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Fábrica de Noobs

Desmistificando: Antena Eltanin

Natanael Antonioli
Março de 2023
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1. SUMÁRIO

1. Sumário....................................................................................................................... 2

2. Identificação da história..............................................................................................3

3. Como foi a descoberta?...............................................................................................4

4. Qual a versão sensacionalizada da descoberta?...........................................................5

5. Qual a provável explicação para o achado?.................................................................8

6. Os argumentos contrários à hipótese da esponja têm fundamento?...........................12

7. O almirante Byrd afirmou ter encontrado na Antártida um inimigo capaz voar de um


polo a outro em velocidades inimagináveis?....................................................................14

8. Conclusões................................................................................................................16
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2. IDENTIFICAÇÃO DA HISTÓRIA

O navio de pesquisa USNS Eltanin fotografou, em 1964, uma estrutura


estranhamente semelhante a uma antena de telecomunicações a 4 quilômetros de
profundidade próximo da Antártida. A história fica por conta do portal Fatos
Desconhecidos (https://www.youtube.com/watch?v=9-3OwtUHIkU).

Figura 1: vídeo da Fatos Desconhecidos.


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3. COMO FOI A DESCOBERTA?

O USNS Eltanin foi um navio de carga quebra-gelo adquirido pela marinha


americana em 1957 e definido como navio de pesquisa oceanográfica em 1962, operando
em águas nas proximidades da Antártida.

Em 29 de agosto de 1964, enquanto fotografava o fundo do mar a oeste do Cabo


Horn, o navio de pesquisas tirou a fotografia abaixo, mais especificamente nas
coordenadas 59°07'S 105°03'W a uma profundidade de 3904 metros.

Figura 2: localização e fotografia feita pelo USNS Eltanin.


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4. QUAL A VERSÃO SENSACIONALIZADA DA DESCOBERTA?

A fotografia foi noticiada pelo jornal New Zealand Herald em 5 de dezembro de


1964 sob o título Puzzle Picture From Sea Bed (reproduzido em partes em
http://anomalyinfo.com/Stories/1964-august-29-eltanin-object).

A matéria afirmava que o USNS Eltanin havia feito uma fotograifa


“enigmática”, que mostrava algo parecido com uma “estação de rádio aérea
sobressaindo no fundo do oceano”.

Figura 3: alguns trechos da matéria.

O artigo também trazia a entrevista com Thomas Hopkins, um biólogo, que, apesar
de estar relutante com a possibilidade do objeto ser feito pelo homem pela dificuldade em
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explicar como ele foi parar ali, salientava a impossibilidade de ser uma planta dada a
impossibilidade de fotossíntese naquela profundidade e mencionava estranhamento
no fato das “alças” do objeto estarem separadas por 90º.

A história veio a se tornar mais popular em 1968, com uma publicação na revista
americana SAGA intitulada Unidentified Underwater Saucers
(https://www.yumpu.com/en/document/read/56308339/unidentified-underwater-saucers-
saga-june-1968). De acordo com a matéria, a expedição fotografou uma “incrível peça
de maquinário” e, até hoje, “cientistas não têm ideia do que ela pode ser”. O
depoimento de Hopkins é novamente trazido, e o cientista descarta a possibilidade de
ser algum tipo de coral.

Figura 4: trecho da matéria da revista SAGA.

Na fotografia feita pelo navio, vemos que os “braços” da estrutura estão levemente
inclinados para cima ou para baixo, mas recriações na internet gradualmente eliminaram
esse aspecto, dando a impressão que a estrutura é totalmente reta.
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Figura 5: reprodução de computador da estrutura


(https://www.deviantart.com/emilystepp/art/The-Eltanin-Antenna-871617883).

Figura 6: outra reprodução de computador do mesmo objeto.


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5. QUAL A PROVÁVEL EXPLICAÇÃO PARA O ACHADO?

Entretanto, existe uma explicação muito mais provável e simples para o achado
que, apesar de requerer menos premissas que a hipótese de uma antena extraterrestre,
recebeu apenas 30 segundos dos 10 minutos de vídeo da Fatos Desconhecidos.

Figura 7: nos últimos 30 segundos, o vídeo da Fatos Desconhecidos faz uma breve menção à
hipótese mais provável.

Para entendermos essa hipótese, precisamos consultar o volume 2 do livro Three


Cruises of the United States Coast and Geodetic Survey Steamer "Blake": In the Gulf of
Mexico, in the Caribbean Sea, and Along the Atlantic Coast of the United States, from
1877 to 1880
(https://celebrating200years.noaa.gov/rarebooks/blake/welcome.html#:~:text=From
%201877%20to%201880%2C%20the,as%20the%20Gulf%20of%20Maine), mais
especificamente na página de número 177, que traz uma ilustração bastante
semelhante com a imagem que conhecemos.
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Figura 8: espécie de esponja identificada na expedição.

A espécie em questão foi pouco fotografada e documentada, mas é referida por


dois nomes que podem ou não corresponder a espécies diferentes: Cladorhiza
concrescens (como no livro acima, depois alterado para Chondrocladia concrescens) ou
Chondrocladia verticillata (como em https://www.marinespecies.org/aphia.php?
p=taxdetails&id=168225#distributions). Os gêneros Cladorhiza e Chondrocladia são
gêneros cosmopolitas de esponjas carnívoras.

Existem poucas fotografias da esponja na internet – o que torna uma comparação


difícil, afinal, não sabemos qual característica é regra e qual é exceção, mas as que temos
disponíveis nos mostram que, de fato, existe uma espécie de esponja composta de um
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caule reto com nós contendo 4 ramificações separadas por 90º com protuberâncias
nas pontas, assim como o objeto fotografado pelo USNS Eltanin.

Figura 9: imagem da esponja.

Figura 10: imagem da esponja.


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Figura 11: outra imagem da esponja.

Figura 12: outra esponja da mesma família, mas de uma espécie diferente (Chondrocladia
gigantea).
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6. OS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À HIPÓTESE DA ESPONJA


TÊM FUNDAMENTO?

O blog Verdade UFO (https://verdadeufo.com.br/2022/12/antena-antiga-


encontrada-no-fundo-do-mar-da-antartica-antena-
eltanin.html#O_que_e_a_Antena_Eltanin) aponta alguns argumentos contrários à
identificação da Antena Eltanin como uma esponja.

O primeiro deles é o formato, que seria mais geométrico no caso da Antena


Eltanin. Porém, as fotografias que vimos também trazem esponjas geométricas e
espera-se que a esponja submersa seja ainda mais, já que o efeito da gravidade
puxando as pontas de cada “braço” para baixo é reduzido, além de que reproduções
posteriores tornaram a antena mais geométrica do que ela realmente é.

Figura 13: o formato da antena seria um problema para identificá-la como uma esponja.

O segundo problema seria o fato de a esponja estar solitária na fotografia, afinal,


essas espécies se reproduzem soltando um pedaço que se fixa em outro ponto do mar.
Porém, apesar da espécie eventualmente formar colônias, ela também pode ser
encontrada de forma solitária
(https://www.academia.edu/43102682/Monograph_Carnivorous_sponges_from_the_Aust
ralian_Bathyal_and_Abyssal_zones_collected_during_the_RV_Investigator_2017_Exped
ition) e as fotografias que vimos trazem também esponjas solitárias.

Figura 14: o fato da esponja ser encontrada sozinha também seria um problema.
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O terceiro argumento é uma demonstração clara do frágil conhecimento em


biologia possuído pelo redator do artigo: é improvável que esponjas ou plantas marinhas
sejam encontradas a 4 quilômetros de profundidade.

Figura 15: terceiro argumento, referente à profundidade.

De fato, plantas marinhas fazem fotossíntese não são encontradas nessa


profundidade, afinal, a luz do sol não é capaz de penetrar tão fundo. O recorde de
profundidade é de uma alga (https://www.nytimes.com/1984/12/28/us/algae-discovered-
at-record-depths-in-ocean.html#:~:text=The%20discovery%20of%20a
%20previously,sunlight%20penetrates%20beyond%20this%20depth), a apenas 270
metros.

Porém, esponjas não são plantas marinhas, e a informação acima é


completamente irrelevante para nossa discussão. Esponjas, por sua vez, podem ser
carnívoras e existir em profundidades abissais de até 5 mil metros
(https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31715902/). Espécies desse gênero são, inclusive,
encontradas entre 3 e 6 mil metros de profundidade (https://obis.org/taxon/131895).

Figura 16: profundidade de espécies do mesmo gênero.


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7. O ALMIRANTE BYRD AFIRMOU TER ENCONTRADO NA


ANTÁRTIDA UM INIMIGO CAPAZ VOAR DE UM POLO A
OUTRO EM VELOCIDADES INIMAGINÁVEIS?

Essa informação não é relevante para o mistério que estamos abordando, mas
demonstra a baixíssima qualidade dos vídeos do canal Fatos Desconhecidos que, na
marca dos 8 minutos, afirmou que o explorador Richard Byrd, em uma coletiva, relatou
ter se deparado com um “inimigo que poderia voar de um polo a outro em velocidades
inimagináveis”.

Figura 17: trecho do vídeo do canal Fatos Desconhecidos.

Byrd esteve múltiplas vezes tanto na Antártida e no Polo Norte, mas jamais fez
uma alegação dessa natureza. A verdadeira alegação – que foi deturpada no vídeo da
Fatos Desconhecidos – é de uma entrevista ao jornal chileno El Mercurio, que dizia
apenas que os Estados Unidos deveriam adotar medidas contra uma invasão por
aviões hostis vindo de ambas as regiões polares, e que os polos e os oceanos não mais
eram uma garantia da segurança dos Estados Unidos.
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Figura 18: menção da fala de Richard Byrd.


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8. CONCLUSÕES

Assim, podemos concluir que a Antena Eltanin é muito provavelmente uma


esponja marinha carnívora de águas profundas da espécie Chondrocladia
concrescens, e que os argumentos contrários à essa identificação são infundados:
imagens das esponjas dessa espécie são igualmente geométricas, é possível que essa seja
uma espécie solitária e a profundidade é adequada para esponjas do mesmo gênero.

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