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Você

acorda no seu apartamento no quadragésimo andar de um megabloco. A sala é pequena, escura e claustrofóbica, cheia de
utensílios domésticos, roupas abarrotadas e cabos ópticos de conexão com a malha. Você tem sorte, ao menos do seu apartamento é
possível ver a cidade a sua volta. O horizonte é cortado por outros gigantescos megablocos e arcologias, enquanto hologramas
dançam nos céus apagados, anunciando sua bebida favorita.

Seu agente virtual te interrompe, é a ligação de um vapor. Mais alguém para passar a perna, mais dinheiro pras contas no final do
mês. Você aceita o contrato, ajusta os cabos de interface no seu pulso, insere o mais novo biochip de combate na sua nuca, calibra
sua pistola inteligente e atualiza o software do seu olho biônico, pronto para sair pras ruas em mais um dia no futuro sombrio de
2045.

Você se pergunta em como as coisas ficaram tão ruins.

2020 - Uma Breve História do Colapso


Quando as pessoas pensam em colapso, elas esperam por sinais claros como em um filme de Hollywood. Esperam por cientistas na
TV provando o fim dos tempos com dados, políticos anunciando a queda do estado, uma grande explosão para anunciar o evento.

Não é assim que acontece. O colapso é um processo

Repetidas crises econômicas, pandemias, extremismo político, avanço tecnológico desenfreado e o agravamento das mudanças
climáticas levaram a velha ordem a um violento declínio.

Nos primeiros sinais do colapso, as pessoas tenderam a se agarrar a um falso senso de estabilidade perpetrado pelo status quo. As
elites, por meio da mídia, acobertavam os fatos o máximo possível de que os sistemas estavam falhando. Cada tragédia um fato
isolado, cada absurdo apenas um dia estranho. E então o absurdo virava o novo normal. E então vinha a piora, e o pior se tornava o
novo normal. E de novo, e de novo, repetidamente.

Ainda sim, a vida continuava. As pessoas saiam para trabalhar, se divertir, namorar, assistir a filmes, shows, eventos. A diferença
estava nos detalhes. Estava no sentimento de aperto incesante na garganta, na dúvida de ter algo para comer na janta, na inundação
de tragédias nos jornais dia após dia. Estava em um corpo queimado na frente do seu escritório, no exército nas ruas com máquinas
de guerra apontadas para sua cara, em uma bomba que matava dezenas de pessoas e não chocava mais ninguém.

Como em um jogo de cabo de guerra. Até que a corda estoura.

Crise e Extremismo Político


A crise econômica de 2008 afetou o mundo não só financeiramente, mas alterou o cenário político e social pelos anos seguintes.
Gerações perderam seus empregos e economias, pequenos negócios fecharam e jovens recém formados se encontraram em frente a
um mundo sem oportunidades e lugar para eles.

A disseminação de redes sociais amplificou o alcance de discursos populistas e tendência chauvinistas de grupos ultra-conservadores,
reacionários e fascistas pelo mundo todo. Utilizando de técnicas de guerra cognitiva, estes grupos cooptaram espaços existentes na
mídia, distribuiram noticias falsas, produzindo memes, vídeos, deep fakes - doutrinaram massas desesperadas de pessoas,
transformando a própria mente em um campo de batalha.

Cultos a personalidades e grupos extremistas logo formaram organizações paramilitares e gangues, tomando as ruas e entrando em
confronto direto contra a polícia, exército e a própria população.

Ataques de terroristas domésticos foram ficando cada vez mais difíceis de serem parados. Impressoras 3D permitiam que qualquer
pessoa com o equipamento, tempo e dedicação pudesse imprimir um arsenal em casa. Redes sociais se tornaram ferramentas
indispensáveis de rastreio e perseguição. Drones e bombas caseiras se provaram uma combinação desastrosa nas mãos de
sociopatas.

Até o final da década, praticamente todos governos no mundo começaram a ter problemas seríssimos com terrorismo domicialiar. E
então, tudo ficou pior…

Pragas e Armas Biológicas


Em 2020, a pandemia do vírus SARS-CoV-2 matou milhões de pessoas, alterando ainda mais o panorama social, econômico e
tecnológico mundial.

A necessidade urgente de uma vacina para a doença causou avanços inéditos na produção e elaboração de insumos médicos e
pesquisa científica na área, acelerando o ritmo de descobertas e inovações pelos próximos anos. Em pouco tempo as primeiras
terapias genéticas com base em proteínas, como CRISPR, estavam sendo testadas e disponíveis…para os mais ricos, é claro.

A crise de 2020 não foi a única, entretanto. Em poucos anos, pandemias se tornaram assuntos recorrentes nos noticiários, com uma
acontecendo a cada ano. As causas eram das mais diversas, avanços da civilização em áreas isoladas, falta de cuidados médicos com
prevenção e vacinação, colapso de ecossistemas. Doenças a muitas décadas erradicadas começaram a voltar, dessa vez mais fortes do
que o imaginado. Surtos de tuberculose se tornaram comuns com o aparecimento de superbacterias. E então, os primeiros relatos
reais de pragas bioengenhadas apareceram.

Colheitas começaram a falhar misteriosamente, agravando a fome mundial; populações inteiras começaram a ser infectadas com
vírus até então desconhecidos, mas só grupos específicos sofriam dos sintomas; ataques por terroristas ecofascistas em grandes
centros urbanos se tornou rotina nos noticiários e jornais.

Guerra e Fome
A pandemia global foi seguida de uma guerra entre Rússia e Ucrânia, desestabilizando ainda mais o sistema, que já havia deixado
claro que iria se romper.

Enquanto a guerra acontecia, o preço de fertilizantes pelo mundo aumentou consideravelmente. Grandes produtores mundiais de
alimentos, como Brasil, China, EUA e Índia começaram a ter problemas nas suas produções de grãos e carne. Enchentes e secas
ficaram mais recorrentes pelo mundo, assim como fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor e frio, tempestades
torrenciais e tempestades de areia.

Com a destruição das areas férteis, pequenos produtores e cidades, fazendas locais e pequenos bancos faliram em massa. As terras
que restavam foram compradas pelas grandes corporações do agronegócio. O capital necessário para prosperar em meio a
catástrofe climática era imenso. As fazendas se tornaram verdadeira fortalezas modernas, com fortes esquemas de segurança,
drones aéreos, robôs de combate, automação e uso de grãos geneticamente modificados e patenteados.

Milhões de pessoas foram expulsas de suas terras durante esse processo, fugindo para as cidades ou imigrando para outros países.
As ondas de imigrações pelas mudanças climáticas desestabilizaram ainda mais as nações, já envoltas em um discurso xenofóbico e
racista, perpetrado por grupos extremistas em redes sociais.

Progresso e Desemprego
A disrupção das cadeias produtivas forçou as corporações a adotar medidas cada vez mais drásticas em pró da automação da
produção e logística.

Fábricas autônomas, operadas por complicados sistemas de IA e robótica, começaram a se tornar padrão na indústria,
retroalimentando o desenvolvimento da computação e ciência de dados. Com a chegada da automação ao setor industrial, milhares
de trabalhadores eram jogados na rua mês após mês. Estes então se viam reféns da nova gig economy, tendo que se submeter aos
regimes precários impostos por aplicativos e altamente regulamentados por algorítmos de otimização, em empregos sem direitos ou
perspectiva de crescimento.

Greves, revoltas e sérios conflitos armados com grupos extremista se tornou uma constantes nos centros urbanos.

A Queda da Águia
Já na primeira metade da decada de 2020, um trabalhador médio no ocidente gastava quase 70% da sua rende só com comida. O
desemprego e a população de rua havia crescia exponencialmente, com previsão de crescer ainda mais conforme o cercamento de
terras férteis pelas agrocorps e o avanço das mudanças climáticas.

Por outro lado, a rápida informatização dos sistemas bancários e financeiros e a adoção de sistemas de inteligência artificial de alta
performance fez com que acionistas e investidores internacionais tivessem lucros astronômicos, batendo recordes ano após ano.

O aumento da probreza resultou em um aumento exponencial da criminalidade nas grandes cidades. A periferia era cada vez mais
isolada, enquanto os centros eram gentrificados e “higienizados”. Grupos separatistas começam a inflar o discurso, declarando
territórios independentes da União. O governo, já instável pelas eleições que estavam por vir no fim do ano, coloca o exército nas
ruas para controlar as revoltas.

Guerra Eterna
“Sobre a questão de Taiwan, os EUA tem apenas uma consideração a fazer. Nós, americanos patriotas e tementes a Deus, estamos dispostos
a lutar uma guerra eterna contra qualquer inimigo da democracia e liberdade do mundo.” - General Douglas A. Jameson, Marinha
Americana.

Pressionado pelo avanço da China no cenário econômico global, os EUA e a OTAN iniciam uma força tarefa para manter a hegemonia
do Ocidente no cenário global. Em fevereiro de 2026, um grupo de diplomatas americanos, franceses e alemães são vistos em Taiwan.
Oito meses mais tarde, Taiwan declara independência da China continental. O Partido Comunista Chinês responde declarando guerra,
denunciando a OTAN por intervir em assuntos chineses.

A guerra é caracterizada pelo extenso uso de novas tecnologias militares. Agências de segurança americanas e europeias são
envolvidas no conflito, fornencendo homens, armas e expertise para Taiwan.

Técnicas militares de desmoralização e guerra psicológica são utilizadas ao lado de pesados ataques cibernéticos mirando a
infraestrutura industrial, econômica e informacional. Ataques com drones são utilizados por ambos lados como suporte em
ofensivas. Os EUA mantém a sua marinha próxima de bases no Japão e Coréia do Sul, aumentando a tensão entre as duas potências.

Em 2028, Taipé é fortemente bombardeada pela marinha chinesa, que preparava uma invasão decisiva na ilha. Hong Kong sofre um
surto de uma doença desconhecida até então desconhecida. Pessoas infectadas começam a sentir dores extremas pelo corpo, as
mucosas ficam acizentadas, até que as vítimas morrem menos de duas semanas após o contágio. Mais de 90% da população é
infectada com um agente biológico e apesar disto, a maioria esmagadora das vítimas é de etinias chinesas ou descendentes. O
governo Chinês declara sofrer o primeiro ataque de arma biológica étnica da história. O ataque choca o mundo todo e um cessar
fogo é assinado entre os dois lados, que sofrem com a doença.

A guerra ainda perdura nos dias de hoje.

Estados Livres da América


Tensões sociais continuam crescendo nos EUA. Facções dentro do próprio exército começa a desertar, formando bandos paramilitares
que rodam o interior do país, saqueando e causando terror em pequenas cidades. Uma praga biológica acaba com o estoque de
comida no país, causando revoltas nas grandes cidades. Lealistas do exército abrem fogo contra os manifestantes.

A Segunda Guerra Civil Americana é travada entre diversos grupos políticos menores e um governo federal desesperado por manter
controle. Washington declara lei marcial e táticas militares usadas em guerras contra o terror no exterior são usadas contra a sua
própria população. Um golpe militar é realizado pelo próprio exército americano, depondo o governo federal e instituindo uma
ditadura militar.

A República do Texas é a primeira a se separar da União em março de 2027, seguida da República da Califórnia, Estados Unidos do Sul
e Cascádia no meses seguintes.

A Grande Atrocidade
Em uma manhã de julho de 2029, o mundo entrava em choque com a notícia de uma bomba atômica sendo detonada no centro Nova
Iorque.

O ataque mata cerca de um milhão e meio de pessoas e fere mais de um milhão nas imediações. Partes do Brooklyn, Queens e o
Bronx são afetados pela bomba, causando queimaduras de primeiro grau e envenamento radioativo. Outros milhões viriam a sofrer
pela radiação nos próximos meses e anos. Manhattan é considerada inabitável pelas próximas décadas.

O efeitos do ataque, que ficou conhecido como A Grande Atrocidade, são sentidos no resto do mundo inteiro. Nos dias seguintes ao
ataque, as bolsas de valores dos EUA e Europa quebram, apagando bilhões e bilhões de dólares do mercado. Fundos de penção são
liquidados, pessoas são mandadas embora conforte corporações falem uma atrás da outra e o número de refugiados de guerra
aumenta vertigiosamente.

A mídia dos EUA culpa grupos separatistas do sul pelo ataque e acusa a Rússia e China pelo contrabando do artefato. Rússia e China
negam, acusando o ataque de ser fruto da incompetência do exército deixando a bomba cair nas mãos de terroristas.

Os fatos do atentado são enterrados em meio a uma torrente de notícias falsas. O real autor do ataque nunca foi determinado. Com
o colapso dos EUA, a OTAN é dissolvida e o mundo entra em uma nova era, mais isolado do que nunca.

2030 - Futuro Acelerado


O mundo pós-Blackout se reorganizou radicalmente nos anos seguintes do colapso econômico do ocidente. O cenário era de uma
sociedade que havia pisado no acelerador logo após cortar os freios de um caminhão desgovernado. Ninguém sabia quando o pior
iria acontecer, ninguém mais se importava.

O ritmo de desenvolvimento tecnológico e disrupção social atingiu os maiores níveis antes vistos na história humana.

Nova Ordem Mundial


Com a dissolvição da OTAN e a Segunda Guerra Civil Americana ainda em curso, as outras potências mundiais se isolaram cada vez
mais. A economia globalizada havia falido e no seu lugar surgia um mundo multipolar, com potências regionais no lugar de
superpotências.

A China consolida sua influência na Ásia, rivalizando com a Índia ao oeste e Japão ao leste; No Oriente Médio, o Irã se consolida na
região, se aliando com a China e causando tensões com a Arábia Saudita e Israel; Egito, Nigéria e Tanzânia se consolidam no
continente africano, captando investimentos da Europa e China para a construção de uma base de lançamentos espaciais no Monte
Kilimanjaro; O Brasil se alia com outros paísas da America Latina, formando a ALS, Aliança Latina do Sul; A Europa se isola enquanto o
a Rússia avança contra os Balcãs após o fim de uma revolta no Cáucaso; Os EUA se balcanizam. Os remanescentes do antigo governo
mantém relações próximas com a Europa e recolhem suas forças armadas e marinhas de volta pro Atlântico, focando em consolidar
seu poder na América Central e na reintegração das repúblicas separatistas.

Reestruturação Econômica
Após o Blackout, diversas corporações faliram, foram compradas ou realizaram fusões com outras corporações em uma tentativa de
sobreviver a crise e consolidar poder econômico. Com a erosão dos poderes de governos, mais e mais conceções eram feitas. Leis
anti-truste foram as primeiras a cai, destruindo qualquer impasse que pudesse parar a formação de gigantescos oligopólios
mundiais, formando megacorporações.

Em seguida, as privatizações de indústrias nacionais aumentou consideravelmente. Tudo e qualquer empresa que fosse considerada
“não essencial” aos Estados era vendida e integrada as megacorporações. Quando não sobrou mais nada das indústrias nacionais,
então era a hora de alterar a definição de “não essencial”. Segurança pública, educação, saúde, energia, água. Conforme o tempo,
mais e mais partes dos Estados foram sendo vendidos as megacorporações.

Poucos países ainda mantém algum grau de independência, em especial superpotências regionais, como China, Brasil e as
superpotências africanas.

A Revolução do Carbono
Em 2032, um conglomerado de cientistas americanos, japoneses e indianos desenvolvem um modo de produção revolucionário,
barateando a produção de nanotubos de carbono, acelerando a adoção do material pela indústria.

Nova doutrina militar

O novo modelo humano

Bestas sem nação

A alma na máquina

Ascenção da cibernética

Manifesto do Ciberespaço

2040 - A Era do Carbono

Linha do Tempo
2026
Crises de abastecimento de comida, pragas e o avanço das mudanças climáticas devastam o planeta. Corporações do
agronegócio começam a comprar terras de pequenos produtores e fazendas locais. Milhões são deslocados para as cidades ou
para outros países.
Regulamentação de terapias genéticas com proteínas CRISPR. A tecnologia abre espaço para a pesquisa e desenvolvimento de
técnicas mais avançadas no futuro, como terapias genéticas retrovirais.
Um grupo de diplomatas americanos, franceses e alemães pousam em Taiwan.
Taiwan declara independência da China continental, iniciando uma brutal guerra no Pacífico. Os EUA e a OTAN declaram apoio a
Taiwan.
Primeiro trilionário do mundo é anunciado.

2027
A União Européia encerra suas importações de gás da Rússia.
Índia ultrapassa China como país mais populoso.
Chips fotônicos produzidos pela China são utilizados nos setores de telecomunicações e inteligência artificial.
República do Texas, República da Nova Califórnia, Estados Unidos do Sul e Cascádia se separam da União.

2028
Taipé é bombardeada pela marinha Chinesa. Hong Kong sofre o primeiro ataque por arma biológica étnica do mundo, matando
2.5 milhões de chineses.

2029
Uma bomba atômica é detonada no centro de Manhattan, Nova Iorque. O evento ficou conhecido como Blackout, e foi
responsável pela brutal reorganização mundial.

2031
Parte de Bangkok é abandonada por causa de enchentes.

2032
Cientistas americanos, japoneses e indianos descobrem um novo método de fabricação de nanotubos de carbono. A
descoberta revoluciona o mundo, iniciando um nova era tecnológica.

2045
Presente

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