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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

TURISMO E GIFTWARE

O Novo Contexto da Indústria da Porcelana em Portugal

Maria Beatriz Salteiro Saraiva de Lemos

Dissertação

Mestrado em Design de Equipamento

Especialização em Design de Produto

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Paulo Parra e pelo Prof. André Gouveia

2019
RESUMO

Portugal é detentor de uma tradição de produção de cerâmica que o torna reconhecido


internacionalmente. As indústrias da Faiança, do Grés e da Porcelana, embora tenham sido
originalmente descobertas noutros países, estão enraizadas em Portugal, sendo a indústria da
Porcelana um dos sectores que caracteriza o país. Empresas como a Vista Alegre, a SPAL ou
a Costa Verde, elevam Portugal a uma posição de destaque mundial, numa busca constante
de produtos que o assinalem como país inspirador, competitivo e competente.
O forte crescimento turístico que se tem feito sentir em Portugal, seja por lazer, para viver
depois da reforma ou para o início de novos projetos, deve-se ao facto de este ser
reconhecido por vários fatores que o tornam num destino incontornável, tanto pelo clima
favorável, como pela boa gastronomia, ou pelos locais atrativos e marcos históricos que
fazem deste um país único, singular e autêntico. Este crescimento leva a que estas indústrias
procurem produtos diferenciadores, apelativos e que são expressão das raízes nacionais, para
serem vendidos como giftware. O giftware associa-se à cultura de Portugal, no sentido em
que transpõe para objetos de uso diário, símbolos típicos que dão a conhecer as suas
tradições.
São nestes objetos tradicionais que se encontram as raízes do design português e são estes
que podem ser também encontrados – para além de grandes cidades como Lisboa e Porto,
as quais têm muitos marcos próprios que as identificam singularmente – nas regiões mais
pacatas, tal como Peniche, concelho que possui uma longa e rica história e que é conhecido
pela pesca e pelas famosas Rendas de Bilros.
É na agregação de todo este conhecimento distinto, mas que se associa, que se concebe o
produto final da presente dissertação – um produto de giftware turístico em porcelana
inspirado num dos mais íntimos símbolos de Peniche – as Rendas de Bilros.

Palavras-Chave:

Cerâmica; Porcelana; Giftware; Turismo; Rendas de Bilros.

iii
ABSTRACT

Portugal has a tradition of ceramic production that makes it internationally recognized. The
Faience, Stoneware and Porcelain industries, although originally discovered in other
countries, are rooted in Portugal, with the Porcelain industry being one of the sectors that
characterise the country. Companies such as Vista Alegre, SPAL or Costa Verde, elevate
Portugal to a position of world prominence, in a constant search for products that mark it
as an inspiring, competitive and competent country.
The strong tourism growth that has been felt in Portugal, whether for leisure, to live after
retirement or to start new projects, is due to the fact that it is recognized by several factors
that make it an unavoidable destination, either by the favourable climate, the good
gastronomy, or by the attractive places and historical landmarks that makes it a special and
authentic country. This growth leads these industries to look for different and appealing
products, based on the national roots, to be sold as giftware. Giftware is associated to the
culture of Portugal, in the sense that it transposes to everyday objects, typical symbols that
make their traditions known.
It is in these traditional objects that we find the roots of Portuguese design and it is these
that can also be found - in addition to large cities such as Lisbon and Porto, which have many
landmarks that uniquely identify them - in the more peaceful regions, such as Peniche, a
municipality that has a long and rich history and is known for fishing and the famous Lace
of “Bilros”.
The final product of this dissertation - a tourist giftware product in porcelain inspired by one
of Peniche's most intimate symbols – Lace of “Bilros” - is the aggregation of all this
distinctive investigation.

Keywords:

Ceramic; Porcelain; Giftware; Tourism; “Bilros” Lace.

iv
AGRADECIMENTOS

Ao longo de todo o meu percurso académico, foram muitos os que me acompanharam e


que me ajudaram a concluir esta etapa da minha vida. Quero, por isso, expressar os meus
maiores agradecimentos.

Em primeiro lugar, agradeço aos meus orientadores, Professor Doutor Paulo Parra e
Professor André Gouveia, pelo incentivo que me deram desde o início em levar esta
dissertação até ao fim, e pela disponibilidade que demonstraram em auxiliar-me.
Orientaram-me de forma exemplar e sem ambos, esta investigação não teria sido possível.

Agradeço ao João Rocha e ao João Costa, por todo o apoio que me deram para a
concretização do projeto prático desta dissertação.

Agradeço também à Escola das Rendas de Peniche, pela grande disponibilidade que
demonstrou desde o primeiro contacto, e por me ter permitido a execução do projeto que
culmina esta investigação.

É com carinho que agradeço à minha família, em especial aos meus pais e irmãos, pelo
apoio incondicional que sempre me deram ao longo da vida, ajudando-me a tornar na
pessoa que hoje sou, pessoal e profissionalmente.

Aos meus amigos, agradeço a amizade e a importância que tiveram nesta jornada e que
continuam a ter na minha vida.

Termino este tempo académico com a lembrança daquela que foi a Faculdade que me
abriu as portas para o mundo profissional, onde conheci colegas e professores fantásticos
que, com toda a certeza, me marcaram para o fim da vida.

A todos, um sincero obrigado.

v
ÍNDICE

Resumo …………………………………………………………………………………iii

Abstract ………………………………………………………………………...………iv

Agradecimentos ………………………………………………………………………...v

Índice …………………………………………………………………………………...vi

Índice de Figuras ……………………………………………………………...…..….viii

1. Introdução ………………………………………………………………….....…….1

1.1. Definição do tema ……………………………………………………..…..…..1

1.2. Objetivos do trabalho …………………………………………………...……..1

1.3. Estrutura do trabalho ………………………………………………...………...2

1.4. Metodologia ……………………………………………………….....…..……3

2. Introdução da Cerâmica em Portugal …………………………………...………..5

2.1. Enquadramento Histórico e Social ………………………………………..…...7

2.2. A Importância dos Produtos Cerâmicos ……………………………………...10

2.2.1. Critérios Tecnológicos, Morfológicos e Decorativos ………………...11

2.2.2. Contextos de Utilização, de Função e de Fabrico …………………….18

2.3. Olaria e Cerâmica Artesanal ………………………………………………….19

2.4. Cerâmica Industrial …………………………………………………………...23

2.4.1. Materiais na Cerâmica Utilitária: Faiança, Grés e Porcelana ………...24

2.4.2. Aplicações de Porcelana ……………………………………………...37

2.4.2.1. Revestimentos e Pavimentos …………………………...….37

2.4.2.2. Equipamento Sanitário …………………………………….44

2.4.2.3. Equipamento Tecnológico ………………………….……...50

2.4.2.4. Produtos de Tableware …………………………………….57

vi
2.5. Considerações Intermédias …………………………………………………...65

3. A Indústria Nacional de Giftware em Porcelana ………………………………..66

3.1. Giftware …………………………………………………………………...….67

3.1.1. Giftware Pessoal ……………………………………………………...69

3.1.1.1. Exemplos de Giftware Pessoal em Porcelana ……………….71

3.1.2. Giftware Empresarial ……………………………………….………...76

3.1.2.1. Exemplos de Giftware Empresarial em Porcelana ………….78

3.1.3. Giftware Turístico …………………………………………………….83

3.1.3.1. Exemplos de Giftware Turístico em Porcelana ……....……..85

3.2. Giftware no Turismo ………………………………………………………….88

3.3. Considerações Intermédias …………………………………………………...92

4. Projeto Prático ……………………………………………………………………..93

4.1. Análise Contextual …………………………………………………………....93

4.1.1. A Produção da Renda de Bilros ……………………………………....95

4.1.2. Novas Aplicações da Renda de Bilros ……………………..………...100

4.2. Metodologia ………………………………………...……………………….102

4.3. Conceito ……………………………………………………………………..107

4.4. Dossier de Projeto ………………………………………...…………………109

4.5. Considerações Intermédias …………………………………...……………..115

5. Conclusão …………………………………………………………………………116

6. Anexos ………………………………………………………………………...…...121

7. Bibliografia ………………………………………………………………………..128

8. Webgrafia ……………………………………………………………………..…..131

vii
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 ………………………………………………………………………………....8
Peças cerâmicas encontradas em túmulos
http://algargosarte.blogspot.com/2014/10/el-calcolitico-y-la-cultura-megalitica.html

Figura 2 ………………………………………………………………………..……….12
Nomenclatura em Cerâmica Arqueológica
http://ceramicaarqueolgica.blogspot.com/

Figura 3.………………………………………………………………………….…….14
Construção Civil - Cerâmica Vermelha
http://rmai.com.br/estudo-visa-uso-do-residuo-de-ceramica-vermelha-em-concreto/

Figura 4
Pisos e Revestimentos……………………………………………………………………….….15
https://www.acessa.com/casa/arquivo/casaarrumada/2015/03/13-pisos-e-revestimentos-para-todos-os-gostos/

Figura 5…………………………………………………………………….…………..16
Piso Cerâmico Branco
https://www.telhanorte.com.br/piso-hd-25x25cm-blank-79622-porto-ferreira-1505947/p

Figura 6………………………………………………………………………...………17
Argilas Refratárias
http://engenheirodemateriais.com.br/2016/12/08/materiais-refratarios/

Figura 7…………………………………………………………………………….…..20
Tipos de Argilas
https://yandex.kz/collections/user/support%40cosmetologyclub.ru/maski-iz-gliny-dlia-litsa/

Figura 8………………………………………………………………………...………27
Taça em Faiança datada de 1621 da coleção do Museu Nacional Soares dos Reis
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/publicacoes/rpa/rpa16/19_351-367.pdf

Figura 9…………………………………………………………………………….…..29
Prato de cozinha em grés de Fredrika Runeberg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9s

Figura 10……………………………………………………………………………….32
Pote de porcelana Jingdezhen com vidrado em tons de vermelho e azul, de 1736 a 1796
https://en.wikipedia.org/wiki/Porcelain

Figura 11…………………………………………………………………………….…39
Medalhão Central e Pináculo da Basílica La Sagrada Família onde estão aplicados ladrilhos da
Revigrés
http://www.yourbooki.com/booki/tegels/revigres/porcelanato/files/assets/basic-html/page19.html

Figura 12…………………………………………………………………………….....40
Revestimento Revisilent da Revigrés
https://www.archiproducts.com/en/products/revigres/porcelain-stoneware-flooring-revisilent_154486

viii
Figura 13……………………………………………………………………………….41
Peças Especiais Cinca
http://www.cinca.pt/index.php?id=34

Figura 14……………………………………………………………………………….42
Painéis do Viaduto de Sete Rios – Recer
http://www.recer.pt/pt/projectos/

Figura 15………………………………………………………………………….……42
Série ICE - Recer
http://www.recer.pt/pt/produtos/blend-it/ice/

Figura 16…………………………………………………………………………...…..43
Neocim Décor Cubique Caramel – Kerion Ceramics
https://kerion.pt/subgamas/neocim-plus/

Figura 17…………………………………………………………………………...…..43
Neocim Terrassee Decor T02- Kerion Ceramics
https://kerion.pt/subgamas/neocim-plus/

Figura 18…………………………………………………………………………….…45
Produção de Peças Sanitárias – Sanitana
https://www.sanitana.com/pt/empresa_historia.php

Figura 19………………………………………………………………………….……45
Linha Be Chic da Gama Be You – Sanitana
https://www.sanitana.com/beyou/pt/be-chic.php

Figura 20…………………………………………………………………………...…..47
Linha de sanitários WCA de Carvalho Araújo para a Sanindusa
https://www.sanindusa.pt/index.php?id=434&sid=5&sc=25

Figura 21……………………………………………………………………………….48
Linha Inspira - Roca
http://www.roca.pt/catalogo/colecoes/#!/colecoes-banho/inspira

Figura 22…………………………………………………………………………….....48
Tecnologia “In Wash” da Linha Inspira - Roca
https://tooaleta.co.uk/roca-in-wash-inspira-wall-hung-803060002.html

Figura 23………………………………………………………………………….……49
Moon Black - Produto inovador e vencedor de pareceria entre a Oli e a Vista Alegre
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/oli-e-vista-alegre-ganham-premio-internacional-de-design-
413089

Figura 24……………………………………………………………………………….52
Telemóvel Mi MIX da Xiaomi
https://www.techtudo.com.br/noticias/2017/12/celular-de-ceramica-conheca-o-material-usado-por-lg-e-
xiaomi.ghtml

Figura 25……………………………………………………………………………….54
Molde Cerâmico
https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010170061027&id=010170061027
#.XWWCuuhKhPY

ix
Figura 26……………………………………………………………………...………..55
Avaliação da Precisão de Parafuso Cerâmico
https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=parafusos-ceramica-superam-
parafusos-
aco&id=010170140527#.WSvmLGjyuM8%3E.%20Reda%C3%A7%C3%A3o%20do%20Site%20Inova
%C3%A7%C3%A3o%20Tecnol%C3%B3gica%20-%2027/05/2014

Figura 27……………………………………………………………………………….57
Fotografia de uma das Peças Produzidas
https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=ceramica-fabricada-frio-mais-forte-
concreto&id=010170170406#.XWWoBehKhPY

Figura 28…………………………………………………………………………...…..60
Serviço de Porcelana Sagres da Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/sagres-servico-mesa-56-pecas-21087147-pt

Figura 29………………………………………………………………………...……..61
Serviço Calçada Portuguesa - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/mesa-bar-porcelana-calcada-portuguesa-pt/

Figura 30………………………………………………………………..……….……..61
Coleção Infinita da Vista Alegre
https://b2b.vistaalegre.com/index.php?route=product/category&path=96_1_8_76

Figura 31…………………………………………………………………..…….……..62
Troféu das 7 Maravilhas à Mesa
http://www.cidadetomar.pt/noticia.php?id=8710

Figura 32………………………………………………………………………...……..63
Coleção "Blue Rain" – SPAL
https://www.spal.pt/ES/index.php/mesa/uso-diario/blue-rain?start=12

Figura 33…………………………………………………………………………...…..64
Chávena Café Delta Platina
https://www.olx.pt/anuncio/chvena-caf-delta-platina-com-mais-de-20-anos-IDCCVhq.html

Figura 34……………………………………………………………………...………..68
Perfumaria da Moda na Baixa-Chiado, em Lisboa
https://comjeitoearte.blogspot.com/2013/08/chiado-zona-historica-destruida-pelas.html

Figura 35…………………………………………………………………………...…..68
Ach Brito
https://www.achbrito.com/pt/menu-topo/historia/

Figura 36………………………………………………………………………...……..70
Bomboneira em Vidro
https://www.pollux.pt/index.php?id=214&pid=815829

Figura 37…………………………………………………………………………...…..70
Coffret Coco Chanel
http://collindubocage.com/html/fiche.jsp?id=7159384&np=&lng=fr&npp=150&ordre=&aff=&r=

x
Figura 38…………………………………………………………………………...…..70
Livros
https://simplissimo.com.br/como-dar-ebook-presente/

Figura 39…………………………………………………………………………...…..70
Relógio One
https://www.lxboutique.pt/categoria-produto/relogios/one/

Figura 40…………………………………………………………………………...…..71
Conjunto de 4 Chávenas de Café com Pires “Fernando Pessoa” – Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/pessoa-goncalo-viana-conjunto-4-chavenas-cafe-com-pires-21133321-pt

Figura 41………………………………………………………………………...……..71
Anjo Decorativo Pintado à Mão - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/anjos-anjo-maroto-laranja-21100182-pt

Figura 42…………………………………………………………………………...…..72
Coleção “Aves de Portugal” - Coleção de 250 aves – Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/aves-portugal-esc-alveola-branca-21122357-pt

Figura 43…………………………………………………………………………...…..72
Candelabro Funtasma "Folkifunki" - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/folkifunki-candelabro-funtasma-21127793-pt

Figura 44………………………………………………………………………...……..73
Caneca Soho c/ filtro e tampa “Mãe” – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?limitstart=0

Figura 45…………………………………………………………………………...…..73
Solitário da SPAL em Porcelana
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=12

Figura 46…………………………………………………………………………...…..74
Caixa Ovo Pedro e Inês - SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=36

Figura 47…………………………………………………………………………...…..74
Chávenas de Café e Pires "Mário Botas" – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=48

Figura 48…………………………………………………………………………...…..75
Figura 48 - Serviço “Opera” - Costa Verde
https://costa-verde.com/produtos/opera/

Figura 49…………………………………………………………………………...…..75
Serviço "Raio" - Costa Verde
https://costa-verde.com/produtos/raio/

Figura 50………………………………………………………………………...……..76
Cabaz de Oferta
https://www.radiopax.com/taipa-inicia-distribuicao-de-cabazes/

Figura 51…………………………………………………………………………….....77
Botões de Punho e Gancho para Gravata Personalizados
https://www.ubuy.com.pt/pt/fashion-jewellery/boys/jewelry/cuff-links/id-3880851/category-list-view/
xi
Figura 52…………………………………………………………………………...…..78
Brindes Promocionais
http://www.blowlux.com.br/conheca-nossos-produtos/

Figura 53……………………………………………………………………...………..78
Caixa e Livro da Coleção "A Paixão Segundo G. H. - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/a-paixao-segundo-g-h-caixa-livro-21122215-pt

Figura 54……………………………………………………………………...………..79
Bola de Natal "Chasing Stars" - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/chasing-stars-bola-natal-21129577-pt

Figura 55……………………………………………………………………...………..79
Bandeja Brasil - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/brasil-bandeja-biblioteca-21000193-pt

Figura 56………………………………………………………………………...……..80
Chávenas de Café "Afrika" - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/afrika-conjunto-4-tazas-cafe-c-platillo-21133431-pt

Figura 57………………………………………………………………………...……..80
Wood Office – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=24

Figura 58………………………………………………………………………...……..80
Caixa Real – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=36

Figura 59………………………………………………………………………...……..81
Cinzeiro Fernando Pessoa - SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=12

Figura 60………………………………………………………………………...……..81
Tabuleiro "Fernando Pessoa" - SPAL
https://loja.up.pt/pt/produto/tabuleiro-s-lounge-fernando-pessoa

Figura 61……………………………………………………………………….………82
Serviço Nordika Fjord – Costa Verde
https://costa-verde.com/produtos/nordika-fjord/

Figura 62………………………………………………………………………….……82
Serviço Universal – Costa Verde
https://costa-verde.com/produtos/universal/

Figura 63……………………………………………………………………….………84
Lata de Sardinhas da Loja O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa
https://www.mundofantasticodasardinha.pt/pt/sardinhas-1994.html

Figura 64…………………………………………………………………….…………84
Sabonetes Artesanais - Claus Porto
http://univitelinas.com.br/outros/joias-de-sabonetes-portugueses/

Figura 65……………………………………………………………………….………84
Porta-moedas em Cortiça
https://www.nobrinde.com/pt/produtos/pessoal/porta-moedas/carteira-portamoedas-em-cortica-nb208437

xii
Figura 66……………………………………………………………………….………85
Sardinha Decorativa Vista Alegre Produzida pela Bordallo Pinheiro
https://pt.bordallopinheiro.com/el%C3%A9ctrica-28

Figura 67……………………………………………………………………….………85
Coleção Trajes Tradicionais - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/trajes-regionais-escultura-minho-pf502235-pt

Figura 68………………………………………………………………………...……..86
Chávena e Pires da Coleção "Alma de Lisboa - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/alma-de-lisboa-chavena-cafe-com-pires-casa-de-fado-21114195-pt

Figura 69………………………………………………………………………..….…..86
Coleção "Love Birds" - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/love-birds-cobalt-21123404-pt

Figura 70……………………………………………………………….………..……..86
Caixa Americana Grande "Torre Tombo" - Vista Alegre
https://vistaalegre.com/pt/torre-tombo-caixa-americana-grande-21001868-pt

Figura 71…………………………………………………………………..……….…..87
Cubo Biscuit "A Grande Família Portuguesa" – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?limitstart=0

Figura 72…………………………………………………………………..……….…..87
Porta-Lápis – SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=24

Figura 73…………………………………………………………………..……….…..87
Chávena de Café e Pires da Coleção "Fernando Pessoa" - SPAL
https://www.spal.pt/index.php/produto/corporate/tematico?start=12

Figura 74…………………………………………………………………..……….…..94
“Menino Jesus Salvador do Mundo” de Josefa de Óbidos
Fotografia tirada no Museu das Rendas de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

Figura 75………………………………………………………………..………….…..96
Rendilheira de Peniche
https://trendybilro.files.wordpress.com/2015/01/10498674_y9gip.jpeg

Figura 76……………………………………………………………………..…….…..97
Conjunto de Almofada com Renda de Bilros em Execução
Fotografia tirada no Museu das Rendas de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

Figura 77……………………………………………………………………..….……..98
Pontos para Renda de Bilros
Fotografia tirada no Museu das Rendas de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

Figura 78………………………………………………………………………...……..99
Renda de Bilros com Motivos Marinhos
Fotografia tirada no Museu das Rendas de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

Figura 79………………………………………………………………………….…..100
Rendas de Bilros empregues num leque
https://vistaalegre.com/pt/mesa-bar-porcelana-calcada-portuguesa-pt/
xiii
Figura 80………………………………………………………………………….…..101
Rendas de Bilros empregues num pendente
https://www.pinterest.pt/pin/220535712973676702/

Figura 81………………………………………………………………………….…..101
Rendas de Bilros empregues no vestuário
https://www.pinterest.pt/pin/AQFkHyBGSUpQExsWsm7i41xjzOnD0ENjlnIR2GtxQxPNafyx7ZokfQ0/

Figura 82………………………………………………………………………….…..104
Gráfico de Tendências

Figura 83……………………………………………………………………………...105
Fotografias da Visita à Fábrica SPAL: Moldes e Pintura

Figura 84……………………………………………………………………….……..106
Escola de Rendas de Bilros de Peniche
http://hotsite.diariodonordeste.com.br/especiais/fios-de-tradicao/preservar-preciso/escolas

Figura 85………………………………………………………………………….…..109
Chávena de Café Teresa de Portugal

Figura 86………………………………………………………………………….…..110
Padrão Selecionado em Renda de Bilros

Figura 87……………………………………………………………………………...111
Desenho Técnico do Produto Final

Figura 88……………………………………………………………………….……..112
Embalagem do Produto

Figura 89……………………………………………………………………………...113
Flyer do Produto

Figura 90……………………………………………………………………….……..114
Variações de Cor do Produto

xiv
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

1. INTRODUÇÃO

Cerâmica, “um produto sempre antigo e sempre novo”.


In Ceramic Trends

1.1. Definição no tema

A cerâmica é considerada como uma das mais antigas matérias que a civilização criou, a
qual foi acompanhando a História servindo a Humanidade durante milhares de anos.
Portugal soube acompanhar o desenvolvimento da indústria cerâmica, evoluindo em
sintonia com a cultura do seu tempo, projetando a cerâmica nacional a um nível
internacional. De facto, esta indústria é um dos setores que caracteriza Portugal e no qual
o nosso país orgulhosamente se destaca no panorama internacional. Direta ou
indiretamente, o impacto que a cerâmica nacional tem tido na área do turismo, desde há
muito se tem feito sentir em Portugal, tendo este sofrido um aumento exponencial nos
últimos anos. Seja pelos seu hábitos e costumes, seja pela grande diversidade geográfica,
pela gastronomia ou pela cultura, são cada vez mais os estrangeiros que procuram
Portugal como país de destino.
Sendo a porcelana o material cerâmico por excelência, pelo seu aspeto, leveza e
resistência, e estando naturalmente o giftware associado ao forte crescimento, são cada
vez mais as empresas cerâmicas que procuram produtos de giftware diferenciadores,
como forma de resposta ao forte crescimento turístico que se tem feito sentir em Portugal,
é proposto um produto porcelânico de giftware, inspirado nas raízes portuguesas, que vá
ao encontro do tema da presente dissertação.

1.2. Objetivos

A presente investigação tem como propósito principal dar a conhecer as grandes


indústrias do sector porcelânico em Portugal, no contexto do giftware turístico.
Pretende-se, em primeiro lugar, procurar a sua origem, abordando as áreas da cerâmica
artesanal e industrial, das suas diversas caraterísticas e aplicações, fazendo depois um
levantamento das principais indústrias cerâmicas ao nível da faiança, da porcelana e do
grés.

1
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Após este levantamento geral, incidir-se-á na área da porcelana como material cerâmico
a ser estudado, demonstrando as diferentes aplicações e produções porcelânicas,
ilustradas por relevantes exemplos que enriquecem e consolidam toda a investigação
feita. Estes dois primeiros pontos são de extrema importância, para que, a partir desta
dissertação, possa ser dado a conhecer o ramo da cerâmica, ao seu nível técnico e formal,
e das suas grandes indústrias que, cada vez mais, apresentam uma grande projeção
internacional.
Sendo inúmeras e vastas as suas aplicações, a porcelana no âmbito do giftware é a que
receberá maior destaque, e tendo em conta que Portugal é um país com forte crescimento
turístico, pretende-se que a investigação se debruce sobre o ramo do giftware em
porcelana, relacionando-se com a área do turismo em Portugal.
Por fim, esta investigação culminará num projeto prático que irá ao encontro da
investigação feita, que seja inovador, justificando, deste modo, a abordagem do ramo do
giftware turístico em porcelana, no contexto do design.

1.3. Estrutura do trabalho

A presente dissertação é estruturada por cinco capítulos distintos. O primeiro e o último


dizem respeito à introdução e à conclusão do tema da dissertação, respetivamente. O
segundo e o terceiro capítulos expõem toda a investigação efetuada de uma forma
metodológica, concisa e aprofundada. Por fim, o quarto capítulo pretende dar a conhecer
o projeto prático que se propõe e que vai ao encontro do tema geral da dissertação.

O primeiro capítulo é introdutório e dá a conhecer o tema na sua generalidade, os


principais objetivos da dissertação, o modo como é estruturada e a metodologia de
investigação que é aplicada para a concretização da mesma.

No segundo capítulo é feita uma introdução à cerâmica em Portugal, a qual é enquadrada


histórica e socialmente. Estuda-se a importância dos produtos cerâmicos, onde se expõem
os seus critérios tecnológicos, morfológicos e decorativos, bem como os seus contextos
de produção e utilização. Mostram-se os dois grandes ramos da cerâmica, começando
pela olaria e cerâmica artesanal e terminando na cerâmica industrial. Neste capítulo, são
dados a conhecer os materiais cerâmicos, ao nível da faiança, do grés e da porcelana, e

2
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

das aplicações porcelânicas, material este que vai definir todo o desenrolar da presente
dissertação. Dentro do ramo da porcelana, serão estudadas as suas aplicações cerâmicas,
nos mais variados setores: pavimentos e revestimentos, equipamentos sanitários,
equipamentos tecnológicos, de tableware e de giftware, os quais serão ilustrados por
produtos industriais de três marcas portuguesas de referência internacional, a Vista
Alegre, a SPAL e a Costa Verde.

O terceiro capítulo, na sua generalidade, estuda a indústria porcelânica de giftware, tema


principal em que se baseia a presente dissertação. Define-se a terminologia Giftware e
analisam-se as suas aplicações nos setores empresarial, pessoal e turístico, dando a
conhecer algumas marcas deste ramo a nível nacional. Este capítulo termina com uma
abordagem feita ao giftware na área do turismo, expondo-se o contexto em que se insere
o projeto final.

Por fim, o quarto capítulo tem como objetivo dar a conhecer o produto desenvolvido a
partir de toda a investigação feita. Para isso, é feita uma análise contextual introdutória
que define o conceito do projeto. Demonstra-se a metodologia aplicada para a execução
do mesmo e, a partir de fotografia e renders, é mostrado o produto final.

1.4. Metodologia

A metodologia adotada para a realização da dissertação assenta, numa primeira fase, na


recolha bibliográfica sobre assuntos considerados pertinentes face ao tema em questão,
tais como – A Cerâmica Portuguesa, de José Queirós, Faiança Portuguesa, O Azulejo
em Portugal, A produção de cerâmica em Portugal: Histórias com Futuro, entre outros.
A recolha de informação a partir da internet será igualmente importante, já que o
conhecimento que se pretende das principais indústrias cerâmicas portuguesas, como é o
caso da Vista Alegre, da SPAL, da Costa Verde ou de outras porcelânicas, e de outros
âmbitos mais futuristas dentro da cerâmica, bem como abordagens concretas dentro da
área do Turismo em Portugal, é uma peça-chave para a presente investigação, pois serão
estes alguns exemplos a ter em consideração na dissertação.
De forma a perceber as linhas direcionais para a idealização do projeto prático, foi feita
uma visita à Fábrica da SPAL e à Fábrica da Revigrés – duas indústrias cerâmicas de

3
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

âmbitos diferentes, a primeira de louça em porcelana, a segunda de pavimentos e


revestimentos em grés porcelânico - com o intuito de serem compreendidas as
possibilidades de produção cerâmica, e de se adquirir algum conhecimento prático deste
tipo de indústria, principalmente ao nível dos materiais, moldes, e acabamentos. Esta será
a fase de estudo de campo e será tida em conta ao longo de toda a investigação.
Além disso, aquando da idealização do conceito, foi feita uma vista ao Museu das Rendas
de Bilros de Peniche de forma a ser compreendido o contexto em que estas se inserem e
a forma como são produzidas, sendo feita uma análise que contextualiza e justifica toda
a conceção do produto. Por fim, a Escola da Renda de Bilros foi também visitada, nela
tendo sido feita uma parte do projeto final, imprescindível para a concretização do
produto que culmina esta investigação.

4
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2. INTRODUÇÃO DA CERÂMICA EM PORTUGAL

Ceramics – “Portugal does it better”


In Apicer1

A cerâmica define-se como uma das mais antigas matérias que a civilização criou. Não
se sabe ao certo quando é que este material argiloso começou a ser utilizado, mas
depreende-se que foi desde a altura do domínio do fogo2, pela descoberta de vestígios de
utensílios de cerâmica que o Homem foi deixando.
Desde a descoberta das características de moldagem e cozedura da argila, que a cerâmica
foi acompanhando a História servindo a Humanidade durante milhares de anos. Começou
por ser utilizada como resposta a necessidades domésticas através de utensílios e mais
tarde habitação, e nos dias de hoje continua a fascinar, pela resposta a diferentes desafios
altamente técnicos, sejam eles de desenvolvimento de novos materiais ao serviço das
indústrias espacial, automóvel, médica ou química.
Portugal acompanhou o desenvolvimento desta indústria, evoluindo em sintonia com a
cultura do seu tempo, projetando a cerâmica nacional a um nível internacional. Tirando
partido da qualidade das suas matérias-primas, o país viu nascer inúmeras empresas
familiares de excelência que, ganhando escala e investindo seriamente na inovação e
modernização tecnológica, se distinguiram nos seus respetivos mercados tornando-se
entidades de renome reconhecidas além-fronteiras: “A forte aposta em Investigação e
Desenvolvimento, numa qualidade de produto superior e a expansão internacional
tornaram-se prioritárias e o sucesso aconteceu naturalmente”.3
Na cerâmica de revestimento, o azulejo é indiscutivelmente a expressão artística
diferenciadora da cultura portuguesa no mundo; na utilitária e decorativa, a faiança, o
grés e a porcelana têm promovido internacionalmente a exuberância e criatividade da
cerâmica portuguesa desde o século XIX; na louça sanitária, Portugal pode orgulhar-se
também por ser o terceiro maior exportador da União Europeia.
Portugal pode ainda sentir uma enorme satisfação pela importância que a indústria
cerâmica tem para o país, pelo brilhante aperfeiçoamento em várias épocas em atingir
todos os seus ramos. Este facto deve-se por um lado à existência, em Portugal, de

1
APICER – Home [em linha/online]. (sem data). [Consult. 10 Jan. 2018]. Disponível em WWW: <URL:
https://www.apicer.pt/apicer/pt>.
2
Portal Educação – Cerâmica [em linha/online]. (sem data) [Consult. 09 Fev. 2019]. Disponível em WWW:
<URL: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/conteudo/ceramica/40032>.
3
APICER – Cerâmica Portuguesa - tradição e inovação. 2016, p. 3.

5
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

abundantes argilas de variadas qualidades, incluindo o caolino, e por outro, ao culto


criado em Portugal pelas louças finas desde o tempo das navegações portuguesas para o
Oriente.4

«“Na China foram encontrar uma civilização antiga, exuberante de arte,


verdadeiro país das porcelanas do mais raro gosto”». 5

A evolução da cerâmica em Portugal surge então a partir dos mais remotos tempos: em
muitas escavações de construções de origem fenícia ou romana foram encontrados
objetos de barro, como ânforas, tijolos e telhas.6

O ser humano – independentemente da época, raça ou origem – há milhares de anos que


vem aproveitando as propriedades da argila para, através dela, obter a cerâmica de que
precisa. A cerâmica portuguesa também mergulha as suas raízes mais profundas nas
milenárias culturas megalíticas que ocuparam a faixa ocidental da península ibérica. A
olaria portuguesa, por exemplo, apesar de todo o abandono que tem sofrido, ainda
mantém visíveis vestígios dos antepassados celtas, visigóticos, romanos e árabes. Os
métodos de produção, os elementos decorativos e as próprias características da forma e
função dos objetos testemunham essas inegáveis origens. De um modo geral, foram estas
formas que serviram de ponto de partida às explorações de ordem técnica ou estética que
acabaram por definir e caracterizar a personalidade dos vários fabricos. Também por isso,
a cerâmica tem constituído desde sempre um importante índice do nível cultural, tanto de
quem a produz como de quem a consome.7

4
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa, p. 11.
5
Op. cit., pp. 11 e 12.
6
Op. cit., p. 13.
7
CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc. XX, p. 9.

6
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2.1. Enquadramento Histórico e Social

No mundo circum-mediterrâneo, as primeiras peças cerâmicas foram produzidas no


Próximo Oriente, por agricultores sedentários, há cerca de 9000 anos. Uma vez inventada,
passou a fazer parte da vida do Homem. Na Península Ibérica, e concretamente no
território português, a cerâmica surge pela primeira vez em contextos do Neolítico Antigo
atribuíveis ao 6º milénio a. C. Inclusivamente no Paleolítico Superior (12000-10000 a.C.),
quando o homem primitivo caçava mamutes com armas feitas a partir de pedras8, existem
provas de que se construíam refúgios simples a partir de barro e turfa.9
Constata-se também que o Homem do Paleolítico teria já observado lareiras de solos
argilosos calcinados10 pelo calor e é também admissível que o barro cozido tivesse sido
utilizado primeiro em artefactos não utilitários e só mais tarde no fabrico da cerâmica.
Com a invenção desta, o Homem conseguiu, pela primeira vez, alterar a natureza e criar
o primeiro material artificial, a cerâmica, pois esta obtém-se por transformação e não
apenas por mera modificação da matéria-prima, como acontecia com o trabalho da pedra.
A argila, material natural, informe e cru, dá lugar ao cultural, com uma forma determinada
e irreversível – a cerâmica. Ao ser cozida, e perdendo por completo a água, a argila
solidifica, mas adquire simultaneamente fragilidade. Esse motivo, aliado às suas
características estruturais, fazem com que a cerâmica seja o campo de investigação mais
estudado e explorado em Arqueologia pós-paleolítica.11 O seu fabrico faz parte do
domínio das “artes” controladas pelo fogo, como sucede com a metalurgia ou o fabrico
do vidro.

No ramo da louça, desde os tempos primitivos que em todo o país se verificou ter-se
exercido exuberantemente a indústria do vasilhame cerâmico e de louça de cozinha. “As
olarias romanas nas Alcáçovas, são de tradição, conhecidas,”12 e a riqueza e variedade
dos barros existentes explica esse facto. Por outro lado, o contacto com as emigrações

8
HARVEY, David – Ceramica Creativa, p. 10.
9
Turfa - Massa de tecido de várias plantas, esp. de musgos do gên. Sphagnum, produzida por lenta
decomposição anaeróbica associada à ação da água, encontrada em várias partes do mundo, com variação
de consistência (do torrão até o limo) e de cor (de verde-claro ao negro), us. como fertilizante, forragem,
combustível e na feitura de carvão.
10
AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias com futuro, p. 10.
11
Ibidem.
12
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa, p. 16.

7
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

gregas e romanas teve também grande influência no desenho de variadas formas de certos
objetos, como as bilhas regionais, usadas em certos pontos do país.13

Figura 1 – Peças cerâmicas encontradas em túmulos

Da convivência árabe durante os seis séculos do seu domínio, surgiu a aplicação dos
vidrados transparentes sobre o barro poroso para o tornar impermeável. Os primeiros
barros cerâmicos eram secos ao sol, como o adobo, e tornados impermeáveis por meio de
matérias gordurosas para poderem comportar líquidos. É possível imaginar que estes
mesmos barros eram negros e assim se faziam, devido tanto às deficiências técnicas como
ao recinto onde eram cozidos.14 É nesta altura que surge a faiança, trazida para a península
ibérica pelos árabes, durante o século VIII. Posteriormente, surgem as pinturas coloridas
com esmaltes ou vidrados corados como se aplicavam nos azulejos.

No século XVI, devido à influência oriental, veio a operar-se a grande transformação na


cerâmica das louças. Praticamente desconhecida era, na Europa, a louça de porcelana, e
só nesta altura é que os Portugueses a divulgariam, trazendo da China quantidades
importantes. O desejo de fabricar porcelana na própria Europa era grande e o primeiro
que o tentou realizar foi, com algum resultado, o florentino Bernardo Butentalenti15, por

13
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa, p. 16.
14
QUEIRÓS, José – Cerâmica Portuguesa e outros estudos, p. 30.
15
LOPES, Carlos da Silva – Estudos de História da Cerâmica, p. 15.

8
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

volta de 1570. Desta porcelana italiana conheciam-se, em 1939, cerca de 35 peças, apesar
das mesmas não serem da verdadeira porcelana16.
Nota-se, desde logo, uma flagrante mudança tanto ao nível da ornamentação e das formas,
como também se verifica um sensível progresso na técnica do fabrico. Pretendia-se imitar
a porcelana vinda da China, e os oleiros portugueses, estimulados, fazem surgir a faiança
nacional.
Em Portugal, durante os séculos seguintes, entre 1600 e 1700, nunca se deixaram de
fabricar com carácter, embora os estilos evoluíssem por diferentes fases.17
Entre as várias épocas, destacaram-se a da imitação pura da porcelana chinesa; a do
“desenho miúdo”, que os amadores de louça antiga muito apreciavam; e a época do
“barroco”. Em todas estas diferentes épocas eram frequentes os pratos e outras variadas
peças com ingénuas e por vezes poéticas inscrições: com nomes de família, brasões e até
com graciosas expressões, como as dos pratos que mostravam no fundo as palavras “não
há mais”, ou ainda os pratos em que se lê “não chores mariquinhas”. Ainda hoje é possível
observar essas pitorescas inscrições nas louças que aparecem nas feiras. As palavras
“amor e saudade” são frequentes nas louças populares antigas.18
Em resumo, são três as épocas em que se divide a história das louças portuguesas: a
Primeira Época, anterior a 1500, que abrange a Louça Comum; a Segunda Época, de 1500
a 1800, que inclui as faianças sob influência oriental após a chegada das porcelanas da
China que vieram surpreender, primeiro Portugal, e mais tarde a Europa inteira; e por fim
a Terceira Época, que vai desde 1800 em diante, e engloba a porcelana e a faiança fina,
tendo a porcelana precedido esta última.
Em todas as suas manifestações a cerâmica portuguesa mostra ter acompanhado o que se
fez lá fora, impondo o seu próprio cunho artístico, e refletindo, deste modo, a influência
oriental, pois esta fez-se sentir em Portugal mais do que em qualquer outro país da Europa.

16
LOPES, Carlos da Silva – Estudos de História da Cerâmica, p. 15.
17
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa, p. 17.
18
Op. cit., pp. 17 e 18.

9
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2.2. A Importância dos Produtos Cerâmicos

A cerâmica é o nome genérico que se aplica a “todo e qualquer tipo de argila cozida,
modelada, vidrada, esmaltada, decorada a fogo lento ou pleno fogo, compreendendo
terracota, grés, majólica, faiança e porcelana”.19 A cerâmica compreende, portanto,
todos os materiais inorgânicos, não metálicos, obtidos geralmente após tratamento
térmico em temperaturas elevadas.20 O termo “cerâmica” tem provavelmente na sua
etimologia o vocábulo grego “keramos”, que significa “coisa queimada”21, apesar de
haver quem julgue que provenha de “Ceramus”, filho de Baco e Ariadne (nome que
também se dava ao bairro dos ceramistas nos arredores de Atenas).

A produção de peças de cerâmica teria tido o seu início no segundo período glaciar,
através da modelação de figuras de barro destinadas à prática de rituais mágicos ou
religiosos. Mas foi só a partir do quarto milénio a.C., após o grande degelo, que as
comunidades começaram a utilizar peças de uso doméstico e, pouco mais tarde, a produzir
materiais de abrigo (tijolo, telha, etc.). Trata-se, neste caso, de cerâmica grossa ou
rudimentar, por oposição à cerâmica fina, destinada a fins decorativos ou de utilização
diária. Os estudos e achados arqueológicos mais recentes permitem afirmar que a
evolução da cerâmica utilitária, doméstica e decorativa teve o seu mais relevante centro
criador e difusor nas regiões do Próximo e Médio Oriente e designadamente na
Mesopotâmia, Assíria, Palestina, entre outros, onde se terá expandido alguns séculos
antes da era cristã para o Extremo Oriente.
Os produtos da cerâmica constituíram, desde a mais remota antiguidade, uma das mais
expressivas fórmulas representativas do carácter e da civilização dos povos.
O fabrico dos utensílios de barro ordinário, e de formas grosseiras, evolucionou até ao
das porcelanas artísticas de barro fino e branco – o caolino – enriquecidas com a aplicação
das mais belas e ricas decorações.
A plasticidade das argilas e a sua propriedade de endurecer pela cozedura, atraíram
sempre a curiosidade dos homens para a constituição dos vários objetos destinados às

19
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, p. 54.
20
Slide Share – Materiais de construção Civil: Materiais Cerâmicos – [em linha/online]. 2013. [Consult. 16
Ago. 2018]. Disponível em WWW: <URL: https://www.slideshare.net/AquilesCampagnaro/cermicas-
26467332>.
21
Ibidem.

10
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

necessidades e à decoração das suas habitações. Esses objetos, de natureza dura e


inalterável, mas frágeis, são dos que mais perduraram e melhor se conservaram para
testemunhar a evolução das civilizações através da história.22 Pelas formas, pela utilidade,
pela composição e pela decoração das suas louças, se pode avaliar a civilização e o nível
artístico de cada nação.
Os produtos cerâmicos são, com efeito, aqueles em que os povos melhor imprimem a sua
maneira de ser, os que mais refletem os seus hábitos, os seus gostos, as suas necessidades,
a sua vida, os que mais revelam a sua habilidade manual, o seu saber, e o seu engenho
artístico. São os objetos companheiros da vida na habitação, objetos indispensáveis e
acarinhados por muitos.23

2.2.1. Critérios Tecnológicos, Morfológicos e Decorativos

A fase de classificação da cerâmica congrega uma série de campos que os arqueólogos


designam por “fatores intrínsecos,”24 e estes podem-se dividir em aspetos estruturais, que
englobam questões de carácter técnico e morfométrico e em aspetos conceptuais, que se
relacionam com as questões de decoração e estilo.
Os atributos técnicos que são dados à cerâmica relacionam-se com o tipo de fabrico, que
pode ser manual ou de roda; com a natureza das pastas, podendo ser duras e resistentes
ao choque térmico e mecânico, ou friáveis; e ainda com a cor, com o tipo de superfícies,
ou acabamento, entre outros aspetos.
Como se sabe, a cerâmica pode ser fabricada segundo duas técnicas principais: à mão e
ao torno ou roda de oleiro, para além dos moldes. Na manufatura das cerâmicas pré-
históricas, os “instrumentos” principais foram sempre as mãos do oleiro. Utilizaram-se
dois processos de modelagem distintos: o mais simples obtém-se a partir de uma bola de
argila que se pressiona até formar uma concavidade; o outro processo define-se pela
técnica dos rolos ou montagem, em que, sucessivamente, se unem anéis de argila
segmentados ou em espiral; este processo contempla ainda a aplicação justaposta de
várias placas de argila, a partir de uma base plana.

22
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924, pp. 13 e 14.
23
Ibidem.
24
AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias com futuro, pp. 12 e 13.

11
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

As duas técnicas de fabrico – à mão e à roda – estabelecem, à partida, uma fronteira


cronológica genérica entre cerâmicas pré-históricas e cerâmicas proto-históricas, porque
os fabricos a torno só são conhecidos a partir da presença fenícia.25
Por sua vez, os critérios morfológicos definem-se a partir da descrição das formas, que
podem ser abertas ou fechadas e simples ou complexas, em função dos chamados “pontos
críticos” 26 terminais (lábio e base), de tangência vertical, internos e externos, entre outros
aspetos. A designação das formas – pote, copo, taça, tigela, prato – que pressupõe já um
fator interpretativo relacionado com uma possível função, decorre dos tipos de bordos,
bases, panças, asas, colos, entre outros aspetos.

Figura 2 - Nomenclatura em Cerâmica Arqueológica

As mesmas formas podem contemplar diferentes funções, pelo que recipientes


inicialmente concebidos para um uso específico podem ter acabado por conhecer outro
completamente diferente. Para além disso, outro fator relevante é a existência de
decoração, pois esta expressa um maior investimento no fabrico, particularmente se esta
comporta um elevado e complexo número de motivos e se corresponder a recipientes de
grande dimensão.

O material cerâmico existe em grande abundância e tem como características gerais a


grande dureza, a rigidez, a resistência ao calor e à corrosão, podendo ainda ser classificada
do seguinte modo: 27

25
AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias com futuro, pp. 12 e 13.
26
Op. cit., p. 13.
27
Slide Share – Materiais de construção Civil: Materiais Cerâmicos – [em linha/online]. 2013. [Consult.
16 Ago. 2018]. Disponível em WWW: <URL: https://www.slideshare.net/AquilesCampagnaro/cermicas-
26467332>.

12
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A) Cerâmica Vermelha

A Cerâmica Vermelha acompanha a humanidade desde a pré-história. A primeira queima


de argila ocorreu por volta de 23.000 a.C.28 Os primeiros vestígios da produção de tijolos
surgiram a partir da descoberta de cavernas, onde se revelaram desenhos ilustrativos do
método de conceção de tijolos e outras peças daquela época, em cerca de 6.000 a.C.
A durabilidade deste material constata-se pelo aspeto praticamente inalterado de certas
construções de antigas civilizações descobertas por arqueólogos29 e de alguns objetos
como pratos e vasos. A técnica construtiva em alvenaria de tijolos ou blocos cerâmicos
remonta aos antigos caldeus e assírios, que em torno de 4.000 a.C. já usavam este material
para erguer casas e palácios. No decorrer do desenvolvimento da humanidade, nos quatro
continentes, existem manifestações da utilidade deste material, demonstrando a sua
versatilidade e aceitação nas diferentes culturas.
Cerâmica Vermelha é uma expressão que tem um significado amplo, compreendendo
todos os materiais empregues na construção civil, como a argila expandida, tijolos,
blocos, elementos vazados, lajes, telhas e tubos cerâmicos, e alguns materiais de uso
doméstico e afins. Em ambos os casos, os produtos apresentam uma coloração
predominantemente avermelhada.30 É produzida a partir de argilas e depende de algumas
características determinadas pela sua plasticidade, como a capacidade de absorver e ceder
água, capacidade aglutinante, contração na secagem e queima, e pode ser submetida a
altas temperaturas, as quais lhe atribuem rigidez e resistência mediante a fusão de certos
componentes da massa. Pode ainda ser reutilizada ou reciclada no fim da sua vida útil,
apresentando um baixo conteúdo energético.

28
Sindicerma – Cerâmica Vermelha no Mundo – [em linha/online]. 2014. [Consult. 10 Fev. 2019].
Disponível em WWW: <URL: http://www.sindicerma.org.br/ceramica-vermelha-no-mundo/>.
29
Sindicerma – Cerâmica Vermelha no Mundo – [em linha/online]. 2014. [Consult. 10 Fev. 2019].
Disponível em WWW: <URL: http://www.sindicerma.org.br/ceramica-vermelha-no-mundo/>.
30
Associação Brasileira de Cerâmica – Cerâmica [em linha/online]. 2016. [Consult. 09 Fev. 2019].
Disponível em WWW:<URL: https://abceram.org.br/ceramica-vermelha/>.

13
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 3 - Construção Civil - Cerâmica Vermelha

B) Materiais de Revestimento

Nos materiais de revestimento englobam-se os azulejos, porcelanatos, cerâmicas,


pastilhas, grés, lajota, pisos, tozetos31 e pedras utilizadas para revestir as paredes.
Os tipos de revestimento que são mais habituais, são os seguintes:
❖ O azulejo, um produto cerâmico que possui uma superfície lisa coberta por uma
camada de esmalte e apresentam uma vasta gama de tamanhos, cores, desenhos e
acabamentos.
❖ As pastilhas, muitas vezes chamadas de micro-azulejos, existem em diversos
tamanhos, variando entre cores, acabamentos e materiais, como o vidro, metal,
plástico, cerâmica e pedra. Apresentam uma alta durabilidade, pelo que podem ser
utilizadas em locais húmidos e áreas externas, como as fachadas.
❖ O porcelanato, que se define como placa cerâmica fabricada a partir de alta
tecnologia de prensagem em elevadas temperaturas. Este processo de fabrico
confere uma grande resistência e baixa porosidade, sendo indicados para todos os
ambientes, de acordo com o seu tipo de acabamento.

31
AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias com futuro, p. 14.
“Tozetos” são detalhes pequenos de cerâmica que podem constar no piso ou na parede.

14
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Os porcelanatos podem-se distinguir nos seguintes:32


▪ Porcelanatos polidos, os quais possuem uma superfície muito lisa e brilhante. São
polidos e apresentam uma camada protetora, sendo indicados para ambientes
secos, como zonas interiores;
▪ Porcelanatos acetinados, que possuem um acabamento de um brilho mais discreto,
com aspeto acetinado, sendo mais resistentes a riscos do que o anterior. São
também indicados para ambientes interiores;
▪ Porcelanatos esmaltados, que, como o próprio nome indica, recebendo uma
camada de esmalte, permitem ser estampados com diferentes desenhos. Podem
ainda ser utilizados em ambientes húmidos e secos;
▪ Porcelanatos estruturados, que proporcionando uma superfície levemente
abrasiva, são uma excelente opção para áreas húmidas;
▪ Porcelanatos naturais, os quais possuem um acabamento especial na sua
superfície, por não ser esmaltado ou polido. Apresentam uma superfície com
acabamento matte, opaca, o que os torna mais resistentes e ásperos, sendo
indicados para áreas externas de residências e ambientes comerciais.

❖ Por fim, as pedras, as quais garantem alta durabilidade, estão disponíveis em


diversos tamanhos e cores, podendo ser utilizadas tanto em ambientes internos
como externos, evitando utilizar pedras porosas em ambientes húmidos.

Figura 4 - Pisos e Revestimentos

32
Praconstruir – Revestimentos: o que são e quais os tipos? – [em linha/online]. Sem data. [Consult. 10
Fev. 2019]. Disponível em WWW: <URL: http://blogpraconstruir.com.br/etapas-da-
construcao/revestimentos/>.

15
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

C) Cerâmica Branca

A cerâmica branca é um produto cerâmico obtido a partir de argilas praticamente isentas


de óxido de ferro, apresentando cor branca, rósea ou creme claro, quando queimadas a
temperaturas habituais (959 ou 1250ºC33). Este tipo de cerâmica é composto por
feldspato, caulim e quartzo34 e engloba os materiais constituídos por um corpo branco e
em geral cobertos por uma camada vítrea. Neste campo encontram-se as louças de pó-de-
pedra porosas, como os azulejos, a louça sanitária e de grés, a louça de mesa, os isoladores
elétricos para a alta e baixa tensão, a cerâmica artística (decorativa e utilitária) e a
cerâmica técnica para fins diversos, tais como químico, elétrico, térmico e mecânico.35
A cerâmica branca apresenta geralmente uma cobertura de esmalte cerâmico que é
constituído por vidro, por um pigmento e por um vidrado. Este tipo de material é de fácil
limpeza, sendo muitos deles totalmente resistentes às manchas, antialérgicos (mais
higiénicos)36, resistentes ao fogo e apelam ao sentido estético.
A reciclagem da cerâmica de revestimento é possível através da reutilização dos resíduos
sólidos da produção. Os resíduos originários do processamento de fabrico do azulejo,
através da bio queima, constituem peças finas, porosas e frágeis. São reciclados para a
moagem, onde são misturados a outras matérias primas para a obtenção da massa
cerâmica.

Figura 5 – Piso Cerâmico Branco

33
Ebah – Rede Académica - Cerâmica Branca – [em linha/online]. 2013. [Consult. 10 Fev. 2019].
Disponível em WWW: <URL: https://www.ebah.com.br/content/ABAAAgaxAAD/ceramica-branca>.
34
Ibidem.
35
Slide Share – Materiais de construção Civil: Materiais Cerâmicos – [em linha/online]. 2013. [Consult.
16 Ago. 2018]. Disponível em WWW: <URL: https://www.slideshare.net/AquilesCampagnaro/cermicas-
26467332>.
36
Ebah – Rede Académica: Cerâmica Branca – [em linha/online]. 2013. [Consult. 10 Fev. 2019].
Disponível em WWW: <URL: https://www.ebah.com.br/content/ABAAAgaxAAD/ceramica-branca>.

16
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

D) Materiais Refratários

Os materiais refratários têm como finalidade suportar temperaturas elevadas, que em


geral envolvem esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de temperaturas
e outras solicitações. Entre estes materiais encontram-se a sílica, o aluminoso, o carbono
e o zircónio.37 Dadas as suas características, são geralmente utilizados em revestimentos
de fornos, incineradores e reatores.
Dentro dos materiais refratários encontram-se:38
▪ Argilas – são os materiais refratários mais comuns, largamente empregues em
fornos e estufas.
▪ Cromita – é o principal mineral do cromo, e devido à sua capacidade de suportar
temperaturas elevadas, pode ser empregue no seu estado natural como material
refratário.
▪ Zircónio – consegue manter a sua elevada resistência mecânica a temperaturas
bastante altas e apresenta um coeficiente de expansão térmica muito inferior do
que a maior parte dos outros materiais refratários. Para além disso, não é muito
reativo em relação a metais líquidos e gases provenientes dos mesmos. Esta
combinação das propriedades faz deste material um dos melhores refratários,
sendo especialmente utilizado na construção de fornos metalúrgicos e para a
indústria de vidros.

Figura 6 - Argilas Refratárias

37
Slide Share – Materiais de construção Civil: Materiais Cerâmicos – [em linha/online]. 2013. [Consult.
16 Ago. 2018]. Disponível em WWW: <URL: https://www.slideshare.net/AquilesCampagnaro/cermicas-
26467332>.
38
Engenheiro de materiais – Materiais Refratários – [em linha/online]. 2016. [Consult. 10 Fev. 2010].
Disponível em WWW: <URL: http://engenheirodemateriais.com.br/2016/12/08/materiais-refratarios/>.

17
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Atendendo às características de excelência dos revestimentos cerâmicos, nomeadamente


a sua durabilidade e o distinto comportamento quanto às especificidades técnicas e
diversidade estética, tem-se verificado um grande leque de opções de materiais de
construção e a exploração de novas soluções de aplicação de revestimentos cerâmicos. 39

2.2.2. Contextos de Utilização, de Função e de Fabrico

Por princípio, as cerâmicas servem como contentores de alimentos sólidos e líquidos. A


conjugação de fatores intrínsecos pode ajudar a determinar a sua utilidade, seja na
armazenagem de sólidos e líquidos, seja na confeção de comida, no consumo individual
ou coletivo, entre outros.
Assim, as formas fechadas são adequadas à conservação de produtos, e as abertas mais
apropriadas à preparação e consumo de alimentos. Para recipientes de cozinha são
preferíveis as formas simples que resistam melhor ao choque térmico, bem como as cores
escuras que retêm o calor durante mais tempo. As formas fechadas e de maior capacidade
volumétrica são mais aptas para armazenar. Os contentores de líquidos, por outro lado,
devem possuir superfícies brunidas.40
Se forma e decoração forem conjugadas, a função revela-se no imediato, como ilustram
alguns pratos de peixe fenícios e gregos, neste caso com representações de peixes. Outras
vezes, para além da forma, é particularmente o tipo de argila utilizado – a refratária, por
exemplo – que indica a presença de um recipiente com funções muito específicas ligadas
à fundição do cobre e do bronze.
As formas e os fabricos por vezes induzem em erro, e cerâmicas concebidas para um
determinado fim poderão ter acabado por servir outro. É por esta razão que o estudo das
diferentes funcionalidades das cerâmicas não deve dispensar o conhecimento dos seus
contextos de utilização. Se a maioria corresponde ao que se designa por “cerâmicas
domésticas”, uma vez que provêm de áreas de habitat, tendo servido para a preparação e
consumo de alimentos ou para a sua conservação e armazenagem, a verdade é que alguns

39
PEDRO, Rute Filipe – Controlo de Qualidade na Aplicação de Revestimentos Cerâmicos, p. 3.
40
A palavra “brunir” significa polir com lustro. AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias
com futuro, p. 16.

18
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

destes tipos se encontram igualmente em contextos funerários, portanto, com funções


bem distintas.41
É importante salientar ainda as diferentes fases que dão origem à produção de objetos
cerâmicos, ou por outras palavras, o seu processo de fabrico: 1º Preparação da pasta; 2º
Modelagem e criação da forma; 3º Decoração sobre a pasta; 4º Secagem; 5º Primeira
cozedura; 6º Decoração sobre o biscoito; 7º Aplicação do esmalte ou vitrificação; 8º
Cozedura da peça vitrificada ou esmaltada; 9º Decoração ou pintura sobre o esmalte; 10º
Terceira e última cozedura.
Existem ainda dois grandes grupos cerâmicos: os porosos, constituídos pela terracota, a
faiança, e a majólica, e os impermeáveis, constituídos pelo grés e pela porcelana. Nos
estudos da arqueologia, podem considerar-se quatro fatores de apreciação das peças de
cerâmica: em primeiro lugar, a morfologia; em segundo, a sua utilização; em terceiro, os
diferentes estilos, e por fim, a afinidade cultural. 42

2.3. Olaria e cerâmica artesanal

Sobre o ramo da olaria é escassa a sua história, pelo que há dúvidas relativamente à sua
origem variando conforme os diferentes estudos sobre o tema.
Por volta de 4500 a.C. os elamitas43 conquistaram a Suméria e para lá levaram as suas
técnicas. A maior riqueza da Mesopotâmia era a terra, que, uma vez seca, adquiria uma
consistência e dureza características. Tudo isto contribuiu para o crescimento da olaria
nesta região.44
A olaria, na sua fase de gestação, é uma matéria dúctil que facilmente obedece ao tato das
mãos, que se pode modelar e voltar a modelar e que, pela ação do fogo, se transforma em
matéria consistente, imutável, mas, simultaneamente, frágil e quebradiça.
O material básico para se trabalhar no torno é a argila. Esta deve ser plástica, de forma
que, ao ser pressionada, se expanda e adquira uma forma que se mantenha até que se deixe
de exercer pressão.

41
Op. cit., pp. 16 e 17.
42
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, p. 54.
43
Civilização que fez parte das migrações africanas rumo à Ásia, cerca de 8000 a 5000 a.C.
44
BARBAFORMOSA – A Olaria, p. 8.

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Nem todas as argilas são boas para tornear e, por esse motivo, a maior preocupação dos
oleiros foi sempre a de se instalarem numa região argilosa e serem proprietários ou
arrendarem uma parcela de terra45 de forma a assegurarem o produto final com o objetivo
de realizarem uma produção em larga escala.
A maior parte das argilas encontradas na natureza têm a denominação de argilas comuns.
Estas contêm ferro e outras impurezas minerais e, por esse motivo, costumam ser
vermelhas, castanhas, esverdeadas, cinzentas ou, em menor número, brancas.

Figura 7 - Tipos de Argilas

É necessário sentir a matéria, “afagá-la, passar as mãos sobre a peça, sentindo o seu
peso, a sua ondulação, a rugosidade ou a maciez da sua superfície”46, e é talvez por estes
fatores que o principal encanto da olaria seja sensorial. Pode também ser pelo facto de a
olaria ser derivada da criação de uma população, como resposta às suas necessidades. A
olaria é uma exigência coletiva da comunidade que satisfaz e serve, é a resposta às suas
necessidades básicas. A olaria é património de uma comunidade.47
Na repetição constante de determinadas formas, verificada ao longo de muitos séculos,
encontram-se os princípios básicos da ergonomia – a conceção de peças de grande valia
estética que respondem às exigências funcionais de uma comunidade. Existe uma
repetição constante de gestos, na execução de uma determinada peça, na busca da

45
Op. cit., p. 14.
46
SILVA, Raquel Henriques ; FERNANDES, Isabel Maria ; DA SILVA, Rodrigo Banha – Olaria
portuguesa: do fazer ao usar, p. 19.
47
Op. cit., p. 20.

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perfeição. A repetição, neste caso, é sinónimo de preservação da beleza, de valorizar o


que os outros valorizaram, de respeitar a criação da comunidade. Dizem os oleiros que
«quem usa é mestre»,48 e que quem sabe usar ou repetir com qualidade sabe preservar a
memória da comunidade, sabe responder às suas necessidades estéticas e funcionais. Um
oleiro irá continuar a repetir as mesmas formas, enquanto a comunidade delas tiver
necessidade.
Hoje em dia, é possível afirmar que, de entre as várias indústrias conhecidas na cidade
romana, a olaria foi, sem dúvida, uma das mais significativas. Esta afirmação baseia-se,
naturalmente, nos achados arqueológicos que têm vindo a ser exumados nas últimas
décadas. 49
Existem diferentes formas que surgem a partir da arte da olaria que se têm mantido quase
inalteráveis ao longo de vários séculos, como é o caso da malga, do púcaro, da talha e do
alguidar, pois os usos a que se destinam também se mantiveram inalteráveis.
Os utensílios de barro têm acompanhado o homem praticamente desde a sua origem. Os
primeiros recipientes de barro teriam sido modelados e secos ao sol, pois o homem ainda
não tinha descoberto as virtudes da cozedura das peças.50
Desde então, até aos dias de hoje, a arte cerâmica foi evoluindo e modificando-se, tanto
estética como tecnicamente. O oleiro aprendeu a selecionar os barros para a produção das
peças, soube escolher a melhor dosagem na mistura de barros e adaptar as técnicas a usar
ao tipo de barro que encontrou nos locais onde se fixava.
As primeiras peças eram modeladas com as mãos e sem o auxílio da roda. Por
repuxamento do barro, ou utilizando a técnica dos cordões sobrepostos, o oleiro ia criando
as suas peças. Mais tarde, o oleiro, que passa a circular em redor da peça que vai
construindo, vai descobrir que pode estar fixado num sítio, fazendo a peça rodar sobre
uma base móvel, de acordo com a sua conveniência. Está aí o princípio da roda. Esta base
giratória está depois associada a um eixo, permitindo ao oleiro imprimir-lhe movimento
e fazê-la rodar a uma maior velocidade que lhe liberta por mais tempo as mãos para o
levantamento da peça.51

48
Op. cit., pp. 21 e 22.
49
AA.VV. – A produção de cerâmica em Portugal: histórias com futuro, p. 32.
50
SILVA, Raquel Henriques ; FERNANDES, Isabel Maria ; DA SILVA, Rodrigo Banha – Olaria
portuguesa: do fazer ao usar, p. 29.
51
Op. cit., p. 30.

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O torno ou roda de oleiro foi um dos instrumentos mais antigos da indústria humana. Foi
sendo modificado com o decorrer dos séculos, desde o seu início no Neolítico como
tornete lento, acionado com a mão, até ser aperfeiçoado e se tornar, por volta de 4500
a.C., naquilo a que se chama torno.
O seu mecanismo impulsionador também evoluiu com o tempo, desde o acionado com a
mão, com o pé ou com a ajuda de um aprendiz, até ao seu funcionamento elétrico. O torno
permitiu ao oleiro desenvolver e melhorar a sua produção, ao mesmo tempo que
conseguia satisfazer as exigências de uma sociedade em vias de desenvolvimento.
Ao longo da história foi utilizado para diversos fins, desde a realização de objetos
utilitários, como recipientes para sólidos e líquidos ou para a preparação de alimentos,
como recipientes funerários ou de oferendas e até, entre outros, na área da construção.52
A utilização esporádica de peças de barro, como é o caso das vasilhas ou terrinas
utilizadas em restaurantes típicos, por exemplo, só vem provar que a olaria deixou de ser
empregue no quotidiano da vida dos portugueses.
O vidro, o pírex, o inox, o plástico e outros materiais mais resistentes e mais baratos,
vieram substituir as singelas vasilhas de barro vermelho fosco, polido ou vidrado. Pois se
não há procura, cedo diminui a oferta. É por esta razão que hoje são poucos os oleiros que
se dedicam ao fabrico destas vasilhas para a preparação dos alimentos.
No entanto, os oleiros portugueses, que foram sempre “numerosos e cultores delicados
das formas dos seus produtos,”53 poderão fazer com que a olaria portuguesa nunca morra,
porque, pela máxima de Lavoisier «nada se perde, tudo se transforma». Desta forma, a
olaria poderá adaptar-se às novas exigências do Homem, respondendo às suas
necessidades. A olaria portuguesa, nos tempos que hão de vir, será isso mesmo – aquilo
que o homem dela pretenda fazer.54

52
BARBAFORMOSA – A Olaria, p. 9.
53
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa. Lisboa : Empresa do Anuário Comercial
1935, p. 17.
54
SILVA, Raquel Henriques ; FERNANDES, Isabel Maria ; DA SILVA, Rodrigo Banha – Olaria
portuguesa: do fazer ao usar, p. 219.

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2.4. Cerâmica Industrial

No início do séc. XVII a tradicional olaria de barro vermelho, com ou sem vidrado opaco
estanífero, foi sendo lentamente substituída pela faiança também chamada de “louça
branca de Telavera” 55 ou mesmo “louça com feição de porcelana”, referindo-se esta à
cor, que se aproximava da cor branca da porcelana chinesa e não às suas características.56
Em finais do século XVIII e início do século XIX a economia portuguesa não se
encontrava estável, sendo escasso o dinheiro para arriscar num investimento industrial
cujo sucesso passaria pela capacidade de aguentar, ao nível da qualidade e do preço, a
concorrência estrangeira. Reconhecendo que “as artes decorativas constituem a área
mais criativa da sensibilidade artística” 57 e que esta sensibilidade se apoia numa longa
tradição tecnológica no domínio das faianças, de que as fábricas portuguesas do final do
século XVIII constituem uma notável referência, é também verdade que o interesse que
a cerâmica despertava no espírito dos portugueses estava mais ligada a uma “cultura e
sensibilidade artísticas do que, propriamente, ao espírito de lucro ou mera exigência
capitalista”.58

A louça cerâmica em Portugal é produzida em barro, faiança, grés e porcelana, para uso
decorativo ou utilitário. Este sector cerâmico é constituído tanto por unidades produtivas
com características muito diversas a nível de processos produtivos e organizacionais,
como também a nível de dimensão.59Para Portugal, a indústria cerâmica é uma atividade
que se alicerça em muitos séculos de história, desde as influências árabes do período de
ocupação, passando pelos contactos com o Oriente nos tempos subsequentes às
Descobertas e Expansão Ultramarina, até à consolidação e afirmação de um sistema
produtivo próprio que hoje exporta para todo o mundo.
A indústria da cerâmica abrange os subsectores da cerâmica estrutural (telhas, tijolos e
abobadilhas); pavimentos e revestimentos; louça sanitária; cerâmica utilitária e decorativa
(louça em barro, faiança, grés e porcelana) cerâmicas especiais (isoladores e peças

55
Nome derivado do famoso centro cerâmico de Telavera de la Reina, em Espanha.
56
FRASCO, Alberto Faria – Vista Alegre: a arte na porcelana, p. 11.
57
FRASCO, Alberto Faria – Vista Alegre: a arte na porcelana, p. 14.
58
Ibidem.
59
APICER – Cerâmica de Mesa Portuguesa [em linha/online] : O contributo deste sector para a
sustentabilidade, p.7. [s.i.]: Apicer, 2015. [Consult. 09 Fev. 2019]. Disponível em WWW:<URL:
https://www.compete2020.gov.pt/admin/images/CERAMICA_DE_MESA_PORTUGUESA_Contributo_
para_a_sustentabilidade.pdf>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

isolantes, cerâmica para usos técnicos), outros produtos cerâmicos não refratários e
produtos cerâmicos refratários.60

2.4.1. Materiais na Cerâmica Utilitária: Faiança, Grés e Porcelana

A cerâmica, sendo uma das mais antigas indústrias, surge no momento em que o homem
começa a usufruir-se do barro endurecido pelo fogo. Passa a substituir a pedra trabalhada,
a madeira e até mesmo as vasilhas (como utensílios domésticos até então), feitas a partir
de frutos como o coco ou da casca de certas plantas. Deste modo, vem acompanhando a
história da civilização humana, deixando pistas sobre hábitos, costumes e culturas que
existiram há milhares de anos, antes da civilização cristã.
A cerâmica refere-se à arte de produzir objetos artísticos, utilitários ou decorativos,
usando como matéria prima a argila, num processo em que a pasta é primeiramente
moldada, e depois cozida a elevadas temperaturas para adquirir resistência, rigidez e cor.
A cerâmica é uma grande família, que reúne uma ampla diversidade de pastas cerâmicas:
faiança, grés e porcelana são apenas algumas das mais populares. São todas pastas
cerâmicas que partilham a mesma base argilosa, mas são todas distintas entre si,
apresentado as suas próprias características e implicando diferentes processos de
produção. Variáveis que lhes conferem diferentes características enquanto produto
acabado e, por isso, finalidades distintas.
Em Portugal, a faiança, o grés e a porcelana, são os materiais cerâmicos que mais
predominam ao nível das aplicações cerâmicas utilitárias, sendo descritas do seguinte
modo:

❖ Faiança

O termo faiança é originário de França – “faiance”61 - sendo atribuído à louça fabricada


em Faenza62 (Itália) - importante centro produtor exportador de cerâmica – e pode

60
Portal da Cerâmica – Industria Cerâmica – [em linha/online]. 2012. [Consult. 28 Out. 2017]. Disponível
em WWW: <URL: http://www.ceramica.pt/setor.php>.
61
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, p. 81.
62
PASCUAL, Eva – Cerâmica e Porcelana, p. 14.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

remontar a meados do século XVI com a importação dos produtos cerâmicos de Málaga
e Valência.63 Atualmente, o termo faiança tem equivalência ao termo inglês
«earthenware».64 Faiança refere-se a um grande grupo de produtos cerâmicos de pasta
mais ou menos porosa e, mais frequentemente, branca, recoberta por um revestimento de
vidro com ou sem decoração. Incluem-se neste grupo uma grande parte das louças
utilitárias, das louças de mesa e das cerâmicas decorativas.65 A faiança compreende ainda
outros produtos cerâmicos, tais como azulejos, certos tipos de ladrilho que são muito
densos, mecanicamente muito resistentes, com porosidade média (8-18% de absorção de
água) e revestidos quase sempre por vidrado opaco.66
A faiança é uma louça porosa, cuja cozedura se efetua a temperaturas entre os 500 e os
800 graus, a qual é em seguida submetida ao processo de vitrificação, o que a torna
impermeável. A cor das peças depende, quer da cor da argila, quer dos óxidos metálicos
que se aplicam na fusão da pasta. Conhecida também por “louça branca” a pasta de cor
clara recebe no processo de vitrificação um banho de óxido de chumbo ou óxido de
estanho.67
A faiança pode ter duas designações: faiança fina e faiança dura. A primeira é sempre
opaca, é denominada de pó de pedra, e é constituída por uma pasta seixosa (argila, seixo
e sílex) coberta de um vidrado plumbífero bastante fusível. A faiança fina de pasta branca
tem o seu início com a Fábrica de Sacavém em 1859, a qual teve grande importância para
o desenvolvimento da mesma.68
Por sua vez, a faiança dura, (também denominada de porcelana opaca ou meia porcelana),
difere da primeira por ter já algum caolino na composição da pasta e ácido bórico no
vidrado. Nem uma nem outra são riscáveis pelo aço, mas os seus vidrados, devido à
natureza da composição e às baixas temperaturas a que são cozidas, estalam com o calor.

Embora não se possa precisar com exatidão a altura em que a faiança começou a ser
produzida em Portugal, existem documentos datados da segunda metade do século XVI
que comprovam a existência de louça em Portugal, como refere o excerto abaixo citado:

63
CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc. XX, p. 10.
64
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 387
65
FAGUNDES, Arlindo – Manual prático de introdução à cerâmica, p. 380.
66
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 387
67
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, p. 81.
68
BASTO, João Teodoro Ferreira Pinto – A Cerâmica Portuguesa, p. 19.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

«No livro “Vida do Arcebispo de Braga”, D. Frei Bartolomeu dos


Mártires, Frei Luís de Sousa, seu cronista, conta como o prelado português,
quando jantou com o Papa Pio IV, em 1563, lhe recomendou vivamente que
passasse a usar as “porcelanas de Lisboa” que, sendo feitas de barro, eram
muito mais graciosas e limpas que as faustosas baixelas de metais
preciosos».69

O termo porcelana era indiferentemente usado nesta época para referir tanto a louça da
China como a faiança.
A faiança portuguesa no princípio do século XVII, de um modo geral, procurou sobretudo
reproduzir a apreciada “imagem” da porcelana da China do período de Wan-Li da dinastia
Ming, que conquistou mercado e foi largamente divulgada.
As peças compreendidas entre os anos de 1600 e 1660 apresentam inesperadas
composições geométricas, estilizações florais, representações de animais isolados e
símbolos renascentistas que nada têm a ver com os temas chineses, mas sim com uma
gramática decorativa de características espanholas, italianas ou mesmo do Próximo
Oriente.
Neste período começam a definir-se as principais famílias ornamentais da faiança
seiscentista («malegueira»70, «espirais», «arranhões71», «rendas», «contas» e «barrocas»)
aparecendo – embora raramente – pintura em amarelo, com reforço da decoração de forte
contorno em azul de cobalto.
Em meados do século XVII começam a aparecer desenhos definidos por um contorno
castanho escuro vinoso, que delimita zonas pintadas em tons de azul e, em alguns casos,
também em amarelo (técnica que de algum modo se assemelha ao azulejo).72 É então
frequente a presença, mais ou menos estilizada de «enrolamentos barrocos» e surge um
tipo de louça muito desenhada, com representação exaustiva de pequenas figuras, flora,
fauna, construções e paisagem, de tipo chinês, que vem construir mais uma família
ornamental conhecida por «desenho miúdo».73

69
Excerto retirado de CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc.
XX, p. 11.
70
O termo “malegueira” provém das primeiras faianças, que chegaram com abundância a Portugal vindas
da cidade espanhola de Málaga e caracterizavam-se precisamente por serem todas branquinhas. O nome
Malga deriva desta loiça.
71
O termo “arranhão” corresponde a uma versão estilizada do motivo chinês da folha de artemísia, fazendo
lembrar grandes aranhas, o qual costuma fazer alternância com o motivo de pêssegos.
72
CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc. XX, p. 38.
73
Ibidem.

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Figura 8 - Taça em Faiança datada de 1621 da coleção do Museu Nacional Soares dos Reis

Entre 1660 e 1670 inicia-se na Holanda a produção de faiança que vem substituir a
majólica (que continha algumas influências da faiança portuguesa) e vai buscar os temas
de forma direta e rigorosa à porcelana da China, importada pela florescente Real
Companhia das Índias Holandesas. Nessa altura, desenvolveram-se famosas manufaturas
de faiança em várias cidades de Holanda, sobretudo em Delft.
Cessam completamente as importações da faiança portuguesa, que, entretanto, começam
a conhecer uma certa decadência e a perder qualidade. As peças tornam-se pesadas, o
esmalte mais grosseiro, a pintura menos cuidada, os desenhos mais estereotipados
ganham um sentido muito popular e é nítida a quebra de exigência do mercado
consumidor.74 Este tipo de faiança vai continuar a produzir-se no início do século XVIII.
A proliferação das manufaturas de louça verificada no final do século XVIII veio a
consolidar-se, evoluir e frutificar no decurso do século XIX, transformando este período
no mais rico da cerâmica portuguesa, tanto no que respeita à quantidade como à variedade
da faiança.
O desenvolvimento dos centros industriais, as regalias concedidas pelo Estado, as novas
técnicas, a provocante influência dos produtos estrangeiros (sobretudo de origem inglesa,
francesa, espanhola e oriental), numa palavra do progresso, com todos os seus recursos e
consequências, atingiu plenamente a indústria cerâmica.

74
CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc. XX, p. 40.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

As correntes de moda estabeleceram um percurso estético variado desde o gosto


neoclássico, abrangendo todo o romantismo, até atingirem o movimento «arte nova»,
cujos reflexos marcaram profundamente a faiança portuguesa.
Para além dos aspetos económicos e estéticos também os fenómenos sociais, políticos,
religiosos e a divulgação da faiança revolucionária francesa concorreram para a
concretização desta realidade. Assim, das Invasões Francesas à Independência do Brasil,
da Guerra Civil à extinção das ordens religiosas, da emigração à abolição da escravatura,
das reformas culturais de D. Maria II e D. Fernando, às exposições internacionais, do
«Mapa cor-de-rosa» ao fim da monarquia,75 muitos factos determinantes exerceram,
direta ou indiretamente, forte influência na conceção da cerâmica portuguesa.
Em pleno rococó, a partir das reformas pombalinas do reinado de D. José, foi criada, em
1767, a Real Fábrica de louça do Rato, onde se desenvolveu e aperfeiçoou artisticamente
a indústria da faiança – cujos produtos são hoje apreciados pelos colecionadores de
faianças portuguesas – e, em sua sequência, renovados os centros cerâmicos de Coimbra
e Porto. Os fabricos foram-se multiplicando no final do século XVIII e princípios do
século XIX e acabaram por dar lugar a uma grande produção que foi largamente
consumida no país e exportada para o Brasil, no decurso do século XIX.76
A grande variedade de cerâmica portuguesa do século XIX, é um reflexo das enormes
transformações verificadas no país em resultado da presença de estrangeiros, de uma
guerra civil, de evolução técnica, das correntes de moda e, sobretudo, das profundas
mudanças na forma de vida de uma grande parte da população.77

❖ Grés

O grés destina-se a usos utilitários, decorativos e industriais e a sua constituição varia de


acordo com o seu emprego. Distingue-se dos restantes materiais cerâmicos pela sua
estrutura impermeável, vidrada (ou vitrificada – ver qual delas é) e pela sua opacidade.
Trata-se de uma pasta “fechada”78. O primeiro grés é de origem chinesa, tal como a
porcelana, ainda que provavelmente haja precedido esta. Este material cerâmico não era
esmaltado porque as argilas utilizadas para a sua confeção, para além de terem um brilho

75
CALADO, Rafael Salinas – Faiança Portuguesa: sua evolução até ao início do séc. XX, p. 81.
76
Op. cit., p. 19.
77
Op. cit., p. 109.
78
VITTEL, Claude – Cerámica (Pastas y Vidriados), p. 55.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

natural, adquiriam um tom ainda mais acentuado aquando da sua cozedura em fornos de
lenha79. O grés porcelânico teve origem a partir do século VI,80 e o seu termo tem também
origem francesa. Foi primeiramente produzido e utilizado na China, e as suas
características aproximam-se das da porcelana, faltando-lhe, todavia, uma das mais
apreciadas, que é a translucidez.
Durante a Idade Média edificaram-se na Alemanha pequenas fábricas de grés em
Westerwald, por ser uma região rica em argila refratária. Um pouco mais tarde
apareceram também fábricas em França, nomeadamente em Beauvaisis. No século XV o
grés começou a ser revestido por uma camada salina que facilitava a limpeza dos objetos
e lhe conferiam um certo brilho.

Figura 9 - Prato de cozinha em grés de Fredrika Runeberg

O grés porcelânico caracteriza-se por possuir porosidade fraca (menos 5% de absorção


de água). O termo grés cerâmico equivale ao termo inglês «stoneware» 81 e compreende
produtos tais como certos ladrilhos, certa louça de mesa e de cozinha, louça sanitária,
certa louça artística, tubos de drenagem, entre outros.
O grés é uma pasta cerâmica constituída por argila plástica, associada a areia de quartzo
e cimentada com alguns óxidos e sílica. Para produzir uma cerâmica dura, compacta e

79
Ibidem.
80
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, p. 100.
81
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 388.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

semi-vidrada, é submetida a um processo de cozedura num forno cuja temperatura deve


atingir 1.300 graus. Esta pasta, impermeável, é também designada por “arcósea”.82
A cor da pasta varia entre o branco-cremoso e o marfim rosado, incluindo o bege-
acastanhado. Apresenta um aspeto granuloso e textura áspera devido ao seu conteúdo,
onde se incluem cristais e impurezas. A sua estrutura não é porosa e apresenta-se
parcialmente vidrada.
O grés é uma argila de altas temperaturas que, depois de cozida, se torna resistente,
impermeável e refratária. Entre as suas principais características destacam-se a opacidade,
o peso, a densidade e a fineza da pasta. Quando se parte, produz um som vibrante
característico, menos intenso do que o da porcelana. Muito resistente e duro, não se deixa
riscar pelo aço. O grés é muito utilizado atualmente, pois permite criar objetos decorativos
e de uso comum muito resistentes e duradouros.83

❖ Porcelana

Em todas as casas ricas e nobres em Portugal, e até mesmo na das classes burguesas com
representantes no tráfego das Índias, a baixela da «porcelana da Índia» (mas proveniente
da China) constituía um dos mais valiosos e acariciados elementos do património das
respetivas famílias. O conjunto de todas essas riquezas em porcelanas da China ainda hoje
representa uma das mais importantes parcelas do património artístico português.84
Em Portugal, onde desde há muito se admiravam as porcelanas e o seu uso, pretendia-se
iniciar essa indústria. Faltava, porém, o caolino.

«(…) Trabalhando em descobrir o barro que fosse mais infusível para os


fornos de fundição do metal, e achando alguns que tomaram maior grau de
dureza com a continuação do fogo dos mesmos fornos, me persuadi achar cousa
mais interessante a que se aplicasse de que só ao uso dos mesmos fornos, e com
efeito achei que se poderia fazer e fiz a porcelana».85

82
PASCUAL, Eva – Cerâmica e Porcelana, p. 15.
83
Ibidem.
84
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924, p. 19.
85
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924, p. 20 – Texto do próprio Bartolomeu da Costa, publicado por D. José Pessanha no Arquivo Histórico
Português.

30
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Contudo, como se lê no excerto anterior, não existe referência ao local onde obteve o
caolino, bem como a composição da porcelana que produziu.

O vocábulo porcelana é de origem latina.86 Na Idade Média, dava-se o nome de porcelana


não só à madrepérola, como à substância clara e polida de todas as conchas trabalhadas
pelos ourives e outros artífices, por recordarem, pelo seu brilho nacarado e macieza da
superfície, os pequenos moluscos univalves a que os italianos haviam dado tal
designação.87 Significa não só um género de moluscos, mas também a concreção
calcária,88 brilhante, branca, irisada pela refração da luz, que reveste interiormente a
concha univalve dos moluscos. Por extensão, aplicou-se por vezes a designação de
porcelana aos vasos e outros objetos fabricados dessa matéria; e, por analogia, às louças
esmaltadas que vinham do Oriente e que, pela brancura e translucidez, lembravam o
nácar89, e aos vasos e outras peças trabalhadas em pedras semipreciosas, como, por
exemplo, “a ágata, o jaspe, a calcedónia, entre outros, também semelhantes, pelo seu
aspeto, ao nácar”.90 No século XVII, foi a denominação aplicada à loiça vítrea e
translúcida, à base de caulino, o que, geralmente, se diz ter sido originado pela sua
parecença, em riqueza de colorido, finura da pasta, brilho e transparência.91
Foram, inegavelmente, os portugueses, devido à política de intensificação das relações
comerciais com o Oriente, os introdutores na Europa, no primeiro quartel do século XVI,
da louça por eles denominada porcelana, fabricada, sobretudo na China, onde tal indústria
perdura atualmente.92 Mas foi só no começo do século XVIII que na Europa se iniciou,
com carácter verdadeiramente industrial, o fabrico da porcelana.93

86
PESSANHA, José – A Porcelana em Portugal: Fábrica da Vista Alegre, p. 7.
87
VALENTE, Vasco – Porcelana Artística Portuguesa, p. 13.
88
Ibidem.
89
“Nácar” é uma substância calcária brilhante e rosada da concha de certos moluscos bivalves;
madrepérola.
90
PESSANHA, José – A Porcelana em Portugal: Fábrica da Vista Alegre, p. 7.
91
VALENTE, Vasco – Porcelana Artística Portuguesa, p. 13.
92
VALENTE, Vasco – Porcelana Artística Portuguesa, p. 14.
93
PESSANHA, José – A Porcelana em Portugal: Fábrica da Vista Alegre, p. 14.

31
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 10 - Pote de porcelana Jingdezhen com vidrado em tons de vermelho e azul, de 1736 a 1796

A porcelana terá tido o seu início provavelmente no século IX quando os ceramistas


chineses conseguiram vitrificar as superfícies exteriores e interiores das suas peças,
juntando o caolino que é uma decomposição de feldspato de granito a uma substância
semelhante ao quartzo branco que, depois de fundido, criava nas peças um aspeto
translúcido. A porcelana chinesa teria começado a ser introduzida, em quantidades
razoáveis, na Europa, entre 1516 e 1524 por comerciantes e navegadores portugueses, de
regresso das suas viagens ao Oriente. Mas existem indícios de que as peças de porcelana
chinesa haviam chegado ao Médio Oriente, sobretudo à Pérsia e ao Egipto, que se
vendiam nos mercados já no princípio do século XVI. Na Europa, as primeiras tentativas
de produção de porcelana, onde se pretendia imitar a qualidade das peças oriundas da
China e descobrir o segredo da sua elevada qualidade, realizaram-se no séc. XVII, em
França e na Alemanha, mas só atingiram níveis aceitáveis a partir do início do séc. XVIII
em Sèvres (França) e Saxe (Alemanha).94
Na Europa, a louça em porcelana era praticamente desconhecida, e só em meados do
século XVI é que os portugueses a divulgariam, trazendo da China importantes
quantidades.95

94
DOMINGUES, Celestino M. – Dicionário de Cerâmica: Porcelana, meia porcelana, faiança, majólica,
meia majólica, grés, terracota, cerâmica elaborada e rudimentar, pp. 155 e 156.
95
LOPES, Carlos da Silva – Estudos de História da Cerâmica, p. 15.

32
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Em Portugal, as primeiras tentativas de fabrico de porcelana são setecentistas, cabendo


ao oficial de Engenharia Bartolomeu da Costa a produção da primeira peça, hoje
raríssima, com a indicação «LISBOA 1773», de um lado, e do outro uma legenda
«DESCOBERTO PELO TENENTE-CORONEL BARTOLOMEU DA COSTA».
Mas a produção industrial de louça de porcelana só principiou em Portugal no segundo
quartel do século XIX. Essa produção deve-se à fábrica da Vista Alegre, estabelecida em
1827 por José Ferreira Pinto Basto, “homem de vistas largas e belo espírito de
iniciativa”96. Depois de algumas experiências feitas em Lisboa, Pinto Basto criou uma
fábrica destinada à produção de vidraria e louça de porcelana e entre 1824 e 1827, este
estabelecimento industrial procedeu a cuidadosas experiências. A primeira fornada de
porcelana, resultante destas tentativas, saiu em 1827.97
O fabrico de porcelana exigia uma argila altamente refratária capaz de suportar altas
temperaturas e entre as matérias-primas argilosas disponíveis só o caolino possui essa
característica. Descoberta essa matéria-prima, fabricar porcelana estaria ao alcance de
quem a possuísse em quantidade suficiente para suportar uma indústria.98
É possível afirmar que no final do século XVIII o fabrico da porcelana em Portugal não
constituía segredo nenhum, mas que a criação desta indústria no país ainda se encontrava
longe do horizonte.

Na composição da porcelana participam três matérias primas principais: caulino, quartzo


e feldspato, cujas percentagens relativas, bem como a temperatura de queima, determinam
a classificação da porcelana. Quando a porcelana resulta da queima entre 1380-1460ºC é
denominada «dura» e quando resulta da queima entre 1170-1270ºC é denominada
«mole».99 Além destas mencionadas, o tipo de porcelana «boné china», merece também
particular referência, pois é composta por caolino e cinzas de ossos. As cinzas de ossos
que a indústria cerâmica utiliza provêm de ossos de gado bovino devidamente limpos e
calcinados a 1000ºC.100 A porcelana «boné china» foi concebida e produzida em
Inglaterra em meados do séc. XVIII. A formação dos respetivos corpos cerâmicos requer
cuidados particulares por possuírem pouca plasticidade e fraca resistência mecânica em

96
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924, p. 14.
97
LOPES, Carlos da Silva – Estudos de História da Cerâmica, p. 16.
98
FRASCO, Alberto Faria – Vista Alegre: a arte na porcelana, p. 12.
99
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 377.
100
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 378.

33
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

verde, mas os corpos cerâmicos queimados são muito brancos, fortes, ressonantes e
translúcidos.
Outros componentes menores, tais como: talco, sienito nefelínico, apatite, calcite,
dolomite e barite que atuam como fluxos e também alumina, podem participar nas
formulações de porcelana. Para melhorar a plasticidade do corpo cerâmico são
normalmente utilizadas pequenas quantidades de argila com baixo teor em ferro. Corpos
cerâmicos mais brancos e translúcidos, embora menos plásticos e com menor resistência
mecânica quando verdes, exigem pouca, mas boa ou nenhuma argila. A porcelana dura
não utiliza esta última.
O quartzo e o feldspato que entram nas pastas podem ser substituídos por arcose (rocha
sedimentar quartzo-feldspática quando esta tiver baixos teores em impurezas corantes. O
quartzo pode ser ainda substituído por quartzito.101

A composição da porcelana depende de certas propriedades e temperatura de cozedura,


dividindo-se, deste modo, em porcelana mole e dura. Podem-se ainda denominar por
brandas artificiais ou naturais, ambas vitrificadas e translúcidas.102
A porcelana branda artificial, ou a antiga porcelana francesa de Sèvres, aproxima-se mais
dos vidros opacos que dos produtos cerâmicos. Foi descoberta antes da porcelana dura,
quando se desejava imitar a porcelana chinesa. É uma espécie de vidro constituído por
soda, cal, e alguma argila; o seu vidrado é plumbífero e é aplicado por aspersão, visto que
o biscoito, sendo vitrificado, não o pode receber por imersão. A fusibilidade dos seus
materiais exige que a cozedura não seja feita a uma temperatura alta, resultando, portanto,
uma porcelana branda, tanto na pasta como no vidrado. Este é, pois, riscável pelo aço e é
também quebradiço.
Por sua vez, a porcelana branda natural, ou inglesa, é um meio termo entre a anterior e a
porcelana dura. Na sua pasta entra já o caolino, composto também por fosfato de cal (pó-
de-ossos) e sílex. É, deste modo, uma pasta fosfatada muito plástica e fácil de trabalhar.
O vidrado é também plumbífero. Esta porcelana é cozida a uma temperatura mais alta,
comparativamente com a porcelana branda, ainda que riscável pela lima. Não chega a
adquirir a translucidez da porcelana artificial e da porcelana dura, porque nem a natureza

101
Ibidem.
102
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924, p. 14.

34
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

da sua pasta, nem a temperatura de fusão do seu vidro, permitem alcançar uma vitrificação
bastante completa.
A porcelana mole coze a temperaturas inferiores, é pouco resistente e ao quebrar tem um
aspeto granuloso. É menos rica em hidróxido de alumínio e divide-se em “porcelana frita”
(muito semelhante ao vidro), “porcelana de osso” (porque a pasta é misturada com cinza
de ossos) e de “Seger” (cozida a fogo lento). A porcelana mole não desenvolve tão alta
resistência mecânica como a porcelana dura.
Já a porcelana dura, por sua vez, coze a altas temperaturas, tem sonoridade, é resistente e
quando parte tem aparência pétrea. O vocábulo “porcelana dura”, muito mais apreciada
que a anterior, julga-se ter sido usado pela primeira vez por Marco Polo, e provém
certamente da designação que na Europa se dava a uma espécie de concha convexa, muito
fina e transparente, semelhante ao lombo de um porquinho (porcello, em língua italiana,
a qual fora usada também como moeda). A porcelana dura é constituída por uma pasta
tendo por base caolino e feldspato. O seu vidro é também feldspático, não contém estanho
ou chumbo e é ainda duro e pouco fusível. A porcelana é um produto cerâmico elaborado
à base de caulino, feldspato e quartzo, o qual, depois de cozido, é branco, vitrificado e
sonoro. As porcelanas duras são ricas em hidróxido de alumínio e contêm uma pequena
quantidade de outros produtos usados no processo de fusão. A porcelana dura, quando
bem cozida, deverá apresentar-se bem vitrificada, muito translúcida e com o seu vidrado
duro, transparente, brilhante e resistente às variações de calor,103 sendo, deste modo, a
porcelana por excelência. Apenas desta se podem obter objetos finos, delicados e com
pinturas ricas, ora sobre o branco da louça, ora sobre fundos corados a grande fogo, que
a transparência do vidro deixa admirar. Mas se os produtos de porcelana dura têm estas
características, é natural que a sua indústria seja muito maior. A composição e a
preparação da pasta e do vidro precisam de ser especiais, e mudam para cada região
conforme a natureza dos materiais impregnados e das propriedades determinadas pelas
suas análises químicas. A manufatura das peças e o seu acabamento requerem uma
manipulação mais cuidada e mais difícil. “A porcelana é a suprema arte da cerâmica”.104
A sua difícil técnica, a finura da sua pasta branca e transparente, a delicadeza das suas
formas e o brilho das suas pinturas, constituem o apanágio dessa produção.

103
BASTO, João Theodoro Ferreira Pinto – A Fábrica da Vista Alegre: o livro do seu centenário, 1824-
1924. [S.I.], 1924, p. 15.
104
Op. cit., p. 19 e 20.

35
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

É por todas estas razões, e ainda pela raridade do caolino, que a indústria da porcelana
não está generalizada e os seus centros de produção não se multiplicam como os das
outras cerâmicas. Pelo contrário, encontram-se em regiões determinadas, onde adquiriram
as suas tradições e a sua história, após o sucesso das tentativas e esforços necessários para
conseguir o seu funcionamento e consolidação.105

A pasta de porcelana é muito branca e homogénea. Apresenta um aspeto vítreo


característico, é muito lisa e densa. O seu aspeto é completamente diferente do grés ou da
faiança. A porcelana apresenta uma série de características específicas, que permitem a
sua rápida identificação. Tal como outros produtos cerâmicos, é um bom material
isolante,106 de um branco intenso, fina, de aspeto denso, liso e vidrado e apresenta um
som vibrante. Se a sua espessura não ultrapassar os três milímetros, torna-se translúcida.
A porcelana tem como propriedades a translucidez, que caracteriza e valoriza a porcelana
pela transmissão de luz. Esta translucidez depende muito da estrutura da porcelana. Daí
resulta que a porcelana adquire grande parte da sua translucidez durante a queima à
medida que os poros diminuem de tamanho, e a fase vítrea formada à custa da dissolução
dos componentes cristalinos torna menos nítidas as superfícies entre grãos.107
A porcelana também depende da cor, isto é, da pureza das matérias primas e da atmosfera
em que se efetua o processo de queima, daí que estas características e condições devem
ser selecionadas e controladas cuidadosamente.
A expansão-contração térmica e a resistência ao choque térmico e mecânico são outras
das propriedades da porcelana. As porcelanas à base de altos teores em caulino e baixos
teores em quartzo são as que evidenciam melhor resistência mecânica. Tensões estruturais
resultantes da diferente expansão térmica do quartzo e da fase vítrea são responsáveis por
problemas dependentes da resistência mecânica. Na porcelana eletrotécnica o quartzo
pode ser substituído por alumina.
A porcelana é, talvez, a “menina dos olhos da cerâmica”: nobre, fina, mas densa e
impermeável, aproximando-se das características do próprio vidro. Para ser trabalhável,
são necessários componentes de natureza plástica, que devem ser cuidadosamente
adicionados de forma a não que comprometam a cor branca da porcelana, que lhe é tão
própria. Embora se encontrem peças decorativas em porcelana, a louça de mesa é a maior

105
Op. cit., p. 16.
106
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 386.
107
GOMES, Celso Figueiredo – Argilas – O que são e para que servem, p. 384.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

força desta pasta já que permite criar serviços de mesa impermeáveis, de grande
durabilidade e sofisticação.

2.4.2. Aplicações de Porcelana

A indústria cerâmica nacional tem conseguido expandir-se através dos ensinamentos do


passado, quer ao nível do conhecimento dos materiais e do modo de os trabalhar, quer da
valorização estética e criativa de elementos chave da identidade portuguesa com um
projeto de futuro que avalia quais são as tendências contemporâneas internacionais, seja
do ponto de vista dos requisitos funcionais e de conforto, seja em relação às evoluções do
gosto e movimentos estéticos.
Ao nível da porcelana, são cada vez mais as aplicações onde este material tão resistente
se insere, seja na louça sanitária, seja nos revestimentos e pavimentos dos edifícios, ou
ainda em equipamentos tecnológicos, a naturalidade da presença da porcelana torna-a
quase omissa.
A função e as especificidades de cada produto porcelânico permitem a sua caracterização
num dos subsetores da cerâmica, tais como a cerâmica estrutural, a cerâmica de
pavimentos e revestimentos, a cerâmica de louça sanitária, a cerâmica utilitária e
decorativa e as cerâmicas especiais. Neste capítulo, serão abordadas as diferentes
aplicações cerâmicas, ao nível dos equipamentos e revestimentos.

2.4.2.1. Pavimentos e Revestimentos

O pavimento e revestimento de um determinado local é um dos aspetos essenciais para o


bom funcionamento desse mesmo espaço, seja tanto a nível estético, como a nível formal
e técnico. São aplicados tanto em espaços domésticos como em contextos industriais e
profissionais, seja para espaços exteriores como interiores. Os pavimentos são aplicados
no chão, e os revestimentos podem ser colocados tanto no chão como nas fachadas,
paredes interiores e tetos.

37
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

“O pavimento é o suporte físico do tráfego urbano e como tal tem que ser
pensado como um sistema que deve ser resistente”.108

Os revestimentos cerâmicos podem assumir essencialmente uma das seguintes formas:


▪ Revestimentos aderentes tradicionais, onde os ladrilhos são assentes diretamente
nos suportes com argamassas espessas tradicionais;
▪ Revestimentos aderentes colados, em que os ladrilhos são colados diretamente
nos suportes com argamassas-colas delgadas (não-tradicionais), obtidas a partir
de produtos preparados e pré-doseados em fábrica;
▪ Revestimentos independentes do suporte, nos quais os ladrilhos são fixados
mecanicamente ao suporte por intermédio de uma estrutura de madeira ou metal,
tornando o revestimento independente do suporte.

Referências no mundo cerâmico, marcas como a Revigrés, Cinca, Recer, Gresart,


Margres, ou Pavigrés, são especializadas na produção de revestimentos e pavimentos
cerâmicos, destacando-se pela utilização das mais avançadas técnicas de produção,
aliadas à qualidade e versatilidade dos seus designs, e que estando presentes há várias
gerações no mercado nacional, estabelecem novas tendências. Existem também outras
marcas como a Kerion Ceramics, Dominó, Aleluia, Primus Vitoria, Grestejo, Ceragni ou
Topcer, que, apesar de não terem a mesma projeção, promovem os seus produtos de um
modo diferenciador, oferecendo coleções versáteis, de escolha extensa e diversificada.

Neste ramo, a REVIGRÉS é uma das marcas com maior destaque em Portugal.
Fundada em 1977, e com sede em Águeda, a Revigrés produz pavimentos e revestimentos
em grés porcelânico (porcelanato), devido às suas características: porosidade quase
inexistente, elevada resistência às manchas e a químicos, elevada resistência ao desgaste,
elevada resistência mecânica, resistência ao fogo, fácil limpeza e manutenção.109 O
porcelanato da Revigrés é especialmente indicado para áreas públicas e de maior tráfego.
A Revigrés é também uma referência internacional. Nos vários continentes, tem
contribuído para obras emblemáticas. Em Portugal, destaca-se o Estádio do Dragão, no

AA.VV. – Autenticidade: considerações sobre a condição urbana contemporânea, p. 109.


108

Revigres – Sobre nós.[em linha/online]. (sem data). [Consult. 15 Mai. 2019]. Disponível em WWW:
109

<URL: https://revigres.pt/sobre-nos/>.

38
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Porto, e outros locais como centros comerciais, hospitais, escolas, restaurantes e


empreendimentos residenciais.110 A Basílica La Sagrada Família, em Barcelona, a obra
maior de Gaudí, apresenta também uma coleção cromática constituída por 40 cores em
grés porcelânico, tendo sidas aplicadas no medalhão central as cores turquesa, cobalto,
ice, platina, superbranco, opala, limão e azul. A marca desenvolveu, ainda, 16 novas cores
em exclusivo, em peças que já foram aplicadas em quatro dos dezasseis pináculos
alusivos às quatro estações do ano.111

Figura 11 - Medalhão Central e Pináculo da Basílica La Sagrada Família onde estão aplicados ladrilhos da
Revigrés

O Harrods, em Inglaterra, os aeroportos internacionais na Rússia e na Polónia; certas


estações de metro em Espanha, na Arábia Saudita, na Holanda e em Inglaterra; hospitais
no Kuwait e Inglaterra; empreendimentos turísticos no Reino Unido, França e EUA;

110
Revigres – Design e Inovação. [em linha/online]. (sem data). [Consult. 12 Mai. 2019]. Disponível em
WWW: <URL: https://revigres.pt/wp-content/uploads/2018/01/Press_Kit_Revigres.pdf >.
111
Directório de Materiais – Colecção Cromátrica Revigrés na Basílica La Sagrada Família em Barcelona.
[em linha/online].2012. [Consult. 15 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL: http://www.1-
1.pt/101000/1/000098/index.htm>.

39
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

centros comerciais na Eslováquia, Irlanda e Rússia, apresentam também pavimentos e


revestimentos Revigrés.112
Como produtos inovadores, a Revigrés lançou a linha Revigrés Light a qual ganhou o
Prémio Alfa de Oro, pois renovou um material com metade do esforço, no sentido em que
por ter metade da espessura e metade do peso, o material passou a tornar-se adequado
para fachadas ventiladas, paredes de estrutura ligeira, para além de que permite a
renovação frequente de espaços.

Figura 12 – Revestimento Revisilent da Revigrés

O produto Revisilent foi outro que ganhou o Prémio Inovação e Tectónica, por se
caracterizar no revestimento que é constituído por cortiça, e que por isso, permite o bom
isolamento térmico e acústico, reduz o tempo de obra e o custo de aplicação.

A marca CINCA – Companhia Industrial de Cerâmica, S.A., - empresa sediada em Fiães,


no concelho de Santa Maria da Feira, iniciou a sua atividade na produção de mosaicos

112
Directório de Materiais – Colecção Cromátrica Revigrés na Basílica La Sagrada Família em Barcelona.
[em linha/online].2012. [Consult. 15 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL: http://www.1-
1.pt/101000/1/000098/index.htm>.

40
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

porcelânicos com medidas de 2,5x2,5cm, numa vasta palete de tons, em resposta às


necessidades de arquitetos, construtores e consumidores em Portugal.113
Produz pavimentos e revestimentos porcelânicos para interiores e exteriores para gamas
residenciais e técnicas, os quais apresentam vários acabamentos, desde polidos e
amaciados aos antiderrapantes. O sentido de inovação encontra-se no desejo constante de
criar azulejos com novas cores e combinações de produtos sem nunca comprometer
padrões de exigência.

Figura 13- Peças Especiais Cinca

Para além dos mosaicos com medidas standard, os quais tornam a produção muito mais
rentável, a Cinca oferece também peças especiais para a satisfação da complexidade e
singularidade de cada projeto.

A RECER, empresa fundada em 1977, pertence ao grupo Recer SGPS, o qual gere
participações em áreas tão diferenciadas como a metalomecânica, design de
projetos, cerâmica de estrutura e de acabamento, automação e robotização industrial,
sistemas de cogeração, artes gráficas e comunicação.114Através do serviço “Produtos
Especiais”, tentam ir ao encontro das exigências de equipas externas, como arquitetos e
engenheiros, apresentando as soluções cerâmicas tecnicamente mais avançadas.
Exporta para cerca de 50 países, e são várias as referências da Recer. O Hospital da Horta,
nos Açores, o Axis Porto Business & Spa Hotel no Porto, os Painéis do Viaduto de Sete

113
Cinca – Style in Tiles. [em linha/online]. 2017. [Consult. 05 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.cinca.pt/index.php?id=5>.
114
Recer – [em linha/online]. 2017. [Consult. 05 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.recer.pt/pt/recer/>.

41
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Rios e o Saraya Residential Tower em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos, são
alguns exemplos tanto nacionais como internacionais onde a Recer está inserida.

Figura 14 - Painéis do Viaduto de Sete Rios – Recer

A Recer recebeu o Prémio Cinco Estrelas 2019, concurso no qual estiveram em avaliação
774 marcas. No universo de diversas marcas portuguesas e espanholas deste setor, a
preferência recaiu sobre a série ICE, coleção inspirada na beleza eterna dos glaciares:
simples, puro e minimal, como o gelo. O pavimento surge na cor branca, com ligeiras
nuances de brilho, características do gelo (também disponível nas cores bege, cinza e
preto).115

Figura 15 - Série ICE – Recer

A KERION CERAMICS é uma das marcas que se destaca pela utilização de tecnologias
sustentáveis para a criação de soluções inovadoras de grés porcelânico esmaltado.

115
Recer - [em linha/online]. 2017. [Consult. 05 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.recer.pt/pt/noticias/recer-recebeu-premio-cinco-estrelas-2019/>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Esta marca, sediada em Aveiro, procura redefinir o carácter dos produtos artesanais, numa
junção com a alta tecnologia, criando produtos exclusivos e distintos, em coleções que
combinam o detalhe do passado com uma expressão contemporânea.
Os produtos KERION incluem a gama MOSAICS, de formatos e texturas distintas, com
acabamentos metálicos de alta resistência para ambientes interiores e exteriores, e a gama
NEOCIM, uma nova abordagem tecnológica aos tradicionais azulejos hidráulicos, de
tonalidades, padrões e carácter singular.116
As preocupações relacionadas com as questões ambientais ocupam cada vez mais um
lugar de destaque nas atividades praticadas pela Kerion Ceramics, e neste sentido,
procuram adotar uma posição favorável às exigências dos consumidores, adotando
estratégias produtivas voltadas para os aspetos ecológicos, aproveitando os recursos,
utilizando tecnologia sustentável e evitando desperdícios, como uma forma de
competitividade.117
Os mosaicos Neocim com aspeto vintage, são antiderrapantes, diminuindo o risco de
acidentes, são fáceis de instalar, podem ser aplicados em diversos ambientes interiores e
exteriores e são muito resistentes a grandes amplitudes térmicas.

Figuras 16 e 17 – Neocim Décor Cubique Caramel – Kerion Ceramics e Neocim Terrassee Decor T02- Kerion
Ceramics

116
Kerion – Kerion. [em linha/online]. (sem data). [Consult. 05 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
https://kerion.pt/pt/kerion/>.
117
Kerion – Produtos. [em linha/online]. (sem data). [Consult. 05 Mai. 2019]. Disponível em WWW:
<URL: https://kerion.pt /pt/green/>.

43
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2.4.2.2. Equipamentos Sanitários

Foi a partir da evolução das louças sanitárias que as casas-de-banho passaram a ser
planeadas e organizadas de outro modo. Dos antigos jarros e bacias vieram as cubas. E
no lugar das latrinas, surgiram as bacias sanitárias.
A louça sanitária é um produto cerâmico que tem por fim atender as necessidades
fisiológicas do ser humano. As louças sanitárias são produzidas em material cerâmico,
nomeadamente em grés ou porcelana, pois estes, para além de apresentarem um custo
viável, são também muito higiénicos.

A massa cerâmica a partir da qual são feitas as louças sanitárias são compostas por caulim,
argila, feldspato e quartzo. Primeiro, a argila e o caulim são dispersos em água e
peneirados. Seguidamente, adicionam-se o feldspato e o quartzo, que passam por um
processo de moagem a seco.118
A louça sanitária é feita em grés e porcelana e Portugal pode orgulhar-se por ser o terceiro
país mais exportador de louça sanitária a nível internacional.
Em Portugal, as marcas de referência internacional são a Sanitana, a Sanindusa, e a Roca.

A SANITANA é uma empresa que se situa em Anadia e se dedica à produção de artigos


sanitários. Fundada em 1979, foi a primeira empresa cerâmica portuguesa dedicada
exclusivamente ao fabrico de louça sanitária.
A marca Sanitana ganhou existência assim que a empresa começou a fabricar e a
comercializar produtos, estando presente no mercado desde 1981.
Comercializa uma vasta gama de produtos, que se enquadram nas seguintes categorias:
séries de banho, lavatórios, móveis, urinóis, torneiras, banheiras simples e de
hidromassagem, cabines de hidromassagem, colunas de hidromassagem, bases de
chuveiro e lava-louças.119

118
Equipa de Obra – Formação da massa cerâmica. [em linha/online]. (sem data). [Consult. 28 Out. 2017].
Disponível em WWW: <URL: http://equipedeobra.pini.com.br/construcao-reforma/34/loucas-sanitarias-
producao-de-lavatorios-e-vasos-sanitarios-passa-211873-1.aspx>.
119
Sanitana – Apresentação. [em linha/online]. 2019. [Consult. 28 Mai. 2019]. Disponível em WWW:
<URL: https://www.sanitana.com/pt/empresa_apresentacao.php>.

44
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 18 - Produção de Peças Sanitárias – Sanitana

Uma das suas principais gamas é a BE YOU, na qual existem cinco linhas – “Be Calm”,
“Be Happy”, “Be Free”, “Be Chic” e “Be Wild”, cada uma inspirada no estilo de vida de
uma determinada celebridade – Anaïs Nin (escritora diarista), George Sand (novelista),
Ralph Waldo Emerson (filósofo), Coco Chanel (designer de moda), e Ayn Rand (escritora
e filósofa), respetivamente. Esta gama é única e minimalista, deixando espaço para o
cliente arriscar e transformar o espaço como pretender.

Figura 19 - Linha Be Chic da Gama Be You – Sanitana

45
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Por sua vez, a SANINDUSA, um dos maiores grupos sanitários da Europa, que exporta
70% das vendas para 85 países, a partir das cinco fábricas em Portugal situadas nas
regiões de Aveiro e Cantanhede, produz todas as peças para casa de banho. Das cinco
fábricas, uma produz torneiras e acessórios, outra banheiras e bases de chuveiro em
acrílico e três em cerâmica.
A fábrica de sanitários de Cantanhede (Tocha) representou um investimento de 30
milhões de euros em tecnologia de ponta, permitindo “uma qualidade superior,
nomeadamente na uniformização da dimensão das peãs, custo de mão-de-obra mais
reduzidos e uma área significativamente menor comparativamente à da tecnologia
convencional.”120

A Sanindusa recebeu várias distinções que contribuíram para a notoriedade e divulgação


da marca a nível nacional, como o “Good Design Award” e o “Design Plus Award” em
2005 e o iF Design Award em 2016, pela diferenciação e inovação nas linhas dos
produtos. A linha de sanitários “WCA”, desenhada pelo arquiteto Carvalho Araújo, que
obteve os prémios “Design Plus Award” na Alemanha e o “Good Design Award” em
Chicago, em 200,5 está presente em várias obras de referência, desde vários e distinto
hotéis - Hotel Azor nos Açores, De Lemos Ghesthouse, em Viseu, e Hoteis Pestana, Vila
Galé e Star Inn121 – em habitações, escolas, edifícios de desporto e lazer e outros locais
internacionais.

120
Jornal de Negócios – Sanindusa exporta 70% das vendas para 85 países. [em linha/online]. 2019.
[Consult. 30 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL: https://www.jornaldenegocios.pt/negocios-em-
rede/e-para-exportar/detalhe/sanindusa-exporta-70-das-vendas-para-85-paises>.
121
Sanindusa – Utilidades. [em linha/online]. 2015. [Consult. 30 Mai. 2019]. Disponível em WWW:
<URL: https://www.sanindusa.pt/index.php?id=23&a=5>.

46
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 20 - Linha de sanitários WCA de Carvalho Araújo para a Sanindusa

Até 2022, um dos principais objetivos da empresa é aumentar a quota de exportação para
90% das vendas, mantendo a aposta num "design" inovador. A Sanindusa está a
desenvolver produtos específicos no segmento de cozinha para o mercado dos Estados
Unidos como lava-louças em cerâmica.122
A empresa está também focada num novo projeto com o nome de ‘washlet’. “Além do
conforto superior da sanita, o tanque será multifuncional. A sanita poderá ser utilizada
como bidé, programada pelo utilizador e será integrada num sistema de recuperação de
urinas que, posteriormente, poderão ser utilizadas noutras indústrias.”123

A ROCA é outra marca de referência internacional do setor das indústrias sanitárias.


Começou em Barcelona, Espanha, por volta de 1929 e em 1972, expandiu-se para
Portugal, criando-se a Roca Portugal, Lda., que se dedicou à importação de produtos de
aquecimento e à comercialização de banheiras em ferro fundido.
“Em 1986, iniciou-se na comercialização de artigos sanitários, e, com a aquisição da
fábrica da Madalena, em Leiria, a empresa vê todo o seu potencial comercial aumentar.
A aquisição desta unidade fabril permitiu uma maior e melhor produção, registando-se
200 mil peças por ano.”124

122
Jornal de Negócios – Sanindusa exporta 70% das vendas para 85 países. [em linha/online]. 2019.
[Consult. 30 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL: https://www.jornaldenegocios.pt/negocios-em-
rede/e-para-exportar/detalhe/sanindusa-exporta-70-das-vendas-para-85-paises>.
123
Ibidem.
124
Roca – A Roca [em linha/online] : A Roca em Portugal. 2019. [Consult. 02 Jun. 2019]. Disponível em
WWW: <URL: http://www.roca.pt/a-nossa-empresa/sobre-nos/roca-em-portugal>.

47
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 21 - Linha Inspira - Roca

A Roca dá prioridade às novas tecnologias e privilegia a inovação, criando produtos com


qualidade que oferecem conforto e robustez. É detentora de vários prémios de
reconhecimento pelas realizações nas áreas do design, sustentabilidade e inovação.
O seu mais recente prémio no ramo cerâmico foi o “German Design Award Winner” em
2018, com a coleção Inspira, na qual as sanitas, tanto pelo design moderno e elegante,
como pela tecnologia Rimless, nas versões suspensas, a qual permite uma limpeza mais
fácil e uma melhor higiene. As sanitas estão também disponíveis com a tecnologia in-
Wash, uma smart toillet com funções de limpeza anal e perianal. Inclui ainda tanque,
tampo e assento com função de lavagem e secagem.

Figura 22 - Tecnologia “In Wash” da Linha Inspira - Roca

48
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

É necessário salientar um outro exemplo entre duas empresas distintas que criaram um
produto absolutamente inovador no ramo da indústria sanitária. Uma ligada ao sector dos
autoclismos e outra à indústria de porcelana utilitária e decorativa, dois ramos distintos,
sendo estas a OLI125 – Empresa sedeada em Aveiro que reclama ser a maior produtora de
autoclismos da Europa do Sul, exportando 80% da produção para 80 países dos cinco
continentes – e a Vista Alegre, respetivamente. Numa parceria, receberam um prémio
internacional de design, desafiando os limites do design, da sustentabilidade e da higiene
no espaço de banho, oferecendo ao mercado uma solução com valor, ao nível da estética
e do desenvolvimento sustentável.
A “Moon Black”, é uma placa de comando de autoclismos interiores desenhada pela Oli
e produzida pela Vista Alegre, distinguida pelo “Iconic Awards 2019”.
Para além de um design inovador, que a torna na primeira placa em cerâmica do mercado,
destaca-se por ser uma solução autossustentável com tecnologia “Hydroboost” e
acionamento “no touch”. Desta forma, “a ativação da descarga da água do autoclismo
dispensa uma fonte de energia elétrica, ou de pilhas, sendo realizada por aproximação,
isto é, sem necessidade de toque, graças à utilização de sensores capacitivos”. 126

Figura 23 – Moon Black - Produto inovador e vencedor de pareceria entre a Oli e a Vista Alegre

125
Através da utilização de tecnologia patenteada e de elevados padrões de qualidade na produção, a OLI
é reconhecida por estudar constantemente novas e melhores soluções que permitem um maior acesso do
espaço de banho a pessoas com mobilidade reduzida.
126
O Jornal Económico – OLI e Vista Alegre ganham prémio internacional de “design” – [em linha/online].
2019. [Consult. 05 Jun. 2019]. Disponível em WWW: <URL: https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/oli-
e-vista-alegre-ganham-premio-internacional-de-design-413089>.

49
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2.4.2.3. Equipamentos Tecnológicos

A cerâmica industrial desempenha um papel fundamental na tecnologia atual, a qual


abrange todos os produtos feitos a partir de materiais inorgânicos, não metálicos, com
aplicações industriais ou técnicas. O termo “cerâmica industrial” também se refere à
ciência e à tecnologia de desenvolvimento e fabrico desses produtos. A cerâmica
industrial pode ser considerada como um grande grupo de materiais cujas aplicações não
são especializadas, dos quais estão geralmente excluídos os vidros, os esmaltes, e os
materiais de construção e refratários. As propriedades da cerâmica industrial derivam de
todos os objetos de barro ornamentais ou de ferramentas que são cozidos em altas
temperaturas.
A utilização da cerâmica na tecnologia industrial começou no início do século XIX, a
partir do desenvolvimento de porcelanas para isolamentos elétricos de alta tensão. A partir
desse momento, uma vasta gama de novos materiais com propriedades específicas para o
ramo da cerâmica industrial teve uma demanda crescente, a qual passou a adquirir
propriedades diferentes que determinam o alcance e a extensão da sua utilização:
❖ Propriedades Químicas – a grande maioria das cerâmicas industriais são
constituídas por metais e semimetais, e os componentes primários mais comuns
são os óxidos, como os nitretos, carbonetos, e compostos, os quais contêm mais
do que um metal. Outro material que pode ser considerado como cerâmica são os
elementos silício e carbono em forma de diamante e grafite. Em geral, as
cerâmicas são mais resistentes à oxidação e à corrosão do que o plástico e os
metais.

❖ Propriedades Mecânicas – a maioria das cerâmicas industriais são fortes, isto é,


possuem maior força e rigidez em situações de pressão ou flexão. A maior
resistência do material cerâmico policristalino é à base de dióxido de zircónio.

❖ Propriedades Físicas – as cerâmicas industriais são compostas por metais não-


leves (oxigênio, carbono ou nitrogênio) ou metais e semimetais. Em geral, as
cerâmicas são suprimentos industriais que apresentam baixa densidade em
comparação com os metais. Muitas cerâmicas são também muito rígidas e
resistem ao desgaste e à abrasão. O material mais duro conhecido é o diamante,
seguido do nitreto de boro na forma de cristais cúbicos.

50
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

❖ Propriedades Térmicas – A cerâmica industrial apresenta um ponto de fusão


bastante alto. Mantém a resistência à deformação mesmo sob temperaturas mais
elevadas.

❖ Propriedades Elétricas – o material cerâmico apresenta uma ampla condutividade


elétrica. Por exemplo, o óxido de alumínio é um isolante muito bom, já o
carboneto de silício é um semicondutor à temperatura ambiente. Esta pode ser a
razão pela qual as porcelanas não podem ser utilizadas como isoladores de altas
temperaturas.

❖ Propriedades Magnéticas – os materiais cerâmicos que contêm óxido de ferro,


podem ter propriedades magnéticas semelhantes às dos materiais magnéticos que
contêm ferro, níquel e cobalto. Ao contrário dos metais, o material cerâmico pode
ser produzido com alta resistência elétrica e pode ser usado em altas frequências,
sem uma perda considerável de propriedades.

❖ Propriedades Óticas – as características óticas da cerâmica industrial dependem


tanto do fator intrínseco (determinação da cor) e extrínsecos (que regem a
transparência). A maioria dos óxidos de um único cristal transmite algumas luzes
visíveis; o cristal semicondutor pode aparecer completamente preto. Contudo, a
transparência é determinada pela presença de dispersão de luz.

Apesar do facto de a cerâmica ser utilizada há vários séculos, os designers estão


continuamente à procura de novas e interessantes formas de trabalhar e aplicar este
material. As suas propriedades isolantes permitem que seja utilizado tanto em alvenaria,
como em produtos utilitários e decorativos. Algumas das tecnologias de tratamento de
águas mais avançadas do mundo envolvem a utilização de produtos ou materiais
cerâmicos.127 Projetos cerâmicos de filtragem de água promovem a qualidade da água
portável, onde a sua utilização tem sido implementada.
Por outro lado, os materiais cerâmicos são também empregues na área aeroespacial.
Justamente por serem sintéticos, os materiais cerâmicos podem apresentar mais

127
LAUGHLIN, Philip Howes and Zoe – Material Matters: New materials in design, p. 111.

51
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

características controladas pelos cientistas, tornando-os extremamente versáteis para os


mais variados tipos de aplicações tecnológicas de ponta:
❖ Aplicações Elétricas – Ao nível dos sensores, antenas e resistências que podem
ser encontrados em aviões, e que estão cada vez mais aperfeiçoados; A única
aeronave supersónica do mundo selecionou uma vitrocerâmica (MACOR), uma
vez que era necessário um material leve e eletronicamente isolante para o sistema
de controlo do motor.

❖ Aplicações Estruturais – As cerâmicas são mais leves do que a maioria dos metais
e estáveis a temperaturas, substancialmente acima de plásticos técnicos de alto
grau. Como resultado desta e de outras propriedades, as aplicações de cerâmica
estrutural incluem sistemas de proteção térmica em foguetes, cones de exaustão,
telhas isolantes para naves espaciais, cones de mísseis e componentes de motor.
A NASA utiliza materiais cerâmicos em pontos de articulação, janelas e portas de
naves espaciais.

❖ Aplicações de Turbina – A grande vantagem do material cerâmico é que permite


a eficiência do combustível no caso de ser utilizado em aviões, pois deixam de ser
necessários canais de refrigeração. Desta forma, a eficiência energética aumenta
com a redução do combustível, permitindo que o avião se desloque mais
rapidamente e possa voar durante mais tempo.

Os materiais cerâmicos estão também empregues noutros dispositivos, como é o caso dos
telemóveis. O Mi MIX, telemóvel topo-de-gama da Xiaomi, desenhado pelo famoso
designer Philippe Starck, possui nos seus botões eletrónicos um material cerâmico.

Figura 24 - Telemóvel Mi MIX da Xiaomi

52
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Na área da relojoaria também é possível constatar a presença do material cerâmico nas


caixas e componentes dos relógios. A HUBLOT, é uma marca que produz relógios onde
utiliza um tipo específico de cerâmica – o “óxido de zircónio” – capaz de ser produzido
num pequeno número de cores e tons. A cerâmica de óxido de zircónio apresenta algumas
propriedades que a tornam num material perfeito para caixas de relógios e componentes,
como rolamentos de esferas. Com uma dureza superior à de qualquer metal tradicional
usado em relojoaria, a cerâmica é considerada um material "à prova de arranhões"128 e
que não mostrará quaisquer sinais de desgaste ou envelhecimento, perfeita para
componentes externos de um relógio.

A cerâmica torna-se deste modo uma alternativa ao vidro e ao metal na construção dos
produtos, por vários motivos: é um composto com alta resistência a riscos, torna o
dispositivo mais robusto, resiste à fragmentação, é um bom isolante térmico, não permite
a torção e é de alta durabilidade, não apresentando qualquer desgaste mesmo após vários
anos de utilização.
Nos dias que correm a cerâmica tornou-se uma opção segura e inteligente de material
popular a ser empregue nos mais variados ramos associados à tecnologia, principalmente
pela sua durabilidade e extrema dureza. Além das áreas mais correntes onde podemos
constatar a presença deste material, existem também soluções mais futuristas, muitas
delas ainda em estudo, as quais poderão servir de base para situações vindouras. São estas:

❖ Moldes Cerâmicos

Um dos principais problemas no ramo da indústria automóvel prende-se com a perda de


peso dos veículos, para que estes não consumam tanto combustível.
As diferentes peças que constituem um automóvel – portas, capot, para-lamas, etc. – são
produzidas em aço, numa linha de montagem, em que diversas prensas forçam a chapa
de aço a conformar-se num molde. Com a necessidade de diminuir o peso das peças, são
cada vez mais as indústrias que optam por utilizar chapas de aço mais finas, mas de alta
resistência, provocando, deste modo, um desgaste acelerado dos moldes.

128
Hublot – Cerâmica. [em linha/online]. 2015. [Consult. 14 Jun. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
https://www.hublot.com/pt/news/ceramic>.

53
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 25 - Molde Cerâmico

No Instituto Fraunhofer, na Alemanha, foi desenvolvido um material cerâmico que resiste


às altas pressões e precisões com que as peças dos automóveis são construídas, com a
vantagem de que a durabilidade é muito superior comparativamente com os moldes
atuais. O material cerâmico é muito mais duro que o aço e apresenta uma elevada
resistência ao desgaste por atrito. Contudo, esta nova solução era extremamente custosa
e dispendiosa, pois a dureza deste material exigia ferramentas de diamante, pelo que foi
descoberta outra solução: através de um novo processo de desbaste de alta rotação,
“KeraForm”, as peças cerâmicas são conformadas por uma ferramenta giratória de alta
velocidade, que se move ao longo da peça, criando deste modo o formato desejado.129

❖ Parafusos de Cerâmica

Os parafusos de cerâmica têm potencial para superarem os de aço numa ampla variedade
de utilizações ou aplicações. A primeira vantagem é que a cerâmica consegue suportar
temperaturas acima dos 1000 º C enquanto que os de aço apenas conseguem atingir os
500ºC. Por exemplo, os fornos industriais são compostos quase inteiramente por peças
cerâmicas devido às altas temperaturas.

129
Inovação Tecnológica – Energia [em linha] : Moldes são feitos com cerâmica mais dura que aço. 2006.
[Consult. 29 Mai. 2017]. Disponível em WWW: <URL:
https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010170061027&id=010170061027
#.XWWCuuhKhPY>.

54
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 26 - Avaliação da Precisão de Parafuso Cerâmico

No Instituto Fraunhofer, na Alemanha, um grupo de engenheiros liderado por Christof


Koplin,130 desenvolveu um sistema que permite avaliar com precisão a capacidade de
carga dos parafusos de cerâmica. Segundo Christof Koplin, o aço como é o material mais
fraco que limita a aplicação, a temperatura não pode ser mais alta do que aquela que os
parafusos podem tolerar. “Com parafusos de cerâmica, poderíamos finalmente dar um
salto tecnológico rumo a soluções totalmente cerâmicas”.131
O problema que se tem colocado até agora prende-se com o facto de as cerâmicas serem
notoriamente quebradiças, pelo que existe algum ceticismo. Apesar de algumas cerâmicas
terem capacidade de suporte de carga próxima à do aço, calcula-se que apenas cerca de
dez a vinte por cento da resistência original seja mantida. Por forma a se solucionar este
tipo de deficiências, foi otimizado um processo de fabrico de modo a que não ocorram
falhas na peça em nenhuma das etapas de produção do parafuso de cerâmica. A
composição deste material cerâmico é o fator decisivo: se as pequenas partículas que
compõem a substância se ligam incorretamente durante o processo de produção, pequenas
fissuras podem-se desenvolver, originando a que o parafuso quebre sobre uma carga
menor do que a prevista. Tendo em vista estes problemas, foram feitos testes que

130
Christof Koplin é um engenheiro que pertence ao Instituto Fraunhofer de Mecânica dos Materiais e é o
autor deste ensaio.
131
Inovação Tecnológica – Energia [em linha] : Parafusos de cerâmica superam parafusos de aço. 2014.
[Consult. 29 Mai. 2017]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=parafusos-ceramica-superam-
parafusos-aco&id=010170140527#.WSvmLGjyuM8>.

55
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

comprovam que a capacidade de carga dos parafusos de cerâmica supera a capacidade


dos parafusos de aço entre trinta a trinta e cinco por cento. Segundo Koplin, a melhoria
que falta e que permitirá o fabrico de parafusos de maiores dimensões, poderá ser obtida
na última etapa do processo de produção, na qual os parafusos recebem a rosca, a que
poderá ser feita através de moldagem por injeção ou por desbaste.132

❖ Cerâmica Mais Resistente que o Cimento

Uma equipa norte-americana lançou um inovador processo de sinterização a frio com


potencial para revolucionar a produção de materiais cerâmicos.
Florian Bouville e André Studart, do Instituto ETH de Zurique, na Suíça, criaram um
novo método de produção de cerâmicas que dispensa totalmente a queima - a sinterização
ocorre a temperatura ambiente. Para comparação, a produção de cimento, tijolos, pisos,
revestimentos e louças requer fornos com temperaturas bem superiores a 1000° C. Em
vez da queima, as matérias-primas são compactadas sob alta pressão num processo com
um consumo muito baixo de energia.
A dupla utilizou como matéria-prima um pó muito fino de carbonato de cálcio, o mesmo
que é utilizado na indústria de cerâmica. Mas, em vez de aquecê-lo para obter uma peça,
adicionaram uma pequena quantidade de água, e compactaram-no. Segundo, Bouville,
este processo de fabrico é baseado no processo geológico de formação rochosa. As rochas
são formadas naturalmente a partir de sedimentos que são comprimidos ao longo de
milhões de anos através da pressão exercida por depósitos sobrepostos. Este processo
transforma o sedimento de carbonato de cálcio em calcário devido à presença da água no
ambiente.
Como o carbonato de cálcio foi utilizado em partículas extremamente finas
(nanopartículas), o processo de compactação não foi demorado, levando apenas uma hora
para que as peças ficassem prontas. "O nosso trabalho é a primeira evidência de que uma
peça produzida num material cerâmico pode ser produzida à temperatura ambiente num
curto espaço de tempo e com pressões relativamente baixas" refere Studart.

132
Inovação Tecnológica – Energia [em linha] : Parafusos de cerâmica superam parafusos de aço. 2014.
[Consult. 29 Mai. 2017]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=parafusos-ceramica-superam-
parafusos-aco&id=010170140527#.WSvmLGjyuM8>.

56
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

O material resultante apresentou muita qualidade. Os testes mostraram que este tipo de
cerâmica suporta cerca de dez vezes mais do que o cimento antes de se quebrar, e é tão
rígida quanto a pedra ou o cimento, tornando-a difícil de deformar.

Figura 27 - Fotografia de uma das Peças Produzidas

2.4.2.4. Produtos de Tableware

A louça cerâmica é outro dos subsectores do ramo da cerâmica e em Portugal pode ser
fabricada em barro, grés, faiança e porcelana, para uso decorativo ou utilitário (mesa,
cozinha e forno).
Este sector é constituído por unidades produtivas que apresentam características muito
diversas, tanto a nível de processos produtivos e organizacionais, como também a nível
de dimensão.133 No seu processo de fabrico, que consiste maioritariamente no tratamento
térmico de matérias-primas naturais, as empresas nacionais de louça cerâmica, têm como
prioridade a qualidade dos seus produtos e serviços, procurando a minimização de

133
APICER – Cerâmica de Mesa Portuguesa [em linha/online] : O contributo deste sector para a
sustentabilidade. [s.i.]: Apicer, 2015. [Consult. 09 Fev. 2019], p.7. Disponível em WWW:<URL:
https://www.compete2020.gov.pt/admin/images/CERAMICA_DE_MESA_PORTUGUESA_Contributo_
para_a_sustentabilidade.pdf>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

impactos ambientais, associados às diversas fases do seu ciclo de vida (pré-produção,


produção, utilização e fim de vida).134
A louça cerâmica é um produto com características técnicas e funcionais que lhe conferem
uma elevada durabilidade. No entanto, por acidente ou por questões estéticas, estes
produtos são substituídos chegando assim ao seu fim de vida.135
Os principais desafios da indústria cerâmica no sector da louça prendem-se com vários
fatores: digitalização no centro da inovação, como modo de eficiência, melhoria da
produtividade e consequentemente da competitividade que permitem um acesso mais
fácil a outros mercados; inovação nas suas diversas vertentes - produto, processo,
organização e marketing - de forma a que sejam apresentadas soluções diferentes e
competitivas; cooperação/parceria com universidades, centros tecnológicos e empresas,
com vista à obtenção de propostas ou soluções inovadoras; mercado internacional, através
do conhecimento dos diversos mercados, identificação dos parceiros adequados em cada
mercado, conhecimento das barreiras dos mesmos e maneira de lhes fazer face. 136
Por outro lado, existem distintos fatores que podem constituir ameaças ao sector da louça,
como é o caso da digitalização (na vertente de ameaça) ao proporcionar a visibilidade de
novos mercados, permitindo que “small players” entrem no mesmo; da inovação (na
vertente de ameaça) que exige uma constante evolução/mudança; do mercado
internacional, onde existem barreiras em determinados mercados e a concorrência de
quem pode ter custos de produção mais baratos, nomeadamente de energia e mão-de-
obra; da redução dos teores de metais pesados na louça de mesa, que vai inibir a produção
de alguns efeitos e cores na louça, o que pode ser altamente penalizante para a
competitividade da louça face a outros materiais concorrentes; dos produtos substitutos,
mais concretamente os que utilizem outros materiais e que até possam ser mais amigos
do ambiente; da dependência da energia e respetivo custo, mais elevado, quando
comparado com outros países. A nível geral, a envolvente económica e financeira, quer a
nível nacional como internacional.137

134
Ibidem.
135
Op. cit., p. 31
industria cerâmica – negócios - p. 2 e 3.
137
Negócios em Rede - Indústria Cerâmica - [em linha/online]. 2016. [Consult. 19 Abr. 2019], p. 2 e 3.
Disponível em WWW: <URL:
http://www.apicer.pt/internacionalizacao/Outras/Suplemento_Negocios_Apicer_12Dez2016.pdf>..

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Apesar destes fatores, no setor da indústria de tableware de porcelana em Portugal, são


algumas as marcas que se destacam, tanto a nível nacional como internacional, e é
relevante demonstrar alguns exemplos, os quais serão lembrados no decorrer da presente
dissertação.
A Vista Alegre é a principal marca de destaque, mas existem também outras de referência
internacional ao nível da porcelana, como é o caso da SPAL, e da Costa Verde.

A Fábrica de Porcelana da VISTA ALEGRE, fundada em 1824, foi a primeira unidade


industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. O seu fundador, José Ferreira
Pinto Basto, figura de destaque na sociedade portuguesa do século XIX, foi quem
construiu este empreendimento industrial, em Ílhavo.
Os primórdios de laboração desta fábrica iniciaram-se com a produção do vidro e da
cerâmica “pó de pedra”, face ao desconhecimento da composição da pasta de porcelana,
e em 1880 a Vista Alegre cessando a produção de vidro, dedicou-se exclusivamente ao
fabrico de porcelana.138
A Vista Alegre, por manter o foco na inovação e investigação, permite-lhe estabelecer
maiores níveis de competitividade, dispondo assim de uma maior diversificação de
produtos, sendo a internacionalização o seu principal foco.
Nesta empresa, sendo que existem cerca de 200 anos intimamente ligados à História e
cultura portuguesas, combina-se a perícia artesanal, patente na pintura manual dos
produtos, com a tecnologia e o design, fatores que têm permitido que a marca se mantenha
na vanguarda da produção de porcelana. Para os diferentes setores da Vista Alegre,
contribuem as frequentes parcerias criativas estabelecidas com diversos artistas, e neste
ramo concreto da indústria de tableware, com designers de reputação internacional.

138
Vista Alegre - [em linha/online]. (sem data). [Consult. 22 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
https://vistaalegre.com/pt/t/vaa_AMarca_Historia-1>.

59
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 28 - Serviço de Porcelana Sagres da Vista Alegre

O serviço de mesa Sagres é um modelo clássico da Vista Alegre, que apresenta um suave
ondulado em relevo, símbolo do mar desbravado pelos navegadores portugueses. Este
serviço foi criado há décadas, mas pelo seu design intemporal, mantem-se em
comercialização.

Outro dos produtos vendidos pela Vista Alegre, a coleção “Calçada Portuguesa”, ganhou
dois prémios de design, o “Reddot Award 2017” e o “German Design Award Winner
2018”. “Inspirada nos motivos da calçada portuguesa, esta coleção criada pela designer
Manoela Medeiros é uma homenagem particular a Lisboa. Cada peça tem um padrão que
representa vários percursos da capital portuguesa.”139 É uma coleção composta por um
conjunto de acessórios de mesa: chávenas de café, bandeja para torta, prato de bolo com
pé, conjunto de pratos de sobremesa e um açucareiro.

139
Vista Alegre - [em linha/online]. (sem data). [Consult. 22 Ago. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
https://vistaalegre.com/pt/mesa-bar-porcelana-calcada-portuguesa-
pt/?Cat=31356&Specs=&PageSize=48&Page=1&PriceL=0&PriceH=99999&ReturnProducts=true&Orde
rBy=0&SelGroups=&SelGrp=&InStock=0>.

60
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 29 - Serviço Calçada Portuguesa - Vista Alegre

Dentro da área de Tableware, a Vista Alegre produz também linhas de mesa de porcelana
para gamas de hotel - hotelware.

Figura 30 - Coleção Infinita da Vista Alegre

A pequena coleção de peças de mesa Infinita, caracteriza-se por ser um serviço de catering
criativo e diferenciador, com uma superfície muito arredondada e suavemente alongada,
semelhante a um elemento escultórico. O seu formato quase esférico e pouco habitual,
pretende destacar os elementos dispostos, quebrando a forma tradicional de se
apresentarem os alimentos, permitindo que estes se disponham de forma variada e
singular. Este produto foi vencedor do Prémio “German Design Award” de 2016.

61
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Por sua vez, A SPAL, fundada em 1965 em Alcobaça, desenha, produz e comercializa
produtos em porcelana para uso doméstico e de hotelaria.
Começou por ser a primeira empresa do sector cerâmico a promover um concurso de
design (1970) no mercado nacional, cujo vencedor, Professor Daciano da Costa é também
referido como “fundador do design em Portugal”. Desde então, mantém parcerias com as
escolas de design e de engenharia de materiais.
A SPAL tem-se aliado ao concurso “7 Maravilhas”, com a criação dos troféus de finalistas
e de vencedores. Desenvolvidos pelo gabinete de design interno, as peças são decoradas
graficamente de acordo com a categoria em que se insere o concurso, promovendo o
design, a inovação e a qualidade como parte integrante da cultura empresarial.

“É para a SPAL um enorme motivo de orgulho que o reconhecimento


público que a eleição das 7 Maravilhas proporciona, seja representado por
peças que criámos exclusivamente para este evento. Peças que evidenciam na
íntegra os valores da marca SPAL.” refere Mariana Mesquita, administradora
da SPAL Porcelanas.140

Figura 31 - Troféu das 7 Maravilhas à Mesa

Em 2018, “7 Maravilhas à Mesa” combinou, a partir de um novo design, as seguintes


variáveis a concurso: gastronomia, vinho e roteiros turísticos. O troféu, segundo a SPAL,
apresenta peças que evidenciam os valores da marca, da modernidade e design,
procurando uma imagem gráfica adequada para cada eleição.

140
7 Maravilhas de Portugal - [em linha/online]. 2018. [Consult. 20 Ago. 2019]. Disponível em WWW:
<URL: https://7maravilhas.pt/vencedores-das-7-maravilhas-expoem-trofeus-spal/>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 32 - Coleção "Blue Rain" – SPAL

Ao longo dos anos, A SPAL tem sido distinguida com vários prémios nomeadamente
atribuídos pelo Centro Português de Design, ou ainda o prestigiante “Design Plus Award”
atribuído à colecção “Blue Rain”.

Outra das marcas de porcelana a registar é a COSTA VERDE, a qual iniciou a atividade
em 1992, sendo uma das mais modernas empresas do sector da indústria de porcelana da
União Europeia. A fábrica está localizada no Distrito de Aveiro e tem vindo desde então
a apostar permanentemente na formação e na atualização dos processos industriais,
permitindo um lugar de destaque neste sector.
Através da utilização de matérias-primas nacionais e estrangeiras, apresentam produtos
que primam pela qualidade. Em termos percentuais, 75% da produção é exportada para a
União Europeia, Estados Unidos da América, Japão, Coreia do Sul, Inglaterra, Suíça,
Dinamarca, Estados Unidos da América, África do Sul, Chile, Brasil, México, Angola
entre outros.
A Porcelanas Costa Verde, em Aveiro, produz, anualmente, 11 milhões de peças, tendo
sido precisos 25 anos para chegar ao topo. “Com a génese ligada a um nicho que a Vista
Alegre desprezou, em 1992 – as porcelanas para hotelaria – a Porcelanas Costa Verde
conseguiu afirmar-se mundialmente”141, contra a concorrência asiática, conseguindo
manter o equilíbrio entre a produção contínua e em massa e um design inovador.

141
Dinheiro Vivo – A louça das marcas de topo da hotelaria e do café mundiais é made in Portugal. [em
linha/online]. 2016. [Consult. 20 Ago. 2019]. Disponível em WWW: <URL:

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

“Criar a marca Costa Verde não foi fácil. Começámos por lançar peças associadas a
designers famosos e só assim é que começámos a vender em todo o mundo”, explica o
chairman Carlos Teixeira, recordando as primeiras linhas de hotelaria, há 16 anos, que
hoje se encontram em cadeias como a Marriott, Crowne Plaza, Ritz-Carlton, Ramada,
Hilton, entre muitas outras. De forma semelhante, passaram também a produzir as
chávenas da Nespresso, da Nestlé e da Delta.

Figura 33 - Chávena Café Delta Platina

É ainda de referir que na Costa Verde foi implementado o Projeto GreenWave, o qual
visa a otimização do processo de fabrico de peças de porcelana em forno híbrido
gás/micro-ondas, demonstrando que é possível uma redução significativa do custo
energético, bem como do tempo de sinterização (cozedura), recorrendo a processos de
fabrico inovadores conducentes à redução não só do consumo energético, mas também
das emissões de CO2.142
Assim que a viabilidade técnico-económica e ambiental deste projeto, instalado na
Porcelanas Costa Verde, for demonstrada , poder-se-á aplicar este processo na produção
de outros produtos cerâmicos, permitindo deste modo, e para além dos fatores acima
referidos, melhorar a competitividade da referida indústria.

https://www.dinheirovivo.pt/empresas/galeria/a-louca-das-marcas-de-topo-da-hotelaria-e-do-cafe-
mundiais-e-made-in-portugal/>.
142
Lneg – Investigação para a Sustentabilidade [em linha/online] : GreenWave. 2010. [Consult. 20 Ago.
2019]. Disponível em WWW: <URL: https://www.lneg.pt/iedt/projectos/266/>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

2.5. Considerações Intermédias

Sendo a cerâmica uma das mais antigas matérias, pôde desde cedo responder a diferentes
desafios, tanto domésticos como técnicos, e Portugal, acompanhando sabiamente o
desenvolvimento desta indústria, soube tirar partido da mesma e exponenciar-se
internacionalmente. Pode-se, deste modo, afirmar convictamente, que a indústria
cerâmica é uma das áreas em que Portugal se destaca com grande rigor, aprimorando pela
qualidade e inovação. Estes factos permitiram que a cerâmica constituísse em Portugal
um importante legado, suportado por um nível cultural e estético rico e vasto, latentes
numa identidade genuína, que, caracterizadas pelas raízes dos seus antepassados, deu
origem a metodologias e métodos de fabrico muito próprios. Pelas formas, pela utilidade
ou pela decoração de uma peça cerâmica se pode avaliar uma civilização e o seu nível
artístico, e Portugal soube imprimir de forma exemplar a sua maneira de ser, o seu saber
e engenho artístico nos produtos de produção cerâmica. O material cerâmico, por si só,
pode agregar inúmeros fins, e pela sua versatilidade e inúmeras outras características,
considera-se uma opção segura que permite inovar e criar produtos indispensáveis ao ser
humano. Os materiais cerâmicos com que a louça pode ser produzida em Portugal - barro,
faiança, grés ou porcelana - para uso utilitário ou decorativo, estão muitas vezes
interligados a uma cultura e sensibilidade artísticas muito características do nosso país.
Numa constante busca de novas aplicações e métodos de produção, a indústria cerâmica
alicerça-se em Portugal desde há muitos séculos de história, tendo-se afirmado como um
importante polo produtivo que exporta para todo o mundo.
No que toca ao ramo da porcelana, são cada vez mais as industrias que se destacam, e são
estas que, se presenciando nos mais diversos setores, como o dos pavimentos e
revestimentos, dos equipamentos sanitários, de tableware e de giftware, e se aliando às
novas tecnologias de desenvolvimento e inovação, impulsionam Portugal como defensor
e produtor das indústrias porcelanas de excelência.
Também a área da sustentabilidade tem tido cada vez mais presença nas áreas industriais,
e as indústrias de porcelana não estão indiferentes a este fator tão significativo que tem a
capacidade de influenciar a qualidade da produção e consequentemente do planeta em
que vivemos. Nos dias que correm, a cerâmica tornou-se uma opção sustentável, segura
e inteligente, a partir da qual é possível criar produtos correntes, de carácter decorativo,
utilitário ou mesmo tecnológico, e que pela sua durabilidade e versatilidade, podem e
devem servir de base para criações futuras.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3. A INDÚSTRIA NACIONAL DE GIFTWARE EM PORCELANA

A indústria portuguesa da cerâmica tem como características a sua antiguidade, tradição


e fabrico artesanal. Nos primórdios, teve como objetivo principal satisfazer as
necessidades do setor da construção. Contudo, a partir da evolução tecnológica e do
desenvolvimento das funcionalidades da cerâmica, foi possível identificar um potencial
de aplicabilidade noutros setores de atividade industrial.143 Caracterizada pela crescente
aposta no design e na inovação, esta indústria apresenta constantemente produtos de alta
qualidade. Assim, assume como vantagem competitiva nos mercados externos a
diferenciação e o preço dos seus produtos.
Existem vários tipos de giftware definidos por várias e diferentes características,
dependendo dos propósitos a que estão destinados.

As tendências de Globalização e Digitalização trouxeram à economia e aos mercados um


dinamismo diferente: as empresas saíram da crise económica e deparam-se com uma
realidade diferente da que anteriormente conheciam. A partir da Era Digital passa a
existir, de facto, uma transferência de “poder” das empresas para com os seus clientes e
muitos intermediários começam a ser obsoletos. Esta dinâmica é uma grande
oportunidade para um país como Portugal, podendo mesmo ser a oportunidade pela qual
Portugal ansiava. As empresas estão abertas a novas oportunidades, o ambiente político
e económico obriga à mudança, o foco dos mercados começa a mudar e fatores como a
qualidade de vida, recursos humanos qualificados e competitivos, infraestruturas, entre
muitos outros, são cada vez mais, fatores diferenciadores na promoção de um país.144

A Indústria de Giftware em Porcelana em Portugal, tem crescido a cada ano que passa.
Era um nicho que passou a ser explorado pelas marcas mais competitivas como a Vista
Alegre ou a SPAL e que cada vez mais oferecem produtos corporativos diferenciadores
e aprazíveis. Neste capítulo, serão abordados os vários setores característicos do Giftware,
ilustrados por vários exemplos que demonstram as suas facetas.

143
Aicep – Portugal Global [em linha/online] : Exportações de Cerâmica e Cristalaria com Forte
Crescimento, p.7. 2017. [Consult. 10 Mai 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.portugalglobal.pt/PT/RevistaPortugalglobal/2017/Documents/Portugalglobal_n98.pdf>.
144
Op. cit., p.22.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.1. Giftware

Giftware é tudo aquilo que se oferece de forma gratuita, com a intenção de fazer quem
recebe mais feliz, em sinal de atenção, confiança, amor ou amizade e que seja de forma
espontânea.
Na sua generalidade, giftware pode incluir todo o tipo de ofertas, das mais básicas às mais
originais e personalizadas. Pode ser um valor monetário, ou objetos de qualquer valor,
dimensão ou mesmo feitio, desde que de forma gratuita, e sem requerer algo de retorno.
Convencionou-se presentear em datas comemorativas como aniversários, e festividades
religiosas como o Natal.

Como primórdios do giftware, poderão estar, segundo a tradição da Religião Cristã, os


presentes que os Três Reis Magos levaram a Jesus Cristo – ouro, incenso e mirra – como
gesto simbólico espiritual, representando a realeza, a divindade e a humanidade de Jesus.
É exatamente deste episódio que surge o hábito de se oferecerem presentes no Natal,
época festiva que, por tradição, comemora o nascimento de Jesus Cristo.

A partir do século XIX, com o desenvolvimento das metrópoles, a população tornou-se


mais exigente, as modas passaram a ser uma constante e foram muitas as empresas que
surgiram com o intuito de explorarem este nicho em crescimento. Lojas como Casa
Batalha, onde se vendia bijuteria de luxo a peso, a Valentim de Carvalho, uma discografia
de sucesso, a Perfumaria da Moda na Rua do Carmo, a Luvaria Ulisses, a Ach Brito, uma
conceituada marca de sabonetes e água de colónia nacional, a Livraria Bertrand, a mais
antiga do mundo, entre outras, souberam explorar um outro tipo de comércio associado
ao giftware. Também os Armazéns do Chiado ou a Loja das Meias, pela diversificação
de produtos, despertaram o interesse da população, criando hábitos de consumo.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 34- Perfumaria da Moda na Baixa-Chiado, em Lisboa

Figura 35 - Ach Brito

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Presentear alguém, é praticar a empatia, no sentido em que se pensa em alguém especial


e existe a preocupação em oferecer algo que poderá ser do seu interesse. Quanto mais
íntimas forem as pessoas, mais facilmente saberão como agradar e mais pessoal poderá
ser também o presente. Nos próximos subcapítulos, irei abordar primeiramente as
diferentes áreas em que o giftware está inserido, ilustradas por imagens que as
caracterizam. Para cada uma destas áreas do giftware, irei depois demonstrar vários
exemplos em porcelana.
Dentro do ramo da porcelana, são em número crescente as marcas que, numa tentativa
constante de busca de novos produtos de giftware, dão asas à imaginação para criarem
novos e diferenciadores produtos que chamem a atenção dos mais curiosos e distraídos.
Das marcas portuguesas de porcelana, destaco três relevantes marcas desta indústria –
Vista Alegre, SPAL e Costa Verde – para dar seguimento historial no que diz respeito às
vendas de produtos de giftware, nos mais diversos sectores: Pessoal, Profissional e
Turístico.

3.1.1. Giftware Pessoal

A partir do momento em que se gerou o hábito de oferecer presentes a alguém, a área do


giftware passou a ser um caminho a explorar. As diferentes marcas sentiram-se na
obrigação de comercializar produtos que pudessem ser vendidos como presentes, e aqui
se gerou uma nova era em expansão. O giftware pessoal foi uma das primeiras vertentes
desta área, pois criou-se a ideia de que em ocasiões festivas ou marcantes seria sempre
agradável oferecer algo bonito e simbólico.
São inúmeros os presentes que se podem oferecer, de todos os tipos, existindo
inclusivamente linhas exclusivas de giftware para géneros feminino e masculino, infantil,
presentes para dias especiais como o dia dos namorados ou Natal, ou ainda como manda
a tradição, prendas típicas que se oferecem nas bodas de casamento ou comemorações
especiais.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 36 - Bomboneira em Vidro Figura 37 - Coffret Coco Chanel

Perfumes, bijuteria, relógios, viagens, vouchers para experiências radicais ou relaxantes,


são presentes que se inserem neste ramo e que são habitualmente oferecidos em ocasiões
especiais, como épocas festivas ou de aniversário.

Figura 38 – Livros Figura 39 - Relógio One

Dentro desta área do giftware pessoal, existem ainda os presentes que são intemporais e
mais versáteis, e que podem ser oferecidos quando não existe grande intimidade com o
destinatário.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.1.1.1. Exemplos de Giftware Pessoal em Porcelana

A Vista Alegre é uma marca que apresenta um sector muito específico de giftware,
vendendo vários tipos de presentes, tanto em porcelana como em vidro, para todos os
géneros. Para o efeito, apenas interessa o primeiro material – a porcelana – sendo dados
alguns exemplos variados de giftware pessoal.
No site, a área do giftware está dividida entre “corporate”, “para ela”, “para ele” e
“infantil”, apresentando produtos diversificados, tanto utilitários como decorativos, em
vários acabamentos, para todos os gostos.

Figura 40 – Conjunto de 4 Chávenas de Café com Pires “Fernando Pessoa” – Vista Alegre

Estes produtos encontram-se no site da Vista Alegre, na página geral, sem definição de
área, pois são intemporais e podem ser oferecidos ou adquiridos em qualquer ocasião.

Figura 41 - Anjo Decorativo Pintado à Mão - Vista Alegre

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 42 – Coleção “Aves de Portugal” - Coleção de 250 aves – Vista Alegre

Esta coleção composta por 250 aves é inteiramente pintada à mão, e representa as mais
caraterísticas aves em território nacional: pintassilgo, alvéola, abelharuco, rouxinol
comum, verdilhão e priolo.

Figura 43 - Candelabro Funtasma "Folkifunki" - Vista Alegre

Já este candelabro pertence a uma coleção do famoso designer e artista Jaime Hayon, que
tem tido cada vez mais presença no mundo da porcelana, nomeadamente em projetos em
parceria com a Vista Alegre. São já em grande número os produtos que produz para esta
marca, todos eles cheios de carisma e com uma autêntica imagem de marca.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A SPAL é outra marca que apresenta também o sector do giftware pessoal, sendo a gama
abrangente e diversificada. No site, a gama de gift e decoração está separada por produtos
“brancos”, “cintilantes”, “pretos e brancos”, “temáticos”, de “ecodesign”, “gourmet”,
“natal” e “coleções infantis”, sendo que apresenta produtos interessantes para serem
oferecidos em dias especiais como o da mãe ou do pai, ou dia dos namorados, como a
caneca que se mostra de seguida.

Figura 44 - Caneca Soho c/ filtro e tampa “Mãe” – SPAL

Nunca são demais os solitários ou outro tipo de peças decorativas que podem ser
oferecidos, pela sua intemporalidade e versatilidade.

Figura 45 - Solitário da SPAL em Porcelana

73
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Para quem gosta de história e cultura, existem também vários tipos de produtos de
giftware alusivos aos descobrimentos, a ilustres figuras portuguesas, como Fernando
Pessoa, ou ainda à icónica história entre Pedro e Inês, relatada na seguinte caixa-ovo.

Figura 46 - Caixa Ovo Pedro e Inês - SPAL

As diferenciadoras chávenas de café são em grande número e ilustram, na sua maioria,


histórias ou figuras portuguesas reconhecidas.

Figura 47 - Chávenas de Café e Pires "Mário Botas" – SPAL

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A Costa Verde é uma marca de porcelana que vende essencialmente produtos para
hotelaria. No que diz respeito à área do giftware, não existem muitas possibilidades. No
entanto, para o caso de se querer oferecer um serviço de casamento diferenciador e
específico, ou determinadas peças de serviço a alguém que seja chefe de cozinha, ou ainda
que seja apaixonado por um determinado tipo de cozinha, esta marca pode ser uma boa
opção, pois apresenta uma gama vasta neste sector, primando pela qualidade.

Figura 48 - Serviço “Opera” - Costa Verde

Figura 49 - Serviço "Raio" - Costa Verde

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.1.2. Giftware Empresarial

Independentemente da área profissional na qual se esteja inserido, o giftware representa


uma excelente maneira de ajudar a que novos e potenciais clientes possam atentar em
determinadas marcas, favoravelmente. Para além disso, pode incentivar a fidelidade do
cliente ou melhorar o seu alcance, ampliando orçamentos. No ramo de giftware
empresarial, podem ser considerados dois tipos, os quais servem dois propósitos distintos:
giftware corporativo e giftware promocional - ambos representando uma ferramenta de
marketing útil, mas não permutável. Saber a diferença entre estes tipos de giftware, e
quando os utilizar, pode economizar tempo, energia e dinheiro.

❖ Giftware corporativo, é utilizado para demonstrar apreço, melhorar a imagem


corporativa e criar boa vontade entre clientes, funcionários, fornecedores e partes
interessadas essenciais. Apresentam geralmente um valor mais alto, são
comprados em quantidades menores e geralmente oferecidos aos destinatários
para confirmar um evento específico. O Cabaz de Natal é um exemplo de giftware
corporativo. Visto que estes são destinados a mostrar ao seu destinatário o seu
apreço, exigem mais pensamento e personalização para serem bem-sucedidos.

Figura 50 - Cabaz de Oferta

76
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Existem ainda presentes mais exclusivos que são dados em certas ocasiões como sinal de
apreço ou de dívida, a pessoas muito concretas e especiais, nos quais se podem incluir
garrafas de vinho de castas limitadas e exclusivas, gravatas ou botões de punho, muitas
vezes personalizados, quadros ou peças decorativas, entre outros.

Figura 51 - Botões de Punho e Gancho para Gravata Personalizados

❖ Giftware promocional, por sua vez, tem como objetivo criar consciência de marca.
Ao invés do giftware corporativo, são destinados a um público muito mais
abrangente. Isto significa que exigem muito menos personalização e não há um
valor esperado associado a um giftware deste género. Existem alguns exemplos
como bonés, t-shirts, bolsas, canetas, entre outros, que são comprados a granel. A
ideia é geral e básica: sempre que alguém utiliza um destes brindes, estará a
145
lembrar-se da marca a que pertence. Este tipo de giftware é menos caro e
precisa de ser prático, já que a intenção é que um grande público encontre estes
objetos facilmente, diariamente.

145
Bussiness Essentials – Difference Between Corporate Gifts and Promotional Gifts – [em linha/online].
2018. [Consult. 08 Mai. 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.businessessentials.co.za/2018/05/02/difference-promotional-corporate-gifts/>.

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 52 - Brindes Promocionais

3.1.2.1. Exemplos de Giftware Empresarial em Porcelana

A Vista Alegre apresenta uma boa coleção de peças que se incluem no sector do giftware
empresarial em porcelana, que poderão servir para premiar ou homenagear um
colaborador, colega ou parceiro de negócios, ou ainda para assinalar um evento marcante.

Figura 53 - Caixa e Livro da Coleção "A Paixão Segundo G. H. - Vista Alegre

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Enfeites de natal e outro tipo de adereços são produtos que já se começam a ver em
porcelana e que, por isso, são diferenciadores e originais, podendo servir perfeitamente
como presente que marca um momento importante.

Figura 54 - Bola de Natal "Chasing Stars" - Vista Alegre

A seguinte peça comemora o V Centenário da Descoberta do Brasil, sendo decorada com


um pormenor da “Carta do Atlântico Sul e do Pacífico Oriental”, de João Teixeira
Albernaz I, demonstrando deste modo um produto comum, que pela sua decoração, se
transforma numa bandeja fora do vulgar.

Figura 55 - Bandeja Brasil - Vista Alegre

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 56 - Chávenas de Café "Afrika" - Vista Alegre

Esta coleção revivalista composta por quatro chávenas é inspirada numa campanha
Publicitária internacional da TAP – Transportadora Aérea Portuguesa da década de 60,
de promoção ao destino África.

A SPAL, por sua vez, apresenta também produtos exclusivos que se enquadram no setor
do giftware empresarial e que poderão ser aprazíveis para quem os recebe.

Figura 57 - Wood Office – SPAL

Figura 58 - Caixa Real – SPAL

80
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Mais uma vez, existe uma alusão a momentos históricos que são impressos na porcelana,
respondendo, deste modo, às expetativas de quem os procura. Tal como a Vista Alegre,
também a SPAL decora as suas porcelanas com ilustres figuras portuguesas, como
Fernando Pessoa, como se demonstra nos seguintes produtos.

Figura 59 – Cinzeiro Fernando Pessoa - SPAL

Figura 60 - Tabuleiro "Fernando Pessoa" - SPAL

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Ao contrário da Vista Alegre e da SPAL, a Costa Verde não apresenta produtos que se
insiram tanto neste sector de giftware empresarial. No entanto, por apresentar produtos
distintos ou em parceria com empresas estrangeiras, estes podem comemorar eventos
internacionais ou ocasiões mais exclusivas.
No serviço “Nordika Fjord”, combinam-se a tradição da azulejaria portuguesa em tons de
azul e branco com o tom cinza minimalista escandinavo.

Figura 61 - Serviço Nordika Fjord - Costa Verde

Como o próprio nome indica, o serviço “Universal” pode ser uma oferta para quem
pretenda um serviço mais exclusivo de porcelana, pois o design das suas peças está
pensado de forma a colmatar as necessidades da gastronomia global.

Figura 62 – Serviço Universal – Costa Verde

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.1.3. Giftware Turístico

Como se referiu já, são cada vez mais as pessoas oriundas de outros países que viajam
para Portugal, à procura de um clima favorável, de boa gastronomia e de locais atrativos
e diferentes para visitar. Portugal, de norte a sul, está repleto tanto de marcos históricos,
como de símbolos ou tradições que o caracterizam e fazem deste um país único, singular
e autêntico.
É baseado nestes símbolos que são cada vez em maior número as empresas que, numa
busca constante de inovar e surpreender, concebem ou procuram produzir objetos, quer
utilitários, quer decorativos, para vender, e que sirvam de recordação.

À medida que Portugal vai ser crescendo turisticamente, são cada vez mais as lojas que
procuram vender produtos apelativos para os turistas, e a Baixa-Chiado, zona de maior
concentração turística da cidade de Lisboa, está plena de lojas onde os mais variados
produtos nacionais são vendidos: A Vida Portuguesa, onde se vendem antigos e genuínos
produtos de criação nacional; O Mundo Fantástico das Conservas Portuguesas, Fábrica
das Enguias, ou Comur-Conserveira de Portugal, que como os próprios nomes indicam,
homenageiam peixes (sardinha, enguia, e truta, respetivamente) tipicamente portugueses,
O’live, loja dedicada a azeites de todas as variedades da marca portuguesa Oliveira da
Serra, dando a conhecer os aromas e sabores de cada uma das opções, entre muitas outras.

São também os hotéis que vão aumentando a cada ano que passa, tendo em conta o
crescimento turístico, e os nomes escolhidos vão muitas vezes de encontro com elementos
caracterizantes do nosso país, de forma a atraírem turistas de forma divertida ou original,
como é o caso do Hotel Figueira, na Praça da Figueira, em Lisboa, decorado com estes
elementos; o Herdade do Ananás, ou o Hotel Terra Nostra, nos Açores, produtos típicos
desta região; ou ainda o Chalet Saudade, palavra tão portuguesa por não ter tradução para
nenhuma outra língua. 146

Existem muitos produtos que pelas suas características, transmitem o saber e costumes de
Portugal, e são estas que estão bem-adaptadas aos produtos de uso corrente.

Boutique Hotel – Portugal – [em linha/online]. (sem data). [Consult. 05 Jun. 2019]. Disponível em
146

WWW: <URL: https://boutiquehotel.me/portugal/simple/?page=4>.

83
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

As sardinhas em lata são um produto típico português, já os sabonetes são um produto de


uso corrente. No entanto, ambas as marcas, a partir do design gráfico da embalagem,
souberam transmitir a ideia de qualidade e tradição, cativando a atenção de quem passa
pela loja, apelando ao seu consumo.

Figuras 63 e 64 - Lata de Sardinhas da Loja O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa e

Sabonetes Artesanais - Claus Porto

A cortiça, produto tradicionalmente português e ostensivamente explorado, está presente


em inúmeros produtos de uso comum, desde carteiras, guarda-chuvas, sapatos e malas, a
qual apela ao seu consumo quem não está familiarizado com o material, nomeadamente
pela sua originalidade e diferenciação.

Figura 65 - Porta-moedas em Cortiça

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TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.1.3.1. Exemplos de Giftware Turístico em Porcelana

Ao nível do setor porcelânico, também são muitas as marcas que se destacam, transpondo
diversas texturas e tradições para os produtos em porcelana, tanto utilitários como
decorativos.
A Vista Alegre apresenta, dentro do sector do giftware, uma série de presentes que
poderão ser considerados turísticos:

Figura 66 - Sardinha Decorativa Vista Alegre Produzida pela Bordallo Pinheiro

As famosas sardinhas decoradas com elementos característicos alusivos a Portugal, ou as


figuras com trajes tradicionais em porcelana, retratam muito bem a identidade portuguesa
e são excelentes produtos decorativos que sabem despertar a atenção de quem os
desconhece, nomeadamente os turistas.

Figura 67 - Coleção Trajes Tradicionais - Vista Alegre

85
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 68 - Chávena e Pires da Coleção "Alma de Lisboa - Vista Alegre

Existem inúmeras chávenas de café da Vista Alegre, que ilustram símbolos da identidade
portuguesa, e são algumas as que se identificam neste setor do giftware turístico, pela sua
decoração.

Figura 69 - Coleção "Love Birds" - Vista Alegre

Por sua vez, os “Love Birds”, existindo em várias cores, são mensageiros que evocam um
tempo em que dizer “gosto muito de ti” se reveste de grande sentimentalismo. Cada
pássaro tem um pergaminho que permite escrever uma mensagem personalizada, sendo
um excelente gift para levar de Portugal para alguém mais próximo.
Já a seguinte caixa, pela imagem do símbolo de Portugal na tampa, pode também ser um
produto de giftware turístico que faz recordar.

Figura 70 - Caixa Americana Grande "Torre Tombo" - Vista Alegre

86
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A SPAL, embora apresente uma gama menos extensa de produtos que se insiram no sector
do giftware turístico, expõe também produtos originais para este sector.

O seguinte cubo remete para a forma típica da pedra da calçada portuguesa e está revestida
com elementos característicos da nossa cultura, como a guitarra portuguesa.

Figura 71 - Cubo Biscuit "A Grande Família Portuguesa" – SPAL

Já os produtos que remontam à época dos descobrimentos ou a momentos históricos,


podem ser também inseridos nesta área do giftware turístico, pela imagem ou mensagem
que transmitem.

Figuras 72 e 73 - Porta-Lápis – SPAL e Chávena de Café e Pires da Coleção "Fernando Pessoa" - SPAL

87
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.2. Giftware no Turismo

Portugal acolhe anualmente um número crescente de estrangeiros. Seja por lazer, seja
para viver depois da reforma, ou ainda para iniciar um novo negócio ou estudar, o nosso
país é hoje um destino incontornável. As entidades portuguesas dos mais diferentes
setores apresentam resultados positivos, designadamente as de promoção turística, mas
considera-se haver ainda um grande potencial a explorar no mercado turístico.
O crescimento exponencial do número de turistas que visitam Portugal, a existência de
algumas medidas relacionadas com isenção de pagamento de impostos sobre as reformas
recebidas no estrangeiro, a relação qualidade-preço do imobiliário em Portugal e o
trabalho desenvolvido pelas empresas portuguesas, têm levado milhares de estrangeiros
a visitarem ou até mesmo a adquirem habitação em Portugal, sobretudo nas regiões de
Lisboa, Porto e Algarve.147
No que se refere ao turismo “há a referir um aumento exponencial, sobretudo nos últimos
quatro anos, de turistas que visitaram Portugal. Os principais mercados em destaque
foram a Espanha, Inglaterra, França e Alemanha. França continua numa dinâmica muito
positiva e Portugal tornou-se um destino incontornável para os franceses”.148
Embora a tendência seja de abrandamento, o crescimento turístico em Portugal continuará
a um ritmo forte. O Banco de Portugal conclui que, quando se compara Portugal com
países concorrentes, verifica-se que o setor do turismo continua com margem de
progressão. “O turismo tem crescido mais de 10% ao ano desde 2014 e o seu peso na
economia nacional saltou de cerca de 4% do PIB antes da crise para mais de 8% em 2018.
Em 2021, deverá chegar aos 9,3%, segundo a previsão do BdP”149. Caso se confirme,
significaria que os gastos de turistas estrangeiros triplicariam entre 2009 e 2021.
Sobre o turismo português, existem duas histórias que se contam normalmente: que está
a crescer devido à instabilidade e insegurança no Norte de África, provocada pela
Primavera Árabe; e, por outro lado, que é um turismo que atrai visitantes devido aos
preços baixos, em comparação com os seus concorrentes europeus. Os economistas do
Banco de Portugal questionam a relevância de ambas as teses.

147
Aicep – Portugal Global [em linha/online] : Exportações de Cerâmica e Cristalaria com Forte
Crescimento, p. 33. 2017. [Consult. 10 Mai 2019]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.portugalglobal.pt/PT/RevistaPortugalglobal/2017/Documents/Portugalglobal_n98.pdf>.
148
Op. cit., p. 35
149
Visão Sapo – Exame [em linha/online] : Quase 10% da riqueza portuguesa virá do turismo. 2018.
[Consult. 10 Set. 2019]. Disponível em WWW: <URL: http://visao.sapo.pt/exame/2018-12-18-Quase-10-
da-riqueza-portuguesa-vira-do-turismo>.

88
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

No que diz respeito à primeira possibilidade, “Portugal parece ter recebido um empurrão
inicial, fruto da instabilidade em Marrocos, Egipto, Tunísia e, mais tarde, Turquia, sendo
visto como um país muito mais seguro. No entanto, essa mesma avaliação também
considera Portugal mais seguro do que a média dos países do Sul da Europa. A
recuperação de algumas das regiões do Norte de África parecem ter provocado algum
abrandamento na chegada de turistas a Portugal em 2018, mas sem provocar uma
travagem.
A comparação entre Portugal e a Europa do Sul/Mediterrânea – onde se situam os países
com atrativo turístico similar ao de Portugal – mostra que a economia portuguesa se
destaca claramente pelo comportamento mais positivo em relação ao turismo. 150
Ao nível das zonas mais turísticas de Portugal, o Algarve ainda é o principal destino para
quem visita Portugal, apesar de Lisboa e Porto registarem um aumento significativo de
turistas, devido essencialmente à oferta cultural e renovação dos centros históricos, à
criatividade e qualidade gastronómica e ao crescente comércio de rua. O Norte e o Centro
do país têm vindo a ganhar maior destaque.
Em paralelo, o turismo deixou também de estar tão concentrado em julho e,
principalmente, agosto, com o período entre abril e junho a ganhar destaque no número
de visitas.

Existem, contudo, vários riscos que o turismo deverá enfrentar nos próximos anos, o que
obriga Portugal a não se deixar acomodar e a continuar a apostar "num aumento da
qualidade e valor acrescentado dos serviços oferecidos (…)”.151 Entre estes riscos está a
hostilidade por parte dos habitantes locais, a deterioração da experiência turística e a
degradação do património natural, cultural e histórico. O que significa que será necessária
“uma melhor distribuição do turismo não residente ao longo do ano”,152 procurando evitar
uma excessiva congestão de algumas áreas (o centro histórico de Lisboa é normalmente
o exemplo mais citado), a subutilização de infraestruturas em época baixa e demasiada
sazonalidade do mercado de trabalho.

150
Ibidem.
151
Visão Sapo – Exame [em linha/online] : O “Excesso de Turismo”. 2018. [Consult. 29 Jun. 2019].
Disponível em WWW: <URL: http://visao.sapo.pt/exame/2018-10-01-O-excesso-de-turismo>.
152
Visão Sapo – Exame [em linha/online] : O “Excesso de Turismo”. 2018. [Consult. 29 Jun. 2019].
Disponível em WWW: <URL: http://visao.sapo.pt/exame/2018-10-01-O-excesso-de-turismo>.

89
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Devido ao forte crescimento turístico e por forma a responder aos interesses de quem
visita Portugal, nos dias que correm, são cada vez mais os pontos de venda de produtos
de giftware. Para além das mais emblemáticas lojas situadas nos bairros históricos das
cidades, ou de pequenas lojas ou “corners” nos aeroportos, locais de grande passagem
turística, existem também, e cada vez mais, outros pontos como supermercados, ou lojas
de bairro locais, onde podem ser encontrados os mais diversos produtos alusivos ao país.
Para facilitar o consumo destes produtos, são também em grande número as marcas que
aderem às lojas online, onde são expostos os produtos para venda, para maior conforto
do cliente.

O giftware é facilmente associado à cultura de um país, no sentido em que transpõe para


objetos de uso diário, utilitário ou de decoração, símbolos típicos e tradicionais que o
caracterizam, dando a conhecer os seus hábitos, costumes, tradições, entre outros aspetos.
O giftware é um símbolo de uma memória cultural, representada por uma viagem ou
história, que aproxima ou faz recordar momentos vividos e que pode inspirar a novas
experiências. Cada país tem a sua história, e devido às suas raízes, que podem ser
históricas, arquiteturais, de gastronomia, ou outras, associam-se símbolos caracterizantes.

Portugal é um país que se associa à época dos Descobrimentos, à Fé Cristã, e à


Gastronomia. Destas associações, surgem produtos de giftware que se vendem de norte a
sul do país, e que diferem consoante a zona típica em que se inserem. Conchas e objetos
associados ao mar vendem-se em grande abundância na região do Algarve; na região de
Fátima, imagens de Nossa Senhora, Terços, Medalhas, entre outros são tradicionalmente
procurados; em Lisboa, o Pastel de Belém, a Sardinha em vários materiais como a
porcelana ou a cortiça, ou ainda o Elétrico; no Porto, o Vinho Tinto e do Porto ou os
Azulejos azuis e brancos. Estes elementos, além de representarem as raízes de Portugal,
apresentam também muitas vezes materiais que o caracterizam, neste caso, a porcelana.

As raízes do design português, transcrevendo o designer, investigador e colecionador


português Paulo Parra, “encontram-se com facilidade em muitos dos tradicionais objetos
que ainda subsistem na nossa cultura material contemporânea”:

90
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

«Referimo-nos a um design honesto e intemporal que está inscrito


geneticamente nos nossos principais artefactos. E se queremos encontrar as
raízes de um genuíno design português, a primeira busca tem de ser feita
nesses objetos (…) que produzimos há milhares de anos.»153

Estes objetos podem também ser encontrados nas regiões mais pacatas de Portugal, como
Peniche, concelho conhecido pela pesca e pelas famosas Rendas de Bilros.
Peniche possui uma longa e rica história. Foi sucessivamente ocupado por inúmeras
populações que fizeram da pesca e da agricultura as suas principais atividades
económicas. A sua especificidade geomorfológica parece ter moldado e condicionado de
forma singular, de um ponto de vista socioeconómico e cultural, a população, permitindo
que o concelho de Peniche fosse alvo de importantes acontecimentos históricos nacionais
e internacionais.
Peniche está marcado pela dicotomia entre a atividade marítima e piscatória, associada à
exploração, transformação e comercialização dos recursos marinhos e agrícolas, criando
assim outras vivências. Deste modo, “na etnografia local pontificam por um lado
tradições, usos e costumes associados à faina da pesca e indústrias adjacentes e, por outro,
ao cultivo dos campos e à produção das rendas de bilros154”.
Neste capítulo introduz-se assim o mote para a criação do projeto prático desta dissertação
– as Rendas de Bilros – sendo estas, a fonte de inspiração e criação do mesmo, para o
qual foram tidos diferentes e relativos aspetos que serão abordados de forma consistente
e sistemática no próximo capítulo.

153
AA.VV. – Design ET AL: Dez Perspectivas Contemporâneas, pp. 146 e 147.
154
AEDLA – O Agrupamento [em linha/online] : Peniche. 2011. [Consult. 10 Jun 2019]. Disponível em
WWW: <URL:
http://www.aeluisdeataide.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=8>.

91
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

3.3. Considerações Intermédias

A indústria cerâmica portuguesa, a partir da evolução tecnológica e do desenvolvimento


das suas funcionalidades, passou a ser identificada como um material com potencial a ser
aplicado noutros setores industriais. Esta indústria, baseada na forte aposta no design e
inovação, apresenta cada vez mais produtos de alta qualidade, capazes de se adaptar às
mais diversas necessidades, sendo este, por excelência, um nobre material que se destaca
nos diferentes mercados pelas suas propriedades e finalidades, assumindo como
vantagem competitiva o seu custo de produção e comercialização.
Tendo em conta que, a partir da Era Digital as empresas se mostraram recetivas a novas
oportunidades, a indústria cerâmica soube aproveitar esta circunstância, explorando
mercados e segmentos onde este material não era habitualmente empregue.
Umas destas áreas é a do giftware, a qual, no que se refere à indústria de porcelana, tem
crescido consideravelmente nos últimos anos. A área do giftware no setor porcelânico,
surge como forma de resposta a uma necessidade muito particular que se evidenciou a
partir do momento em que o crescimento turístico se fez sentir, nomeadamente em
Portugal.
São vários os elementos ou símbolos que caracterizam o país, mas são também esses que
estão exaustivamente impressos nos mais diversos produtos de giftware, tanto decorativos
como utilitários, pessoais, corporativos ou turísticos, não bastando para dar resposta a um
público cada vez maior e mais exigente.
Tanto nos elementos tradicionais e simbólicos como as Rendas de Bilros, como nos
produtos industriais pintados à mão, é necessário que estes se possam relacionar com o
que Portugal de melhor tem para oferecer.

92
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

4. PROJETO PRÁTICO

A partir da investigação feita, pretende-se que a dissertação culmine no projeto prático


que é desenvolvido e demonstrado no presente capítulo. Para a conceção do mesmo, foi
indispensável criar-se uma análise contextual onde se insere o produto final, juntamente
com uma metodologia e diferentes abordagens para a justificação do mesmo.
Tendo em conta que o projeto prático é inspirado nas Rendas de Bilros, as quais são
características da Região de Peniche, no presente capítulo é feita uma abordagem
aprofundada a esta “arte” tradicional, ao nível contextual, de produção e de aplicação,
justificando a conceção do mesmo. Aquando da criação do conceito foi organizada uma
metodologia como diretriz principal para a idealização e criação do projeto, o que o
presente capítulo pretende expressar.

4.1. Análise Contextual

Das várias terras portuguesas onde podem ser encontradas inúmeras tradições que ainda
hoje se preservam, Peniche foi a terra que elegi como inspiração para o meu projeto
prático pelo seu ex-libris do artesanato – as Rendas de Bilros.
A Renda de Bilros de Peniche tem, na sua génese, mais de quatro séculos de história. Os
intercâmbios comerciais estabelecidos entre os marinheiros vindos dos portos da Flandres
(Bélgica) parecem ter motivado o aparecimento desta arte em Peniche, possivelmente
ainda no século XVI.155 Foram uma atividade económica muito importante em Peniche
na transição para o século XX. Consequência da diversificação da economia penichense,
a produção das Rendas de Bilros entra em declínio durante a primeira metade do século
XX.

As Rendas de Bilros, trazidas a partir do comércio marítimo, foram-se espalhando por


todo o país, inicialmente nas regiões litorâneas, irradiando para o interior. No entanto, foi
junto à costa que esta arte se arreigou e manteve, tendo como territórios de referência Vila
do Conde e Peniche.

155
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

93
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A representação iconográfica mais antiga que se conhece das Rendas de Bilros de Peniche
surge na pintura seiscentista de Josefa de Óbidos, um dos maiores nomes da pintura
barroca portuguesa do século XVII. Detém algumas pinturas de “Meninos Jesus” com as
suas rendas ou tules, num sentido exclusivamente devocional, estando uma delas aqui
representada.

Figura 74 – “Menino Jesus Salvador do Mundo” de Josefa de Óbidos

As Rendas de Bilros atingiram um período áureo no séc. XVIII, com o rei francês Luís
XV, que foi quem introduziu a Renda de Bilros como tendência de moda nos trajes da
corte, alavancando a produção desta arte em França e no resto da Europa.

94
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Em Portugal, a produção das Rendas de Bilros foi incentivada no terceiro quartel do


século XVIII, pelo futuro Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo,
ministro de D. José, que pretendia fomentar a criação nacional de produtos de luxo.156
Em 1887, a formação profissional de rendilheiras oficializa-se com a inauguração da
Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia, mais tarde Escola Industrial de
Rendeiras Josefa de Óbidos, filha do ilustre pintor português Baltazar Gomes Ferreira.
Esta escola teve um grande impacto no desenvolvimento das Rendas de Bilros de Peniche
devido a uma forte orientação artística impulsionada pela sua primeira diretora, Maria
Augusta Prostes Bordalo Pinheiro.
A renovação da Renda em termos artísticos dá-se a partir da inovação de padrões,
mantendo a reconhecida qualidade, conduzindo a projeção desta arte além-fronteiras.

«Em 1904, as maiores “indústrias” do concelho eram a Pesca e, imediatamente


a acompanhar, a Renda de Bilros»157.

De forma a contrariar o declínio da produção de Rendas durante a primeira metade do


século XX, a partir do final da década de 1980, é criada a Escola Municipal de Renda de
Bilros, assistindo-se a um novo impulso versando a preservação e valorização desta arte,
promovido tanto pelo Município de Peniche bem como pela sociedade civil.
Na atualidade, a Renda de Bilros de Peniche assume-se enquanto património cultural onde
novas aplicações e antigos padrões se conjugam nesta arte centenária.

4.1.1. A Produção da Renda de Bilros

As rendas foram o sustento ou complemento da economia doméstica em várias famílias,


onde as mulheres, desde tenra idade, aprendiam a rendilhar, num saber transmitido de
geração em geração através de métodos informais e familiares de aprendizagem. Uma das
particularidades da manufatura das rendas de Peniche é o facto de as rendilheiras
trabalharem com as palmas das mãos voltadas para cima. Este modo de rendilhar é único

156
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche – de acordo com a resposta da Câmara
157

Municipal a um questionário recebido da Companhia Real do Caminhos de Ferro.

95
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

no mundo e é um testemunho que foi passando pelas várias gerações e que ainda hoje
permanece.158
No princípio do século, ao passar por Peniche, era frequente encontrarem-se inúmeras
senhoras à porta das suas casas, sentadas no chão, a produzirem as Rendas. Era num
ambiente descontraído que rendilhavam, e falando sobre o quotidiano, colocavam
também as filhas a aprender, enquanto que os maridos iam para a pesca.

Figura 75 - Rendilheira de Peniche

Outro dos aspetos que a distingue das restantes rendas é a qualidade e a delicadeza no
trabalho final da Renda, existindo um grande nível de pormenorização, mesmo quando
existem remates. É neste campo que entram as cerzideiras. As rendas, quando apresentam
um padrão constante, são produzidas por partes, como um módulo, que são depois
cerzidas de forma impercetível, formando o padrão pretendido.

158
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche

96
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Para a execução de uma Renda de Bilros, na forma tradicional, são necessários os


seguintes materiais: Banco em madeira (1), almofada (2), pique e entremeio da renda (3),
alfinetes de suporte aos bilros (4), e bilros (5).
A seguinte imagem mostra um conjunto que é completado por uma toalha branca com
Renda de Bilros “Picô de Trancinhas”, constituído por pontos de carreiras abertas e
carreiras fechadas, paninho e contorno em fio torçal. Este conjunto foi cedido à Câmara
Municipal de Peniche pela antiga Escola do Lar de Santa Maria, e está neste momento
presente no Museu da Renda de Bilros.

Figura 76 - Conjunto de Almofada com Renda de Bilros em Execução – Museu da Renda de Bilros de Peniche

97
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

A Renda de Bilros é um trabalho muito minucioso que requer paciência e perícia. Consiste
no cruzamento sucessivo de fios têxteis, nomeadamente a linha de algodão, presos nos
bilros, obedecendo a várias regras de execução sobre um pique, com o auxílio de alfinetes.
O pique é um cartão que leva uma pigmentação à base de açafrão, para que a sua cor se
distinga da cor branca da renda, e nele se decalca o desenho que é realizado por
especialistas, que vai ser rendado. Neste pique, são colocados os alfinetes de apoio aos
bilros, em furos estrategicamente efetuados no desenho da base, para que depois, ao se
cruzarem os bilros nos alfinetes, seja formado o padrão pretendido. O bilro é fabricado
em madeira e o bilro português tem a forma de uma pera, embora mais alongada, onde
por sua vez é enrolada a linha que vai sendo descarregada à medida que o trabalho vai
ganhando forma. Quanto mais elaborada é a renda, mais bilros apresenta. Faz parte ainda
da sua execução uma almofada cilíndrica, composta por palha e revestida a tecido, onde,
sobre um banco de madeira, é fixado o pique e cuja forma facilita a rotação e alteração
de disposição, permitindo uma posição confortável à executante.

Todas as rendilheiras têm necessariamente de aprender os diferentes pontos de renda.


Começam pelos mais elementares, terminando nos pontos mais elaborados, e apenas
quando estes pontos estão dominados é que passam para a execução das rendas, sendo
possível conjugar vários e distintos pontos numa só renda, de acordo com o desenho
aplicado no pique, sendo necessária atenção em relação à escala da renda.

Figura 77 - Pontos para Renda de Bilros

98
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Tendo em conta que as rendilheiras não eram muito instruídas, devido à falta de estudos,
os motivos que criavam para as rendas eram inspirados na vida quotidiana, de entre os
quais elementos caracterizadores da Região de Peniche, motivos marinhos e florais, como
peixes e conchas.

Figura 78 - Renda de Bilros com Motivos Marinhos

Pessoas com outro tipo de estatuto social, provenientes de outras regiões do país e que
não dominavam a arte, mas que pretendiam rendas especiais, encomendavam rendas com
desenhos personalizados. É neste momento que surgem motivos diferentes, como os
geométricos, inspirados noutro tipo de costumes, mais requintados.

A partir de 1990, é instituído pelo Município de Peniche, o Concurso de Renda de Bilros


de Peniche, premiando as melhores rendas apresentadas. Este concurso visa incentivar o
interesse pelo desenvolvimento, renovação e promoção da Renda de Bilros. A média de
trabalhos apresentados nos últimos anos é superior a cem exemplares.159

159
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

99
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

4.1.2. Novas Aplicações da Renda de Bilros

Desde os primórdios da produção da Renda de Bilros, que se foram aplicando


criativamente elementos de forma não tradicional, inovando e produzindo novas criações.
Utilizada de forma costumeira, na indumentária e em peças de uso doméstico, como
lençóis ou naperons, a Renda de Bilros é lentamente empregue noutros suportes de
natureza decorativa. Este facto é patente a partir da década de 90 do século XX, quando
o Concurso de Renda de Bilros de Peniche recebe peças que testemunham uma feição
artística em detrimento das aplicações ditas tradicionais.160

Figura 79 - Rendas de Bilros empregues num leque

Atualmente, as novas aplicações da Renda de Bilros são um nicho em expansão, como se


verifica através da inovação de produtos com aplicação de Renda de Bilros ou nela
inspirados. As Rendas de Bilros contribuem para a afirmação das especificidades da terra
de Peniche, num caminho que se baliza entre a valorização da tradição e a inovação de
produtos. As rendas podem ser vistas nos mais diversos objetos de adorno, peças de
ourivesaria, ou ainda no vestuário, sendo cada vez mais as parcerias com Centros de
Formação, Institutos e Politécnicos, numa tentativa de fazer chegar esta belíssima
tradição aos mais diferentes objetos, apresentando novos usos e aplicações da Renda de
Bilros, permitindo deste modo a partilha de experiências entre artesãs dedicadas a este
saber-fazer.

160
Museu da Renda de Bilros de Peniche, Município de Peniche.

100
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 80 - Rendas de Bilros empregues num pendente

Figura 81 - Rendas de Bilros empregues no vestuário

Atualmente, a Escola de Renda de Bilros de Peniche acolhe todos os interessados a título


gratuito, prestando vários tipos de serviços, promovendo o ensino e aperfeiçoamento de
técnicas e processos de execução da Renda de Bilros, tanto ao nível do próprio desenho,
e elaboração de piques, como das cerziduras, e criação das rendas, entre outros. Aceita
também encomendas para a execução de Rendas e conceção de projetos nos mais diversos
âmbitos, participando anualmente em concursos, feiras e eventos como forma de
promoção desta arte tão singular e autêntica.

101
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

4.2. Metodologia

Aquando da conceção do projeto prático, foi necessário identificar uma metodologia de


Design para a definição do mesmo, como diretriz face a uma necessidade, pois,
transcrevendo o designer e professor André Gouveia, “o processo de Design é o caminho
que nos leva de um problema a uma solução”161. Neste caso, o problema é a necessidade
constante que estas indústrias porcelânicas têm de encontrar produtos inovadores e
diferenciadores, como forma de resposta ao forte crescimento turístico que se tem feito
sentir em Portugal, e a solução traduz-se na criação de um produto que preenche essa
mesma necessidade.
No contexto do presente tema, o produto enquadra-se no sector porcelânico utilitário e
decorativo na área do giftware. Foi necessário apoiar este projeto em determinados
métodos, pois são estes que contribuem para o “amadurecimento do projeto, tornando-o
mais coeso e fundamentado”162.
Também Paulo Parra, tem sido defensor das metodologias de Design como essenciais
para a sobrevivência dos sistemas técnicos no que diz respeito à cultura e comportamento
projetuais.163

Para a criação do conceito e execução do produto final da presente dissertação, foram


tidos em conta vários parâmetros. Em primeiro lugar, foi feita uma investigação ao nível
dos produtos best-seller das marcas de porcelana em questão – Vista Alegre, SPAL, e
Costa Verde – com o intuito de perceber as diretrizes gerais e adequadas para a conceção
do produto final.
Dentro das várias marcas de porcelana, encontram-se muitos produtos em comum, e sem
dúvida que um dos produtos de porcelana best-seller, pela sua intemporalidade,
versatilidade e praticidade, é a chávena de café. É necessário ter em consideração que o
café é comercializado em todo o mundo e que o café português é reconhecido
internacionalmente devido ao seu sabor único e modo de produção, sendo a Delta a marca
portuguesa mais reconhecida.
Tendo a chávena de café como mote para a criação do projeto e de forma a consolidar
esta primeira fase de investigação, foi feito um formulário online com o intuito de avaliar

161
GOUVEIA, André Tiago – Briefing Innovation: Metodologia para a Inovação de Produto, p. 32.
162
Op. cit., p. 34
163
PARRA, Paulo Jorge Martins – Design Simbiótico: Cultura projectual, sistemas biológicos e sistemas
tecnológicos, p. 328.

102
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

as preferências dos consumidores, ao nível da estética e função das chávenas de café, para
perceber que tipo de diretrizes seguir para a execução do produto final, formulário este
que se encontra nos Anexos.164

Após a seleção da tipologia para a idealização e concretização do projeto, foi elaborada


uma pesquisa abrangente relativa ao setor das chávenas de café comercializadas nas
várias marcas de porcelana. Esta pesquisa foi feita a partir de imagens de chávenas de
café retiradas de sites de várias marcas de porcelana e de outros sites de tendências, as
quais foram agrupadas num gráfico, tendo em conta quatro parâmetros diametralmente
opostos:
1) “Branco” V “Colorido”: As imagens selecionadas das chávenas de café foram
dispostas graficamente por cores, de modo a ser percetível a mancha de padrão
e tons das mesmas que se encontram no mercado;
2) “Artificial” V “Natural”: Quanto mais brancas ou neutras são as chávenas, mais
próximas se encontram do eixo “Natural”. Pelo contrário, se estas tiverem
adornos ou outros materiais empregues, aproximam-se mais do eixo “Artificial”.
Tal como o ponto anterior, as imagens das chávenas de café foram dispostas
tendo em conta as suas texturas e materiais ou ausência destes, de modo a ser
identificada a grande tendência de mercado.
Este próximo gráfico permitiu encontrar um caminho direcional, que se assinala com um
círculo azul.
Visualizando o gráfico, pode-se optar por várias direções, sendo que duas destas são
distintas e rapidamente percetíveis: a direção que apresenta maior concentração de
imagens, a qual representa os tipos de chávenas de café que mais se vendem, e por isso,
uma opção mais segura; ou aquela que, por oposição, se encontra com menos imagens
ilustrativas, figurando caminhos ainda por explorar e que poderão significar maior
criatividade, competitividade e oportunidade de mercado por não existir tanta oferta
disponível.
Para o projeto final, optei por explorar uma área na qual não existe grande oferta ou tanta
concorrência, mas que pelo tipo de acabamento, vai ao encontro das tendências e da
procura dos potenciais destinatários, tendo em conta os resultados obtidos no formulário
online realizado aos consumidores.

164
Ver formulário online no capítulo “6. Anexos” na página 121.

103
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 82 - Gráfico de Tendências

Posteriormente, foi feita uma visita à Fábrica de Porcelanas SPAL, com o intuito de
compreender os métodos e processos de produção das peças porcelânicas, nomeadamente
das chávenas de café, desde o momento em que são moldadas até ao momento em que
são pintadas e cozidas.
Esta visita permitiu-me perceber de uma forma geral e concisa dois pormenores fulcrais
para a criação do meu projeto: a primeira fase relativa aos moldes, pois é essencial que a
chávena e o pires, independentemente de terem um relevo, possam ser desencaixados do
molde e não obriguem a moldes muito complexos; a fase de pintura, por vezes
pormenorizada, que me permitiu perceber até que ponto poderei explorar esta fase.

104
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

Figura 83 - Fotografias da Visita à Fábrica SPAL: Moldes e Pintura

Tendo em conta que o conceito do projeto prático é inspirado nas Rendas de Bilros de
Peniche e para a criação do mesmo, foi fundamental visitar o Museu da Renda de Bilros
de Peniche, de forma a compreender o panorama geral desta arte e o método de criação
das rendas, aspetos importantes referidos no “Capítulo 4.1.1. – A Produção da Renda de
Bilros”.
Neste Museu, estavam também expostos vários exemplos de novas aplicações da Renda
de Bilros tanto em produtos de uso corrente como outros mais simbólicos. A visualização

105
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

destes produtos permite-me justificar de um modo muito concreto a criação do meu


conceito, que constará do capítulo seguinte.
Por forma a compreender de um modo prático aquilo que foi assimilado no Museu, visitei
também a Escola das Rendas de Peniche, podendo ter observado a execução das rendas
por parte de senhoras, na sua grande maioria, reformadas. Foi também nesta Escola que
criei a Renda de Bilros para o meu projeto final, executado com primor e minuciosamente
pela Senhora Dona Nélia.

Figura 84 - Escola de Rendas de Bilros de Peniche

106
TURISMO E GIFTWARE FBAUL 2019

4.3. Conceito

Sendo a chávena de café considerada um dos produtos best-seller das indústrias de


porcelana em Portugal, e existindo a necessidade de se criar um produto competitivo em
termos de produção, com aspeto comercial e inovador, tendo em conta a investigação
desenvolvida, propõe-se a criação de uma chávena de café a ser comercializada como
giftware, inspirada na Renda de Bilros de Peniche.

Este produto é composto por uma chávena de café em porcelana e por um pires, cujo
formato é o do naperon feito em Renda de Bilros, na Escola de Rendas de Peniche. O
padrão desta Renda é impresso em alto relevo na face superior do pires.

A Renda de Bilros é extremamente delicada e rica em pormenores. Contudo, a tradução


desses detalhes em alto e baixo relevo nos moldes a utilizar em produção industrial é
suscetível de criar dificuldades. Houve assim necessidade de procurar um ponto de
equilíbrio que permitisse conjugar estes dois aspetos de uma forma harmoniosa, de modo
a que fosse possível imprimir a textura da renda na porcelana, sem lhe retirar a sua
delicadeza. Face a este condicionalismo, a textura da renda, criada à medida para este
efeito, é apenas impressa no pires, pois deste modo, a peça sairá mais facilmente do
molde. A chávena não apresenta textura nenhuma, mas o seu formato é igualmente
delicado, e a asa apresenta na extremidade superior, um pequeno detalhe que se interliga
com o formato do pires, tornando todo o conjunto mais requintado. A chávena assenta no
pires, que tendo a textura saliente, dá a ilusão de que está a assentar numa renda real, que
serve como elemento decorativo ou de proteção ao próprio pires.
Para a criação e execução do conceito, foram necessárias uma ampla investigação e a
definição de uma metodologia que atenta em diversos e importantes fatores:
1) Em primeiro lugar, precisei de definir a categoria em que se iria inserir o projeto
prático da presente dissertação.
Selecionei a chávena de café como projeto prático a ser desenvolvido. Tendo em
conta que este iria ser um produto caro, devido ao formato do pires fora do
comum, e à sua textura em alto-relevo, e que este tipo de produtos são geralmente
expostos pelo seu carácter diferenciador, tanto utilitário como decorativo, optei
por criar uma chávena de café que se vende unitariamente, dentro de uma
embalagem;

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2) Para a compreensão da produção em porcelana de este tipo de produtos,


nomeadamente da fase final de pintura e cozedura, pois são dois fatores que pesam
para a criação deste conceito, foi imprescindível a Visita à Fábrica da SPAL;
3) Sendo que este produto é inspirado nas Rendas de Bilros de Peniche, foi
necessário selecionar o padrão e definir as zonas em que iria ser impresso o
mesmo. Aquando da definição do desenho do padrão, foi feita, em primeiro plano,
uma visita ao Museu das Rendas de Bilros de Peniche de forma a ser adquirido
conhecimento da história e inspiração para o desenvolvimento do produto, e em
segundo, uma visita à Escola das Rendas de Bilros de Peniche, com o intuito de
serem compreendidas as técnicas de produção das Rendas e o tipo de padrões
possíveis de ser executados para a impressão no produto em questão. O padrão da
renda foi criado tendo em conta a dimensão do pires e pormenores passíveis de
serem impressos;
4) Após a seleção do padrão, este foi passado para formato digital, e foi feita a
modelação 3D do produto juntamente com a renderização do mesmo. Para a
criação dos renders, foi necessário encontrar as cores certas para o produto. Tendo
em conta que a Renda de Bilros é branca, não fazia sentido criar uma chávena de
café multicolorida. No entanto, um produto totalmente branco não faria brilhar a
Renda de Bilros impressa com textura. Como tal, para a cor do pires, foi pensado
o tom de azul do azulejo português, por ser tão característica e simbólica, estando
este também associado ao ramo da cerâmica industrial. Em contraste, a chávena
permanece branca, para se unir ao tom do padrão da Renda de Bilros impresso no
pires e tornar todo o conjunto mais harmonioso. Como a textura da renda impressa
no pires é branca, dá a ilusão de que existe mesmo uma renda sobre o pires,
tornando este produto de giftware especial, indo ao encontro dos elementos
simbólicos de Portugal, neste caso, elemento caracterizador de Peniche, e das
próprias tendências;
5) Foi necessário também criar a embalagem para este produto, juntamente com um
flyer que acompanha o mesmo, onde é indicado, por um lado, um resumo breve
da história da Renda de Bilros, e por outro, o conceito em traços gerais deste
produto;
6) Para o produto ficar completo, foi preciso pensar num nome que se adequasse
historicamente, que fosse sonante e de fácil leitura. “Teresa de Portugal” foi o
nome escolhido para este produto, fazendo alusão ao seguinte prelúdio: D. Teresa,

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infanta de Portugal, filha de D. Afonso Henriques e condessa da Flandres, era


casada com Filipe da Alsácia, conde da Flandres. Por volta do século XVI as
Rendas de Bilros foram trazidas da Flandres. Tendo a palavra “Portugal” no nome,
existe uma fácil associação ao país em que este produto é produzido.
7) No fim, este conjunto foi impresso em 3D, em pó de gesso, juntamente com a
textura, servindo este como modelo exemplar do projeto prático, que resume e
evidencia de forma palpável o tema da presente dissertação.

4.4. Dossier de Projeto

Figura 85 - Chávena de Café Teresa de Portugal

Teresa de Portugal
A chávena “Teresa de Portugal” responde à necessidade de quem procura um produto
diferenciador, onde se evidenciam valores como a tradição e inovação.
Inspirada nas Rendas de Bilros de Peniche, esta chávena promove a valorização de uma
cultura e saber intrínsecos na génese de Peniche e procura restaurar essa mesma tradição.

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Figura 86 - Padrão Selecionado em Renda de Bilros

O padrão em alto relevo é feito a partir de decalques reativos, cujo padrão, sob o efeito
do calor, expande, transformando-se num padrão em alto-relevo.
Tendo em conta que as Rendas de Bilros são feitas tradicionalmente com linha de
algodão, em produção porcelânica industrial, é feito, neste relevo, um decalque com o
branco, tom original das rendas, adquirindo a textura esta cor no seu estado final.

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Figura 87 - Desenho Técnico do Produto Final

Desenhos Técnicos

A chávena de café e respetivo pires “Teresa de Portugal” apresentam as dimensões


standard para este tipo de produto.
Embora o pires não tenha a configuração circular comum e apresente o formato exterior
da renda que foi criada para este produto, mostra uma dimensão proporcional à chávena
e ergonomicamente correta para o fácil manuseio do mesmo.
As linhas exteriores deste produto procuram integrar-se no próprio conceito que está por
trás: chávena e pires com uma configuração elegante, ousada e minuciosa.

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Figura 88- Embalagem do Produto

Embalagem
Para este produto, foi também pensada uma embalagem O modo como a embalagem é
feita permite que o padrão da renda impresso no pires em alto relevo fique em evidência,
embelezando o próprio produto. O formato do pires vazado no cartão superior que está
no interior da embalagem expõe o pires com a renda, e ao lado é escrito o nome do produto
– Teresa de Portugal – dando a conhecê-lo.
A embalagem é feita de cartão com a cor do pique – cartão sobre o qual são feitas as
Rendas de Bilros – e é envolvida por uma faixa que vai ao encontro das cores do produto
e onde já se dá a conhecer a imagem gráfica da chávena de café.

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Figura 89 - Flyer do Produto

Flyer
Existe também um flyer que acompanha a embalagem, que contextualiza tanto as Rendas
de Bilros, como o próprio conceito do produto, dando a conhecer o mote criador desta
chávena, como produto diferenciador e autêntico.
A página central do flyer tem a silhueta do pires vazada, com a imagem impressa da renda,
presa apenas por dois pontos, a qual pode ser destacada, fazendo uma alusão ao pires,
mas em cartão, servindo como uma base para chávenas ou um pires extra, proporcionando
deste modo um momento divertido e original.
“Destaque para um café” é a frase que se encontra na face posterior desta silhueta, que,
tendo um duplo sentido, reforça um momento lúdico.

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Figura 90 – Variações de Cor do Produto

Variação de Cores
Para além das cores escolhidas para a chávena Teresa de Portugal (1), esta poderá
apresentar outras variações de cor, que reflitam a qualidade, primor e delicadeza das
Rendas de Bilros.
Sendo que as rendas são brancas, faz sentido que se mantenham desta cor. No entanto,
tanto o pires como a chávena poderão ter outra pigmentação:
1) Chávena e pires brancos (2) – conjunto neutro, no qual a renda não está tanto em
evidência, mas o pires brilhará tanto pelo seu formato como pela textura em alto
relevo que nele é impresso;
2) Chávena e pires totalmente azuis (3), do tom característico do azulejo português
– nesta versão, a renda está em total destaque e é perfeito para quem gosta de
chávenas com cores fortes;
3) Chávena e pires da cor do pique (4), no qual é feita a Renda de Bilros – o tom de
areia do pique é uma das cores tendência, e para este produto adequa-se, pois é o
pique que está na base para a criação das rendas. A textura das rendas está também
em evidência no pires, ainda que de um modo mais subtil.

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4.5. Considerações Intermédias

As raízes do design português podem ser descobertas em vários produtos tradicionais


desde há muitos séculos, e das várias terras portuguesas onde se podem encontrar estas
tradições, Peniche foi a terra que serviu de mote para a criação do projeto prático. As
Rendas de Bilros, apesar de serem originais na Flandres, souberam ser bem-adaptadas em
Portugal, tendo-se transformado numa tradição de Peniche à qual está intrinsecamente
ligada.
As Rendas de Bilros foram o sustento de muita gente em tempos de escassez, revelando-
se um saber transmitido de geração em geração, mas que atualmente, e infelizmente, já
se começa a perder. Para obviar a esta situação, o Museu da Renda de Bilros e
principalmente a Escola de Rendas de Peniche, tornaram-se locais fulcrais para a
aprendizagem dos métodos familiares de produção das Rendas de Bilros e a sua aplicação
em novos conceitos. Prova disso são as aplicações das rendas em objetos de uso comum,
de adorno ou vestuário, contribuindo deste modo para a afirmação desta arte da terra de
Peniche, valorizando assim a tradição e a inovação que caracterizam simultaneamente
estes objetos.
Neste contexto, o produto que se propõe promove esta arte tradicional aliada à produção
industrial. “Teresa de Portugal” é um produto composto por uma chávena de café e um
pires, no qual está impresso o padrão de Rendas de Bilros cuidadosamente criado,
inserindo-se no subsetor do giftware turístico.
As visitas ao Museu da Renda de Bilros e à Escola de Rendas de Peniche foram
imprescindíveis para a concretização do projeto prático, pois permitiram-me compreender
e assimilar o processo de fabrico das rendas e toda a sua envolvente histórica, e pôr em
prática esse conhecimento adquirido para a confeção deste produto em porcelana.
O produto agora apresentado representa o culminar desta dissertação, e espelha os aspetos
principais retidos nesta investigação, indo ao encontro daquilo que é primeiramente
pretendido: uma chávena de café produzida industrialmente em porcelana, e que promove
tanto a identidade e cultura nacionais como a inovação e engenho da produção industrial
de porcelana portuguesa.

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5. CONCLUSÃO

Com origem na palavra grega “Keramos”, cerâmica refere-se à arte de produzir objetos
artísticos, utilitários ou decorativos, usando como matéria-prima a argila. A cerâmica
tradicional portuguesa tem nas suas origens as diversas civilizações e culturas milenares,
sendo possível encontrar vestígios das gerações romanas, árabes ou celtas, tanto a partir
dos processos de fabrico, como da forma e função para as quais cada um destes artefactos
é concebido. De um modo geral, foram estas formas que serviram de ponto de partida
para a definição e caracterização dos vários fabricos cerâmicos.
A cerâmica não é uma indústria de agora. Foi uma indústria de sempre, que soube
acompanhar a vida do ser humano desde o seu despertar, seguindo a evolução da História.
A necessidade de criar está latente no ser humano. É uma parte essencial da sua vida e da
qual não nos podemos permitir negar. A cerâmica é uma das manifestações do engenho
do homem que mais tem prendido a sua atenção, e é nela que se reflete o carácter de quem
a produz. Os materiais cerâmicos, nas suas mais variadas aplicações, continuam, nos dias
que correm, a ser utilizados, relacionando-se com um padrão de vida alto, no sentido em
que as suas características os tornam superiores a outros materiais, como valor estético e
cultural acrescentado.
Em todas as suas manifestações, a cerâmica portuguesa mostra ter acompanhado o que se
produziu no estrangeiro, assinalando o seu próprio cunho artístico. Portugal destaca-se na
indústria cerâmica, a partir da qualidade e inovação, fatores que permitiram que a
cerâmica constituísse neste país um importante legado, suportado por um vasto nível
cultural e estético, dando origem a metodologias e métodos de produção característicos.
Numa procura constante de novas aplicações e métodos de produção, a indústria cerâmica
alicerça-se em Portugal desde há muitos séculos, tendo-se afirmado como um importante
polo produtivo que exporta para todo o mundo e como defensor e produtor das indústrias
porcelanas de excelência.
A indústria da porcelana portuguesa abrange os subsectores da louça sanitária, dos
pavimentos e revestimentos, da porcelana utilitária e decorativa, e de outras porcelanas
especiais associadas a equipamentos tecnológicos. Esta indústria tem-se expandido ao
longo dos tempos, quer a partir do conhecimento técnico e material, quer da valorização
dos elementos chave da identidade portuguesa, com um projeto de futuro que avalia as
tendências contemporâneas internacionais.

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São várias as marcas de porcelana, que avaliando estas tendências, criam produtos para
os vários subsectores porcelânicos, que do ponto de vista dos requisitos funcionais e
estéticos vão ao encontro dos produtos que são mais procurados pela população, no geral.
Constata-se que a chávena de café, pela sua intemporalidade e versatilidade, é um dos
produtos best-seller em porcelana, a qual se insere no subsector da porcelana de
tableware.

No entanto, esta indústria de porcelana nacional, a partir, por um lado, da evolução


tecnológica e do desenvolvimento das suas funcionalidades, e por outro, do forte
crescimento turístico, passou também a ser identificada como um material potencial a ser
aplicado noutros subsetores industriais. O subsector do giftware é um deles, e atualmente,
são poucas as marcas que não têm esta vertente. A área do giftware é um nicho que tem
vindo a crescer profundamente e que está a dar frutos, no sentido em que consegue dar
resposta a quem procura este tipo de produtos, número cada vez maior, e que pela sua
versatilidade ou diferenciação, pode dar aso à criação de inúmeros e originais produtos,
tanto decorativos como utilitários.
Em Portugal, o produto de giftware está maioritariamente associado a elementos que
caracterizam este país, particularmente pela sua génese e tradição.
Com uma História de mais de oitocentos anos, Portugal é um dos países mais antigos do
mundo. Ao longo dos extensos séculos de história, criaram-se várias tradições
portuguesas e traços culturais que hoje definem a sociedade nas mais diversas áreas.
Uma das que se afirmou no panorama cultural como uma das mais importantes tradições,
foi o artesanato, sobretudo a partir do século XVII.
Como forma de artesanato de tradição portuguesa, as rendas consideram-se uma arte têxtil
que despontou em Portugal entre o final do século XV e o início do século XVI, em plena
época do Renascimento. O tipo de renda mais conhecido em Portugal é a Renda de Bilros
de Peniche e Vila do Conde, e sendo características das zonas costeiras de Portugal,
exigem muito trabalho, dedicação e paciência. D. Teresa de Portugal foi quem trouxe
estas rendas da Flandres para o nosso país.
A Renda de Bilros de Peniche é amplamente conhecida como o ex-libris do artesanato
penichense e considerada como património cultural de referência internacional. A Renda
de Bilros é, indubitavelmente, parte da herança cultural de Peniche – um Património Vivo,
testemunho da identidade, das memórias e tradições seculares deste território.

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As palavras-chave – chávena de café como produto best-seller, giftware turístico e Renda


de Bilros como tradição cultural portuguesa – definem o produto que é apresentado no
culminar da investigação teórica.
A criação da chávena de café como produto de giftware em porcelana, onde é impressa a
textura em relevo da Renda de Bilros, permite que haja uma fusão entre vários aspetos
tipicamente portugueses: o café como produto nacional de alta qualidade e referência
mundial; a indústria da porcelana portuguesa tão reconhecida internacionalmente; e as
Rendas de Bilros como arte que incute a preservação da cultura e valores da identidade
nacional.
Neste produto procurou-se agregar, de forma harmoniosa, duas atividades aparentemente
opostas: a artesanal e a industrial. Inspirado tanto nas técnicas tradicionais de elaboração
das rendas, produzidas a partir da sabedoria e gosto requintado de quem as produz, como
das novas produções industriais, define-se um produto inovador que poderá suscitar o
interesse das grandes indústrias de porcelana. Apostando nas raízes portuguesas e naquilo
que faz parte da nossa cultura e tradição, acredito que a chávena de café “Teresa de
Portugal” terá, num futuro próximo, um evidente sucesso. O que naturalmente também
acontecerá com outras criações que se caracterizem pelo rigor, inovação e qualidade,
promovendo a preservação e divulgação da cultura e valores tão singulares da identidade
portuguesa.
Partindo do princípio que o aumento turístico que se tem feito sentir em Portugal não só
se manterá como continuará a crescer, é do meu interesse promover este produto e
permitir a sua integração na indústria de porcelana, pelo que expresso três caminhos
possíveis de ser explorados futuramente:

1) Assente neste conceito, explorar outras tipologias e desenvolver um serviço ou


gama inspirado nas Rendas de Bilros, intitulada com o mesmo nome “Teresa de
Portugal”. Será o caminho mais fácil a seguir e que, por conseguinte, poderá dar
rapidamente aso a um novo serviço a ser produzido pelas grandes indústrias de
porcelana, como a Vista Alegre ou a SPAL.
As linhas e conjugação de cores e tons deste serviço seriam os mesmos e as peças
seriam promovidas como se é feito habitualmente – gama completa com preço
estipulado por peça ou ainda a possibilidade de uma gama mais reduzida e
limitada a peças-chave do serviço, respondendo deste modo às necessidades das

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novas gerações que não pretendem serviços tão extensos ou completos, mas sim
produtos que possam ser arrumados facilmente em casa;

2) A segunda hipótese permite uma simbiose entre as grandes indústrias de porcelana


em Portugal e a produção de uma arte que faz parte da cultura e identidade
nacionais. Este caminho por explorar rege-se pela criação de uma gama intitulada
“Rendas de Portugal”, onde serão criadas várias chávenas de café inspiradas nas
típicas rendas de Portugal, como o próprio nome indica, dando seguimento ao
conceito da chávena já existente com a textura das Rendas de Bilros. Esta coleção
seria especial e única, e as chávenas seriam vendidas à unidade, como coleção. Os
tradicionais bordados de Viana do Castelo, os bordados da Madeira ou as típicas
rendas de Nisa e de Pinhel, serviriam de mote para a criação desta coleção. Tal
como a chávena de café “Teresa de Portugal”, cada uma das outras chávenas de
café exporia, a partir da textura, a renda típica de cada região de Portugal,
permitindo uma coleção rica e elegante que poderia ser adquirida ao longo dos
tempos e exposta com orgulho. Os tons e formatos das chávenas e pires iriam ao
encontro das linhas e especificidades de cada renda ou bordado e os nomes dos
mesmos estariam também ligados à génese da criação das respetivas rendas.

3) A terceira proposta é a que vai mais ao encontro da ideia de produto de giftware


turístico, como resposta ao aumento do turismo em Portugal. A partir da chávena
com a textura da Renda de Bilros, que foi criada como símbolo caracterizador de
Portugal, criaria uma coleção composta por várias chávenas de café inspiradas em
diversos países espalhados pelo mundo. A coleção “World by Porcelain”
mostraria chávenas de café como símbolos que, à semelhança do que acontece
com a chávena “Teresa de Portugal”, espelham uma certa característica que está
intrínseca na génese do país em questão, promovendo a identidade cultural de
cada país. Da mesma forma que foi feita esta investigação aprofundada com o
intuito de se chegar a um produto inovador que expõe um elemento caracterizador
que está nas origens de Portugal, seria feito o mesmo tipo de pesquisa em relação
a outros países com o objetivo de se fazer a mesma associação, criando uma
coleção diferenciadora de produtos internacionais de giftware em porcelana.
Com esta coleção, poderiam ser instalados certos pontos de venda com o mesmo
nome “World by Porcelain”, nos vários aeroportos internacionais e nos típicos

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bairros históricos dos mesmos países, locais de grande afluência turística, onde
seria vendida esta coleção, que mais tarde, e consoante o número de vendas ou
tipo de procura, poderia crescer para outro tipo de tipologias.
Para além destes pontos de venda, poderia ainda existir um site onde seria possível
ver a coleção na sua totalidade e a partir do qual se poderia efetuar a compra online
das chávenas pretendidas, facilitando a comercialização destes produtos.
No site, e associado a cada chávena, estaria uma breve história de cada país e do
contexto em que o produto se insere, contribuindo para o conhecimento pessoal
de cada um, e, consequentemente, para a evolução cultural e global.
É importante salientar que todas estas chávenas seriam produzidas por uma
indústria de porcelana de renome como a Vista Alegre ou a SPAL, e que deste
modo, quem as adquirisse estaria a levar um “pedacinho” de Portugal para as suas
terras, promovendo a identidade e excelência nacionais.

Em qualquer destas situações, a chávena “Teresa de Portugal” será um produto que


corresponde às minhas expetativas iniciais, conjugando de forma simbólica a capacidade
da indústria cerâmica portuguesa, com a tradição e história presentes na nossa produção
artesanal.

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6. ANEXOS
Questionário on-line elaborado a partir do Google Forms:

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