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Cuiabá – MT
2023
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
GESTÃO ESTRATÉGICA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA
Cuiabá – MT
2023
RESUMO
Nas primeiras ações de planejamento estratégico para o ano de 2019, foi recepcionado no
1º Comando Regional, o Plano de Operação nº 004/SPOE/PMMT/2018, que buscava dar
diretrizes a operações de policiamento ostensivo e repressivo nos 100 primeiros dias do ano
de 2019, com objetivo de reduzir os índices criminais de Roubo Geral e Homicídio.
Importante esclarecer que o indicador de roubo geral é um gênero criminal que abrange
algumas espécies, por exemplo roubo de veículo, roubo de comercio, roubo de celular, roubo
de residência, roubo de carga etc., essa subdivisão com a finalidade de entender melhor a
dinâmica criminal, o que também ocorre com o crime de homicídio, que subdivide em
infanticídio, feminicídio etc. O estado de Mato Grosso, assim como o Brasil, passava por uma
redução criminal iniciada em 2016 para os crimes de roubo e 2017 para os crimes de
homicídio e Cuiabá também acompanhava esta tendência. Todavia, ao analisar os PAGI’s
(Painel de Análise Gráfica de Indicadores) de diversas naturezas criminais para o município
de Cuiabá, foi identificado que a espécie de roubo e furto a veículo destoava dos demais
indicadores, impactando negativamente no computo de roubo e furto geral de veículos.
Enquanto todos os demais gráficos apresentavam uma queda em sua série histórica os
crimes envolvendo roubo e furto de veículos estava em ascensão. Diante dessa constatação
o Departamento de Planejamento operacional e Estatística - DPOE iniciou um profundo
estudo para compreender a dinâmica criminal envolvendo veículos com o objetivo de
transformar este conhecimento em orientações para o emprego da Polícia Militar como forma
de prevenção e repressão dos crimes em comento.
Após reunirmos os dados relacionados aos crimes de homicídio geral para a capital
Cuiabá, identificamos que a série histórica entre o período dos anos de 2014 a 2018,
evidenciava uma curva de redução desde o mês de julho de 2015, o que por sua vez não
justifica o emprego policial específico, uma vez que as ações da polícia militar estavam sendo
desempenhadas e consequentemente, repercutindo na redução desses crimes.
Superadas essas informações, passamos a analisar de forma mais detalhada, todos
os indicadores criminais em busca de evidências estatísticas que possam fundamentar a
eficácia do emprego diferenciado da Polícia Militar na capital Cuiabá.
A partir de então, quando iniciamos a decomposição dos indicadores que
compunham roubo geral identificamos que o roubo de veículos não estava seguindo a
mesma tendência dos demais indicadores, o que também ocorreu com os crimes
relacionados a furto geral, então fizemos a sobreposição, somando roubo e furto de veículos
em um único gráfico para poder entender melhor a dinâmica criminal que envolvia esses
crimes, como pode ser observado no gráfico 03, vejamos:
O gráfico 03, nos apresenta uma análise do período de outubro de 2016 a fevereiro
de 2019 dos crimes de roubo e furto de veículos, onde pudemos identificar que não houve
redução no número total de veículos subtraídos, o que diverge da tendência geral dos outros
crimes que foram analisados, vide gráficos 01 e 02.
Constatada essa falha, passamos então a levantar alguns questionamentos que
nortearam a nossa investigação, e alguns deles foram:
• Quais seriam os motivos que levavam os criminosos a manterem essa atividade
delitiva mesmo com a redução das outras analisadas?
• Poderia ser uma espécie de especialização criminal que os criminosos se sentiam
confortáveis para praticar?
• Existiria uma rede criminal maior que fomentava esse crime específico, a exemplo
do tráfico internacional de drogas?
• E por sua vez agravado pela proximidade de Cuiabá com a fronteira com a Bolívia?
O primeiro passo para desvendar esses questionamentos fora identificar onde esses
crimes ocorriam, o que poderia nos evidenciar fatores em comum entre esses lugares para
que pudessem orientar ações da Policia Militar.
Os municípios são sub-divididos por bairros, por sua vez, o 1º CR também possui suas
subdivisões internas, pois, um comando regional é composto por batalhões e companhias
independentes; os batalhões e companhias independentes são compostos por companhias;
as companhias são compostas por núcleos e pelotões, que são as menores unidades da PM.
Basicamente e de forma sucinta, a diferença entre essas unidades é relacionada a
sua área de atuação, que quanto maior requer mais meios para o atendimento policial.
O 1º Comando Regional possuía no município de Cuiabá em 2019 cinco batalhões,
sendo eles; 1º Batalhão responsável pela área central e região do Porto; 3º batalhão,
responsável pelo grande CPA e Morada do Ouro; 9º Batalhão, responsável pela região do
Coxipó e Tijucal; 10º Batalhão, responsável pelas regiões do Verdão, Cidade Alta, Santa
Isabel, Shopping Estação, Ribeirão do Lipa e condomínios as margens da Estrada da Guia
e 24º Batalhão, na região do Pedra Noventa e Distrito Industrial.
A área de cada batalhão citado é composta por um conjunto de bairros, que passamos
a analisar sob o aspecto dos indicadores de roubo e furto de veículos registrados em cada
bairro. O recorte temporal da análise compreendeu aos anos de 2017 e 2018 e janeiro e
fevereiro de 2019 como poderá ser observado nos próximos indicadores: tabelas 01, 02, 03
04 e 05. Os bairros foram hierarquizados em ordem decrescente da somatória dos registros
de ocorrências no recorte temporal em análise.
O primeiro fator que identificamos nesta análise, foi que os bairros com a maior
concentração de ocorrências de roubo e furto de veículos estavam evidenciados por alta
concentração de circulação de pessoas, em razão de alguma característica, vejamos nosso
entendimento do qual separamos de batalhão por batalhão:
1º Batalhão – Dom Aquino possui em seu perímetro as avenidas Prainha, Carminado
de Campos e General Melo, todas com alta concentração de comércios e consequentemente
com grande fluxo de pessoas. Este bairro ainda possui uma universidade e está ao lado do
camelódromo de Cuiabá; Boa Esperança e Jardim das Américas estão juntos da
Universidade Federal de Mato Grosso e do Shopping 3 Américas, além de fazerem divisa
com a Avenida Fernando Correia que é um grande corredor comercial; Jardim Europa e
Grande Terceiro abrigam a Universidade de Cuiabá (UNIC) além de fazerem limite com a
Avenida Carmindo de Campos e Beira Rio; Centro Norte e Centro Sul abrigam o maior
conglomerado de estabelecimentos comerciais tendo por consequência o maior fluxo de
pessoas da capital.
Tomando como base a lógica aplicada aos bairros na área de atuação do 1º
Batalhão, faremos apontamentos simplificados aos demais batalhões e que justificam os
grandes índices criminais pelo alto fluxo de pessoas vinculados a estabelecimentos
comerciais, entenda:
3º Batalhão – Jardim Aclimação – Shopping Pantanal, CPA I, II, III e IV centro
comercial, Bosque da Saúde – Hospital São Mateus, clínicas médicas e escritórios, Paiaguás
– Parque das Águas e Centro Político Administrativo.
9º Batalhão – Coxipó, Tijucal e Parque Cuiabá são grandes bairros residenciais
antigos e que abrigam centros comerciais.
10º Batalhão – Santa Helena – Hospital Santa Helena e demais comércios, Jardim
Cuiabá – Hospital Jardim Cuiabá e outras clínicas, os demais bairros de destaque desse
batalhão são da área central da cidade ou próximos;
24º batalhão – Distrito Industrial por abrigar o próprio distrito que possui diversos
centros de distribuição da capital e o Pedra Noventa que assim como o grande CPA polariza
parte da cidade em seu centro comercial.
Importante destacar, que a relevância do comércio em cada bairro modula a
quantidade de pessoas circulando, o que impacta diretamente no número de registros
criminais. Ou seja, quanto maior o fluxo de pessoas, maior será a probabilidade daquela
região registrar maior quantidade de ocorrências criminais.
Outro fator que depõem a favor dessa hipótese é a concentração das ocorrências
em horário específico, entre as 18h00min e 22h00min, normalmente quando as pessoas
estão retornando do trabalho, indo ou voltando para as escolas e faculdades, aproveitando
o término do dia para comprar algo no comercio etc., como pode ser observado no gráfico
04, que segue abaixo:
3.2. QUANDO?
As ações da operação deveriam ocorrer de segunda a sexta-feira, entre as 18h00 às
23h00.
3.4. COMO?
Os batalhões distribuídos na capital, foram divididos em dois grupos, sendo Grupo
01 e Grupo 02, assim vejamos como ficou a sua composição.
O GRUPO 01 seria composto pelo 1º, 9º e 10º batalhão; e já o GRUPO 02, seria
formado pelo 3º e 24º batalhão. A operação ocorreria uma vez por semana na área de cada
batalhão, com exceção do 3º batalhão, que seria 02 vezes na semana, pelo fato de possuir
maior número de bairros em sua região.
Quando o batalhão fosse executar a operação em sua área, deveria ser empregada
duas viaturas quatro rodas e contar com o comando do Oficial de dia. Os demais batalhões
dentro do mesmo grupo prestariam apoio com uma viatura também quatro rodas. Já
seguindo para o próximo dia, seria a vez da área de outro batalhão, continuando com a
mesma dinâmica até que todos os batalhões tenham executado a operação dentro da sua
área.
A operação teria início as 18h00 com uma barreira policial em um dos bairros
identificados como prioritários, da qual teria permanência até as 20h00, após o intervalo de
01 hora, as 21h00 retornaria com outra barreira em outro bairro seguindo a ordem de
prioridade de acordo com os registros criminais, na busca de diversificar e evitar possíveis
desvios.
Como o foco principal seria dois indivíduos em uma moto, a operação também
deveria contar com o apoio do batalhão de trânsito e da SEMOB – Secretaria de Mobilidade
Urbana, da capital, para que assim, fossem adotadas medidas administrativas necessárias
em casos de irregularidade nos veículos.
Além disso, como o principal meio de transporte dos criminosos são as motocicletas,
a operação se prestaria ao dever de retirar de circulação as motocicletas que poderiam estar
em posse de suspeito e também com irregularidades.
Essa mesma operação fora executada pelo menos por 04 (quatro) meses nos anos
de 2019, 2020 e 2021, tendo sido interrompida em alguns momentos por decisão superior e
em razão da pandemia COVID-19.
1Anuário da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso – Ano 2021. Disponível
em: http://www.sesp.mt.gov.br/anuario-sesp
TABELA 06: OCORRÊNCIAS DE ROUBO DE VEÍCULOS POR RISP, TAXA POR 100 MIL
HABITANTE E VARIAÇÃO PERCENTUAL DE 2019 A 2021.
Fonte: SINESP_PJC e SROP/PJC
PJC-MT, Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso. Ocorrências de roubo de veículos por RISP,
taxa por 100 mil habitantes e variação percentual de 2019 a 2021. Disponível em:
http://www.pjc.mt.gov.br. Acesso: 25/01/2023.