Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FORTALEZA – CE
2013
ARISTON SILVA DE AZEVEDO
FORTALEZA – CE
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
CDD 330
ARISTON SILVA DE AZEVEDO
Aprovada em ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________
A meus pais, José Otaviano de Azevedo e Maria Fátima Silva de Azevedo, que
sempre me incentivaram.
Aos meus irmãos, Ana, Adriana, Ademir, Alessandra, Anderson e Adilson; os quais
contribuíram de todas as formas possíveis.
1 Introdução ............................................................................................................... 9
5 Conclusão ............................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
9
1 Introdução
A história mostra que as ações de Margaret Thatcher (na Inglaterra), com sua
dilapidação econômica e sua postura reacionária no trato com os movimentos
sociais, do que provém a famosa expressão “Dama de Ferro”, são os exemplos mais
nítidos do que o neoliberalismo pode ser. Durante o governo Thatcher, os
movimentos sindicais foram duramente reprimidos, haja vista a famosa greve dos
mineiros de 1984/85. Na outra potência de capitalismo avançado, os Estados
Unidos, o ex-presidente Ronald Reagan introduziu uma espécie de neoliberalismo
“diferenciado”1, voltado para expansão militar, preocupado em fazer frente à União
Soviética.
1
Na seção referente ao neoliberalismo no mundo, o termo “diferenciado” ficará mais claro.
10
Este estudo passará a investigar com ênfase o período que vai do início do
governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) ao fim do governo Lula, com o objetivo
de verificar em que medida ambos os governos aderiram ao ideário neoliberal. A
investigação cientifica foi realizada através da consulta a livros, artigos, jornais,
revistas, documentos oficiais e dados estatísticos obtidos em fontes secundárias.
2 O neoliberalismo no mundo
2
O somatório desses elementos levou a redução dos níveis produtividade do capital que, por sua
vez, reduziram a taxa de lucro.
12
Sendo assim, o modelo de capitalismo dos anos anteriores não era ideal para
os novos moldes em que a economia mundial se inseriu, ou seja, prevalecia agora a
lógica da acumulação financeira. Ficava inviável para os capitais voláteis uma
economia regulada, pois as principais características deles são a velocidade
frenética com a qual se movimentam e a desconexão com a esfera produtiva real.
Dessa forma, o avanço das ideias neoliberais encontrou certa facilidade, uma
vez que não havia obstáculos devido à queda do modelo de acumulação anterior. A
primeira experiência neoliberal se deu na América Latina, mais precisamente, na
ditadura chilena de Augusto Pinochet. Ao que se sabe, “[...] no Chile, naturalmente,
a inspiração teórica da experiência pinochetista era mais norte-americana do que
austríaca. Friedman e não Hayek, como era de se esperar nas Américas”
(ANDERSON, 1995, p. 19). Naomi Klein, no livro A doutrina do choque: a ascensão
do capitalismo de desastre (2008), também faz considerações pertinentes acerca da
introdução do pensamento neoliberal nos países da América latina.
tentativas, não foi possível resistir às pressões do mercado financeiro; dessa forma,
o governo francês “[...] se viu forçado a mudar seu curso drasticamente e reorientar-
se para fazer uma política muito próxima à ortodoxia neoliberal [...]” (ANDERSON,
1995, p. 13).
Contudo, algumas ressalvas devem ser feitas. O custo para que isso fosse
possível passava pela recuperação dos lucros via deflação. Então, foram impostas
duras derrotas aos sindicatos e, por conseguinte, redução do número de greves e
controle impiedoso dos aumentos salariais. Outro ponto que merece destaque diz
respeito à redução da tributação em cima dos salários mais altos nos países que
compunham a Organização Europeia Para o Comércio e Desenvolvimento (OCDE)
(ANDERSON, 1995).
3
A pergunta faz parte do texto de Perry Anderson originado no seminário “Pós-neoliberalismo: as
políticas sociais e o Estado democrático”, realizado entre os dias 13 e 16 de 1994, pelo departamento
de Política Social da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ).
16
2.1 No Brasil
4
Datam dos anos de 1980 pelo menos cinco greves gerais organizadas pela mobilização da classe
trabalhadora. Após a greve geral de 1983, realizou-se, entre 26 e 28 de agosto, o 1º Congresso
Nacional da Classe Trabalhadora. No último dia de congresso, nasceu a Central Única de
Trabalhadores (CUT).
17
[...]. O maior índice de adesão à greve ocorreu em São Bernardo do Campo e Diadema,
onde 80% dos trabalhadores paralisaram suas atividades, segundo os cálculos das
lideranças sindicais. As duas cidades ficaram sem transportes e o comércio não funcionou.
Lá também ocorreram os principais incidentes: 50 ônibus foram depredados em Diadema,
enquanto em São Bernardo a Polícia Militar reprimiu um grupo de manifestantes com
violência e chegou a invadir a igreja matriz onde eles se refugiaram. [...]
Fonte: Adaptado do jornal Folha de São Paulo, 22 de julho de 1983.
5
Trata-se do Partido dos Trabalhadores (PT), fundado em 1980.
18
A trágica experiência vivida na era Collor não serviu de impulso para a ruptura
com o modelo neoliberal; pelo contrário, foi depois dela que se abriu espaço para
ascensão de Fernando Henrique Cardoso à presidência da República. Com status
de progenitor do Plano Real, o então Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco
se fortaleceu na disputa presidencial respaldado pelo “sucesso” obtido sobre a
inflação.
6
A partir de um determinado valor, a prioridade é dada ao pagamento de dívidas bancárias, em vez
das dívidas trabalhistas.
21
Cardoso e Lula serão vistos com maiores detalhes adiante. No primeiro instante, foi
necessário verificar em que direção caminharam as políticas de ambos os governos.
22
(...). Caindo a inflação, como aposta a grande maioria dos economistas, a candidatura
FHC tende a mexer-se do patamar em que estacionou nos últimos dois meses.
É provável, porém, que esse fato novo só se introduza no cenário eleitoral a partir de
agosto. A própria equipe econômica arquivou o discurso triunfalista – em que recaíra o
próprio FHC, enquanto ministro de que a inflação baixaria a zero assim que o real
chegasse.
Se se confirmar essa hipótese, haverá dois tipos de propaganda. FHC, responsável pelo
plano, ao comparar os índices atuais (em torno de 45%) com os de julho (que ficarão,
supõe-se, abaixo de 10%). Os oposicionistas dirão que o plano fracassou porque a
inflação não caiu tanto quanto inicialmente se assegurava.
Nessa perspectiva, não é possível fazer uma análise da era FHC deixando de
lado seu maior cabo eleitoral: o Plano Real. Para tanto, é necessário deixar claro
que a introdução do novo plano não se deu de maneira imediata. Dividida em três
fases, a introdução se deu da seguinte forma:
Primeira fase (ajuste fiscal) – ocorrida entre julho de 1993 e agosto de 1994 –
Significou, sobretudo, uma manobra com o objetivo de garantir as condições
necessárias para introdução da nova moeda. Destaca-se a aprovação do
Fundo Social de Emergência (FSE), que possibilitou cortes no orçamento do
governo para o ano de 1994, além de dar flexibilidade ao uso dos recursos e
controle no fluxo de caixa. Filgueiras (2006a, p. 102-03) chama atenção para
o seguinte fato:
No primeiro momento, para que fique claro, houve uma combinação entre
combate à inflação, crescimento e aumento do emprego. Mas, em contrapartida,
observou-se um processo de abertura da economia e uma política de juros altos,
implicando uma maior entrada de capitais especulativos (FILGUEIRAS, 2006a).
formas, afastar os efeitos da crise vivida por Argentina e México sobre a economia
brasileira. Os modelos adotados pelos países periféricos, muito similares, diga-se de
passagem, tinham a sobrevalorização cambial como remédio contra a inflação e
visavam sustentar crescimento e abertura econômica ao mesmo tempo
(FILGUEIRAS, 2006a).
Ainda com base na análise de Filgueiras (2006a, p. 126), pode-se questionar
a viabilidade da estratégia adotada no Brasil:
No Brasil, com a fuga de capitais que ocorreu a partir daí, percebeu-se que
essa estratégia era insustentável a longo prazo, uma vez que o equilíbrio no
balanço de pagamentos ficava na dependência da entrada de capitais
especulativos, atraídos, necessariamente, por taxas de juros cada vez mais
elevadas, ou na dependência da existência de reservas cambiais estáveis,
uma vez que seu montante passou a depender exatamente desses capitais
voláteis, já que o crescimento dos saldos negativos na balança comercial
potencializava o déficit da conta de transações correntes.
O capital especulativo busca ambientes com altas taxas de juros e com outras
condições que possibilitem sua alta reprodução. No caso de cenários econômicos
com advento de crises, a fuga ocorre em massa. É o chamado “efeito manada”.
7
Fizeram também parte da lista as seguintes medidas: redução nos prazos dos consórcios e do
número de prestações de compras, aumento da alíquota do Imposto de Importação, incentivo à
exportação, retirada ou diminuição do IOF visando atrair a entrada de capitais especulativos.
26
70.000,00
60.000,00 60.110
20.000,00 21.618,90
18.125,00
12.324,60 12.615,60
10.000,00 9.216,80
6.955,10
3.801,60 77
0,00 -5.118,60
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
-10.000,00
Investimento em carteira - Total (líquido) - anual
Reservas internacionais - Conceito liquidez - Total - anual
A crise dos países asiáticos (Coreia do Sul, Tailândia, Filipinas, Malásia, Hong
Kong) em 1997, a qual teve como estopim a desestruturação do sistema financeiro
daqueles países, provocou uma nova onda de instabilidade financeira internacional.
A fim de afastar os efeitos de uma fuga de capitais sobre a economia brasileira, o
governo agiu de maneira austera. A taxa de juros, mais uma vez, foi aumentada,
passando a 43% ao ano; para garantir a entrada de capitais estrangeiros, uma série
de medidas foi tomada, e um novo pacote econômico, conhecido como Pacote 51,
chegou a ser anunciado.
Pouco tempo depois, houve a crise da Rússia (1998). Não muito diferente das
crises anteriores, verificou-se uma leva de medidas, a fim de conter os estragos que
poderiam ser provocados na economia brasileira. O teor das medidas não sofreu
muita alteração. Portanto, houve a elevação da taxa de juros e a concessão de
benefícios ao capital estrangeiro. Além disso, um novo pacote econômico, que trazia
em seu bojo a contenção das despesas e a elevação de impostos, foi anunciado e
entrou em vigor no ano de 1999.
Mesmo assim, ainda no ano corrente (1998), realizaram-se cortes dos gastos
federais e das estatais, redução dos desembolsos de empréstimos feitos pelos
bancos federais aos estados e municípios, adoção de meta para superávit do
governo federal e, por fim, criação de uma espécie de comissão para garantir o
alcance das metas (FILGUEIRAS, 2006a).
20000
10000
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
-10000
-20000
-30000
-40000
transações correntes Balança de Serviços Balança comercial
Fonte: IPEADATA.
O Plano Real resistiu durante os primeiros quatro anos do governo FHC, mas
após as sucessivas crises não foi mais possível sustentar o regime de câmbio fixo.
Ainda assim, de acordo com Filgueiras (2006a, p.189, grifo do autor):
tratou liquidar todas as expectativas governo. Por isso, Filgueiras (2006a, p.189,
grifo do autor) explica que:
A crise brasileira empurrou o país a um novo acordo com o FMI e pelo menos
três empréstimos foram tomados nos anos de 1999, 2001 e 2002, os quais, de
acordo com Filgueiras (2006a), foram utilizados para conter a crise do balanço de
pagamentos.
Em pelo menos um ponto, o Plano Real cumpriu seu papel. É certo que o
objetivo de reduzir a inflação foi alcançado, mas a fatura a ser paga custou muito
caro ao país. Filgueiras (2006a, p. 161) faz as seguintes considerações:
8
Recorrer à poupança externa era a solução apontada pelo governo, ou seja, não é a opinião do
autor.
9
Na maioria das vezes, a estratégia de aumentar a taxa de juros colabora para atrair capitais
especulativos de curto prazo.
30
Tudo parecia estar programado desde a época em que FHC era Ministro da
Fazenda, pois, na apresentação da “Exposição de Motivos”10 da reforma de Estado,
já se viam sinais de que os servidores públicos seriam um dos principais alvos. No
mesmo caminho, as privatizações eram encaradas como prioridades do processo
que estava em curso.
10
Exposição de Motivos nº 395 de 7/12/1993.
31
melhoraram realmente, ou se tudo não passou de mais uma desculpa. Para isso, é
necessário observar alguns indícios que podem ser fornecidos por dados ou até
mesmo por consumidores desses serviços.
O serviço custa caro e está longe de ser um dos melhores. Ainda segundo
Oswald (2010):
Com o setor de energia elétrica não foi tão diferente. A melhora tão esperada
do serviço não aconteceu, e as queixas também são grandes. Em uma matéria do
jornal Folha de São Paulo do dia 02 de maio de 201313, é possível encontrar os
principais motivos que geram reclamação: os desligamentos (conhecidos como
apagões) e os erros de leitura.
13
Isso mostra que a qualidade do serviço não melhorou, mesmo tendo passado tanto tempo do
processo de privatização do setor elétrico.
33
É por esse motivo que as políticas sociais ficam passivas a cortes que
reduzem cada vez mais os investimentos. Lesbaupin e Mineiro (2002, p. 40)
apresentam os seguintes dados:
14
Aqui o conceito defasado de pobreza refere-se ao conceito do Banco Mundial.
34
Um dos eixos mais importantes das políticas sociais, a reforma agrária, foi
tratado como um simples processo de assentamento das famílias camponesas em
lotes de terra. Para o desenvolvimento das atividades por parte dos trabalhadores
camponeses, é necessário oferecer uma série de serviços essenciais/básicos, como
água, saúde, educação e crédito, além de infraestrutura adequada. Na realidade, os
35
Durante os últimos oito anos, este país não teve governo positivo, se
considerarmos que um governo deve se caracterizar por ter uma uma (sic)
política de saúde, de educação, de habitação, de transporte, uma política
industrial e tantas outras necessárias ao desenvolvimento da nação. Ele
teve apenas uma política, a política econômica de ajuste. E essa se
caracterizou por oferecer o Brasil como um espaço de valorização ao capital
financeiro nacional e internacional, multiplicando os lucros dos bancos e dos
aplicadores financeiros, com taxas de juros elevadas e sobreendividamento
(sic). Foram feitos acertos com os organismos financeiros internacionais
para garantir os ganhos dos investidores, comprometendo enorme
quantidade de recursos preciosos do orçamento do país transferidos como
ganhos financeiros aos credores das dívidas interna e externa
O primeiro trecho citado faz parte do livro Mãos à obra, Brasil: proposta de
governo, e, como o próprio título sugere, é apresentada a proposta do então
candidato Fernando Henrique Cardoso. O segundo trecho citado foi utilizado para
contrapor o primeiro.
6
5,33
5
4,42 4,31
4
3,38
3
2,66
2 2,15
1,31
1
0,04 0,25
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: IPEADATA.
sob a égide de que elas estavam atrasadas e do elevado custo do trabalho, o que,
na verdade, não parece ser verdade, pois, através dessa manobra, foi possível não
só modificar a CLT, mas também estabelecer novas modalidades de contrato de
trabalho sem a parte do salário, como, por exemplo, o Sistema Simples e o contrato
por tempo determinado.
Outro ponto deve ser comentado: a questão dos rendimentos. Devido a uma
série de questões relacionadas – como, por exemplo, a ausência de crescimento
econômico sustentado somado à expansão do desemprego –, a maior escolarização
e a qualificação da oferta da mão de obra desencadearam maior concorrência no
interior das classes trabalhadoras, levando a piora da parcela salarial na renda
nacional. Nesse contexto, o efeito das políticas de desregulação do mercado de
trabalho, somado ao chamado processo de terceirização das definições salariais e
ao enfraquecimento do poder dos sindicatos, contribuiu para a queda nos
rendimentos do trabalho. (POCHMANN; BORGES, 2002).
15
A reforma foi concluída com a promulgação da Emenda Constitucional nº20 de 15 de dezembro de 1998.
39
apenas um argumento do governo. Não se pode aceitar tudo o que é posto sem
antes fazer uma investigação. O estudo intitulado A reforma da previdência: a
verdade nua e crua, do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal
(UNAFISCO SINDICAL), desmente todos os argumentos do governo.
Após oito anos da era FHC, os grupos de esquerda ensejavam uma virada
nas políticas que dilapidaram econômica e socialmente o país. Todas as
esperanças, “até certo ponto”, voltaram-se a favor da figura do candidato Luís Inácio
Lula da Silva. A história política de Lula o credenciava como representante das
classes mais organizadas da sociedade: líder sindical na década de 1980 esteve
sempre presente nas lutas por melhores condições de trabalho do operariado do
ABC paulista e redemocratização do país.
Enfim, a vitória veio após três tentativas frustrantes, mas consolidou a virada
à direita de um partido que nasceu em meio às lutas populares. De acordo com
Boito Jr (2005, p.11-12):
41
Portanto, Lula era visto apenas como uma mera esperança, dadas as
transformações petistas ao longo do tempo.
20.000,00 13.984,66
13.642,60
10.000,00
4.177,29 11.679,24
0,00 1.550,73
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
-10.000,00 -7.636,63
-20.000,00
-24.302,26
-30.000,00
-28.192,02
-40.000,00
-50.000,00
-47.273,10
-60.000,00
Fonte: IPEADATA.
Fonte: IPEADATA.
Filgueiras e Gonçalves (2007) explicam que, no caso do Brasil, que tem
histórico de desempenhos negativos na conta de serviços e rendas, é preciso ter
44
20
15
10
5
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
-5
-10
-15
Exportações - bens e seviços % do PIB
Exportações - bens e serviços - var real anual
PIB - var real anual
Fonte: IPEADATA.
16
É definida como a perda de participação da indústria na produção total de um determinado país.
46
Gráfico 6: Dívida interna (líquida) x Dívida externa (líquida) – 2003 a 2010: Saldo em
R$ bilhões
2.000,00
1.835,50
1.655,20
1.500,00 1.500,70
1.410,10
1.147,90
1.000,00 972,10
829,30
742,40
500,00
Fonte: IPEADATA.
isso, as ações em algumas áreas têm relação direta com o modelo herdado de FHC.
De acordo com Druck e Filgueiras (2006, p. 10):
A lógica e o discurso são de que o Estado deve dirigir suas ações para os
mais pobres e miseráveis – conforme o estabelecimento de uma linha de
pobreza minimalista, empurrando os demais para contratação de serviços
de mercado (saúde, educação e previdência principalmente). Na verdade, a
classe média (inclusive parte da chamada classe média baixa), há tempos
supre no mercado suas necessidades (em particular com escolas e planos
de saúde privados), não fazendo o uso dos serviços ofertados de forma
precária pelo estado.
Fonte: Adaptado da revista Universidade e Sociedade do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (ANDES – SN) nº 51, março de 2013.
Fernando Henrique Cardoso usou a seu favor o Plano Real e, com Lula, não
poderia ser diferente; mas, nesse caso, é o Bolsa Família que passa a ser o maior
50
aliado do Lulismo. Esse programa nada mais é do que a unificação dos programas
sociais focalizados da era FHC. Fica claro o caráter paliativo e político desse tipo de
programa, como explicam Druck e Filgueiras (2006, p. 13):
Outro ponto que merece ser destacado diz respeito à diferenciação entre
política de Estado17 e política de governo. A primeira está protegida juridicamente
contra cortes orçamentários, enquanto a segunda tem caráter transitório e está
sujeita às decisões de governo. Utilizando mais uma vez análise de Druck e
Filgueiras (2006, p. 13):
17
Estão entres as políticas sociais de Estado o Regime Geral de Previdência (RGPS), o Sistema
Único de Saúde (SUS), o Ensino Fundamental e os Benefícios de Prestação Continuada (BPC) da
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Para maiores detalhes sobre análise acerca das políticas
sociais do governo Lula, ver Filgueiras e Gonçalves (2007).
51
5 Conclusão
A partir desse momento, o que se teve foi um processo ainda mais profundo
de desmonte e entrega do patrimônio brasileiro a preços extremamente vantajosos
para os compradores, os quais contaram com uma série de facilidades, que vão
desde o preço subestimado das empresas até a concessão de linhas de créditos do
BNDES com juros subsidiados. Se, para os compradores, foi vantajoso, para a
população, não foi. A redução da dívida pública e a melhoria dos serviços prestados,
justificativas utilizadas, não ocorreram como se prometeu. O país se endividou ainda
18
A expressão “desertificação neoliberal” é utilizada por Ricardo Antunes para descrever o avanço
das ideias neoliberais no Brasil, as quais trouxeram consigo um conjunto de transformações
econômicas e sociais trágicas; portanto, essa expressão é uma analogia ao total desmonte do Estado
Brasileiro ocorrido a partir da década de 1990.
54
Visto que o modelo adotado por Lula foi o mesmo do segundo mandato de
FHC, não se pôde vislumbrar nenhuma mudança do ponto de vista estrutural da
economia brasileira. É verdade que houve avanços de caráter conjuntural, devido à
melhora nas contas externas do país, sobretudo a redução da dívida externa, mas é
verdade também que, em troca disso, a dívida interna cresceu.
Encerrada a era Lula, o balanço que se pode fazer é que não houve, em
nenhum momento, sinalização de ruptura com o modelo econômico vigente, mas
apenas novas adequações, a fim de dar novo fôlego ao modelo que parecia
cambalear.
55
REFERÊNCIAS
nos trabalhadores rurais. São Paulo: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.37,
p.65-67, 2012.
NAVARRO, Vicente. Welfare e "keynesianismo militarista" na era Reagan. Lua
Nova: Revista de Cultura e Política. São Paulo. v.24. p.189-210. setembro de 1991.