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Lógica proposicional
e quantificadores
Cristiane da Silva
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A lógica estuda a natureza do raciocínio e do conhecimento, sendo utilizada para
formalizar e justificar os elementos do raciocínio que são empregados nas de-
monstrações e nas provas de teoremas. Nesse cenário, as proposições (sentenças)
assumem valores-verdade, que podem ser verdadeiros ou falsos.
Para estudar lógica formal, é importante estar atento à notação, uma parte
importante da linguagem matemática. Isso porque, muitas vezes, reduzir um
problema a uma linguagem simbólica nos ajuda a compreender o que realmente
está acontecendo. Sendo assim, visando a simplificar a análise de argumentos,
a lógica proposicional lança mão de símbolos — os quais, cabe salientar, não são
completamente padronizados.
Neste capítulo, apresentaremos as operações lógicas e os quantificadores que
são utilizados em demonstrações formais matemáticas. Em um primeiro momento,
definiremos as proposições simples e as proposições compostas, bem como as
operações lógicas básicas (conjunção, disjunção e negação). Em seguida, discuti-
remos o valor lógico de uma proposição, apresentando como se dá a construção
de tabelas-verdade e definindo tautologia, contradição e contingência. Por fim,
2 Lógica proposicional e quantificadores
p→q
representa a sentença “Se você está cursando uma disciplina de lógica, então
não pode sair no final de semana”.
A língua portuguesa nos oferece outras opções para expressarmos essa
sentença, como, por exemplo, “Você não pode sair no final de semana se está
cursando uma disciplina de lógica”, ou, ainda, “Cursando uma disciplina de
lógica, é impossível você sair no final de semana”.
Se empregarmos outro conectivo com uma das afirmações apresentadas
anteriormente, teremos outro significado. Por exemplo, ¬q significa “Não é o
caso de você não poder sair no final de semana”. Se adaptássemos essa sentença
para uma forma usual da língua portuguesa, diríamos simplesmente “Você pode
sair no final de semana”.
Nesses exemplos, podemos observar que, embora exprimam o mesmo sig-
nificado, a linguagem da lógica formal e a língua portuguesa cotidiana têm
formas diferentes.
Conjunção: p ∧ q
Conjunção é a operação lógica em que, considerando-se duas proposições p
e q, a proposição composta será verdadeira somente quando ambas as pro-
posições assumirem valor lógico verdadeiro; ou seja, quando p for verdadeira
e q for verdadeira, a proposição p Λ q será verdadeira. Nos outros casos, a
proposição composta será falsa. O conectivo Λ expressa “e”.
O Quadro 1 representa a conjunção p Λ q. Nele, é possível observar que a
proposição composta por p e q somente é verdadeira na primeira linha, em
que p é verdadeira e q é verdadeira.
Quadro 1. Valor-verdade p Λ q
p q pΛq
V V V
V F F
F V F
F F F
“Todo número primo maior que 2 é ímpar, e a soma dos ângulos internos
de qualquer triângulo é 180°”;
“Todo número primo maior que 2 é ímpar, e todo número ímpar é primo”;
“3 + 3 = 7, e a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180°”;
“3 + 3 = 7, e todo número ímpar é primo”.
Disjunção: p ∨ q
Disjunção é a operação lógica em que, considerando duas proposições p e
q, a proposição composta será falsa somente quando ambas as proposições
assumirem valor lógico falso; ou seja, quando p for falsa e q for falsa, a
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Quadro 2. Valor-verdade p ∨ q
p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F
Negação: ¬p
Negação é a operação lógica em que a proposição é negada, e, desse modo, é
representado o seu valor lógico oposto. Ou seja, considerando-se a proposição
p como verdadeira, ¬p terá valor lógico falso. O conectivo ¬ expressa “não”.
O Quadro 3 representa a negação ¬p. Observe que a proposição p tem
sempre o seu valor-verdade oposto na coluna da negação.
Quadro 3. Valor-verdade ¬p
p ¬p
V F
F V
Note que tanto (b) quanto (c) correspondem à negação de (a); e tanto
(e) quanto (f) correspondem à negação de (d). Como (a) é uma proposição
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verdadeira, (b) e (c) são falsas; e, como (d) é uma proposição falsa, (e) e (f)
são verdadeiras.
Tabelas-verdade
Hunter (2011) destaca que os nomes de cada conectivo (Quadro 4) sugerem
como eles devem ser usados, mas, para que sejam elaboradas sentenças
matemáticas precisas, é necessário saber exatamente o que cada conectivo
significa. Para tanto, são utilizadas as chamadas “tabelas-verdade”, que nos
permitem isolar as proposições e seus conectivos, o que facilita a visualização
e compreensão da sentença propositiva.
Nome Símbolo
e ∧
ou ∨
não ¬
se e somente se ↔
Quadro 5. Valor-verdade p ↔ q
p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V
Quadro 6. Valor-verdade p → q
p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
A bicondicional é equivalente a:
(a) (b)
Quadro 7. Tabela-verdade (p → q) ∨ (p ∧ r)
p q r p→q p∧q (p → q) ∨ (p ∧ r)
V V V V V V
V V F V F V
V F V F V V
V F F F F F
F V V V F V
F V F V F V
F F V V F V
F F F V F V
Figura 2. Quadrilátero.
Fonte: Hunter (2011, p. 4).
Quadro 8. Tabela-verdade p → q e ¬q → ¬p
p q p→q ¬q ¬p ¬q → ¬p
V V V F F V
V F F V F F
F V V F V V
F F V V V V
(a) (b)
Quantificador universal
O quantificador universal é utilizado para fazer menção a todos os elementos
de um conjunto. Por exemplo: “Todo aprendizado é importante”; “Para todo
x ∈ N, temos que x + 3 ≠ 0′′. Aqui também podemos considerar mais duas ex-
pressões: “para qualquer” e “qualquer que seja”. Vale lembrar que, em teoria
dos números, N é o conjunto dos números naturais ou inteiros positivos, ou
seja, N = {1,2,3,4,…} (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013).
Seja p(x) uma função proposicional definida sobre um conjunto A, considere
a expressão (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013):
Quantificador existencial
O quantificador existencial é utilizado para fazer menção a pelo menos um
elemento pertencente a um conjunto. Por exemplo: “A aula só iniciará se houver
pelo menos um aluno on-line”; “Existe x ∈ N tal que x + 3 ≠ 0′′. Essa proposição
é verdadeira, pois, se pensarmos, por exemplo, em 4 ∈ N, perceberemos que
4 + 3 ≠ 0. Aqui também podemos considerar as expressões “existe um”, “existe
pelo menos um”, “algum” e “existe”.
Seja p(x) uma função proposicional definida sobre um conjunto A, considere
a expressão (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013):
isto é, “[...] à afirmação de que o conjunto verdade de p(x) não é vazio. Con-
sequentemente, ∃x p(x), ou seja, p(x) precedida pelo quantificador ∃, tem um
valor-verdade” (LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013, p. 78). Especificamente:
a) O que se segue é uma sentença, uma vez que há um quantificador para cada
variável:
∀x∃y, p(x, y), isto é, “Para todo x, existe y tal que x + y = 10”
Note que a ordem dos quantificadores é a única diferença entre (a) e (b).
“Assim, uma ordenação diferente dos quantificadores pode produzir uma sen-
tença diferente. Notamos que, quando traduzimos tais sentenças quantificadas
para o português, a expressão ‘tal que’ frequentemente é seguida por ‘existe’”
(LIPSCHUTZ; LIPSON, 2013, p. 80).
Referências
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.
HUNTER, D. J. Fundamentos da matemática discreta. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.