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ANÁLISE REAL

Lógica proposicional
e quantificadores
Cristiane da Silva

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir proposições simples e compostas.


>> Identificar o valor lógico de uma proposição a partir da tabela-verdade.
>> Interpretar expressões contendo quantificadores.

Introdução
A lógica estuda a natureza do raciocínio e do conhecimento, sendo utilizada para
formalizar e justificar os elementos do raciocínio que são empregados nas de-
monstrações e nas provas de teoremas. Nesse cenário, as proposições (sentenças)
assumem valores-verdade, que podem ser verdadeiros ou falsos.
Para estudar lógica formal, é importante estar atento à notação, uma parte
importante da linguagem matemática. Isso porque, muitas vezes, reduzir um
problema a uma linguagem simbólica nos ajuda a compreender o que realmente
está acontecendo. Sendo assim, visando a simplificar a análise de argumentos,
a lógica proposicional lança mão de símbolos — os quais, cabe salientar, não são
completamente padronizados.
Neste capítulo, apresentaremos as operações lógicas e os quantificadores que
são utilizados em demonstrações formais matemáticas. Em um primeiro momento,
definiremos as proposições simples e as proposições compostas, bem como as
operações lógicas básicas (conjunção, disjunção e negação). Em seguida, discuti-
remos o valor lógico de uma proposição, apresentando como se dá a construção
de tabelas-verdade e definindo tautologia, contradição e contingência. Por fim,
2 Lógica proposicional e quantificadores

abordaremos os quantificadores universal e existencial, a negação de expressões


contendo quantificadores, a quantificação múltipla e a quantificação parcial.

Proposições e operações lógicas básicas


Proposições, também chamadas “sentenças”, correspondem a afirmações
declarativas. Isso quer dizer que podemos considerar proposições as frases
“A grama é verde” e “O Brasil fica na América do Sul”, mas, por outro lado,
não são proposições as frases “Me alcance o sal, por favor” e “Cadê a chave?”,
pois não são afirmações declarativas. Ademais, as proposições podem ser
ou verdadeiras ou falsas. Por exemplo, as proposições “Todo número primo
maior que 2 é ímpar” e “A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo
é 180°” são verdadeiras, ao passo que a proposição “Todo número ímpar é
primo” é falsa — uma vez que 9, 15, 21, etc. são números ímpares que não são
primos —, assim como também é falsa a preposição “3 + 3 = 7” (LIPSCHUTZ;
LIPSON, 2013; ÁVILA, 2006).
O significado dessas proposições pode ser compreendido com o auxílio
das regras da lógica, a qual “[...] é a base de todo raciocínio matemático e de
todo raciocínio automatizado” (ROSEN, 2010, p. 1). A lógica tem importância
fundamental no desenvolvimento do raciocínio, estimulando a reflexão em
busca de meios para a resolução de problemas, desde os mais simples até
os mais complexos. Desse modo, além de estar presente em outros cam-
pos de estudo, ela é aplicada para o “[...] desenvolvimento de máquinas de
computação, em especificação de sistemas, em inteligência artificial, em
programação de computadores, em linguagens de programação e em outras
áreas da ciência da computação” (ROSEN, 2010, p. 1).
Hunter (2011) destaca que, no intuito de utilizar um sistema formal para a
lógica, precisamos ser capazes de traduzir uma sentença em português para a
sua contrapartida formal. Em outras palavras, uma vez que a lógica proposicio-
nal lança mão de símbolos para simplificar a análise de argumentos, podemos
transformar uma afirmação em português em símbolos e conectivos lógicos.
Para tanto, empregamos letras (p, q, r, ...) para representar sentenças simples
e, depois, construímos expressões com conectivos. Vejamos um exemplo.
Lógica proposicional e quantificadores 3

Seja p a afirmação “Você está cursando uma disciplina de lógica” e


q a afirmação “Você não pode sair no final de semana”, então

p→q

representa a sentença “Se você está cursando uma disciplina de lógica, então
não pode sair no final de semana”.
A língua portuguesa nos oferece outras opções para expressarmos essa
sentença, como, por exemplo, “Você não pode sair no final de semana se está
cursando uma disciplina de lógica”, ou, ainda, “Cursando uma disciplina de
lógica, é impossível você sair no final de semana”.
Se empregarmos outro conectivo com uma das afirmações apresentadas
anteriormente, teremos outro significado. Por exemplo, ¬q significa “Não é o
caso de você não poder sair no final de semana”. Se adaptássemos essa sentença
para uma forma usual da língua portuguesa, diríamos simplesmente “Você pode
sair no final de semana”.
Nesses exemplos, podemos observar que, embora exprimam o mesmo sig-
nificado, a linguagem da lógica formal e a língua portuguesa cotidiana têm
formas diferentes.

As proposições podem ser simples ou compostas. As proposições simples


são aquelas que não podem ser decompostas em proposições mais simples,
como, por exemplo, “Ricardo é esperto”, “Um dia tem 24 horas” e “O homem
foi à Lua”. Já as proposições compostas são aquelas formadas por subpro-
posições e conectivos lógicos, como é o caso, por exemplo, das proposições
“Ricardo é esperto, ou ele estuda todas as noites”, “Um dia tem 24 horas, e
uma semana tem sete dias” e “Se o homem foi à Lua, então ele viverá eter-
namente” (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
A propriedade fundamental de uma proposição composta, conforme
Lipschutz e Lipson (2013, p. 70), é que “[...] seu valor-verdade é completamente
determinado pelos valores-verdade de suas subproposições, junto com a
maneira como elas são conectadas para formar as proposições compostas”.
Por isso, é importante estudarmos as operações lógicas básicas: conjunção,
disjunção e negação. Cabe ressaltar que, embora Lipschutz e Lipson (2013)
considerem essas como as operações lógicas básicas, alguns autores não
fazem essa distinção, trabalhando com essas três operações lógicas junta-
mente com a condicional, a bicondicional, a disjunção exclusiva, a negação
conjunta e a negação disjunta — ou seja, oito operações. Essas são básicas
porque as demais podem ser obtidas a partir delas por meio de equivalências.
4 Lógica proposicional e quantificadores

Conjunção: p ∧ q
Conjunção é a operação lógica em que, considerando-se duas proposições p
e q, a proposição composta será verdadeira somente quando ambas as pro-
posições assumirem valor lógico verdadeiro; ou seja, quando p for verdadeira
e q for verdadeira, a proposição p Λ q será verdadeira. Nos outros casos, a
proposição composta será falsa. O conectivo Λ expressa “e”.
O Quadro 1 representa a conjunção p Λ q. Nele, é possível observar que a
proposição composta por p e q somente é verdadeira na primeira linha, em
que p é verdadeira e q é verdadeira.

Quadro 1. Valor-verdade p Λ q

p q pΛq

V V V

V F F

F V F

F F F

Fonte: Adaptado de Lipschutz e Lipson (2013).

Retomando as afirmações apresentadas anteriormente e tornando-as


compostas, temos:

„„ “Todo número primo maior que 2 é ímpar, e a soma dos ângulos internos
de qualquer triângulo é 180°”;
„„ “Todo número primo maior que 2 é ímpar, e todo número ímpar é primo”;
„„ “3 + 3 = 7, e a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180°”;
„„ “3 + 3 = 7, e todo número ímpar é primo”.

A primeira proposição é verdadeira, mas as demais são falsas, pois pelo


menos uma de suas proposições simples, ou subproposições, é falsa.

Disjunção: p ∨ q
Disjunção é a operação lógica em que, considerando duas proposições p e
q, a proposição composta será falsa somente quando ambas as proposições
assumirem valor lógico falso; ou seja, quando p for falsa e q for falsa, a
Lógica proposicional e quantificadores 5

proposição p ∨ q será falsa. Nos outros casos, a proposição composta será


verdadeira. O conectivo ∨ expressa “ou”.
A disjunção p ∨ q está representada no Quadro 2, no qual se observa que
a proposição composta por p e q somente é falsa na última linha, em que
tanto p quanto q são falsas.

Quadro 2. Valor-verdade p ∨ q

p q p∨q

V V V

V F V

F V V

F F F

Fonte: Adaptado de Lipschutz e Lipson (2013).

Retomando as afirmações apresentadas anteriormente e considerando


a disjunção, temos:

„„ “Todo número primo maior que 2 é ímpar, ou a soma dos ângulos


internos de qualquer triângulo é 180°”;
„„ “Todo número primo maior que 2 é ímpar, ou todo número ímpar é
primo”;
„„ “3 + 3 = 7, ou a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180°”;
„„ “3 + 3 = 7, ou todo número ímpar é primo”.

Apenas a última proposição é falsa. Isso ocorre porque a presença de uma


subproposição verdadeira (como é o caso das três primeiras proposições
apresentadas) torna a proposição composta verdadeira quando se está
usando o conectivo lógico “ou”.
6 Lógica proposicional e quantificadores

Como destacam Lipschutz e Lipson (2013), é importante observar


que a conjunção “ou” pode ser utilizada de maneiras diferentes
em português. Ao considerarmos a proposição composta “p ou q”, ela pode
ser empregada no sentido de que pelo menos uma acontece, ou no sentido de
que somente uma acontece, mas não ambas. Nos casos em que desejamos que
apenas uma ocorra, mas não ambas, temos na lógica matemática a disjunção
exclusiva, representada pelo símbolo ∨.

Negação: ¬p
Negação é a operação lógica em que a proposição é negada, e, desse modo, é
representado o seu valor lógico oposto. Ou seja, considerando-se a proposição
p como verdadeira, ¬p terá valor lógico falso. O conectivo ¬ expressa “não”.
O Quadro 3 representa a negação ¬p. Observe que a proposição p tem
sempre o seu valor-verdade oposto na coluna da negação.

Quadro 3. Valor-verdade ¬p

p ¬p

V F

F V

Fonte: Adaptado de Lipschutz e Lipson (2013).

Retomando as afirmações apresentadas anteriormente e considerando


a negação, temos:

a)  “Todo número primo maior que 2 é ímpar”;


b)  “Todo número primo maior que 2 não é ímpar”;
c)  “É falso que todo número primo maior que 2 é ímpar”;
d)  “3 + 3 = 7”;
e)  “3 + 3 ≠ 7”;
f)  “É falso que 3 + 3 = 7”.

Note que tanto (b) quanto (c) correspondem à negação de (a); e tanto
(e) quanto (f) correspondem à negação de (d). Como (a) é uma proposição
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verdadeira, (b) e (c) são falsas; e, como (d) é uma proposição falsa, (e) e (f)
são verdadeiras.

Você poderá encontrar algumas diferenças na notação lógica para


os conectivos “e”, “ou” e “não”, pois ela não é completamente pa-
dronizada. Alguns textos, por exemplo, usam p & q, p ∙ q ou pq para p ∧ q; p + q
para p ∨ q; p′, p ou ~p para ¬p (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).

Nesta seção, você pôde compreender a importância que a lógica tem na


matemática e em outras áreas do conhecimento. Além disso, definimos as
proposições simples e as proposições compostas, bem como os conectivos
e as operações lógicas. A seguir, ampliaremos esse conhecimento estudando
as tabelas-verdade.

Tabelas-verdade
Hunter (2011) destaca que os nomes de cada conectivo (Quadro 4) sugerem
como eles devem ser usados, mas, para que sejam elaboradas sentenças
matemáticas precisas, é necessário saber exatamente o que cada conectivo
significa. Para tanto, são utilizadas as chamadas “tabelas-verdade”, que nos
permitem isolar as proposições e seus conectivos, o que facilita a visualização
e compreensão da sentença propositiva.

Quadro 4. Cinco conectivos lógicos

Nome Símbolo

e ∧

ou ∨

não ¬

implica (se... então) →

se e somente se ↔

Fonte: Adaptado de Hunter (2011).

Como na seção anterior já vimos as tabelas-verdade das operações lógicas


básicas (conjunção, disjunção e negação), apresentaremos a seguir as tabelas-
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-verdade envolvendo os conectivos “implica” e “se e somente se”. Comecemos


por este — abreviado por alguns autores como “sss” —, que diz que duas
sentenças têm exatamente os mesmos valores V/F (Quadro 5) (HUNTER, 2011).

Quadro 5. Valor-verdade p ↔ q

p q p↔q

V V V

V F F

F V F

F F V

Fonte: Adaptado de Hunter (2011).

Já a definição do conectivo “implica” é menos intuitiva, como vemos no


Quadro 6.

Quadro 6. Valor-verdade p → q

p q p→q

V V V

V F F

F V V

F F V

Fonte: Adaptado de Hunter (2011).

Para compreender a operação bicondicional “se e somente se”, vamos


acompanhar a seguinte situação:

„„ p = “8 é maior que 7”;


„„ q = “7 é menor que 8”.
Lógica proposicional e quantificadores 9

A bicondicional é equivalente a:

„„ p → q = “Se 8 é maior que 7, então 7 é menor que 8”;

„„ q → p = “Se 7 é menor que 8, então 8 é maior que 7”.

A bicondicional expressa uma condição suficiente e necessária, ou seja, 8


ser maior que 7 é condição suficiente e necessária para 7 ser menor do que 8.
Lipschutz e Lipson (2013) apresentam uma das maneiras de construir
uma tabela-verdade, considerando como exemplo a proposição ¬(p ∧ ¬q),
conforme Figura 1.

(a) (b)

Figura 1. Tabela-verdade ¬(p ∧ ¬q).


Fonte: Lipschutz e Lipson (2013, p. 72).

Os autores detalham o passo a passo da construção da tabela apresentada


na Figura 1a. Cabe observar que há, nas primeiras duas colunas, as variáveis
p e q, e, nas três colunas seguintes, as operações lógicas que vão sendo
realizadas com o uso de cada conectivo. A definição do número de linhas da
tabela-verdade é dada pela fórmula 2n, em que n corresponde à quantidade
de proposições utilizadas. Por exemplo, se tivéssemos p, q, e e s envolvidas
no problema, a tabela-verdade teria 2⁴ linhas, ou seja, 16 linhas. Além disso,
na Figura 1b é possível observar que a última coluna da tabela contém o
valor-verdade final da proposição (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
Para melhor compreender o processo, vejamos mais um exemplo de
construção de tabela-verdade, considerando, dessa vez, a proposição
(p → q) ∨ (p ∧ r). Para a sua construção, realizaremos os seguintes passos:

1. nas três primeiras colunas, colocaremos as proposições simples (p,


q e r);
10 Lógica proposicional e quantificadores

2. nas duas colunas seguintes, colocaremos as proposições compostas,


que vão formar a proposição composta completa;
3. por fim, na última coluna, colocaremos a proposição composta
completa.

A tabela ficará como apresenta o Quadro 7.

Quadro 7. Tabela-verdade (p → q) ∨ (p ∧ r)

p q r p→q p∧q (p → q) ∨ (p ∧ r)

V V V V V V

V V F V F V

V F V F V V

V F F F F F

F V V V F V

F V F V F V

F F V V F V

F F F V F V

Alguns pontos importantes a serem observados são listados a seguir.

„„ O número de linhas da tabela será definido por 2n = 23 = 8.


„„ Na primeira coluna, completamos a primeira metade com o valor lógico
V, e a segunda metade, com o valor lógico F.
„„ Na segunda coluna, alternamos o preenchimento com V e F em grupos
de dois, iniciando pelo V, ou seja, VV, FF, VV e assim por diante.
„„ Na terceira coluna, alternamos entre V e F, iniciando em V.
„„ Na quarta coluna, usamos a proposição condicional “se... então”, em
que o valor lógico será falso quando p for verdadeira e q for falsa, e
será verdadeiro nos demais casos.
„„ Na quinta coluna, usamos a operação lógica da conjunção, em que
a proposição composta será verdadeira somente quando ambas as
proposições assumirem valor lógico verdadeiro.
„„ Por fim, na última coluna, usamos a operação lógica da disjunção,
em que a proposição composta será falsa somente quando ambas as
proposições assumirem valor lógico falso.
Lógica proposicional e quantificadores 11

A seguir, vamos apresentar um exemplo envolvendo lógica que pode ser


desenvolvido na educação básica. Para isso, vamos considerar a definição
de Hunter (2011, p. 4), que diz que “[...] duas sentenças são logicamente equi-
valentes se têm os mesmos valores V/F para todos os casos, ou seja, se elas
têm as mesmas tabelas-verdade”. O exemplo é de Hunter (2011).

Consideremos o seguinte teorema de geometria do ensino médio:


“Se um quadrilátero tem um par de lados paralelos, então ele tem
um par de ângulos suplementares”. A Figura 2 ilustra um quadrilátero.

Figura 2. Quadrilátero.
Fonte: Hunter (2011, p. 4).

A forma desse teorema é p → q, em que p corresponde à proposição “O quadri-


látero tem um par de lados paralelos” e q corresponde à proposição “O quadrilátero
tem um par de ângulos suplementares”. Essas sentenças podem constituir um
teorema diferente, representado por ¬q → ¬p: “Se o quadrilátero não tem um
par de ângulos suplementares, então ele não tem um par de lados paralelos”.
Uma vez que a sentença formal p → q é logicamente equivalente à sentença
formal ¬q → ¬p (como mostra a tabela-verdade apresentada no Quadro 8), o
primeiro teorema é logicamente equivalente ao segundo.

Quadro 8. Tabela-verdade p → q e ¬q → ¬p

p q p→q ¬q ¬p ¬q → ¬p

V V V F F V
V F F V F F
F V V F V V
F F V V V V

Fonte: Adaptado de Hunter (2011).

Como se pode observar no Quadro 8, as colunas p → q e ¬q → ¬p são iguais.


“Uma vez que o primeiro teorema é um teorema de geometria verdadeiro, con-
cluímos que o segundo também é” (HUNTER, 2011, p. 4).
12 Lógica proposicional e quantificadores

Chama-se tautologia a proposição composta que sempre é verdadeira


independentemente dos valores lógicos assumidos pelas proposições simples
que a compõem, como, por exemplo, a proposição “p ou não p”, isto é, p∨¬p
(Figura 3a). Por outro lado, uma contradição ocorrerá quando a proposição
composta sempre for falsa independentemente dos valores lógicos assumidos
pelas proposições simples que a compõem, como, por exemplo, a proposição
“p e não p”, isto é, p∧¬p (Figura 3b) (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).

(a) (b)

Figura 3. Tabelas-verdade (a) p∨¬p e (b) p∧¬p.


Fonte: Lipschutz e Lipson (2013, p. 73).

A negação de uma tautologia será sempre uma contradição, considerando-


-se o valor lógico que assumirá. E a negação de uma contradição será sempre
uma tautologia, pois seu valor lógico será sempre verdadeiro (LIPSCHUTZ;
LIPSON, 2013).
Há também uma terceira possibilidade: uma proposição composta que
não é nem uma tautologia nem uma contradição, ou seja, uma proposição
composta cujo valor lógico depende dos valores lógicos das proposições sim-
ples que a compõem. Nesse caso, o que temos é a chamada contingência. Em
resumo, estaremos diante de uma tautologia quando todos os valores forem
verdadeiros na coluna da proposição composta da tabela-verdade. Quando
nessa coluna todos os valores lógicos forem falsos, estaremos diante de uma
contradição. E, por sua vez, quando essa coluna apresentar uma mistura de
verdadeiros e falsos, haverá uma contingência.
Nesta seção, descrevemos como se identifica o valor lógico de uma pro-
posição e como são construídas as tabelas-verdade para a determinação do
valor lógico de proposições compostas. Além disso, definimos tautologia,
contradição e contingência. A seguir, aprofundaremos o nosso estudo, apre-
sentando os quantificadores.
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Quantificadores universal e existencial


Vimos que, em matemática, podemos utilizar símbolos para quantificar ele-
mentos. A esses símbolos damos o nome de “quantificadores”, comumente
utilizados em álgebra e em lógica. Nesta seção, trataremos dos dois tipos
de quantificadores (o universal e o existencial), da negação de expressões
contendo quantificadores, da quantificação múltipla e da quantificação parcial.
Considerando A um dado conjunto, Lipschutz e Lipson (2013, p. 76) afirmam
que uma função proposicional — ou sentença aberta, ou condição — definida
sobre A é uma expressão p(x) “[...] que tem a propriedade de que p(a) é ver-
dadeira ou falsa para cada a ∈ A′′.

Quantificador universal
O quantificador universal é utilizado para fazer menção a todos os elementos
de um conjunto. Por exemplo: “Todo aprendizado é importante”; “Para todo
x ∈ N, temos que x + 3 ≠ 0′′. Aqui também podemos considerar mais duas ex-
pressões: “para qualquer” e “qualquer que seja”. Vale lembrar que, em teoria
dos números, N é o conjunto dos números naturais ou inteiros positivos, ou
seja, N = {1,2,3,4,…} (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
Seja p(x) uma função proposicional definida sobre um conjunto A, considere
a expressão (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013):

que se lê “Para todo x em A, p(x) é uma sentença verdadeira” ou, simplesmente,


“Para todo x, p(x)”.
O símbolo ∀, que se lê “para todo”, é chamado “quantificador universal”
(LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
A sentença (∀x ∈ A) p(x) é equivalente à afirmação (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013):

ou seja, à afirmação de que o conjunto verdade de p(x) é o conjunto todo A.


Conforme Lipschutz e Lipson (2013, p. 77), a “[...] expressão p(x) em si é uma
sentença aberta ou condição e, portanto, não tem valor-verdade. Contudo
∀x p(x), isto é, p(x) precedida pelo quantificador ∀, tem um valor-verdade
que segue da equivalência [...]” entre ∀x p(x) e
Especificamente:

Q 1: Se {x | x ∈ A, p(x)} = A, então ∀x p(x) é verdadeira; caso contrário, ∀x p(x) é falsa.


14 Lógica proposicional e quantificadores

Vejamos alguns exemplos de Lipschutz e Lipson (2013, p. 77): “A proposição


é verdadeira, pois A
proposição é falsa, pois

Quantificador existencial
O quantificador existencial é utilizado para fazer menção a pelo menos um
elemento pertencente a um conjunto. Por exemplo: “A aula só iniciará se houver
pelo menos um aluno on-line”; “Existe x ∈ N tal que x + 3 ≠ 0′′. Essa proposição
é verdadeira, pois, se pensarmos, por exemplo, em 4 ∈ N, perceberemos que
4 + 3 ≠ 0. Aqui também podemos considerar as expressões “existe um”, “existe
pelo menos um”, “algum” e “existe”.
Seja p(x) uma função proposicional definida sobre um conjunto A, considere
a expressão (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013):

que se lê “Existe um x em A tal que p(x) é uma sentença verdadeira” ou,


simplesmente, “Para algum x, p(x)′′.
O símbolo ∃, que se lê “existe” ou “para algum” ou “para pelo menos um”,
é chamado “quantificador existencial” (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
A sentença (∃x ∈ A) p(x) é equivalente à afirmação (LIPSCHUTZ; LIPSON,
2013):

isto é, “[...] à afirmação de que o conjunto verdade de p(x) não é vazio. Con-
sequentemente, ∃x p(x), ou seja, p(x) precedida pelo quantificador ∃, tem um
valor-verdade” (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013, p. 78). Especificamente:

Q 2: Se {x | p(x)} ≠ ∅, então ∃x p(x) é verdadeira; caso contrário, ∃x p(x) é falsa.

Vejamos alguns exemplos:

„„ a proposição (∃n ∈ N)(n – 1 < 5) é verdadeira, pois {n | n – 1 < 5} = {n | n


< 6} ={1, 5, 2, 4, 5} ≠ ∅;
„„ a proposição (∃n ∈ N)(n + 10 < 2) é falsa, pois {n | n + 10 < 2} = {n | n <
–8} = ∅.
Lógica proposicional e quantificadores 15

Para saber mais sobre como uma proposição matemática aparente-


mente simples evolui para uma proposição mais complexa, sugerimos a
leitura do capítulo 1 da obra “Fundamentos da matemática discreta”, de Hunter (2011).

Negação de proposições quantificadas


Agora abordaremos a negação de proposições quantificadas, aquelas que
utilizam expressões como “todo”, “algum” e “nenhum”. Negar uma proposição
nada mais é do que trocar o seu valor lógico. Em outras palavras, quando a
proposição for verdadeira, a sua negação será uma proposição falsa; quando
uma proposição for falsa, a sua negação será uma proposição verdadeira.
Nesse contexto, é importante saber que:

„„ a negação de uma proposição universal afirmativa (todo) será uma


proposição universal negativa (nenhum, todo... não...);
„„ a negação de uma proposição particular afirmativa (algum) será uma
proposição particular negativa (algum... não é...).

Observe os exemplos no Quadro 9.

Quadro 9. Exemplos de proposições e suas respectivas negações

Proposição Negação da proposição

Alguma pandemia é grave. Nenhuma pandemia é grave.

Existe pandemia que é grave. Toda pandemia não é grave.

Nenhum erro é importante. Algum erro é importante.

Todo erro não é importante. Existe erro que é importante.

Essas negações são definidas pelos teoremas de De Morgan, que são


apresentados por Lipschutz e Lipson (2013):
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Em outras palavras, são equivalentes as duas sentenças apresentadas


a seguir.

„„ “Não é verdade que, para todo a ∈ A, p(a) é verdadeira”.


„„ “Existe um a ∈ A tal que p(a) é falsa”.

Há um teorema análogo para a negação de uma proposição que contém


o quantificador existencial:

Em outras palavras, são equivalentes as duas sentenças apresentadas


a seguir.

„„ “Não é verdade que, para algum a ∈ A, p(a) é verdadeira”.


„„ “Para todo a ∈ A, p(a) é falsa”.

Vejamos os seguintes exemplos, adaptados de Lipschutz e Lipson


(2013).
„„ As sentenças a seguir são negações uma da outra:
„„ “Para todos os inteiros positivos n temos n + 3 > 9′′;
„„ “Existe um inteiro positivo n tal que n + 3 > 9′′.
„„ As sentenças a seguir também são negações uma da outra:
„„ “Existe uma pessoa viva com 160 anos de idade”;
„„ “Toda pessoa viva não tem 160 anos de idade”.

Funções proposicionais com mais de uma variável


Lipschutz e Lipson (2013) definem as funções proposicionais com mais de
uma variável da seguinte forma: uma função proposicional (de n variáveis)
definida sobre um produto cartesiano A = A1 × … × An é uma expressão p(x1, x2,
… , xn) que tem a propriedade de que p(a1, a2, … , an) é verdadeira ou falsa para
qualquer n-upla p(a1, a2, … , an) de A. Por exemplo, x + 2y + 3z < 18 é uma função
proposicional N3 = N × N × N. Essa função proposicional não tem valor-verdade.
No entanto, temos o seguinte princípio básico: uma função proposicional
Lógica proposicional e quantificadores 17

precedida por um quantificador para cada variável — por exemplo, ∀x∃y,


p(x, y) ou ∃x∀y∃z, p(x, y, z) — denota uma sentença e tem um valor-verdade
(LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
Em outras palavras, as proposições assumem valores verdadeiro ou falso,
mas as funções proposicionais (ou um predicado) não podem ser ditas ver-
dadeiras ou falsas, pois elas determinam um conjunto de entidades em um
conjunto de valores-verdade. Ou seja, temos o domínio, que é o conjunto das
fórmulas, e o contradomínio, que é o conjunto dos valores-verdade.

Vejamos dois exemplos apresentados por Lipschutz e Lipson (2013).

Seja B = {1, 2, 3, …, 9} e considere que p(x, y) denota “x + y = 10”. Então p(x, y)


é uma função proposicional sobre A = B2 = B × B.

a) O que se segue é uma sentença, uma vez que há um quantificador para cada
variável:
∀x∃y, p(x, y), isto é, “Para todo x, existe y tal que x + y = 10”

Essa sentença é verdadeira. Por exemplo, se x = 1, faça y = 9; se x = 2, faça


y = 8; e assim por diante.
b) O que se segue também é uma sentença:
∃y∀x, p(x, y), isto é, “Existe y tal que, para todo x, temos x + y = 10”

Não existe tal y; logo, essa sentença é falsa.

Note que a ordem dos quantificadores é a única diferença entre (a) e (b).
“Assim, uma ordenação diferente dos quantificadores pode produzir uma sen-
tença diferente. Notamos que, quando traduzimos tais sentenças quantificadas
para o português, a expressão ‘tal que’ frequentemente é seguida por ‘existe’”
(LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013, p. 80).

Nesta seção, você conheceu os quantificadores universal e existencial, bem


como as negações das expressões envolvendo esses quantificadores. Além
disso, aprendemos a interpretar as expressões contendo quantificadores,
verificando que a ordem deles importa.
18 Lógica proposicional e quantificadores

Referências
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.
HUNTER, D. J. Fundamentos da matemática discreta. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.

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