi o das duas estudantes “Nenhum outro arquiteto é tão famoso no seu
dinamarquesas Claudia Shultz e Anne-Mette próprio país.”8
Koolmark, resumindo-se num simples volume
retangular de estrutura em madeira, envolvido Por fim, é de importância refletir sobre as três
por finas laminas horizontais, também elas do peças analisadas até então, sendo estas, a
mesmo material.6 casa, a sauna e o barco. Todo este conjunto
assenta sob fatores que procuram a inovação,
Segundo Pallasma, o nome deste barco surgiu fomentando naqueles que o vivenciam hoje em
de uma forma caricata, sendo que durante dia, um sentimento estimulante e inspirador,
uma visita à Câmara Municipal de Säynätsalo, próprio de uma arquitetura multifacetada de
juntamente com o seu amigo e arquiteto carácter experimental.
italiano Ernesto Rogers, Aalto teria começado
a atirar pedras a uma placa que tinha sido
afixada sob a fachada principal sem o seu
consentimento, momento ao qual o seu amigo
reagiu dizendo “Nenhum profeta está na sua
pátria”7, este comentário, posteriormente,
resultou no nome dado ao barco por Aalto,
revelando uma expressão com um certo grau
de humor inerente.
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A Casa de Maceda | Projeto
Para dar início a este projeto, a escolha do A sua localização foi delimitada pelo encontro de
lugar não foi uma tarefa fácil, contudo havia dois trilhos pedonais, um orientado a Este-Oeste
um objetivo, encontrar um lugar, relativamente e outro a Norte-Sul, balizando previamente os
próximo, que se pudesse assemelhar às limites daqueles que viriam a ser os alçados
margens da ilha de Muuratsalo. Para isso, o do lado Sul e Oeste, já nos lados opostos,
local tinha que relacionar, num mesmo espaço, Norte e Este, o limite foi pré-estabelecido pela
duas componentes essenciais, a proximidade proximidade à vegetação mais densa.
com a água e com a floresta.
A sua relação para com o mar apresenta
Entre as inúmeras hipóteses, a zona costeira características singulares, dado que o terreno
de Maceda emergiu naturalmente, tanto pela se encontra elevado cerca de três metros
sua familiaridade para com o autor, como relativamente à cota da praia. Isto deve-se ao
pela sua densa mata florestal, combinando no facto de haver uma quebra de nível repentina
mesmo lugar uma atmosfera altamente mística entre a cota da floresta e a do areal o que, de
provocada pela sua biodiversidade e pelos certo modo, se revela ser um aspeto positivo,
infinitos planos ritmados de luz e sombra. uma vez que para além do local se encontrar
protegido de eventuais cheias, também usufrui
A primeira visita ao local foi de facto uma de uma vista panorâmica sobre a praia.
surpresa, posto que o seu acesso principal
estava agora tomado pela densa vegetação Posto isto, todas as condições para a receção
estando quase irreconhecível. Contudo, deste projeto se apresentavam viáveis, o lago
agradavelmente, aqueles caminhos sinuosos e Päijänne daria lugar a uma costa definida
enigmáticos, levemente presentes por linhas de pelas águas do oceano Atlântico, o íngreme
terra batida, tomaram como destino um espaço terreno rochoso seria substituído por um lote
amplo e luminoso, espaço este que recebeu ligeiramente areado e a forte presença de
o projeto, uma vez que reunia todas aquelas espécies como bétulas tomaria agora o seu
componentes outrora idealizadas. lugar por elegantes pinheiros bravos.
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22. O conceito experimental
Para que estas surgissem, estabeleceu- Ainda dentro deste mesmo campo, o facto
-se um primeiro objetivo, projetar uma casa das coberturas serem inclinadas viabilizou
relativamente sustentável e de custo reduzido. uma solução não muito usual, a inexistência
Deste modo, entendeu-se que o edifício apenas de caleiras. Deste modo, as águas da chuva
usaria betão nas suas fundações e que o seriam encaminhadas pela força da gravidade,
restante edificado seria maioritariamente feito caindo diretamente no pátio exterior.
com materiais como o tijolo e a madeira. A
escolha destes teve em conta dois fatores: O Por último, é importante realçar um outro
facto de ambos os materiais usufruírem de aspeto, a cor. Tal como em Muuratsalo, aqui,
uma boa componente térmica, o que facilitaria optamos por conjugar duas tonalidades
manter a casa quente por maiores períodos de distintas num mesmo material, ou seja, o tijolo
tempo e a questão de esta se localizar junto que delimita a composição é pintado de branco,
ao mar, ou seja, inviabilizaria o uso de outros formando um primeiro plano, já no interior do
materiais pelo seu efeito corrosivo. pátio o tijolo não é pigmentado, apresentando
a sua cor original. Deste modo, foi possível
Para além da componente material, pretendeu- estabelecer uma diferenciação espacial e uma
-se criar uma métrica regular, de modo a que certa reversão da prática comum onde a cor
todos os alçados tivessem uma composição assume uma presença equilibrada no vasto
comum, isto é, embora o número de vãos plano florestal.
pudesse variar consoante a extensão de cada
volume, as suas dimensões seriam sempre
as mesmas, fossem eles destinados a janelas
ou a portas, o que facilitaria a sua aplicação e
eventualmente diminuiria o custo de produção
de cada elemento.
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23. A escolha do programa
Uma vez que este projeto não dispunha de Numa primeira instância, pensou-se que
um cliente, com vontades e orçamentos esta pudesse ser reduzida ao mínimo, isto é,
reais, foi necessário que o autor interpretasse funcionar literalmente como um abrigo, onde
este exercício como um objeto onde seriam apenas estaria presente uma laje apoiada por
cruzadas as suas vontades com as suas um conjunto de suportes verticais. No entanto
eventuais imposições e/ou limitações, dado procurando estabelecer uma relação entre
que a arquitetura surgiria desse mesmo as duas casas experimentais, foi definido um
conflito, fosse este real ou somente fruto da sua programa que de acordo com a vontade do
imaginação. autor, conciliaria numa mesma composição
diferentes modos de ocupação, podendo
Assim, depois de se definir o lugar e o propósito também estes ser relativos ao trabalho e ao
deste projeto, foi necessário estabelecer um lazer.
programa capaz de organizar todas as vertentes
em questão. Para isso, uma vez mais, a escolha Contudo, inicialmente, este tornou-
do mesmo teve como referência o caso de -se demasiado ambicioso, visto que se
estudo, sendo que se estipulou que a casa seria colocou nele um acumular de expectativas
apenas de uso sazonal, ou seja, seria projetada insustentáveis. Posteriormente, com o esforço
para funcionar como um retiro, um lugar onde a e o distanciamento necessário, esta ambição
vida pudesse acontecer naturalmente longe da desmedida foi redimensionada de modo a
grande confusão vivida na cidade. atingir uma solução mais ponderada e credível,
esta dividiu-se segundo três zonas principais,
uma zona comum, uma zona privada e uma
zona de trabalho, entendendo-se que através
de um processo de simplificação o projeto se
tenderia a valorizar.
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24. Indecisões entre volumetrias
Sendo o autor o próprio cliente e esta casa um Contudo, posteriormente, esta ideia
exercício abstrato e experimental de arquitetura, volumétrica foi-se desvirtuando e começou-
cada decisão ou indecisão tornava-se mais -se a pensar numa composição fragmentada,
complexa, isto porque não havia ninguém a ou seja, aproveitou-se o prévio facto de
clarificar o ‘certo’ do ‘errado’, como acontecia se ter tripartido o programa e dividiu-
em anos anteriores de formação, agora, no -se, de igual forma, o projeto por três volumes.
limite, este projeto podia-se resumir a uma Cada volume encarregou-se de responder às
qualquer solução, fosse esta uma boa ou má necessidades impostas pelo seu programa,
composição de elementos consequentes ou ou seja, de certo modo, contribuiriam para o
desconexos. desenho do conjunto, mas desempenhariam
papeis autónomos.
Depois de se formular um programa base,
dividido em três zonas, voltou-se a olhar para o Por último, o facto destes volumes coexistirem
existente, de modo a perceber de que forma era separadamente permitiu que fossem dispostos
possível implantar um conjunto de volumetrias de forma a organizar um pátio no seu interior,
que não desvirtuassem o local. elemento este muito presente em várias obras do
arquiteto em estudo. Este, consequentemente,
Assim, levantou-se cuidadosamente a posição organizou toda a composição em torno de si
de cada árvore inserida no lote em questão e mesmo, permitindo uma maior e mais eficiente
começou-se a estudar algumas composições. disposição e distribuição espacial.
Talvez por influência de uma viagem à Finlândia,
onde se visitou uma das obras mais divulgadas
de Alvar Aalto, a Villa Mairea, em Noormarkku,
os primeiros estudos tenderam sempre por
revelar alguma forma mais ou menos orgânica.
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25. A inversão das coberturas
Muito inspirado pelo arquiteto em questão, a Deste modo, partiu-se em busca de outras
temática das coberturas ganhou uma especial abordagens de coberturas de duas águas.
importância. Contudo, tal como as restantes Outros dois exemplos, um pouco mais
fases do trabalho, também esta passou por contemporâneos, que influenciaram o processo
uma natural evolução até à sua forma final. deste projeto foram, a Casa em Padrões (2012-
-15) dos arquitetos Manuel e Francisco Aires
Primeiramente, estudaram-se algumas Mateus e a Casa Fonte Boa (2015) do arquiteto
soluções em telha cerâmica de duas águas, João Mendes Ribeiro. A primeira por sintetizar
estas tiveram como referência obras do início a ideia da casa em volumes modestos e claros,
do percurso profissional do arquiteto Álvaro fazendo salientar a cor branca na paisagem
Siza Vieira, uma vez que essa fase assumiu uma de Grândola e a segunda por reunir num único
linguagem mais próxima da de Alvar Aalto. São volume, também ele formalmente simples,
exemplo, as Quatro Casas (1954-57), a Casa todas as programáticas adjacentes.
de Chá da Boa Nova (1956-63 / 1991 / 2012), a
Casa Carneiro de Melo (1957-59) e a Casa Luís Por fim, depois de uma revisita ao Mercado
Rocha Ribeiro (1960-62 / 1969). Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59)
do arquiteto Fernando Távora, chegou-se
Contudo, posteriormente, percebeu-se que à conclusão que a inversão das coberturas
a relevância destas obras, para o autor, seria a melhor resposta, porém, também se
não estava diretamente relacionada com a pretendia que o custo desta solução não fosse
materialidade ou forma das coberturas, mas excessivo, para isso, optou-se por definir que
sim, com a ambiência que estas transportavam cada volume da composição teria apenas
consigo enquanto conjunto. uma única inclinação e que se desenharia, em
alçado, utilizando a simetria, um conjunto que
fosse capaz de transmitir ao observador a ideia
da cobertura invertida.
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26. A composição dos três volumes
Tal como foi mencionado anteriormente, seria Este conjunto conforma no seu interior um
difícil alcançar uma solução ‘perfeita’, até grande pátio, sendo que este se encontra
porque para além da dubiedade desse termo, dividido em duas zonas. Uma primeira, de
tendo sido este um projeto que procurou ser carácter acolhedor, junto da zona funcional da
experimental, o principal objetivo focou-se na casa, onde se desenhou um espaço de estar
criação de uma composição que fosse capaz com uma parede, um banco e uma lareira ao
de estabelecer uma relação tangível com a obra centro e uma segunda, mais despojada, onde
de Muuratsalo. se pretendeu criar um local que estabelecesse
uma relação para com o estúdio.
Este projeto desenvolveu-se segundo
uma lógica processual metódica, onde se Por fim, pretende-se dizer que a composição
ultrapassaram erros com sucessivas tentativas, em questão procurou responder de forma
lapidando uma solução que se poderá resumir a sucinta e pragmática a uma questão funcional
um pátio delimitado por três volumes. e programática, ou seja, três volumes para
três modos de ocupação, contudo, embora
A implantação e a proporção de cada um teve estes possam funcionar de forma autónoma,
em conta o seu modo de ocupação, ou seja, partilham um mesmo conjunto, uma mesma
estabeleceu-se uma hierarquia compositiva de vontade e uma mesma materialidade.
acordo com o programa de cada volume. Do
lado Poente, encontramos o maior elemento
do projeto, isto porque alberga as zonas
comuns, ou seja, hall de receção, sala de estar,
cozinha, instalação sanitária e arrumos. Do
lado Nascente, um outro, de menor dimensão,
que se destina às zonas privadas, contendo
dois quartos individuais com uma instalação
sanitária partilhável e uma suite. Por último, do
lado Norte, estabelecendo o limite longitudinal
da composição, projetou-se um volume menor,
um estúdio, um espaço amplo e polivalente que
também dispõem de uma instalação sanitária e
de uma zona para arrumos.
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27. A leitura do espaço 1: Pátio
O pátio, desta composição, pretende ser o Estas, são separadas por uma grande parede
elemento agregador de todo o conjunto de de tijolo, contudo esta divisão foi somente
Maceda, assemelhando-se, conceptualmente, projetada com o intuito de quebrar visualmente
a exemplos como a Villa Mairea, a Câmara o ritmo longitudinal do espaço, uma vez que
Municipal de Säynätsalo, a Casa Experimental de pode ser facilmente contornada.
Muuratsalo ou o Instituto Nacional da Pensão.
No centro desta composição, projetou-se
Este resume-se ao espaço ‘entre’ volumes, um uma das componentes mais importantes do
espaço longitudinal amplo, organizado pelas conjunto, a lareira. Esta, para além de evocar
três construções que o definem, estabelecendo referências relativas ao arquiteto em estudo,
a comunicação dos diferentes elementos, procurou contribuir para o âmbito social da
pelo exterior, através de um caminho regular, casa, refletindo-se como um elemento de
em tijolo, desenhado segundo uma métrica comunhão familiar.
ortogonal.
“O espaço doméstico que chega aos nossos
O estudo para a organização deste grande dias como um organismo complexo, com
pátio teve como principal referência uma obra elevadas exigências técnicas, funcionais e de
do, já mencionado, arquiteto Fernando Távora, comodidade, apoiadas por uma infinidade de
a Casa de Ofir (1956-58). Tanto pelos pátios, tecnologias disponíveis, teve a sua origem na
como pela lareira, a leitura desta obra permitiu, casa elementar, albergue de um só espaço
ao autor, uma reflexão sobre a vivência do centrado no fogo. Este sentido fundacional
espaço exterior, assim, decidiu-se que o grande do espaço térmico, polarizado como coração
e amplo pátio, outrora projetado como um todo, da casa, traduz as origens miticó-simbólicas
seria divido em duas zonas, uma entre os dois reminiscentes nas palavras lar, lareira e fogo,
volumes principais da casa, invocando uma intimamente associadas, por metonímia, à casa
ambiência íntima e doméstica e outra, junto do e ao sentido energético utilitário que percorre
estúdio, que procura uma ligação mais próxima grande parte da história da habitação.”1
ao trabalho.
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28. A leitura do espaço 2: Volume (zonas comuns)
O volume correspondente às zonas comuns foi A sala de estar dispõe de uma mesa/banco
desenhado na zona Poente desta composição, em pedra, de uma lareira e de um conjunto de
a sua forma retangular, composta por quatro prateleiras em madeira dispostas na horizontal,
paredes, em tijolo, ortogonais entre si, já a cozinha contém uma grande banca com
diferencia-se pelo modo de articulação das as respetivas zonas do fogo/água e de um
suas diferentes alturas, isto é, a parede Oeste espaço, a Norte, que poderá, eventualmente,
é maior do que a do lado oposto, criando, servir como zona de refeições. Para além
deliberadamente, uma cobertura inclinada. destes, o volume, também engloba uma divisão
de arrumos onde se insere uma estante e uma
Os seus alçados, desenhados segundo uma instalação sanitária que apenas tem uma sanita
métrica regular, abrem-se para Nascente e e um lavatório.
Poente, ou seja, para o pátio e para o mar
respetivamente. Estes dispõem de seis vãos por Por fim, é de salientar a importância deste
lado, contudo, cinco são correspondentes às volume na composição, uma vez que reúne
janelas e um à porta de entrada. todas as áreas comuns do conjunto, resumindo-
-se a um espaço central e unitário, onde
A sua organização programática segue diferentes âmbitos espaciais possibilitam
um conceito base, estipulou-se que as diferentes modos de uso.
componentes funcionais se localizariam ao
centro e a sua circulação adjacente na periferia,
sendo possível usufruir de uma leitura contínua
do espaço interior.
104 | 105
29. A leitura do espaço 3: Volume (zonas privadas)
O volume relativo às zonas privadas localiza-se Programaticamente, definiu-se que este volume
na zona Este da composição. Tal como foi visto albergaria três quartos e duas instalações
anteriormente, a sua forma retangular, também sanitárias, uma vez que a Sul temos dois
ela composta por quatro paredes, em tijolo, quartos individuais com uma instalação
ortogonais entre si, articula diferentes alturas, sanitária partilhável e a Norte temos uma suite.
contudo, contrariamente ao volume das zonas
comuns, a parede Este é maior do que a do lado Ambos os quartos individuais dispõem de uma
oposto, criando também uma cobertura inclinada. porta para o pátio e de uma janela para a zona
florestal, o seu mobiliário é composto por uma
Os seus alçados, desenhados segundo uma secretária e um armário subdividido em quatros
métrica regular, abrem-se, igualmente, para portas, sendo três destinadas à arrumação e
Nascente e Poente, ou seja, para a zona florestal uma de acesso à instalação sanitária que, por
e para o pátio respetivamente. Estabeleceu-se sua vez, contém um lavatório, um bidé, uma
que ambos os lados teriam seis vãos, sendo sanita e uma base de duche. Já a suite tem
estes correspondentes a três janelas e a três uma longa secretária para duas pessoas, um
portas no alçado frontal e a seis janelas no armário e uma instalação sanitária que, embora
alçado tardoz. de maior dimensão, segue a mesma disposição
que a anterior.
Após várias tentativas relativas à sua
organização funcional, definiu-se que cada Enquanto que no desenho do volume das zonas
quarto teria uma entrada única, ou seja, aos comuns se procurou uma ideia de comunhão e
olhos do autor, sendo esta uma casa de férias, de união familiar, aqui procura-se um espaço
procurou-se que os seus utilizadores pudessem capaz de proporcionar aos seus utilizadores
usufruir do espaço de um modo distinto. uma ambiência mais íntima.
106 | 107
30. A leitura do espaço 4: Volume (estúdio)
Por último, o volume do estúdio, também ele Entendeu-se que este volume deveria ser
com uma cobertura inclinada para o pátio, organizado de forma simples, sendo somente
procura estabelecer, a Norte, o limite físico da definido por uma grande sala, uma zona de
composição. Este, pela sua função, foi projetado arrumos e uma instalação sanitária.
com um pouco de distanciamento dos dois
anteriores, uma vez que se procurou não mis- A grande sala dispõe de três mesas fixas,
turar a ambiência da casa com a do trabalho. alinhadas segundo os vãos, a divisão dos
arrumos contém uma estante e a instalação
Os seus alçados foram também desenhados sanitária tem uma sanita e um lavatório.
segundo uma métrica regular, contudo abrem-
-se, somente, para Sul, ou seja, para o pátio. Assim, concluímos a leitura do espaço deste
Sendo este o elemento de menor dimensão conjunto, tendo tido como objetivo elucidar o
de todo o conjunto, estabeleceu-se que teria leitor através de pequenos fragmentos e/ou
quatro vãos, mais concretamente, três janelas memórias, das diferentes fases que levaram o
e uma porta. desenrolar experimental deste projeto.
108 | 109
Elementos Rigorosos
GSEducationalVersion
02. Planta: Coberturas do conjunto
CC4
CC8
CC7
CC3
AC4
AC3
AC2 AC2
CC2 CC2
CC5 CC5
CC6 CC6
CC1 CC1
AC1 AC1
AC4
CC4
CC8
CC7
CC3
AC3
0 1 3m
114 | 115
GSEducationalVersion
03. Planta: Piso 0 do conjunto
CC4
CC8
CC7
CC3
AC4
AC3
AC2 AC2
CC2 CC2
CC5 CC5
CC6 CC6
CC1 CC1
AC1 AC1
AC4
CC4
CC8
CC7
CC3
AC3
0 1 3m
116 | 117
GSEducationalVersion
04. Alçados: Conjunto
AC1
AC2
AC3 AC4
0 1 3m
118 | 119
GSEducationalVersion
05. Cortes 1: Conjunto
CC1
CC2
CC3 CC4
0 1 3m
120 | 121
GSEducationalVersion
06. Cortes 2: Conjunto
CC5
CC6
CC7 CC8
0 1 3m
122 | 123
GSEducationalVersion
07. Planta: Cobertura do volume (zonas comuns)
AV4
CV3
CV2
AV3
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV4
CV3
CV2
AV3
0 1 2m
124 | 125
GSEducationalVersion
08. Planta: Piso 0 do volume (zonas comuns)
AV4
CV3
CV2
AV3
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV4
CV3
CV2
AV3
0 1 2m
126 | 127
GSEducationalVersion
09. Alçados 1: Volume (zonas comuns)
AV1
0 1 2m
128 | 129
GSEducationalVersion
10. Alçados 2: Volume (zonas comuns)
AV2
0 1 2m
130 | 131
GSEducationalVersion
11. Alçados 3: Volume (zonas comuns)
AV3 AV4
0 1 2m
132 | 133
GSEducationalVersion
12. Cortes 1: Volume (zonas comuns)
CV1
0 1 2m
134 | 135
GSEducationalVersion
13. Cortes 2: Volume (zonas comuns)
CV2 CV3
0 1 2m
136 | 137
GSEducationalVersion
14. Planta: Cobertura do volume (zonas privadas)
AV3
CV2
CV3
AV4
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV3
CV2
CV3
AV4
0 1 2m
138 | 139
GSEducationalVersion
15. Planta: Piso 0 do volume (zonas privadas)
AV3
CV2
CV3
AV4
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV3
CV2
CV3
AV4
0 1 2m
140 | 141
GSEducationalVersion
16. Alçados 1: Volume (zonas privadas)
AV1
0 1 2m
142 | 143
GSEducationalVersion
17. Alçados 2: Volume (zonas privadas)
AV2
0 1 2m
144 | 145
GSEducationalVersion
18. Alçados 3: Volume (zonas privadas)
AV3 AV4
0 1 2m
146 | 147
GSEducationalVersion
19. Cortes 1: Volume (zonas privadas)
CV1
0 1 2m
148 | 149
GSEducationalVersion
20. Cortes 2: Volume (zonas privadas)
CV2 CV3
0 1 2m
150 | 151
GSEducationalVersion
21. Planta: Cobertura do volume (estúdio)
AV3
CV2
CV3
AV4
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV3
CV2
CV3
AV4
0 1 2m
152 | 153
GSEducationalVersion
22. Planta: Piso 0 do volume (estúdio)
AV3
CV2
CV3
AV4
AV2 AV2
CV1 CV1
AV1 AV1
AV3
CV2
CV3
AV4
0 1 2m
154 | 155
GSEducationalVersion
23. Alçados 1: Volume (estúdio)
AV1
0 1 2m
156 | 157
GSEducationalVersion
24. Alçados 2: Volume (estúdio)
AV2
0 1 2m
158 | 159
GSEducationalVersion
25. Alçados 3: Volume (estúdio)
AV3 AV4
0 1 2m
160 | 161
GSEducationalVersion
26. Cortes 1: Volume (estúdio)
CV1
0 1 2m
162 | 163
GSEducationalVersion
27. Cortes 2: Volume (estúdio)
CV2 CV3
0 1 2m
164 | 165
GSEducationalVersion
28. Maqueta: Contexto 1:1000 (A Casa de Maceda | A Casa de Muuratsalo)
166 | 167
29. Maqueta: Implantação 1:500 (A Casa de Maceda | A Casa de Muuratsalo)
168 | 169
30. Maqueta: Conjunto 1:100 (A Casa de Maceda | A Casa de Muuratsalo)
170 | 171
Seleção Gráfica
174 | 175
C1. Caderno 1, Casa de Muuratsalo
176 | 177
M1. Maquetas da Casa de Muuratsalo
178 | 179
C2. Caderno 2, Casa de Maceda
180 | 181
182 | 183
184 | 185
186 | 187
FS. Folhas soltas, Casa de Maceda
188 | 189
M2. Maquetas da Casa de Maceda
190 | 191
Nota Conclusiva
Esta dissertação, tal como todas as Para que este fosse inteiramente compreendido,
componentes que a intregam, é também ela um foi apresentado, ao longo do respetivo capítulo,
fragmento experimental ou até mesmo, uma um conjunto de momentos e/ou fases que
extensão conceptual do seu autor. ajudam a identificar sequencialmente a sua
progressão, possibilitando o reconhecimento
Optou-se por estruturar este documento de momentos de maior ou menor dificuldade
num formato que fosse capaz de evocar até à obtenção da forma final.
gradualmente uma narrativa temática coerente,
ou seja, partiu-se do geral para o particular, da Por fim, todo este processo permitiu, ao próprio,
interpretação de um contexto teórico para a uma redescoberta metodológica, uma capa-
execução de um exercício prático, deste modo, cidade de produção autónoma, de certo modo,
pretendeu-se que ao revelar as imagens finais poderíamos resumir tudo isto a um processo de
do projeto, fosse possível, ao leitor, estabelecer desconstrução mental, ou seja, um trabalho que
uma série imediata de relações e associações procurou conhecer-se, confrontando-se com
com os elementos previamente tratados. as suas próprias referências.
Este projeto é assim, pela sua condição
experimental, a eventual conclusão de todo este
trabalho.
194 | 195
Referências Bibliográficas
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196 | 197
Notas | Créditos de Imagens
Imagens: Imagens:
- Aalto, com cinco anos de idade, com os seus - Pequena comunidade portuária. Jyväskylä,
dois irmãos Väinö e Einar. Kuortane, 1903. 1910.
STEWART, John, “Alvar Aalto Architect”. Merrell STEWART, John, “Alvar Aalto Architect”. Merrell
Publishers Ltd, 2017 Publishers Ltd, 2017
Notas: Notas:
1. AALTO, Alvar, “La Mesa Blanca”. Título ori- 1. STEWART, John, “Alvar Aalto Architect”. Mer-
ginal “Det vita bordet”, in Archivo Aalto, Cit. In. rell Publishers Ltd, 2017, p. 25
SCHILDT, Göran, “De Palabra Y por Escrito”. El 2. AALTO, Alvar, “La trucha y el torrente de la
Croquis Editorial, 2000, p. 17 montaña”. Título original “Taimen ja tunturipu-
“La Mesa Blanca de mi niñez era grande; ha con- ro”, in Arkkitehti nº 7/10, 1948, Cit. In. SCHILDT,
tinuado creciendo y sobre ella he realizado el tra- Göran, “De Palabra Y por Escrito”. El Croquis
bajo de mi vida.” Editorial, 2000, p. 149
2. O texto “A mesa branca”, teria sido escrito “Guiado sólo por el instinto, desprendiéndome
no início dos anos setenta como introdução do de las síntesis arquitectónicas, dibujo composi-
livro ‘Testamento Espiritual’. O livro nunca che- ciones, a veces francamente infantiles, y de esa
gou a ser completo. manera surge, poco a poco, desde una base abs-
3. Profissão que se destina à marcação e/ou tracta, la idea principal, una especie de sustancia
demarcação de terrenos. general que ayuda a armonizar entre sí numero-
4. SCHILDT, Göran, “Alvar Aalto - His Life”. Alvar sos problemas parciales y contradictorios.”
Aalto Museum, 2007, p. 36
5. AALTO, Alvar, “La Mesa Blanca”. Título ori-
ginal “Det vita bordet”, in Archivo Aalto, Cit. In.
SCHILDT, Göran, “De Palabra Y por Escrito”. El
Croquis Editorial, 2000, p. 16
“Yo fui el habitante del nivel inferior desde que
comencé a gatear a cuatro patas. Parecía una
espaciosa plaza, dominada tan sólo por mí. Des-
pués alcancé la madurez suficiente para mudar-
me al nivel superior, al mismo tablero de la Mesa
Blanca.”
198 | 199
03. Confronto: A chegada a Helsínquia e a guerra 04. Armas Lindgren e a formação em arquitetura
civil
Imagens:
Imagens:
- Vistas de Aalto na Escola de Arquitetura
- Cidade de Helsínquia no ano de chegada de do Instituto de Tecnologia de Helsínquia.
Aalto. Helsínquia, 1916. Helsínquia, 1919.
- Cidade de Tampere após guerra civil V.V.A.A. , “Alvar Aalto - What & When”. Alvar
finlandesa. Tampere, 1918. Aalto Foundation, 2014
STEWART, John, “Alvar Aalto Architect”. Merrell
Publishers Ltd, 2017 Notas:
200 | 201
06. A mudança de paradigma, exposição de Paris 07. A transição de conceitos 1
de 1925
Imagens:
Imagens:
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- Pavilhão Espírito Novo. Paris, 1924-25. Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
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2. Op. Cit., p. 61
Notas:
3. Op. Cit., p. 66
1. STEWART, John, “Alvar Aalto Architect”. Mer- 4. Op. Cit., p. 57
rell Publishers Ltd, 2017, p. 53
2. Op. Cit., p. 53
08. Obra 1: Sanatório de Paimio 09. A transição de conceitos 2
Imagens: Imagens:
Notas:
202 | 203
10. Obra 2: Villa Mairea 11. A ilha de Muuratsalo
Imagens: Imagens:
Notas:
204 | 205
13. A implantação na margem do lago Päijänne 14. A distribuição programática, duas alas
Imagens: Imagens:
- Vista da Casa de Muuratsalo a partir do lago - Desenho/s de Alvar Aalto, planta piso
Päijänne. Muuratsalo, 1952-54. 0, distribuição programática da Casa de
Disponível em: https://finnisharchitecture.fi/ Muuratsalo. 1952-54.
muuratsalo-experimental-house/ Autor, esquema/s representativo/s
- Casa de verão do arquiteto Gunnar Asplund. - Vistas sob o vão de entrada da Casa de
Stennäs, 1936-37. Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
WREDE, Stuart, “The Architecture of Erik Gun- - Vistas sob os vãos da sala de estar e jantar
nar Asplund”. The MIT Press, 1983 da Casa de Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
- Vistas sob os vãos dos quartos da Casa de
Notas: Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
- Vista sob os vãos do alçado tardoz da ala Este
1. SAITO, Yutaka, “Aalto 10 Selected Houses”.
da Casa de Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
TOTO, 2008, p. 181
Autor, fotografia/s tirada em setembro de
2. PALLASMAA, Juhani, “The Experimental
2021. Muuratsalo, Finlândia
House, Sauna and Boat: The Art of Play”, Cit.
In. V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume
Notas:
18 - Muuratsalo Experimental House 1952–54,
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation, 1. SCHILDT, Göran, “Alvar Aalto Obra Comple-
2018, p. 17 ta: Arquitectura, Arte y Diseño”. Editorial Gusta-
vo Gili, 1996, p. 198
15. Uma estrutura multifuncional 16. A questão da cobertura invertida
Imagens: Imagens:
- Desenho/s de Alvar Aalto, secção longitudinal, - Desenho/s de Alvar Aalto, secção longitudinal,
análise estrutural da Casa de Muuratsalo. cobertura com uma inclinação da Casa de
1952-54. Muuratsalo. 1952-54.
Autor, esquema/s representativo/s - Desenho/s de Alvar Aalto, secção longitudinal,
- Desenho/s de Alvar Aalto, estrutura dos anexos cobertura invertida da Casa de Muuratsalo.
adjacentes à Casa de Muuratsalo. 1952-54. 1952-54.
V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18 V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
- Muuratsalo Experimental House 1952–54, - Muuratsalo Experimental House 1952–54,
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation, Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
2018 2018
- Casa Aalto. Helsínquia, 1935-36.
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Helsínquia, Finlândia
- Câmara Municipal de Säynätsalo. Säynätsalo,
1949-52.
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Säynätsalo, Finlândia
206 | 207
17. O pátio, expoente da experimentação - Vista sob a abertura Sul da Casa de Muuratsalo.
Muuratsalo, 1952-54.
Imagens: - Vista sob a abertura Oeste da Casa de
Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
- Vista sob o pátio da Casa de Muuratsalo.
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Muuratsalo, 1952-54.
Muuratsalo, Finlândia
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
- Câmara Municipal de Säynätsalo. Säynätsalo,
Muuratsalo, Finlândia
1949-52.
- Vista sob o pátio da Câmara Municipal de
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Säynätsalo. Säynätsalo, 1949-52.
Säynätsalo, Finlândia
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
- Instituto Nacional da Pensão. Helsínquia,
Säynätsalo, Finlândia
1953-56.
- Vista sob o pátio do Instituto Nacional da Pen-
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
são. Helsínquia, 1953-56.
Helsínquia, Finlândia
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
- Universidade de Jyväskylä. Jyväskylä, 1950 /
Helsínquia, Finlândia
1953-59.
- Desenho/s de Alvar Aalto, perspetiva da casa
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
do seu irmão Väinö. 1925.
Jyväskylä, Finlândia
- Desenho/s de Alvar Aalto, pproposta para o
- Edifício de Escritórios Rautatalo. Helsínquia,
concurso de casas de verão. 1928.
1951 / 1952-57.
V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
- Casa da Cultura de Helsínquia. Helsínquia,
- Muuratsalo Experimental House 1952–54,
1952-58.
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
2018
Helsínquia, Finlândia
- Vista sob o pátio da Villa Mairea. Noormarkku,
- Vistas sob os dois retângulos do pátio da
1937-39.
Casa de Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
Noormarkku, Finlândia
Muuratsalo, Finlândia
- Desenho/s de Alvar Aalto, identificação dos
pátios e aberturas principais da Casa de Muu-
ratsalo. 1952-54.
Autor, esquema/s representativo/s
Notas: 7. SCHILDT, Göran, “Alvar Aalto Obra Completa:
Arquitectura, Arte y Diseño”. Editorial Gustavo
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Gili, 1996, p. 198
House, Sauna and Boat: The Art of Play”, Cit.
8. PALLASMAA, Juhani, “The Experimental
In. V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
House, Sauna and Boat: The Art of Play”, Cit.
- Muuratsalo Experimental House 1952–54,
In. V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
- Muuratsalo Experimental House 1952–54,
2018, p. 21
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
2. Op. Cit., p. 21
2018, p. 25
3. AALTO, Alvar, “De los escalones de entrada
9. AALTO, Alvar, Cit. In. SCHILDT, Göran, “Alvar
al cuarto de estar”. Título original “Porraskiveltä
Aalto - His Life”. Alvar Aalto Museum, 2007, p.
arkihuoneeseen”, in Aitta, 1926, Cit. In. SCHIL-
621
DT, Göran, “De Palabra Y por Escrito”. El Croquis
“The bricks for Säynätsalo Town Hall, which
Editorial, 2000, p. 71
I consider to be an extremely important bri-
“Una casa finlandesa tiene que tener dos aras:
cklaying job from the architectural point of view,
una es la que está en relación directa con el en-
were laid by Toivo Nykänen, Paavo Asplund, Yrjö
torno exterior, y la otra, la faz le invierno, que se
Marjamäki, Aimo Renlund, Väinö Puolanen, and
evidencia en el diseño del interior tendente a en-
Sakari Sundvall. It is very important to me as an
fatizar el calor (...) La zona ajardinada y la casa
architect to promote the art of masonry in our
forman, en mi opinión, un organismo entrelazado
country. This is why the masonry of Säynätsalo
y coherente.”
Town Hall, both its facade and most of its inte-
4. AALTO, Alvar, “Säynätsalo Town Hall project
riors, consists purely of brick. I must say that I am
description”, in SCHILDT, Göran, “Alvar Aalto. A
very satisfied with our collaboration, and that the
Life’s Work”, 1994, Cit. In. V.V.A.A. , “Alvar Aalto
result is a model example of Finnish brickwork.”
Architect: volume 18 - Muuratsalo Experimen-
10. AALTO, Alvar, “Casa experimental en Muu-
tal House 1952-54, Studio Aalto 1954.63”. Alvar
ratsalo”. Título original “Koetalo, Muuratsalo”,
Aalto Foundation, 2018, p. 21
in Arkkitehti nº 9/10, 1953, Cit. In. SCHILDT,
“I used the enclosed courtyard as the principle
Göran, “De Palabra Y por Escrito”. El Croquis
motif because in some mysterious way it em-
Editorial, 2000, p. 323
phasizes the social instinct.”
“Una fogata situada en el centro domina todo el
5. Op. Cit., p. 21
grupo de edificios. En cuanto a su utilidad y ca-
6. A ‘patchwork’ é uma técnica do mundo do
rácter acogedor, se asemeja a una hoguera de
artesanato, que envolve a união de diferentes
campamento en la que el fuego y su reflejo so-
tipos, tamanhos ou cores de tecido numa peça
bre la nieve transmiten al hombre una sensación
única.
agradable de calor, casi mística.”
208 | 209
18. Os protótipos, a sauna e o barco 19. Protótipo 1: Sauna
Imagens: Imagens:
- Vista sob o barco “Nemo propheta in patria” - Vista sob o alçado tardoz da sauna de
atracado na baía da ilha de Muuratsalo. Muu- Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
ratsalo, 1952-54. Autor, fotografia/s tirada em setembro de 2021.
- Vista sob a sauna de Muuratsalo. Muuratsalo, Muuratsalo, Finlândia
1952-54. - Desenho/s de Alvar Aalto, planta da sauna de
V.V.A.A. , “Koetalo - Experimenthus - The Ex- Muuratsalo. 1952-54.
perimental House: Muuratsalo”. Alvar Aalto Mu- V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
seum, 2013 - Muuratsalo Experimental House 1952–54,
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
Notas: 2018
- Desenho/s de Alvar Aalto, alçados da sauna
1. O ‘modulor’ foi um sistema dimensional, ela-
de Muuratsalo. 1952-54.
borado e utilizado pelo arquiteto franco-suíço
- Desenho/s de Alvar Aalto, alçado Sul da sauna
Le Corbusier. Este sistema modular tinha como
de Muuratsalo. 1952-54.
base a proporção do indivíduo (inicialmente
Disponível em: https://finnisharchitecture.fi/
com 1,75 m e mais tarde com 1,83 m de altura)
muuratsalo-experimental-house/
e pretendia não converter ao sistema métrico
decimal as unidades como pés e polegadas.
Notas:
Imagens: Imagens:
- Vista sob o barco “Nemo propheta in patria” - Vistas do percurso até ao lote de Maceda.
de Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54. Maceda, 2021.
V.V.A.A. , “Koetalo - Experimenthus - The Ex- Autor, fotografia/s tirada em outubro e novem-
perimental House: Muuratsalo”. Alvar Aalto Mu- bro de 2021. Maceda, Portugal
seum, 2013
- Aalto na cabine do barco “Nemo propheta in
patria” de Muuratsalo. Muuratsalo, 1952-54.
V.V.A.A. , “Alvar Aalto Architect: volume 18
- Muuratsalo Experimental House 1952–54,
Studio Aalto 1954-63”. Alvar Aalto Foundation,
2018
- Desenho/s de Alvar Aalto, estudos relativos ao
barco “Nemo propheta in patria” de Muuratsalo.
Muuratsalo, 1952-54.
Disponível em: http://www.oris.hr/en/oris-ma-
gazine/overview-of-articles/[85]aaltos-bo-
at,1235.html
Notas:
Imagens: Imagens:
Imagens:
Imagens:
212 | 213
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Porto, 2021 / 2022
Alvar Aalto e a Casa de Muuratsalo
Experimentação e Projeto
João Pedro Tavares Pimentel
FACULDADE DE ARQUITECTURA