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“COACH” MAÇÔNICO E AUTO-AJUDA:

O FUTURO DA MAÇONARIA PASSA PELA


MELHORIA DO TEMPO DE ESTUDOS.
MAS SERÁ SÓ ISSO?
Domingos Léo Monteiro
“COACH” MAÇÔNICO E AUTO-AJUDA: O FUTURO DA
MAÇONARIA PARA PELA MELHORIA DO TEMPO DE
ESTUDOS. MAS SERÁ SÓ ISSO?

Domingos Léo Monteiro, M.I.


ARLS Acácia de Aparecida 139. Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Oriente Paulista.
domingosleomonteirom@gmail.com
(12) 98253-8768

RESUMO

Tem sido um “modismo”, por assim dizer, a utilização do termo “coach” e o trabalho
realizado por esses professores a favor das pessoas. Não se trata aqui de desmerece-lo. Ao
contrário, trata-se de ressaltar a sua importância e destacar, em relação a nós Maçons, a
importância da Maçonaria já que a Sublime Instituição nos permite obter diretamente dos rituais
e instruções, dos símbolos e alegorias, esses conhecimentos.
Assim como as duas maiores bibliografias que podem ser citadas em uma Peça de
Arquitetura são o ritual do grau e o Livro da Lei, nossas instruções contém a chave precisa para
transformar as nossas vidas e daqueles que nos cercam.
É para isso que nos reunimos em Loja.
Esse estudo pretende analisar essa questão, propondo caminhos para o futuro maçônico.

Palavras-chave: “Coach”. Instrução. “Coaching”. Autoajuda. Maçonaria.

A palavra “coach” é a tradução para a língua inglesa, dos termos da língua portuguesa
treinador ou treinadora e está muito em voga no atual momento, para designar uma linha de
transmissão de conhecimento que seja transformador na vida de cada um. “O coach é o
profissional que atua aplicando os conhecimentos que tem e a metodologia do Coaching na
vida pessoal, profissional e empresarial das pessoas, contribuindo para que elas alcancem seus
objetivos em um curto espaço de tempo”1.
Do termo, deriva a palavra “coaching” que significa treinamento, formação, instrução.
“Coaching é um processo, uma metodologia, um conjunto de competências e habilidades que
podem ser aprendidas e desenvolvidas por absolutamente qualquer pessoa para alcançar um
objetivo na vida pessoal ou profissional, até 20 vezes mais rápido, comprovadamente” 2.
Portanto, vemos claramente presentes na união dessas duas definições, o conceito de
“aprendiz-mestre” que é intrínseco à Maçonaria. Podemos obter deles, ainda mais: a
consciência da necessidade de aprimoramento humano e formação continuada para conseguir
enfrentar os desafios do cotidiano.

1
https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching/o-que-faz-um-coach-2/ acesso em 04 de março de 2021.
2
https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching/o-que-e-coaching/ acesso em 04 de março de 2021.
Conjecturando sobre a disseminação desse trabalho de autoajuda e treinamentos
diversos, utilizados na formação de pessoas, constatamos conforme uma das definições, que se
convencionou estabelecer vários tipos de “coach”, senão vejamos: self coaching (auto
aprimoramento); life coaching (desenvolvimento pessoal); business coaching
(desenvolvimento profissional): além dos ramos voltados para relacionamento afetivo,
liderança e até emagrecimento.
Paralelamente a esse segmento de formação humana e trabalho, que muitas vezes é
oferecido em troca de valores financeiros não facilmente acessíveis, temos o nosso trabalho
maçônico realizado cotidianamente, seja nas nossas Lojas ou através de nossos estudos
realizados individualmente ou em grupo, sob a supervisão de um dos Mestres Maçons da
Oficina.
Nossos ritos e rituais permitem que obtenhamos como Obreiros da Arte Real,
significativos resultados para nosso auto aperfeiçoamento, nosso progresso moral e de todos os
campos em nossas vidas, posto ser possível extrair dos símbolos e alegorias, mitos e lendas,
usos e costumes da Maçonaria, as interpretações e lições que são oferecidas aos profanos
utilizando-se de outras figuras de linguagem. Através desses ramos do conhecimento, ou das
obras literárias que abundantemente temos à disposição isso é feito. Naturalmente, algumas
vezes, com qualidade duvidosa. Porém, estão nas prateleiras e são oferecidos através de
diversos meios.
Uma rápida pesquisa sobre esse material pedagógico profano, nos oferece conceitos
como:
• Quem quer, faz;
• Ver. Ouvir. Sentir;
• Transcender. Ir adiante. Ir além. Superar-se;
• Despertar ⁄ acordar a consciência para o sucesso (pessoal ou financeiro);
• Elevação da autoestima, onde um dos sintomas da baixa autoestima é: postura corporal
inexpressiva;
• A importância da comunicação verbal e corporal na transmissão de quem somos e dos
nossos pensamentos e sentimentos.
Enfim, temos um volume expressivo de informações que são disponibilizadas às
pessoas que buscam esse tipo de literatura. E nesse sentido, não trato aqui de desvalorizar ou
relativizar a sua importância, mas ao contrário, de exaltar que a Maçonaria nos oferece tudo
isso. Senão vejamos.
Sabemos bem os resultados que podemos obter através de nossos esforços, com o
trabalho que resulte na ação transformadora da realidade social. Por meio dele, construímos
casas, erguemos prédios, estabelecemos escolas e hospitais, pavimentamos estradas, plantamos
e colhemos, tecemos e imprimimos a nossa marca humana no meio ambiente em que vivemos,
por toda a face da Terra.
O trabalho realizado através do serviço oferecido voluntariamente em benefício do
nosso semelhante, nos transforma, nos impele ao despertar de uma consciência de
pertencimento ao Todo Universal, como verdadeiros átomos do grande corpo da Humanidade.
Conforme ensinam os rituais de nossa Sublime Instituição.
A Maçonaria se estruturou sob três pilares: estudo (capacitação, formação, instrução),
ritual (ritualística, disciplina) e fraternidade (amizade desinteressada, beneficência). Nossos
trabalhos em Loja são roteirizados de modo a atender a esses três pilares, já que há um ritual a
ser seguido, de forma marcial e com a ritualística adequada para cada momento e grau; ocorre
a transmissão dos conhecimentos maçônicos a todo momento e especificamente naqueles de
estudo; e exercitamos através do gesto concreto o desejo de realizar a beneficência que resultará
do tronco vigoroso dos esforços de todos os irmãos do Quadro.
A riqueza que a Maçonaria oferece ao Maçom através de seus diversos Ritos, Altos
Graus e Graus Colaterais permite que haja condições de realizar de forma ainda mais efetiva,
eficaz e profunda, o trabalho que esses profissionais de treinamento realizam no mundo profano
em troca da correspondente contrapartida financeira.
O desejo de buscar através de nossa Ordem, os conhecimentos e experiências que ela
pode nos oferecer, já é o início dessa caminhada que, em nosso caso, é iniciática, pois comporta
os diversos graus de um determinado rito. Alguns profissionais do ramo de “coach” inclusive
tem se utilizado desse conceito, para oferecer seus treinamentos como uma sequência
interdependente e fidelizar assim o seu público (alunos).
Especificamente se buscarmos naqueles conceitos que foram relacionados
anteriormente, veremos as correspondências maçônicas e suas aplicações:
• Quem quer, faz: Expressão do desejo manifestado de pertencer à Maçonaria e
declarado voluntariamente pelo vulgo profano, depois candidato, iniciando, Neófito. A
resposta afirmativa à pergunta sobre a persistência em ingressar na Ordem e
demonstrada posteriormente através da frequência assídua às sessões em Loja e à
dedicação às atividades realizadas pela Oficina, tais como as de centros de estudo ou de
captação de recursos financeiros para aplicação em beneficência. Maçonaria é trabalho!
• Ver. Ouvir. Sentir: Trinômio sensorial desenvolvido a cada Sessão, através da
observação de todos os símbolos e alegorias presentes no recinto do Templo ou sala da
Loja (conforme o rito); da auscultação com paciência, de todas as manifestações verbais
realizadas durante os trabalhos e da correta pronúncia das passagens ritualísticas pelas
Dignidades e Oficiais. Além disso, o sentimento resultante das duas primeiras
sensações, que profundamente vão chegar ao Eu Interior, colaborando para o
aprimoramento do Homem-Maçom. Porém, deve-se ressaltar a necessidade de não
somente, ver, mas enxergar; de escutar e não somente ouvir; de vivenciar além de sentir.
Maçonaria é ação!
• Transcender. Ir adiante. Ir além. Superar-se: Objetivo de todo Maçom, seja em Loja
ou fora dela. “Quando derdes um passo à frente, será muito tarde para recuar”, já se
diz em determinado momento ao iniciando, como expressão de que toda ação realizada
deve ser bem refletida. Confirma também que, decidido a seguir, deve-se com
dedicação, superar-se, ir além da esfera do vulgo profano, transcender o desequilíbrio e
o vozerio perturbador que domina a sociedade que aspiramos transformar a partir de nós
mesmos. Maçonaria é filosofia de vida!
• Despertar ⁄ acordar a consciência para o sucesso (pessoal ou financeiro):
Consequência natural de gozar os prazeres da vida com moderação (outro ensinamento
maçônico), quando se poderá obter de uma postura equilibrada e reta, resultados
benéficos tanto no campo financeiro e patrimonial, como pessoal, familiar ou
profissional. O conceito de alcançar a “luz” que advém do conhecimento, presente
constantemente na Maçonaria, é a expressão maior desse “coaching”.
• Elevação da autoestima, onde um dos sintomas da baixa autoestima é: postura
corporal inexpressiva: A ritualística e posicionamentos que realizamos em Loja,
quaisquer que sejam os ritos maçônicos praticados, nos ajudam a educar fisicamente o
corpo como resultado das posturas adotadas tanto durante as movimentações, quanto
estando em repouso. O corpo físico já nos envia seus sinais, por intermédio das dores
decorrentes de uma má postura e somos instintivamente levados ao desleixo corporal se
estamos mal psicologicamente. A Maçonaria nos educa através de seus rituais, à
zelarmos pela nossa postura física, donde extraímos benefícios que podem ser sentidos
por todos. É-nos conhecida a sensação de chegar à Loja depois de um dia exaustivo e
sair ao final dos trabalhos, revigorados. O ambiente fraterno e harmônico recebeu até
uma definição combatida por alguns (Egrégora), mas que, seja denominada como for,
nos é conhecida e ajuda na elevação da nossa autoestima e estima mútuas.
• A importância da comunicação verbal e corporal na transmissão de quem somos e
dos nossos pensamentos e sentimentos: Quase que uma palavra perdida, a
comunicação humana foi o que permitiu ao sapiens diferenciar-se dos outros animais
terrestres. A Maçonaria nos transmite também suas palavras e senhas, das quais
extraímos relações conforme o grau e ensinamentos recebidos. A expressão do amor
fraternal é a resultante desses nossos pensamentos e sentimentos que, corretamente
trabalhados em Loja, nos permitirão crescer como seres humanos, nos beneficiando a
todos, nossos familiares e amigos. Além disso, a disciplina para apresentar nossas
ponderações e compartilhar nossos conhecimentos, conforme adotado pelo ritual
maçônico, nos ajuda a submeter nossos instintos à razão.
As viagens iniciáticas realizadas em diversas oportunidades ritualísticas, nos ensinam e
motivam à superação de nossas limitações e dos desafios que são oferecidos cotidianamente. O
correto estudo dessas passagens nos permite alcançar nosso Ego e dele extrair tudo aquilo que
o desvia para o egoísmo, para o egocentrismo e para a egolatria. As mais profundas esferas do
psiquismo humano, podem ser acessadas por meio dessas meditações e da prática corretamente
aplicada dos ensinamentos maçônicos; porém, é necessário estudar e saber manejar as
ferramentas ao nosso dispor.
Não é trivial estudar e compreender o simbolismo do Maço, do Cinzel, do Esquadro, do
Compasso, da Régua, do Nível, do Prumo, da Corda de 81 Nós, do Pavimento Mosaico e da
Orla Dentada, entre outros símbolos e alegorias. Eles nos transmitem profundas mensagens que,
apresentadas de forma objetiva e resumida através das instruções (quando formalmente
adotadas), devem nos levar constantemente à busca por mais conhecimentos.
Daí chegamos a um ponto nevrálgico nessa questão da formação e da capacitação do
Maçom, enquanto membro de uma sociedade iniciática em que, está implícito que deva haver
continuidade nos estudos; não somente como resultado de uma ascensão “natural” para um grau
subsequente, mas, dentro do mesmo grau, a busca por ressignificação e conceitos que possam
advir das experiências de cada um dos irmãos.
O crescimento maçônico não deve se dar pelo automático cumprimento dos prazos
intersticiais, mas sim como consequência da acumulação de conhecimentos, do
compartilhamento das experiências resultantes da convivência fraterna e do aprofundamento
das relações de desinteressada amizade que permitam servir ao semelhante. Senão, qual seria o
sentido de abastecer as colunas das Lojas com Obreiros úteis e dedicados? Apenas realizar os
trabalhos e seguir para o Ágape? Coletar através do Tronco ou Bolsa de Beneficência, parcos
recursos materiais a serem aplicados muitas vezes sem eficácia e efetividade?
A Maçonaria objetiva tornar mais feliz a Humanidade. Nós realizamos as reuniões em
Loja, sob a égide da livre investigação da verdade e da liberdade de pensamento; do dever de
sepultar os vícios que temos, potencializando nossas virtudes e superando a ignorância, a tirania
e os erros que advém das ações de um Ego em desequilíbrio. É conhecido o apanágio de que a
diferença entre o veneno e o remédio, está na dose aplicada. Assim também ocorre com nossas
virtudes e vícios. Auto aprimoramento, autoajuda, auxílio mútuo. Está tudo nos textos
maçônicos.
Nesse sentido, as Potências Maçônicas deveriam se organizar para oferecer aos seus
membros essa possibilidade de aprofundamento sobre as instruções e textos fundamentais da
Ordem. Há cursos de extensão que são realizados por instituições acadêmicas, que poderiam
ser oferecidos gratuitamente aos Maçons. Cada Mestre Maçom é capaz de realizar uma aula
sobre os variados aspectos de nossa Ordem, sem a necessidade de se buscar (pagando)
conhecimento através de instituições não maçônicas.
O atual momento vivido pela Humanidade, que trouxe como consequência de uma grave
doença, o avanço de práticas laborais que se esperavam dominantes apenas daqui alguns anos,
nos obrigou a realizar nossos encontros através de ferramentas de videoconferência. Está
acontecendo uma verdadeira revolução na forma de transmitir os conhecimentos maçônicos,
naturalmente, preservando-se aquilo que é característica da Maçonaria e que não deve
ultrapassar os limites do recinto maçônico de trabalho. Porém, as palestras e apresentações que
estão sendo realizadas pelos irmãos, em todas as Lojas, poderiam estar sendo sistematicamente
utilizadas para compor um acervo audiovisual que estivesse oficialmente acessível a todos os
Maçons, conforme seus graus e qualidades.
Além disso, o “quarto de hora de estudos”, perdeu o quarto, passando a ser quase que
horas de estudo, dados os elevados debates que são realizados a cada reunião administrativa
cultural, levando muitos Maçons a diariamente participarem das já famosas “lives”. Ora, não é
esse o princípio da Academia? Aulas diárias de forma presencial ou à distância? Percebam o
potencial que temos à disposição, seja através de nossos rituais, ou resultante dos esforços dos
irmãos que nos apresentam a sua interpretação sobre os conhecimentos maçônicos. Não é
realmente um trabalho de “coach”?
Constatamos, portanto, que a Maçonaria nos permite, se quisermos, transcender a esfera
de nossas Lojas; romper as barreiras do conhecimento que adquirimos, por intermédio dos
estudos que podemos realizar através especificamente da cultura maçônica; superar nossos
limites e obter progressos constantes em nossas vidas; propagar tudo isso de bom que obtemos,
através do bem que fizermos e multiplicar o universo maçônico, colaborando com o progresso
da Humanidade.
Assim, na esfera específica do tema desse estudo (naturalmente ressalvadas questões
técnico-profissionais e acadêmicas), não necessitamos de treinadores que não sejam nossos
próprios irmãos e de material que não seja aquele que já nos são disponibilizados através de
nossa Ordem. Precisamos sim, nos organizarmos, sistematizarmos e privilegiarmos as nossas
Potências como lideranças, o que hoje tem sido realizado pelos maçons individualmente.
Ao trabalho, portanto!

REFERÊNCIAS
RITUAL DO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM do Rito Escocês Antigo e Aceito. São Paulo:
Grande Oriente Paulista, 2015.

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