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AO

JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SOROCABA,


ESTADO DE SÃO PAULO
ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES DO CÓRREGO DO MAÇARICO, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o nº…, com sede e foro na Rua…, nº…, Bairro…, Cidade…,
Estado…, CEP nº…, endereço eletrônico…, neste ato representada por seu presidente…,
nacionalidade…, estado civil…, proLissão…, portador da cédula de identidade – RG nº…,
inscrito no CPF/MF nº…, residente e domiciliado à Rua…, nº…, Bairro…, Cidade…, Estado…,
endereço eletrônico…, vem, respeitosamente, por intermédio de seu advogado (procuração
anexa), com escritório proLissional à Rua…, nº…, Bairro…, Cidade…, Estado…, CEP nº…,
endereço eletrônico…, onde recebe intimações, com fulcro no artigo 1º, I da Lei nº 7347/85
propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA
em face de FRIGORÍFICO AGOSTINHO CARRARA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ nº…, com sede na Rua Coronel Agripino de Oliveira Costa, nº 171, Jardim
Estelionato, na cidade de Sorocaba, Estado de São Paulo, CEP nº…, endereço eletrônico…,
representada por seu sócio administrador…, nacionalidade…, proLissão…, estado civil…,
portador do RG nº…, inscrito sob o CPF/MF…, residente e domiciliado à Rua…, nº…,
Bairro…, Cidade…, Estado…, CEP nº…, endereço eletrônico…, pelos motivos de fato e direito
a seguir aduzidos.
I) DOS FATOS
exigências legais, acaba por provocar danos ao meio ambiente, praticando ilícito civil, por
ofensa a bens de interesse difuso.
II) DA LEGITIMIDADE ATIVA
De acordo com o artigo 1º, I da Lei nº 7347/85, é cabível o ajuizamento da ação civil
pública, para prevenir ou reprimir danos materiais causados ao meio ambiente. Dispõe,
ainda, da legitimidade ativa da Associação em seu artigo 5º, V, alíneas a e b, tendo em vista
que está constituída há mais de 1 (um) ano, bem como inclui entre suas Linalidades a
proteção ao meio ambiente.
III) DO DIREITO
Segundo melhor doutrina, os princípios da prevenção e da precaução, abarcados pelo artigo
6º, I da Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12305/2010, consistem no dever
jurídico de evitar a consumação de danos ao meio ambiente, toda vez que houver certeza da
ocorrência de um dano ambiental em determinado caso:
Art. 6º. São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I – a prevenção e a precaução;
Conforme comprovado pelos laudos anexos, a ação da empresa-ré está causando profundo
impacto ambiental ao município, resultando em danos a fauna e a Llora da região, sendo de
suma importância a presente ação civil pública, no sentido de prevenir e reprimir os danos
causados, decorrente da poluição que está sendo promovida, indubitável no artigo 3º,
inciso III, alínea e e inciso IV da Lei 6938/81:
Art. 3º. Para os :ins previstos nesta Lei, entende-se por:
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV – poluidor, a pessoa :ísica ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
Os eLluentes despejados no Córrego do Maçarico são deLinidos pelo artigo 3º da Lei
12305/2010 como resíduos sólidos, pois em seu conceito inclui-se, no inciso XVI, os
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d’água:
Art. 3º. Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
XVI – resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação :inal se procede, se propõe proceder ou
se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente
inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
Uma vez que a ré tem feito o lançamento de resíduos sólidos fora dos parâmetros
estabelecidos na legislação ambiental competente, ocorre a violação do disposto no artigo
47, I, da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição :inal de resíduos
sólidos ou rejeitos:
I – lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;
Tais atos ferem o direito constitucional a um meio ambiente ecologicamente equilibrado,
previsto no artigo 225, da Constituição Federal:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Neste caso, a degradação ao meio ambiente é constatada pela simples existência da
atividade de despejo dos eLluentes que, se diga de passagem, é irregular e obriga o
responsável a reparar os danos causados. Vejamos o § 2º do artigo supracitado:
Art. 225 (…)
§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais :ica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma
da lei.
III.1) DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
A responsabilidade civil ambiental é de cunho objetivo, não se questionando a respeito da
culpa, onde se perquire o nexo de causalidade, adequado a relacionar a conduta ao
resultado danoso, bastando assim a ocorrência da conduta e do dano ambiental, ligados
pelo nexo causal para ensejar a responsabilidade, fato gerador de obrigação de reparar o
patrimônio ambiental lesado, independente de culpa, conforme dispõe o artigo 14, § 1º da
Lei 6938/81 e o § 3º do artigo 225 da Carta Magna:
Lei 6938/81
Art. 14 (…)
§ 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente.
Constituição Federal
Art. 225 (…)
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas :ísicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
No caso em pauta, não há que se negar a conduta ou mesmo a ocorrência do resultado
danoso, pois encontra-se devidamente caracterizados através dos boletins, laudos e fotos
que levam à inequívoca conclusão da ocorrência de danos ao meio ambiente.
Portanto, requer-se que o réu paralise imediatamente e em deLinitivo, qualquer atividade
de despejo de eLluentes no Córrego do Maçarico (obrigação de não fazer) e, em caso de
descumprimento, aplicação de multa coercitiva, prevista na Lei 7347/85, artigo 11 e artigo
536 do NCPC, que é um meio de coação que visa a compelir o devedor à observância da
ordem judicial:
Lei 7347/85
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade
nociva, sob pena de execução especí:ica, ou de cominação de multa diária, se esta for
su:iciente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
Novo Código de Processo Civil
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer
ou de não fazer, o juiz poderá, de o:ício ou a requerimento, para a efetivação da tutela
especí:ica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.
III.2) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A inversão do ônus da prova justiLica-se ao interpretar o art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990
c/c o art. 21 da Lei n. 7.347/1985, conjugado com o princípio da precaução prevista no
artigo 6º, I, da Lei 12305/2010 (já citada anteriormente):
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossu:iciente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for
cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor.
Art. 6º. São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I – a prevenção e a precaução;
Tal instituto, legalmente previsto nos termos supracitados pelo Código de Defesa do
Consumidor, aplicada no âmbito do direito ambiental, apresenta-se como instrumento de
extrema importância e que vem ao encontro de todos os preceitos constitucionais que
visam proteger o meio ambiente.
IV) DA TUTELA DE URGÊNCIA
Apesar da autuação realizada pela municipalidade, a empresa continua a praticar os atos
nocivos ao meio ambiente, razão pela qual é necessária a intervenção do Poder Judiciário
para preservar esse bem jurídico tutelado pela Constituição. O artigo 12 da Lei nº 7347/85
prevê a possibilidade de concessão de tutela de urgência, desde que presentes os requisitos
previstos no artigo 300 do Código de Processo Civil, a saber, “quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo”.
No presente caso, é evidente o Llagrante desrespeito as normas ambientais e o risco de
perecimento das espécies existentes da fauna e Llora na região se o despejo irregular
permanecer.
V) DA NÃO CONDENAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO
De acordo com o art. 18 da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85) a Associação, autora da
ação, não está obrigada a arcar com os honorários periciais, salvo em caso de comprovada
má-fé:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
VI) DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) A concessão da tutela de urgência, nos termos do artigo 12 da Lei nº 7347/85 e artigo
300 do NCPC, para que a empresa-ré se abstenha imediatamente de despejar seus resíduos
sólidos no corpo receptor hídrico do Córrego do Maçarico;
b) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990 c/c o art.
21 da Lei n. 7.347/1985;
c) Seja ordenada a citação da empresa-ré para, querendo, apresentar contestação no prazo
legal, sob pena de revelia;
d) Sejam, ao Linal, julgados procedentes os pedidos formulados na petição inicial,
consistente no encerramento das atividades nocivas (obrigação de não fazer), e, em caso de
descumprimento, aplicação de multa coercitiva, prevista na Lei 7347/85, artigo 11 e artigo
536 do NCPC e a condenação da empresa-ré a reparar os danos sofridos;
e) A condenação da ré nas custas processuais e honorários advocatícios;
f) A intimação do Ministério Público para acompanhar a presente ação, conforme artigo 6º
da Lei 7347/85;
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a
juntada de novos documentos, perícias, depoimento pessoal do réu e testemunhas.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
Nestes termos,
Pede deferimento.
Sorocaba, 22 de setembro de 2017.
Nome do Advogado
OAB nº

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