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Como não perder a cabeça, o casamento e 90%

na Bolsa

Por Corrado Quercia


© 2015-2017 por Corrado Quercia

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reproduzida por qualquer meio ou forma, nem apropriada ou estocada em
sistema de banco de dados, sem expressa permissão do autor.

Este livro foi cuidadosamente revisado e escrito conforme as regras do novo


Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no. 54, de
1995), mas caso encontre algum erro não deixe de comunicar ao autor.
Obrigado.

Revisão
Tarsila Quercia

Versão 2.0
A minha amada esposa que,

com amor, paciência e sabedoria

santifica nosso casamento

dia após dia.


Índice
Prefácio
Introdução
1. Há vida além da bolsa
2. Seu trabalho é a verdadeira fonte de riqueza
3. Quem é você? Descubra seu perfil
4. Curto, médio e longo prazo
Provisões
5. Invista somente o que não precisará
6. Corretoras querem corretagem
7. Preço médio não serve pra nada
Não seja o último dos moicanos
8. Seja menos ganancioso
Não faça all-in
9. Diversificação: os dois lados da moeda
10. Fuja dos fóruns de discussão
Os analistas passionais
A metáfora dos tubarões e das sardinhas
11. Corra dos “micos”
12. Day trading não é para amadores
Cuidado com análise técnica
13. Grandes quedas não implicam grandes altas
14. Invista em empresas que você conhece
15. Não invista com dinheiro dos outros
A síndrome do descobrimento da pólvora
Não alavanque
Não use conta margem
16. Cuidado com conselhos de quem se deu bem
17. Converse com sua companheira
18. Nossa estratégia de investimento
Ponto Um: Agenda
Ponto Dois: Pauta
Ponto Três: Critério
Ponto Quatro: Balanceamento da carteira
Resumo
19. Você é responsável por seus atos
Comece aos poucos
Pague primeiro as dívidas
20. Cuidado com o autoengano
21. Não tenha sentimentos pelo dinheiro
22. Não gire seu patrimônio
Alugue suas ações
23. É bom observar a conjuntura econômica
24. Estraguei tudo, o que faço?
Dê um tempo
Converse a respeito
Relaxe
Reflita
Responda com sinceridade
Prefácio

Ninguém gosta de falar sobre seus erros, e quando se trata de um erro


financeiro, a dor é maior. Dói mesmo, fere o orgulho. A capacidade de andar
em linha reta rumo à gorda conta bancária é colocada em xeque. Perder
dinheiro, seja qual for o modo, é como um tapa no rosto sem que se possa
revidar.
Falar não é fácil, escrever menos ainda. Colocar no papel os tropeços do
passado foi um exercício de humildade. Como se sente uma pessoa ao
conversar com outra sobre um investimento malsucedido por não ter
analisado cuidadosamente? É constrangedor a ponto de não entrarmos em
detalhes, de evitarmos refletir sobre o assunto.
Transpor para o papel minha experiência no mercado de ações foi doloroso.
Foi duro olhar no espelho e aceitar que falhei. Reviver o turbilhão, o esforço
para não me afogar, a insanidade do mercado financeiro, as noites mal
dormidas, os dias de trabalho sem foco e, o pior, os problemas acarretados
para meu casamento foram pesados em demasia. Lutei para esquecer as más
escolhas, mas não consegui simplesmente apagar da minha memória o
sentimento de fracasso. Uma sensação de vazio e desamparo não me
abandonava.
Enfrentar o passado e fazer o árduo exercício da reflexão foi o primeiro
passo. Compreender as razões dos meus erros e as motivações das minhas
péssimas escolhas permitiu um autoconhecimento advindo da análise da
verdade. Paguei o preço da terapia de choque e graças a Deus e a minha
família encontrei equilíbrio e compreendi claramente os mecanismos que me
levaram à bancarrota.
Escrever este livro foi secundário. Primeiramente, precisei obter as respostas,
pois sem estas não conseguiria prosseguir minha jornada rumo a novos
investimentos. Não foi simples, nem rápido. Embora não tenha gostado de
todas as respostas, esse ensaio foi primordial.
Exorcizar os fantasmas dos investimentos fracassados foi libertador. Não
somente as finanças progrediram, mas todos os aspectos da minha vida foram
impactados positivamente. Romper os grilhões do vício que me impediram de
tomar as decisões corretas trouxe tranquilidade para meu casamento, vida
pessoal e trabalho. Enfim, livre para caminhar, aplicar meu conhecimento
sem as influências do passado e voltar a mirar lá na frente, eu me vi impelido
a registrar as lições aprendidas. Percebi o quão proveitoso seria para outras
pessoas na mesma condição poder contar com um guia para os primeiros
passos ou para redefinir as rotas dos que já estão na estrada.
Porque escrever um livro sobre como não perder em vez de como ganhar na
bolsa de valores? Pode parecer algo contraditório. Todos são levados ao
mercado de ações em busca de melhores rendimentos, sobretudo acima dos
rendimentos da renda fixa. É o ganho de capital que permite a concretização
de sonhos e realizações, especialmente no longo prazo.
Para você é lógico que, se ganhar é a mola propulsora dos investimentos, o
enfoque de toda obra sobre a Bolsa de valores deveria ser acerca de como
ganhar? Se sua resposta foi um sonoro “sim”, ouso dizer que nem sempre. Na
verdade vou além, ganhar não é o mais importante e, sim, não perder.

É lamentável, mas a maioria esmagadora dos neófitos1 pensa somente nos


lucros, no ganho. Um grave problema que reside no modo como o mercado
de ações é visto por muitos. Essa visão é fruto, sobretudo, da ausência ou da
ineficiência da educação financeira básica. De modo geral, não somos
preparados para administrar nossas finanças – muito menos para investir –
pela escola, nem pela família. Não exploraremos esta questão, pois não é
nosso propósito e o assunto por si só renderia outro livro.
Some a isso a ideia de que a Bolsa de valores é um cassino, uma aposta onde
é possível ficar rico em pouco tempo, e tenha uma legião de
pseudoinvestidores fadados a quebrar. Não é incomum encontrar relatos de
pessoas decepcionadas com a renda variável. Como não bastasse a decepção,
essas pessoas terminam por vacinar outras contra o mercado de ações e seus
complementos ou alternativas à renda fixa.
Caso não estivessem tão concentrados em somente ganhar, talvez não
perdessem. Jogam com o dinheiro e tomam decisões imprudentes. Não
estudam e não administram o risco adequadamente. Não têm objetivos bem
definidos. Não conhecem a si mesmos e esperam no final alcançar a polpuda
conta-corrente. Essa perspectiva distorcida da bolsa de valores e da renda
variável é a causa raiz de haver tão poucos investidores pessoa física no
Brasil, em especial quando comparado ao mercado financeiro de países mais
maduros.
No desenrolar do livro abordaremos esses e outros assuntos de modo objetivo
e descontraído, pois não desejo terrorismo. Pelo contrário, que todos estejam
de olhos bem abertos e sem temor do mercado de ações. Para ilustrar alguns
conceitos, descrevo a experiência de outros investidores com os quais cruzei
na estrada dos investimentos, porém, para preservar suas identidades, seus
nomes foram alterados. Ademais, minha intenção foi tornar a leitura mais
didática e agradável, e para tanto as lições desse livro foram organizadas em
quatro partes.
A primeira relata minha experiência como trader e define alguns conceitos
importantes. A segunda, na qual importantes regras de conduta são discutidas
com a finalidade de preservar seu capital no mercado. A terceira, que orienta
o investidor em como abordar o assunto com esposa ou família. E, por
última, a parte que consiste num guia para preservar a saúde mental do
investidor.
Singelos ensinamentos, frutos de anos de experiência, dedicação e
observação, as lições condensam todo meu aprendizado. Sintetizam todas as
operações bem e mal sucedidas, todas as perdas e como lidei com as mesmas,
todos meus os erros e a análise de como poderia ter agido diferente. Narram
como passei de viciado na bolsa de valores a um investidor bem-sucedido.

Essas lições não devem ser tomadas como um guia para enriquecer na bolsa
de valores. Devem ser encaradas como um manual de direção defensiva. Não
têm o intuito de orientar quanto à escolha dos melhores papéis, dos fundos
imobiliários mais promissores, nem das opções mais rentáveis. Apesar de
descrever minha estratégia de investimento, a intenção não é versar sobre
análise técnica ou fundamentalista. As lições tratam de um conjunto de
medidas de segurança com um único objetivo: evitar que você, estimado
leitor, dilapide seu patrimônio, sua mente e seus relacionamentos.

*****
Introdução

A bolsa é para você? Talvez sim, talvez não. Entender e aceitar o significado
de renda variável é o primeiro ponto. Nesse sentido é um desfavor à
sociedade o que muitos jornalistas, periódicos e sites especializados praticam.
Não apenas os meios de comunicação, mas também muitos agentes do
mercado, como analistas, bancos e corretoras não se preocupam em preparar
ou formar investidores.
Na literatura existem inúmeros livros sobre renda variável e na Internet é
possível encontrar uma infinidade de sites sobre o tema. O essencial destas
leituras é entender que aplicar em renda variável significa dizer que é
impossível determinar o retorno do investimento no momento da aplicação, e
aceitar que o valor aplicado pode variar positiva ou negativamente. Simples,
em números, invista R$ 1 mil agora e esteja certo que não saberá quanto
possuirá dentro de doze meses. Quando o assunto é renda variável, você está
no campo das perspectivas futuras, nunca das certezas.
Nos momentos de euforia da bolsa há muito equívoco com respeito a esses
conceitos. Não é incomum a perspectiva dar lugar à certeza. Um exemplo
disso foi o que o Brasil presenciou a partir de 30 de abril de 2008, quando a
agência de risco Standard & Poor’s elevou a nota de crédito de moeda
estrangeira do Brasil e passamos a testemunhar o noticiário diário do ótimo
momento do mercado acionário.
Telejornais, normalmente alheios ao mercado de ações, anunciavam as boas-
novas: agora todos poderiam ganhar com a Bolsa. Analistas e corretoras
estavam otimistas ao extremo, e previsões eram divulgadas como fatos a se
concretizar e não como possibilidades. Os riscos inerentes à renda variável ou
ao mercado de capitais eram, sistematicamente, ignorados. A certeza
mesclara-se à perspectiva, e já não havia diferença entre elas.
Blogs e fóruns fervilhavam. Muitas pessoas se desfizeram de seus
automóveis e de suas próprias casas para comprar ações, tamanha era a
convicção dos ganhos. Quantos postaram em fóruns a realização de
empréstimos pessoais para não perder a oportunidade. Nessa época participei
de uma palestra e recordo de um participante afirmar que era impossível
perder com Vale e Petrobras. Quando mencionado o tema gestão de risco,
praticamente todos os participantes eram unânimes em sustentar que o
momento não oferecia risco. Ledo engano.

O apogeu desse movimento veio com estouro da bolha imobiliária nos


Estados Unidos, a crise dos subprimes2. O efeito foi desastroso. Pela
primeira vez milhares de investidores experimentaram a realidade das ações
sem, no entanto, estarem preparados. Uma angustia e sensação de impotência
diante do cenário adverso tomou conta de boa parte dos novos “visionários”
da bolsa. Não havia plano algum. Não investiram com nenhuma estratégia,
sequer cogitaram a hipótese do mercado virar. Acumularam perdas e, não
suportando mais as dores, realizaram os prejuízos. Finalmente, ao desistirem
do que consideraram um jogo ou aposta, vacinaram outros milhares contra o
mercado. Prova disso é a pífia e decrescente participação dos investidores
pessoa física no mercado acionário brasileiro.
Moral da história: invista consciente e quando ouvir uma recomendação de
compra de determinada ação no rádio enquanto dirige para o trabalho,
mantenha-se firme, você pode estar presenciando um momento de euforia na
bolsa. Digo isso não para amedrontar, mas para que fique o alerta. O mercado
de ações é como uma roda-gigante, ora por cima e todos querendo entrar, ora
por baixo e a mídia preconizando o pior. O importante de verdade é saber
seus objetivos e conhecer a empresa que está se associando, no mais dê
tempo ao tempo. O curto prazo é temperamental, recheado de oscilações e,
não raramente, irracional.
Não tenha vergonha de admitir que não esteja preparado. Se para você todas
essas variáveis são demais e por enquanto não é capaz de abrir mão da
linearidade da renda fixa, fique onde está, será melhor. Estar de fora é uma
opção legítima. Por outro lado, caso você queira extrair o melhor desse
mercado e está disposto a ignorar o vaivém dos preços, parabéns! A bolsa é
para você. Vire a página e siga em frete.

*****
1. Há vida além da bolsa

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. ”
–Oscar Wilde

O universo das ações é muito envolvente. Ao conhecê-lo somos transportados


para mares nunca dantes navegados, parafraseando Camões. Não é necessário
ir longe, já nas primeiras pesquisas somos alardeados com toda espécie de
informação, literatura e serviços completamente dedicados ao tema.
Sites, jornais, canais e programas especializados no mercado financeiro,
abordam de modo incessante os assuntos mais recentes, traçando para os
investidores o cenário econômico e as perspectivas futuras.
Milhares de profissionais trabalham com afinco para realizar os melhores
negócios, recomendar as oportunidades ainda não descobertas, desvendar os
resultados financeiros das empresas, e, claro, oferecer sua expertise aos novos
navegantes.
Não bastasse isso, é possível obter notícias e dicas minuto a minuto nas redes
sociais, sobretudo o Twitter e Facebook. Neste, traders, corretoras,
jornalistas, e outros, postam análises, opiniões, sugestões e recomendações 24
h por dia. Inclusive serviços de divulgação de notícias em tempo real, como o
Valor PRO, Bloomberg, Reuters e AE Broadcast, podem ser contratados para
obter notícias (em tese) antes de todos.
Todo esse cenário colabora para que o investidor inspire, respire e transpire a
Bolsa e suas nuances. O sentimento de fazer parte de uma comunidade é tão
intenso ao ponto de muitos esquecerem o objetivo que os trouxe ao mercado
de ações. Trata-se do investimento pelo investimento, a especulação pela
especulação. Enriquecer e acumular patrimônio torna-se secundário.
A endorfina liberada diariamente no monitoramento do mercado é tamanha
que muitos se sentem deprimidos nos feriados paulistas nos quais não há
pregão. Não encontrando a agitação das operações nesses dias, recorrem aos
sites especializados em busca de novidades ou de algo que possam especular
em como será o próximo pregão. Sem perceber, o que deveria ser um meio
para promover um futuro mais confortável e próspero, transformou-se no fim
em si mesmo.
O prejuízo dessa inversão normalmente recai sobre o trabalho, em primeiro
lugar, e depois sobre a família e vida social. Durante os anos que desenvolvi
esses hábitos, recordo-me de manter vários sites abertos, incluindo o
homebroker, durante meu expediente, apenas para acompanhar a situação do
mercado e minhas ações. Não se tratava mais de uma mera e despretensiosa
consulta, mas sim de um vício, hábitos repetitivos que estavam prejudicando
minha vida sem que eu percebesse.
Era comum estar irritado, ansioso, ou mesmo angustiado pelas reviravoltas da
bolsa que, diga-se de passagem, ocorrem em todos os momentos. Não
concebia a ideia de investir numa empresa, por melhor que fosse, e
acompanhar o investimento por meio dos resultados ou comunicados oficiais.
Existia uma pretensão por minha parte de que poderia extrair, desse
acompanhamento intenso, informações que me colocassem à frente dos
outros ou em posição mais privilegiada. Pura ingenuidade. Como se sabe, a
não ser que possua influência ou disposição para pagar, tudo que se publica já
está basicamente precificado pelo mercado.
Isso perdurou por cerca dois anos, até o dia que o estresse, ansiedade,
nervosismo e preocupação me forçaram a zerar todas as posições e a repensar
minha trajetória como investidor. Nunca me dera conta de como minha saúde
mental estava em frangalhos. Tudo aconteceu no trabalho, obviamente. Nesse
dia, que se tornou o divisor de águas na minha vida, não consegui voltar
sozinho para casa. Liguei para minha esposa e, pela primeira vez, desabafei.
Prontamente saiu de casa ao meu encontro e, chegando, topou com um
homem de olhar vago e pensativo.
Foi curioso puxar a tomada após tanto tempo ligado. Só então pude perceber
como estava dependente daquela rotina desgastante. Descobri que meu
trabalho estava um caos. Desorganização, atividades atrasadas e relatórios
mal elaborados refletiam meu estado interior. Minha vida conjugal não estava
diferente. Há tempo não conversávamos sobre nosso relacionamento, e nos
tornamos distantes um do outro.
Permaneci algum tempo líquido, fora da bolsa. Uma espécie de
desintoxicação financeira, se é que se pode dizer isso. No início não foi fácil.
Sempre que meus dedos coçavam para clicar nos favoritos e abrir o
homebroker, eu me levantava para andar ou beber água. Desinstalei todos os
aplicativos do meu celular que não eram imprescindíveis: cotações da BM&F
Bovespa, Facebook, Messenger e Twitter. Realmente não queria mais aquelas
distrações de outrora. Pouco a pouco me desliguei da agitação dos mercados
e voltei meu foco para as coisas que importavam de verdade, incluindo como
aumentar meu patrimônio e não apenas ganhar dinheiro.
Tendo isso em mente, elaboramos uma estratégia para nos beneficiarmos
daquilo que a Bolsa tem a oferecer, sem a necessidade de despendermos
nosso tempo e energia com os suspiros do mercado (essa estratégia é
apresentada adiante). Literalmente nos colocamos no nível estratégico e não
mais operacional. Deixamos este nível para os profissionais, que são os
verdadeiros operadores da bolsa.
Minha qualidade de vida cresceu enormemente. Não era mais aquele homem
dominado pelo estresse e pelo dinheiro. Não tomava mais relaxantes
musculares para conseguir descansar ou dormir. Passei a me alimentar
melhor e, claro, a trabalhar melhor. Os frutos surgiram em todas as áreas:
reparação no casamento, recuperação da saúde, crescimento aos olhos dos
meus gestores, e, pela primeira vez, aumento consistente de nosso
patrimônio. Além de ter reconquistado a paz comigo mesmo e com Deus, que
demonstrou seu esmagador carinho e cuidado por nós ao restaurar o
equilíbrio e a harmonia em nossa vida.

Hoje a Bolsa é tão somente uma ferramenta, um meio para nos ajudar a
chegar onde queremos, ou seja, usamos o mercado em nosso proveito e não o
contrário.

Para pensar…
Os investimentos estão ocupando um espaço muito grande na sua vida? Você
tem aplicativos no celular para acompanhar cotações ou seguir “gurus” do
mercado? Seja franco, em sua opinião a expressão “mercado de ações” está
associada a sucesso e planejamento, ou a emoção e aventura?
Se a prática como investidor não está contribuindo para seu crescimento ou
está prejudicando, talvez seja a hora de puxar o freio de mão. Não seja
extremista, investir deve ser algo que te dê prazer. Busque equilíbrio.

Poupar e investir é formidável, mas relaxar e curtir a vida também. Sair com
sua mulher, passear com seus filhos, viajar e cuidar do seu corpo são
exemplos de coisas que você não deve colocar em segundo plano. É
importante comemorar as pequenas vitórias e não apenas as grandes. Zerou
uma posição com lucro? Convide sua esposa para um jantar romântico. Os
investimentos são os meios, nunca os fins.

*****
2. Seu trabalho é a verdadeira fonte de riqueza

“Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.
” – Marquês de Maricá

Minha esposa coordenou durante algum tempo o departamento de vendas de


uma construtora de médio porte, quando morávamos em Belo Horizonte.
Como coordenadora não possuía um salário fixo, contava somente um com
percentual das vendas de determinados empreendimentos e um automóvel
cedido pela construtora. O trabalho era árduo. Responsável pela gestão dos
contratos, processos de pré e pós-venda, campanhas de marketing e
motivação da equipe, além de necessariamente apresentar bons resultados.
Nos fins de semana e feriados o trabalho era dobrado, quando os clientes
dispunham de mais tempo para ver com a família as oportunidades da
construtora. Quem já trabalhou com imóveis sabe do que estou falando, e do
quão inglório pode ser o ofício.
Nessa área é comum nenhum negócio ser fechado durante o mês inteiro, ou
mesmo meses. A aquisição de um apartamento não é um processo rápido.
Desde encontrar o imóvel ideal à negociação, assinatura do contrato,
liberação do financiamento e entrega das chaves, podem ser necessários dois
ou três meses, sendo bem otimista.
Nessa época eu dava os primeiros passos na bolsa de valores. Operava com
pouco capital, algo em torno de R$ 5 mil. Realizava mais prejuízos que
lucros, e, por ter pouco capital, achava que tinha que ser mais ousado. Minha
rotina era acompanhar dicas em fóruns ou em tabloides financeiros, a fim de
encontrar o veio dourado, ou seja, aquela ação com potencial de subir até a
estratosfera.
Certo ano, os negócios de minha esposa estavam em marcha lenta. Vários
clientes promissores, mas nada de concreto. Meses se passaram sem que
nenhum contrato fosse assinado. Foi então que a sorte dela mudou. Várias
negociações agarradas progrediram e, para alento dela, recebera seus maiores
honorários na construtora. Na verdade tratava-se do maior soldo de sua vida.
Nunca recebera tamanha quantia em nenhum outro trabalho, nem de longe.
Recordo-me desse momento como se fora há pouco. Enquanto conversava
com o proprietário da construtora, eu aguardava no carro ansioso por notícias,
afinal havia meses que ela não recebia um centavo. Em meu íntimo já traçara
os planos para aquele dinheiro, quando recebi por SMS a cifra exata. Exultei
por ela, que recebera esta tão merecida comissão. Meses de suor, dedicação e
comprometimento.
Dias depois caiu em minha conta corrente tal quantia. Ela confiou a mim a
gestão daquele dinheiro, que na visão dela era o primeiro passo rumo ao
nosso sonhado apartamento. Meu plano não era esse, mas sim multiplicar
aquele valor. Não foi difícil dar destino à quantia. Fácil por que não fora eu
quem trabalhou meses com afinco, apenas recebera de presente este valor
para continuar brincando levianamente enquanto durasse. Distribui a quantia
em quatro papéis, dentre estes uma penny stock, num autoengano de que
minimizaria o risco.
Vez ou outra reportava a ela o status de que tudo corria bem, ocultando
informações sobre quedas e destacando altas, sem nunca informar nossa
posição atual. As semanas se sucederam, o mercado caía, mas sempre dando
sinais de que se recuperaria. Meus papéis, com poucos fundamentos, reagiam
fortemente às oscilações. Em dado momento, depois de perder uma parte
considerável daquele valor inicial, a irracionalidade prevaleceu e resolvera
colocar todas as fichas na ação com maior potencial de subida: a penny stock.
Já não existia mais nenhuma espécie de estratégia, gestão de risco, ou mesmo
razão para a aplicação. Era tão somente uma atitude de desespero, que apenas
serviu para acelerar minha queda.

Meses depois de perdas e não suportando minha consciência que me acusava


incessantemente de ter traído a confiança de minha esposa, encerrei todas
minhas posições. Restara somente uma pequena parcela de nosso patrimônio.
Mas isso não foi o pior. Difícil mesmo foi olhar nos olhos da minha
companheira e dizer que perdera seu dinheiro conquistado com tanto
trabalho.
A ressaca moral que se abateu sobre mim durou meses. Não foi fácil
enfrentar a realidade, havia perdido a confiança da minha esposa e recebido
um atestado de incompetência nos trades. Julgava que realmente viveria da
bolsa, que alcançaria meu primeiro milhão como num golpe de mestre e que
a partir desse momento não precisaria trabalhar. Mas o mercado não é bobo.
A reabilitação financeira e conjugal foi um processo lento e gradual. Foi
necessário muito esforço para nos reencontrarmos como casal e investidores.
Eu me esvaziei de todas as coisas que havia aprendido sobre o mercado de
ações para reaprender a investir sob a ótica certa, e passei a focar mais na
minha vida pessoal e profissional.
Este é o arrependimento da minha vida, a lição aprendida que me custou mais
cara, a de que a Bolsa é o meio para realizarmos nossos sonhos e não o fim
em si. O verdadeiro caminho para acumulação de riqueza é por meio do
trabalho honesto. Os investimentos nada mais são que complementos ao fruto
de nosso trabalho.

Para pensar...
Seu dia a dia no mercado acionário tem prejudicado seu trabalho? Você tem
se dedicado mais tempo ao estudo de empresas do que a sua vida familiar e
profissional? Constantemente você coloca de lado suas atividades no trabalho
para ver assuntos relacionados à bolsa? Seu objetivo é viver dos ganhos da
renda variável?
Caso tenha respondido sim a uma dessas perguntas, você pode estar
equivocado quanto à função do mercado de ações. Os investimentos
constituem um componente importante na acumulação de riqueza, mas
sozinhos não são capazes de enriquecer um indivíduo. O trabalho é o
verdadeiro protagonista na peça dos homens e mulheres bem-sucedidos.

*****
3. Quem é você? Descubra seu perfil

“O homem não se conhece o suficiente para medir aquilo de que precisa. ” –


Corrado Alvaro

Há dezesseis anos atuo na área de Tecnologia da Informação. Hoje me


distanciei do campo técnico. Presto consultoria em gestão de projetos a
empresas de desenvolvimento de sistemas, mas antes disso programei muito.
Nessa época conheci Fábio Kaneda, um colega de trabalho determinado a
encontrar atalhos para sua carreira profissional.
Iniesta (o apelidamos assim devido à semelhança com jogador espanhol)
constantemente nos brindava com uma nova pérola.
― Programador não ganha mais tão bem, agora o lance é ser Arquiteto de
Sistemas Java ― afirmou certa vez eufórico. ― Arquiteto de Sistemas Java
está se tornando comum, o futuro é ser Consultor Funcional SAP ― disse
noutra ocasião.
Sempre especulando o que seria mais rentável ou qual seria a próxima
tendência. Durante um café da manhã enquanto conversávamos sobre mais
uma de suas “previsões”, eu lhe perguntei:
― Olha, por que você não investe no seu trabalho hoje, naquilo que está
dando certo? ― emudeceu. Não encontrara resposta para minha pergunta.
Semanas depois nos contou entusiasmado que estava decidido a tomar um
empréstimo para obter uma cara certificação, que julgava ser definitivamente
o futuro. Assim o fez. Concluiu o curso e passara na prova em um mês, o que
lhe custou na época o mesmo que um carro zero, graças ao banco. Porém
houve um problema. Ele estava convicto que ao fazer o curso mudaria de área
na empresa e passaria a ganhar mais, entretanto se descuidou de uma coisa
importante: seu próprio trabalho.
A falta de foco diante de tanta elucubração acarretou que ninguém lhe
recomendasse bem na empresa, nem no mercado. Negligenciou seu trabalho
e, insatisfeito e inconformado, saiu da empresa em busca de oportunidade.
Depois de alguns anos deparei com seu currículo no LinkedIn e, triste,
constatei que nunca colocara em prática a tão cara certificação e há alguns
meses trabalhava numa função nada relacionada com sua formação e
experiência.
Da mesma forma é o indivíduo que está no mercado de ações, e a cada dia
experimenta algo novo sem mirar em nada. Quanto a mim, não digo que
demorei a descobrir meu perfil, mas sim, que demorei em aceitá-lo. Durante
um tempo razoável estive em busca da “pólvora”. Estava confiante que a
encontraria de uma forma ou de outra. Durante a jornada me perdi.
Frequentemente, certezas absolutas transformavam-se em dúvidas. Somente
após muito devaneio e perder completamente minha paz, cai em mim de que
o “Santo Graal” não existia. A bolsa era simples e, eu, havia complicado
tudo.
Quanto aos participantes do mercado, podemos considerar a existência de
dois grupos. De um lado, os investidores, pessoas físicas, jurídicas ou
instituições, que prezam pelo longo prazo e baseiam suas escolhas na análise
dos fundamentos das empresas. Do outro lado, os operadores que miram o
curto prazo e sustentam suas decisões em quaisquer informações que
impliquem em altas oscilações nos preços das ações. Neste grupo encontram-
se os traders de todas as modalidades: day trading, scalp trading, swing
trading, trend following, dentre outras.
Um não é melhor que o outro, suas estratégias e tempos é que são diferentes.
O investidor mantém o foco nos resultados, no lucro líquido, nos proventos e
no crescimento e perspectivas da empresa. Sua meta é minerar boas
companhias com a finalidade de ser sócio das mesmas. As oscilações dos
preços no dia a dia não interferem em absolutamente nada em sua estratégia.
Diferente do investidor, o operador tenta extrair seu lucro da oscilação dos
preços das ações, não importando os bons ou maus fundamentos das
empresas. Sua estratégia consiste em permanecer posicionado em uma ação
até que algum sinal faça-o encerrar a operação. Ser trader requer muito
estudo, disciplina e rigoroso gerenciamento de risco, ou seja, muita
dedicação.
Operadores são especuladores por natureza, mas investidores também podem
especular, não há problema nisso desde que o investidor saiba o que está
fazendo. Um investidor, quando especula, o faz com mais critério sobre fatos
ou informações palpáveis, enquanto que um operador frequentemente segue a
tendência dominante.
Muitas pessoas são fisgadas pelas belas oscilações da bolsa. Um papel fechar
com variação de +6% é de encher os olhos. É equivalente a remuneração da
Poupança em todo um ano, mas com uma pequena diferença: bolsa é renda
variável e Poupança renda fixa. Aquela variação de +6% pode converter-se
em -7% no dia seguinte sem nenhuma justificativa aparente.
Poucos têm o privilégio de iniciar seus investimentos em ações com
orientação ou acompanhamento adequado. A maior parte dos iniciantes quer
tão somente ganhar dinheiro. Para esses a Bolsa reserva dois caminhos. O
primeiro, uma curta e fracassada incursão de alguns meses ou até não
suportarem mais perder. Infelizmente este é o caminho mais percorrido pelos
aventureiros. O segundo, um caminho intrincado que revelará ao novato
perseverante seu verdadeiro perfil. Este foi o caminho que percorri. Nunca
perdi a convicção no mercado de ações. Experimentei, sem sucesso, quase
todas as modalidades como operador. Especulei inclusive, também em vão.
Depois de muito pestanejar descobrira que meu perfil era de investidor, mais
especificamente um buy-and-holder – uma estratégia na qual o investidor
ignora suas respostas emocionais aos movimentos do mercado,
permanecendo com suas ações por tempo indeterminado ou até que os
fundamentos não atendam mais seus critérios.

De fato, passei a me sentir mais confortável com as decisões tomadas de


forma analítica e com prazos adequados. Incorporei na minha rotina o estudo
dos resultados financeiros das empresas nas quais investia e deixei de lado a
agitação das cotações. Meu horizonte passou de curto prazo, ao iniciar na
bolsa, para longo prazo, após aceitar meu jeito de investir.
Minha confiança, cada vez maior. Passei a refletir sobre as aplicações a cada
seis meses em vez de todos os dias. Com o tempo, abandonei a análise
semanal para concentrar-me nos resultados trimestrais das empresas. Hoje,
avaliamos, eu e minha esposa, nossa carteira duas vezes ao ano. Com a queda
da viseira meu horizonte ampliou-se e passei a avistar oportunidade onde
antes não enxergava nada.

Enfim, alcançara uma identidade. Decorridos dois anos de muitas leituras,


muito estudo, dezenas de operações de compra e venda de ações e de perder
muito no mercado, não restavam dúvidas quanto ao que esperar da bolsa e
dos objetivos a serem alcançados.

Para pensar...
Qual seu critério para compra e venda ações? Por que investe nessas
empresas? Seu objetivo é o longo prazo, mas vibra com as oscilações do dia a
dia? É fundamental definir seu perfil como investidor ou operador do
mercado. Essa indefinição é a causa raiz de muitos se frustrarem na bolsa e
de seus pífios resultados. Pesquise os diferentes tipos de perfis existentes.
Teste suas estratégias com capital reduzido. Ao sentir-se seguro, dedique
mais tempo e aumente de forma gradual sua exposição, e junto a confiança
descobrirá seu perfil.

*****
4. Curto, médio e longo prazo

“É possível ser jovem sem ter dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele. ”
– Tennessee Williams

Tornar-se refém do mercado de ações é uma situação pela qual ninguém


deveria passar. Isso ocorre, dentre outras razões, por falta de planejamento.
Romper as barreiras das aplicações em renda fixa é um grande passo, mas
investir tempo, esforço e recursos em renda variável exige mais que
simplesmente escolher uma grande empresa e comprar ações no mercado
fracionário.
Planejar um investimento em ações (ou em qualquer outra modalidade de
investimento em renda variável) envolve determinar alguns parâmetros. Não
significa que, por exemplo, se você possui R$ 50 mil, você aplicará todo o
capital. Definir o horizonte de tempo disponível, assim como o retorno
esperado e o risco aceito, também é crucial para não tomar uma decisão da
qual irá arrepender-se.
Mediante isso, precisamos analisar com mais cuidado os conceitos de curto,
médio e longo prazo. Todos nos deparamos, sem exceção, com decisões ou
planos que influenciarão nossas vidas, de uma forma ou de outra. Para ser
mais preciso, adotaremos as definições a seguir para curto, médio e longo
prazo.
Curto Prazo (de 1 a 3 anos). Metas e planos a serem realizados em até três
anos. Em geral, são as metas mais palpáveis, aquelas que você tem os meios
para realizá-las e não exige um planejamento formal. Exemplos: compra de
um carro, reforma da casa, pagamento de dívidas, redução do cartão de
crédito, início uma poupança, e assim por diante.
Médio Prazo (de 3 a 10 anos). São objetivos que exigem planejamento
formal, porém ainda flexíveis. Diferente do curto prazo, nem sempre existem
os meios para alcançar os objetivos, ou quando existem exigem tempo. Os
objetivos de médio prazo desempenham uma função motivacional, e devem
ser encarados como norteadores. A compra da casa própria, a escolha de uma
carteira de ações, a viagem internacional e a pós-graduação no exterior são
alguns exemplos de objetivos de médio prazo.

Longo Prazo (de 10 a 30 anos). Além de exigir planejamento formal, são


objetivos inflexíveis, pétreos, dos quais não podemos nos desviar sob a pena
de ameaçarmos nossa futura qualidade de vida ou das pessoas que amamos. É
a este grupo que pertencem os planos de aposentadoria, da universidade dos
filhos e do negócio próprio.
É claro que essa classificação é relativa. Para operadores que agem em
pequenas janelas de tempo, curto prazo pode ser entendido como um
intervalo em semanas, dias ou mesmo horas. A classificação acima, em anos,
visa categorizar os objetivos dos investidores, ou seja, aqueles que usam os
investimentos para acumular patrimônio. Isso não quer dizer que operadores
não possam ser investidores, no sentido estrito da palavra. Ao contrário, todo
operador deveria ser um investidor, por que aumentar o patrimônio é o
objetivo de qualquer pessoa.
Não é recomendado o investimento em ações tendo em vista o curto prazo. O
horizonte de três anos pode não ser suficiente, por exemplo, para que um
investimento amadureça e frutifique, forçando o investidor a perder
prematuramente parte do que investiu.
Nos tempos de fórum, testemunhei a situação de Giovani, um colega que
aplicou suas suadas reservas, para os preparativos de seu casamento, em
ações da Petrobras em julho de 2007. Com base na evolução do mercado que
mostrava bons sinais no segundo semestre de 2007, e no fato de que se
casaria em maio de 2009, Giovani resolveu aplicar pouco mais de R$ 30 mil
na sólida empresa para remunerar seu capital acima dos meros juros da
Poupança.
Nada contra a atitude de Giovani, se não fosse o fato de sua aplicação estar
comprometida no curto prazo. Ao alocar suas reservas por no máximo 22
meses, Giovani assumiu o risco, mesmo que inconsciente, de perder dinheiro
ao final do período (a palavra “prejuízo” não fazia parte do seu dicionário).
Se observarmos o gráfico das cotações da Petrobras veremos que as mesmas
tiveram um bom desempenho nos meses que se seguiram ao investimento de
Giovani. Seria um ótimo momento de realizar o lucro, concorda? Afinal, a
parede do casamento estava se aproximando.

Creio que a essa altura você é capaz de adivinhar as cenas dos próximos
capítulos. A ganância prevaleceu. Giovani não arredou o pé, e no ano
seguinte a Bolsa padeceu. Os meses se passaram e a festa de casamento para
300 pessoas, agora contava com, no máximo, 200 convidados. Giovani, que
chegou a gabar-se do lucro na bolsa, agora pagava por conselhos sobre o que
fazer. Há meses de arcar com os compromissos viu-se obrigado a vender
pouco a pouco os papéis que possuía. Não perdeu muito se comparado ao que
investiu, mas deixou escapar a chance de ter embolsado um bom lucro.
Provisões
Ao aplicarmos em renda variável, precisamos nos ater a principal
característica desse investimento, que é sua variação ao longo do tempo. Não
bastasse a proximidade de importantes compromissos, Giovani estava
emocionalmente envolvido com a iminência de seu casamento e não tomou
as decisões corretas para proteger seu patrimônio. Ao investir nunca se
exponha dessa forma. A probabilidade de você perder é altíssima.

― Quer dizer que se eu tenho algum compromisso importante dentro de três


anos não posso investir? ― você me questiona. Ao que respondo: ― Pode
investir desde que você faça provisão para seus compromissos.
O conceito de provisão é muito conhecido no âmbito empresarial. Provisões
são expectativas de obrigações, para as quais a empresa é obrigada a
apropriar no resultado custos ou despesas que provável ou certamente
ocorrerão no futuro. Noutras palavras, é o ato de separar uma quantia
periódica para pagar alguma obrigação, mesmo que não se concretize.
Processos judiciais que possam acarretar pagamento de importâncias vultosas
são provisionados, por exemplo.
Devemos estender o conceito para nossa vida pessoal. Se planejássemos
nossos compromissos com tal seriedade, desfrutaríamos de uma vida
financeira muito mais saudável, pois, como o próprio nome do princípio diz,
é uma atitude prudente.
Com um exemplo é mais fácil entender. Provisionar significa separar uma
quantia, quase sempre mensal, para suprir alguma necessidade futura, que se
sabe que poderá existir. Tenho um automóvel e anualmente preciso renovar o
seguro do mesmo. Como sei que dentro de 12 meses precisarei de um valor
razoavelmente alto, todos os meses realizo uma provisão, aplicando um valor
em renda fixa. Assim, ao final da minha apólice não serei surpreendido e não
precisarei dos recursos aplicados em renda variável.
Perceba como uma simples questão de planejamento permite a conciliação de
investimentos e compromissos futuros. Não podemos comportar-nos como
crianças jogando futebol, quando o assunto é nosso dinheiro. Já prestou
atenção às crianças jogando bola? Não existe uma estratégia, todos correm
para a onde a bola está rolando. Da mesma forma, são as pessoas que não se
planejam nos investimentos. Um dia compram ações, noutro títulos públicos,
mais adiante em renda fixa, e nada de patrimônio crescer.

Para pensar...
Quero propor um exercício de reflexão para você, caro leitor. Numa folha de
papel, ou no Bloco de Notas, escreva todos seus compromissos, objetivos e
planos dentro dos próximos três anos, ou seja, dentro do curto prazo. Os
compromissos e metas de sua esposa também devem ser listados, afinal vocês
compõem o mesmo núcleo familiar.
Pronto? Prossigamos. Dentre os compromissos, existem empréstimos ou
financiamentos? Caso afirmativo, você tem condições de quitar ou amortizar
esses compromissos com o capital que deseja investir? Caso a resposta seja
sim, recomendo que o faça; caso contrário, melhor é economizar e aplicar em
renda fixa para no momento oportuno quitar essas obrigações. Dificilmente
conseguirá do mercado uma remuneração melhor que o desconto na
antecipação do pagamento das dívidas.
Você conta com o capital que deseja investir para atender algum objetivo ou
plano nos próximos três anos? Caso esteja poupando para seu casamento,
festa de 15 anos de sua filha, para sua viagem internacional, ou qualquer
outro plano, não aplique em renda variável, por mais tentador que pareça ser.
Não exponha seu capital a risco desnecessário, invista em alguma modalidade
de renda fixa de acordo com o horizonte de tempo das suas metas.
Pondere, seja frio. Seu investimento em renda variável deve ser coerente com
seus planos e objetivos. Investir em ações com o propósito de comprar sua
casa própria dentro de dez anos, ou para complementar sua aposentadoria é
perfeitamente razoável, pois se trata de um investimento de médio ou longo
prazo, de acordo com nossa formulação. Restrições de curto prazo tornarão
você vulnerável às intempéries do mercado, e, consequentemente, não
desfrutará das benesses dessa modalidade de investimento.

*****
5. Invista somente o que não precisará

“A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não planejar. ”
– John Berkeley

Há alguns anos atuei como responsável pela especificação técnica de um


projeto, em Santo André. Na ocasião tive a oportunidade de conhecer mais de
perto um colega de trabalho, Mateus, um jovem promissor gerente de
projetos. Era um profissional dedicado. Metódico, mantinha sempre perto um
caderno e lápis para anotações. Não agradava muito sua equipe, por seu
muito controlador e concentrador. Irritava-se quando as coisas não saiam
conforme planejava. Nem é preciso dizer que era conhecido no trabalho por
sua ansiedade. Certa vez, enquanto conversávamos durante um almoço com a
equipe, tocamos no assunto “bolsa de valores”.
Estávamos no início do ano de 2010, aproximadamente um ano e meio após a
quebra do banco Lehman Brothers. No Brasil, assistíamos a recuperação das
ações das empresas listadas na bolsa, após o intenso inverno de 2008. O pior
havia ficado para trás.
― Você investe em ações? ― puxei o assunto.
― Não ― respondeu com aspereza. Havia um tom de desabafo por trás dessa
resposta. Convicto, explicou-me que conhecia a Bolsa e nunca mais
retornaria.
Sua história é impressionante. No auge da bolsa, em 2008, Mateus aplicou
em BBAS3 (Banco do Brasil) todas as economias que guardara para financiar
seu apartamento, que na ocasião estava em construção. Meses após a
aplicação, enquanto seu patrimônio encolhia, o conselho do gerente de seu
banco era que mantivesse o investimento: ― A bolsa é para o longo prazo ―
dizia ele. Entretanto, Mateus não dispunha do longo prazo do qual seu
gerente apregoava. Em menos de dois anos precisaria de suas reservas para
financiar seu apartamento. Dia a dia seu capital aplicado no Banco do Brasil
minguava. Justo aquele ano que castigou duramente o mercado de ações.
Impaciente ligava para seu gerente todas as semanas pedindo conselho, e
obtinha como resposta que aguardasse: ― Bolsa é assim mesmo ― afirmava
para consolá-lo. As ligações ao gerente mais pareciam sessões
psicoterapêuticas do que aconselhamento financeiro. Estava em pânico e via
em seu gerente a única pessoa para compartilhar sua “mancada”.
Essa via-crúcis se estendeu por todo o segundo semestre de 2008, e após
amargar uma perda superior a dois terços de sua aplicação original,
finalmente deu a derradeira ordem ao seu gerente: ― Venda! ― segundo ele,
se não o tivesse feito, naquele momento em que conversávamos não teria
mais nada.
Se você observar o gráfico de cotações do Banco do Brasil verá que o papel
chegou ao fundo justamente ao final de 2008, se recuperando nos dezoito
meses seguintes a bem-dizer. Não é necessário ser gênio para perceber a
grande asneira que meu colega cometeu, por diversas razões, mas
especialmente por operar um capital do qual não poderia abrir mão no curto
prazo.

Figura 1 – Gráfico de ações do Banco do Brasil. O segundo semestre


de 2008 foi um teste de fogo para os investidores.

O fato de saber que precisaria daquele dinheiro o inquietou de tal forma que
comprometera sua capacidade de decisão tornando-o mais ansioso e propenso
ao erro. Isso o fez vender quando os experientes gestores de carteiras
passaram a comprar o papel e o mercado brasileiro retomava o crescimento.
Na ocasião, ao ouvir sua história, sabia que o mercado se recuperara do
tombo, mas preferi não comentar. Quis poupá-lo, pois certamente isso lhe
doeria até a alma. Talvez o mercado de ações não fosse para ele.
Lição: Invista somente aquilo que você não precisará nos próximos anos. Isto
é, aquela economia para a qual você não tem planos. Nunca compre ações
sabendo que precisará vendê-las em um, dois ou três anos. A chance de você
protagonizar uma história semelhante é muito alta.
Objetivos ou compromissos pessoais não podem ser o estopim para venda de
um ativo. Compre e venda ações de acordo com critérios técnicos, seja
através da análise técnica, fundamentalista ou qualquer outro critério que
considere confiável. Não aplique na bolsa por que pretende comprar um carro
melhor com o ganho de capital, isso é uma roubada. Para estas pessoas o
mercado é implacável.

Para pensar...
Não comprometa o dinheiro que sabe que precisará em breve. Não tenha
planos pelos próximos cinco anos para o capital aplicado na bolsa de valores.
Tem plano para o dinheiro a ser aplicado na bolsa? Pretende se casar ou
comprar sua casa própria? Caso afirmativo, pare e pense duas vezes. Lembre-
se da Lei de Murphy, se aplicar capital comprometido, mesmo que para um
compromisso distante, algo certamente dará errado.

*****
6. Corretoras querem corretagem

“Um homem esperto cria mais oportunidades do que encontra. ” – Francis


Bacon

Uma das coisas que me irrita profundamente no mercado de ações é a


chamada recomendação. Periodicamente, bancos de investimentos e
corretoras divulgam relatórios recomendando comprar, vender ou manter
ativos, com as devidas justificativas. Nada contra enquanto um instrumento
de informação. Entretanto, há uma particularidade que coloca esses conselhos
sob suspeita. Há um conflito de interesses na divulgação desses relatórios,
pois tantos os bancos como as corretoras não estão isentos de parcialidade.

Vamos raciocinar juntos. Bancos de investimentos e corretoras possuem


carteiras de ações, correto? Suponha que um banco possua posição
comprada3 em certa empresa. Concorda que este banco nunca recomendará
venda enquanto comprado? Seria uma grande incoerência. Claro que suas
recomendações favorecem seus negócios, direta ou indiretamente.
No caso das corretoras há um complicador adicional na divulgação das
recomendações ou carteiras sugeridas: elas querem que seus clientes realizem
mais operações. Quanto mais, melhor. Sabemos que a principal receita de
uma corretora provém da intermediação de compra e venda de títulos
financeiros para seus clientes. Logo, além de se beneficiarem da manutenção
de suas carteiras, estão empenhadas que seus clientes comprem e vendam
ações todos os dias, se possível.
Chega a ser contraditório. O preço-alvo divulgado nos relatórios é uma
projeção, geralmente, para o final do ano ou para os próximos doze meses.
Bem, se o horizonte é de meses, por que sugestões semanais? Porventura não
confiam em suas próprias projeções? Óbvio que sim. A questão gira em torno
de aumentar a movimentação financeira, de induzir seus clientes a comprar,
comprar e comprar ações.

Como não bastasse isso, há outros mecanismos de incentivo às operações,


como isenção de corretagem nos casos de insucesso do cliente em operações
sugeridas pela corretora, conta margem, venda a descoberto4, e assim por
diante. Claro, os famigerados cursos e palestras sobre análise técnica, em
especial sobre day trading, estão sempre presentes.
Não existe nada mais enfadonho para uma corretora que um cliente com
perfil de investidor. Por quê? Porque este indivíduo não movimenta sua
conta, simples. Menos movimentação, menos corretagem.
Cuidado com as vantagens oferecidas por sua corretora. Estão interessadas
em seu sucesso na bolsa? Sim, mas não por que torcem por seu patrimônio
deslanchar. Nenhuma corretora deseja um cliente fracassado. Clientes
derrotados no mercado de ações cessam suas operações, e cessando as
operações, cessa a corretagem. Uma via de mão dupla.
Sempre aja por você mesmo, siga suas convicções. Não invista motivado por
corretoras ou bancos de investimento. No fundo, todas têm outros interesses.
Algumas mais, outras menos.
Como dependemos de corretoras para intermédio das operações na bolsa de
valores, precisamos filtrar as que melhor nos atendem. Seguem algumas dicas
a serem levadas em conta na sua escolha:
Informe-se. Procure informações sobre a corretora que pretende abrir conta.
Há corretoras conhecidas no mercado por serem enroladas, envolvidas em
processos por agirem de má-fé. Não se associe a uma corretora que não age
com credibilidade e ética.

A corretora é atenciosa? Responde e-mails rapidamente? Possui atendimento


via chat? Retorna contatos telefônicos? Não abra mão de ser bem atendido.
Se uma corretora não atende bem potenciais clientes em tempo hábil, que dirá
clientes.
Ignore corretoras burocráticas. Dê preferência a corretoras que permitem
abertura de conta online. Todas as corretoras disponibilizam um kit de
documentos, mas algumas exigem que o cliente envie os documentos e
fotocópias pelo correio, o que torna o processo lento. Este também é um
indicador de agilidade.
Prefira corretoras com boa relação custo-benefício. Não pague caro. Preço
não pode ser determinante, mas também não precisa ser caro. O atendimento
é bom? O site e a plataforma de negociação são estáveis? As informações
como custo, horário de atendimento, dados bancários, etc. são claras? Quais
são suas vantagens ao ser cliente desta corretora? Há taxa de custódia?
Permite aplicar no Tesouro Direto? Pese tudo na balança antes de decidir.
Não deixe de testar o homebroker antes de tornar-se cliente. Prefira as
corretoras que possuem a opção de fazer um test-drive. Isso denota atenção
com os clientes. Nesse quesito o mais importante é a velocidade, o tempo de
resposta. Quanto aos recursos, dependerá do seu perfil. Se você tem a
intenção de fazer trades então será necessária uma plataforma mais moderna
e rápida, caso contrário, as funcionalidades básicas de qualquer homebroker o
atenderão perfeitamente.
Evite pagar taxas. Opte por corretoras com conta-corrente no mesmo banco
que você possui conta. Caso não seja possível, concentre suas aplicações em
um único dia.
Toda ajuda com o Leão é bem-vinda. Prefira corretoras que o auxiliem no
Imposto de Renda (IR). Há corretoras que possuem software para controle
do IR, uma mão na roda para quem não quer ter dor de cabeça ou não tem
tempo para ficar calculando em planilhas a fatia do Governo.
Claro, referências são ótimas. Nada como ouvir as palavras de quem já é
cliente. Ouça, pondere e tome sua própria decisão. Mas fique atento, não é
por que seu primo ou amigo tem conta em uma corretora que você abrirá
conta na mesma. Desde já tente separar as coisas.

Para pensar...
É bem atendido por sua corretora? Os depósitos e retiradas são efetuados
rapidamente? As taxas de sua corretora estão em linha com o mercado? O
homebroker atende suas necessidades? Seja correntista de uma corretora que
atenda seus interesses, não o contrário. Não aceite pagar a mais por um
serviço que todas prestam. Priorize aquelas que possuem os canais de
comunicação mais rápidos, pois um dia você precisará de agilidade.
*****
7. Preço médio não serve pra nada

“Construímos estátuas de neve e choramos ao ver que derretem. ” – Walter


Scott

Trabalhei durante alguns anos como office-boy para meu pai em sua modesta
joalheria, situada no edifício Joaquim de Paula, em Belo Horizonte. Era
adolescente e assistíamos a transição dos governos de José Sarney e Fernando
Collor de Mello. Um tempo marcado por hiperinflação.
Hoje compramos dólares para viajar, os tempos mudaram, mas nem sempre
foi assim. Todo mês procurava um doleiro a pedido de meu pai para trocar
cruzados ou cruzeiros por dólares. Uma prática, muito difundida em períodos
de inflação, que servia como proteção, uma tentativa de não perder o poder
de compra.
O dólar, assim como qualquer outra moeda, possui algumas semelhanças com
ações. Toda moeda é negociada, pode ser comprada ou vendida, possui preço
de compra e preço de venda, e pode-se, por exemplo, calcular o preço médio
de aquisição, isto é, o quanto se pagou em média pela quantidade de moeda
comprada.
Suponhamos que mês passado você adquiriu U$ 100 ao preço de R$ 2, e este
mês comprou outros U$ 100 ao preço de R$ 3 – o dólar subiu forte. Qual o
preço médio de aquisição dos U$ 200? Simples, neste caso, R$ 2,5. Noutras
palavras, você já desembolsou R$ 500 pelos U$ 200 que está guardando
embaixo do colchão.
Pois bem, qual a relevância dessa informação para quem guarda dólares
embaixo do colchão? Nenhuma. Não serve para absolutamente nada, tanto
para você quanto para meu pai naquela época. Ele nunca possuiu este
controle, apesar de possível, por que sua intenção era acumular dólares,
apenas isso. Quem possui U$ 1 mil, seja para viajar ou para proteger-se das
destemperanças da economia, sabe apenas que possui U$ 1 mil naquele
momento. Não é importante o quanto desembolsou por essa quantia.
De forma análoga, o mesmo raciocínio vale para ações. Se você possui em
carteira 1.000 ações ordinárias da Cemig compradas por R$ 40, você não tem
necessariamente R$ 40 mil agora neste momento. Tem nada mais nada
menos que 1.000 papéis da Cemig, que correspondem a um valor (cotação)
definido pelo mercado em um dado momento.
É frequente encontrarmos iniciantes, ou mesmo “macacos velhos”, confusos
com esse simples conceito de preço médio. Essa confusão ocorre com todos
os perfis, independente de investidores ou operadores. O problema reside em
focar no preço médio em vez de dedicar o devido valor à estratégia ou à
operação.
Para os (candidatos a) traders o erro clássico consiste em fazer preço médio
visando à saída de um papel. Compram ações sem saber o que estão fazendo
exatamente. Seus planos preveem estritamente ganhos, perder não é uma
alternativa, pois na cabeça deles em renda variável o preço oscila somente
para cima.
O indivíduo, quando muito, elabora sua operação com pontos de entrada e
saída “bem definidos”, mas na hora de acionar o stop, de pular fora do barco,
não o faz.
― Vou baixar um pouco mais meu stop para não ser acionado ― diz consigo
mesmo inseguro. O papel continua sua queda. ― Fico mais um dia, pois
amanhã vai subir com certeza! ― insiste o emotivo trader. E não sobe, pelo
contrário, cai mais. É quando reconhece inconscientemente seu erro e
“decide” enfim abraçar a empresa e ser “sócio”.
Essa situação se repete todos os dias, e os erros não param por aí. Como não
bastasse não ter seguido sua estratégia ou ter entrado no jogo sem nem
conhecer suas regras, passa a fazer preço médio para sair mais rápido, o
famoso “empate”.
Fazer preço médio significa comprar mais por preços mais baixos, pois
sempre que se adquirem mais ações, moedas, títulos, ou qualquer outro bem
por um preço mais baixo que o preço de compra médio, o novo preço
resultante será menor, e em tese quanto mais baixo for seu preço de entrada,
mas rápido será sair quando o papel voltar a subir.
O que todos esquecem é que ao proceder dessa forma está colocando-se mais
dinheiro novo e seu patrimônio está reduzindo. Não existe nenhuma garantia
que tal ação retornará a determinada cotação, o papel pode simplesmente
descer indefinidamente e estagnar por anos, ou os fundamentos da empresa
podem mudar drasticamente e caminhar para a recuperação extrajudicial:
último passo antes da cova.
Já no caso do investidor, quando o indivíduo tem – ou deveria ter – o desejo
de permanecer sócio de uma empresa por tempo indeterminado, muitos têm a
visão embaciada pela questão do preço médio. O foco do investidor é
aumentar sua posição, possuir mais ações de boas empresas e tê-las embaixo
do colchão, assim como o comprador de dólares. As oscilações do presente
em nada afetam a carteira de um investidor, muito menos saber se seus papéis
estão sendo cotados acima ou abaixo do preço médio de aquisição de suas
ações. O objetivo de aumentar a posição continuamente é receber mais
dividendos, juros sobre capital próprio, bonificações, dentre outros, ou seja, é
ser participante da distribuição dos ganhos da empresa.
Não seja o último dos moicanos
A esperança é a causa de muitos homens e mulheres perderem na bolsa.
Quando compramos ações de uma empresa passamos a ser sócios da mesma,
mas não estamos destinados a sermos para sempre.
Vamos imaginar um caso concreto. Maria tornou-se sócia do salão Carioca’s
Hair. Para que fora possível essa decisão certamente Maria refletiu muito. Ela
avaliou os prós e contras e concluiu ser um bom negócio ao ponto de ser
sócia. Sem sombra de dúvida ela calculou as despesas e receitas, investigou
as dívidas e a saúde financeira do salão, e estimou as benfeitorias
indispensáveis para melhorar a prestação dos serviços e atrair mais clientes.
Em outras palavras, Maria não se tornou sócia do salão de olhos fechados.
Ela buscou fundamentar sua decisão de investimento, afinal o objetivo dela é
ganhar com a aquisição.
O mesmo vale para Bolsa, mas muitos têm grande dificuldade em aceitar essa
simples analogia. Tal qual Maria, ao comprar ações de uma empresa, o
indivíduo está declarando ser sócio de uma boa empresa, bem administrada,
que respeita os acionistas minoritários, com lucros constantes, saúde
financeira estável e perspectivas de investimentos e crescimento em longo
prazo.
Entretanto as coisas podem mudar. Os fatores que levaram Maria a tornar-se
sócia do Carioca’s Hair ontem, amanhã podem não se os mesmos. No dia a
dia das empresas, sócios vão e vem a todo o momento. Ninguém está
disposto a perder dinheiro com uma empresa incerta que dá preocupação e
prejuízo.

Mais uma vez, para muitos a analogia não se aplica na bolsa. Há inúmeros
investidores “casados” com seus papéis, que preferem amargar perdas ao
“divórcio”. Com efeito, o artigo Finanças comportamentais no Brasil: um
estudo comparativo5, do professor Pablo Rogers destaca que:
Investidores no mercado financeiro tendem a não aceitar perdas relutando a
se desfazer de posições em que tenham prejuízos enquanto liquidam
rapidamente posições vencedoras: corroborando essa assertiva Odean (1998)
mostrou [...] que investidores realizaram ganhos em uma proporção 68%
maior do que realizaram perdas – isso significa que uma ação com retorno
positivo tem 68% mais chance de ser vendida do que uma ação com retorno
negativo.
São pessoas que, mesmo diante da deterioração dos fundamentos das
empresas, são incapazes de fazer qualquer negócio com as mesmas. Não é
incomum encontrar pessoas que, por desenvolverem um sentimento por suas
ações, permanecem estáticas ao assistirem seu patrimônio reduzir.
A realidade da empresa endividada, não lucrativa, e sem perspectivas não é
capaz de suplantar o passado vitorioso no qual o investidor tornou-se sócio. A
negação de que a empresa estimada mudou e a esperança por dias melhores,
transforma o investidor em um legítimo capitão que prefere afundar com a
empresa a abandoná-la, como se fosse desonroso fazê-lo.
Esse pensamento é equivocado. Uma das grandes vantagens da bolsa é a
possibilidade de nos tornarmos sócios de boas empresas de uma forma
simples, assim como também sairmos da sociedade. Não somos nós que
estamos a serviço das empresas, pelo contrário, somos sócios por que
desejamos usufruir dos benefícios de boas empresas.
Quando deixamos de gozar desses benefícios, não temos razão para
permanecermos sócios, independentemente do tempo ou de quão boa era a
empresa quando a compramos. Nesse sentido Nietzsche estava certo ao
afirmar que a “esperança é o derradeiro mal; é o pior dos males, porquanto
prolonga o tormento”.

Para pensar...
Preço médio é um cálculo, uma consequência. Não o faça intencionalmente.
A única função do preço médio é para Declaração do Imposto de Renda. Se
seu investimento ou trade vai mal não pense em reduzir seu preço médio, saia
disso.
Sempre existirão oportunidades. Tão logo você aceite a perda, mais cedo
recuperará o tempo e capital perdido. Aproveite de toda a flexibilidade que a
Bolsa oferece-lhe.
*****
8. Seja menos ganancioso

“Não existe nenhum homem que, se puder ganhar o máximo, se conforme


com o mínimo. ” – Friedrich Schiller

Quando comecei a estudar o mercado de ações como uma alternativa real


para minhas finanças, vibrava no meu interior com a possibilidade dos altos
ganhos. O depoimento de pessoas que ficaram ricas operando no mercado me
levava todos os dias a querer experimentar esse mesmo sabor de vitória.
Hoje posso seguramente afirmar que sou investidor, mas nem sempre foi
minha intenção. Sentia-me atraído pelas operações do curto prazo, por
especular e ganhar 5% em um único dia sem ter que me preocupar com a
saúde das empresas ou suas perspectivas futuras. Apesar de ter estudado
análise técnica nunca apliquei seus ensinamentos, nem muito menos
gerenciamento de risco. Queria especular, encontrar a pólvora que ninguém
havia descoberto, como se o mercado desse algo de graça. Eram hipnóticos
os gráficos dos papéis com aquelas altas vertiginosas. Um apostador em uma
corrida de cavalos na prática. ― Dobrou em 30 dias, estou perdendo o trem!
― pensava com meus botões.
Foi aí que peguei um desses trens, a IGBR3 (Gradiente). A empresa fora um
forte grupo do setor de eletroeletrônicos no passado até a entrada dos
produtos importados nos anos 2000, o que a levou à decadência. Na época
encontrava-se em recuperação extrajudicial, e qualquer investidor sabe das
implicações de uma empresa nessa circunstância ser negociada na bolsa de
valores. Ignorei as implicações e riscos. Estava embebido pela possibilidade
de faturar alto.
Entrei comprado dias depois de uma decisão do STF favorável à empresa em
uma ação milionária. Surfei em uma grande onda. A cada dia o volume
negociado aumentava e quando me deparei estava com lucro de 50% em
questão de duas semanas. ― Puxa, que tacada de mestre! Soube o momento
exato de entrar ― elogiei a mim mesmo.

Infelizmente, ocorreu comigo o mesmo que ocorre com todo jogador, não
quis parar de prever o resultado dos dados lançados pelo croupier6. A
oscilação positiva, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto era meu
ópio. Queria mais. ― Quando chegar em R$ 15, eu saio ― dizia para mim
mesmo. No outro dia ― Agora que chegou em R$ 15, é fácil chegar em R$
16 ― exclamava radiante. Inacreditavelmente estava estático diante de um
lucro de 50%, e o mercado foi impiedoso.
Recordo como se fosse ontem. Estava trabalhando em São Paulo e com
acesso restrito à Internet, quando assisti pasmo o derretimento do papel. Uma
sucessão de leilões levou o papel a cair mais de 60% em determinados
momentos. Fiquei paralisado diante do computador. Mal podia acreditar no
que estava vendo. ― Por que estão vendendo a esses preços? ― lamentei na
minha ignorância (na época desconhecia o mecanismo de venda a
descoberto).
Somente no dia seguinte reuni forças e resolvi sair, vender. Deixei de
embolsar um lucro de 50% devido a minha teimosia. Mais que isso, minha
ganância me fez perder R$ 8 mil de ganho fácil. Joguei as boas cartas, mas
não sai da mesa; descobrira tardiamente que eu era o pato7.

Figura 2 – Gráfico de ações da IGB Eletrônica S.A. A falta de


planejamento e ganância me levaram a perder minhas ações no pior
momento.
Não faça all-in
Sr. Otto, meu enérgico e zeloso pai, é um empreendedor desde que me
entendo por gente. Homem de negócios sério e poucas palavras, mas muito
eloquentes. Conhecido pelos amigos por conseguir sempre convencer as
pessoas. Presenciei diversas vezes sua sagacidade em persuadir clientes,
parceiros, credores e até familiares a se aliarem a ele em seus planos.
A vocação para os negócios surgiu enquanto bem jovem. Chegou a preterir os
estudos – por pouco tempo – para montar uma banca de salgados em sua
pacata cidade no Vale do Paraíba. A banca não vingou, mas o desejo de ser
senhor do seu destino nunca o abandonou. Não conheço uma pessoa que
refutou tantas oportunidades de trabalho para perseguir sua convicta crença
de que empreender é o melhor – se não o único – caminho. Incentivado pela
família cursou Engenharia Florestal – na época não tão promissora quanto
hoje em dia, mas não exerceu a profissão por muito tempo. Não tardou em
perceber que não se realizaria como assalariado.

Numa de suas empreitadas resolveu investir um montante, ganho em uma


causa judicial, na abertura de um restaurante, uma trattoria8, para ser mais
exato. Tratava-se de uma guinada, uma mudança radical de atividade, pois
sempre esteve ligado a empresas do setor metalúrgico. Cansara deste ramo,
dos altos e baixos das encomendas da Indústria, estava convencido de que o
setor de alimentos possuía ótimos atrativos com pequena ou mesmo
inexistente sazonalidade, por exemplo. Infelizmente suas inferências
baseavam-se na ótica do cliente, não conversou com proprietários de
restaurantes nem procurou um sindicato patronal para sondar o clima da área.
Investiu alto, uma aposta que considerava certa. Entretanto não realizou um
cuidadoso planejamento, nem elaborou um plano de negócios. Subestimou os
riscos do ramo de restaurantes. Os moradores da região não se identificaram
com o cardápio e com a proposta visual do estabelecimento e pouco a pouco
a casa foi se esvaziando. Com o caixa anêmico e os compromissos
financeiros se avolumando não teve escolha a não ser desistir.
O Sr. Otto esqueceu uma máxima dos investimentos, a de que o retorno é
proporcional ao risco. Sempre esteve ciente do risco de perder tudo, mas o
ignorou e perdeu uma porção expressiva de seu patrimônio na época, para
nossa tristeza.

Traçando um paralelo com o mercado de ações, diríamos que meu pai fez all-
in. A expressão vem do pôquer e descreve a ação de apostar todo o jogo em
uma única mão, empurrando todas as fichas para o centro da mesa. Fazemos
isso sempre que aplicamos numa única companhia, ignorando as
consequências e riscos de todas as nossas fichas estarem numa única
empresa, que pode tanto ser muito bem-sucedida no longo prazo como
também atravessar algum infortúnio, comprometendo todo seu capital
aplicado.
O amador adora a perspectiva de ganhar rapidamente uma pilha de fichas, e
feliz arrisca tudo com este objetivo, mesmo quando a probabilidade está
contra ele. Por outro lado, o investidor prudente não faz all-in, pois sua
intenção é mitigar ao máximo os diversos tipos de riscos (risco de mercado,
liquidez, sistêmico, setorial, etc.) com uma distribuição mais inteligente do
capital em mais de uma empresa. O oposto dessa concentração é a
diversificação, que será abordada com mais detalhes na próxima lição. Por
ora, não compre ações de uma única empresa. Esta não é uma boa estratégia
para proteger aquilo que mais importa no mundo dos investimentos: seu
patrimônio.
Para pensar...

Não coloque todo seu dinheiro numa única empresa. A relação risco/ganho é
extremamente perigosa, em especial se a empresa não possuir tag along9.
Não seja sócio torcedor de uma empresa, distribua seu capital. Porque ganhar
com uma se é possível ganhar com várias? Não seja ganancioso, o mercado
não dá nada de graça para ninguém.

*****
9. Diversificação: os dois lados da moeda

“O bom senso é tão raro quanto o gênio. ” – Ralph Emerson

Há vários meios de proteger seu patrimônio alocado em ações. Quando o


mercado está em baixa, todos os comprados comportam-se como
proprietários de imóveis e pensam somente em alugar, enquanto outros
voltam os olhos para o mercado de renda fixa, dólar ou ouro na tentativa de
proteger seu capital espalhando-o em outros ativos.
Diversificar é uma estratégia de proteção amplamente utilizada por
planejadores financeiros, gestores de fundos e investidores de modo geral.
Quando todas as condições são favoráveis parece remota a probabilidade de
perder nesse cenário. Quando os indicadores apontam somente para cima
parece tolice despender energia em mecanismos de proteção contra quedas. É
nessas circunstâncias que muitos esquecem que a aplicação em ações é um
investimento em renda variável, e não em renda fixa. Daí a necessidade de
uma carteira diversificada, pois é impossível antever os movimentos do
mercado.
Como investidores em ações, somos privilegiados. Podemos olhar para o
passado e aprender com o mesmo. Analisar e refletir sobre os momentos de
euforia e desespero, as bolhas, os tropeços de grandes empresas, as eleições
presidenciais e a economia como um todo e seus desdobramentos para o
mercado. Para cada caso no qual investir numa única empresa foi lucrativo, é
possível encontrar um contraexemplo. Como não estamos nos referindo a um
jogo, não use a probabilidade, esta não é uma boa ideia.
Um ponto que gera muita discussão nessa estratégia é o quanto diversificar.
Em quantas empresas é necessário investir para afirmar que temos uma
carteira bem diversificada? Há duas respostas para essa pergunta, duas
correntes na comunidade de investidores. Alguns alegam que independente
de quaisquer outros fatores, é recomendado investir em muitas empresas a
fim de obter-se uma carteira menos volátil e mais defensiva em momentos de
crise. Já outros alegam que dividir os ovos em menos cestas é o melhor.
Figura 3 - Diversificar é bom para sua saúde e seu patrimônio é
obrigado. Fonte: foto de Joy Shrader.

A verdade é que a diversificação poupa os investidores do árduo trabalho de


se debruçarem sobre os resultados financeiros com a finalidade de
diagnosticarem a saúde das empresas que investem, pois quanto menos
empresas mais é necessário conhecê-las. Warren Buffet, o legendário
investidor, sabiamente afirmou em certa ocasião que a “diversificação é uma
proteção contra a ignorância e não faz muito sentido para aqueles que sabem
o que estão fazendo”. Em outras palavras, uma pessoa que optou por investir
em cinco empresas pode estar diversificando, mas precisará estudar muito
mais do que aquele que está investindo em 25. Em ambos os casos o risco é
inversamente proporcional à quantidade de ações em sua carteira, enquanto
que o ganho é diretamente.
Suponhamos que sua carteira seja composta de dez ações. Se uma dessas
ações subir 20%, representará um acréscimo de 2% em sua carteira, enquanto
que uma perda de 10% significaria apenas 1%. Imagine se ao invés de dez
ações, o investidor estivesse comprado em uma única ação e que esta ação
fosse aquela que caíra 10%? Em vez de uma pequena perda, tal investidor
teria perdido dez vezes mais. É algo para se pensar. A quantidade de ações
que você precisa investir para diversificar está diretamente ligada ao tempo
que você dedica ao mercado e ao seu próprio perfil de investidor. Carteiras
com poucas ações estão sujeitas a oscilações maiores no curto e longo prazo.
Se você investidor sentir-se confortável com essa característica, ótimo, senão
deve repensar sua estratégia.
Cuidado com falsas diversificações. Ao manter em uma carteira ações de um
mesmo setor você está sujeito a um risco setorial. Em 2012 a Medida
Provisória 579 impactou as concessões do setor elétrico, assustando os
investidores e levando as empresas elétricas a fortes quedas. Uma carteira
composta de empresas desse setor não defendeu em nada o patrimônio do
investidor.
Já outras situações exigem mais atenção do investidor. Um mesmo risco
comum pode minar o que poderia ser uma carteira bem diversificada. Um
exemplo prático, o caso das empresas LLX Logística (atual Prumo), MMX
Mineração e OSX Construção Naval eram de setores diferentes e a princípio
poderiam integrar uma carteira diversificada se não tivessem em comum o
mesmo controlador. Nesse caso, uma crise do controlador poderia
desencadear uma crise secundária em suas controladas. Fato verificado
durante os anos 2012 e 2013, quando uma crise de confiança se instaurou no
holding contagiando todas as empresas do grupo.
Logo, ao constituir uma carteira de ações tome alguns cuidados para que
realmente diversifique na quantidade correta e com qualidade. Priorize
sempre o bom senso. Investir na bolsa de valores é algo que não deve tirar-
lhe o sono. Amplie o leque de ações em seu portfólio e quando se sentir
seguro e tranquilo com suas escolhas terá alcançado uma boa diversificação
Para pensar...
Não diversifique demais, nem de menos. Encontre seu ponto de equilíbrio.
Prefira uma carteira eclética com bons papéis, a uma carteira com ações com
alto potencial de retorno. Não se esqueça, o retorno é proporcional ao risco.

*****
10. Fuja dos fóruns de discussão

“Há falsidades disfarçadas que simulam tão bem a verdade, que seria um
erro pensar que nunca seremos enganados por elas. ” – François La
Rochefoucauld

Um ano, dois meses e vinte e cinco dias. Esse foi o inestimável tempo da
minha vida que desperdicei em fóruns de discussão e afins. Quatrocentas e
quarenta e cinco noites nas quais poderia ter desfrutado a agradável
companhia da minha esposa, ter lido bons livros, ter ido ao cinema, ter
realizado exercícios físicos, ou simplesmente ter descansado. Mas não, ao
invés disso, eu me entreguei às discussões inócuas de pessoas que não sabiam
onde estavam nem aonde queriam ir.
Um dos grandes erros do investidor iniciante é esse, de buscar refúgio e
reforço positivo para suas escolhas nas palavras de outros investidores. O
iniciante peca por não se preparar adequadamente para investir no mercado
de ações. Em vez de investir tempo em conhecimento, acha mais fácil
encontrar algum fórum de discussão ou rede social para acompanhar o
mercado e as oportunidades mais “quentes” por meio da opinião de
amadores.
Há todos os tipos de pessoas nesses lugares. Desde estudantes e curiosos até
investidores e operadores. São pessoas como nós, que têm algum tempo
durante o dia ou mesmo somente à noite para transitarem anônimos nas
diversas seções.
É possível contar o número de pessoas que realmente edificam discussões
nessas redes. A maioria esmagadora não investe de fato e, quando investem,
o foco está longe de aumentar o patrimônio. Pouco a pouco o interesse pelo
conhecimento das empresas dá lugar a bate-bocas e a desentendimentos
movidos pela sustentação de opiniões cegas e inflexíveis. Uma verdadeira
briga de egos.
Todos os dias são laçados pela aventura da interpretação de um personagem.
O nome da peça teatral? “Como ser mais esperto que os tubarões”. Tal qual
numa mesa de bar discutindo uma partida de futebol, assim são os foristas
interessados em inflar o ego e ficar rico rapidamente no mercado acionário.

No decorrer dos meses, nos quais estive presente todos os dias nesses lugares,
desenvolvi uma vida paralela. Durante o dia era um consultor de gestão de
projetos; respeitado, sereno e sério. Já à noite, um forista ansioso, impulsivo e
orgulhoso. Meus colegas de trabalho não tinham a menor ideia da pessoa que
existia por trás da minha aparência de homem prudente, racional e sensato.
Eu ruía minhas unhas, ao ponto de praticamente não tê-las. Comprava ações
visando “longo prazo”, mas todos os dias deixava-me inflar pelas palavras
calorosas dos demais foristas. Meu hobby era acompanhar a montanha-russa
das cotações das minhas ações no homebroker. No fundo estava inseguro
com minhas escolhas e, inconscientemente, não acreditava no logo prazo,
pois se cresse saberia que as oscilações do dia a dia são insignificantes.
Os analistas passionais
Tomei péssimas decisões nessa época. Recordo-me, com calafrios, das
compras motivadas por brados como “Está em promoção”, “É agora ou
nunca” ou “Agora ninguém segura”. Quantas vezes, convencido por
comentários de foristas influentes, resolvi comprar ou vender; o que
obviamente resultou em muitas perdas. Havia um forista chamado Pokerstars
que publicava textos bem embasados sempre sobre a mesma empresa (na
verdade ele possuía somente ações dessa empresa). Toda a comunidade
respeitava muito sua opinião, apesar de a empresa não ter prestígio, ser
criticada pela mídia e ter péssimos fundamentos. Mesmo assim esse forista
influenciou muitos, sendo um dos mais seguidos. O que essa multidão não se
dava conta é que seus comentários serviam aos seus próprios interesses.
Os fóruns, blogs e rede sociais, além de promoverem a discussão e troca de
informações, são palco de exposição dos casamentos entre investidores e
empresas. Noções como objetividade, clareza e imparcialidade passam longe
das narrativas dos participantes.
Pokerstars acreditava mesmo que poderia influenciar o sobe e desce das
cotações por meio de suas palavras dirigidas a algumas centenas de pessoas.
Talvez até plausível para empresas cuja cotação gira na casa dos centavos,
conhecidas como penny stocks no mercado norte-americano, mas impensável
para companhias com alta liquidez, como era o caso.
A bolsa está apinhada de amadores malsucedidos que veem nas redes sociais
a oportunidade de recuperar o prejuízo influenciando outros a tomarem as
mesmas decisões. Nessas ocasiões lembre-se do dito popular (adaptado)
“Mostre-me o extrato de sua corretora e direi quem és”.
A metáfora dos tubarões e das sardinhas
Uma das maiores, quiçá a maior, loucura incutida na mente do iniciante no
mercado de ações é a dicotomia entre os tubarões e as sardinhas. A metáfora
versa sobre dois grupos de participantes do mercado: de um lado os grandes
regentes denominados Tubarões, e do outro extremo as marionetes, as
Sardinhas. Trata-se de uma classificação bipolar das pessoas envolvidas na
bolsa de valores, sobre tudo na visão das sardinhas.

Do ponto de vista deles, os tubarões estão inexoravelmente sempre um passo


à frente. Para as sardinhas o mercado resume-se a um jogo de cartas
marcadas, do qual lhes restam apenas as migalhas. Essa ideia é amplamente
difundida e disseminada nos fóruns de discussão. Para essas pessoas a
oscilação dos preços decorre não da relação entre oferta e procura, mas sim
da luta em alto-mar entre tubarões e sardinhas.
Ao introduzir-me nas discussões, logo essa questão surgiu e por um curto
espaço de tempo cheguei a considerá-la, mas logo percebi ser uma grande
bobagem. Não existe essa divisão entre tubarões e sardinhas, do mesmo
modo que não existe bem e mal no mercado de ações. É insano crer que
investidores pequenos estão fadados a perder de alguma forma no mercado
por estar do lado “fraco”.
A única metáfora aceitável é dos Touros e Ursos, originária do maduro
mercado norte-americano, que corresponde aos comprados e vendidos,
respectivamente. A explicação das expressões tem origem dos movimentos
de ataque desses animais. Um touro com seus chifres fere seu adversário de
baixo para cima, num movimento ascendente, assim como os comprados
anseiam por um mercado altista10 e o impulsionam comprando mais ações e
a preços mais altos.
Por outro lado, um urso golpeia sua presa de cima para baixo, num
movimento inverso ao do touro. De forma antagônica aos comprados, os
vendidos aspiram por preços em queda enquanto compra a preços cada vez
mais baixos. Essa expressão metafórica nada mais é que uma representação
da Lei da Oferta e Procura (Demanda), e todos podem ora comprar, ora
vender. Nenhum dos grupos é superior ao outro. São equivalentes, apenas
alternando o domínio temporário sobre a tendência do mercado.

Se você considera-se ou já se referiu como sardinha, reconsidere. Você não


está em desvantagem no mercado, não existe nenhuma força oculta
prejudicando-o.
Para pensar...
Cuidado, não espere encontrar análises legítimas e imparciais nesses meios
de comunicação. Sempre questione. Se alguém lhe apresentar dez motivos
para investir numa empresa, peça também outros dez para não investir.
Invariavelmente sempre existirão prós e contras ao se investir em uma
empresa, por melhor que pareça ser.
É essa análise crítica que você precisa desenvolver como investidor, e não
como sardinha. Desencane, você não está protagonizando nenhuma teoria da
conspiração. Quanto antes aceitar que conhecimento, disciplina e
perseverança são os segredos do sucesso no mercado de ações, mais cedo
alcançará seus objetivos.

*****
11. Corra dos “micos”

“A melhor maneira de sermos enganados é julgarmo-nos mais espertos do


que os outros. ” – François La Rochefoucauld

Há várias formas de classificar uma ação: ordinárias e preferenciais, quanto


ao tipo; primeira, segunda e terceira linha, quanto à liquidez; large, mid e
small cap, quanto ao valor de mercado; e assim por diante. Não obstante, o
mercado possui gírias próprias para descrever certos tipos de ações. Blue
chip, penny stock, fallen angel, são alguns exemplos muito utilizados pelos
estadunidenses.
No caso do Brasil, as expressões blue chip e small cap são bastante
difundidas entre os investidores, mas também cunhamos uma expressão
tupiniquim denominada “mico” para designarmos ações de empresas com
pouca credibilidade e risco elevado, mas com alto potencial de retorno. Não
se sabe quem a usou pela primeira vez para se referir a ações e sua origem
deriva da expressão popular “pagar mico” que segundo Márcio Bueno, autor
de A origem curiosa das palavras, significa “ficar em situação
constrangedora, passar vexame ou levar uma saia justa”.
Figura 4 – Gráfico de ações da Tableau Software. O preço das ações
despencou após alguns trimestres de crescimento “decepcionante”.

Fato é que todos os dias pessoas se lançam em “micos” com a ilusão de


dobrarem seu dinheiro em pouquíssimo tempo. Normalmente cotados em
centavos (penny stocks) e com baixa liquidez (ações de terceira linha), esses
papéis não têm dificuldade de verem seus preços decolarem de R$ 0,20 para
R$ 0,40. Entretanto, seus compradores não se dão conta que assim como
podem subir forte em pouco tempo, podem cair na mesma proporção.
Agrenco, Estrela, Mangels, Renar Maçãs e Telebras são apenas alguns
exemplos de “micos” negociados na bolsa de valores de São Paulo à época da
escrita desse livro. Normalmente são empresas que não tem bons
fundamentos ou estão em processo de recuperação extrajudicial, ou seja, que
inspiram muita atenção e cautela. Devido ao caráter especulativo, muitos
profissionais do mercado especializaram-se em operar seus papéis visando à
alta volatilidade em potencial.
Jordan Belfort, que inspirou Leonardo DiCaprio no longa O lobo de Wall
Street, é o caso mais famoso. Ex-corretor de valores de Wall Street ganhou
milhões de dólares operando penny stocks nos anos 1990.
Você, pequeno investidor, ao manter uma posição em um “mico”, está sujeito
à ação de especuladores e até manipuladores que, em razão da baixa liquidez,
são capazes de inflar ou derrubar os preços com certa facilidade.

Um episódio que ganhou muita repercussão na mídia nacional, e ficou


conhecido como a bolha do alicate, é o caso da Mundial. No segundo
trimestre de 2011 as ações da empresa avançaram 1.400%, elevando o valor
de mercado da empresa de R$ 77 milhões para mais de R$ 1,4 bilhão em
pouco mais de três meses. Com o estouro da bolha em agosto do mesmo ano,
as ações da Mundial caíram mais de 85% em apenas uma semana. Uma
investigação conduzida pelo Ministério Público Federal indiciou dez pessoas
por manipulação do mercado financeiro e uso de informação privilegiada.
Figura 5 – Gráfico de ações da Mundial. O resultado de manipulação
de mercado.

Nenhum papel está 100% livre de manipulação ou insider trading


(negociação baseada em informações relevantes que ainda não são de
conhecimento público), mas ações com pouca liquidez são muito suscetíveis
a esses criminosos. É impensável existir manipulação dos preços das ações de
empresas como Petrobras e Vale devido à alta liquidez de seus papéis.
Entretanto um insider trading sobre a Usiminas não seria tão danoso ao
patrimônio do pequeno investidor, quanto um insider trading sobre Inepar,
uma empresa com liquidez reduzida e negociada a centavos.
Mantenha-se afastado de “micos”, pois as incertezas quanto ao longo prazo
minam as estratégias de gerenciamento de risco.
― Possuo somente 1% do meu capital investido em ações da Maracutaia
Participações S.A., logo, caso a empresa vá à falência de fato, estou limitando
a 1% a perda de meu patrimônio ― você diz.
― Não. Você não está investindo, mas sim apostando ― Respondo. Não que
exista problema em apostar ou especular na bolsa, desde que ciente que não
se trata de um investimento. Só sabemos a importância de nosso patrimônio
quando o perdermos. Não dar o devido valor a uma fração do seu capital, é o
mesmo que não o dar ao todo.
Não brinque no homebroker com seu dinheiro. Por um instante pode parecer
que estamos em uma espécie de jogo online, mas não estamos. Já tive minha
dose de “mico” e não foi uma experiência agradável. Todos pensam que
passarão incólumes em suas escolhas, mas ao observar seu patrimônio
escorrendo por suas mãos frias é de dar náuseas.
Seja criterioso na seleção das empresas que pretende aplicar o fruto do seu
trabalho. Cada centavo tem exatamente o mesmo valor. Patrimônio é
patrimônio. Não existe uma parte, por mais ínfima que seja, que possa ser
“queimada”. Por mais que queira, você não enriquecerá rápido na bolsa. A
maioria esmagadora se perde nesse delírio. Há tempo para tudo, e os que não
respeitam o mercado têm uma breve vida no mesmo.
Para pensar...
Suas escolhas não têm sido arriscadas demais? Desde que entrou na bolsa, já
realizou prejuízo? Tem ações de “micos”? Não subestime os riscos de
realizar maus negócios no mercado. Se você possui algum “mico” considere
desfazer essa posição. Em vez de torcer por seu papel foguetear, no dialeto
dos foristas, mude de aplicação, há empresas com boas perspectivas e bons
fundamentos.
Desista de acreditar que é esperto o bastante para “passar a pena” no
mercado. A probabilidade de ver seu capital reduzido pela metade é bem
maior que a chance vê-lo dobrar. Não sacie o apetite dos especuladores e
traders.

*****
12. Day trading não é para amadores

“É melhor ter um rendimento permanente do que ser fascinante. ” – Oscar


Wilde

Dois milhões e setenta e nove mil e seiscentos e setenta e dois reais. Este é o
valor das operações realizadas por mim, durante minhas primeiras férias após
aprender os mecanismos básicos do mercado de ações, graças ao altíssimo
limite de crédito (alavancagem) oferecido pela corretora na qual era cliente.
Valor de dar inveja a qualquer corretor de valores, se não fosse o pífio
resultado.
Nos meses que antecederam minhas tão aguardadas férias conheci a Bolsa de
valores e a escola de análise técnica quase que simultaneamente.
Considerava-me um homem muito inteligente que absorveria em passo
acelerado os complexos conceitos do mercado e que ganharia muito dinheiro
tão logo estivesse munido de todo o ferramental que a análise técnica oferecia
sem cobrar nada.
Nutria uma grande empatia pelo assunto (provavelmente devido à
proximidade da minha formação em Matemática), pela literatura, e pelos
testemunhos das pessoas que mudaram de vida ou que conseguiram
independência financeira por meio da bolsa. Dia após dia meu desejo de
colocar em prática aqueles conceitos crescia, e de certa forma fui bem-
sucedido nos primeiros meses.
Entretanto, ganhar R$ 3 mil por mês não era suficiente – o que representava
na época um ganho de aproximadamente 10% ao mês frente ao meu capital
em ações. ― Por que aguardar um mês se posso ganhar isso em três dias? Por
que não realizar as mesmas operações vitoriosas numa janela de tempo
menor? ― pensava comigo cogitando day trading (que nada mais é que
comprar e vender, ou vice-versa, um ativo no mesmo dia). Ideia sedutora não
fosse um problema: tempo. Sabia que ao realizar operações no intraday não
poderia desviar minha atenção do homebroker, seria como dirigir de olhos
fechados. Tracei um plano. Continuar estudando e aguardar minhas férias
para realizar meu objetivo em ser daytrader.
As semanas se passaram e com elas a proximidade de levar a cabo meu
plano. Passava os dias elaborando estratégias e escolhendo os melhores
papéis para as mesmas. Os simulados sinalizavam que estava no caminho
certo.
Finalmente, eis que estava de férias e poderia colocar em prática (leia-se
ganhar uma fortuna em pouco tempo) meus vastos conhecimentos técnicos.
Além dos estudos, investi em infraestrutura: montara uma estação para day
trading com dois grandes monitores, um poderoso computador e Internet
mais veloz para não correr riscos.
Segunda-feira, o primeiro dia de operações. Tudo correu exatamente como
planejei pelo menos nas primeiras quatro horas. Nessa manhã ganhei o
equivalente a uma semana de trabalho. Estava em êxtase. Acompanhei cada
tick das ações operadas de tal forma que mal piscara os olhos. Beber ou
comer? Nem passava pela minha cabeça. Recordo-me como se fosse hoje, de
como aquelas operações mexeram com meu ego. ― A tarde não será
diferente, o dia está apenas começando! ― disse a mim mesmo exultante.
Não continuou conforme esperava. Nos dias seguintes muitas operações mal
sucedidas. Já não estava “acertando a mão” como no primeiro dia. Os
indicadores divergiam, comprando quando não era o momento e vendendo
quando não deveria. Titubeava entre seguir os indicadores e minha intuição.
Foi então que fatores psicológicos começaram a pesar. Ansiedade,
nervosismo, apreensão, impaciência, dentre outros sentimentos, passaram a
ditar o ritmo das operações. Senti um burburinho de emoções que nunca
havia experimentado.
De forma paulatina o trader deu lugar ao jogador. Num dado momento passei
a comportar-me como aquele jogador no cassino que aposta mais e mais no
afã de recuperar suas perdas, e cada vez mais se enterra em seus erros e em
sua irresistível vontade de continuar. Nunca estive num cassino ou numa
mesa de pôquer, mas posso afirmar categoricamente que entendo o que um
jogador compulsivo sente.
Essa passagem marcou para sempre minha trajetória como investidor ao
provar que estava enganado, nunca fora um profissional do mercado como eu
equivocadamente acreditei ser. Day trading não era para mim. Certa vez li um
artigo que dizia que day trading era a forma mais rápida de arruinar-se na
bolsa de valores. Considerei um exagero, mas depois dos acontecimentos
entendi o que o autor quis dizer.

Muitos analistas técnicos e traders alegam que day trading é como um trade
normal, com a diferença residindo na timing, sendo que as mesmas
estratégias podem ser usadas. Discordo veementemente. A tomada de
decisão, a pressão e ruídos no intraday minam ótimas estratégias aplicadas a
janelas de tempo maiores como no diário ou semanal. Quando se opera em
gráficos semanais há um final de semana inteiro para que uma decisão seja
tomada, enquanto no intraday minutos, ou mesmo segundos, são a diferença
entre ganhar ou perder. Isso sem considerar a disponibilidade de tempo para
análise e boas ferramentas para envio de ordens.
No frigir dos ovos movimentei mais de R$ 2 milhões de forma impulsiva em
sete dias, fazendo a alegria da CBLC, da BM&F Bovespa e da minha
corretora. Terminei minha jornada como daytrader com o módico prejuízo de
pouco menos de R$ 2 mil, irrisório comparado ao montante movimentado.
Poderia ter sido muito, muito pior. Felizmente aprendi minha lição e
continuei colhendo os frutos do mercado como um investidor.
Cuidado com análise técnica
Não é minha intenção acusar ou defender a eficácia da análise técnica no
mercado de ações, mas sim advertir sobre os riscos da mesma. A ideia de
ganhar na bolsa sem precisar estudar os fundamentos das empresas, sem
esmiuçar os resultados trimestrais ou as perspectivas da economia é
tentadora, mas requer muita cautela.
É inevitável. Não há no mercado de ações quem não tenha tido contato ou
estudado, pelo menos, um pouco o assunto. Em qualquer busca que façamos
no Google, a análise técnica desponta como a forma mais rápida de sucesso,
o menor caminho entre o operador e o primeiro milhão. Sites estampando
bonitas mulheres e homens bem-sucedidos demonstram em minutos como
realizar um trade de sucesso.
Centenas de pessoas são iludidas diariamente pelas promessas de ganho fácil
dos “experts”, que apresentam a análise técnica como um conjunto de
indicadores capazes de prever o comportamento futuro dos preços.
De olho nesse crescente nicho de mercado, corretoras e analistas têm
investido pesado na divulgação do assunto, oferecendo apostilas, cursos,
palestras e taxas convidativas em operações via homebroker. O fácil acesso
aos softwares de análise técnica e ao amplo material na Internet também
contribuem significativamente para o número de seguidores.

A análise técnica é válida e requer muito estudo, suor e disciplina. Mas o que
deveria servir como ferramenta para auxiliar na tomada de decisão torna-se
um vício para muitos. Para estes o foco não é aumentar patrimônio, mas sim
determinar os melhores padrões, as mais adequadas combinações de
indicadores e osciladores, as linhas de tendências mais confiáveis, os stops
mais curtos, ou seja, o meio transformando-se no fim.
Trata-se da análise técnica pela análise técnica.
Durante dois anos me debrucei sobre o assunto. Ser matemático facilitou
muito, aliou a fome à vontade de comer – desculpe o jargão. Adquiri os
melhores livros e aprendi a utilizar os softwares mais avançados, assinei os
melhores periódicos internacionais e dediquei muito, muito tempo.

Eu me perdi. O dinheiro deixou de ter significado. Já não estava interessado


em incrementar meu pequeno patrimônio, mas apenas em ter os melhores
resultados nos back testings (simulações de estratégias com dados passados).
Tal qual Maximillian no longa de ficção científica Pi (π), eu estava obcecado
em elaborar e combinar padrões, indicadores, osciladores, isto é, em
determinar a fórmula perfeita, com a diferença que Max aparentemente
encontrou o “padrão universal”, enquanto eu... deixa pra lá.

Sou suspeito quando me refiro à análise técnica. Apesar de não ser para mim,
acredito que existem muitas coisas válidas que devem ser aplicadas com
critério e bom senso. Não se deixe enganar por charlatões que só querem
aproveitar-se do entusiasmo e desconhecimento dos iniciantes.

Para pensar...
Você tem sido bem-sucedido nas operações comuns e acha que pode fazer o
mesmo com operações de day trading? Você tem disponibilidade para
acompanhar homebroker um dia inteiro caso necessário? Você lida bem com
suas emoções? É frio com dinheiro ou fica com o coração na mão quando
seus investimentos estão no vermelho? Os fatores decisivos para um
daytrader de sucesso são, além de conhecimento técnico, autocontrole
emocional, disponibilidade de tempo e dinheiro próprio. Se você não atende
esses requisitos, mantenha distância de day trading.

Você tem afinidade pela análise técnica? Qual a assertividade dos seus
métodos? Já realizou back testings de suas estratégias com dados históricos
dos últimos 10 anos das ações escolhidas? Quais seus resultados na bolsa?
Os melhores traders da atualidade são ótimos programadores. Lógica e
conhecimento aritmético são pré-requisitos para aqueles que pretendem
aprofundar-se no assunto. Bons analistas técnicos possuem ótima
escrituração. Anote tudo, desde simulações até as operações reais. Operar
através da análise técnica é um processo de melhoria contínua. Sem esses
pré-requisitos você será presa fácil nas garras do mercado e dos vigaristas.
Seja meticuloso e cuidadoso, e estude, estude e estude.
*****
13. Grandes quedas não implicam grandes altas

“Ambos se enganam, o velho quando louva somente o passado, o moço


quando só admira o presente. ” – Marquês de Maricá

Com o perdão da expressão, mas que atire a primeira pedra quem nunca viu
deslumbrado o gráfico de uma ação que despencou na bolsa de valores e
pensou: ― Para voltar ao mesmo valor, essa ação subirá muito! ― Tropecei
em muitas pedras no mercado de ações, mas provavelmente o maior tropeço
no início da minha carreira como investidor foi acreditar que grandes quedas
precediam grandes altas.
Mas por quê? A resposta pode parecer simples, mas vamos tentar desvendar
um pouco o que se passa no coração, ou melhor, na cabeça de um jovem
investidor. Ao dar os primeiros passos ele é bombardeado por falsas
impressões a respeito do mercado de ações.
Sejamos francos, quando pensamos na expressão bolsa de valores, o que vem
à nossa mente? Se você pensou em Wall Street, na emblemática Nova Iorque
ou em homens de terno ganhando milhões de dólares, você não é diferente da
maioria das pessoas. A todo o momento são oferecidas as ilusões de riqueza e
sucesso rápido, expresso. Nas salas de cinema, no aconchego do lar
assistindo televisão, enquanto navegamos pela Internet ou simplesmente ao
lermos um jornal no metrô, lá estão os estímulos para participar do rally
acionário.

Não é incomum se deparar com agitações no trabalho sobre as top picks11 da


bolsa ou sobre as histórias dos prodígios que venceram nas mesas de
negociação, sendo mais espertos que o mercado, segundo contam. Não
obstante, os tabloides de investimentos estampam eufóricos os testemunhos
daqueles que largaram tudo para viver como traders enchendo os olhos dos
novatos.
A imagem do investidor bem-sucedido é sedutora, não é verdade? Mas será
mesmo que nessas rodas de amigos nenhum deles conhece casos de pessoas
que perderam muito ou de empresas que tripudiaram dos acionistas
minoritários? Claro que sim, mas ninguém quer falar disso. Ninguém quer ser
o desmancha-prazeres. As pessoas amam a endorfina dos altos ganhos, dos
negócios perfeitos e dos golpes de mestre que se perpetuam no imaginário de
todos.
Diante de tanta propaganda o jovem investidor é convencido de que é um
candidato a milionário. Não demora a concluir que está perdendo tempo na
vida trabalhando oito horas diárias, e que poderia ganhar seu salário em uma
semana. Resolve investir em livros e cursos onde são demonstrados por A +
B que os padrões e as oportunidades o aguardam. Resta tão somente transferir
seu dinheiro para a conta de uma corretora e aplicar os conhecimentos
adquiridos. ― Sim, posso ganhar muito, vou começar amanhã! ― deduz.
O que há de errado com essa dedução? Podemos enumerar três deslizes.
IMEDIATISMO, não querer percorrer o caminho dos grandes investidores
nos quais inicialmente buscou inspiração. O sucesso no mercado financeiro
não admite atalhos. Há uma relação direta entre tempo e êxito. Quem, para
ser um médico, não dedicou tempo e afinco nos estudos? Ou qual advogado
não se debruçou sobre livros e anos de estudo para dominar a Lei e a
Doutrina? De modo semelhante uma pessoa não se torna um investidor, ou
operador do mercado, da noite para o dia.
Observamos também ORGULHO. Ora, uma grande parte dos investidores
perde por falta de humildade, por ignorar ou hostilizar conselhos de pessoas
mais experientes que passaram pelo caminho certo, e não pelos atalhos. Em
gestão de projetos é comum falarmos que “sai mais barato aprender com os
erros dos outros”, é verdade, mas para tanto é preciso modéstia. Infelizmente
tendemos a pagar do nosso próprio bolso. Somos duros, orgulhosos, e
somente nos dobramos ao nos darmos conta que erramos por não aceitar
ajuda.
Por último, o calcanhar de Aquiles de todo ser humano, GANÂNCIA. A
avidez por dinheiro e poder desperta o pior em qualquer ser humano. Nos
investidores, a cobiça os conduz a ignorar os riscos e a fitar os olhos somente
no retorno. É bom lembrar que retorno é diretamente proporcional ao risco.
Altos retornos implicam em altos riscos. Talvez daí venha a crença cega de
que grandes quedas nas cotações de determinada empresa são o prelúdio de
altas vertiginosas. Sim, pode ser, mas o risco nesse caso é altíssimo. A
vontade de possuir, de tirar do mercado o dinheiro que já considera próprio,
torna o indivíduo tão irracional que é capaz de colocar tudo à prova sem
nenhuma hesitação.

Se analisarmos as grandes quedas da bolsa, veremos que a deterioração dos


fundamentos acompanhou a queima das cotações. Queda do lucro, das
condições comerciais, da saúde financeira da companhia ou das vendas, são
exemplos de situações que podem levar à revisão dos fundamentos de uma
empresa. Não se investe dinheiro em empresas ruins, no máximo é possível
operar, desde que sob um sistema muito bem definido e com muita disciplina.
As emoções são as únicas justificativas para uma pessoa inexperiente aplicar
suas reservas em uma empresa sem fundamentos. Nos 2012 os fundamentos
de várias empresas ligadas ao setor elétrico brasileiro foram afetados, e ainda
não se recuperaram. Muitos afirmam que as grandes quedas abriram
oportunidades para comprar ações a preços muito atraentes. Entretanto
oportunidade existe nos casos onde os fundamentos não acompanharam a
queda das cotações, ou seja, quando não se verificou mudança nos
fundamentos. Nesses casos não se trata de oportunidade, mas realmente de
manter-se fora.
O jovem investidor esquece que o movimento das cotações é caótico, mas
muitos optam por não enxergar ou aceitar esta realidade. A atração pela
possível alta é muito superior ao medo da continuidade da queda. Na verdade
é como se não existisse a possibilidade de perder, pois normalmente não
existe nenhum plano, por mais simples que seja, caso a operação venha entrar
no vermelho. Esse pensamento dominante é devido à clara ganância que
habita em cada um de nós, em maior ou menor escala.
Note que não estou sustentando que é pecado desejar mais da vida ou dos
investimentos. A ambição é válida, dentro de parâmetros éticos e morais, e
nos impulsiona a conquistar. O problema ocorre quando a ambição dá lugar à
ganância e o ser humano vê sua capacidade de decisão comprometida. Esta
deve ser a primeira preocupação de qualquer pessoa recém-chegada ao
mercado de ações.
Não acredite em hipótese alguma que após uma empresa tombar na bolsa, se
seguirá uma grande recuperação. Pessoas chegarão de todos os lados para
chamar a atenção do fato, e para a “oportunidade”, mas não dê ouvidos. Não
existe motivo para crer nisso. Muito mais fácil e compreensível é a
continuidade do movimento, ou seja, da queda dos preços. Diante de tantas
boas empresas, por que colocar seu dinheiro em uma empresa com sérios
problemas? Por que comprar barato uma empresa ruim? Não se deixe
enganar.

Para pensar...
Seu objetivo é dobrar seu capital em um ano? Cuidado, você pode estar sendo
ganancioso. Se não obteve uma rentabilidade semelhante em outras
aplicações ou operações, pense bem. Você enxerga padrões no
comportamento dos preços? O preço não vai disparar só por que está vendo
uma bandeira12 no gráfico.
Você comprou ações de empresas que caíram mais de 50% nos últimos 12
meses? Este é o clássico erro. Em primeiro lugar, você sabe por que a ação
caiu tanto? Trata-se de uma oportunidade ou de uma “canoa furada” que você
não consegue sair? Fazer preço médio para “reduzir” seu prejuízo também é
um sinal que está no caminho errado.
Se você é trader, tem critérios de saída bem definidos? Você iniciou algum
trade e ao ver os preços derreterem resolveu tornar-se investidor? Outro erro
comum. Traders são disciplinados e não se tornam investidores em operações
mal sucedidas. Isso pode ser sinal de falta de estudo ou falta de conhecimento
sobre o que você deseja do mercado.
Você investe em ações com bons fundamentos ou prefere comprar apenas
ações “baratas”? Mais uma vez, cuidado com a falsa oportunidade. Uma
empresa só pode ser considerada barata se, e somente se, seus preços estão
atraentes e possui bons fundamentos.

*****
14. Invista em empresas que você conhece

“Quem não sabe nada tem de acreditar em tudo. ” – Jan Neruda

As redes sociais são lugares interessantes e poderosas ferramentas para


estreitar o relacionamento entre amigos e familiares. Porém a combinação
redes sociais e aplicações financeiras pode ser perniciosa ao investidor. As
pessoas nessa atmosfera tendem a ser muito passionais, com dificuldade em
racionalizar suas decisões devido à grande exposição.
Quando assíduo usuário do Twitter seguia muitas pessoas na intenção de
obter dicas e a famosas informações privilegiadas, na ilusão de antecipar-me
aos outros investidores – há muitos assim, e sempre haverá. Uma dessas
figuras com vários seguidores chamava-se Álvaro, do qual fiquei amigo com
o tempo.
Álvaro era um jovem analista de sistemas de uma grande mineradora, e nas
horas vagas atuava como trader (grafista) relativamente bem-sucedido.
Detestava análise fundamentalista, e dizia com frequência que o longo prazo
não existia mais, gabando-se dos seus resultados obtidos somente com a
observação dos gráficos dos preços das ações.
Quando questionado sobre não se interessar em conhecer as empresas que
operava, sempre respondia ser irrelevante.

― Não sou investidor, não me casarei com nenhuma ação, não preciso perder
meu tempo lendo ou pesquisando sobre nenhuma empresa. Quando uma
operação dá errado, meu stop é acionado e estou fora, só isso. ― dizia o
grafista.
Nunca desisti de discordar. Insistia com ele que o sucesso de várias de suas
operações beirava a sorte e não a assertividade de sua técnica. ― Pense bem,
colocar seu dinheiro numa empresa que você não faz ideia do que está se
passando na mesma não o deixa um pouco incomodado? ― questionei
surpreso. De nada adiantou, na verdade acreditava ser uma grande vantagem,
uma espécie de agilidade para ganhar dinheiro na bolsa.
Entretanto houve um divisor de águas nesse pensamento simplista de Álvaro.
Os 2012 e 2013 da bolsa brasileira foram marcados por muita volatilidade.
Um paraíso para especuladores e traders, mas que tem suas armadilhas. Isso
se acentua ainda mais quando se tratam de empresas pequenas com ações
negociadas na casa dos centavos ou com saúde financeira delicada.
Infelizmente essas empresas são verdadeiros ímãs de investidores e
operadores distraídos ou gananciosos.
Uma dessas empresas que se destacou em 2013 foi a trading agrícola
Agrenco, uma empresa com potencial para firmar-se no agronegócio
brasileiro, mas que viu sua situação financeira entrar em colapso a partir de
2008, após a Operação Influenza da Polícia Federal ser deflagrada contra os
executivos da companhia.
Em meados de 2013 a empresa era destaque devido à tramitação da
aprovação do Plano de Recuperação Judicial (PRJ) que poderia reverter a
situação da empresa. O fato vinha causando verdadeira comoção no meio de
uma legião de pequenos especuladores por acreditarem que a aprovação do
PRJ provocaria uma subida desenfreada no preço da ação da empresa, que na
época era negociada por poucos centavos.
Nesses dias Álvaro alardeou pelo Twitter que havia rastreado uma excelente
operação em seu radar, com possibilidade de ganho de 50%, e informara que
os interessados deviam entrar em contato (era comum ele vender
recomendações para os seguidores).

Apesar do meu distanciamento do mercado à época, achei suspeito o


potencial da operação e entrei em contato para entender a tal oportunidade.
Álvaro explicou que a Agrenco havia preenchido os requisitos de seu trading
system mais vitorioso, e que faria uma grande operação por considerar uma
ótima relação risco x ganho. Senti um frio na espinha quando ouvi isso.
― Álvaro, o que você sabe sobre a Agrenco? ― perguntei instintivamente.
Eu não a conhecia bem, mas sabia que se tratava de uma empresa em
dificuldades, e numa rápida pesquisa descobri que a mesma estava em vias de
ter seu PRJ aprovado ou não pelos credores.
― Sei que é uma empresa, mais nada. Você sabe que o meu método dispensa
conhecer os detalhes das empresas. ― bradou orgulhoso.
― Sim, eu sei, mas nesse caso é muito importante saber o que está se
passando nessa empresa. Jogue a palavra “Agrenco” no Google e veja os
resultados. ― disse. Ao que ouviu sem pronunciar uma palavra.

― Estou vendo que é uma empresa que apresentou um plano de recuperação


judicial e está aguardando o parecer dos credores. O que isso significa? ―
perguntou ressabiado.
― Significa que essa empresa pode quebrar a qualquer momento! Basta os
credores não aceitarem o plano de recuperação judicial. ― expliquei.

― Mas se algo der errado meu stop zera a posição. Qual o problema? ―
alegou cético.
― O problema é que não há garantia que você consiga sair desse papel caso
as coisas não deem certo na Justiça para a empresa. Um conselho de amigo?
Espere a poeira baixar.
― Okay. Vamos marcar um almoço e conversarmos mais, pode ser? ―
respondeu evasivo.
― Claro. ― respondi duvidoso que meu conselho surtira efeito. Vida que
segue, tentei esquecer esse assunto, afinal tinha outros afazeres.
Uma semana depois, recebi para minha surpresa uma mensagem do Álvaro
na qual dizia: “Cara, obrigado! ”. Achei estranha a mensagem depois de uma
semana, e pesquisei para verificar se algo havia acontecido. Descobri que a
Justiça decretara a falência da Agrenco. O pior aconteceu, além da situação
da empresa agravar-se com a recusa dos credores, a negociação dos papéis na
bolsa fora suspensa. Centenas de pessoas desavisadas ficaram com dinheiro
congelado na empresa, sem perspectivas de quando, ou se poderiam, se
desfazer desse papel podre. Agora a mensagem fazia sentido. Fiquei muito
feliz, não por estar certo, mas por ter ajudado meu amigo.
Esse episódio ilustra como é importante conhecer a contexto das empresas
que se pretende investir. Alguém compra um carro sem o conhecer?
Concorda que todos verificam a motorização, a flexibilidade quanto a
gasolina ou ao álcool, os acessórios, se nacional ou importado, o ano de
fabricação, se continua sendo produzido ou se há multas no DETRAN? O
mesmo aplica-se aos imóveis. Compramos um apartamento sem conhecer os
detalhes do mesmo? Não checamos a localização, a vizinhança, a metragem,
o acabamento, a idade do empreendimento, se o condomínio está em dia ou
se há algum impedimento nos cartórios?
Então por que razão muitos investidores não procuram conhecer melhor as
empresas que estão colocando seu precioso dinheiro? ― Um especulador não
precisa conhecer a empresa. ― alguns podem alegar, mas eu digo que estão
enganados. Se um especulador de automóveis, para ter sucesso naquilo que
faz, precisa ter certo domínio sobre automóvel e mecânica, por que um
investidor de ações poderia abrir mão de conhecer seu objeto de estudo?
Eu e minha esposa vamos a fundo nesse quesito. Não é suficiente para nós
sabermos que a BM&F Bovespa (BVMF3) é uma boa empresa. Para
colocarmos dinheiro nela precisamos saber como a Bovespa tem lucro, ou
seja, de onde vem sua receita, quais são suas metas de crescimento, qual a
interferência do Estado nos negócios da empresa, em quais cenários a
empresa é beneficiada ou não, quais as perspectivas em longo prazo, dentre
outros fatores. Sem esse conhecimento não nos sentimos seguros para
investir.
O investidor não precisa ser como nós, mas deve saber, pelo menos, qual o
NEGÓCIO DA EMPRESA e sua SAÚDE FINANCEIRA.
Isso me lembra um episódio engraçado. Certa vez um novato divulgou no
fórum um link para o YouTube de um vídeo gravado por ele no qual
descrevia sua análise (técnica) para a ação BTOW3. Em determinado
momento do vídeo ele afirma que “o papel é desconhecido, mas que possui
bom volume negociado”. Ora, como um papel desconhecido tem alto volume
de negócios? E quais parâmetros ele usou para afirmar que o ticket é
desconhecido? Há algo errado nessa afirmação. Foi inevitável, tornou-se
motivo de chacota no fórum. Isso apenas evidenciou o quão despreparado era
o jovem, que se propôs a fazer uma análise de uma empresa sem ter ideia que
estava falando simplesmente da maior empresa de varejo on-line do país.

Para pensar...
Você conhece o modelo de negócio das empresas que investe? Quais os
setores de atuação? São empresas cíclicas? Têm lucros crescentes nos últimos
anos? Qual o crescimento da receita líquida nos últimos cinco anos?

São perguntas importantes que todo investidor deveria saber as respostas. Se


você tem ações de empresas que mal conhece, talvez seja a hora de repensar.
Comprar ações de uma empresa, ou realizar qualquer outro investimento, sem
conhecê-la é como um feirante que compra um lote de caixas de morangos de
olhos fechados. Isso não é sensato.

*****
15. Não invista com dinheiro dos outros

“Se queres saber o valor do dinheiro, tenta pedi-lo emprestado. ” –


Benjamim Franklin

A síndrome do descobrimento da pólvora


Todos que usam óculos já experimentaram isso uma vez na vida, aquela
incrível sensação de admiração e espanto ao colocarem óculos pela primeira
vez e enxergarem o mundo ao redor com uma nitidez que nunca imaginaram.
É como um para-brisa que passou a noite exposto ao orvalho, e pela manhã
ao ser limpo tem tudo desnudado à sua frente. De semelhante modo, assim é
o indivíduo que acabou de conhecer a Bolsa de valores.
Tudo é novo. O primeiro contato com o homebroker. O frenesi dos envios de
ordens de compra e venda. A análise técnica com suas 1001 formas de traçar
operações. Os veículos de comunicação financeira noticiando os furos
empresariais e previsões futuras. Os depoimentos de mentes brilhantes que
alcançaram fama e fortuna. E em algum lugar oculto, as histórias dos
investidores perseverantes que se não deixaram abater – parte importante
essa, mas ignorada pela maioria.
Nos momentos de euforia da bolsa, milhares de pessoas são atraídas pela
vitrine dos ganhos fáceis. O êxtase de alguns é tão grande que não acreditam
como perderam tempo na vida fora da bolsa. Denomino isso de Síndrome do
descobrimento da pólvora. É o estado no qual o indivíduo acredita piamente
ter descoberto a forma de enriquecer rápido, sendo capaz de enxergar coisas
que ninguém nunca notou nos últimos 100 anos de mercados de ações.
Nesse estágio o calouro vê um gráfico de candles, com uma ou duas médias
móveis plotadas, e conclui: “É simples, realmente os preços acompanham as
linhas, a chance de perder é quase zero”, sem desconfiar que não são os
preços que acompanham as linhas, mas o contrário, as linhas são as médias
dos preços. Pior quando ele vê o gráfico dos preços de uma empresa subindo
e resolve simplesmente entrar, naquele tipo de operação do mais tolo.
Devido tão somente à sorte é possível que um aventureiro ganhe na bolsa,
mas até aí tudo bem, é um direito dele fazer o que bem quiser com seu
dinheiro. O problema ocorre quando sua excitação transborda para familiares
e amigos, e os seduz para o mercado.
Certa vez testemunhei um relato de um colega forista entorpecido por uma
onda de altas expressivas da OGX (atual OGpar) em 2012. Não me recordo
de seu nome, mas nunca me esquecerei do fato de que conseguira aliciar as
economias de sua noiva e sogra para comprar ações da OGX. Ele estava
exultante por que obtivera 22% de lucro em uma semana e que já se
preparava para ganhar outros 22%. Quando perguntamos sobre qual era a
relação risco x ganho da operação, ele respondeu apenas que colocou o
dinheiro para ganhar e não perder. Em outras palavras, tratava-se da maldita
sorte de iniciante. Lembro como fiquei atônito ao ler o que declarara. Como
não bastasse o risco de operar somente com seu capital, havia outras pessoas
envolvidas.
Ter envolvido sua noiva e sogra em algo tão sério chegava a ser imoral, pois
certamente elas conheciam muito menos que ele. Imagine a responsabilidade
desse homem ao colocar as economias dessas pessoas numa mesa de pôquer?
Sim, estava jogando, não havia nenhuma técnica ou estratégia no que fazia. A
prova disso é que se preparava para a próxima rodada. Não estava bom
ganhar 22% em uma semana? Depois dessa grande sorte não seria justo
devolver as quantias com os respectivos lucros a quem é de direito? Não
acompanhei o desenrolar dessa história, mas é difícil acreditar que houve um
final feliz.

Mesmo para aqueles que investem com método, não recomendo investirem
para terceiros, por duas razões. Primeiro essas pessoas não são investidores.
Pessoas que não conhecem renda variável não estão preparadas para
receberem a notícia que seu capital reduziu em 10% no último mês, por
exemplo. Isso causaria um grande transtorno. Seu cunhado ou amigo quer
que você invista por que confia no seu “taco”? Então o ensine a pescar, não
seja tolo.
Em segundo lugar, o envolvimento emocional com outras pessoas pode
comprometer sua capacidade de decisão. Uma coisa é realizar um prejuízo
próprio, outra totalmente diferente é realizar um prejuízo de familiares ou
amigos. Se tivesse comprado ações para seus pais, você teria o mesmo
calculismo para enviar a ordem de venda realizando o prejuízo ou deixaria a
operação prosseguir na esperança de sair com lucro?
Não alavanque
A alavancagem é um limite de crédito disponibilizado no homebroker pelas
corretoras, que permite comprar ou vender a descoberto, para operações de
day trade13. Possibilita ganhos maiores, assim como traz riscos maiores.
A gestão de riscos não é uma tarefa fácil, mas se torna mais difícil quando
combinada à alavancagem. O limite é aplicado de acordo com seu patrimônio
em ações custodiadas ou em dinheiro na conta depósito da corretora. Hoje há
corretoras que disponibilizam alavancagem de 10x, 15x, até 20x o financeiro
do correntista. Suponha que um correntista possua R$ 10 mil em ações do
Bradesco e R$ 2 mil em dinheiro na corretora, e que a alavancagem para esse
papel seja 10x sem nenhuma restrição. Essa alavancagem permitiria ao
correntista realizar uma compra ou venda a descoberto no valor de até R$ 120
mil. Por isso o uso da expressão “alavancar” que significa aplicar força
adicional para impulsionar, incrementar ou melhorar o desempenho.
Entretanto quanto maior a alavancagem, maior a exposição do patrimônio do
operador ao risco. O ganho de 1% em uma operação de R$ 120 mil é de R$
1,2 mil, muito bom para quem tinha apenas R$ 12 mil em ações e dinheiro,
no entanto, a perda de 1% significaria um prejuízo de 10% no patrimônio do
correntista. Sempre ao se utilizar alavancagem, o risco é multiplicado pelo
mesmo fator.

A alavancagem é um instrumento das corretoras para aguçar a ganância dos


amadores. As corretoras por sua vez promovem essas operações sem nenhum
risco para elas, pois usam como lastro o patrimônio do operador. Ao
contrário, as corretoras faturam com o aumento no volume das operações
proporcionado pela alavancagem de seus clientes. Mais uma vez quem perde
é o aplicador ambicioso.
Já há bastante risco a ser administrado por quem investe com método e
prudência. Ao operar alavancado o investidor está usando recursos que não
lhe pertencem, e ao perder quem paga o preço é seu precioso patrimônio.
Não use conta margem
A conta margem é uma modalidade de crédito no qual as corretoras
financiam a compra de mais ativos para os quais o indivíduo não possui
capital. É uma forma de alavancagem com algumas diferenças. Ao usar a
conta margem a corretora cobrará uma remuneração (juros) sobre o capital
disponibilizado (margem). A alavancagem é menor, não atingindo 2x o
patrimônio em ações na maior parte das corretoras.

Está condicionada à existência de determinados papéis em carteira, que


servirão como garantia. Destina-se a compra de ações de 1ª e 2ª linha,
somente para o mercado à vista, ou seja, não é possível usar a conta margem
para comprar opções.
Traduzindo em miúdos, a finalidade da conta margem, assim como da
alavancagem, é operar com dinheiro que o indivíduo não possui. Algo que
investidores e operadores sensatos não devem fazer.
Operar com dinheiro próprio já exerce certa pressão, mas operar com
dinheiro extra acentuaria a pressão ainda mais nas suas decisões. Nesse
aspecto a conta margem e alavancagem tem uma diferença marcante: o
timing dos resultados. O lucro que um operador poderia ter em 30 dias
usando a conta margem, com a alavancagem poderia ter em um dia, horas ou
minutos. O mesmo vale para os prejuízos.

Para pensar...
Você investe por outras pessoas? Faz uso de conta margem ou dinheiro de
terceiros para alavancar suas operações? Acredita que sua estratégia é
inovadora? Não existe nada de novo debaixo do sol.
Invista ou opere somente com seu capital. Não envolva outras pessoas além
de sua companheira em seus investimentos. Não comprometa sua capacidade
de decisão, nem aumente sobre si o risco inerente à atividade de investir em
renda variável. Caso não possa ou não tenha o suficiente, não invista. Essa
conversa de “perder o último trem” é para principiantes.
*****
16. Cuidado com conselhos de quem se deu bem

“Aproveitar um bom conselho requer mais sabedoria do que dá-lo. ” – John


Collins

Nos fóruns financeiros é comum assistirmos o endeusamento de investidores


renomados. Nada contra Warren Buffett, George Soros, Peter Lynch, Lírio
Parisotto, Luiz Barsi ou Victor Adler. Essa não é a questão. Há dois pontos
importantes ignorados sobre esses homens.
O primeiro é que não os conhecemos de fato. A saga de vários investidores
bem-sucedidos é cercada de muito sensacionalismo pela mídia e literatura. A
maior parte dos livros publicados os enaltece ou engrandece seus feitos não
por eles mesmos, mas para alavancar as vendas nas livrarias. Se analisarmos
a vida desses homens cuidadosamente descobriremos que num dado
momento a oportunidade sorriu para eles (nada errado com isso, a
oportunidade pode sorrir para todos). O fato é que há muitos ingênuos que se
enganam crendo que poderão repetir seus passos, quando na verdade existem
mais fatores para o sucesso que simplesmente aplicar seus ensinamentos.
Veja o caso do Lírio Parisotto. Há muita especulação e informações
desencontradas sobre sua riqueza. É fácil encontrar matérias em jornais e
revistas sobre sua fortuna bilionária ganha na bolsa, quando não é bem essa a
verdade. É um clássico exemplo de oportunismo, no bom sentido
obviamente. Parisotto é um médico gaúcho que soube identificar nos anos
1980 o potencial do mercado audiovisual, fundando a companhia Videolar, a
verdadeira fonte de seu patrimônio.
No entanto, é possível encontrar blogueiros e jornalistas que insistem em
descrever Parisotto como um operador que ganhou bilhões na bolsa de
valores. Por alguma razão (que acredito ser apenas midiática) os meios de
comunicação persistem em qualificá-lo apenas por seus investimentos em
ações, descartando ou minimizando o papel das empresas em sua riqueza. A
verdade é que Parisotto é um empresário bem-sucedido e que aplica bem seu
patrimônio em ações. Em suas palestras realmente ministra bons conselhos
aos investidores, mas galgar seus passos é impossível. Sua história é ímpar.
Outro pronto é que aquilo que deu certo para os investidores de sucesso não
necessariamente funcionará para nós. Ao analisarmos suas trajetórias
observamos que elaboraram e aperfeiçoaram seus métodos ao longo de
muitos anos. Esta é a chave para o sucesso: ELES elaboraram, ELES
aperfeiçoaram. Eles não copiaram o sucesso de outros, não seguiram as
mesmas estratégias, não fizeram as mesmas aplicações, mas foram autênticos,
cada um à sua maneira.
A história dos homens e mulheres que venceram na bolsa deve ser encarada
como mais uma fonte de inspiração e não como modelos que devem ser
seguidos. Mesmo porque sabemos somente o que está divulgado em livros e
artigos, não conhecemos exatamente seus segredos ou suas estratégias na
íntegra. Além disso, não podemos ser infantis ao ponto de acreditar
cegamente em suas recomendações ou análise.
Em 2012 Luiz Barsi (esse sim enriqueceu com ações) sugeriu, em uma
entrevista à revista Exame, a compra de ações da Unipar (UNIP6) por
considerá-la barata. A recomendação surpreendeu muitos na época pela
empresa não apresentar bons números. Será que o fato de Barsi ser um dos
maiores acionistas dessa empresa tornou-o livre de parcialidade? Duvido,
mas não acredito que tenha sido intencional. Ao estar comprado em uma
empresa é praticamente contra a natureza de um investidor recomendar o
contrário.
Por melhor que sejam as recomendações ou conselhos desses expoentes da
bolsa, o investidor deve aceitar o fato de que os mercados são imprevisíveis e
não delegar seu dinheiro a outras pessoas.
Disso sabem os portugueses. Ulisses Pereira não é um nome conhecido pelos
brasileiros, mas famoso em Portugal por ter derruído 90% do dinheiro de seus
clientes. Economista e jogador de pôquer se especializou em análise técnica
quando a Internet começou a difundir-se. Alcançando o sucesso na bolsa nos
anos 2000, Ulisses tornou-se o típico guru financeiro: extremamente
autoconfiante, orgulhoso, polêmico, mas respeitado pela imprensa e
investidores pelos seus resultados.
Em meio à crise dos subprimes em 2008 profetizou a queda dos Índices
norte-americanos. Centenas de investidores portugueses entregaram suas
carteiras ao guru para salvá-las da depressão vindoura. A profecia não se
cumpriu. Os Índices se recuperaram e suas operações de alto risco amargaram
grandes prejuízos, arrastando não apenas aqueles que entregaram seu
dinheiro a Ulisses, mas também seus seguidores, pois suas operações eram
transparentes e muitos o imitavam.
Qual o crime de Ulisses? Pasmem, nenhum. Todos estavam (ou deveriam
estar) cientes dos vários riscos inerentes ao mercado de ações. Ao aplicar
seus recursos em fundo de investimento de qualquer banco, o indivíduo está
aceitando todos os riscos de modo implícito, não podendo alegar
posteriormente que os desconhecia. Aqueles que seguiram Ulisses fizeram-no
por livre e espontânea vontade. Nada pode ser imputado a ele, além do
espantoso fascínio que exerceu sobre centenas de investidores portugueses.

Para pensar...
Você ouve os conselhos de outros investidores? Segue alguma analista nas
redes sociais? Você deixa de comprar ou vender uma ação dependendo da
opinião de algum milionário? Acha que sua opinião não é suficiente?
Sempre suspeite de pessoas que apresentam números exuberantes de suas
atuações no mercado financeiro ou que ganharam muito em pouco tempo.
Desconfie de previsões infundadas sobre empresas, mesmo que essas
previsões partam de pessoas com credibilidade. Intuir que ações cairão ou
subirão é um verdadeiro achismo que não merece confiança.
Existem muitas formas de lograr o sucesso na bolsa de valores, mas a melhor
forma é a sua. Estude, tome suas próprias decisões. Não se guie pela opinião
dos outros, por mais sábios que aparentam ser. O que deu certo para eles,
poderá não dar para você. Caminhe com suas próprias pernas, mesmo que
erre, você saberá por que errou e não terá o sentimento de que alguém o fez
tropeçar.

*****
17. Converse com sua companheira

“Se queremos ser estimados, devemos viver com pessoas estimadas. ” – Jean
de La Bruyère

Extraí muitas lições das minhas escolhas na bolsa de valores, mas a mais
importante lição foi não deixar de compartilhar com minha companheira as
decisões de investimento. Eu e minha esposa sempre experimentamos
cumplicidade em todos os aspectos de nosso relacionamento, mas
curiosamente essa cumplicidade não se estendia às finanças.
Não é um fato isolado o que se passava em nosso casamento, pelo contrário,
é uma característica de boa parte dos casais brasileiros. Particularmente
atribuo isso a dois fatores, um sexista e outro cultural. O homem num
contexto machista é convencido a não compartilhar as decisões financeiras
com uma mulher, no caso sua companheira. Em segundo lugar, nossa
deficitária educação financeira não prepara homens e mulheres para lidar com
dinheiro de uma forma clara, objetiva e racional.
Não é incomum a decisão da compra de um automóvel ser dirigida somente
pelo homem. É como se para este tipo de assunto ele tivesse a prerrogativa de
decidir sozinho, quando na verdade ambos, marido e mulher, deveriam estar
de comum acordo, pois é uma decisão que diz respeito ao casal e não
somente a uma parte da relação, independente do automóvel ser usado
somente pelo homem ou pela mulher.
Não se trata de submissão masculina. Ouvir a opinião da sua companheira
nas decisões financeiras é uma expressão de compromisso e respeito. Assim
como a mulher não pode omitir sua opinião, não cabe ao homem decidir
como aplicar o dinheiro da família de forma unilateral.
― Minha esposa não conhece nada sobre investimentos. Como proceder? ―
você me pergunta. Eu respondo: ― Divida seu ponto de vista com ela. Seja
didático, elabore uma apresentação sobre os pontos fortes e fracos da sua
estratégia de investimento. Exponha a ela os detalhes da empresa que você
pretende investir. Seja imparcial, pense que defenderá sua tese de
investimento para sua “sócia”. É um ótimo exercício. Quem sabe você
mesmo não muda de ideia ao expor seu ponto de vista? Estereótipos a parte,
mulheres têm ótimas perspectivas de empresas de consumo, por exemplo.

Certa vez estávamos comprados em uma empresa de varejo têxtil que julgava
ser excelente, mas ao conversar com minha esposa sobre nossa carteira ela
disse que estava percebendo queda de público e qualidade dos produtos.
Genial! Eu, preocupado com balanços e resultados trimestrais, nem me dera
conta que a empresa estava passando por esse momento. Ela, com a visão
atenta de uma consumidora perspicaz, foi capaz de fazer uma leitura da
empresa que não estava estampada em nenhuma apresentação para
investidores. Mediante essa valiosa informação, decidimos que o melhor era
zerar nossa posição e partir para uma empresa com melhores perspectivas.
Semanas depois assistimos a companhia perder continuamente valor de
mercado, enquanto os analistas passaram a revisar suas recomendações para
venda.
Esse episódio exemplifica como subestimamos nossas companheiras.
Incorporar a visão da minha esposa, fazendo dela coparticipante nas decisões
de investimento transformou a forma como lidava com ações. Eu ignorava ou
não dava o devido valor ao caráter complementar da nossa relação entre
marido e mulher. Minhas decisões de investimento, unilaterais, careciam do
apoio e da opinião de minha esposa, pois havia desprezado seu perfil em
nosso relacionamento no tocante às finanças. Conhecia a análise
fundamentalista bem, sabia discernir entre boas e más empresas, mas por
estar emocionalmente envolvido não conseguia decidir. O simples fato de
envolver minha esposa e relatar os motivos das minhas escolhas ampliaram
meus horizontes e trouxe a razão à tona. Perdi muito na bolsa por acreditar
que as cotações de minhas empresas voltariam aos altos patamares, mesmo
vendo seus fundamentos se deteriorarem, por não enxergar o óbvio: que
havia passado da hora de vendê-las. Nesse sentido minha esposa
desempenhou um papel fundamental ao dizer o que meu ego não queria
ouvir, isto é, que eu havia errado e precisava mudar de direção urgentemente.
Hoje não invisto sozinho. Tenho uma ajudadora com quem divido minhas
estratégias. Não carrego a responsabilidade integral de gerir nosso
patrimônio. Revisamos semestralmente nossos investimentos e somos
cúmplices nos acertos e nos erros. Ela assumiu o papel que negara muitos
anos e eu anulei meu egoísmo e orgulho que me impedia de dividir com ela a
tomada de decisão. Ela passou a estudar e analisar as empresas que mantemos
posição e eu a ensinei os princípios de análise de empresas. Dividimos a
responsabilidade para renovarmos nossa comunhão e acertarmos o passo
nessa área tão importante na vida de um casal.

Para pensar...
Para os casados e noivos. Vocês dialogam sobre suas finanças? Seu cônjuge
sabe onde estão aplicadas as economias domésticas? Você mantém em
segredo algo de seu cônjuge? Invista em conjunto com sua esposa ou marido,
isso é essencial para o sucesso da sua estratégia, seja como investidor ou
como operador. Não oculte nada, afinal o patrimônio pertence ao casal, e
você precisará de apoio nos momentos difíceis.

*****
18. Nossa estratégia de investimento

“É sempre prudente olhar em frente, mas é difícil olhar para mais longe do
que se pode ver. ” – Winston Churchill

Depois de minha malfadada experiência como investidor, era necessário


definir verdadeiramente uma estratégia de investimento. Esta deveria ser
moderada para não propiciar os erros cometidos no passado e, ao mesmo
tempo, ousada para lograr bons resultados.
Fosse qual fosse a estratégia a ser definida, três premissas deveriam ser
respeitadas: ser definida pelo casal, ser simples o suficiente para qualquer um
entender, e ser confortável para ambos.
Um erro histórico que carecia ser retratado era quanto à participação da
minha companheira em nossas decisões sobre investimentos. Como já
discutido neste livro, era essencial que ela expressasse sua opinião, pois não
se tratava apenas do meu futuro. Nesse sentido, eu e minha esposa estávamos
convictos que a Poupança e somente as opções de investimento em renda fixa
não atenderiam nossas aspirações como investidores. Para nós o mercado de
ações continuava a mostrar-se uma ótima opção, sobre tudo no longo prazo.
Nem sempre o casal compartilha o mesmo conhecimento financeiro, e não foi
diferente em nosso caso. Nessa situação era imprescindível a adoção de uma
estratégia na qual ambos discutissem em pé de igualdade. Da Matemática,
poderíamos fazer uso somente das operações fundamentais, nada mais. Isso
foi ótimo por que tornou a análise e a comparação das empresas muito mais
clara, rápida e simples. Minha experiência com análise de empresas mostrou
que quanto mais complexo for o método de escolha, mais propenso ao erro
estará. Oportunidades ou tendências devem ser claras e identificadas,
respectivamente, pela leitura dos resultados ou visualmente nos gráficos, de
acordo com seu perfil.
No entanto, de nada adiantaria elaborarmos uma estratégia juntos e simples se
não nos sentíssemos acolhidos pela mesma. A escolha dos papéis, o
balanceamento do capital, o manejo de risco, a periodicidade para reavaliação
do portfólio, dentre outros fatores, em tudo precisávamos estar confortáveis.
Afinal seriam decisões das quais não nos preocuparíamos por meses.

Seja qual for sua estratégia sugiro fortemente que respeite as três premissas
descritas há pouco. Claro, os solteiros podem desconsiderar a questão
conjugal. Entretanto recomendo que os noivos façam o exercício completo,
pois quando casados precisarão tomar decisões em conjunto, logo é bom
começarem desde já.
Independente de outros fatores é fundamental que sua forma de investir
transmita segurança, confiança e tranquilidade. Se este tripé não estiver
presente no seu método de investimento, a primeira ventania o soprará para
fora da bolsa.
Para ilustrar uma estratégia de investimento, descreverei o modus operandi
que desenvolvemos ao longo do tempo. São quatro pontos que, se
obedecidos, ajudarão muito o casal a crescer na vida conjugal e financeira.
Quanto ao método, cada casal ou indivíduo deverá adaptá-lo ao seu perfil de
acordo com seus objetivos e necessidade, sem esquivar dos Quatro Pontos a
seguir:
Ponto Um: Agenda
Da mesma forma que as empresas definem um calendário anual para as
reuniões do Conselho de Administração, nas quais serão tomadas as decisões
estratégicas para a companhia, o casal deve reunir-se para avaliar seus
investimentos e os próximos passos. A existência de uma agenda é
importante para que o casal não banalize seus investimentos com discussões
rotineiras. A fixação desses marcos, sejam semestrais ou anuais, imprime um
caráter mais solene à discussão, afinal é o futuro do casal que será tratado.

Caso o casal julgue que seis meses é muito tempo para reavaliar seus
investimentos, podem passar a se reunirem de três em três meses. Mas não
recomendo menos que isso. Quanto maior a frequência das reuniões, maior a
exposição do casal aos devaneios do mercado. Isso só levaria a mais
ansiedade e poderia comprometer a capacidade de análise. Em suma, a
ocorrência desses encontros está associada ao perfil psicológico do casal.
Pessoas mais sossegadas preferirão discutir seus investimentos uma vez por
ano, enquanto que os mais inquietos duas ou mais vezes.
A vantagem dessa agenda é a tranquilidade de não sermos absorvidos pelo
mercado e, consequentemente, não ficamos ansiosos com os ruídos do dia a
dia.
Hoje, nossa agenda é semestral. Mas na proximidade de novas políticas
econômicas pós-eleições presidenciais, ou outros eventos que possam
ameaçar o fundamento de nossos investimentos, adotamos uma postura mais
proativa realizando encontros trimestrais. Uma vez passado o cenário adverso
voltamos à periodicidade semestral.
Ponto Dois: Pauta
Do mesmo modo que nos preparamos para uma reunião, treinamento ou
apresentação no trabalho, o casal deve preparar-se para o encontro sobre as
finanças. De nada adiantaria uma agenda sem uma pauta a ser discutida. Uma
pauta nada mais é que uma relação de assuntos que um ou outro, ou ambos,
desejarão conversar a respeito.
O quanto conseguiram poupar no período, a avaliação dos resultados, a
inclusão ou exclusão de papéis da carteira, uma mudança no critério de
seleção de ações, a alteração da agenda, a decisão sobre previdência privada,
entre outros, são exemplos de assuntos que podem ser abordados.
Observe que a pauta pressupõe preparação. É importante que cada um estude,
prepare e busque um posicionamento sobre o assunto levantado. Se alguém
deseja incluir uma nova ação na carteira, então este alguém argumentará as
razões dessa proposta, inclusive expondo os prós e contras da mesma.
Eu e minha esposa procuramos fechar a pauta três semanas antes de cada
reunião. Assim temos tempo para estudar cada assunto, para que ambos
possamos contribuir ativamente na discussão. Para facilitar, pense na seguinte
analogia: o matrimônio sendo um fundo de investimento com dois cotistas,
você e seu cônjuge, e cada qual deve convencer o outro sobre quais as
melhores aplicações. Isso só será possível se cada um souber bem o que está
falando.
Ponto Três: Critério
Este é um assunto sobre o qual o casal precisa debruçar-se um pouco mais. O
consenso sobre quais ações deverão integrar sua carteira é um dos passos
mais desafiadores que o casal precisará dar. Mas é necessário. Existem
muitos meios para avaliar uma ação, mas seja qual for o critério adotado,
ambos deverão compreendê-lo perfeitamente.
Note que o propósito desse livro não é, nem de longe, abordar análise de
empresas, pois é um tema extenso. Aconselho ao casal estudarem juntos os
conceitos mais importantes, assim como os principais múltiplos da análise
fundamentalista. Não há como fugir desses conceitos, toda empresa faz uso
dos mesmos em seus releases de resultados e apresentações institucionais. O
casal precisará ter um pouco de familiaridade com esses termos. Mas não se
preocupe, a Internet é um campo permeado de bons materiais: há ebooks,
artigos, vídeos, sites, etc. Comece com o YouTube, há muitos vídeos
didáticos. Posteriormente, se desejar conhecer mais profundamente, adquira
um bom livro. Não tenha pressa, não se precipite, o melhor investimento que
pode fazer nessa fase é aprender. Sem tempo não é possível assimilar bem
esses conhecimentos.
Dentro da minha estratégia de investimento em ações, considero elegíveis as
empresas com alta previsibilidade de receita, boa margem líquida (>10%) e
pagadora de dividendos (>6%). Sendo este último critério incluído a pedido
de minha esposa. São preferências conservadoras, que excluem muitas boas
empresas, mas que nos deixam confortáveis em ir adiante.
Compreenda que não estou sugerindo utilizar esses critérios para escolher
suas ações. Esses critérios nos atendem, mas não a todos, certamente. Cabe a
cada um determinar seus parâmetros mais adequados. Há quem prefira alto
Retorno sobre o Patrimônio (ROE, do inglês Return on Equity) aliado a um
baixo Preço/Lucro (P/L, preço da ação dividido pelo lucro por ação). Para
alguns a liquidez do papel é pré-requisito, mas eu e minha esposa lidamos
bem com papéis com menos liquidez. Outros não aceitam ações de empresas
muito alavancadas (endividadas), mas isso não chega a ser um problema no
nosso caso porque é comum empresas com alta previsibilidade de receita ter
dívidas maiores, logo é algo que nós temos que aceitar.

Existem ainda aqueles que optam por uma análise de alto nível, considerando
aspectos de macroeconomia e as perspectivas futuras de uma empresa ou
setor. Exemplo, em um cenário com dólar em alta, a escolha de empresas
exportadoras pode ser uma boa estratégia, pois se beneficiarão no curto prazo
dessa tendência de alta da moeda estrangeira.
Contudo, é comum utilizamos outras características como critério para
desempate. Privilegiamos em nossa carteira empresas subprecificadas, para
tanto levamos em consideração o Valor Patrimonial por Ação (VPA) ou
mesmo alguma informação presente em um comunicado oficial que nos leve
a crer, por exemplo, que haverá algum evento não recorrente. Claro, este caso
requer mais estudo, talvez uma simples leitura não seja suficiente.
Os critérios são muitos e variados. Não há uma fórmula mágica para seleção
das empresas mais promissoras dentro de um, cinco ou dez anos. Mas com
estudo e dedicação o casal será capaz de desenvolver as habilidades
necessárias aos bons investidores.
A vantagem de critérios bem definidos é que ao mesmo tempo em que são
filtros para a escolha das empresas, são gatilhos para rejeição das mesmas, ou
seja, são critérios de entrada e saída. Portanto, o tempo de permanência em
uma ação pode ser indeterminado. Enquanto o papel continuar atendendo os
critérios de seleção, o mesmo permanecerá na carteira. Em nosso caso, se no
encontro verificarmos que algum papel deixou de atender um critério, o
mesmo é colocado em “quarentena” e não recebe novos aportes até a próxima
reunião. Se nesta verificarmos novamente que o papel continua a não atender
todos os critérios, então a permanência na empresa chega ao fim,
independente lucro ou prejuízo.
Daí a seriedade do investidor respeitar os critérios definidos. É comum o
investidor acatar as regras de entrada, mas vacilar ao sair. Este é mais um
sublime momento no qual o casal tem vantagem sobre o investidor
individual. Pois se um vacilar, haverá sempre outro para avigorá-lo.
Ponto Quatro: Balanceamento da carteira
Nem só em renda variável serão os investimentos. Há inúmeras razões para a
existência de um equilíbrio entre os investimentos em renda fixa e variável.
Existem diversos estudos sobre alocação de capital que demonstram de forma
comparativa o desempenho de várias composições de carteiras. De modo
geral as carteiras compostas por investimentos em renda fixa e variável tem
desempenho melhor no longo prazo do que carteiras formadas por apenas
renda fixa ou renda variável. Noutras palavras, existe a possibilidade de uma
carteira composta somente por ações ter desempenho muito inferior a uma
formada por ações e aplicações em renda fixa.
A explicação para isso é simples: o preço das ações é variável. Ao alocar todo
seu capital em ações, o mesmo estará sujeito às oscilações dos preços ao
longo do tempo, diferente das aplicações em renda fixa. Ao distribuir em
partes iguais sua capital em ações e renda fixa, combinamos as características
de ambas as modalidades de investimento, tirando proveito disso.
Significa que nos momentos em que as ações caírem, podemos restaurar o
equilíbrio retirando uma parte da renda fixa para adquirir mais ações. De
forma análoga, nos períodos de euforia da bolsa, quando a parcela em ações
subir consideravelmente em relação ao montante em renda fixa, poderemos
vender ações e aplicar em renda fixa com a finalidade de reestabelecer o
equilíbrio.
Esse movimento de manutenção do equilíbrio entre renda variável e fixa é
denominado balanceamento.
Existem pessoas que acrescentam a modalidade moeda à carteira de
investimento, ou seja, dólares, euros, ouro, prata, e assim por diante. Eu e
minha esposa optamos por não alocar capital nesse tipo de ativo. Mesmo o
dólar e o ouro sendo considerados refúgios em tempos de crise, nós não os
classificamos como investimentos no sentido estrito da palavra por não serem
remunerados. 100 g de ouro hoje continuarão a ser exatamente 100g de ouro
daqui dez anos, diferente das empresas que além de crescerem, distribuem
proventos, provocando um efeito cascata no capital do investidor.
Hoje em dia procuramos dividir nosso capital em 50 - 50, metade em
portfólio de ações e metade em aplicações de renda fixa. Há, pelo menos,
dois benefícios dessa alocação. O primeiro é sermos favorecidos tanto num
cenário de aumento da taxa básica de juros, quanto em outro com a Bolsa em
alta. O segundo, mitigamos consideravelmente o risco e volatilidade da
carteira.
Quanto ao balanceamento, este pode ser realizado basicamente de duas
formas. A primeira, nas ocasiões da agenda, quando o casal avaliará sua
posição e, caso necessário, redistribuirá o capital de modo a atingir o
equilíbrio de novo. A segunda, que não exclui a primeira, consiste em efetuar
os aportes, normalmente mensais, na direção do investimento mais defasado.
Por exemplo, suponha que a composição carteira esteja 43% e 57% em ações
e renda fixa, respectivamente. Logo, deverá aportar dinheiro novo no
portfólio de ações. Neste caso compre somente papéis da empresa que está
mais defasada em relação ao portfólio. Evite realizar mais de uma ou duas
operações no mês, caso contrário poderá surpreender-se no final do ano com
a quantia gasta com corretagem e emolumentos.
Em regra, só os aportes são suficientes para manter a carteira equilibrada.
Evidente, tudo dependerá do valor da carteira e dos aportes, e do quão
eufórico ou depressivo o mercado estará. Também não é necessário
preocupar-se em ter exatamente a mesma quantia em ações e renda fixa, a
alocação é uma meta desejável, pois sempre haverá uma pequena distância
entre os ativos.

A mensagem do balanceamento é que não se deve concentrar seus


investimentos, sendo imperativo diversificar, tanto em relação à renda fixa e
variável quanto às ações do portfólio. Ao estar em alta a Bolsa muitos
poderão ficar tentados a transferir o capital para as ações. Não faça isso,
momentos de euforia vão e vem, mas seu patrimônio deve crescer
consistentemente. Um, três ou seis meses de euforia são insignificantes
quanto comparados a 10, 20 ou 30 anos de acumulação.
Resumo
Tenha uma agenda com sua companheira. Momentos nos quais encararão
com seriedade os assuntos propostos em uma pauta, previamente esmiuçados
por ambos. Defina critérios para suas aplicações e os siga sem desviar-se,
nem para a direita nem para a esquerda. E por fim, dose o risco balanceando e
diversificando seus investimentos.

Para pensar...
Sua companheira ou companheiro sabe onde são aplicados os rendimentos da
família? Vocês falam sobre isso? Compartilham os mesmos objetivos? Não
transforme os investimentos em um fardo para sua vida.
Aplicar os rendimentos de sua família de qualquer forma não garantirá um
futuro melhor. Envolva sua família e esposa nas decisões de investimento, do
mesmo modo que os envolveria na compra de um imóvel novo. Ao ser
solitário nos investimentos você está trazendo para si uma responsabilidade
que não é apenas sua. Aprenda a dividir para viver melhor e mais feliz.

*****
19. Você é responsável por seus atos

“O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você
mesmo. ” – Nietzsche

Temos uma capacidade incrível de transferir a responsabilidade de nossas


ações para outras pessoas, sobretudo para esposa, mas também filhos,
parentes, amigos, colegas de trabalho, economia, dólar, e assim por diante.
Muitas vezes quando errados somos impelidos a buscar um culpado para, no
mínimo, dividir as consequências do erro. Chegamos a distorcer as palavras
de uma pessoa a fim de obtermos absolvição da consciência, enganando a nós
mesmos que fomos induzidos ao erro, como se não fossemos capazes de
errar. Claro, o mesmo não podia ser diferente no mundo dos investimentos.
As más escolhas dos investimentos nos ensinam muito mais que os acertos,
entretanto deixam marcas, é doloroso e, para muitos, vergonhoso. É mais
reconfortante pensarmos que nossas decisões teriam sido perfeitas a não ser
por uma pessoa que surgiu e soprou, soprou, bufou, bufou, e o investimento
foi pelos ares.
― Se não fosse o intrometido do meu gerente indicar Petrobras, eu estaria
bem! ― inicia o discurso de Cristiano sobre investimentos.
Cristiano trabalhou comigo durante alguns bons anos, desde os tempos de
programador. Sujeito tranquilo, esguio e comprometido com suas atividades.
Entretanto desagradava muitos por sua enorme dificuldade em assumir erros.
Certa vez recebemos por muitas horas-extras em virtude da implantação de
um projeto, e decidimos que o melhor seria fazer alguma aplicação com esse
excedente. Na época namorava o mercado de ações, mas julgava não ter
capital para aplicar na bolsa, ou seja, realmente desconhecia o significado de
aplicar em ações. Então, recorremos ao que acreditávamos ser a melhor
opção: os fundos de ações.
Cristiano e eu, em nossa limitada visão sobre investimentos, havíamos
escolhido aplicar em um fundo de ações que concentrava papéis de grandes
bancos, afinal as perspectivas do setor eram promissoras para os próximos
anos. É neste momento que surge O Gerente. Inseguro de nossa decisão e
receoso de estarmos errados, Cristiano procurou o gerente de seu banco para
tomar conselhos.
― É impossível perder com Petrobras! ― exclamou o convicto gerente, que
também o convenceu “investir” em um Título de Capitalização (produto
regulado como seguro que é vendido por bancos como jogo, e não é
investimento).
Trilhamos caminhos diferentes. Cristiano comprou cotas de um fundo de
ações da Petrobras, e eu, o fundo de bancos. Nesta altura você deve estar
pensando que eu me dei bem e Cristiano não, não é verdade? Errado. Vimos
nossa aplicação minguar nos meses seguintes, mas com uma grande
diferença. Eu assumia que era responsável pela compra daquelas cotas,
enquanto Cristiano não. Este, inconformado, atribuiu toda “culpa” a seu
gerente que o aconselhou a comprar Petrobras. Não aceitou que fora ele, e
não seu gerente, que tomou a decisão consciente de acessar o Internet
Banking, clicar no menu [Investimentos], selecionar uma opção, definir os
parâmetros da aplicação e informar sua senha eletrônica para confirmar a
operação.
O investimento de Cristiano não foi bem-sucedido não devido ao seu gerente,
mas única e exclusivamente à sua decisão. Quando estamos em vista de fazer
um investimento podemos ouvir a opinião de gurus, especialistas, jornais,
amigos e familiares, mas o veredicto final será sempre do investidor. Não
atribua seu fracasso a ninguém além de você mesmo. Aceite a experiência e
aprenda com seu erro em vez de murmurar e remoer o passado. Desta forma
você crescerá como investidor, e cada decisão será mais madura e sensata.
Comece aos poucos
Um erro frequente dos iniciantes é ir com muita “sede ao pote”. Existem
vários argumentos para frear o tamanho das operações de um novato na
bolsa, mas podemos citar dois fortes: o fator psicológico e o controle de risco.
Não há leitura ou estudo suficiente que prepare o novo investidor para as
trovoadas do mercado de ações. Você não tem ideia de como minhas pernas
tremeram e minhas mãos suaram nas semanas que se seguiram à minha
primeira compra.

No decorrer de um ano e meio, ao decidir que entraria na bolsa, eu me


debrucei sobre os conceitos do mercado de capitais, e das escolas de análise
técnica e fundamentalista. Dediquei centenas de horas de estudo ao assunto
(minha esposa é testemunha dos finais de semanas em frente ao computador).
Nada disso foi suficiente.
Cresci em conhecimento teórico e prático, mas não trabalhei minha psique.
Puxa vida, como as primeiras oscilações foram atordoantes. Foi
impressionante a sensação de perda nas primeiras quedas, e quedas
relativamente pequenas. Conhecia as regras, e mesmo assim me sentia muito
incomodado. Há algumas formas de aliviar a pressão sobre os iniciantes, mas
a melhor é começar a operar com pouco dinheiro, e isso, dentre outras coisas,
é psicológico. Uma variação de R$ 50 é muito diferente de R$ 5 mil.
Percentualmente representam 5% de R$ 1 mil e R$ 100 mil, respectivamente,
porém em termos absolutos pressionam o investidor ou operador de formas
bem distintas. Esta pressão interfere na capacidade de julgamento. Decisões
como o melhor momento de comprar ou vender são influenciadas pelo estado
mental do indivíduo.
Lembra-se do Mateus, nosso jovem gerente de projetos? Como não bastasse
investir capital comprometido no médio prazo, investiu todo seu capital de
uma vez, ampliando sua perda. Ao aumentar gradativamente sua exposição
ao mercado de ações você se sentirá mais seguro e minimizará possíveis
perdas nos reveses da economia. Mateus perdeu algo na casa dos R$ 100 mil
quando realizou o prejuízo. A história poderia ter sido diferente se ao invés
de aplicar R$ 200 mil em uma única tacada, tivesse iniciado com R$ 20 mil e
mês a mês revisado seu investimento.

Portanto, inicie suas operações com uma fração do seu capital, em especial os
operadores. No caso destes, aumente moderadamente a grandeza de suas
operações à medida que os resultados se provarem confiáveis. No primeiro
mês envie ordens de um lote, no segundo mês de dois lotes, no terceiro mês
de três lotes, e assim sucessivamente. Somente quando sentir-se seguro envie
ordens maiores.
Um raciocínio análogo aplica-se ao investidor, iniciando com pouco capital e
realizando aportes mensais. Não caia na conversa de analistas e gurus que o
“momento de comprar é agora” ou “se não comprar vai perder a oportunidade
da década”. Sempre há e sempre haverá oportunidade. Não queira ganhar
muito rapidamente, antes de ganhar é preciso não perder. Primeiro, prepare
sua psique. É inevitável, em algum momento você estará perdendo, isto é,
com menos que aplicou. Se você não se sentir confortável com uma oscilação
negativa pequena, em termos absolutos, que dirá operando capital maior.
Perdi dinheiro por não querer ficar para trás. Literalmente apostei todas
minhas fichas e paguei um alto preço pela minha precipitação. Não obstante a
perda financeira foi preciso muito trabalho e tempo para cicatrizar minha
certeza de que o mercado de ações era o melhor caminho.
Pague primeiro as dívidas
No começo do “boom” imobiliário em Belo Horizonte, eu e minha esposa
realizamos, de forma despretensiosa, um bom investimento. Com uma
pequena entrada, compramos um singelo apartamento de dois quartos na
planta, mas bem localizado. A princípio nossa intenção era morar no imóvel,
mas meses depois mudamos para o Rio de Janeiro e decidimos desfazer-nos
do imóvel. Felizmente não apuramos nenhum prejuízo, ao contrário.

A despeito do bom negócio, investir em imóveis é caracterizado pela baixa


liquidez, sobretudo quando comparado ao investimento em ações. Sentimos
na pele essa característica. A venda do apartamento demorou mais que
imaginávamos e, por não termos reservas à época, fomos obrigados a contrair
um empréstimo.
Ao mesmo tempo, o mercado atravessava um ótimo momento, doze meses de
altas consecutivas têm seu significado. Jornais e periódicos frequentemente
noticiavam a ascensão da bolsa e sua grande rentabilidade comparada à
Poupança, além das perspectivas econômicas otimistas para os próximos
anos. Um horizonte promissor para o investidor.
Com o desfecho da venda do apartamento, insisti que investíssemos em
ações, pois as condições eram favoráveis em minha opinião. Entretanto nos
deparamos com um impasse: quitar o empréstimo ou comprar ações?
Havíamos incorporado o empréstimo em nosso orçamento como uma despesa
fixa, como uma conta de energia elétrica, por exemplo. Desse modo não
“sentíamos” o desembolso para honrar esse compromisso mensal. Pensamos
em usar parte para quitar o empréstimo. Teríamos um bom desconto ao fazer
isso, por outro lado tínhamos a sensação que o custo de oportunidade14 seria
debitado de nosso patrimônio caso o fizéssemos.
Resolvermos, portanto, especular no mercado de ações e continuar pagando o
empréstimo normalmente. Por um tempo nos pareceu a decisão certa. A
aplicação prosperou e alcançamos um “lucro” satisfatório em dois meses. Era
meu primeiro contato com o mercado de ações e o que considerei lucro nada
mais era que uma oscilação positiva nos valores das ações compradas. Não
sabia que apenas ao vender poderia considerar lucro ou prejuízo. Os dias se
passaram e com eles as oscilações vermelhas vieram. O capital, que chegara a
valorizar 10%, cairá 30% em algumas semanas. Impressionados e surpresos
nos mantivemos comprados na esperança de que tudo não passasse de um
ligeiro susto. Não passou. Nos demos conta tarde demais que erramos ao
colocar tudo em ações e que deveríamos ter quitado o empréstimo quando
tivemos chance.
Não realizamos o prejuízo naquele momento (só mais tarde teríamos
maturidade para mudar de direção) e felizmente não tínhamos planos para o
dinheiro no curto prazo. Decidimos associar-nos às empresas, forçadamente.
O débito do empréstimo deixava nossas bocas amargas todos os meses. Ver
no extrato bancário a mordida em nossos rendimentos nos lembrava do
quanto havíamos sido ingênuos.

Para pensar...
Suas opções de investimento são realmente suas ou você tem confiado a
decisão a outras pessoas? Você se deixa influenciar facilmente? Seja firme, o
responsável por seu sucesso ou fracasso é você mesmo. Não delegue esse
privilégio a ninguém. Não se esconda atrás de seu planejador financeiro, de
seu gerente, de seus amigos ou parentes. Se lhe falta firmeza para assumir
seus atos, ainda não está preparado para bolsa de valores.
Está prestes a receber uma grana e pretende aplicar em uma empresa? Não há
justificativas para um investidor de longo prazo, ou mesmo um operador,
entrar na bolsa de valores com todo seu capital de uma vez. Defina um plano
de entrada e siga-o. Mantenha o foco e realize aportes mensais, ignorando as
oscilações do dia a dia. Siga sua estratégia fielmente.
Seja renda fixa ou variável, investir significa colocar o dinheiro a seu favor.
Pressupõe que você parou de trabalhar para seu capital, ou seja, que não está
mais pagando juros nenhum. Regularizar sua vida financeira é o primeiro
passo rumo aos investimentos. É injustificável separar uma importância em
dinheiro visando ganhos futuros, quando existem assuntos a serem resolvidos
no presente. Salde empréstimos e financiamentos, e sinta-se livre para decidir
sobre como aplicar seus rendimentos.
Em minha opinião, a única exceção à regra é o financiamento da casa própria.
Desde que a prestação se encaixe bem no orçamento familiar, não vejo
problema em conciliar o pagamento do imóvel e os aportes mensais em
ações. Claro, havendo a oportunidade de quitá-lo, ótimo, afinal normalmente
não é uma soma pequena e é um compromisso de longo prazo.
É sempre bom frisar: o propósito do mercado de ações para o pequeno
investidor é ser um catalisador para o crescimento de seu patrimônio, mas
não pagar juros é evitar a erosão de seu patrimônio.

*****
20. Cuidado com o autoengano

“Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos


apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as
nossas portas. ” – António Lobo Antunes

Às sextas-feiras saíamos da rotina. Nada de almoçar nos restaurantes de


sempre. Lucca, eu e outros colegas de trabalho gostávamos muito dos
charmosos restaurantes e bistrôs instalados nos casarões do Centro Histórico
do Rio de Janeiro, situados entre o pomposo prédio do Centro Cultural Banco
do Brasil e o Paço Imperial. Adorávamos a atmosfera desse lugar, uma região
muito frequentada por turistas e pessoas distintas. Eram momentos nos quais
projetávamos uma autoimagem de vencedores, desfrutando do glamour da
ocasião, mesmo que por pouco tempo e inconscientemente.
Não havia lugar melhor para conversarmos sobre futebol, projetos pessoais
ou investimentos. Lucca trabalhava no PMO (Project Management Office)
dos nossos grandes projetos. Nutria certa empatia pela minha pessoa,
provavelmente por identificar-se comigo no trabalho e por aspirar aos
mesmos objetivos, inclusive as preferências nos investimentos.
Certa vez, enquanto aguardávamos o almoço, especulamos sobre as
perspectivas das ações da petrolífera OGX (atual OGpar). Lucca havia
colocado muito dinheiro nessa empresa (chegou a confidenciar que vendera
um carro para comprar mais ações), e com o tempo estabeleceu uma estreita
relação com o Gerente de RI (Relações com Investidores) da empresa para
obter mais rapidamente os insumos para suas análises.
Constantemente me enviava links de matérias sobre a empresa, comunicados
ao mercado, ou planilhas com suas análises. Lucca supunha que eu também
era investidor da petrolífera, mesmo tendo declarado que não. Talvez por ser
a única pessoa do trabalho com quem podia compartilhar essas informações,
imaginava que eu era um acionista discreto que não queria admitir.
Ele acreditava muito na empresa. Volta e meia comentava que a OGX
ultrapassaria a Petrobras em dez anos, segundo suas projeções baseadas nos
fatos divulgados pela empresa. Sempre falava empolgado sobre as
perspectivas e os ótimos números da campanha exploratória, e como os
analistas de mercado eram unânimes em recomendar a compra das ações da
empresa.
― OGX é para o longo prazo. ― afirmava num tom sério e reflexivo. Se não
falha a memória, comprou suas ações ao preço de R$ 40, antes da divulgação
dos primeiros resultados negativos da empresa.
Confesso que me deixei influenciar por seus argumentos. A possibilidade de
alto retorno e as perspectivas futuras, segundo Lucca, encheram meus olhos.
Resolvi converter uma pequena aplicação de renda fixa em ações ordinárias
(OGXP3) com foco nos lucros vindouros dos bilhões de barris de petróleo
amplamente divulgados pela empresa. Nessa altura Lucca possuía um bom
dinheiro na empresa, algo na casa dos R$ 60 mil, basicamente todo seu
capital.
O vento veio, e com ele 40% do valor de mercado da companhia foram
levados em poucos dias. ― Irracional! O mercado é irracional! ― exclamou
Lucca em nosso primeiro encontro após a hecatombe. A perda refletia a
divulgação dos números da produção muito abaixo do esperado. Mesmo
assim Lucca manteve-se mais firme que nunca, sua crença inabalável na
empresa tampou seus ouvidos diante de qualquer argumento contrário ao que
acreditava ser a verdade: que a empresa era ótima e que aquele momento era
perfeito para comprar mais ações a preços irresistíveis.

Semana após semana mais e mais argumentos surgiam a favor a empresa. Ele
estava tranquilo diante dos comunicados e dos resultados trimestrais. Recebia
por e-mail quase que diariamente links de sites e artigos que reforçavam sua
opinião. Tratava as projeções da empresa como fatos.
Pouco a pouco passou a ficar mais arredio ao tocar no assunto. Seu suspeito
bom humor e excesso de segurança começaram a denotar que não era a mim
que ele queria convencer, mas a ele mesmo.
Semanas depois dos revezes da OGX, seus argumentos não me convenciam
mais. A verdade veio à tona por meio da situação financeira da empresa e dos
seus reais números emblemáticos. Resolvi dar um basta e partir para outra
após minha aplicação minguar consideravelmente. Mal sabia eu que aquela
decisão selaria minha amizade com Lucca. Num de nossos últimos encontros
tentei dissuadi-lo a permanecer comprado na empresa, que repensasse sua
estratégia e usasse o bom senso. Não adiantou nada, já não se comportava
com investidor há tempo. Havia se casado com a empresa.
― Eu tenho uma estratégia, e você nenhuma! ― disse balançando a cabeça
de maneira incisiva como quem repreende alguém que está fazendo algo
errado. A tal estratégia nada mais era que continuar comprando para baixar
seu preço médio, na doce ilusão que os preços se recuperariam.
― Não, estou sendo racional. Essa empresa está afundando e você não está
percebendo ― respondi calmamente.
Não almoçamos mais juntos, apenas nos víamos devido às nossas relações de
trabalho. Tento certeza que o orgulho, e posteriormente a vergonha, o
impediram de voltar a conversar comigo. Permaneceu preso à “oportunidade
dourada”, da qual não tinha coragem de largar, enquanto assistia seu
patrimônio aplicado derreter. Não aceitara que percorreu um caminho errado.

O psicólogo Farouk Radwan explica15 que o autoengano acontece em nível


inconsciente para ajudar a pessoa a cumprir um determinado objetivo e
manter o equilíbrio psicológico, que no caso de Lucca era acreditar
cegamente que estava no caminho certo. Segundo Farouk, uma pessoa
engana a si mesma para proteger seu ego. É muito comum encontrarmos
pessoas que alegam serem investidores de verdadeiras empresas de “meia
tigela” envolvidas em polêmicas ou com péssimas perspectivas.
― É uma grande empresa que está passando por um mau momento ―
engana-se o investidor, que reafirma a ele mesmo todos os dias as virtudes da
empresa “amada” numa tentativa de manter a esperança e a certeza da boa
escolha.
Não seja procrastinador de sua vida financeira. Não se engane, a fim de
escapar da verdade e para proteger seu ego. Seja humilde e decida viver
consciente. Aceite que tomou o caminho errado e tenha a coragem de admitir.
Parafraseando Steve Jobs, você pode encarar um erro como uma besteira a
ser esquecida, ou como um resultado que aponta uma nova direção.
Para pensar...
Você tem o hábito de falar mais que ouvir? É intransigente? Uma ou mais
pessoas têm alertado sobre alguma de suas aplicações? Tem mais sucessos ou
insucessos em seus investimentos? Não refute uma crítica imediatamente.
Seja tardio em falar. Reflita. Tudo é relativo, você pode estar se enganando
quanto às suas escolhas de investimentos. Não transfira a culpa por um erro à
outra pessoa ou ao azar ou qualquer outra coisa; antes aceite seu erro, entenda
como ocorreu e siga em frente.

*****
21. Não tenha sentimentos pelo dinheiro

“Eu sou um revolucionário, o dinheiro não significa nada para mim. ” –


Frederic Chopin

Não há sombra de dúvida de que o personagem que mais sofre – e perde – no


mercado é o sujeito passional. Isso não está relacionado ao grau de instrução
ou experiência. É fácil encontrarmos pedidos de orientação de médicos,
advogados, engenheiros, profissionais liberais, etc., em sites, canais de
televisão ou programas de rádio especializados em finanças. Também não é
incomum nessas ocasiões investidores apresentarem-se como experientes,
quando na verdade estão passando por problemas típicos de iniciantes.
A causa raiz mais provável desses sintomas reside no modo como muitos
lidam com o dinheiro, em especial quando aplicado em renda variável,
crendo que seus investimentos se multiplicarão e sofrendo ao constatarem o
contrário.
Todos já lemos nos prospectos bancários ou de corretoras que “ganho
passado não é garantia de lucro no futuro”, mas poucos entendem o
significado dessa afirmação. Para muitos se trata somente de um texto
padrão, que por algum motivo os agentes financeiros precisam inserir nos
prospectos. Talvez se reescrevêssemos essa frase como “não importa o ganho
passado, você pode perder dinheiro a partir de hoje” fosse mais claro.
Não adianta, a cena repete-se indefinidamente. Diante daqueles vultosos
ganhos de determinada aplicação ou ação, muitos são levados a crer que o
mesmo se repetirá (e sempre com mais intensidade, óbvio) a partir do
momento de entrada. O entusiasmo com o possível ganho é tão grande que
abafa completamente o fato de que não existe certeza quanto ao ganho ou
perda na dimensão da renda variável.
Some a essa equação o envolvimento emocional que nutrimos pelo dinheiro e
nos depararemos com o desespero na primeira grande queda. Algo mais que
natural, mas que é visto como uma aberração, uma péssima “surpresa” que
acometera o precioso dinheiro do investidor. Ora, se investimos com aquilo
que não precisaremos no curto prazo, por que preocupação com um
rendimento negativo? As oscilações de curto prazo são apenas ruídos quando
olhamos de longe os preços.

Sofremos devido ao apego pelo dinheiro que não temos mais ao investir. Sim,
ao adquirimos ações, por exemplo, deixamos de ter o dinheiro em espécie. Se
adquirirmos 1.000 ações por R$ 50 mil não possuímos mais R$ 50 mil, mas
apenas 1.000 ações ao preço que estão sendo cotadas. Suponha que a cotação
esteja no momento em R$ 55 e seu patrimônio resuma-se a essas 1.000 ações.
Qual o valor de seu patrimônio? A resposta correta seria dizer que possui
1.000 ações de certa empresa, mais nada.
Acompanhar diariamente a cotação de seu patrimônio, alocado em ações, é
motivo pelo qual tantos sofrem e descabelam-se no mercado.
Deveríamos adotar a mesma analogia a imóveis. Se possuísse um
apartamento na Barra da Tijuca, e ao ser indagado sobre seu patrimônio, o
que diria? Que possui um apartamento localizado na Barra da Tijuca.
Simples. Não dizemos que temos R$ 750 mil, não convertemos o bem imóvel
de acordo com sua cotação.
O preço de um apartamento pode oscilar ao longo do tempo, entretanto não
nos preocupamos ou não nos damos conta desse fato. Isso ocorre por que não
é simples ou rápido tomar a cotação de um apartamento, ao contrário de uma
ação.
No caso da bolsa de valores, a cotação dos papéis negociados está espalhada
na Internet, podendo ser acessada a qualquer momento nos tablets ou
smartphones. Essa facilidade tem prós e contras. Mais contras a meu ver,
sobretudo para o investidor de longo prazo. Imagine receber um SMS diário
com a cotação de seu apartamento. Isso geraria ansiedade? Provavelmente
não, por tratar-se de um bem no qual você deseja permanecer muitos anos
(observe o conceito de longo prazo). Devemos ter a mesma atitude com
respeito a ações. Se miramos o longo prazo, qual a justificativa para a
ansiedade com os acontecimentos recentes ou com a cotação do dia?
Ser passional em seus investimentos é como observar os preços de seus
papéis no intraday, vibrando a cada subida e suspirando a cada baixa. Pessoas
assim não devem operar na bolsa, pois estão destinadas a tomar atitudes
precipitadas ou a perder. O medo de perder e a ganância de ganhar são
principais sentimentos que conduzem ao fracasso financeiro.

Nesses casos, melhor seria aplicar em fundos de investimento administrados


por gestores profissionais que, por não terem envolvimento emocional com o
dinheiro, estão mais habilitados a tomar as melhores decisões. Nesse caso é
uma escolha que o investidor deve aceitar as consequências, sejam elas quais
forem.

Para pensar...
Você acompanha todos os dias a cotação de suas ações? Qual sua reação
diante de uma oscilação -5%? Fica inquieto, ansioso? Procura descobrir a
razão nos fóruns e sites especializados? Vende por que todos estão falando
que vai cair? Cuidado, seu coração pode estar pregando uma peça em você.
Não desenvolva sentimentos por seu dinheiro, não dê nome a seus
investimentos e nem os humanize. Se você refere-se a uma aplicação como
“minha passagem para Europa”, ou “meu carro zero”, ou “minha
sementinha”, etc., você está no caminho errado. Atitudes como estas farão
apenas você sofrer.
Investidores de sucesso são frios com seus investimentos. Tratam estes
meramente como valores aplicados de acordo com critérios racionais. Sim,
pode não ser simples mudar, mas todos podem lidar melhor com seu
dinheiro. Infelizmente não somos como Spock, não alcançamos o seu nível
de controle das emoções. A paixão desenfreada nos investimentos é uma
verdadeira patologia para a qual o investidor precisa procurar tratamento.

*****
22. Não gire seu patrimônio

“Cuidado com as pequenas despesas: uma fenda diminuta pode fazer


afundar um grande navio. ” – Benjamin Franklin

Patrimônio é um conceito muito importante em finanças pessoais. São todos


os bens, direitos e obrigações de um indivíduo. Os direitos autorais de um
livro, um financiamento adquirido, móveis, motocicleta, casa, apartamento,
dinheiro e, claro, ações, são alguns exemplos.
A função do patrimônio é garantir a independência financeira no futuro e uma
aposentadoria mais confortável, assim como colaborar com o bem-estar das
pessoas com quem nos preocupamos. Construir um patrimônio é sinônimo de
anos de árduo trabalho, investimentos bem-sucedidos e boa administração.
Preservar um patrimônio é tão difícil quanto construí-lo.
Sempre ao nos referimos a investimentos de longo prazo, sejam eles em
imóveis, obras de arte, fundos de renda fixa, títulos públicos, ações, ou
qualquer outra aplicação, estamos nos referindo aos investimentos de caráter
perene e não transitório ou temporário.
Nesse sentido, é necessário que todas as aplicações de longo prazo em ações
sejam encaradas como parte integrante do patrimônio daquele que investe. O
objetivo de todo investidor no mercado financeiro deve ser acumular
patrimônio. Daí reside a importância do investidor evitar girar seu
patrimônio, isto é, alterar a composição de seu portfólio, mesmo que sua
corretora insista.
Corretoras, conforme já discorremos, promovem o giro mensal das carteiras
dos clientes por meio de relatórios e carteiras sugeridas. Não que as
recomendações das corretoras e bancos sejam ruins, mas uma vez definida a
estratégia de longo prazo e as empresas escolhidas continuem apresentando
resultados consistentes, não há razão para desfazer delas, mesmo que seu
corretor, amigo ou familiar aconselhe o contrário.
Todas as vezes que se encerra uma posição acionária há custos. Corretagem,
emolumentos, taxas e Imposto de Renda abocanham parte do patrimônio.
Talvez o impacto seja pequeno no curto prazo, mas será grande ao longo de
anos dependendo do quanto girar seu patrimônio. É claro que o bom senso
deve prevalecer. Muitas pessoas realizam aportes mensais em uma ação como
uma equivalência à previdência privada. Essa é uma situação na qual as taxas
e corretagem são algo justo a se pagar. Alguns podem alegar que se somados
esses valores ao longo do tempo seria significativo, entretanto se comparado
a gastos supérfluos, como jantar fora, os valores decorrentes da aquisição de
ações se tornam irrisórios.
Só existem duas situações que justifiquem modificar sua carteira de ações. Na
primeira, a empresa não é mais interessante ou deixou de atender sua
estratégia. Nesse caso cabe ao investidor encerrar tal posição e reavaliar seu
portfólio. E na segunda, quando é necessário fazer o balanceamento, que
consiste em redistribuição entre as classes de investimentos que constituem a
carteira. O balanceamento coopera para controle de risco e a estratégia de
investidor. Além dessas situações, o investidor realizaria operações por
impulso ou precipitadas, comprometendo a rentabilidade e o manejo de risco
do portfólio.
Até este momento mencionamos somente investidores, mas toda abordagem
sobre patrimônio aplica-se aos operadores, pois estes também são
investidores. Sim, não há conflito entre investimento e trading, desde que a
separação entre patrimônio e capital alocado a risco seja clara. Investidores
podem, inclusive, especular desde que não seja com o patrimônio, mas com
dinheiro específico para esta finalidade.

Capital alocado a risco é um montante, bem definido, para operações de


especulação ou trading, onde o foco é o preço, e não o valor da empresa. A
expressão não está propriamente relacionada ao risco do capital alocado, pois
risco existe em qualquer modalidade de investimento mesmo que baixo, mas
ao fato do capital ser empregado de modo especulativo.
Muitos cometem o grave erro de não separar capital investido em longo prazo
e capital especulativo. Como consequência, expõe o patrimônio a risco
excessivo, levando a perdas significativas na ocorrência de operações mal
sucedidas. Esta é uma das principais razões da breve vida dos jovens
investidores na bolsa de valores. Não se dão conta que estão apostando com
seu patrimônio, com seu futuro, mesmo que não seja muito. Este cenário é
mais delicado para os casados, pois é o patrimônio dos dois que está em jogo.
É comum as mulheres confiarem as decisões de investimento, e a
administração do patrimônio, aos seus maridos por julgarem que estão mais
aptos ou que possuem mais empatia com assunto. Isso é um erro por que o
casal deve participar de todas as decisões que envolvam seu futuro e de seus
filhos.
Outro equívoco dos investidores é no tocante aos proventos. Quando somos
sócios de uma empresa, gozamos de alguns direitos tais como dividendos,
juros sobre capital próprio, bonificações, dentre outras, ou seja, direitos a
proventos. Ora, ao aplicarmos em determinada ação temos a expectativa que
a empresa mantenha boa governança, boas margens, lucros consistentes, e
consequentemente, que valorize seu preço ao longo do tempo e distribua seu
lucro. No entanto, para aqueles que estão trabalhando para acumular
patrimônio, os proventos devem ser sempre reinvestidos, para que o
investidor tenha mais ações da boa empresa que escolheu. É um efeito
composto: mais ações, mais proventos, mais ações.
Tomemos o exemplo dos dividendos, que decorrem do lucro do período
contábil anterior, e que ao serem anunciados são debitados do preço da
cotação da empresa. Joãozinho possuía 1.000 ações de Cemig ao preço de R$
20 quando recebeu R$ 1 mil em dividendos. Nesse caso ele continuará a ter
um patrimônio no valor de R$ 20 mil, mas agora distribuído em 1.000 ações
ao preço de R$ 19 e R$ 1 mil em conta. Se Joãozinho não reinvestir os R$ 1
mil comprando novas ações, não aumentará sua posição e consequentemente
tenderá a receber menos proventos na próxima ocasião, e isso causará um
grande impacto seu patrimônio no longo prazo. Portanto, não se ache no
direito de gastar os dividendos recebidos, seu objetivo é acumular patrimônio
para que no futuro, sim, possa desfrutar do mesmo.
Alugue suas ações
O aluguel de ações é uma ótima maneira de suplementar a remuneração de
seu patrimônio em tempos de crise ou com a Bolsa em queda. Ao estar
comprado em determinada empresa visando longo prazo, o investidor não
está preocupado com os movimentos de curto ou médio prazo. Mesmo assim,
o investidor pode tirar proveito dos movimentos baixistas da bolsa através do
simples mecanismo de alugar suas ações.

É comum especuladores e operadores realizarem operações na ponta vendida


das ações, ou seja, apostando na queda dos preços. Para que isso seja
possível, os operadores precisam vender os papéis para no futuro recomprá-
los por preços mais baixos, ganhando assim na diferença entre venda e
compra. Um raciocínio exatamente contrário às operações na ponta
comprada.
É nesse contexto que o investidor também pode ganhar, cedendo suas ações
em troca de juros. Nessa operação, regulada pela CBLC (Companhia
Brasileira de Liquidação e Custódia), o investidor define quanto quer ganhar
e por quanto tempo. Para melhorar, o aluguel de ações é classificado como
uma aplicação de renda fixa. Também possui baixo risco, pois o tomador das
ações é obrigado a fornecer garantias. Portanto, trata-se de uma excelente
opção para incrementar a remuneração de seus papéis sem girar seu
patrimônio.

Para pensar...
Todo seu patrimônio está na bolsa de valores? Você sabe o valor do seu
patrimônio líquido, ou seja, a diferença entre o total de seus bens e seus
compromissos? É fundamental ter resposta a essa questão antes de iniciar ou
reavaliar seus investimentos.
Caso especule no mercado, qual o valor do seu capital alocado a risco? Você
altera sua carteira de ações todos os meses? Segue alguma carteira sugerida
por corretora? Investe sob a opinião de algum amigo ou familiar? Esteja
atento, você pode estar girando seu patrimônio e não o acumulando. O
mercado de ações é mais um meio para acumular patrimônio, assim como o
investimento em imóveis. Por que não giramos o patrimônio imobiliário? Da
mesma forma não devemos girar nosso patrimônio em ações.

*****
23. É bom observar a conjuntura econômica

“O que realmente enriquece um homem não é a experiência: é a observação.


” – Henry Mencken

Ao ler o título desde capítulo você deve estar pensando: ― Investidor de


longo prazo não se importa com cenário político-econômico, mas sim,
investe de forma metódica e constante em empresas lucrativas e com bons
fundamentos ― o que é verdade em certa medida, mas não deve ser encarado
com verdade, imutável.
O mercado tem personalidade própria, é a personificação de todos os
sentimentos, anseios e emoções daqueles que participam do mercado, ou seja,
seres humanos. Constantemente o mercado sinaliza suas intenções, quase
sempre com muita intensidade, seja na euforia ou na depressão. Este
comportamento ilógico é que deve ser ignorado pelos investidores, pois são
apenas fotografias instantâneas quando comparado a janelas de tempo
maiores. São ruídos do cotidiano.
Mais importante que o mercado é o cenário no qual o mesmo está inserido. É
nesse sentido que os renomados e gabaritados investidores saem na frente.
Captar as oscilações da economia, interpretá-las e antecipar possíveis
movimentos são virtudes invejáveis e cultivadas por poucos. Não que sejam
gênios ou pertencentes a uma casta superior de investidores, mas são pessoas
dotadas de sensibilidade, perspicácia e de capacidades analíticas ímpares,
fruto de anos de experiência, estudo e dedicação. É graças a esse empenho
que aquilo que para a maioria não quer dizer nada, para eles vale muito.
O mais recente exemplo de drástica mudança contextual é o caso do setor
elétrico brasileiro. A década de 2000 foi palco de grande crescimento e
consolidação do setor no mercado de capitais. Grandes empresas como
Eletropaulo, AES Tietê, Cesp, Cemig, Light, Copel, operaram com altas
margens, garantindo ótima remuneração aos acionistas na forma de
dividendos.
O bom desempenho incomodou o Planalto, que não enxergava o lucro dessas
companhias como “justo”, publicando em 2012 a Medida Provisória 579 (MP
579), que trouxe sérios impactos ao setor elétrico. O inferno astral para
muitas empresas estava apenas começando. De investimento rentável e
conservador à preocupante e arriscado. A MP cancelou contratos e alterou as
regras do jogo em andamento, prejudicando especialmente as distribuidoras
de energia.
Entretanto, muitos investidores enxergaram os sinais de possíveis
transformações no setor antes da divulgação da MP 579. Entrevistas e
declarações de políticos, pessoas ligadas à Administração Direta, de
representantes da agência reguladora (ANEEL) e de economistas, mesmo que
tímidas, sinalizavam claramente que o Governo Federal estava insatisfeito
com as altas margens do setor e que mudanças seriam introduzidas em breve.
Recordo-me perfeitamente das manchetes em veículos especializados
chamando a atenção para possíveis mudanças, além da segunda intenção do
governo de utilizar as medidas como palanque eleitoral, a favor da base
governista, obviamente. No entanto, a convicção dos investidores era tão
grande que ignoraram completamente os alertas, mantendo suas posições nas
empresas do setor. Resultado, vertiginosas quedas se abateram sobre as ações
das elétricas. As empresas com contratos próximos de vencimento foram as
mais atingidas e passaram a reportar prejuízos constantes em vez de lucros
consistentes.
“Mas no longo prazo isso será somente uma oscilação”, muitos podem
pensar. É verdade, quando tomamos intervalos de tempo maiores vemos que
as oscilações do curto prazo são irrelevantes. Mas o advento da MP 579
introduziu elementos para além do curto prazo, e alterou os fundamentos de
diversas organizações. A atenção e reflexão de muitos investidores quanto
aos sinais de mudanças permitiu aqueles encerrarem posições e prepararem-
se para cenários mais desafiadores, enquanto muitos ignoraram os novos
paradigmas e viram seus patrimônios reduzidos em 20%, 30%, 50% ou mais
em questão de meses. Retomarão o patrimônio anterior às mudanças? É
provável que sim, desde que mantenham aplicações em empresas com boa
governança. Mas poderiam tê-lo poupado retirando-o do mercado, em vez de
insistirem nas empresas durante o apreensivo episódio.
Fato é que o investidor deve comportar-se com um investidor ativo, e não
passivo. Todo investidor, seja ele pessoa física ou não, deve estar conectado à
realidade, atento às mudanças que porventura venham impactar seu
patrimônio, isto é, suas aplicações. A filosofia buy-and-holder traz resultados
consistentes, sobretudo quando combinada com análise de mercado de médio
e longo prazo. Manter ações de empresas cujos fundamentos estão em
transformação, para pior, não faz parte dessa filosofia. A ideia de investir e
“esquecer” do investimento é tão absurda quanto a de investir na Poupança
em temos de inflação.
Investir no mercado de ações pressupõe uma atitude de proatividade, que
envolve análise e decisão, e não acomodação e preguiça, afinal todo
indivíduo que se propõe a fugir da renda fixa, ou a diversificar os
investimentos com ações, é uma pessoa disposta a pensar mais,
inevitavelmente. Isso é bom, e para tanto o investidor não pode cristalizar seu
conhecimento e comportamento diante do mercado.
Observar a economia e possíveis desdobramentos sobre seus investimentos é
necessário. Manter-se alienado aos fatores sociais, políticos e econômicos de
interesse da empresa que detém ações é não se importar com seu dinheiro
ganho a duras custas, é investir sem estratégia, é ser massa de manobra de
especuladores e traders, é não ser investidor.

Para pensar...
Você acompanha seus investimentos? Reavalia pelo menos semestralmente
sobre suas aplicações? Lê os resultados trimestrais? Você se mantém a par da
legislação que regula o setor de atividade sua empresa? Conseguiria
descrever o atual cenário econômico e os riscos para suas empresas? Você
sabe quais são os acionistas majoritários das ações das empresas que possui?
Você compra ações sem fazer uma pesquisa sobre a empresa que está
adquirindo? Tem visto seu patrimônio reduzir de forma sistemática e alega
que são apenas oscilações de curto prazo? Lembre-se, buy-and-holder deve
ser entendido como comprar e manter racionalmente, e não como comprar e
esquecer levianamente.

*****
24. Estraguei tudo, o que faço?

“Tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes. ” – Nietzsche

Somos os únicos responsáveis por nossas ações, logo somos os responsáveis


exclusivos por nosso sucesso ou fracasso. Isso se aplica não apenas à bolsa,
mas a todos os aspectos da nossa vida. Na vida amorosa, em casa, na saúde,
nos estudos, no trabalho, na vida social, enfim, em todas as áreas cometemos
erros conscientes.
Militamos por natureza contra nós mesmos, resistindo em fazer as coisas
certas, dando vazão a sentimentos como ansiedade, euforia, ganância, inveja,
medo, orgulho e raiva. Se mergulharmos realmente na bolsa de valores
verificaremos que a mesma é permeada por esses sentimentos. Todos os dias
operadores e investidores se lançam na esperança de um mercado altista ou
baixista.
Esses são os mesmos que sofrem com a subida por não terem comprado mais,
e os que sofrem com a queda por não terem vendido antes. Seja na euforia ou
na depressão, sempre sofrendo.
Não precisa ser assim, de maneira nenhuma. Muitas coisas acontecem
conosco na medida em que as permitimos. Jonas permitiu tudo que lhe
sobreveio na medida em que se deixou enganar por seu coração, e somente
no ventre da baleia se deu conta dos seus erros. Infelizmente o mesmo ocorre
com muitos aspirantes a investidores, que mesmo dando o importante passo
na direção de romperem com a mediocridade financeira brasileira, são
engolidos pela miragem da riqueza express.
Sim, fui um deles. Traído por meus sentimentos e absorto em ganhar dinheiro
rapidamente. Perdi tempo, dinheiro, saúde e sossego. Por pouco não levei
com isso meu casamento e emprego. Felizmente, graças a Deus e a minha
esposa, e a muita conversa, superei os momentos de desorientação.
Para tanto, para que eu pudesse sair da caixa, foi necessário passar por um
processo essencial de crescimento. É sobre isso que quero falar. Não conheço
sua história, mas se já passou ou está passando por isso, tenho certeza que
terá certa empatia pelas minhas palavras.
Ao longo do livro compartilhei significativas lições aprendidas como
operador da bolsa, mas possivelmente estas palavras finais sejam as mais
valiosas, pois excedem o assunto “mercado financeiro”, podendo ser
estendidas a quaisquer circunstâncias.
Como se dá esse processo de crescimento?
Dê um tempo
Não pense que resolverá rapidamente problemas que se arrastam há meses ou
anos. Depois do derradeiro dia que realizei meu grande prejuízo na bolsa e
expus a verdade para minha esposa, voltei ao homebroker na esperança de
tirar daquela ação o que havia tomado de mim (como se uma ação devesse
alguma coisa a alguém). Fui bem-sucedido naquele momento, realizei o
maior day trade de minha vida, graças à sorte.

Embora tenha ganhado alguns milhares de reais em poucas horas, o problema


não se havia ido. De nada adiantou minha precipitação em tentar resolver o
sintoma. Precisava tratar a causa raiz. Minha atitude imediatista apenas
colocou em risco meu abalado patrimônio.
Em um átimo percebi que se não puxasse o freio de mão e me afastasse
daquela rotina, não poderia reestabelecer minha vida como precisava. Da
mesma forma quando nos acidentamos no trabalho e permanecemos
afastados para nos recuperarmos, assim devemos proceder nos acidentes da
vida.
Note que não estou falando em lançar no mar do esquecimento o problema,
isso não é a solução. O tempo ao qual me refiro é aquele necessário e
suficiente para cicatrizarem as feridas. Por si só, o tempo nada resolve.
Quando pais e filhos brigam é comum afastarem-se para esfriarem a cabeça.
Mas quando o tempo ultrapassa o razoável, o suficiente, a cada dia torna-se
mais difícil a reaproximação. O tempo, de aliado passa a inimigo.
Perdeu-se no caminho? Pare, pense, ouça. Não se precipite em resolver ou
continuar a trilha. Concentre-se em esvaziar sua mente para que novas coisas
possam entrar. Esqueça por um tempo as cotações, o homebroker, o Book de
ofertas, seus investimentos, suas planilhas, seus controles, etc., tudo aquilo
que o faz reviver os problemas e frustrações passados.
A bolsa e o mundo estarão no mesmo lugar amanhã. O mercado de ações
realizará a pré-abertura às 09 h 45 min, dando início às negociações às 10 h e
as encerrando às 16 h 55 min com o call de fechamento; reabrirá para o after
market às 17 h 30 min para, por fim, encerrar as negociações do dia às 18 h.
Sua teimosia ou atitudes impulsivas em nada mudarão este fato, ao contrário,
poderão prejudicar ainda mais o problema que está enfrentando.
Converse a respeito
Você pode tentar enfrentar qualquer problema sozinho, mas dividindo com
alguém será mais fácil superar. Este é o momento de abrir seu coração para
sua companheira, família, amigos íntimos ou quaisquer outras pessoas que
julgue que devem saber o que está se passando com você ou que possam
ajudar.
No instante que telefonei para minha esposa para adiantar-lhe as primeiras
palavras sobre o que havia acontecido, sabia que não estaria mais sozinho.
Alívio foi o que senti. À medida que conversávamos, e as coisas começaram
a desanuviar, foi como soltar um fardo de 60 toneladas das minhas costas.
Sem titubear, esse foi o momento mais importante no meu processo de
crescimento no mercado de ações. Não foi fácil, nem rápido. Até então não
havia me dado conta de como estava traumatizado, de como havia cometido
tantos erros crassos. Naquele minuto começarmos a virar a página.
Pensar fora da caixa é difícil, e só conseguimos quando reconhecemos que
precisamos sair dela. Opiniões externas são muitos importantes, nos instigam
a pensar, a refletir, a encontrar soluções. Quando pensamos fora da caixa
movemos o foco do problema para a solução.
Por meses ocultei uma vida paralela completamente diferente da minha vida
pessoal. Não encontrava soluções para minha situação, estava inteiramente
dentro da caixa olhando minha vida através de uma lupa, quando deveria
olhar do alto. Remoí dentro de mim problemas e angustias sozinho
desnecessariamente, por orgulho.
Coloque para fora o que está sentindo. Tenha um momento para desfazer esse
nó em sua garganta. Compartilhe com alguém essa situação, mesmo que esse
alguém não tenha conhecimento técnico, ele lhe ajudará ver sua situação com
outros olhos.
Não permita que este problema o corroa, solte sua língua, fale o que precisa
ser dito. Se você magoou alguém com suas ações ou ocultou a verdade de
pessoas queridas, busque a compreensão e o perdão delas e verá como se
sentirá melhor.

Sem isso você nunca encontrará paz para ser bem-sucedido nos negócios. É
muito diferente quando se está fazendo um investimento com o apoio da sua
esposa, quando sabe que não há garantia de sucesso, mas está simplesmente
junto a ti.
Relaxe
Não tem jeito, depois daquelas provas pesadas na escola, daquele mês
estressante no trabalho, ou daquela semana cuidando dos familiares que
chegaram de surpresa, precisamos descansar. Recarregar as baterias para
continuarmos é imprescindível.
Diversão faz parte. Você se estressou, desgastou-se e frustrou-se. Imagine
como está sua cabeça? Você se recorda da razão pela qual investe? Para
aumentar seu patrimônio e assegurar um futuro mais confortável para você e
sua família. Para seu bem-estar. Essa é a finalidade dos investimentos. Ora, se
essa é a finalidade dos investimentos, como podem os mesmos deixar você
prostrado? Está errado, relaxe, separe um dia para você se descontrair com
sua esposa e família, namorada ou com seus amigos, o que for melhor para
você. Procure retomar o leme da sua saúde física e mental.
Lembro-me da atmosfera tensa na semana em que conversei com minha
esposa sobre nossa posição financeira. Estava com uma grande ressaca moral
quando ela propôs em fazermos um pequeno passeio para conhecermos
Niterói (morávamos no Rio de Janeiro há pouco tempo).
Foi um passeio singelo, mas com muito significado. Um dia lindo de céu
azul. Cruzamos de balsa a Baía de Guanabara rumo à cidade de Arariboia, e
visitamos os alguns pontos turísticos. Conhecemos o Museu de Arte
Contemporânea (MAC) projetado por Niemeyer, a praia de Icaraí, a Ilha de
Boa Viagem, e ainda, no caminho às barcas, descobrimos a Feira de
Antiguidades da Praça XV, no Rio. Vale a pena conferir.
Não me vem à mente um passeio tão revigorante com esse, não tocamos em
nenhum assunto relacionado a investimentos, dinheiro ou finanças.
Espairecemos, rimos bastante e nos divertimos muito. Viajar é uma ótima
higiene mental, mesmo que o destino seja pertinho.
Sua saúde mental é muito importante. Seu bem-estar, e de sua esposa, devem
ser prioritários. Independente de sucesso ou não nos negócios, não podemos
nos descuidar. Precisamos constantemente oxigenar nossas ideias e sonhos.
Estes são os formidáveis componentes de uma vida com realizações, afinal
sem sonhos qual o propósito dos investimentos?
Reflita
Reflexão é o exercício do autoconhecimento. É olharmos para dentro de nós
mesmos em busca de sabermos quem na verdade somos. Quando alguém lhe
pergunta quem é você, a resposta correta vai muito além de dizer seu nome,
idade, estado civil ou profissão. Da mesma forma sua experiência com a
Bolsa. Alegar simplesmente que perdeu dinheiro, ou que foi péssima, não diz
nada em si.

Esse é um exercício mais solitário. Ninguém pode conhecer seu interior


senão você mesmo. Sua companheira poderá ajudar você com as perguntas
mais apropriadas, mas somente você poderá sondar seus pensamentos pelas
respostas. Isso não é fácil. Primeiramente por que não se tratam de respostas
exatas como quanto é 2+2. Elas não estão prontas, e na verdade seu ego não
deseja saber. Em segundo lugar, não estamos acostumados a refletir. Estamos
tão imersos no mundo exterior, tão mecanizados em nossas atividades
cotidianas, que não paramos para ouvir nós mesmos.
Isso poderá doer, mas não existe outra maneira. Saber descrever com detalhes
o que aconteceu, o que se passou em sua cabeça, por que tomou tantas
atitudes erradas, por que repetiu os erros, etc. É como um B.O. (Boletim de
Ocorrência), no qual precisamos descrever com minúcias a situação, a
sequência de eventos, as pessoas envolvidas, os horários, etc., para que a
polícia possa apurar todos os fatos. Sua esposa tem direito de saber todas as
respostas e, principalmente, você.
Quanto aos investimentos, rememore seus passos. Os prospectos que leu e o
que entendeu, as sugestões ou conselhos que seguiu, as operações realizadas
e os resultados das mesmas. Lembre-se do dia a dia, de como era sua rotina,
do homebroker aberto na primeira hora do dia para ver o book de ofertas, a
leitura dos jornais, blogs e fóruns a procura de novidades, de quanto dinheiro
novo colocava todos os meses na bolsa, dos lucros e prejuízos realizados e de
como se sentia nesses dias.
Questione-se e analise as respostas. Não se deixe iludir com conclusões do
tipo “isso não me influenciou em nada”. Se tiver relação com seus
investimentos, de alguma forma o influenciou. Nenhum fato isolado foi
determinante, mas o conjunto dos fatos foi que moldou suas decisões, sua
forma de agir na bolsa.

Depois desse esforço em identificar os pontos a serem mudados ou


reforçados, faça o seguinte exercício. Em uma folha de papel escreva seus
erros. Em seguida, para cada erro proponha uma solução de modo que você
não o cometa novamente. Escrever também é uma forma de verbalizar seus
sentimentos. Isso o ajudará a exteriorizar o que se passou em seu coração, e
como você não os repetiria.
Faça este exercício com calma e, a cada solução, antes de passar ao próximo
erro, analise o que você escreveu e tente entender algo sobre si mesmo.
Para continuar seus investimentos, seja qual for o caminho que decida seguir,
você precisará perdoar-se. Por muito tempo não me perdoei. Por semanas
nutri um sentimento de culpa combinado com autocomiseração, até que cai
em mim mesmo que de nada adiantariam essas lástimas.
O remorso não tem valia nenhuma na bolsa de valores. Consumados os fatos,
é seguir em frente. Claro, seguir conscientemente, não operar por operar. O
autoconhecimento é a garantia da pole position nos investimentos. É através
dele que você descobrirá seu verdadeiro perfil como investidor ou operador,
seus limites, sua tolerância ao risco, seus objetivos no curto e longo prazo, e a
soma desses entendimentos assegurará a tranquilidade almejada para tomar as
decisões assertivas para seu futuro.
Responda com sinceridade
Excepcional, para chegar a este ponto você percorreu corajosamente o
estreito e íngreme caminho da verdade. Enfrentou seu ego e o dissuadiu em
não ocultar os erros cometidos. Olhou nos seus próprios olhos e decidiu fazer
a coisa certa sem medo do resultado, e de mãos dadas com sua companheira
resolveu continuar. Isso é algo grande. Pessoas atravessam uma vida sem
serem capazes de fazer algo semelhante.

Em poucas palavras, os passos descritos nas páginas anteriores tiveram o


propósito de i) te afastar do calor da batalha, para que pudesse raciocinar
mais claramente; ii) pensar fora da caixa, para que ampliasse sua percepção
sobre os fatos com o apoio de pessoas queridas; iii) restaurar sua saúde
mental, para oxigenar sua mente e sentir-se melhor e mais leve; e iv) conduzir
a uma reflexão sobre sua atuação no mercado de ações, isto é, seus acertos e
erros, e em como poderia ser melhor.
Esse profundo exame de consciência o preparou para que fosse possível
responder de forma mais serena, tranquila e segura a derradeira questão:

A bolsa é para você?


Após essa reflexão, você está convicto de que investir racionalmente em
renda variável é boa opção para você e sua família?

Durante muitos anos acreditei piamente que a resposta a essa pergunta era
“sim”, para quaisquer pessoas. Mas com o tempo, e depois que tudo que
passei, estou convicto que aplicar em renda variável não é para todos (ao
contrário do que apregoava a campanha da BM&F Bovespa).
Isso não está relacionado a ser pequeno ou grande investidor, ou a ter poucas
ou muitas reservas para investir, ou a ser jovem ou velho, mas se relaciona
puramente com o perfil de cada um de nós como investidores. E não existe
problema nisso, assim como sou livre para não investir na bolsa, também o
sou para não aplicar na Poupança.
Caso sua resposta seja “não, não é para mim”, não há nada que se
envergonhar, ao contrário, você deu um importante passo em seu
autoconhecimento, parabéns! Nesse caso, existem boas opções e
investimento em renda fixa, sobretudo com as atraentes taxas de juros do
país. Caberá a você encontrar aquelas mais aderentes ao seu perfil.
Se todo investidor agisse com sinceridade para com ele mesmo,
preocupando-se em responder perguntas como “Quem eu sou na bolsa?”,
“Estou feliz investindo no mercado de ações?”, “Quais meus objetivos?” ou
“Estou alcançando meus objetivos?”, não teríamos tantas pessoas insatisfeitas
e decepcionadas com suas aplicações e com elas mesmas.
Caso sua resposta seja “sim, a Bolsa continua uma boa opção para mim”,
meus cumprimentos por sua conclusão. Nesse caso, atenção, para continuar
na bolsa você deve se policiar para não incorrer nos mesmos erros. Não
aceite protagonizar aquele participante debilitado do mercado. Retorne a
investir com estratégia, método, e foco em você, sua família e seu patrimônio.
Precisei chegar à beira do abismo para sondar meu íntimo e obter essa
resposta. Graças a isso hoje sou um investidor tranquilo e consciente do meu
papel no mercado e do papel deste na minha vida.
Não me admiro, assusto ou emociono com os solavancos do dia a dia. Para
ser franco nem tomo conhecimento da maioria desses ruídos.
Hoje meu foco está em aumentar meu patrimônio de modo sistemático, seja
com meu trabalho ou com os frutos de meus investimentos, e em viver uma
vida plena e próspera com minha esposa. Graças a Deus tenho conseguido.

Sinceramente desejo o mesmo para você. Que alcance autoconhecimento,


felicidade nos relacionamentos, paz e estratégia nos investimentos. Estes
devem servir a você e não o contrário.
Sucesso na vida pessoal e nos investimentos.

*****
Notas

[←1]
Neófito é um principiante ou novato; pessoa que está aprendendo alguma coisa. No
contexto do mercado de ações é um iniciante nos investimentos.
[←2]
De modo geral, subprime é um crédito de risco concedido a alguém que não oferece
garantia suficiente para usufruir de uma taxa juros mais vantajosa. Subprime também
pode ser designado como um crédito hipotecário destinado a tomadores de empréstimos
mais arriscados. Nessa modalidade de crédito o tomador oferece sua residência como
garantia, e normalmente é um crédito casado com a aquisição de algum produto
bancário.
[←3]
Estar comprado ou operar comprado (long, em inglês) significa ter uma posição na qual
se ganha com a alta. Estar vendido ou operar vendido (short, em inglês) é o oposto, ou
seja, ganhar com uma posição com a baixa.
[←4]
Venda a descoberto (short selling, em inglês) trata-se de vender uma ação que não possui
ou que tenha tomada emprestada. A venda a descoberto é motivada pela crença de que o
preço do papel cairá. Poder ser usada como especulação, investimento ou estratégia de
gerenciamento de risco para contrapor uma posição comprada. O risco de uma venda a
descoberto é relativamente mais alto do que uma operação normal, pois o preço de uma
ação pode subir indefinidamente, em tese, e com isso trazer grande prejuízo ao vendedor.
[←5]
ROGERS, Pablo et al. Finanças comportamentais no Brasil: um estudo comparativo.
Congresso de Contabilidade e Controladoria. In: VII CONGRESSO USP DE
CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 2007, São Paulo.
[←6]
A croupier é alguém nomeado em uma mesa de jogo para ajudar na condução do
mesmo, especialmente na distribuição de apostas e pagamentos. Croupiers são
normalmente empregados por casinos.
[←7]
Trata-se de um ditado famoso no Texas Hold'em (modalidade mais popular de pôquer)
que diz que “se você não sabe quem é o pato na mesa, é porque o pato é você”.
[←8]
Uma trattoria é um estilo italiano de estabelecimento para comer, menos formal do que
um ristorante, mas mais formal do que uma osteria. Geralmente não existem cardápios
impressos, o serviço é informal, o vinho é vendido em jarras ou taças, os preços são
baixos, e a ênfase está em uma clientela fixa.
[←9]
Tag along é um mecanismo de proteção ao acionista minoritário de uma empresa, que
garante o direito de sair da sociedade nos mesmos termos dos novos acionistas
majoritários.
[←10]
As expressões altista (bull market, em inglês) e baixista (bear market, em inglês)
referem-se às tendências ascendente e descendente, respectivamente. Podem estar
relacionadas ao mercado de ações como um todo ou às ações de uma empresa específica
ou commodity.
[←11]
No mercado de ações, são as ações que apresentam as melhores recomendações dos
analistas.
[←12]
Bandeira é um padrão gráfico (figura) da análise técnica que, supostamente, sinaliza a
consolidação dos preços antes da retomada do movimento anterior.
[←13]
Considera-se day trade a operação ou a conjugação de operações iniciadas e encerradas
em um mesmo dia, com o mesmo ativo, em uma mesma instituição intermediadora, em
que a quantidade negociada tenha sido liquidada, total ou parcialmente. Art. 54, §1º, I da
Instrução Normativa RFB nº 1.022, de 5 de abril de 2010.
[←14]
Custo de oportunidade é aquilo que se deixa de ganhar na segunda alternativa por se
escolher a primeira. Um exemplo prático, ao comprar um carro financiado você está
comprometendo uma fatia de sua renda mensalmente por um período. Este recurso
poderia ter outro fim como, investir em uma aplicação de renda fixa. Sempre há uma
escolha envolvida, quando nos referimos a custo de oportunidade.
[←15]
RADWAN, Farouk. Why do people deceive themselves?

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