Você está na página 1de 8

MINISTÉRIO PÚBLICO DA PARAÍBA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE

POMBAL

3o CARGO DE PROMOTOR DE JUSTIÇA

Termo de Ajustamento de Conduta - TAC no 3/3° PJ - Pombal/2022

PROCEDIMENTO 005.2020.000198

Data do ajuste

Compromissário(s):1- Município de Coremas; 2- Sr. Irani Alexandrino da


Silva (Prefeito Constitucional do Município de Coremas).

Compromitente(s): 1- Ministério Público do Estado da Paraíba

Entidade interessada: 1- Núcleo de Justiça Animal da Universidade Federal


da Paraíba (NEJA/UFPB)

Matéria(s): Meio Ambiente. Direito Animal.

Objeto(s): Aperfeiçoamento da Política Pública de Proteção Animal

Fundamento(s) Legal(is):Art. 225 da CRFB/1988; Lei Federal 13.426/2017;


Lei Federal 14.228/2021; e Lei Estadual no 11.140/2018.

Na data acima referenciada, pelo presente instrumento, o MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA, por intermédio da Promotora de
Justiça Substituta signatária, de um lado, doravante denominado
COMPROMITENTE e, de outro, as partes supraidentificadas como
COMPROMISSÁRIAS resolvem celebrar o presente TERMO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA, com fulcro no art. 5º, § 6º, da Lei de
Ação Civil Pública e;

Considerando que consiste em atribuição institucional do Ministério


Público a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos (art. 129, inc. III, da Constituição Federal);

Considerando que a ação civil pública pode ter por objeto a condenação
em obrigação de fazer relacionada ao meio ambiente, bem como a outros
direitos difusos, a exemplo do direito fundamental à saúde (art. 1º, inc. I e
IV c/c art. 3º, ambos da Lei nº 7.347/1985)

Considerando que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (art. 225 da
Constituição Federal de 1988);

Considerando que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe


ao Poder Público, dentre outras medidas, promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente e proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade
(art. 225, § 1º, inc. VI e VII, da Constituição Federal);

Considerando que os animais são seres sencientes e conscientes, que


nascem iguais perante a vida, devendo ser alvos de políticas públicas
governamentais garantidoras de suas existências dignas, a fim de que o
meio ambiente, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida dos seres vivos, mantenha-se ecologicamente
equilibrado para as presentes e futuras gerações (art. 2º da Lei estadual
nº 11.140/2018, (Declaração da Consciência Animal - Cambridge,
2012);

Considerando que todo animal tem o direito à atenção, aos


cuidados e à proteção do homem, que os organismos de proteção e
de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível
governamental e que os direitos do animal devem ser defendidos
pela lei como os direitos do homem (Declaração Universal do Direito
dos Animais - UNESCO, 1978).
Considerando que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios promover a melhoria das condições de saneamento básico
(art. 23, inc. IX, da Constituição Federal);

Considerando que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o


Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício (art. 2º da Lei nº
8.080/90);

Considerando que estão incluídas no campo de atuação do Sistema Único de


Saúde a execução de ações de vigilância sanitária, definida como o conjunto de
ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de
bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, e de ações de vigilância
epidemiológica, compreendida como o conjunto de ações que proporcionam o
conhecimento, a detecção e controle das doenças ou agravos (art. 6º, inc. I, alíneas
“a” e “b”, e §§ 1º e 2º, todos da Lei nº 8.080/90);

Considerando que são tidos como ações e serviços públicos de saúde voltados
para a vigilância, a prevenção e o controle de zoonoses e de acidentes causados
por animais de relevância para a saúde pública: (i) o desenvolvimento e execução
de ações, atividades e estratégias de educação em saúde visando à guarda ou à
posse responsável de animais para a prevenção das zoonoses; (ii) o
desenvolvimento e execução de ações, atividades e estratégias de controle da
população de animais, que devam ser executadas em situações excepcionais, em
áreas determinadas, por tempo definido, para o controle da propagação de
zoonoses de relevância para a saúde pública; (iii) recolhimento, transporte e
destinação adequada de animais, quando couber, de relevância para a saúde
pública (art. 3º da Portaria nº 1.138/2014);

Considerando que o compromisso de ajustamento de conduta consiste em negócio


jurídico que tem por finalidade a adequação da conduta às exigências legais e
constitucionais, com eficácia de título executivo extrajudicial a partir da celebração;

CLÁUSULA PRIMEIRA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a obrigação de,


no prazo de , buscarem aperfeiçoamento e treinamento específico através de
curso de capacitação oferecido pelo NEJA ou semelhante, a fim de adquirir
informações técnicas, éticas e embasadas cientificamente para que possam
executar e cumprir as demais cláusulas presentes neste termo, com a
obrigação de instituir um programa de manejo populacional ético de cães e
gatos, de forma permanente, com equipe técnica especializada, para se fazer
cumprir os pilares necessários para estruturação de tal programa, com foco
em:

- controle populacional ético;


- educação da população;
- fiscalização de maus tratos;
- inibição do abandono;
- diminuição do comércio de animais;
- implementação de atividades relacionadas a esses temas.

CLÁUSULA SEGUNDA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a


obrigação de iniciar a promoção de campanhas de educação ambiental
com abordagem em saúde única e em educação humanitária, como
parte do programa de manejo populacional, voltadas à
conscientização da população, além de combater os maus tratos,
abuso, negligência e o abandono de animais, bem como tratar sobre a
importância da vacinação,vermifugação e castração de cães e gatos, e os
cuidados necessários aos animais usados para tração, as quais
devem ser realizada de forma contínua como uma política pública
municipal. Para tal, comprometem-se a usar dos meios de
comunicação oficiais para divulgação:
- sites;
- redes sociais;
- cartazes;
- folder;
- documentos impressos com gravuras;
- informação em rádio local;
- cartilha elaborada pelo NEJA;
- propagação da informação através dos agentes comunitários
de saúde, agentes de endemia e demais profissionais que
possuam acesso aos munícipes de forma direta.
CLÁUSULA TERCEIRA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a
obrigação de, no prazo de , instituir um censo canino e felino, através
de ferramentas específicas e validadas, a fim de obter mensuração
da população de cães e gatos existentes no município, seja essa
população de animais domiciliados, semi domiciliados (animais com
tutores mas que tenham acesso a rua) ou não domiciliados (animais
em situação de rua, com a finalidade de instituir um programa de
manejo populacional que seja eficaz), utilizando de:
- identificação individual de cada animal, com foto e
geolocalização, a partir do uso de aplicativo específico
recomendado pelo NEJA, ou outro semelhante;
- identificação por meio de microchip.

CLÁUSULA QUARTA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a


obrigação de, no prazo de , construir e viabilizar o funcionamento de um
centro cirúrgico, para fim de realizar o controle populacional ético de
cães e gatos de forma permanente por meio de cirurgia de castração
minimamente invasiva, bem como realizar todas as atividades
técnicas e administrativas necessárias que desse feito provém,
assegurando bons níveis de bem-estar animal durante todo o
processo pré, trans e pós operatório.

PARÁGRAFO PRIMEIRO. O cumprimento desta obrigação será


comprovada mediante apresentação de cronograma à Promotoria, no
prazo de , envio de documentos com fotos e vídeos durante toda a
realização da atividade, com periodicidade mensal e de, ao final,
mediante apresentação de laudo técnico subscrito por profissionais
habilitados (Arquiteto/Engenheiro Civil e Médico Veterinário), instruído
com levantamento fotográfico e videográfico, comprovando o
cumprimento da obrigação.

PARÁGRAFO SEGUNDO. Para viabilizar o cumprimento desta cláusula,


deve o ente compromissário incluir na sua legislação previsão
orçamentária para tanto.
CLÁUSULA QUINTA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a
obrigação de, no prazo de, implementar e executar política de controle de
natalidade por meio de esterilização cirúrgica através de técnica
minimamente invasiva, nos termos da Lei Federal n.º 13.426/17 e do
Código de Direito e Bem-Estar Animal da Paraíba (Lei n.º 11.140/18),
buscando parcerias com clínicas veterinárias e - ou castramóvel
para a realização do mesmo, até que a cláusula supracitada seja
cumprida, priorizando os animais em situação de rua, indicados por
associações protetoras e aqueles que estejam sob os cuidados de
famílias de baixa renda, assumindo, ainda, se houver previsão
orçamentária plausível, fornecer atendimento clínico completo pré -
cirúrgico, incluindo exames e o que se fizer necessário, a esses
animais, no pré-operatório, transoperatório e no pós operatório.

PARÁGRAFO PRIMEIRO. Para viabilizar o cumprimento desta cláusula,


deve o ente compromissário incluir na sua legislação previsão
orçamentária para tanto.

CLÁUSULA SEXTA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a obrigação


de se abster de realizar eutanásia nos casos de doenças curáveis ou que
seja possível o tratamento, de acordo com o art. 2º da Lei federal nº
14.228/21.

PARÁGRAFO PRIMEIRO. Caso a eutanásia seja necessária, deve-se


determinar a justificação por laudo do responsável técnico dos órgãos de
controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais
congêneres, devendo o ato ser precedido, sem exceção, de exames
específicos que confirmem a existência de doença ou situação a que
caiba eutanásia e de não possibilidade de tratamento.

PARÁGRAFO SEGUNDO. Deve ser assegurado às entidades de


proteção animal e demais interessados, o acesso irrestrito à
documentação que comprove a legalidade da eutanásia (laudo médico
veterinário, exame laboratorial, prontuário etc.).

CLÁUSULA SÉTIMA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a


obrigação de seguir as orientações do Ministério da Saúde no que
compete às ações de prevenção e erradicação da leishmaniose,
buscando formas de prevenção da doença de maneira contínua.

CLÁUSULA OITAVA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a


obrigação de fiscalizar as pessoas físicas e - ou jurídicas que criam
animais para reprodução com fins comerciais, exigindo desses
estabelecimentos o cumprimento da Lei Estadual nº 11.140/18, devendo
ser feito o cadastro destes, no qual conste a identificação dos
endereços onde ocorre a criação dos animais, nome do responsável
técnico, número do registro e identificação do mesmo, prontuário
médico-veterinário de cada animal, carteira de vacinação com
carimbo e assinatura do médico veterinário responsável, bem como
cadastro dos animais com identificação através de microchip e
informações da passagem de guarda do animal após sua venda.

CLÁUSULA NONA: O(s) COMPROMISSÁRIO(S) assumem a obrigação


de, sempre que constatado, por qualquer dos seus agentes, no exercício
das funções, situação de possível maus-tratos, abuso, crueldade ou
abandono de animais domésticos, sejam eles usados para
companhia, trabalho ou outras formas de utilitarismo, em vias
públicas ou domiciliados, sendo o causador de tal ato contra o
animal, pessoa identificada ou identificável, adotar as providências legais
cabíveis, no âmbito do exercício do poder de polícia administrativa
municipal, sem prejuízo da comunicação oficial do fato à autoridade
policial, mediante formalização de registro de ocorrência por crime
ambiental (art. 32 da Lei de Crimes Ambientais).

CLÁUSULA DÉCIMA: O COMPROMITENTE velará pela fiel observância


do presente compromisso, devendo o(s) COMPROMISSÁRIO(S) prestar,
nos prazos que lhe forem assinalados, todas as informações necessárias
para o adequado monitoramento do presente compromisso.

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA: O descumprimento de qualquer


disposição do presente termo sujeita o(s) COMPROMISSÁRIO(S) ao
pagamento de multa pessoal e diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais),
a partir do inadimplemento, acrescida de atualização monetária até o
efetivo cumprimento, sem prejuízo adoção de outras medidas judiciais
cabíveis, bem como da responsabilização regressiva do agente público
responsável pelo descumprimento.

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: O valor da multa será destinado em


benefício do Fundo Especial de Proteção aos Direitos Difusos do
Ministério Público da Paraíba – FDD/ PB e deve ser recolhido na forma
disciplinada pela Resolução CGFDD/PB nº 04/2018.

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA: A multa ora estipulada não é


substitutiva das obrigações contraídas neste Termo, nem substitui ou
impede a aplicação de outras penalidades previstas em lei.

DISPOSIÇÕES FINAIS

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA: Por estarem as partes ajustadas e


compromissadas, firmam o presente termo, o qual terá eficácia de título
executivo extrajudicial, nos termos do art. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85 c/c art. 784,
inc. XII, do Código de Processo Civil.

CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA: O presente compromisso vigorará por


prazo indeterminado.

Nada mais havendo a tratar, encerra-se o presente termo, que vai


devidamente assinado e será submetido ao Conselho Superior do
Ministério Público, em cumprimento aos termos do art. 22-E e seguintes
da Res. CPJ nº 4/2013 do MPPB.

Coremas/Pb, datado eletronicamente.

Você também pode gostar