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1.

IDENTIFICAÇÃO DO(A) PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A)


Nome Completo: Marco Aurélio Rodrigues da Cunha e Cruz
CPF: 665.512.771-87 Telefone: (61)99431-9478 E-mail:mar.cunhaecruz@gmail.com
Área de Conhecimento: Direito | Ciências Sociais Aplicadas | Humanidades
Titulação: Doutor em Direito

2. VÍNCULO DO PROJETO
Área: Ciências Jurídicas
Curso(s): Direito
Grupo(s) de Pesquisa: Proteção das liberdades na Sociedade do Controle

3. DADOS DO PROJETO
TÍTULO: A privacidade como um conceito habilitante: o direito à privacidade nos relatórios do
Painel “The right to privacy in the digital age” do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
A DELIMITAÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA –
“O direito à privacidade pode facilitar o gozo de outros direitos humanos. Igualmente, suas violações restringem o gozo de
outros direitos humanos” (A/HRC/40/63, 2019). É com este argumento que Joseph A. Cannataci, o relator especial do
painel “O direito à privacidade na era digital”, defendeu a privacidade como um conceito habilitante, em 27 de abril de
2019, na quadragésima sessão do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU). Esta conclusão
argumentativa parte de duas premissas que se concretizam quando a privacidade é vulnerada: i) a violação geralmente faz
parte de um sistema que ameaça outras liberdades; ii) a ofensa é realizada por atores estatais ou não estatais para garantir e
manter o poder de controle. Sem embargo, a defesa deste ponto de vista dista muito de ser o produto de um acaso, mas foi
elaborada dentro de um contexto histórico do Conselho de Direitos Humanos.
Como antecedentes, cabe o informe A/HRC/23/40, de 17 de abril de 2013, do Relator Especial (Frank de La Rue) sobre a
Promoção e a Proteção do Direito à Liberdade de Opinião e Expressão, apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da
ONU, que analisou as implicações de vigilância das comunicações dos Estados para o exercício dos direitos à privacidade
e à liberdade de opinião e expressão. O relatório sublinhou a necessidade urgente de se estudar mais as novas modalidades
de vigilância e de rever as leis nacionais que regulavam as práticas em consonância com as normas de direitos humanos
(UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2013).
Em 1º de novembro de 2013, a República Federativa do Brasil e a República Federativa da Alemanha entregaram à
Terceira Comissão da Assembleia Geral da ONU uma proposta de resolução sobre “Direito à Privacidade na Era Digital”,
como reação às denúncias sobre espionagem da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA). Em 18 de
dezembro de 2013 a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução A/RES/68/167 “The right to privacy in the digital
age”, a qual, entre outros, (i) acolheu a recomendação do supracitado informe A/HRC/23/40, de 17 de abril de 2013 do
Relator Especial (Frank de La Rue), (ii) ressaltou que a vigilância e a interceptação ilícitas das comunicações, assim como
a guarda ilícita de dados pessoais, violavam os direitos à privacidade e à liberdade de expressão e poderiam ser contrários
aos preceitos de uma sociedade democrática; (iii) manifestou preocupação sobre os efeitos nefastos que a vigilância e a
interceptação extraterritoriais das comunicações e a guarda de dados pessoais poderiam ter para o exercício e gozo dos
direitos humanos; (iv) reafirmou o direito à privacidade como direito à proteção da lei contra tais ingerências, estabelecido
no artigo 12 da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 e no artigo 17 do Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos de 1966; (v) afirmou que os direitos das pessoas também deveriam estar protegidos na Internet, inclusive o
direito à privacidade; (vi) exortou os Estados a respeitar e proteger o direito à privacidade no contexto das comunicações
digitais; adotar, examinar e estabelecer procedimentos, práticas e legislação para promover medidas que vislumbrassem
cessar as violações; além de solicitar ao Alto Comissariado das Nações Unidas um relatório sobre a proteção e a promoção
do direito à privacidade no contexto da vigilância e interceptação das comunicações digitais e a guarda de dados pessoais
nos planos nacional e internacional para que o examinassem os Estados membros (UNITED NATIONS HUMAN
RIGHTS COUNCIL, 2014a).
Ante tal solicitação, em 27 de março de 2014, o Conselho de Direitos Humanos adotou a decisão A/HRC/DEC/25/117 (25º
período de sessões, em 15 de abril de 2014) que previu a realização de um “Panel Discussion on the right to privacy in the
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digital age” no contexto da vigilância e a interceptação das comunicações digitais e a guarda de dados pessoais nos planos
nacional e internacional, em especial em grande escala, também com o fito de determinar os desafios e melhores práticas
(UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2014b). Foram disciplinadas as regras do aludido “Panel Discussion
on the right to privacy in the digital age” em 12 de setembro de 2014, na 27a Sessão do Conselho de Direitos Humanos,
com a finalidade de que os Estados melhor compreendessem a questão (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS
COUNCIL, 2014c).
Em 18 de dezembro de 2014, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução A/RES/69/166 “The right to privacy in the
digital age” a qual, em linhas gerais, reafirmou e reconheceu o disposto na Resolução A/RES/68/167 além de recomendar
ao Conselho de Direitos Humanos a seguir ativamente promovendo o debate sobre a determinação e esclarecimento de
princípios, normas e melhores práticas relativos à promoção e proteção do direito à privacidade; e decidiu dar
prosseguimento aos trabalhos sobre o assunto (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2015a).
Em 24 de março de 2015, com a A/HRC/28/L.27 o Conselho de Direitos Humanos decidiu nomear, por um período de
três anos, um Relator Especial sobre o direito à privacidade (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2015b).
No dia 3 de julho de 2015, o Professor Joseph A. Cannataci foi nomeado como o primeiro Relator Especial da ONU para o
Direito à Privacidade, por recomendação do Presidente do Conselho de Direitos Humanos, Joachim Ruecker (UNITED
NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2015c).
O Relator Especial da ONU do Panel Discussion on the right to privacy in the digital age apresentou 5 relatórios ao
Conselho de Direitos Humanos (A/HRC/31/64, 2016; A/HRC/34/60, 2017; A/HRC/37/62, 2018; A/HRC/40/63, 2019;
A/HRC/43/52, 2020) e 4 relatórios à Assembleia Geral da ONU (A/71/368, 2016; A/72/43103, 2017; A/73/45712, 2018;
A/74/277, 2019). Ademais, foram anexados 16 documentos que deram suporte à redação destes nove relatórios. No
A/HRC/40/63, 2019 contém o objeto deste projeto de pesquisa: a afirmação da privacidade como um conceito habilitante
(UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2020d), proveniente da interpretação de que a intelecção do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966 (PIDCP) leva à proteção da privacidade ligada à autonomia pessoal: “O
direito de escolher o que, quando, onde e como estar, com quem estar e o que pensar e dizer fazem parte dos direitos
inalienáveis que os países concordaram em proteger no PIDCP”.
Neste sentido, o problema desta pesquisa é: quais são e em que se fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas
elencadas nos relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das
Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante?
OBJETIVOS
O Objetivo Geral é examinar quais são e em que se fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos
relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas
(ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante.
Os Objetivos Específicos são:
1. Relacionar a privacidade dentro do direito internacional dos direitos humanos;
2. Identificar quais são os critérios utilizados pelos relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho
de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU);
3. Avaliar se o argumento da privacidade como um conceito habilitante pode ser aplicável ao contexto brasileiro.
A FORMULAÇÃO DAS QUESTÕES/HIPÓTESES (opcional)
1. Quais são as disposições normativas da privacidade dentro do direito internacional dos direitos humanos?
2. Quais são os critérios utilizados pelos 4 relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho
de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU)?
3. O argumento da privacidade como um conceito habilitante é aplicável ao contexto brasileiro?
REVISÃO DE LITERATURA
A Constituição Federal de 1988 incluiu a inviolabilidade da intimidade e da vida privada (art. 5º, inc. X) no rol de direitos
e garantias fundamentais, como cláusula constitucional pétrea (art. 60, § 4º, IV). A interpretação desta proteção
constitucional pela dogmática brasileira figurou, inicialmente, nos diferentes termos “intimidade” e “vida privada”. Luis
Alberto David Araújo (1996, p. 37) optou por considerar as expressões vida privada e intimidade como sinônimas, assim
como Pedro Frederico Caldas (1997, p. 43), que adotou a expressão “vida privada”, de maior alcance. Este também foi o
entendimento de Gianotti (1987, p. 59), para quem as expressões são sinônimas e relacionam-se a um direito da
personalidade.
Para José Adércio Leite Sampaio (1998, p. 244), a distinção dos conceitos está na amplitude do círculo de conhecimento

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de determinada informação. Assim, fato íntimo é aquele cujo conhecimento está destinado a um pequeno grupo de
pessoas, por outro lado, fato privado é o que ultrapassa tais divisas, contudo não explícito ao público em geral. Sérgio
Cavalieri Filho (1995, p. 36) considerou a “privacidade” como o direito de estar só, de possuir a liberdade para tomar
decisões na esfera da intimidade bem como para que determinados aspectos da vida privada não cheguem ao conhecimento
de terceiros, tais como confidências, hábitos pessoais, relações familiares, vida amorosa, saúde física ou mental, entre
outros. Tal proteção resulta do argumento de que a humanidade sente a imprescindibilidade de proteger certos fatos
particulares ocorridos na vida familiar. Tais fatos não devem transpor essa esfera familiar, haja vista o risco de possibilitar
transtornos bem como ameaçar a liberdade individual (BITTAR, 1995, p. 10).
É imperioso ressaltar que a palavra “privacidade” é mais recorrente na dogmática brasileira, talvez pela influência da
privacy, cujo ponto de partida para as reflexões anglo-saxãs do direito à privacidade decorrem do artigo The Right to
Privacy, de Dennis Warren e Louis Dembitz Brandeis na revista Harvard Law Review em 1890 (WARREN; BRANDEIS,
1890). Nas palavras de Branco (2000, p. 167), a “privacidade” tem por objeto comportamentos e fatos ligados aos
relacionamentos pessoais em geral – relações comerciais e profissionais – os quais não têm interesse que o público em
geral tenha conhecimento. Já o direito à intimidade teria por escopo a proteção de fatos de foro mais íntimo, ou seja,
aqueles que envolvem relações familiares e amizades próximas.
Com a obra “O direito de estar só”, Paulo José da Costa Junior (2004, p. 36) aduziu que o direito à privacidade seria
gênero do qual a intimidade seria espécie. Tal distinção, segundo o autor, dar-se-ia em decorrência da doutrina alemã das
três esferas concêntricas (Teoria das esferas – Sphärentheorie), a qual distingue privacidade, intimidade e segredo em:
Privatsphäre, Intimisphäre e Geheimsphäre (COSTA JUNIOR, 2004, p. 37). Esta teoria é uma das mais citadas pela
doutrina brasileira. Pauta-se no fato de que a sociabilidade de cada indivíduo é limitadora da liberdade individual. A
proteção jurídica da personalidade deve ser inversamente, portanto, proporcional à sociabilidade do seu comportamento
em questão (SAMPAIO, 1998, p. 254). Na esfera de maior extensão está a Privatsphäre, ou seja, a privacidade: por meio
desta segurança, o titular tem o direito de restringir ao conhecimento dos demais, fatos e comportamentos de sua vida
particular, os quais ainda assim não revelam aspectos extremamente reservados da sua vida pessoal e sua personalidade. A
Intimisphäre (intimidade), esfera intermediária, é mais restrita, permite a exclusão de fatos mais sensíveis do indivíduo
(vida sexual, política, religiosa, por exemplo) do conhecimento dos demais. Seriam aquelas informações compartilhadas
somente com as pessoas a quem se outorga confiança, excluindo-se o público em geral. Por fim, a Geheimsphäre, ou
esfera do segredo – a esfera central - seria a intimidade em sentido estrito, relacionada às informações ou sentimentos não
compartilhados com ninguém ou somente com amigos muito próximos (COSTA JUNIOR, 2004, p. 38). Costa Junior
(2004, p. 37) ressalta que a Intimisphäre (intimidade) contempla as relações mais íntimas, mas não secretas, nas quais se
mantém uma reserva mais protegida. Não há necessidade de conhecimento de outrem e nem sequer a divulgação de
determinados acontecimentos da vida. (SZANIAWSKI, 2005, p. 358).
A Teoria das Esferas resultou indubitavelmente útil desde o momento que permitiu realizar uma orientação por parâmetros
e critérios, indicando as possibilidades de resoluções de casos conflitivos. Todavia, a vulnerabilidade desta teoria reside na
indivisibilidade de uma linha nítida entre as esferas (MEDINA GUERRERO, 1996, p. 14-18; LEONARDI, 2011, p. 60).
Além disso, a rigidez conceitual da tese das esferas não permite responder a uma variada série de casos que a tutela da
intimidade pode suscitar, pois somente se conceituam a posteriori os resultados a que se pode chegar por outras vias
argumentativas (MIRANDA; MEDEIROS, 2005, p. 290; LEONARDI, 2011, p. 60).
Szaniawski (2005, p. 358) admite que é complexo diferenciar vida privada de intimidade, haja vista serem aspectos
subjetivos bem como serem passíveis de mutações em decorrência das influências culturais, religiosas, políticas. Não sem
razão Marcel Leonardi (2011, p. 51) observa que as várias das tentativas em estabelecer um conceito unívoco de
privacidade se sustentam no método tradicional da definição per genus et differentiam, que acolhe ou refuta as hipóteses
conceituais conforme sua lógica, coerência e consistência. Denuncia que a problematização deste procedimento conduz a
conceitos ora extremadamente restritivos, ora abusivamente abrangentes. Propõe, portanto, um conceito plural de
privacidade, baseado em José Afonso da Silva e Stéfano Rodotà. Para Rodotà (2008, p. 109) há de se prevalecer uma
concepção que se vocacione no “direito manter o controle sobre as próprias informações e de determinar as modalidades
de construção da própria esfera privada. O objeto deste direito pode ser identificado no ‘patrimônio informativo atual ou
potencial’ de um sujeito”. Sobre este conceito, também adotado por Danilo Doneda (2006, p. 147), lê-se que a informação

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exsurge como mediadora entre a vida privada e o livre desenvolvimento da personalidade.
É inexorável, portanto, reconhecer que há dificuldade de delimitar e conceituar tais termos: vida privada (privacidade) e
intimidade neste contexto da sociedade informacional (CASTELLS, 2003, p. 57). Uma dificuldade conceitual que,
enfatiza-se, não pode propiciar uma insuficiência protetiva de tais bens da personalidade (LENOARDI, 2011; CUNHA E
CRUZ, 2012). De fato, o dinamismo que o ser humano tem como característica ínsita à sua personalidade faz que não se
possam estabelecer linhas insuperáveis ou graus rígidos/fixos da intimidade do indivíduo, dificultando, é verdade, o
estabelecimento de um conceito inflexível. As pessoas, dada sua individualidade, podem ser mais ou menos
comunicativas, introvertidas ou extrovertidas, estabelecendo todas elas um rito para preservar sua intimidade. Por isso,
ganhou protagonismo a “concepção subjetiva/dinâmica de intimidade”, que entende que a proteção jurídica dada a tal bem
da personalidade não garante uma intimidade determinada, estática, fixa: garante-se o direito a possuí-la (CUNHA E
CRUZ, 2012).
Neste sentido, faculta-se o direito sobre a publicidade da informação relativa ao círculo reservado da pessoa e sua família,
com independência daquilo que se deseja manter ao abrigo do conhecimento público. Na vigência desta concepção
dinâmica de intimidade, o conteúdo parece, inicialmente, determinado pela própria pessoa (imanência) e, em segunda
instância, pelas circunstâncias concorrentes em cada caso: o valor cultural, histórico, econômico, político e social
(transcendência) (GARCÍA GARCÍA; GARCÍA GOMEZ, 1994, p. 25; CUNHA E CRUZ, 2012, p. 13324-13354). A
volatilidade do bem jurídico, isto é, a mutabilidade do seu conteúdo e a influência do contexto sociocultural, fez com que
perdesse força, por certo, a eficácia do critério espacial (ratione loci) para definir o que é intimidade, pois quando o
indivíduo abandona seu domicílio, o direito à intimidade “o segue”, seja qual for o âmbito em que se desenvolva. Além
disso, com a Internet e, conseguintemente, com as variadas formas de acessibilidade móvel à rede, o titular pode
resguardar ou ser afetado na sua vida privada ou intimidade ao se conectar à rede, argumento que reforça a superação do
critério ratione loci para se definir os conceitos de tais bens jurídicos (desterritorialização).
É certo, sublinha-se, que uma definição unitária da intimidade resulta praticamente impossível, pois não obstante as
distintas denominações adaptadas aos países (a privacy anglosaxã, a vie privée francesa, a riservatezza italiana, a
intimpshäre alemã), a intimidade como descrito, evolui historicamente (GARRIDO GÓMEZ, 1997; PÉREZ LUÑO, 2005;
DONEDA, 2006; RODOTÀ, 2008; LEONARDI, 2011). Contudo, urge ponderar que “vida privada” e “intimidade” não
são expressões sinônimas, porque o íntimo é mais interno que o privado. Do latim intimus, intimidade é o mais recôndito,
in eo sagrario intimo, o interior, o profundo, de confiança. Secreto provém de secerno, separado, apartado, distante, é
dizer, a pessoa distancia os estranhos de sua intimidade. Também se extraiu o termo intimidade das expressões do latim
intima amicitia (amizade íntima), é dizer, o íntimo não se deve divulgar sem o consentimento da pessoa. Privar é sinônimo
de segregar, referindo-se ambos a separar. Por isso, há contato entre separado, secreto e sigiloso. Sem embargo,
usualmente ambos termos se distinguem: o secreto/sigiloso reforça o valor do privado, pois secreto/sigiloso é aquilo que se
esconde, e privado o que não se quer dar publicidade (CUNHA E CRUZ, 2012).
No âmbito jurídico, é comum a utilização da palavra reserva, e assim, em italiano se utiliza a expressão diritto alla
riservatezza (HERRERO-TEJEDOR, 1994, p. 74). Nada obstante, entre reservado e privado há uma diferença: pode-se
viver privadamente sem necessariamente ser reservado; a reserva é mais uma disposição do ânimo que um modo exterior
de viver (CUNHA E CRUZ, 2012, p. 13324-13354). A intimidade reclama, portanto, um maior grau de reserva e chega ao
seu extremo quando se trata de um segredo (CABEZUELO ARENAS, 1998, p. 40).
Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, um dos julgados mais representativos foi o da ADI 4815, que debateu a
interpretação dos artigos 20 e 21 do Código Civil sobre a inexigibilidade do consentimento de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, em que a relatora Min. Carmen Lúcia afirma que a
Constituição de 1988 “Também garante a inviolabilidade da intimidade (a essência resguardada de cada um), da
privacidade (o que não se pretende viver senão no espaço mais recolhido daqueles com quem recai a escolha)” para
concluir que “Hoje, a dificuldade em ser deixado em paz, respeitado o desejo de ficar só com os seus dados, controlando o
que quer, pretende e aceita seja posto a público, ou, na fórmula camoniana, ser deixada posta em sossego, esbarra na quase
ganância pelos dados que circulam, como fatos, fotos, versões e até inversões sem controle” (p. 103).
Ao teor do exposto, urge concluir que apesar das variáveis semânticas é induvidosa a juridicidade da inviolabilidade da
intimidade e da vida privada como direito fundamental. Neste projeto se adotará o conceito “privacidade”, aceito pela

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dogmática, para abranger esta proteção (“vida privada” e “intimidade”), textualmente previsto na Constituição de 1988 no
inciso III do art. 1º (dignidade da pessoa humana); no inciso X do artigo 5º (inviolabilidade moral); no inciso XI do artigo
5º (inviolabilidade do domicílio); no inciso XII do artigo 5º (inviolabilidade do sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas); no inciso LX do artigo 5º (restrição da publicidade
dos atos processuais c/c inciso IX, art. 93) e no inciso LXXII do artigo 5º (habeas data). A partir desta interpretação
sistemática, é possível constatar que a privacidade está relacionada ao modo de ser e de viver do indivíduo bem como na
faculdade que cada pessoa tem de obstar o acesso à sua vida privada, íntima, familiar (MIRANDA, 1996, p. 81) e também
controlar o acesso de suas informações e dados pessoais. Compõem o âmbito de proteção do direito à privacidade,
portanto, manter o controle sobre as próprias informações e determinar as modalidades de construção da própria esfera
privada.
Sem embargo, este conteúdo protetivo constitucional não pode ser lido sem a sua conjugação com o artigo 17 do PIDCP,
dispositivo textual com status hierárquico-normativo infraconstitucional e supralegal: “1. Ninguém poderá ser objetivo de
ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem
de ofensas ilegais às suas honra e reputação. 2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou
ofensas. O PICDP foi internalizado pelo Decreto no 592, de 6 de Julho de 1992. Em 3 de dezembro de 2008, no julgamento
do Recurso Extraordinário 466.343 [rel. min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar Mendes, j. 3-12-2008, P, DJE de 5-6-
2009] o Supremo Tribunal Federal atribuiu aos diplomas internacionais sobre direitos humanos “um lugar específico no
ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal
dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão”.
A interpretação jurídica do artigo 17 do PIDCP foi o principal fundamento que conduziu Joseph A. Cannataci, o relator
especial do painel “O direito à privacidade na era digital”, a defender a privacidade como um conceito habilitante “O
direito de escolher o que, quando, onde e como estar, com quem estar e o que pensar e dizer fazem parte dos direitos
inalienáveis que os países concordaram em proteger no PIDCP” (UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL,
2020d).
Há, portanto, duas razões que justificam a relevância científica desta pesquisa: a hierárquico-normativa e a dogmática. A
razão hierárquico-normativa se fundamenta no status normativo supralegal/infraconstitucional do dispositivo do artigo 17
do aludido Pacto Internacional de Direitos Humanos subscrito pelo Brasil, o que torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante [Recurso Extraordinário 466.343 rel. min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar
Mendes, j. 3-12-2008, P, DJE de 5-6-2009]. A razão dogmática se desvela com o exame de quais são e em que se
fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos relatórios do painel “O direito à privacidade na era
digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade
como um conceito habilitante, o qual, em pesquisa bibliográfica preliminar, não foi enfrentado pela dogmática de direitos
fundamentais brasileira.

MÉTODO
Os métodos científicos pressupõem ao menos uma das formas de organização do raciocínio (ordenado, coerente e lógico)
que poderá ser empregada na pesquisa. A partir delas pode-se optar pelo alcance de sua investigação, pelas premissas que
explicarão os fatos, os objetos, e pela validade de suas generalizações, com o fito de que os resultados atinjam seus efeitos
(extensão) no maior número de pessoas (auditório) no seu tempo (temporalidade). Com estas características, a pesquisa
científica logra confiança, validade e eficácia. A presente pesquisa terá como ponto de partida a dogmática jurídica. Em
Teoria dos Direitos Fundamentais (2012) e em Teoria da Argumentação Jurídica (2013), Robert Alexy destaca a
pluridimensionalidade da dogmática jurídica e a relevância de três dimensões. Para ele, a dogmática jurídica pode ser
conectada com a tentativa de se oportunizar uma resposta racionalmente fundamentada a questões que foram deixadas em
aberto pelo texto normativo. Disso decorre, pois, que a dogmática jurídica se confronta com o problema da possibilidade
de fundamentação racional dos juízos de valor. Para Alexy (2012), portanto, a ciência do direito, em sentido estrito e
próprio, pode ser incluída no conceito de uma teoria dogmática a partir de uma tripatição de dimensões: a analítica, a
empírica e a normativa.
Com a analítica se desenvolve uma “dissecação sistemático-conceitual do direito vigente”, com o exame de conceitos
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elementares, a sua construção jurídica, a estrutura do sistema jurídico e a fundamentação no âmbito dos direitos
fundamentais (ALEXY, 2012, p. 34). A dimensão empírica parte, em síntese, da cognição do direito positivo e da
aplicação das premissas na argumentação jurídica; com a descrição e o prognóstico da práxis jurisprudencial e com a
efetividade, na medida que tal premissa (a efetividade) pressupor condição para a validade do direito. A dimensão
normativa visa a elucidação e a crítica da práxis jurídica (lei e jurisprudência) para saber qual a decisão correta em um caso
concreto e se depara, portanto, com o problema da fundamentação.
Apesar de ter em mente que a combinação dessas três dimensões são imprescindíveis para a construção racional da
dogmatica jurídica dos direitos fundamentais, este projeto dará ênfase à primeira dimensão: a analítica. A despeito de
comentar sobre a controvérsia do peso da dimensão analítica, quando entremeada com as dimensões empírica e normativa,
e do método jurídico empregado no tratamento lógico do Direito, Alexy (2012) afirma que a Ciência do Direito tem de
adimplir sua tarefa prática sendo uma disciplina multidimensional, não reduzindo a dogmática jurídica. Entretanto, observa
que sem a clareza analítica não seria possível a interação entre as três dimensões.
Com efeito, Alexy ressalta a importância da dimensão analítica, pois admite que “Clareza conceitual, ausência de
contradição e coerência são pressupostos da racionalidade de todas as ciências” (ALEY, 2012, p. 38). Por isso que a sua
proposta de teoria estrutural de direitos fundamentais é, inicialmente, uma teoria analítica, e qualifica a designação e a
prática da análise sistemático-conceitual do direito como opus proprium da Ciência do Direito (ALEXY, 2012, p. 48).
Além disso, defende que somente quando há no ponto de partida uma completa compreensão dos conceitos jurídicos “se
pode revelar o verdadeiro sistema do Direito, a união interna de suas proposições” (ALEXY, 2013, p. 249).
A opção da dimensão analítica de abordagem do direito à privacidade como linha condutora se justifica pelo propósito do
problema pesquisa, que é identificar quais são e em que se fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas
elencadas nos relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das
Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante. Esta “dissecação
sistemático-conceitual” constituirá repertório para a Linha “Direitos Humanos, Novas Tecnologias e Privacidade” do
Grupo de Pesquisa “Proteção das Liberdades na Sociedade o Controle” do Programa de Pós-Graduação em Direito da
Unoesc (PPGD). Se não ofertadas a clareza conceitual, a ausência de contradição e a coerência do direito à privacidade,
vários outros problemas sistemático-conceituais, que servem de base e estrutura para a racionalidade do caráter prático da
Ciência do Direito, podem se tornar um entrave para a dogmática jurídica. Isso porque “(1) a análise lógica dos conceitos
jurídicos, (2) a recondução desta análise a um sistema, e (3) a aplicação dos resultados desta análise na fundamentação das
decisões jurídicas” compõem as três tarefas da dogmática (ALEXY, 2013, p. 249). Se não há uma clareza conceitual, é de
se indagar se haverá clareza na fundamentação do âmbito de proteção, das restrições, do núcleo/conteúdo essencial, do
suporte fático, do sopesamento e da extensão do controle jurisdicional quando envolvido o direito à privacidade.
Ademais, é certo que a argumentação no âmbito dos direitos fundamentais não pode se furtar da análise do texto, do
precedente e da dogmática (ALEXY, 2012). Para a condução da presente pesquisa científica, portanto, as seguintes
estratégias de pesquisa serão utilizadas:
(i) Pesquisa bibliográfica: como pressuposto indispensável deste projeto de pesquisa, o primeiro trimestre será
dedicado a um levantamento bibliográfico suficiente e de qualidade para se aproximar dos problemas sobre o conceito
“privacidade” a partir do referencial teórico. Haverá o fichamento, catalogação e compilação do “estado da arte” deste
conceito na literatura científica autorizada. A pesquisa bibliográfica e esta perspectiva qualitativa; de compreensão de
ideias, de identificação de sua natureza, privilegiando os contextos; concederão o subsídio teórico para uma avaliação do
alcance e das características dos elementos configuradores de tal conceito, o qual poderá ser contrastado como decisivo
para o exame das categorias de análise;
(ii) Pesquisa documental: no segundo trimestre, a pesquisa terá como objetivo a depuração conceitual de privacidade
a partir dos paradigmas de direitos humanos e direitos fundamentais elencados nas discussões no painel “The right to
privacy in the digital age” da ONU, tendo como recorte de alcance a área temática: “(1) A better understanding of
Privacy”. A proposta é que esta área temática seja examinada em três meses a partir de um trabalho descritivo das
discussões sobre o objeto da investigação, e que identificará, com maior grau de correção possível, o estágio de
desenvolvimento e quais são e em que se fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos relatórios
do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU) que

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sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante, assegurando a confiabilidade dos resultados. A
eleição de tal área temática não obsta a coleta secundária de dados e de normas que contribuam para o desenvolvimento do
projeto e para a análise dos dados/documentos/informações coletados.
(iii) Análise das decisões judiciais: o terceiro trimestre enfatizará quais são as decisões judiciais que foram utilizadas
como fundamentos para os relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos
das Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante.
As categorias de análise serão determinadas a partir das suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos relatórios do
mencionado painel “O direito à privacidade na era digital”. Para o exame destas, contudo, é imprescindível:
1) Fase de prévia exploração do material ou de leituras iniciais do corpus (entendido como material de estudo).
Selecionado o corpus a ser analisado, procede-se às leituras preliminares de todo o material, com o intuito de apreender e
organizar de forma ainda não estruturada aspectos importantes para as próximas fases da análise. Com este tipo de leitura
toma-se contato com os documentos a serem analisados, conhece-se o contexto e deixa-se fluir impressões e orientações.
São empreendidas várias leituras prefaciais de todo o material coletado, a princípio sem compromisso objetivo de
sistematização, mas sim com a finalidade de compreender de uma forma geral as ideias principais e os seus significados
gerais.
2) A seleção das unidades de análise (ou unidades de significados). Uma das mais básicas e importantes decisões para a
pesquisa é a seleção das unidades de análise. Nos estudos qualitativos, as orientações se voltam pelas questões de pesquisa
que necessitam ser respondidas. Mais frequentemente, as unidades de análises incluem palavras, sentenças, frases. O tema
é vislumbrado através dos objetivos da pesquisa e os indícios/evidências levantados do seu contato com o material
estudado e teorias embasadoras, classificadas antes de tudo por uma sequência, tendo dimensão variável e podendo
abranger ou aludir a vários outros temas.
3) Processo de categorização e sub-categorização. É um procedimento de classificação de elementos constitutivos de um
conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero e importância. Cuida-se aqui da atenção
quanto aos objetivos da pesquisa e criação de instrumentos que resultarão da caracterização de categorias como grandes
enunciados sobre o direito à privacidade, onde, por conseguinte, abarcarão um número variável de temas, segundo um grau
de proximidade, que exprimirão significados e elaborações importantes.
Nesta pesquisa as categorias de análise serão feitas a partir (1) do referencial teórico (2) dos paradigmas de direitos
humanos e direitos fundamentais elencados nas discussões no painel “The right to privacy in the digital age” da ONU. O
evidenciamento das unidades de análise temáticas no corpus se completará com o estudo bibliográfico, que detalhará qual
o alcance e quais as características são manejadas para conceituar privacidade e quais as (3) decisões utilizadas como
fundamento conceitual. A problemática teórica pode, no decorrer da investigação, criar novos instrumentos susceptíveis,
os quais, por sua vez, podem favorecer novas interpretações quando realizados os procedimentos de leituras sistemáticas -
mas não ainda sistematizadas. Muitas vezes uma passagem do corpo teórico (hipóteses, resultados, conclusões) se
enriquece ou se transforma progressivamente de acordo com as técnicas que se aperfeiçoam pouco a pouco (com a
resposta às unidades de análise). A abordagem das categorias de análise se realizará a partir das seguintes formas
complementares:
A) Em um primeiro momento, o estudo bibliográfico indicará as palavras de referência conceitual recorrentes, ou os
termos-chave que se repetem, que são utilizadas para se expressar no referencial teórico os conceitos de privacidade. Neste
sentido, serão, pois, categorizados os enunciados que se aproximam do conceito aludido e que balizarão os partícipes no
projeto para classificar diretamente suas unidades de análise dentro destas categorias preferenciais. Para esta pesquisa, as
seguintes categorias de análise serão cotejadas com os relatórios (pesquisa documental) e com a literatura científica
(pesquisa bibliográfica): (a) paradigmas normativos; (b) primordial fundamentação; (c) os argumentos e princípios
utilizados para a formulação e configuração do conceito; (d) os principais autores citados para fundamentar o conceito; (e)
as decisões judiciais utilizadas e de quais países; (f) os documentos/notas técnicas que os relatórios utilizam; (g) quais/qual
bem jurídico o conceito protege juridicamente.
B) A categorização das unidades de análise envolverá duas modalidades documentais: (i) as discussões do painel
“The right to privacy in the digital age” na área temática: “(1) A better understanding of Privacy”; e (ii) as decisões
judiciais que foram utilizadas como fundamentos para os relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do

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Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um
conceito habilitante. Nesta etapa haverá o processo de categorização e sub-categorização.
As implicações deste itinerário metodológico comportarão, indisputavelmente, uma análise qualitativa (conceitual) das
informações, permitindo aos partícipes do projeto alcançarem o principal o objetivo proposto: examinar quais são e em que
se fundamentam as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos relatórios do painel “O direito à privacidade na
era digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade
como um conceito habilitante. A partir delas, vislumbrar-se-á o alcance conceitual da investigação, pelas premissas que
explicarão o argumento da privacidade como um conceito habilitante e pela validade de suas generalizações, para avaliar
se os resultados podem ou não surtir seus efeitos (extensão) no maior número de pessoas (auditório) no seu tempo
(temporalidade).
RESULTADO(S) ESPERADO(S)
A importância teórica dos resultados esperados do projeto pode ser defendida sob três argumentos: um dogmático, um
pragmático e um zetético analítico aplicado.
O argumento dogmático se volta para a adequada hermenêutica jurídica do artigo 17 do PIDCP, com a sua recondução ao
sistema jurídico do direito internacional dos direitos humanos. A intenção de se investigar esta articulação conceitual
poderá oferecer respostas sobre uma interpretação coerente e consistente do aludido dispositivo normativo que protege o
direito à privacidade, conceito eivado de indiscutível dinamismo.
O argumento pragmático é que ao se catalogar, compilar e sistematizar as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas
nos relatórios do painel “O direito à privacidade na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações
Unidas (ONU) que sustentam o argumento da privacidade como um conceito habilitante, os partícipes do projeto poderão
formular um juízo de valor sobre qual é o direcionamento deste conceito desenvolvido pelo Conselho de Direitos Humanos
das Organizações Unidas (ONU).
O argumento zetético analítico aplicado, ainda que não seja o objetivo geral/principal deste projeto, dá-se pela perspectiva
da construção da articulação entre privacidade e a perspectiva da extensão dos efeitos do seu “conceito habilitante” aos
países signatários do PIDCP. Em pesquisa preliminar, não foi encontrado nenhum texto científico que fizesse a conexão
entre a privacidade e as suposições conceituais e/ou empíricas elencadas nos relatórios do painel “O direito à privacidade
na era digital” do Conselho de Direitos Humanos das Organizações Unidas (ONU) que sustentam o argumento da
privacidade como um conceito habilitante. Pelo argumento zetético analítico aplicado, poder-se-á questionar se o aludido
argumento é consistente para de influenciar, condicionar e transformar a concepção de privacidade do sistema jurídico do
direito internacional dos direitos humanos.
As metas esperadas se voltam para:
1) o reforço da aderência dos resultados da pesquisa com a Área de Concentração (Direitos Fundamentais), com a Linha de
Pesquisa de Direitos Fundamentais Civis e com o Grupo de Pesquisa “Proteção das Liberdades na Sociedade do Controle”.
2) o acréscimo qualitativo da abordagem epistemológica do discente-bolsista;
3) a elevação ou iniciação da produção intelectual/bibliográfica do discente-bolsista com este Projeto de Iniciação
Científica.

CRONOGRAMA DO PROJETO E PLANO DE TRABALHO DO BOLSISTA


A
N
O
L
P

ATIVIDADES Ago. Set. Out Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio. Jun. Jul.

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Preparação da pesquisa x
Contato com o orientador x x x x x x x x x x x

Pesquisa bibliográfica x x x x
COLETA

Pesquisa documental x x x x x x x x x
DADOS

Contato com o orientador x x x x x x x x x x x

Análise crítica de dados x x x x


Plano definitivo x x
ANÁLISE

Confirmação do plano x
Contato com o orientador x x x x x
Revisão da documentação e x x
do plano
Redação provisória x x x x x
REDAÇÃO

Redação definitiva x x
Contato com o orientador x x x x x x x

Revisão do texto x x
Correções x
Revisão da parte x x x
REVISÃO

Metodológica
Correções x x x
Contato com o orientador x x x x x
Submissão do texto x
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APÊNDICES/ANEXOS (caso haja)

4. OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES

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