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FACULDADE CAPITAL FEDERAL - FECAF

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
PARA A VIDA

TABOÃO DA SERRA – SP
2023
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
PARA A VIDA

LUCIANA GOMES DA SILVA 21497


ALINE NOVAES DOS SANTOS 24666
ELIZANIA DA SILVA ARAUJO 40683
LENEKLE LIMA RODRIGUES 21378
FERNANDA TEIXEIRA AYRES DE OLIVEIRA 34594

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito para a obtenção do título de Pedagogia
Universidade Capital Federal – Taboão da Serra
Tutora: Professora Alice da Silva Prado

TABOÃO DA SERRA – SP
2023
AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente aos nossos colegas de classe que deram duro por esse
trabalho, aos nossos professores da faculdade Capital Federal, em especial a nossa tutora
Alice da Silva Prado que nos ajudaram na conclusão dessa jornada, em especial nossa
professora de estagio Jane Nogueira que praticamente pegou na nossa mão nos momentos
que mais precisamos, não podemos esquecer da nossa querida coordenadora Rosangela
que foi nosso pilar em toda nossa trajetória
Fazer pedagogia nos tornou melhores, nos ensinou grandes lições de vida, sem
todos esses trabalhos, estudos de caso, provas, não chegaríamos tão longe, talvez depois
da daqui seguiremos caminhos destintos, e poderemos nos encontrar novamente, onde
quer que estejamos, na escola ou em casa, construindo Didática, lembraremos desse
momento, alguns terão vivencias em sala, outros vão ganhar na loteria quem sabe, só sei
que formar grandes professores é um trabalho árduo, não para nunca, sempre
precisaremos estudar mais depois de formados, nos atualizar, porem o que mais importa
é que seremos mediador sempre, para toda vida.
RESUMO

Esse trabalho de pesquisa visa analisar e questionar como alfabetizar e letrar de


forma significativa, inovadora e para a vida, nessa bibliográfica das teorias pedagógicas
como Manacorda, Paulo Freire, Maria Montessori, Emilia Ferreiro, Comenius, e etc,
concluímos que para uma Alfabetização e Letramento para a Vida é necessária a
valorização do educando, dando tempo para aprender e guia-lo como mediador seu
caminho, o uso de ferramentas de auxílio a esse processo como metodologias, a
Ludicidade Teatro, Música, Arte e novas Tecnologias que ajudam a melhoria do
andamento desse processo.

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 9
1.1 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA 9
1.2 PSICOMOTRICIDADE, AUTONOMIA E EDUCAÇÃO 12
1.3 O AGENTE TRANSFORMADOR DA REALIDADE 14
1.4 DIDÁTICA PARA A CIDADANIA E PARA A VIDA 16
1.5 HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 17
1.5.1 PRÉ HISTÓRIA 17
1.5.2 IDADE ANTIGA 18
1.5.3 A PEDAGOGIA DE JESUS CRISTO 21
1.5.4 MEDIEVAL E RENASCENTISTA 22
1.5.5 MODERNA E ILUMINISTA 23
1.5.6 BRASILEIRA E CONTEMPORÂNEA 23
1.6 IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO ALFALETRAR 24
1.7 ARTE, MÚSICA E INCLUSÃO 26
1.8 TECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO
EDUCACIONAL 27
1.8.1 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO PARA EDUCAÇÃO 27
1.8.2 REALIDADE VIRTUAL 28
1.8.3 GAMEFICATION 29

2. MÉTODO 31
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36
INTRODUÇÃO

Alfabetização e letramento é algo fundamental para se entender o sistema atual da


Educação, pois a forma como é tratada a decodificação dos simbolos de um sistema
alfabético e seu uso social é responsável pelo indice de analfabetismo e os atuais níveis
de qualidade do ensino, muitas vezes visto apenas como o ato de saber ler e escrever,
esquecendo de levar em consideração a bagagem cultural do educando, ainda conteudista,
lembrando somente da escrita e da leitura além da compreensão de textos e uso da lingua
em geral e visando o mercado de trabalho, não a vida, esquecem o quão habilidoso a
criança pode ser, não se considera a habilidade motora, cultural e muito menos a
individualidade do estudante, seu tempo de aprender, em geral sua competências, e
levantam apensa critérios técnicos, avaliativos e quantitativos.
Podemos agora refletir, discutir e apontar diversas formas de ensinar através de
diversos recursos como o uso da Tecnologia, do sistema de jogos e games por exemplo,
da importância de ter a Ludicidade em sala de aula, usar isso como recursos pode facilitar
esse processo, porem antes de tudo entender a história do estudante, além de considerar
todas as suas características, contexto e aprendizado num todo e a torna-lo questionador
de sua realidade, cidadão e agente de transformador.
Maria Montessori Emilia Ferreiro levantam um significado interessante da
Alfabetização e Letramento, Paulo Freire trás em seus livros formas se tornar um agente
transformador da realidade, a Didática Magna de Comenius busca compreender o
processo educacional o chamado “ensinar tudo a todos”, Kishimoto trás a ideia da
importância do Jogo, Brinquedo e Brincadeira para o desenvolvimento neuropsicomotor
da criança e na História da Educação por Manacorda.
Será utilizada a metodologia qualitativa através da pesquisa bibliográfica de livros
como Didática Magna de Comenius, História da Educação de Mário Alighiero
Manacorda, A Importância do Ato de Ler de Paulo Freire, Psicogênese da Língua Escrita
e Reflexões sobre Alfabetização de Emilia Ferreiro, além de diversos textos, teses, artigos
sobre estes temas, as novas propostas de Alfabetização e Letramento e sobre Tecnologias
da Educação.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Psicogênese da Língua Escrita – Emília Ferreiro

A Psicogênese da Lingua escrita é um processo descrito por Emília Ferreiro e Ana


Teberosky baseado nas pesquisas de Jean Piaget e ao observar todo o ciclo de
desenvolvimento da escrita e leitura em crianças, nele são analisados os processos
cognitivos, socioculturais e psicomotores, de desenvolvimento do estudante em sua
trajetória de aprendizagem, o domínio da língua escrita. Emília Ferreiro no Livro
“Reflexões sobre Alfabetização” descreve um pouco desse processo:
Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou
deveria escrever certo conjunto de palavras, está oferecendo um
valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para ser
avaliado. Aprender a lê-las, interpretá-las é um longo
aprendizado que requer uma atitude teórica definida.
(FERREIRO, 1993)

Trazendo a luz sobre a Escola Tradicional, Ferreiro(1999) diz que “A escola reduz
a criança a um par de olhos e orelhas”, sendo o professor o detentor do conhecimento e a
criança de forma passiva, apenas como aquele que ouve e observa, não olha a criança em
sua totalidade, desde seus aspectos de desenvolvimento, cognitivo, neuropsicomotor e
sociocultural, a ausência do papel da criança no processo diversas habilidades e
capacidades, além de ter conhecimentos prévios e uma visão da escrita e do seu meio
antes da escolarização, quanto a isto Ferreiro diz:
“A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a
qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos
ouvidos que escutam, há uma criança que pensa.” (FERREIRO,
Emília, 1993)

A escola reflete a desigualdade social e é comum a criança pobre “fracassar” e a


escola a culpar dizendo que não tem prontidão para alfabetizar ou possui algum deficit
cognitivo. Ferreiro e Teberoski mostram que a classe social não indica que são menos
capazes e estas não possuem deficits cognitivos, pois crianças de todas as classes sociais
possuem percepções e hipoteses prévias sobre a escrita, apropriam-se e reconstroem o
Sistema Alfabético, ou seja reinventam, o que segundo Ferreiro “Os caminhos dessa
reconstrução são os mesmos para todas as crianças, de qualquer classe social” a diferença

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é que a de classe média chega na escola quase alfabética e a pobre com hipóteses
primitivas e o processo de Alfabetização é longo para ambas. Esta postura da Escola
Tradicional prejudica a criança, pois segundo Ferreiro(1999):
“Um dos maiores danos que se pode causar a uma criança é levá-la
a perder a confiança na sua própria capacidade de pensar.”
(FERREIRO, Emilia. 1999)
A escola precisa criar ambiente alfabetizador para que possam ter as mesmas
possibilidades e respeite estas crianças como sujeitos “cognoscentes”, que aprendem
criticamente e tem curiosidades e questionamentos sobre seu mundo, no que condiz com
alfabetização estes se darão de acordo com a prática social da leitura e escrita que tem
contato, sendo a escola responsável de criar contatos e interações necessários ao sujeito
porque nas palavras de Ferreiro(1999):
O processo de alfabetização nada tem de mecânico do ponto de vista da
criança que aprende. A criança constrói seu sistema interativo, pensa,
raciocina e inventa buscando compreender esse objeto social complexo
que é a escrita.
Esse pensamento expressa claramente a corrente da qual Ferreiro e Teberoski
participam, a Psicolinguística Contemporânea, que defende que a criança é um ser ativo
que procura compreender a natureza da linguagem, tem hipóteses, cria sua propria
gramática, sendo um sujeito cognoscente o que segundo Piaget é aquele que procura
ativamente compreender o mundo que o rodeia e a responder os questionamentos que o
mundo traz, sendo a obtenção do conhecimento resultado dessa ação. Ou seja “Ler não é
decifrar, escrever não é copiar” (FERREIRO, 1999) vai muito além e exige diversos
esforços neuropsicomotores e cognitivos das crianças.
Segundo Ferreiro “A escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo
externo, mas é um processo de construção pessoal”, nesse processo de construção pessoal
a criança se depara com conflitos cognitivos que força-a a modificar seus esquemas
assimiladores para que ela possa incorporar o que antes não conseguia, são desafios esses
que o sujeito pode superar com ajuda e estes períodos são necessários para que esta passe
pelos períodos de erros construtivos, errando para elaborar hipoteses próximas de seus
conhecimentos prévios.
Ferreiro e Teberoski criticam que “a escola não permite antecipações ou
autocorreções”, quando o erro é entendido de forma equivocada pela escola, o professor
corrige sem deixar o sujeito refletir sobre seus erros e saber o porquê errou, além disso a
escola exige a pronúncia correta, ignorando as variantes linguisticas de cada um, usa

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cartilhas ou livros didáticos que utilizam de conteúdos ideológicos e refletem a classe
dominante Segundo Ferreiro(1993):
Para se ensinar a ler e a escrever é necessário utilizar diversos
materiais, textos de atualidade, livros, histórias, jornais, revistas,
calendário, caderno e um conjunto de superficies pela qual se
escreve.
Emília Ferreiro e Ana Teberosky utilizam a terminologia Níveis Estruturais da
Língua Escrita para explicar as diferenças individuais e ritmos diferentes de escrita das
crianças em 5 níveis: Hipótese Pré Silábica, Intermediária, Silábica, Silábico Alfabética
e Alfabética:
Na Pré silábica não diferencia o desenho da escrita, entende que tanto desenho
como escrita são formas de representação, sendo a fase da garatuja e rabiscos. A criança
já começa a escolher a forma mais familiar, se “letra bastão”, cursiva, porém ainda não é
uma escrita convencional, não reconhecendo relação entre fala e escrita, além disso ainda
supõe que a escrita represente o nome dos objetos e não os próprios objetos(objeto grande
palavra grande e objeto pequeno, palavra pequena) o chamado Realismo Nominal.
Na Intermediária a criança começa a perceber que existe relação fala e escrita,
desvincula a escrita da imagem dos numeros e das letras, desenvolve hipoteses a partir do
nome. A Silabica supõe que a escrita representa a fala e que a menor unidade da lingua
seja a sílaba, em frases pode escrever uma letra para cada palavra ou silaba e algumas
vezes a palavra completa, faltando uma letra ou trocando de lugar, isso acontece muito
com sílabas complexas.
Silabica Alfabetica já compreende que a escrita representa o som da fala, combina
só vogais ou só consoantes fazendo grafias semelhantes para palavras diferentes (AO para
GATO ou PATO), pode combinar vogais e consoantes numa mesma palavra para tentar
combinar sons, mas sua escrita ainda não é totalmente socializável.
Alfabética que a criança passa a entender que escrita tem função social e entende
que cada caractere da escrita corresponde aos valores menores(silabas), faz
correspondência e conhece valor sonoro de todas as letras e pode ainda omitir e misturar
hipoteses alfabeticas com silábicas porém não está ortográfica ainda.
É necessário que a escola e o professor proponham atividades desafiadoras
adequadas a todas as crianças, trabalhar com crianças heterogêneas(diferentes hipóteses
e niveis), levar a criança a raciocinar sobre a escrita, criar ambiente rico em materiais e
provocar interações, deve considerar que o ambiente por si só não é alfabetizador, seu
papel é importante ao criar ambiente rico de interações no qual a criança possa

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desenvolver suas hipoteses, permita situações de erros construtivos, antecipações e
autocorreções, falar menos e escutar mais a criança e o mais importante é a criança utilizar
a escrita como forma de expressão, que esse saber e esse ambiente é pensado a propiciar
interações com a lingua escrita mediada por pessoas capazes de ler e escrever, cabe a
escola permitir a todos e a quem precisa esse ambiente alfabetizador.
A criança estando alfabética é importante lembrar que a pontuação e a ortografia
serão trabalhadas gradativamente, respeitando as fases e principalmente o tempo da
criança. A Alfabetização é um Sistema complexo, que não se esgota na 1 série ou aos
7anos(ou até o 2º ano como objetiva o governo brasileiro), se desenvolve ao longo da
escolaridade e no ritmo diferente de uma criança para outra.

1.2 Psicomotricidade, Autonomia e Educação – Maria Montessori

O Método Montessori foi criado através da observação que Maria Montessori


fazia no comportamento de crianças em escolas e ambientes estruturados ou não, tem
como meta auxiliar no desenvolvimento em geral da criança.
Ao observar crianças brincando em liberdade ela deduziu que as crianças
conseguem fazer qualquer coisa sozinha, o conceito de Autoeducação, isso se confirma
pelo fato de as crianças aprenderem sozinhas a falar, andar, reconhcer sons e etc.
Montessori(1987) diz que “Nunca ajude uma criança numa tarefa em que ela se sente
capaz de fazer”, ou seja deve-se confiar na capacidade da criança, além disso tendo um
ambiente rico, favorável e contextos adequados, essa criança consegue aprender de forma
autônoma qualquer ação.
Para essa aprendizagem é necessário que a criança possa observar alguém mais
experiente fazendo a ação, além de poder tentar sem ninguém interromper como nas
palavras de Montessori(1987) “Ajude-as a fazer sozinhas”, pois assim esta pode perceber
seus erros e corrigí-los, aprendendo assim a superar obstáculos de acordo com seu ritmo
e tempo.
Outro conceito presente é a Educação Cósmica, onde há a valorização das relações
que a criança tem com seu meio e estas se interessam desde cedo por tudo ao seu redor,
compreendendo através dessas relações até mesmo a ordem e relação das coisas na
natureza e no universo. Sendo assim é necessário despertar e preservar o encanto e
curiosidade das crianças através de histórias, perguntas e pesquisas de acordo com os
interesses delas.

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Há também o Ambiente Preparado, que é um conceito chave no Metodo
Montessori, para isso a criança deve ter liberdade, tudo o que for importante ao
desenvolvimento da criança deve estar acessível, estando tudo a altura das crianças. Estes
ambientes também devem ser tranquilos, uma quantidade adequada de brinquedos, jogos,
materiais diversos e acesso a todos os lugares e a limpeza e organização destes deve ser
feita pela própria criança. Sobre a importância de um ambiente preparado
Montessori(1946) diz:
“Para ajudar uma criança, devemos fornecer-lhes um
ambiente que lhes permita desenvolver-se livremente.”
O professor é chamado por Montessori de Adulto Preparado, este deve sempre se
transformar interiormente, deixando o papel de autoridade e imposição caso as crianças
se comportem diferente do desejado e cabe a ele respeitar a criança em todas as suas
necessidades, este é um observador que tem confiança na criança, interagindo e
preparando o ambiente com o necessário para que as crianças superem obstáculos e
precisa dar autonomia para a criança sendo cada vez menos necessário. Para
Montessori(1989):
“A tarefa do professor é preparar motivações para
atividades culturais, num ambiente previamente
organizado, e depois se abster de interferir.”

Para Montessori(1946) ao fazer as coisas pelas crianças ou protegê-las e privá-las


de alguma ação que ela consegue fazer estamos atrapalhando o desenvolvimento natural
da criança, o correto é deixá-la se concentrar, se empenhar em atividades interessantes e
desafiadoras, conduzindo-a a autodisciplina, iniciativa, autoconfiaça e independência, se
tornando assim segundo Montessori “uma criança equilibrada”.
Além dos conceitos descritos, as escolas montessorianas são ricas de materiais,
jogos, instrumentos, estes sempre desenvolvendo a psicomotricidade da criança, além do
raciocínio, a concentração e disciplina, além disso as crianças são mais felizes e tem total
liberdade de escolher o que aprendem e o tempo que aprendem, , mas sempre de acordo
com suas facilidades ou dificuldades, as salas tem poucas crianças e podem ter crianças
mais velhas junto a mais novas, pois toda interação e experiência contribui para um
melhor aprendizado. Sendo assim segundo as palavras de Montessori(2016)”A prova de
sucesso da nossa ação educativa é a felicidade da criança”.

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1.3 O Agente Transformador da Realidade

Paulo Freire defende a Educação Libertadora, como ato de se libertar das amarras
da educação bancária, opressora e elitizada da escola tradicional, onde ao aprender a ler
e a escrever o estudante aprenda não só a decodificar o sistema de escrita e ter domínio
da escrita, mas sim ler a sua própria vida e o mundo, escrever sua própria história e do
meio a sua volta e ser um Agente Transformador da Realidade, aquele que intervém de
forma crítica, reflexiva, filosófica, analítica, ativa e direta na transformação na realidade
da sua vida e da própria sociedade, assim como diz Freire(1981):
“Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda.”
Para ele a chamada educação bancária e opressora possui origem na história do
homem e da sociedade, como os períodos de escravidão, regimes autoritários, civilizações
que o centro era a guerra e pensamento intelectual e civil dessas épocas além da política
de dominação. Essa educação reflete a sociedade e os educados apenas servem de
recipientes vazios onde o professor detentor do conhecimento deposita, assim como numa
transação bancária, o conhecimento, porém como nos elenca Freire(1977):
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção.”
A escola opressora e bancária é aquela também na qual os erros são encarados
como fracassos e geram punições e culpa, Freire nos mostra o contrário: “Só, na verdade,
quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar
certo”, nesta muitas vezes com tempo, este “oprimido” acaba se tornando o “opressor”,
este mesmo que vivia escrevendo frases sem significado e contexto como “Eva viu a uva”,
acaba por fazer o mesmo quando estiver do outro lado, sem importar-se em “compreender
qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva
e quem lucra com esse trabalho” ou seja, sem saber o contexto, a interpretar e a analisar
e refletir o que lê.
Para se opor a este tipo de educação Freire apresenta a Educação Libertadora, onde
nesta há total valorização a relação professor e aluno, estes dialogam, agem, aprendem e
ensinam entre si, sendo ambos agentes educacionais, há a estimulação da criatividade,
imaginação, trabalho de equipe, da postura problematizadora e da visão humanista no
processo ensino aprendizagem, concluindo nas palavras de Freire(1977) “Ninguém educa

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ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo
mundo”.
O método de Alfabetização e Letramento Freiriano segue seu pensamento: “Educar-
se é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano”. Baseia-se na
relação interdependente de diálogo e ação, onde são levantadas temas de interesse dos
educandos, de seu cotidiano e da realidade vivida por este e seu meio através de diálogos
com suas experiências e histórias de vida, objetivando o despertar da curiosidade,
interesse e a atenção do educando. Após serem levantados os chamados “temas
geradores”, desses são tiradas sílabas e sons, que formam as “palavras
geradoras”(palavras novas), auxiliando na apropriação da palavra e o Sistema Alfabético
de Escrita, da Linguagem e do mundo que o cerca, sendo assim, Freire(1981) elenca que:
O diálogo pertence à natureza do ser humano, enquanto
ser de comunicação. O diálogo sela o ato de aprender,
que nunca é individual, embora tenha uma dimensão
individual.
Estes momentos de conversa são os “Círculos de Cultura” onde são realizadas
análises, críticas, reflexivas e até mesmo algumas vezes filosóficas sobre esse temas,
palavras e sons trazendo a consciência do uso social da língua, além da concientização da
realidade, compreendendo o mundo e a sociedade em seus diversos aspectos sociais,
políticos, culturais, tecnológicos, morais, éticos e etc. E a partir dessas noções ajudar
transformando-se e transformando a sociedade, porque Freire nos mostra que: “Educação
não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo” e
este ato de agente transformador impregna e chama outras pessoas a terem essa iniciativa
de mudarem o mundo através dessa Educação Libertadora, Problematizadora e
Humanista.

1.4 Didática para a Cidadania e para a Vida

A didática magna consiste na máxima de Comenius(2001) “ensinar tudo a todos e


de ensinar com tal certeza que seja impossível não colher bons resultados” mesmo sendo
tão antiga, ao mesmo tempo é muitíssimo atual, pois pressupõe que se pode ensinar
qualquer coisa a qualquer pessoa, de qualquer classe social, sexo ou característica de
forma rápida, confortável e prazerosa e encaminhá-las a uma boa instrução. Ou seja, ele
traz a luz de forma implícita temas atuais e certos tabus que ainda hoje se perpetuam,

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como a educação de qualidade para minorias e a questão da censura ao que se ensina,
tudo pode ser ensinado, mas de forma diferenciada pois cada um aprende de um jeito.
Comenius afirma que é necessário se cuidar bem da infância e juventude, instruí-
los e educá-los para não só o trabalho, mas para a vida, torná-los cidadãos e homens e
mulheres de bem, sendo estes mais preparadas e solicitos ao conhecimento, tendo uma
mente aberta a ser moldada a esse propósito, além disso segundo Comenius(2001) educar
bem os jovens faz com que possamos “curar e transformar a sociedade”. Sobre isso
Comenius(2001):
Educar pois providamente a juventude é providenciar
para que o espírito dos jovens sejam preservados das
corruptelas do mundo e para que as sementes neles sejam
lançadas
Comenius foi o primeiro a defender que deve-se valorizar o pensamento, os
interesses, anseios, possibilidades e limites da criança, isso é explícito a um
questionamento público de Comenius “Por que não se aprende brincando?” e que o
currículo deve se adequar ao interesse de ambos, trazendo a realidade para a sala de aula
e usar a tecnologia disponível como suporte , além de apontar a grande responsabilidade
que pais, professores e a sociedade tem de educar e formar moralmente o jovem e para
ser um bom cidadão. Sobre essa necessidade de trazer a realidade social da juventude a
escola, Comenius(2001) diz:
“As escolas fazendo com que os homens tornem-se
verdadeiramente humanos, são sem dúvida as
oficinas da humanidade”
Outro aspecto bem atual na obra de Comenius é que ele critica a forma como os
pais deixam a educação de seus filhos exclusivamente a cargo da escola e dos professores
e alerta para a grande importância que a família tem no desenvolvimento da criança e do
jovem, pois além de serem os primeiros a socializarem o indivíduo, deviam instruí-los na
conduta, de todos os valores morais e sociais, construindo assim um adulto de princípios
e caráter.
Comenius era contra o uso de castigos, mas a favor da disciplina, para
Comenius(2001) deve-se haver um dialogo de forma a fazê-lo refletir sobre seus erros e
entender o que ou o por que ele errou, ou seja de forma indireta Comenius já incentivava
a questão de Piaget de “erros construtivos”. Comenius ainda propunha uma escola mais
lúdica com livros ilustrados, dança, músicas, brincadeiras, ambientes coloridos e etc. para
a criança, onde ela pudesse passar por todas as etapas do seu desenvolvimento de forma

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confortável e eficaz e sendo respeitada sua realidade e interesses da sua faixa etária. Sobre
isso Comenius(2001) afirma que:
Deve todavia que tudo seja adaptado aos espíritos
infantis, os quais são por naturezas inclinados a coisas
agradáveis, jocosas e lúdicas... e aprendê-las com
facilidade e prazer, importa misturar o útil ao agradável.
(COMENIUS, J.A, 2001)
Comenius, a frente de seu tempo enfatiza a função mediadora do professor como
um guia e orientador das escolhas e caminhos ao qual o estudante deve seguir, o que deve
aprender e o fim desse aprendizado e ainda esse deve ser doce, carinhoso, porém flexível
e Comenius(2001) afirmava que “ensinar é uma arte” e nesta é necessário afetividade
entre crianças e professores e através de um ensino de qualidade voltado a todas as
pessoas, democrático e inclusivo que traria uma formação integral, sólida e plena ao ser
humano, transformando assim a sociedade com uma educação para a vida.

1.5 História da Alfabetização e Letramento

1.5.1 Pré História

A forma com que a Alfabetização e o Letramento é tratada também evidencia a


ineficiência do Sistema Educacional vigente e das mazelas sociais envolvidas. Ao analisar
a História da Educação desde os tempos Primitivos aos atuais pouco mudou e são
pequenas as conquistas comparadas ao que deveria estar, mesmo que durante os anos
busca se reinventar a cada época.
Na Pré-História a educação utilizada era a informal que é a socialização que
começa no seio familiar assim como diz Luzuriaga (2001):
Uma educação natural espontânea, inconsciente,
adquirida na convivência de pais e filhos adultos e
menores. Sob influência dos maiores o ser juvenil
aprendia as técnicas elementares necessárias à vida: caça,
pesca, pastoreio, agricultura e fainas
domésticas(LUZURIAGA, 2001, p. 14).
Uma educação voltada para aprender as técnicas de sobrevivência necessárias,
sem rigidez, disciplina, mas de forma espontânea e cotidiana, não considerava preceitos
éticos e morais nem o desenvolvimento intelectual. O conhecimento era passado através
de Lideres das tribos com saberes milenares para os mais jovens. Além disso utilizavam
de Pinturas Rupestres que eram desenhos que retratavam a vida sociocultural e intima

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destes, se assemelham as primeiras fases do desenho infantil, pois a criança passa
inconscientemente por todas as etapas da história do homem até o domínio da escrita.
Esta é o mais próximo da escrita que conseguem, já que ainda estavam em evolução
estruturas e mecanismos motores e da inteligência.

1.5.2 Idade Antiga

Ao se analisar a educação no Antigo Egito nota-se um avanço significativo em


diversas áreas, porém assim como atualmente a educação de qualidade fica nas mãos de
uma minoria, ou seja, as classes privilegiadas da época, os nobres, escribas e sacerdotes.
Como havia um grande desenvolvimento social do trabalho, a educação era voltada a este
objetivo, infelizmente algo que na atualidade continua, não se importam com o
desenvolvimento completo do ser humano e a formação de um cidadão ativo e
transformador, mas em abastecer o mercado de trabalho e as relações sociais e de poder.
Segundo Manacorda na educação egípcia era ensinada:
A Geometria para medição dos campos, a Astronomia para conhecimento
das estações, a Matemática que é o instrumento básico de uma e de
outra... “escolas intelectuais” para Matemática, Geometria e Astronomia
e também as Ciências Esotéricas e Sagradas e Escolas práticas dos vários
ofícios. E a Literatura Sapiencial feitas de ensinamentos morais e
comportamentais...(MANACORDA,1980?, p. 10 -11).
A escrita era baseada em hieróglifos, de forma rígida e disciplinada com uso de
castigos, mediada pelo escriba ou sacerdote, com conteúdos adequados a elite e ao
povo(com posses e ofícios) numa instituição semelhante a atual escola. Esta se assemelha
a fases da alfabetização onde a criança utiliza de rabiscos, garatujas e desenhos para se
expressar e se comunicar, porém cada letra tem uma função, uso e significado, ao
contrário da pré-escrita infantil que utiliza-os de forma a fácil compreensão.
A alfabetização no antigo Egito era feita para pessoas da elite, estes eram
ensinados primeiramente a ter a coordenação motora e as habilidades para a escrita (Como
no Ensino Tradicional que não é tão ruim como dizem) e ao contrário da concepção de
que lemos pelos olhos, estes aprendiam ao cantarolar os textos, recitá-los em voz alta e
etc., para internalizá-los e construir noção da língua e do vocabulário, como descrita na
frase Bresciani(1968):
“O teu coração compreende, os teus dedos tem
habilidades e a tua boca tem a capacidade de ler.”

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Já na Grécia Antiga, considerada o “Berço da Democracia”, esta que em nenhum
dos povos da história verdadeiramente conseguiu alcançar, pois assim como nos dias
atuais a desigualdade impera, a alfabetização, o letramento e a consciência cidadã,
infelizmente possuem apenas na definição, pois estes não são colocados em prática, esses
povos influenciaram certos modelos que desde os primórdios da Humanidade se
encontram nas práticas pedagógicas e na metodologia de muitos, são eras diferentes
porém problemas e hábitos semelhantes, mesmo com avanços significativos, ainda
prevalece a democracia para minorias”.
Os Termos Democracia, Cidadania, Filosofia e em especial, a Pedagogia surgiram
na Grécia, como nas palavras de MANACORDA(1990) a educação grega era para
poucos, preparando para as tarefas do poder, “o pensar”, para a vida política “o falar” e o
“fazer”, que são as armas e o poder militar.
Os tipos de educação adotados eram a Educação Homérica e a Educação
Hesiodéica, estas se referem a educação “Heroica” e “Camponesa” respectivamente, com
relação direta ao “grande educador”, nas palavras de Platão, que foi Homero, autor de
Ilíada e Odisseia e o poeta Hesíodo, para bases sociais, morais, culturais, psicológicas e
teóricas do modelo, era uma educação informal, não possuía método nem instituição, não
era para a criança, mas sim para o futuro adulto. O conceito fundamental é o Areté, com
aspectos técnicos, para guerra, esportes, oratória, movimento e música, éticos e morais,
que eram valores, atitudes e ideias dos livros de Homero, como honra, bondade, beleza e
coragem e preceitos de cultura e respeito as crenças e ancestralidade e de Hesiodo para
sabedoria e moralidade, com ensinamentos, conselhos, atitudes, valores, posturas e etc
para os camponeses e produtores rurais.
Como diz Manacorda: “Outro conceito é a téchne, construida nos jogos de
gladiadores, a aculturação moral religiosa e patriótica as técnicas de governar, lutar e
produzir, habilidades “das palavras” e “ações”, contemplaram a música (aculturação
moral religiosa e patriótica) e a ginástica(para o guerreiro)”. Ao ouvir as músicas,
histórias, a literatura, ensinamentos, feitos heroicos e sobre a cultura, as crianças
assimilavam a língua, a escrita e a leitura, pois haviam diversas habilidades e
competências adquiridas, assim dava-se a alfabetização e letramento nessa época.
O conceito mais importante a se tratar é a Paidéia (educação), com o advento da
Democracia surge a necessidade de preparar a infância para cidadão adulto de bem. Os
“professores” eram chamados de “choregós”(mestres de coro), existiam os centros de
iniciação e as escolas de filósofos, como a Pitagórica, a educação passa a ser um

17
“fundamento da sociedade”(Manacorda). Estas escolas com ensino através da
música(mitos, cultos e cantos religiosos), dança, ginástica, aritmética, geometria,
astrologia, ciências da natureza, sagradas ou esotéricas.
A Legislação mostrava o dever dos pais para com as crianças, do direito ao ensino
da leitura e escrita, acesso à escola para todos (a elite estudava com melhores condições),
sobre o ano letivo e sua organização(tempo, número de crianças, atribuições do corpo
docente e etc.). Em Creta e Esparta surgem os pedagogos (condutor da infância), escravos
estrangeiros alfabetizados que passavam um tempo com as crianças, acompanhava-as a
escola e era responsável pela instrução. A Educação Democrática(“Paideia” que significa
Educação) é como um espelho da atualidade, tradicional e conteudista, Na escola do
alfabeto aprendiam o método de leitura do Alfabeto, Soletração, Silabas e a Palavra e o
Texto de forma rígida e muitas vezes brutal, com treinos repetitivos de escrita e leitura,
excesso de músicas e decorar conteúdo, este sistema era um espelho da época, ou seja,
pouco mudou do conceito de alfabetização e letramento, mesmo com o Construtivismo e
o Socio-Interacionismo e outras Teorias Pedagógicas.
A educação Romana era bem semelhante à dos primeiros períodos da história
grega, como tradição, a formação do guerreiro, ideais, direitos e deveres relacionados a
pátria (código civil) porém busca romper com a cultura grega e possui algumas mudanças
como o aluno era ensinado através de tábuas(códigos de condutas e leis sociais) que
romanos eram superiores a todos os outros povos(civis romanus), a mulher era menos
submissa aos homens(mater familias) que controlavam a educação dos filhos e mandava-
os aos pedagogos e educadores da época e o pai (Pater) formar o cidadão e controlava a
vida em geral(social, estudantil e etc.) dos filhos.
Nas escolas eram utilizados manuais e a formação em diversas áreas como Lingua,
Oratória, Literatura, Gramática, Retórica, Matemática, Astronomia e etc e se dividiam
em: Elementares para alfabetização da língua e matemática; Secundárias onde se
ensinavam a cultura romana em geral, Escolas de Retórica para preparar o cidadão para a
vida pública, a vivência, debates e discursos em sociedade e Escola aos Escravos que
tinham pouca organização e pouca infraestrutura, porém ensinavam os ofícios a serem
desempenhados por estes.

1.5.3 A Pedagogia de Jesus Cristo

18
Para ter um panorama das mudanças na educação e do contexto histórico após
Cristo, como a Educação Medieval será descrita sem questões religiosas, mas analisando
as bases e metodologias, a Pedagogia de Yeshua Netzarim, que mesmo suas aulas sendo
ao ar livre, fora de instituições, este possuia formas inovadoras para aquela época de
ensinar.
Na epoca de Yeshua Netzarim(Jesus de Nazaré) a educação estava nas mãos dos
Judeus, em especial os fariseus que ensinavam em sinagogas ou templos através de
trechos da Bíblia e aos poucos apresentando o alfabeto para assim através da
Torah(escritos bíblicos) conhecer a lingua. Jesus no entanto não ensinava em instituições,
mas em qualquer lugar onde havia necessidade de ensinar, ou seja por onde ele andava,
sejam ruas, aldeias, a beira do mar e etc. Segundo L.A. Weigle(1980):
"Jesus lançou mão do método educativo, e não do método de força
política, ou de propaganda, ou do poder.”
Yeshua ensinava a qualquer pessoa, de qualquer classe social, sem preconceito ou
imposições, sabia ouvir seus alunos, respeitava a pluralidade cultural e de ideias, não
debatia e muito menos criticava, apenas ensinava e este tinha conhecimento de diversos
povos e culturas, facilitando assim com que acreditassem em seus ensinamentos e sempre
buscando concórdia e amor entre as culturas e povos, além de sempre pregar a igualdade,
o respeito a pessoa, as leis e a moral. A seus discípulos este orientava como ensinar com
clareza e convicção, além de prepará-los a trazer mais seguidores ao Cristianismo.
Quanto a metodologia, ele ensinava através de parábolas que eram histórias que
mostravam episódios do cotidiano do povo, trazendo sempre uma lição moral e
ensinamentos sobre a vida e como ser um verdadeiro cidadão, de como agir de forma
ética e moral diante de diversas situações da vida. A forma como Yeshua ensinava era tão
eficaz que muitas vezes não só fazia a pessoa compreender os ensinamentos como
também as maravilhava e despertava a curiosidade e o interesse desta em seus
conhecimentos e sua sabedoria.

1.5.4 Educação Medieval e Renascentista

Com a expansão do Cristianismo no mundo, graças aos esforços de seus


seguidores e discípulos a educação assim como antes de Cristo estava nas mãos de uma

19
minoria, o clero, composto de padres, bispos e religiosos em geral que ensinavam em
escolas dentro de catedrais e mosteiros disciplinas como gramática, retórica, dialética,
lógica, aritmética, geografia, astronomia e música.
Para alfabetização e letramento, segundo Manacorda(1990) assim como na
educação grega, utilizavam de tábulas penduradas no pescoço ou na cintura com
alfabetos, silabários e diversos textos religiosos ou não a serem lidos, possuiam também
exercícios, discussões em formato de debate entre professores e alunos, haviam
premiações para acertos e severas punições para erros. Estas características não só se
assemelham a escola e alfabetização atual, como esta foi trazida dos elementos da escola
antiga e medieval como o ensino da gramática, a lógica e o estudo da filosofia.
Na época do Renascimento, houve maior preocupação de que as pessoas
soubessem ler e escrever(minorias da elite, antes das ideias de Lutero), as tabuletas de
conteúdos foram substituídas pelos livros e assim inicia-se o uso das cartilhas e das
gramáticas. O ensino infantil era mais lúdico e nas cartilhas eram ensinados os nomes das
letras do alfabeto, decorar listas de palavras, visando o reconhecimento da relação de letra
e som.
A noção de consciência fonológica só era adquirida após decorar o alfabeto na
ordem normal e inversa, depois o mesmo é feito com as sílabas, em alguns países eram
ensinadas palavras do cotidiano da criança e estas aprendiam através do som das letras,
algo extremamente inovador para época e mostra como a educação atual ainda está muito
atrasada e com avanços pouco significativos em relação ao seu passado histórico. Os
principais pensadores do Renascimento foram Jan Amos Comenius e Jean Jacques
Rousseau.

1.5.5 Moderna e Iluminista

Na alfabetização moderna, graças as ideias de Friedrich Froebel, o criador dos


Jardins da Infância, temos a presença de jogos psicomotores, auditivos, aritméticos e
sensoriais sendo usados para ensinar a leitura e a escrita, além disso também se utilizavam
de brincadeiras e canções. Nessa época também outro avanço foi a educação para as
minorias menos favorecidas que veio da luta incansável de Johan Heinrich Pestalozzi.

20
Porém segundo Araujo(1996) foi na época do Iluminismo que se criou um método
inovador que mudaria completamente a alfabetização e letramento, o Método Fônico.
Este método se opunha a soletração e a posterior relação entre grafemas e fonemas, neste
a criança já era apresentada aos sons das vogais e consoantes, que podem formar sílabas
e palavras, o que ia contra o método de soletração no qual aprendia-se pelo nome das
palavras, assim como muitas escolas ainda ensinam a ler e escrever, são poucas as que
utilizam o método fônico e desperta a consciência fonológica nas crianças.

1.5.6 Brasileira e Contemporânea

A história da alfabetização e letramento no Brasil segue as tendências


educacionais de cada período da história desde a idade média, porém com algumas
mudanças em certos modelos educacionais.
O primeiro modelo educacional no Brasil foi a Educação Jesuítica que possuia
algumas semelhanças a educação medieval, em especial no cunho religioso, pois visava
a catequisação dos indios no inicio, depois os filhos de colonos e por fim escravos. A
alfabetização era feita através do método de soletração, onde se aprendia o nome das
letras, as sílabas e dessas aprendiam-se palavras e assim poderia conseguir ler os textos
em sua maioria de Escrituras Sagradas da Bíblia, porém o Padre Anchieta também
utilizava algo inovador para a época, o teatro, música e poesia para alfabetização e
letramento, pois nestes se treinava a oralidade e a pronúncia correta das palavras,
contribuindo assim para o aprendizado eficaz da leitura e escrita.
Após os Jesuítas, quando se instituiu as aulas em casa e depois voltaram as
instituições, pouco mudou no processo de alfabetização e letramento, apenas adições de
matérias, como por exemplo gramática e ortografia a prática da leitura e escrita,
matemática e humanidades. Mudanças significativas só vieram após o Manifesto dos
Pioneiros da Educação que instituiram uma escola única(Pois existiam diferentes tipos
como Escolas Normais, Elementares e etc) pública, laica e gratuita. Nesse mesmo período
surgem a Pedagogia Freireana(citada anteriormente) que traz ideias inovadoras a
alfabetização e letramento, mas infelizmente com pouco alcance público de suas ideias.
Um período que deixou uma marca a posteridade e um retrocesso a educação
brasileira e consequentemente a alfabetização e letramento foi a Ditadura Militar onde se
aprendia palavras seguidas de imagens, fazia a divisão silábica e por fim formava-se
frases e textos, eram ensinados também cálculos matemáticos e hábitos saudáveis, porém

21
a educação era voltada ao mercado de trabalho, a escrita era mecânica, sem
contextualização e ainda eram dados castigos e surras a quem cometesse erros.
Mesmo que durante esse período ao redor do mundo surgiam educadores como
Maria Montessori, a epistemologia genética de Jean Piaget, o socio-interacionismo com
Vigotsky e Wallon e posteriormente Emilia Ferreiro, estas ideias por causa do regime
militar que se baseava numa educação tecnicista demoraram a chegar e se incorporar na
educação brasileira.
Porém ao serem introduzidas estas transformam a alfabetização e letramento, a
escrita não é mais tratada de forma mecânica e com exercícios exaustivos, mas sim
contextualizada, além disso é valorizada a consciência fonológica, as ideias freireanas de
educação através do cotidiano e ainda o desenvolvimento em geral, o pensamento e
hipoteses de escrita da criança são levadas em consideração, além da ludicidade e abertura
a novas formas de educar e uso novas ferramentas de suporte como a tecnologia.

1.6 Importância da Ludicidade no Alfa-letrar

A ludicidade com jogos, brinquedos e brincadeiras torna-se um recurso cada vez


mais importante em sala de aula, pois além de tornar o aprendizado mais prazeroso,
confortável e muitas vezes menos frustrante, facilita a aquisição do conhecimento e a
prática dos conteúdos ensinados. Segundo Kishimoto(1999)
“O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos
para a relevância desse instrumento para situações de ensino-
aprendizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a
criança pré-escolar aprende de modo intuitivo adquire noções
espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro
com cognições, afetivas, corpo e interações sociais, o brinquedo
desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la” (1999.
p.36).

Assim sendo o jogo, o brinquedo e a brincadeira são importantes recursos


pedagógicos que auxiliam não só no ensino mas também no desenvolvimento integral da
criança, tanto em sua psicomotricidade, como nas habilidades emocionais, socio-
interativas, no raciocínio lógico, nas noções de regras e na aquisição de habilidades e
competências e etc.
Através da ludicidade as crianças conseguem estabelecer relações e significações
de seu meio e do mundo, além de serem apresentadas ao mundo adulto brincando, seja
no jogo de papéis, na manipulação de objetos, como também as noções, deveres e

22
elementos desse mundo atrelado aos jogos, brinquedos e brincadeiras. Qunato a essa
relação com o sujeito Kishimoto(1999) diz que:
O brinquedo supõe uma relação íntima como o sujeito, uma
indeterminação quanto a uso, ausência de regras. O jogo pode ser
visto como sistema linguístico que funciona dentro de um
contexto social: um sistema de regras, um objeto.(1999, p. 12)
O eficaz, planejado e organizado uso na alfabetização e letramento da ludicidade,
em especial jogos e brincadeiras pode despertar na criança autonomia, engajamento,
criatividade, imaginação, desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, atenção e
concentração, capacidade de resolução de problemas, além de melhorar a absorção de
conhecimento e a formação de noções de cidadania e convívio social. Sobre essa
contribuição essencial da ludicidade e do brincar Kishimoto(1993, p. 21):
Brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da
identidade e da autonomia. Desde muito cedo as crianças se
comunicam por gestos, sons e mais tarde a imaginação. Podemos
dizer que brincar é uma atividade natural, espontânea e
necessária para sua formação.
Através dos jogos, brinquedos e brincadeiras a criança tem possibilidades de buscar,
descobrir, experimentar e se envolver em diversas situações de aprendizagem e da vida
social. Segundo Miranda(1980) O jogo, não é somente um aperfeiçoamento físico,
intelectual e moral. É também um valioso elemento para observação e conhecimento
metódico da psicologia da criança, suas tendências, qualidades, aptidões, lacunas e
defeitos, ou seja cabe ao educador e a escola proporcionar o ambiente e o planejamento
adequado do uso da ludicidade não só como forma de distração, mas no sentido formativo,
de desenvolvimento e principalmente como interessante mediador das relações e
conteúdos educacionais e de sua prática educativa.

1.7 Arte, Música e Inclusão

A arte é um importante recurso para a alfabetização e letramento, pois ela traz um


conhecimento emocional, íntimo e mesmo psíquico, desperta diversas habilidades e dons
presentes no interior humano, além de proporcionar calma, felicidade e disposição,
desenvolve a atenção, concentração, criatividade e imaginação, além disso é um meio
interessante de gerar a inclusão de pessoas com deficiências de qualquer tipo ou não.
Sobre essa questão interna e emocional da arte, Fischer(1990) diz que:

23
O homem anseia por absorver o mundo circundante,
integrá-lo a si; anseia por unir na arte o seu “eu” limitado
com uma experiência humana coletiva e por tornar social
a sua individualidade
É histórica a exclusão de pessoas deficientes, elas eram internadas em hospícios e
albergues e mortas, hoje são mais rotuladas e muitas vezes subestimadas em suas
capacidades e além disso são muitas vezes deixadas de lado. Uma excelente forma de
inclusão é utilizar a musicoterapia e a própria educação músical aliada a rotina de sala de
aula, pois aprimora a comunicação, o vocabulário e a noção linguística.
Os psiquiatras Adam P. Fraise(2009) Richard Hudson e R. Frances notaram que
as partituras musicais influenciam a parte fisiológica do corpo e ajudam a regular algumas
funções e ritmos biológicos conforme a aspecto temático e dinâmico da música, ou seja
as ondas sonoras produzidas pelos instrumentos e a harmonização destas e das melodias
penetram no sistema nervoso e trazem benefícios para o funcionamento do corpo e
relaxam, aumentam a percepção, a psicomotricidade, a absorção de conhecimentos, entre
outros; além de atuar nas células, ajudando a curar células doentes e a destruir células
cancerígenas e de efeitos prejudiciais ao organismo.

Além da música, o teatro, a dança e as artes visuais são um interessante


instrumento que pode auxiliar no processo de alfabetização e letramento, pois não só
ajuda na melhoria da expressividade, do controle emocional, vocabulário e usos
linguísticos, como também auxiliam em habilidades e competências necessárias a
alfabetização como a produção de textos ou contação de histórias, desenvolve a oralidade,
dicção e a sociabilidade(algo importantíssimo para crianças de inclusão ou não).

1.8 Tecnologia como Instrumento de Transformação Educacional

1.8.1 Tecnologias da Informação para Educação

A maioria das escolas utilizam Laboratórios de Informática ou Sala de Tecnologia


para Alfabetização, porém com foco apenas nas ferramentas e nos jogos, sendo mais uma
forma de distração sem um planejamento, não seguindo o contexto de ensino-

24
aprendizagem da sala, é pouco utilizada a leitura e a produção de textos aliada a essas
tecnologias, sobre os textos digitais Roger Chartier(2002) mostra que:
É ao mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica da produção do
escrito, uma revolução da percepção das entidades textuais e uma
revolução das estruturas e formas mais fundamentais dos suportes da
cultura escrita. (CHARTIER, 2002, p. 24)
Esta grande revolução se não pensada de forma a unir a sala de aula a tecnologia,
pouco torna-se significativo no desenvolvolvimento da Alfabetização e Letramento,
assim como diz Vigotsky(1993) “o desenvolvimento intelectual ocorre a partir de um
intenso processo de interação social, ou seja, quando a criança brinca em seu ambiente,
ela internaliza instrumentos culturais construindo o seu próprio conhecimento.” pois é
uma forma prática e eficaz do conteúdo, além de ajudar a desenvolver diversas
habilidades e competências e mesmo de forma interativa diminuir dúvidas e dificuldades
no uso da escrita, números e operações em geral.
Além disso ainda é limitada a gama de ferramentas, de conhecimentos e interações
que está a dispor do estudante numa Sala de Tecnologia, além de jogar, pode-se mostrar
diversas ferramentas como programação com programas simples como Sketch por
exemplo que um “gatinho” mostra de forma simples e adequada a crianças noções básicas
de programação, ou Sketchup que através de desenhos, geometria e medidas transmite
noções de arquitetura e engenharia, Celestia onde se pode conhecer de forma interativa o
universo, desde planetas, galáxias, satélites e etc, assim como diz Saldanha(2017):
“Enquanto estão mexendo em um computador ou tablet,
as crianças desenvolvem a concentração e o raciocínio
lógico.” (Saldanha, 2017)
Pouco também se exploram de novos recursos tecnológicos como a “Realidade
Virtual” e sistemas como a “Gamefication” que se tornaram em países desenvolvidos
grandes aliados a educação, além disso aumentam o interesse e o incentivo ao
aprendizado de diversas faixas etárias de estudantes que vivem nesses países e continentes
assim como diz a Professora Débora Garofalo(2018):
Os jogos são meios que contribuem e enriquecem o
desenvolvimento intelectual, além de favorecer a apropriação e
interpretação dos recursos linguísticos primordiais na
alfabetização.

1.8.2 Realidade Virtual

25
Uma ferramenta muito usada em pouquíssima salas de aula é a Realidade Virtual,
algo que aos olhos das crianças e jovens é magnífico, belo e muito divertido e interessante,
muitas dessas escolas utilizam por exemplo numa aula de Sistema Solar, um aplicativo
de Realidade Aumentada para mostrar os planetas do sistema solar, suas características,
distâncias, propriedades e etc e os alunos podem tocar e interagir com eles, algo que torna
extremamente agradável e significativa uma aula que poderia ser teórica e monótona. Para
Moran(2000):
Educar é colaborar para que professores e alunos-nas escolas e organizações -
transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem... Uma
mudança qualitativa no processo de ensino/aprendizagem acontece quando
conseguimos integrar dentro de uma visão inovadora todas as tecnologias: as
telemáticas, as audiovisuais, as textuais, as orais, musicais, lúdicas e corporais... É
importante diversificar as formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar.
Moran (2000).

Esse recurso inovador pode contribuir a construção de uma “sala de aula


interativa”, o que segundo Silva(2000) seria” "A sala de aula interativa seria o ambiente
em que professor interrompe a tradição do falar/ditar, deixando de identificar-se com o
contador de histórias, e adota uma postura semelhante a dos designers de software
interativo.”, ou seja, onde ambos podem explorar e interagir com os diversos ambientes
e informações, deixando de ser uma relação de apenas absorção, escuta e fala, para uma
de troca, diálogo e discussão.
Nessas escolas também ensina-se a criar seus aplicativos em realidade virtual,
além disso utilizam óculos de Realidade Virtual para por exemplo conhecerem em
História Geral o Antigo Egito, a história dessa civilização contada por uma Inteligência
Artificial, mostrar a Pirâmide de Gizé, a Dinastia de Faraós e etc., como se estivessem
dentro delas. O nível de ensino destas escolas é elevado, além disso são poucas os
estudantes que não conseguem ter um bom aprendizado e mesmo estes com dificuldades
ou distúrbios de aprendizagem são utilizadas essas tecnologia e que obtém grande êxito
em sanar as dificuldades e realizar um reforço ou apoio pedagógico especializado
diferenciado e inovador.

1.8.3 Gamefication

Os jogos e videogames em si estão muito presentes no cotidiano de muitas


crianças e estes tornam-se uma proposta interessante, agradável, significativa e inovadora
para utilizar não só na Alfabetização e no Letramento, mas na Educação em geral, porque

26
os jogos além de divertir e entreter desenvolvem funções cerebrais e o raciocínio lógico,
além de terem um rico repertório de competências e habilidades que podem ser
trabalhadas em sala de aula.
Um exemplo é da Franquia “Crash Bandicoot”, além de ter um cenário com
diversas cores que podemos muito bem trabalhar reconhecimento de cores na fase, ainda
há diversos elementos do cenário que pode-se utilizar para por exemplo trabalhar letras
iniciais de objetos, sílabas, criar listas ou mesmo frases com estes o nome desses objetos,
além disso há diversos elementos que podem ser quantificados e ao terminar a fase tem
uma quantidade de caixas a atingir, logo pode-se trabalhar questões de subtração, adição,
multiplicação e mesmo divisão, pois tem caixas que estão divididas de 5 em 5, 2 em 2 e
etc. Segundo a professora Garofalo (2018):
Os jogos são meios que contribuem e enriquecem o
desenvolvimento intelectual, além de favorecer a apropriação e
interpretação dos recursos linguísticos primordiais a
alfabetização” Garofalo (2018).

De um simples jogo pode-se trabalhar diversos conteúdos, habilidades e


competências, além de gerar situações problemas e exercícios de acordo com a
experiência das crianças com o jogo, inventar histórias deste e de outros e até mesmo criar
personagens ou elementos do jogo com recicláveis entre outros, as possibilidades são
amplas. Smart (1996) cita várias categorias de aplicações explorando o uso de ambientes
virtuais:
Desenvolvimento de tarefas no mundo real através de teleoperação,
treinamento virtual de tarefas que mais tarde serão realizadas no mundo
real, aprendizagem e aquisição de conhecimento, projeto cooperativo,
diversão, comunicação e exploração das capacidades perceptual e motora
dos homens. (Smart, 1996)

Existem escolas na Europa e na América do Norte que utilizam da Games como


metodologia e prática permanente no ensino através não só de jogos de videogame, mas
utilizando o RPG em situações cotidianas, encenações de batalhas históricas, jogos de
cartas e tabuleiro e etc., segundo essas escolas as crianças e jovens desenvolvem senso
estratégico, raciocínio lógico, espontaneidade, resolução de problemas, a oralidade, a
corporeidade e diversas habilidades do currículo escolar de forma divertida e
significativa. O nível de evasão escolar e desinteresse é mínimo nessas escolas, pois as
crianças e jovens se sentem felizes ao aprender com coisas de seu dia a dia, vão motivadas
e realmente aprendem através da prática algo que parecia difícil se tratado da forma
tradicional.

27
Porém os Jogos e Games não se limita a ambiente de jogo, qualquer tipo de local
pode se transformar em ambiente gameficado, mas deve ser um ambiente não só com
tecnologias ou de forma virtual, mas que incorpore as mecânicas de games, como
exemplo em sala de aula seria dar recompensas e elogios para o esforço e as conquistas
do estudante, deixar seu progresso sempre disponível sem esperar avaliações, colocar
desafios de acordo com as dificuldades e limites do estudante, influenciar a autonomia de
escolhas e decisões do estudante, de qual caminho seguir ou colocar em teatros e histórias
elementos de RPG.Sobre isso Murray(1997) explica que:
“Todo jogo pode ser vivenciado como um drama
simbólico e games nada mais são do que mídias
contadoras de estórias”
Com a games uma simples história, dramatização ou performance pode se
transformar em ambiente rico em elementos de RPG, tornando assim a atividade mais
prazerosa, através da criação e desenvolvimento de personagens, enredos, missões, metas
e objetivos que serão traçados e cumpridos durante a encenação ou contação de histórias,
além de adição de ambientação sonora para total imersão da plateia no espetáculo, além
disso inúmeros ambientes virtuais, profissionais podem ser transformados com sistemas
de pontuação, recompensa, status e progresso, tornando assim simples atividades em
grandes aventuras, as possibilidades são inúmeras e os resultados obtidos são excelentes
dependendo da forma pela qual se é trabalhada.

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CAPÍTULO II – MÉTODO

O presente estudo tratou sobre a Alfabetização e Letramento para a Vida, onde


foram elencadas formas de trabalho significativas e inovadoras e que tenham como foco
a criança e seu cotidiano, para isso foi realizada pesquisa qualitativa com levantamento
bibliográfico em obras literárias, artigos científicos e acadêmicos, documentários, vídeos
e filmes relacionados ao tema.
Foram levantadas publicações nacionais e internacionais através de textos, artigos,
livros, documentários, filmes, entrevistas e vídeos sobre a Alfabetização e Letramento,
para critério de pesquisa foram pesquisados os que datam de 1980 até 2021 para maior
credibilidade das informações, além de serem mais recentes(com excessão dos livros de
Maria Montessori e Paulo Freire).
A busca levantou 8 autores e 15 livros com o tema de Alfabetização e Letramento,
após a leitura dos livros, foram selecionados apenas aqueles que mais se associavam ao
tema, além de condizer com autores estudados no decorrer do Curso de Pedagogia,
selecionando assim 6 autores e 9 livros, sendo assim 7 livros nacionais, 1 em língua
inglesa e 1 em português de Portugal.
Quanto a esse critério foram selecionados os seguintes livros: Psicogênese da
Lingua Escrita e Reflexões sobre Alfabetização de Emília Ferreiro, A Importância do Ato
de Ler, Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, Didática Magna de Comenius, The
Montessori Method de Maria Montessori, História da Educação da Antiguidade aos
nossos dias de Mario Alighiero Manacorda, Jogo Brinquedo, Brincadeira e a Educação
de Tzuko Morchida Kishimoto.
Os autores pesquisados foram escolhidos pois tratam de forma inovadora dos
processos de Alfabetização e Letramento, onde a criança não é tratada apenas como ser
aprendente, mas sim ator do processo de ensino-aprendizagem e para esses autores é
levada em consideração todo o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, além de seu
contexto social e histórico.
Quanto aos artigos, foram selecionados 2 artigos internacionais sobre a
Gamefication na educação e 6 artigos nacionais sobre a Psicogênese da Lingua Escrita, o
Método Montessori, e sobre Jogos, Brinquedos e brincadeiras.
Com relação aos documentários foram assistidos no Youtube e selecionados 3
documentários: Paulo Freire Contemporâneo, que descreve a vida e a obra de Paulo
Freire, além das características do Método Freiriano e da Educação Libertadora, o

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documentário Leitura e Escrita na Educação Infantil, onde é entrevistada Emilia Ferreiro
e esta discute sobre os processos de desenvolvimento da leitura e escrita nas crianças e o
Documentário Comênio que descreve a vida, obra e como é atual a Didatica Magna de
Comenius para a educação.
No decorrer de 1 ano e meio preparando o Pré-Trabalho (O então chamado
embasamento teórico), além disso uma pesquisa de campo com questionário de 10
perguntas, dissertativas e associativas sobre Alfabetização e Letramento no Município de
Taboão da Serra, onde entrevistei meus colegas de trabalho e profissionais da educação e
ia entrevistar crianças também, entretanto graças as diretrizes e normas científicas e
norteadoras da instituição foi excluido do projeto final.

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CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO

A escola atualmente pouco mudou de seu passado histórico, houveram avanços


significativos, porém continua sendo uma educação de qualidade para as minorias, onde
ainda há muita exclusão e onde ainda se prendem a sistemas, metodologias e imposições
sociais como nas escolas das Idade Antiga até a Escola Tradicional, uma educação ainda
voltada as relações de poder e ao mercado de trabalho, onde as novas ideias ainda
demoram a serem aceitas, respeitadas e utilizadas de forma eficaz.
Grandes e inovadoras ideias de diversos educadores como Paulo Freire, Emília
Ferreiro, Maria Montessori, Piaget, Vygotsky e Wallon por exemplo são até hoje
interpretadas de forma errada e impositiva, um exemplo são as ideias de Piaget,
Montessori e Emília Ferreiro com relação a criança ir construindo seu desenvolvimento
aos poucos, muitos professores acham erroneamente que não devem intervir e nem
mesmo auxiliar em nada que as crianças façam, algo equivocado pois ambos apontam a
grande importância do meio e dos mediadores da aprendizagem, que devemos sim
respeitar o tempo da criança e valorizar o esforço, conquistas e incentivar a autonomia,
além de respeitar a criança num todo e nunca subestimá-las seja lá qual for sua origem.
Outro grande equívoco é com as ideias de Paulo Freire e Comenius, onde muitos
dizem que possuem ideias extremamente sonhadoras e criticam as alusões que Freire faz
a Marx e a relação da educação com a política e religião, no entanto Paulo Freire cita
muitas vezes Marx pelos ideais da minoria que Marx estudava, que se deve usar a
educação e a política como forma de transformar a sociedade e que ambas estão
conectadas. Freire não faz idolatria ao Marxismo, mas assim como Comenius são
educadores que valorizam uma educação transformadora, democrática e para a felicidade
geral, onde todos são atores sociais e todos tem capacidade de mudar todas as realidades
sociais, pela qual as pessoas podem ser educadas para a vida presente e futura.
As escolas e muitos de nós professores ainda ficamos ora presos, ora criticando
metodologias e teóricos. Porém ao contrário todo método deve ser valorizado, aplicado
de acordo com a necessidade e realidade de cada criança e todo o contexto de sala de aula,
não tem melhores ou piores, se são tradicionais ou construtivistas, a real importância é
como o professor o utiliza, ou seja, a didática que é empregada. A escola deve ter postura
reflexiva, analítica, construtiva e mesmo filosófica quanto a diversidade de saberes da
prática pedagógica e incentivar a multiplicidade de ideias e metodologias.

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A educação ainda é infelizmente um espelho da sociedade, que é desigual,
segregacionista, elitizada, exclusiva, entre muitos outros pontos, porém é claro notar que
houve sim um pequeno avanço se observarmos a educação antes de Cristo e depois de
Cristo, que deixou de ser uma forma de sobrevivência e Ascenção social e de
ancestralidade e passou a ser uma formação do homem, de seu caráter, de valores, de
transmissão de cultura, porém ainda ligada aos interesses das classes dominantes e de
governos, além da captação de mão de obra ao mercado de trabalho e deixaram de lado a
educação para a vida que contempla todas as capacidades, particularidades e
conhecimentos práticos, ligados a realidade e a todo o contexto histórico, cultural, social,
emocional, psíquico e integral da formação de um cidadão e transformador social.
Até mesmo certas nomenclaturas ainda são ultrapassadas como por exemplo a
palavra “aluno” (do latim “sem luz”), devemos chamar a criança pelo nome e não as
rotular ou subestimá-las, pois cada uma é única e especial por tudo que ela é. Além da
palavra professor que também necessita ser reformulada para “Mediador”, apontando de
forma clara para suas funções como Pedagogo, Orientador e Aprendiz.
Para um conhecimento significativo, que vai de encontro a realidade e interesses
da criança é extremamente necessário o uso de Tecnologias da Informação e a
Gameficação em sala de aula, algo que ainda é usado de forma a entreter e distrair, porém
é uma ferramenta de suporte educacional eficaz, além disso uma sala de aula que utiliza
tecnologias e Gameficação traz grandes resultados no processo ensino-aprendizagem,
porque cria um espaço rico para estímulos e desenvolvimento neuropsicomotor, cultural
e social ao educando, além de trazer a realidade e interesses destes a sala de aula,
proporcionando assim uma aprendizagem mais leve, divertida, significativa,
contextualizada, cotidiana e rica em conhecimentos interdisciplinares e experiências
únicas para a relação educador e educando.
Uma alfabetização e letramento, uma educação para a vida pressupõe uma escola
inclusiva, que não subestima ou rotula uma criança com deficiência ou não, mas sim dá
oportunidades para seu desenvolvimento em geral através da arte, música, dança, teatro,
desenho, pintura e todo qualquer tipo de maneiras a motivar e incentivar crianças com ou
sem deficiência. A escola deve ser um espaço que valoriza a criança num todo e sempre
busca o aprimoramento e a formação integral do ser, fazendo-os enxergar todo seu
potencial, suas competências e habilidades e que estes possam se tornar verdadeiros
cidadãos e agentes de transformação da realidade que os cerca.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início da pesquisa constatou-se que há uma grande necessidade de se entender


sobre a alfabetização e letramento para não só compreendê-la como o ato de ler e escrever,
mas sim para uso social e cultural, como forma de tornar-se cidadão e de interferir na
realidade que cerca o individuo, tornando-se um autor da própria realidade que o cerca.
Para isso a pesquisa respondeu a pergunta inicial de como se ter uma alfabetização
e letramento de qualidade, significativa e para a vida a luz de diversas teorias,
metodologias, práticas e recursos pedagógicos como sendo aquela que considera a criança
num todo, valorizando toda a sua realidade, seus interesses e que não só ensina a ler e
escrever, mas a ler o mundo que a cerca e a transformar sua realidade através de uma
Pedagogia que vise o desenvolvimento completo da criança.
A metodologia aplicada de análise bibliográfica, selecionando textos, artigos,
livros, documentários, filmes, entrevistas e vídeos que em sua maioria datam de 1980 até
2021 foi necessária para validação e confiabilidade, além disso a seleção de livros descrita
auxiliou na organização dos temas e a relacionar a teoria ao contexto educacional atual.
Houveram certas limitações quanto ao tempo e a conteúdos como por exemplo a
“História da alfabetização e letramento” que por conterem poucos detalhes e informações
específicas e um maior foco em contextos históricos nas fontes pesquisadas não puderam
ser melhor explicados e aprofundados.
Como complementação e aprofundamento da temática da pesquisa seria
interessante futuramente conhecer sobre a Neurociência da Alfabetização, pois é
interessante ao educador entender os processos cerebrais que envolvem a alfabetização e
letramento, além de entender como a criança aprende.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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