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ETERNO APRENDIZ

OU
APRENDIZ ETERNO?
Domingos Léo Monteiro
ETERNO APRENDIZ OU APRENDIZ ETERNO?

Domingos Léo Monteiro, M.I.


ARLS Acácia de Aparecida 139. ARLS de Estudos e Pesquisas Maçônicas Estrela Polar.
Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Oriente Paulista.
domingosleomonteirom@gmail.com
(12) 98253-8768

Resumo
Trabalhar ou gozar “os prazeres da inércia”?
Tornar-se Maçom para conhecer a Maçonaria ou para defender que se trate em Loja de
assuntos que não sejam os maçônicos visando “transformar o mundo”?
Relativizar tudo aquilo que a Maçonaria construiu ao longo dos séculos, compreendendo
(mal) que se pode trazer práticas e temas estranhos a práxis maçônica como se isso fosse um
aparente conhecimento acima daquele dos demais irmãos?
Fazer a verdadeira Maçonaria ou ser arauto de uma pseudo Ordem (desordem)?
Pode estar nos detalhes (ou não) a diferença entre ser um eterno Aprendiz Maçom ou
ser um aprendiz eterno.

Palavras-chave: Aprendiz. Maçonaria. Ritual. Símbolos. Alegorias.

Logo no início do seu período de estudo como Aprendiz Maçom, o irmão é instruído de
que “sendo o primeiro grau o alicerce da filosofia simbólica, resumindo ele toda a Moral
maçônica de aperfeiçoamento humano, compete ao Aprendiz Maçom o trabalho de desbastar
a Pedra Bruta, isto é, desvencilhar-se dos defeitos e paixões, para poder concorrer à
construção moral da Humanidade, o que é a verdadeira obra da Maçonaria”. Como a
Maçonaria se propõe a um trabalho de tão elevado alcance? O ritual e as instruções são claras:
através da transformação individual do próprio Maçom.
Esse trecho das instruções nos alerta, portanto, de que o homem que indicado à
Iniciação, tornando-se candidato e Iniciado, feito Neófito e depois irmão, deverá no seio da
Ordem, rever seus conceitos desenvolvidos pela construção do conhecimento profano
adquirido, seja vulgar ou acadêmico, sob nova ótica que lhe será apresentada através da
Maçonaria.
Isso equivale dizer – de modo direto e objetivo – que estamos na Maçonaria para estudar
a Maçonaria e, através de seus símbolos e alegorias, mitos e lendas, usos e costumes renovar
nosso conhecimento e assim, ganhar ânimo novo na caminhada da existência e da vida
cotidiana. É por isso que se fala em renascer para a Maçonaria ou ainda, renascer através dela,
pois “se desejais tornar-vos um verdadeiro maçom, deveis primeiro morrer para o vício, para
o erro e para o preconceito vulgar e nascer de novo para a Virtude para a Honra e para a
Sabedoria”.
Nesse sentido, maçonicamente, quando iniciados, deixamos de ser os profissionais, os
pais, os filhos, os rotarianos, os rosacrucianos, os DeMolay, ou o que quer que sejamos (e
continuamos a ser, conforme o caso). Tornamo-nos “algo mais”, ou seja, tornamo-nos Maçons,
já que conforme alerta que recebemos em determinado momento dos trabalhos: “se és apegado
às distinções mundanas, retira-te; nós aqui, não as conhecemos”1.
A Humanidade construiu ao longo dos milênios de sua existência na face da Terra, um
cabedal imenso de conhecimentos e acumulou igual número de experiências e realizações que,
nos trabalhos maçônicos realizados à partir do primeiro grau simbólico e desenvolvidos à partir
daí em todos os demais graus e ⁄ ou Ordens Colaterais ⁄ Aliadas, nos são apresentados com um
enfoque novo e transformador. Tomando como base inicialmente, um “simples” instrumento
de trabalho de um “mero” pedreiro – ressaltando assim a importância das coisas simples e de
uma vida de igual forma vivida – nos ensina a importância do trabalho constante (régua de 24
polegadas), da retidão (esquadro), do respeito aos limites (compasso), da correta aplicação da
nossa energia (malho com cinzel), entre outros ensinamentos ⁄ instrumentos ⁄ ferramentas.
Claro que podemos emprestar à didática e à pedagogia maçônica as nossas respectivas
experiências de vida, porém, não podemos fazer da Maçonaria algo que ela não é, utilizando o
valioso tempo dos nossos trabalhos de instrução para tratar de temas que não sejam os
exclusivamente maçônicos previstos nos rituais e instruções regulares.
Compreender essa realidade é o primeiro passo para alcançar o sucesso e a felicidade na
Ordem, pois nela ingressamos para obter algo dela que acrescentasse às nossas experiências já
vividas. A salutar curiosidade de conhecer o que a Maçonaria tem a nos oferecer foi um dos
principais motivos pelos quais aceitamos o convite que nos foi formulado ou declaramos a
algum amigo (que depois se tornou irmão) que gostaríamos de nela ingressar.
Maçonaria é ritual, ritualística perfeitamente executada, é estudo sobre os fundamentos
da Ordem, é a prática da beneficência materializada através do Tronco de Solidariedade (ou da
Bolsa de Beneficência conforme o Rito ou Potência), é o conhecimento e compreensão de toda
história que permitiu o surgimento e desenvolvimento da nossa Sublime Instituição. Temas
trazidos do mundo profano, da Academia, do meio profissional ou de qualquer outro ambiente
externo, não podem substituir a práxis no interior do Templo e não devem prejudicar o
andamento dos trabalhos de uma Loja.
“A Maçonaria não considera o homem por suas riquezas ou honras terrenas. São
qualidades interiores, não exteriores, aquelas que o recomendam aos Maçons” e por isso, o
foco do nosso trabalho deve ser exclusivamente, conhecer tudo aquilo que se refere à
Maçonaria, para que os hoje Aprendizes, passando a Companheiros, tornando-se Mestres
Maçons, possam estar preparados para a Instalação na cadeira de um dirigente de Loja ou ainda,
de uma Potência. Como poderemos nos capacitar para isso se relativizarmos tudo aquilo que
temos que estudar em Loja?
Temos visto grande impulso na disseminação do conhecimento maçônico como
resultado da impossibilidade de realização das reuniões presenciais durante esse período de
pandemia que iniciou-se em março de 2020 e se estende quase que indefinidamente. Isso tem
provocado nos irmãos em particular e nas Lojas em geral, questionamentos diversos sobre a
realidade local e global maçônica. Tal período sob esse modo de o analisar, tem sido positivo,
pois os irmãos estão refletindo sobre tudo aquilo que viveram, com o intuito de – mesmo
inconscientemente – construir o futuro que viveremos na Ordem.
Podemos inferir que de modo quase que majoritário se tem chegado ao consenso de que
temos o dever de nos aprofundarmos no conhecimento da Maçonaria e de tudo que a ela se
refere. Temos também nos conscientizado do poder de união que temos, para realizar nossas
atividades de estudo e de beneficência, pois, além de reuniões para estudo que contam com a

1
Manteve-se a grafia original.
participação de irmãos de diversos Orientes, vemos em alguns casos o aumento da doação
realizada a título de beneficência, dirigida a instituições mantidas pelas Lojas (mesmo diante
da grave crise econômica que assola o mundo).
O que faremos disso, somente de nós depende, pois dentro dos limites das normas e
regulamentos, do ritual e práticas de nossa Ordem, tudo o mais cabe ao maçom e à sua Loja.
Assim, inércia equivale a estagnação e marcha equivale a trabalho. Podemos crescer junto com
a Ordem ou deixar o tempo valioso de nossas vidas se esvair sem nada acrescentar, também
para nós e para a Maçonaria. A escolha é nossa.
A concetividade que obtivemos junto a nossos irmãos através do meio virtual, que nos
liga a qualquer continente apenas num instante; nos remete à conectividade que existe entre
tudo no Universo e nos lembra que o ato de construir algo, pode ser tanto material como
espiritual e moral. Assim como o ato de reconstruir, de desbastar, de corrigir representa o
renascer contínuo a que nos submetemos a cada dia ao acordar conscientes, com saúde, com
disposição, ao cometer um erro ou nos decepcionarmos diante de uma situação ou pessoa.
Como nos propusemos a vencer as paixões que nos ligam aos instintos mais primitivos
e consequentemente, alcançar esse objetivo através da submissão eventual de nossa própria
vontade (como um exercício de humildade), devemos nos conscientizar que em Loja estamos
para uma formação continuada sobre o que é a Maçonaria; não para substituir esse labor
maçônico por uma discussão sobre qualquer outro tema profano. A ação “profana” se dará
utilizando as ferramentas e conhecimentos maçônicos adquiridos através da Loja e da Ordem,
pois aí, o antigo homem (agora o novo Homem-Maçom) poderá acrescentar potencialidades às
que ele detinha antes da Iniciação. Caso contrário, qual o porquê de ingressar, persistir e
continuar na Maçonaria?
Reside aqui o ponto nevrálgico do título dessa Peça de Arquitetura: ser um eterno
aprendiz ou tornar-se um aprendiz eterno?
Pode não haver aparentemente distinção entre a posição das palavras compondo os
termos expostos, mas há.
O Maçom que se dedica ao estudo de tudo aquilo que a Maçonaria lhe oferece – ressalto
– sob a ótica maçônica: ritual, mitos, lendas, alegorias, símbolos, filosofia, entre outros;
automaticamente irá despertar dentro de si o desejo de seguir continuamente ascendendo à
escada de conhecimentos que a Ordem lhe permite alcançar. Será assim um indivíduo em eterno
aprendizado, em constante crescimento.
Aquele Maçom que ao contrário, entender que os conhecimentos que a Maçonaria lhe
oferece são enfadonhos, cansativos; que olha no relógio depois dos primeiros cinco minutos da
exposição de uma Peça de Arquitetura no Tempo de Estudos (geralmente um quarto de hora,
ou seja, quinze minutos, numa reunião de sessenta ou noventa minutos) e que acha que deveria
ser falado em Loja sobre qualquer outro tema que não os maçônicos, corre o risco de
permanecer um aprendiz eterno, inerte, monolítico ou logo virar uma estatística de evasão da
Ordem.
Quando no período de transição para a fase moderna, estabeleceu-se que não se poderia
tratar de política e religião durante os trabalhos em Loja ou no seio da Ordem,
independentemente do momento histórico vivido, a motivação para isso foi justamente a
sinalização de que em Loja só deveriam tratar os maçons, dos temas afeitos à Maçonaria. Talvez
o negligenciamento dessa determinação seja uma das explicações para a situação que se verifica
hoje em muitas Lojas, ou para alguns, na Ordem como um todo.
Pensemos, meus irmãos, no motivo pelo qual determinados instrumentos de trabalho do
Maçom (e antes do pedreiro), se transformam na Maçonaria: justamente “porque os seus
ensinamentos morais se transformam em Joias de inestimável valor”.
Portanto, estudemos Maçonaria e deixemos os demais caminhos de conhecimento
humano, cada um para o seu ambiente e momento adequado. Assim, certamente, nossa Ordem
crescerá e se agigantará ainda mais.

Referências
RITUAL DE APRENDIZ ADMITIDO do Rito York. São Paulo: Grande Oriente Paulista,
2019.
RITUAL DE EMULAÇÃO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM. São Paulo: Grande Oriente
Paulista, 2013.
RITUAL DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM do Rito Escocês Antigo e Aceito. São Paulo:
Grande Oriente Paulista, 2015.

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