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FACULDADE DE DIREITO
"Avalie, a partir da leitura do voto do ministro Fachin sobre abuso de poder religioso, no
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 82-85.2016.6.09.0139, e a disponível no
moodle, o desafio propriamente dogmático/interpretativo de se adotar a tese do
abuso de poder religioso em processos eleitorais. Fique livre para dialogar com outros
textos ou discussões do curso que considere pertinentes. Mas dê ênfase aos argumentos
apresentados do voto do ministro Fachin."
Para existir liberdade é preciso que exista escolha, então a sociedade deve ser
pluralista. Porém, o ministro defende que deva existir limites, pois “no panorama do
Estado constitucional, inexistem direitos absolutos, de maneira que a liberdade religiosa,
quer em sua dimensão individual ou institucional, encontra, por certo, limites em outros
direitos fundamentais e na própria dignidade da pessoa humana”. Ou seja, sem diminuir
sua importância, num Estado democrático de direito a religiosidade encontra-se limitada.
Uma expressão popular que resume bem o que o ministro diz em seu voto é “o seu
direito termina onde o direito do outro começa”, pois as interferências das associações
religiosas nos processos eleitorais devem ser observadas com atenção, uma vez que as
igrejas e quem as comandam tem poder sobre os fieis, podendo interferir diretamente na
liberdade e exercício do sufrágio ou até mesmo modificar o equilíbrio entre quem disputa.
Se um candidato é bem quisto por uma igreja x com muitos fieis, o candidato sem apoio
religioso pode sair prejudicado.
O ministro destaca que a Justiça Eleitoral tem como missão zelar e proteger a
legitimidade do voto, além de impedir que qualquer força política possa coagir moral ou
espiritualmente os cidadãos, para que assim seja garantida a plena liberdade de
consciência do eleitor, o verdadeiro protagonista em uma disputa eleitoral democrática.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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Trazendo contexto de outros países, o ministro destaca que msmo aqui no Brasil
as igrejas adentram o rol de fontes vedadas de financiamento privado (art. 24, VIII da Lei
nº 9.504/97), sendo proibida a realização de proselitismo político no interior de templos
de qualquer culto, conforme determina a Lei das Eleições (art. 37, § 4º da Lei nº
9.504/97). E afirma que a exploração política da fé religiosa encontra obstáculo tanto no
âmbito da regulação publicitária (artigo 242 do Código Eleitoral) quanto na regra que
trata da anulação de eleições viciadas pela captação ilícita de votos, “conceito que
engloba, por expressa remissão legislativa, a interferência do poder (econômico e de
autoridade) em desfavor da liberdade do voto (artigo 237 do Código Eleitoral)”.
Entretanto, conforme o ministro sustenta em seu voto (“os direitos subjetivos não
são absolutos e, portanto, não podem ser exercidos arbitrariamente, com qualquer
intenção”), os direitos fundamentais também possuem restrições, principalmente quando
um direito fundamental colide com outro direito fundamental. Nessa seara, o direito de
livre manifestação do pensamento de um religioso que usa de sua posição e poder para
impor sua opinião política, seja de forma explícita ou subliminar, mitiga a liberdade de
escolha daquele fiel que o escuta com muita convicção e irá seguir o que for ordenado,
consequentemente afetando a soberania popular.
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