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Autoria e ilustrações: Vanessa Maia

de Oliveira

Ano: 2021

Sobre a autora

Vanessa tem 25 anos e é formada em


Ciências Biológicas pela Universidade
de São Paulo (USP), no campus de
Piracicaba (ESALQ). Com experiência
na área de Botânica e Sistemática,
Plantas medicinais, Plantas
ornamentais e Paisagismo, também
desenvolveu atividades com
ilustrações e desenhos, dentro e fora
da universidade. Encantada pelas
artes e pela natureza, desenvolve
trabalhos de Ilustração Botânica, os
mais recentes, voltados para espécies
de plantas suculentas.
Introdução..................................................................................... 4

As Plantas alimentícias ........................................................... 5

PANCs ou as PANC? .................................................. 5

As PANC .............................................................................. 5

As PANC no Brasil...................................................................... 6

Panc Nativas .................................................................... 6

Panc ou plantas daninhas? ........................................ 6

Cultura alimentar ...................................................................... 7

Globalização e alimentação ....................................... 7

Benefícios das PANC ..................................................... 8

Conhecendo, Cultivando e Consumindo ......................... 9

Turismo e valorização das PANC ........................... 9

Identificação ..................................................................... 9

Qual planta consumir?.............................................. 11

Cultivo em casa ............................................................ 11

Espécies interessantes ......................................................... 12

Consumo ......................................................................... 12

Preparos e utilizações ............................................... 13

Bibliografia consultada ........................................................ 14


Introdução

Uma vez que falamos sobre alimentação, não podemos deixar de apreciar a
diversidade e a história que leva ao que conhecemos hoje como gastronomia.
Como sabemos, a história da alimentação é antiga e acompanhou o desenvolvimento
do homem e das civilizações, modificando-se de acordo com a cultura e o conhecimento
da população sobre os alimentos, seus benefícios e utilizações.
Atualmente, o movimento pela reconexão com a vida natural, traz também o desejo
por um estilo de vida mais saudável e sustentável, o que tem levado a busca por novas
formas de alimentação.
As plantas são uma fonte primária de energia, fornecendo nutrientes e inúmeras
propriedades, utilizadas desde sempre pelo homem na manutenção de uma boa saúde e
qualidade de vida.
As plantas consideradas comestíveis ou alimentícias, são aquelas que possuem uma
ou mais partes (ou derivados) que podem ser utilizadas na alimentação humana, nas
quais incluímos aquelas utilizadas como especiarias, condimentos ou aromáticas.
Estima-se que existam mais de 30.000 espécies de plantas comestíveis na natureza,
a maioria nunca catalogada ou utilizada pelo homem. Apesar dessa grande diversidade,
90% da alimentação e produção mundial vem de apenas 20 espécies (Kinupp e Lorenzi,
2014).
As espécies vegetais que são pouco difundidas ou pouco comercializadas na maior
parte de uma determinada região, são chamadas de Plantas Alimentícias Não-
Convencionais ou PANC. As PANC podem ser resumidas pelas plantas ou partes que não
são comercializadas na maioria dos mercados de hortifruti (NUNES, 2017).
As Plantas alimentícias

As plantas alimentícias ou comestíveis, de uma maneira geral, são espécies vegetais


que possuem uma ou mais partes que podem ser incluídas, direta ou indiretamente, na
dieta humana.

PANCs ou as PANC?

Mesmo que seja muito comum uso do [‘s] para indicar o plural de acrônimos, PANC
já faz menção ao plural: Plantas Alimentícias Não-Convencionais. Por isso, para fazer
menção ao plural devemos utilizar o artigo: a PANC ou as PANC.

As PANC

A denominação PANC, ou Plantas Alimentícias Não-Convencionais, começou a ser


usada em 2008, por Vanderley Ferreira Kinupp, como um conceito mais amplo e flexível,
que comtempla de melhor forma as plantas alimentícias que não são comuns ao
consumo, comércio ou cultivo da maioria de uma população. Contudo, podem ser
consumidas em regiões isoladas, tornando PANC, um conceito relativo, pois uma mesma
planta pode ser considerada convencional em uma região e não convencional em outra.
Além disso, também são consideradas PANC as partes comestíveis de plantas
convencionais e que não costumamos consumir, como por exemplo:

• Frutos imaturos (jaca, ora-pro-nóbis, banana etc.)


• Talos e folhas de tubérculos e legumes (cenoura, abobora, beterraba,
rabanete, couve-flor etc.)
• Cascas e outras partes vegetais (casca de banana e coração da bananeira etc.)
• Flores de hortaliças, plantas ornamentais e medicinais
• Sementes, raízes e cascas
As PANC no Brasil

É muito comum uso de termos como: “plantas espontâneas”, “plantas silvestres” ou


até mesmo “nativas”, para referir-se a espécies alimentícias pouco difundidas,
entretanto esses termos são conceitos completamente diferentes.
As plantas espontâneas e/ ou silvestres, são espécies que se desenvolvem sozinhas
em determinado local, normalmente sem a necessidade de serem cultivadas; são mais
rústicas e a grande maioria não foi domesticada. Enquanto as plantas nativas, são as
originarias de um determinado local.
Esses conceitos não abrangem a amplitude das plantas alimentícias não-
convencionais, mas geralmente são utilizados pois desconhecemos a grande diversidade
das PANC, que pode incluir tanto espécies exóticas quanto nativas, que necessitem de
cultivo ou que cresçam espontaneamente.

Panc Nativas

No Brasil, acredita-se que exista uma diversidade superior a 10.000 espécies de


plantas com potencial alimentício, contudo, a maioria das plantas consumidas e
cultivadas são exóticas.
Devido à falta de informação a respeito das PANC nativas, sua identificação e modos
de preparo, nos limitamos a consumir uma pequena parcela de vegetais. Contudo, o
consumo e produção das espécies nativas é importante para a valorização, conservação
e preservação do patrimônio cultural e ambiental.

Panc ou plantas daninhas?

Muitas espécies de PANC são conhecidas apenas pelo seu potencial invasivo, sendo
chamadas de “pragas” ou daninhas por surgirem espontaneamente em outros cultivos.
Normalmente, isso ocorre porque a maioria das espécies é mais rústica e
naturalmente adaptada ao clima, pois não passaram pelo intenso processo de
domesticação e melhoramento que as plantas que costumamos cultivar.
Cultura alimentar

Sabemos que a cultura e a religião exercem grande influência sobre os hábitos


alimentares, como é possível notar ao longo da história.
Ao redor do mundo podemos observar os diferentes costumes relacionados a
alimentação, como por exemplo o consumo de animais diferentes em determinados
países, insetos ou até mesmo a proibição do consumo de outros.
Até mesmo no Brasil, a diversidade cultural é imensa. Dessa forma, o que pode ser
considerado “convencional” em uma região, muitas vezes é incomum para a população
das demais regiões.

Globalização e alimentação

O desenvolvimento das civilizações e o processo de globalização teve grande


influência nas mudanças das práticas alimentares no mundo todo. A partir do
desenvolvimento de novas formas de produção e industrialização de alimentos, muitas
formas mais naturais e sustentáveis perderam espaço, assim como muitos traços
culturais e conhecimentos que antes eram passados de geração para geração.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o
número de espécies de plantas consumidas caiu de 10.000 para 170 nos últimos 100
anos (LIRA, 2018) e 90% de tudo que consumimos de origem vegetal vem de apenas 20
espécies.
No Brasil, acredita-se que pelo menos de 10% da flora tenha potencial alimentício,
mas o número de PANC conhecidas é de aproximadamente 3.000 (KELEN et al., 2015).
Isso demonstra a falta de informação a respeito do assunto, gerando um grande
desperdício de alimentos, como partes vegetais que poderiam ser consumidas, mas são
descartadas.
Atualmente, através da busca pelo resgate das relações com a natureza, o conceito
de alimentação também vem se modificando, principalmente com a busca em
compreender as propriedades nutricionais e funcionais dos alimentos para uma melhor
qualidade de vida. (LIBERATO, LIMA E SILVA, 2019; NASCIMENTO et al., 2019).
Com o tempo, a utilização e propagação das PANC, pode fazer com que uma ou mais
espécies se tornem convencionais, sendo reconhecidas, produzidas e comercializadas.
Benefícios das PANC

A inclusão das plantas não-convencionais na alimentação gera muitos benefícios do


ponto de vista ambiental, econômico e nutricional. Entre eles podemos citar:

• Valorização das plantas nativas


o Contribui para conservação e variabilidade genética das espécies

• Resgate e preservação de traços culturais

• Facilidade de cultivo e manejo


o Melhor adaptadas ao meio
o Menor uso de defensivos agrícolas e pouca necessidade de tratos
culturais

• Melhor aproveitamento dos alimentos e dos seus nutrientes


o Menor desperdício de parte vegetais que antes eram descartadas
o Novas fontes alimentares

• Menor custo
o Acessível ao consumidor e produtor

Benefícios nutricionais

Em geral, as PANC possuem alto valor nutricional e alta concentração de compostos


bioativos benéficos a saúde.
Muitas são consideradas “super-alimentos” ou ainda alimentos funcionais, pois
possuem grandes concentrações de proteínas, vitaminas, sais minerais, fibras,
antioxidantes e outros tipos de compostos. O consumo adequado e regular é capaz de
proporcionar uma melhor qualidade de vida, ajudando na prevenção de doenças e
recuperação do organismo.
O consumo deve ser feito sempre após conhecer mais sobre cada espécie e sua
utilização, já que algumas espécies requerem um tipo de preparo específico para que
possam ser consumidas.
Conhecendo, Cultivando e Consumindo

Turismo e valorização das PANC

Muitas pessoas quando viajam escolhem se alimentar das mesmas coisas que se
alimentam em casa, buscando fast food ou alimentos que já conhecem, sem dar muita
atenção as diferentes culturas alimentares.
Tanto em outros países, como nas diferentes regiões do Brasil, a experiência de
provar comidas típicas, contribui para a valorização e conhecimento da diversidade
cultural, muitas vezes esquecida.

Identificação

Um dos maiores desafios na introdução das PANC na alimentação é a identificação


correta das espécies.
A identificação, baseada em fontes seguras (como as que serão citadas nesse
capítulo), é imprescindível no uso de plantas para alimentação, pois muitas espécies
comestíveis são facilmente confundidas com espécies tóxicas.
Uma dica valiosa quando falamos de identificação, é: NUNCA se basear apenas no
nome popular e, sim nos nomes científicos.
Os nomes populares das plantas variam muito de acordo com a região, isso faz com
que mais de uma espécie seja conhecida por um mesmo nome. Já os nomes científicos
são restritos a apenas uma espécie, o que reduz as chances de confusão.
Sempre antes de consumir uma planta, tenha certeza de que ela é realmente
comestível e qual o tipo de preparo que ela requer. Na dúvida, não consuma ou consulte
um especialista para a identificação correta.

Bibliografias essenciais

Numa simples busca pela internet podemos encontrar muitas informações a


respeito de espécies de PANC e suas utilizações, porém é importante confirmar tais
informações em fontes seguras e/ou com especialista da área.
Abaixo, estão listadas fontes e bibliografias que podem auxiliar na identificação das
espécies, além de conter muitas informações a respeito das PANC, suas utilizações e
receitas.
Livros
• Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANC) no Brasil – guia de
identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. 2014.
o Autores: Vanderley Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi
o Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda
→ Plantas Alimentícias Não Convencionais - PANC (sitiodamata.com.br)

• Panc Gourmet – ensaios culinários. 2017.


o Autor: Henrique Nunes
o Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda
→ Panc Gourmet Ensaios Culinarios (sitiodamata.com.br)

Artigos, publicações e fontes disponíveis online:


• Manual de Hortaliças Não-Convencionais do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento do Brasil
o manual_hortalicas_web.pdf (abcsem.com.br)

• Tese de doutorado do criador do conceito PANC, Vanderley Ferreira Kinupp


o Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de
Porto Alegre, RS (Microsoft Word - Parte 1.doc (ufrgs.br))

• Publicações Embrapa (série): PANC -hortaliças não convencionais


o PANC - Hortaliças não convencionais - Portal Embrapa

• Curso da Embrapa:
o “Produção de hortaliças PANC para consumo doméstico - Portal
Embrapa”

• Sistema de Produção de Hortaliças PANCs – Catálogo:


o “Plantas alimentícias não convencionais – hortaliças tradicionais e
mais nutritivas” – (PANCs (embrapa.br))

• Sistema de Produção de Hortaliças PANCs - Guia de negócio:


o “Hortaliças PANC - Segurança Alimentar e Nicho de Mercado” –
(8eb89efd-b781-9373-28cf-858faa6bff64 (embrapa.br))
Qual planta consumir?

As PANC costumam ser cultivadas somente por pequenos produtores e/ ou em


escala doméstica, mas muitas espécies podem ser facilmente encontradas crescendo
espontaneamente em hortas, jardins, ruas e terrenos baldios.
Mesmo conhecendo uma espécie alimentícia, nunca devemos colher e consumir
uma planta que não foi cultivada em local adequado. Plantas que crescem na rua ou em
locais onde não conhecemos sobre o solo, irrigação ou tratos culturais (pulverização de
inseticidas e agrotóxicos), não devem ser consumidas pois podem estar contaminadas.
O ideal é cultivar em casa ou comprar em locais que as produzem para consumo.

Cultivo em casa

Para cultivar qualquer espécie vegetal é necessário conhecer minimamente as suas


características e necessidades, como porte, necessidades hídrica, de luminosidade e
umidade.
Como já dito nos últimos capítulos, a maioria das PANC, principalmente as nativas
herbáceas, são mais rústicas e podem ser facilmente cultivadas em pequenos e grandes
espaços.

Algumas ideias de locais para cultivo são:


• Vasos;
• Canteiros;
• Jardineiras;
• Pequenos jardins verticais etc.
Espécies interessantes

Abaixo encontra-se uma pequena lista de espécies de PANC, relativamente fáceis de


identificar. Algumas são comuns ao consumo, outras conhecidas por muitos pelo seu
potencial invasivo (daninhas), ou ornamental.

• Bananeira (Musa x paradisíaca L.)


• Beldroega (Portulaca oleracea L.)
• Capuchinha (Tropaeolum majus L.)
• Dente-de-leão (Taraxacum officinale F. H Wigg)
• Hibisco (Hisbiscus sabdariffa L.)
• Malvavisco (Malvavicus arboreus Cav.)
• Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.)
• Peixinho-da-horta (Stachys byzantina K. Koch)
• Serralha (Sonchus oleraceus L.)

Consumo

Muitas espécies, mesmo que comestíveis, podem conter algumas substâncias que
são nocivas se ingeridas sem um preparo prévio, como por exemplo o espinafre, as
folhas de ora-pro-nóbis e taioba.
No geral, as plantas alimentícias são divididas em 3 tipos em relação a necessidade
de preparo para consumo:

Plantas que são consumidas cruas


São as espécies que podem ser consumidas in natura, na forma de sucos ou como
saladas.

Plantas que podem ser cozidas


São as espécies podem ser consumidas tanto in natura quanto utilizadas em
preparos. Algumas são mais saborosas cozidas e refogadas, já outras são mais
apreciadas cruas, como couve, abobrinha ou escarola.
Plantas que DEVEM ser cozidas
São as espécies que precisam, obrigatoriamente, ser consumidas após passarem por
processo de cozimento. Como espinafre, batata-doce, taioba, mandioca, ora-pro-nóbis
etc.
Dentre essas espécies, ainda existem as que necessitam ser pré-fervidas em água,
posteriormente descartada e só então ser utilizada em outros preparos. Como é o caso
de: celósia, amaranto, orelha-de-macaco e caruru, para eliminar os compostos tóxicos.

Preparos e utilizações

Os tipos e formas de preparo variam de acordo com a espécie, por isso é tão
importante a identificação correta. Sempre busque em fontes confiáveis sobre como
prepará-las ou consumi-las.
Os livros: Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANC) no Brasil (Plantas
Alimentícias Não Convencionais - PANC (sitiodamata.com.br)) e PANCS -gourmet- (Panc
Gourmet Ensaios Culinarios (sitiodamata.com.br)), ambos do Instituto Plantarum, são
ricos em informação sobre o preparo, além de saborosas receitas com plantas não
convencionais.
Bibliografia consultada

KELEN, M. E. B. et al. Plantas alimentícias não convencionais (PANCs): hortaliças


espontâneas e nativas. Porto Alegre: UFRGS, 2015. 44 p.

KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil


- guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa -SP:
Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2014. 768p.

NUNES, H. PANC gourmet – Ensaios culinários. Nova Odessa -SP: Instituto Plantarum de
Estudos da Flora Ltda, 2017. 131p.

IBERATO, P. S.; LIMA, D. V. T.; SILVA, G. M. B. PAN Cs - Plantas Alimentícias Não


Convencionais e seus benefícios nutricionais. Environ. Smoke. v. 2, n. 2, p. 102-
111, 2019.

LIRA, A. Mais do que matos, elas são plantas alimentícias não convencionais
(PANCs). Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, 20 abr. 2018.

LORENZI, H. Plantas para jardim no Brasil: herbáceas, arbustivas e trepadeiras. 2ª ed. Nova
Odessa– SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2015.1120p.

SOUZA, V.C., LORENZI, H., Botânica Sistemática: Guia ilustrado para identificação
das famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG IV.
4ª ed. Nova Odessa -SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2019. 768p.

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