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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação

Antônio Hot Pereira de Faria

ROTAS DE POLICIAMENTO PREVENTIVO EM BELO HORIZONTE A PARTIR DA


ESTRATÉGIA DE POLICIAMENTO EM PONTOS QUENTES

Belo Horizonte
2022
Antônio Hot Pereira de Faria

ROTAS DE POLICIAMENTO PREVENTIVO EM BELO HORIZONTE A PARTIR DA


ESTRATÉGIA DE POLICIAMENTO EM PONTOS QUENTES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Especialização em Segurança Pública (CESP)
realizado pelo Centro de Pesquisa de Pós-Graduação da
Academia de Polícia Militar de Minas Gerais como
requisito parcial para obtenção do título de especialista
em segurança pública.

Orientador: Ten Cel PM Miller França Michalick.

Belo Horizonte
2022
F224r Faria, Antônio Hot Pereira de.
Rotas de policiamento preventivo em Belo Horizonte a partir
da estratégia de policiamento em pontos quentes. / Antônio
Hot Pereira de Faria. - Belo Horizonte, 2022.

239 f.: il.

Monografia (Curso de Especialização em Segurança


Pública). Academia de Polícia Militar.

Orientador: Miller França Michalick.

Referência: 217 - 232 f.

1. Policiamento de pontos quentes. 2. Mapeamento


criminal. 3. Problema de roteamento. 4. Concentração do
crime. I. Michalick, Miller França. II. Academia de Polícia
Militar de Minas Gerais - Centro de Pesquisa e Pós-
graduação. III. Título.

CDU 343.9

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais
- Centro de Pesquisa e Pós-Graduação. Bibliotecária Regina Simão Paulino – CRB-6/1154
AGRADECIMENTOS

Ao meu comandante e orientador Ten Cel PM Michalick pelas discussões, leituras


detalhadas, críticas construtivas e apoio nas decisões metodológicas de todo o
trabalho.

Aos colegas do CESP 2022 pelo convívio salutar e por nos permitir a experiência do
banco de escola em sua essência.
“Loucura é querer resultados diferentes
fazendo tudo igual”.

Albert Einstein
RESUMO

O crime não se distribui de maneira aleatória no espaço, de maneira tal que pequenas
porções de um determinado território concentrem grandes quantidades de eventos.
Considerando que os recursos de combate e controle do crime são limitados, esta
constatação é uma premissa para que as instituições encarregadas da prevenção e
controle criminal dediquem seus esforços para os locais de maior demanda. Dentre
as possibilidades de estratégias de policiamento que possui enfoque no espaço
destaca-se o Policiamento de Pontos Quentes. A metodologia de emprego deste tipo
de policiamento demanda uma análise do crime do ponto de vista de microespaços e
a alocação otimizada de recursos para promoção de efeitos dissuasórios que
agreguem um custo adicional à atividade criminal de maneira que se obtenha um
número menor de registros gerais de crimes. Diante disso, a presente pesquisa tem
por objetivo geral analisar a viabilidade de implantação da estratégia de Policiamento
de Pontos Quentes como ferramenta para elaboração de rotas de policiamento
preventivas em âmbito da Polícia Militar de Minas Gerais. O percurso metodológico
adotado no trabalho foi conduzido em três etapas: a primeira, conduzida a partir da
aplicação de questionários, contou com a análise de percepção dos comandantes de
Unidades de Execução Operacional da Polícia Militar no que tange aos preceitos
teóricos que envolvem o Policiamento de Pontos Quentes, bem como as práticas
atuais de policiamento preventivo dirigido adotadas, os desafios e potencialidades de
melhoria nos processos de policiamento. A segunda etapa contou com a análise da
concentração criminal em Belo Horizonte, a fim de identificar os pontos quentes de
criminalidade, a partir de banco de dados de crimes violentos e furtos no período de
2018 a 2021. A terceira etapa foi a proposta de elaboração de planejamento de
policiamento preventivo a partir dos pontos quentes, de forma a identificar a sua
viabilidade ao objeto de estudo. Os resultados indicaram que a Polícia Militar de Minas
Gerais realiza parcialmente as estratégias definidas como sendo um Policiamento de
Pontos Quentes, verificou-se ainda que há uma demanda de padronização de
planejamento para emprego do policiamento dirigido focado em pontos quentes e há
uma necessidade de robustecer os conhecimentos teóricos dos comandos de
unidades operacionais no que concerne ao Policiamento de Pontos Quentes. A
técnica de mapeamento por segmentos de ruas, mostrou adequada para a
identificação dos pontos quentes e a aderência do local de estudo às previsões
teóricas quanto à concentração dos crimes. Por fim, foi possível definir rotas de
policiamento por meio da abordagem de soluções de roteamento a partir de grafos
que podem fornecem alocações de policiamento preventivo dirigido otimizadas.

Palavas-chave: Policiamento de Pontos Quentes. Mapeamento criminal. Problema de


roteamento. Concentração do crime.
ABSTRACT

Crime is not distributed randomly in space, in such a way that small portions of a given
territory concentrate large amounts of events. Considering that the resources for
combating and controlling crime are limited, this finding is a premise for the institutions
in charge of crime prevention and control to dedicate their efforts to the places of
greatest demand. Among the possibilities of policing strategies that focus on space,
Hot Spot Policing stands out. The methodology for employing this type of policing
demands an analysis of crime from the point of view of microspaces and the optimized
allocation of resources to promote deterrent effects that add an additional cost to
criminal activity in a way that a smaller number of general records of crimes. Therefore,
the present research has the general objective of analyzing the feasibility of
implementing the Hot Spots Policing strategy as a tool for the elaboration of preventive
policing routes within the Military Police of Minas Gerais State. The methodological
course adopted in the work was carried out in three stages: the first, conducted from
the application of questionnaires, included the analysis of the perception of the
commanders of Operational Execution Units of the Military Police regarding the
theoretical precepts that involve the Policing of Hot Spots, as well as the current
practices of targeted preventive policing adopted, the challenges and potential for
improvement in policing processes. The second stage included the analysis of criminal
concentration in Belo Horizonte, in order to identify the hot spots of crime, from a
database of violent crimes and thefts in the period from 2018 to 2021. The third stage
was the proposal to prepare of preventive policing planning from the hot spots, in order
to identify its feasibility to the object of study. The results indicated that the Military
Police of Minas Gerais State partially performs the strategies defined as a Hot Spots
Policing, it was also verified that there is a demand for standardization of planning for
the use of directed policing focused on hot spots and there is a need to strengthen the
theoretical knowledge of the commands of operational units in what concerns the
Policing of Hot Spots. The mapping technique by street segments proved to be
adequate for the identification of hot spots and the adherence of the study site to
theoretical predictions regarding the concentration of crimes. Finally, it was possible to
define policing routes through the approach of routing solutions from graphs that can
provide optimized directed preventive policing allocations.

Keywords: Hot spots policing. Criminal mapping. Routing problem. Crime


concentration at place.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa dos segmentos de rua responsáveis por 25% dos crimes em Nova
Iorque - 2020 ........................................................................................ 35
Figura 2 – Pontos Quentes de Crimes no Bronx – Nova Iorque – 2010-2020. ..... 36
Figura 3 – Curva de duração de resposta ............................................................. 52
Figura 4 – Mapeamento de Crimes por Guerry e Balbi em 1829 .......................... 77
Figura 5 – Mapa de distribuição de pontos de cometimento de crime de uma gangue
a partir do centro médio de localização da residência dos componentes
da gangue ............................................................................................ 79
Figura 6 – Exemplo comparativo dos modelos circular e elíptico .......................... 80
Figura 7 – Representação de elipse espacial para a distribuição de crimes em Belo
Horizonte .............................................................................................. 81
Figura 8 – Distribuição dos crimes de roubo em Belo Horizonte (2007-2013) ...... 82
Figura 9 – Diferença do número de roubos por quadrículas (2013-2007) ............. 82
Figura 10 – Distribuição dos crimes de roubo e equipamentos urbanos - Belo
Horizonte - 2007 a 2013 ....................................................................... 83
Figura 11 – Mapa de ataques a instituições bancárias – 7ª RPM – 2012-2017 ...... 84
Figura 12 – Mapa de Kernel para crimes violentos – 34º BPM - 01/01/2022 –
04/08/2022. .......................................................................................... 85
Figura 13 – Ilustração de um segmento de rua ....................................................... 87
Figura 14 – Variação de Crimes Violentos em Nova Iorque – Estados Unidos –
2020..... ................................................................................................ 89
Figura 15 – Representação de Grafo com 4 Vértices e seus respetivos custos ..... 97
Figura 16 – Densidade de crimes violentos no hipercentro de Belo Horizonte –
2013....... .............................................................................................. 99
Figura 17 – Representação da atribuição de custos a partir da densidade de crimes
no hipercentro de Belo Horizonte. ...................................................... 100
Figura 18 – Exemplo da atribuição de custos às arestas, a partir da densidade de
crimes no hipercentro de Belo Horizonte ........................................... 101
Figura 19 – Representação do “grafo valorado” a partir da densidade criminal .... 101
Figura 20 – Representação da rota otimizada para o patrulhamento.................... 102
Figura 21 – Fluxo metodológica da pesquisa ........................................................ 106
Figura 22 – Representação do conjunto de dados pontuais espacializados ......... 110
Figura 23 – Representação de segmento de via ................................................... 111
Figura 24 – Representação dos pontos de ocorrência em comparação às linhas que
representam os eixos viários .............................................................. 112
Figura 25 – Buffer em torno das linhas para agregar os pontos à linhas .............. 113
Figura 26 – Exemplo de polígonos criados a partir dos buffers com agregação dos
dados pontuais de ocorrências .......................................................... 114
Figura 27 – Exemplo de critério para recorte e inclusão de segmento por setor de
policiamento ....................................................................................... 115
Figura 28 – Fórmula para cálculo da área abaixo da curva de Lorenz.................. 117
Figura 29 – Fórmula para cálculo do coeficiente de Gini ...................................... 118
Figura 30 – Unidades de Execução Operacional da PMMG – 2022 ..................... 120
Figura 31 – Articulação da 1ª RPM em Batalhões e Setores – 2022 .................... 121
Figura 32 – Motivação da substituição do Setor 34.17.3 para análise e definição de
rotas ................................................................................................... 123
Figura 33 – Exemplo de Mapa contendo Grafo modelado a partir da rede viária do
hipercentro de Belo Horizonte ............................................................ 126
Figura 34 – Mapa de localização dos Regiões dos participantes da Pesquisa – Minas
Gerais – 2022 ..................................................................................... 129
Figura 35 – Nuvem de palavras para os recursos indicados pelos respondentes 148
Figura 36 – Mapa de pontos para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021 .......... 172
Figura 37 – Mapa de Kernel para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021........... 173
Figura 38 – Mapa por quadrículas para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021 . 174
Figura 39 – Mapa por segmento de rua para furto - Belo Horizonte – 2021............175
Figura 40 – Mapa de furtos por segmentos de rua – Belo Horizonte – 2018-2021
........................................................................................................... 178
Figura 41 – Mapa de crimes violentos por segmentos de rua – Belo Horizonte – 2018-
2021 ................................................................................................... 180
Figura 42 – Mapa de crimes violentos e furtos por segmentos de rua – Belo Horizonte
– 2018-2021 ....................................................................................... 182
Figura 43 – Pontos quentes de furtos – Belo Horizonte – 2018-2021 ................... 185
Figura 44 – Pontos quentes de crimes violentos – Belo Horizonte – 2018-2021 .. 188
Figura 45 – Pontos quentes de CV e furtos – Belo Horizonte – 2018-2021 ......... 191
Figura 46 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Praça Sete (1º BPM) - 2021..... 205
Figura 47 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Buritis (5º BPM) - 2021 ............ 205
Figura 48 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Planalto (13º BPM) - 2021 ....... 206
Figura 49 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Santa Tereza (16º BPM) - 2021
........................................................................................................... 206
Figura 50 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Prado (22º BPM) - 2021 ........... 207
Figura 51 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Padre Eustáquio (34º BPM) –
2021............................. ...................................................................... 207
Figura 52 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Barreiro (41º BPM) - 2021........ 208
Figura 53 – Pontos Quentes CV e Furtos - Setor Venda Nova (49º BPM) - 2021. 208

Gráfico 1 – Concentração de Crimes em Nova Iorque 2010-2020 ......................... 32


Gráfico 2 – Percepção quanto ao patrulhamento preventivo como ferramenta
eficiente para prevenção criminal – Minas Gerais - 2022................... 130
Gráfico 3 – Percepção quanto à relação custo x benefício do patrulhamento
preventivo dirigido – Minas Gerais - 2022 .......................................... 131
Gráfico 4 – Utilização do cartão-programa na UEOp – Minas Gerais - 2022 ....... 132
Gráfico 5 – Percepção quanto ao uso de dados de estatística criminal como
fundamentais para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais -
2022 ................................................................................................... 133
Gráfico 6 – Percepção quanto à utilização de Mapa de Calor (Kernel) como
fundamental para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais –
2022. .................................................................................................. 134
Gráfico 7 – Percepção quanto à inteligência de segurança pública como
fundamental para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais –
2022. .................................................................................................. 135
Gráfico 8 – Percepção quanto a análise de incidência criminal em nível de
microespaços (quadras, praças, segmentos de rua) para identificar os
locais que concentram a maior parte dos delitos ............................... 137
Gráfico 9 – Percepção quanto aos microespaços (quadras, praças, segmentos de
rua) como elementos fundamentais para elaboração de cartão-
programa. ........................................................................................... 137
Gráfico 10 – Percepção da análise de incidência criminal em nível de articulação
operacional (Batalhão, Companhia) como suficiente para elaboração de
policiamento de pontos quentes – Minas Gerais - 2022..................... 138
Gráfico 11 – Período de tempo em que é realizada a análise criminal para atualização
dos cartões-programa – Minas Gerais - 2022 .................................... 139
Gráfico 12 – Tipo de mapa de calor (Kernel) utilizado para análise criminal – Minas
Gerais - 2022 ..................................................................................... 141
Gráfico 13 – Percepção quanto a aleatoriedade da definição de pontos-base nos
cartões-programa da UEOp ............................................................... 142
Gráfico 14 – Tempo de ponto-base e patrulhamento por hora de serviço dedicado –
Minas Gerais - 2022 ........................................................................... 144
Gráfico 15 – Percepção quanto a experiência profissional e o conhecimento do local
de atuação dos responsáveis como base conceitual para elaboração dos
cartões-programa – Minas Gerais - 2022 ........................................... 146
Gráfico 16 – Utilização de recursos computacionais como algoritmos ou softwares
específicos para criação de rotas de policiamento – Minas Gerais –
2022.. ................................................................................................. 147
Gráfico 17 – Percepção de que quanto maior for a frequência de pontos-base num
determinado ponto quente (nº de vezes em que é visitado), mantendo-
se inalteradas outras variáveis como o tempo de realização, maior será
a dissuasão de um eventual infrator que esteja motivado a cometer um
crime naquele local – Minas Gerais - 2022 ........................................ 150
Gráfico 18 – Percepção de que quanto maior for o tempo de ponto-base a cada ponto
quente, maior será a dissuasão inicial causada por cada visita, até o
ponto em que a os efeitos da dissuasão caem .................................. 151
Gráfico 19 – Percepção de que quanto maior a proporção do tempo total em que a
polícia está visivelmente presente em um ponto quente, menos
frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto quente,
especialmente durante as horas de maior incidência criminal ........... 152
Gráfico 20 – Percepção quanto aos efeitos do ponto-base realizados pelos policiais a
cada ponto quente, se propagam por um determinado tempo (dissuasão
residual) após o término de cada visita, até um determinado ponto .. 153
Gráfico 21 – Percepção de que quanto maior o efeito de dissuasão local criado pelas
patrulhas de pontos quentes, maior o efeito de dissuasão regional (na
área de toda a Unidade por exemplo) ................................................ 154
Gráfico 22 – Percepção de que é provável que o deslocamento do ofensor (provocado
pela dissuasão decorrente do policiamento de pontos quentes) para o
cometimento de crimes em outro local provoque uma menor
produtividade no cometimento de crimes, se comparado com a sua ação
no local em que está habituado ......................................................... 155
Gráfico 23 – Percepção de que quanto maior a variação da presença policial
(intermitência) em um ponto quente, maior a imprevisibilidade objetiva
de quando a polícia aparecerá em um ponto quente em um determinado
momento, o que tenderá a diminuir a atividade criminal no local ....... 156
Gráfico 24 – Percepção de que quanto maior a imprevisibilidade objetiva e a incerteza
percebida publicamente sobre quando e por quanto tempo a polícia
aparecerá e permanecerá em um ponto quente, menos frequentes ou
graves serão os crimes dentro desse ponto quente ........................... 157
Gráfico 25 – Percepção de que quanto mais engajamento os policiais apresentarem
durante o tempo de patrulha em pontos quentes (conversas com a
população, paradas para revistar suspeitos, e realização de prisões, por
exemplo) menos frequentes e graves crimes serão os crimes nos pontos
quentes .............................................................................................. 158
Gráfico 26 – Percepção de que quanto mais legitimidade policial os policiais criarem
tratando todos os cidadãos de maneira respeitosa com procedimentos
justos durante as patrulhas em pontos quentes, menos frequentes e
graves serão os crimes nesses pontos quentes ................................ 159
Gráfico 27 – Percepção de que uma metodologia padronizada para elaboração de
planejamento de patrulhamento preventivo por meio de cartões-
programa que permitisse identificar os segmentos de rua e as faixas de
horário que que concentram a maioria dos delitos, contribuiria para o
planejamento de emprego operacional .............................................. 160
Gráfico 28 – Percepção de que a tropa da Unidade do respondente cumpre de
maneira fidedigna a previsão contida no cartão-programa ................ 161
Gráfico 29 – Percepção quanto a facilidade na supervisão do exato cumprimento do
cartão-programa por parte dos militares encarregados da coordenação
e controle dos turnos de serviço, bem como dos escalões superiores.
........................................................................................................... 162
Gráfico 30 – Percepção quanto aos cartões-programa na UEOp do respondente
serem os mais adequados no que se refere à eficiência a que se propõe
........................................................................................................... 163
Gráfico 31 – Conhecimento sobre Policiamento de Pontos Quentes ..................... 164
Gráfico 32 – Percepção se a PMMG utiliza da estratégia de Policiamento de Pontos
Quentes.............................................................................................. 165
Gráfico 33 – Concentração de furtos por segmento de rua – Belo Horizonte – 2018-
2021 ................................................................................................... 186
Gráfico 34 – Concentração de crimes violentos por segmento de rua – Belo Horizonte
– 2018-2021 ....................................................................................... 189
Gráfico 35 – Concentração de crimes violentos e furtos por segmento de rua – Belo
Horizonte – 2018-2021 ....................................................................... 192
Gráfico 36 – Evolução do número de furtos – Belo Horizonte – 2018-2021 ........... 195
Gráfico 37 – Evolução do número de crimes violentos – Belo Horizonte – 2018-2021
........................................................................................................... 196
Gráfico 38 – Evolução do número de crimes violentos e furtos– Belo Horizonte –
2018-2021 .......................................................................................... 197
Gráfico 39 – Furtos e CV por faixa horária – Belo Horizonte – 2018-2021 ............. 202
Gráfico 40 – Percentual dos Furtos e CV por faixa horária – Belo Horizonte – 2018-
2021 ................................................................................................... 202

Quadro 1 – Síntese dos aspectos relacionados à teoria de Policiamento de Pontos


Quentes .................................................................................................. 62
Quadro 2 – Comparação entre as técnicas de mapeamento .................................... 90
Quadro 3 – Contribuições com o conhecimento produzido sobre o planejamento e a
execução do policiamento preventivo por meio de patrulhamento dirigido
– Minas Gerais – 2022 ......................................................................... 166
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Magnitude da correlação conforme intervalo do coeficiente de Pearson Rs


............................................................................................................. 119
Tabela 2 – Ranking de soma de crimes por Setor ................................................. 122
Tabela 3 – Frequência de utilização de recursos para elaboração de cartões-
programa .............................................................................................. 149
Tabela 4 – Erro amostral para os dados validados no Banco de Dados da Pesquisa
............................................................................................................. 170
Tabela 5 – Erro amostral para os dados de segmentos de via mapeados............. 171
Tabela 6 – Número de eventos de furto por quantidade de segmentos de rua– Belo
Horizonte – Acumulado 2018-2021 ...................................................... 179
Tabela 7 – Número de eventos de crimes violentos por quantidade de segmentos de
rua – Belo Horizonte – Acumulado 2018-2021 ..................................... 181
Tabela 8 – Número de eventos de crimes violentos e furtos por quantidade de
segmentos de rua – Belo Horizonte – Acumulado 2018-2021 ............. 183
Tabela 9 – Frequência de número de furtos por percentual de segmentos
correspondentes.... ............................................................................... 187
Tabela 10 – Frequência de número de crimes violentos por percentual de
segmentos correspondentes ................................................................ 190
Tabela 11 – Frequência de crimes violentos e furtos por percentual de segmentos
correspondentes................................................................................... 193
Tabela 12 – Coeficientes de Gini para crimes de furto, crimes violentos e crimes
totais – Belo Horizonte – 2018-2021 .................................................... 194
Tabela 13 – Distribuição Furtos por faixa horária – Belo Horizonte - 2018-2021
............................................................................................................. 199
Tabela 14 – Distribuição CV por faixa horária – Belo Horizonte - 2018-2021
............................................................................................................. 201
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16

2 POLICIAMENTO DE PONTOS QUENTES .................................................. 22


2.1 A análise de microespaços como paradigma no campo da criminologia
...................................................................................................................... 22
2.1.1 Lei de concentração do crime nos lugares – A Lei de Weisburd .................. 27
2.1.2 Implicações teórico-práticas da análise de microespaços ............................ 38
2.1.2.1 Implicações teóricas .................................................................................. 38
2.1.2.2 Implicações práticas .................................................................................. 39
2.2 Policiamento de Pontos Quentes .............................................................. 41
2.3 Patrulha de Pontos Quentes como a causa de redução dos crimes ..... 41
2.3.1 Pontos quentes (hot spots) ........................................................................... 42
2.3.2 Dissuasão local............................................................................................. 43
2.3.3 Deslocamento local ...................................................................................... 44
2.3.4 Dissuasão do infrator como consequência da difusão de benefícios ........... 48
2.3.5 Dissuasão e deslocamento do infrator.......................................................... 49
2.3.6 Repressão .................................................................................................... 50
2.3.7 Dissuasão inicial ........................................................................................... 50
2.3.8 Recuo ........................................................................................................... 51
2.3.9 Dissuasão residual ....................................................................................... 51
2.3.10 Decaimento da dissuasão ............................................................................ 55
2.3.11 Dosagem ...................................................................................................... 55
2.3.12 Frequência .................................................................................................... 56
2.3.13 Intermitência ................................................................................................. 57
2.3.14 Incerteza ....................................................................................................... 58
2.3.15 Curvas de Dosagem-Resposta ..................................................................... 58
2.3.16 Engajamento ................................................................................................ 59
2.3.17 Legitimidade ................................................................................................. 60
2.4 Síntese das proposições acerca do Policiamento de Pontos Quentes . 61
2.5 Conceitos-chave e uma estratégia para implementar patrulhas de pontos
quentes ........................................................................................................ 62
2.5.1 Ampliação ..................................................................................................... 63
2.5.2 Infraestrutura ................................................................................................ 65
2.5.3 Identificação de pontos quentes de longo prazo .......................................... 65
2.5.4 Policiamento preditivo de curto prazo ........................................................... 66
2.5.5 Patrulha de rastreamento no tempo e no espaço ......................................... 67
2.5.6 Accountability (responsabilidade) pela entrega da patrulha ......................... 67
2.5.7 Dando feedback para a Patrulha no tempo e no espaço .............................. 68
2.5.8 “COP-Stat”: aplicação de estatística computadorizada na atividade-fim ...... 69
2.5.9 Cadeias de rituais de interação .................................................................... 69
2.5.10 Liderança transformacional .......................................................................... 70
2.5.11 Resumo dos pontos para implementação de Patrulhas de Pontos Quentes
eficazes ........................................................................................................ 71

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA SUSTENTAR UMA


ESTRATÉGIA DE POLICIAMENTO DE PONTOS QUENTES: mapeamento
de hot spots, grafos e o estudo de rotas otimizadas para o policiamento
preventivo ................................................................................................... 73
3.1 Mapeamento de Hot Spots ......................................................................... 73
3.1.1 Precedentes históricos do mapeamento criminal: a Escola Cartográfica de
Criminologia .................................................................................................. 75
3.1.2 Técnicas de mapeamento de hot spots: potencialidades e limitações ......... 78
3.1.2.1 Mapeamento de pontos .............................................................................. 78
3.1.2.2 Mapeamento de elipses espaciais (elipses de desvio padrão)............... 79
3.1.2.3 Mapas temáticos ......................................................................................... 81
3.1.2.4 Estimativa de densidade de kernel ........................................................... 84
3.1.2.5 Mapeamento e hot spots por agrupamento de eventos segmentos de
vias............................................................................................................... 86
3.1.3 Comparação entre os métodos de mapeamento .......................................... 89
3.2 Roteamento de serviços e sua aplicação na atividade policial .............. 91
3.2.1 Roteamento .................................................................................................. 92
3.3 Grafos: conceitos e aplicações ................................................................. 93
3.3.1 Teoria de grafos para estudo de redes geográficas ..................................... 93
3.3.1.1 Uso de grafos para solução de caminho mínimo .................................... 95
3.3.1.2 Problema do Caixeiro Viajante .................................................................. 97

4 PERCURSO METODOLÓGICO................................................................. 103


4.1 Tipo de Pesquisa ...................................................................................... 103
4.2 Métodos e Técnicas.................................................................................. 105
4.3 Operacionalização da pesquisa .............................................................. 106
4.3.1 Pesquisa de campo .................................................................................... 107
4.3.2 Mapeamento e solução de roteamento por meio de rotas otimizadas........ 108
4.3.3 Análise da concentração de crimes ............................................................ 115
4.3.4 Análise de correlação entre variáveis ......................................................... 118
4.3.4 Proposta de criação de rotas de Policiamento de Pontos Quentes ............ 119
4.3.4.1 Articulação da PMMG ............................................................................... 119
4.3.4.1 Elaboração do planejamento de rotas de policiamento na PMMG ....... 123

5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA


PESQUISA ................................................................................................. 128
5.1 A realização do policiamento preventivo dirigido pela Polícia Militar de
Minas Gerais: percepções dos comandantes de Unidade de Execução
Operacional, expertise ............................................................................. 128
5.1.1 Perfil dos participantes da pesquisa ........................................................... 128
5.1.2 Percepção quanto ao patrulhamento preventivo e utilização de cartão-
programa como ferramenta para planejamento de rotas de policiamento
preventivo ................................................................................................... 130
5.1.3 Percepção dos Comandantes de UEOp quanto aos elementos utilizados para
elaboração dos cartões-programa .............................................................. 133
5.1.4 Expertise das UEOp para elaboração dos cartões-programa .................... 139
5.1.5 Percepção quanto aos aspectos conceituais que compõem a teoria de
Policiamento de Pontos Quentes ............................................................... 149
5.1.6 Conhecimento sobre a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes e
percepção se a Polícia Militar de Minas Gerais executa Policiamento de
Pontos Quentes .......................................................................................... 164
5.2 Análise da distribuição espacial dos crimes de Belo Horizonte:
mapeamento de pontos quentes ............................................................. 170
5.2.1 Comparação entre métodos de mapeamento de pontos quentes .............. 171
5.2.2 Identificação dos pontos quentes em Belo Horizonte e análise a partir da Lei
de Concentração do Crime ......................................................................... 178
5.2.2.1 Pontos de quentes de furtos em Belo Horizonte ................................... 184
5.2.2.2 Pontos de quentes de crimes violentos em Belo Horizonte ................. 187
5.2.2.3 Pontos de quentes de crimes totais (crimes violentos + furtos) em Belo
Horizonte ................................................................................................... 191
5.2.3 Mensuração da desigualdade de concentração de crimes por segmentos 193
5.2.4 Estabilidade de Pontos Quentes no período de 2018 a 2021 ..................... 195
5.2.5 Análise da distribuição temporal dos eventos (Burningtimes) .................... 198
5.3 Rotas de policiamento a partir da análise de microespaços por setor 203

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 210


6.1 Conclusões ............................................................................................... 210
6.2 Sugestões fruto da pesquisa ................................................................... 214
6.3 Limites, restrições e sugestões para futuros trabalhos ....................... 215

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 217

APÊNDICE – ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO .......................................... 233


16

1 INTRODUÇÃO

A administração pública brasileira experimentou, a partir do paradigma da Nova


Gestão Pública (NGP), a aplicação de métodos e técnicas típicos da administração
gerencial para privilegiar o desempenho e a eficiência no serviço público. Esse modelo
de gestão foi aplicado aos órgãos policiais, por meio do emprego de cientificidade na
forma de gerir os serviços. A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) implementou, na
década de 2000, o denominado “controle científico da polícia” que incorporou
aspectos de indicadores, gestão de desempenho e resultados (VIEIRA; PROTÁSIO,
2011).

Em que pese o emprego de estatística na gestão operacional da PMMG ser uma


realidade desde a década de 1980 (SANTA CECÍLIA, 1983, 1984) foi a evolução
gerencial da PMMG que propiciou um terreno fértil para a avaliação de resultados
finalísticos nos diversos níveis de maneira sistemática. Paralelamente, houve
incremento da gestão operacional por meio da análise criminal, o que permitiu a
identificação da dinâmica espacial e temporal do crime, de maneira a identificar os hot
spots1 de crimes e planejar estratégias de intervenções específicas para redução e
controle criminal.

O Policiamento de Pontos Quentes é uma estratégia de policiamento ostensivo,


empreendida por meio do patrulhamento em determinados espaços (quadras,
esquinas ou praças) que concentram altas taxas de criminalidade (BERTHET, 2022).
O pressuposto teórico que sustenta a estratégia policial é que o crime não se distribui
de maneira aleatória no espaço, ou seja, pequenas porções de um determinado
território concentram grandes quantidades de eventos (SHERMAN; GARTIN;
BUERGER, 1989a; SHERMAN, 1995; WEISBURD et al., 2004a).

Alia-se a isso o fato de que os microambientes representam o melhor nível de escala


para análise do crime do ponto de vista espacial. O geógrafo estudioso do crime no

1 De maneira geral, hot spots são definidos operacionalmente por Buerger, Cohn e Petrosino (1995)
como pequenos grupos de endereços com atividade frequente de crimes. Os pontos quentes devem
ser facilmente visíveis a partir de um epicentro.
17

espaço, Keith D. Harries (1974), relata que as ofensas têm suas próprias “ecologias
de lugar”; o layout e o design do bairro, bem como as características estruturais,
podem afetar os níveis de oportunidade para determinados tipos de crime. Segundo
o autor, “a discussão de fatores microambientais demonstra que os delitos variam
muito em sua capacidade de controle por meio da manipulação do ambiente físico”
(HARRIES, 1974, p. 78, tradução nossa2).

Seguindo essas premissas, a análise de microambientes é fator primordial para a


elaboração de estratégias de intervenção que levem em consideração o espaço onde
os eventos ocorrem e o Policiamento de Pontos Quentes, neste contexto, oferece uma
ferramenta para planejar rotas de policiamento com serviços adequados para cada
microespaço identificado como ponto quente.

A Polícia Militar de Minas Gerais possui uma normatização, por meio do Memorando
nº 30.041.2/18-CG, que estabelece o emprego de estatística, análise criminal e
geoprocessamento na melhoria da Gestão Operacional, Coordenação e Controle dos
meios empregados. O documento prevê que “o policiamento orientado para a solução
de problemas [...] e metodologias analíticas diagnósticas, [...] dentre outras, apontam
para o patrulhamento dirigido, em contraposição à modalidade aleatória” (MINAS
GERAIS, 2018, p. 1). O mesmo documento descreve “a execução do policiamento
ostensivo preventivo se desenvolve por meio de definição de postos de policiamento
e cartões-programa”. Sobre os cartões-programa, o aludido Memorando traz que:

Os cartões-programa prescindem da definição de postos de policiamento


que, por sua vez, são constituídos de um ou mais pontos base (espaço físico
delimitado para a execução da atividade).
O cartão-programa indica os locais dos postos de policiamento, o itinerário a
ser percorrido e os horários a serem observados. Seu cumprimento obriga o
policial militar a permanecer, por determinado período, em certos postos de
policiamento, entretanto não dispensa o atendimento a eventuais
ocorrências. É essencial que a definição dos postos de policiamento seja
baseada na estatística, na análise criminal e no geoprocessamento.
[...]
A previsão de cumprimento de cartões-programa é descrita como obrigatória
em serviços, principalmente para aqueles voltados ao POG [Policiamento
Ostensivo Geral].
[...]

2 Discussion of microenvironmental factors demonstrates that offenses vary greatly in their amenability
to control via manipulations of the physical environmet.
18

Os cartões-programa deverão ser atualizados, no mínimo,


quinzenalmente, sob coordenação das Seções de Emprego Operacional
(P3), em consonância com as frações das Unidades (MINAS GERAIS, 2018,
p. 2-3).

A ideia de que a Polícia Militar de Minas Gerais realiza policiamento de hot spots é
difundida, conforme se pode verificar na afirmação de Sapori (2022, p. 130, grifo
nosso), o qual numa análise do decréscimo da violência em Minas Gerais, afirma que
uma das causas de redução do crime se deve a “[...] algumas metodologias de
atuação policial de controle da criminalidade internacionalmente reconhecidas, tais
como o policiamento orientado para a solução de problemas, o policiamento por hot
spots e a gestão por resultados”.

Apesar da previsão de elaboração de planejamento de rotas estar institucionalizado


no memorando citado acima, o documento normativo da PMMG não aborda a
metodologia que deve ser adotada para elaboração de rotas de policiamento.

Assim, há um campo de trabalho que possa identificar se as práticas institucionais de


planejamento das rotas de policiamento se aderem às premissas da estratégia de
Policiamento de Pontos Quentes e com vistas a um método que viabilize a maior
eficiência na realização do policiamento preventivo, ou seja, que cubra os principais
pontos do espaço com demanda por policiamento utilizando o mínimo de ativos
institucionais (recursos humanos e logísticos), haja vista o constante enxugamento
das estruturas estatais dedicadas ao policiamento ostensivo3.

Diante do exposto, o tema da presente pesquisa é o Policiamento de Pontos Quentes


como estratégia para elaboração de planejamento de rotas de policiamento
preventivo.

3 Efetivo de policiais militares da ativa no período de 2017-2019: 2017: 41.670 militares, 2018: 39.957
militares, 2019: 37.928 militares, 2020: 37.169 militares, 2021: 35.574 militares. Redução de 15% do
efetivo nos últimos cinco anos, conforme dados da Primeira Seção do Estado-Maior. Os dados se
referem ao efetivo existente na Instituição na data do primeiro dia do mês de dezembro de cada ano
(MINAS GERAIS, 2022a).
19

A pesquisa foi guiada pelo seguinte problema: como a estratégia de Policiamento de


Pontos Quentes pode contribuir para a otimização de rotas de policiamento da Polícia
Militar de Minas Gerais?

A ação dedicada à elucidação do problema de pesquisa é descrita em termos de


objetivo geral: analisar a viabilidade de implantação da estratégia de Policiamento de
Pontos Quentes (PPQ) como ferramenta para elaboração de rotas de policiamento
preventivas na Polícia Militar de Minas Gerais. Para atingimento do objetivo geral,
foram traçados os objetivos específicos:

a) promover uma revisão teórica sobre Policiamento de Pontos Quentes,


mapeamento de hot spots, roteamento de serviços e solução de rotas
otimizadas por meio de grafos;
b) computar os Crimes Violentos (CV4) e Furtos ocorridos em Belo Horizonte para
o período de 01/01/2018 a 31/12/2021;
c) identificar os hot spots (microespaços) de crimes em Belo Horizonte para o
período de 01/01/2018 a 31/12/2021;
d) verificar o método adotado pelas UEOp para elaboração de cartões-programa
e as percepções e conhecimento sobre o Policiamento de Pontos Quentes;
e) elaborar cartões-programa baseados na estratégia de Policiamento de Pontos
Quentes e de roteamento de serviços por meio de grafos para um setor de cada
Batalhão da 1ª Região de Polícia Militar.

A importância da pesquisa, em termos acadêmicos, reside no fato de que a maioria


dos estudos que tem como foco o Policiamento de Pontos Quentes foi realizado em
países industrializados do hemisfério norte. Pesquisas que tem como alvo
organizações da América Latina são incipientes.

A aplicação no Uruguai e na Argentina mostram impactos positivos nos roubos


(CHAINEY; ESTÉVEZ-SOTO; SERRANO-BERTHET, 2022). Na Colômbia,
mostraram uma melhora nas percepções de segurança de curto prazo e uma redução

4 Modalidades tentado e consumado das seguintes naturezas criminais: Homicídio, Sequestro ou


Cárcere Privado, Roubo, Extorsão, Extorsão Mediante Sequestro, Estupro, Estupro de Vulnerável
(MINAS GERAIS, 2022b).
20

nos roubos de carros, mas sem efeitos diretos sobre outros crimes ou satisfação com
os serviços policiais). Os efeitos foram maiores nos lugares menos seguros,
especialmente para percepções de segurança de curto prazo, roubos de carros e
assaltos. Não foram encontradas evidências de deslocamento do crime, mas sim uma
diminuição nos roubos de carros em pontos quentes próximos e uma diminuição nos
assaltos em pontos não quentes próximos. Os autores estimaram que os roubos de
carros diminuíram em toda a cidade em cerca de 11% (COLLAZOS et al., 2021). No
Brasil, até o presente momento, nenhum estudo com esse foco foi produzido.

Há, ainda, a justificativa do ponto de vista prático, da ciência aplicada à solução de


problemas reais; no caso, que permita uma melhor compreensão da dinâmica
envolvida na gestão dos serviços policiais, cujo fenômeno poderia ensejar numa ação
mais qualificada por intermédio de políticas de segurança pública mais adequadas e
planejamentos operacionais mais assertivos, o que, em última análise, visam auferir
acesso ao direito fundamental de segurança pública ao cidadão-usuário dos serviços
e melhoria da qualidade da prestação dos serviços.

Em âmbito institucional, a busca pela otimização dos recursos estatais para promoção
de serviços com maior eficiência encontra aderência no Plano Mineiro de
Desenvolvimento Integrado (PMDI) 2019-2030, no qual está previsto dentre as
Diretrizes Estratégicas para Áreas Temáticas Finalísticas de Segurança Pública: “[...]
avaliar a distribuição das forças de segurança e proteção públicas, buscar a
otimização em localização, infraestrutura e recursos [...]” (MINAS GERAIS, 2016).

Outro ponto de possível interesse prático da pesquisa se refere às formas de análise


espacial do crime utilizadas para análises gerenciais e planejamento de emprego
operacional na PMMG. Hoje, utiliza-se mapas de densidade de probabilidade de
ocorrências (Kernel) para se fazer análises da distribuição dos fenômenos no espaço.
Por meio do trabalho, para aplicação da metodologia de Policiamento de Pontos
Quentes, também foram comparadas outras formas de representação espacial
(agrupamento por quadrículas) e análise por transectos (seguimentos de rua), de
forma que se identifica potencialidades de melhoria na produção destes tipos de
documentos de análise criminal.
21

Para atingir os objetivos propostos, o estudo foi organizado em seis seções. Esta
primeira é dedicada à contextualização e problematização da pesquisa, com
apresentação dos objetivos propostos, justificativa e estrutura geral da monografia.

Na segunda seção, busca-se apresentar um encadeamento de ideias e conceitos que


contemplem o policiamento de pontos quentes. Para isso, tem-se como pressuposto
a análise de microespaços como paradigma no campo da criminologia. Na sequência,
descreve-se o policiamento de pontos e a patrulha de pontos quentes como uma
causa de redução de crimes. Por fim, descreve-se a proposta de Sherman et al. (2014)
como sendo a estratégia para implementação de patrulhas de pontos quentes.

A terceira seção é dedicada a uma abordagem teórica sobre formas e técnicas de


mapeamento criminal, sobre a teoria de grafos e sobre a solução de problemas de
roteamento.

A quarta seção dedicou-se aos aspectos metodológicos que orientaram o


desenvolvimento da monografia. Na quinta seção são apresentados e discutidos os
resultados da pesquisa e, por derradeiro, na sexta seção, constam as considerações
finais do trabalho, com conclusões, sugestões, limites e restrições da pesquisa.
22

2 POLICIAMENTO DE PONTOS QUENTES

Sherman et al. (2014) indicam que as teorias que abordam como a polícia reduz o
crime e a desordem em áreas públicas diz mais sobre o efeito do incremento de
patrulhas policiais em hot spots que sobre a causas dessas patrulhas.

No campo teórico, os criminologistas estão mais interessados no crime que no


comportamento organizacional das instituições encarregadas do seu enfrentamento
(SHERMAN et al., 2014). Assim, a ideia do policiamento de hot spots surge como uma
alternativa à criminologia tradicional.

O marco conceitual apresentado foi objeto da investigação na pesquisa de campo


realizada com os gerentes do nível operacional da Polícia Militar de Minas Gerais e
que será descrita mais à frente no trabalho, no que concerne ao conhecimento e às
percepções quanto à teoria e sua aplicação prática.

2.1 A análise de microespaços como paradigma no campo da criminologia

Os estudiosos da criminologia tradicional buscavam compreender o crime no nível dos


indivíduos e das comunidades (NETTLER, 1978; SHERMAN 1995; WEISBURD;
BRAGA, 2006). No caso dos indivíduos, criminologistas procuram identificar as
motivações que levam determinadas pessoas a se tornarem criminosos (AKERS,
1973; GOTTFREDSON; HIRSCHI, 1990; HIRSCHI, 1969; RAINE, 1993) ou buscam
explicar por que certos criminosos se envolveram em atividades criminais em
diferentes níveis dos estágios de vida ou cessaram o envolvimento em outros estágios
(MOFFITT, 1993; SAMPSON; LAUB, 1993). Em relação às comunidades, os
criminologistas muitas vezes tentam explicar por que certos tipos de crime ou
diferentes níveis de criminalidade são encontrados em algumas comunidades em
detrimento de outras (AGNEW, 1999; BURSIK; GRASMICK, 1993; SAMPSON;
GROVES, 1989; SHAW; MCKAY, 1972) ou como diferentes níveis de comunidades,
com privação relativa, baixo status socioeconômico, falta de oportunidades
econômicas podem afetar a criminalidade em nível individual (AGNEW, 1992;
23

CLOWARD; OHLIN, 1960; MERTON, 1968; WOLFGANG; FERRACUTI, 1967). Na


maioria dos casos, pesquisas nas comunidades têm focado em nível macro como:
estados (LOFTIN; HILL, 1974); cidades (BAUMER et al., 1998) e vizinhanças
(SAMPSON, 1985; BURSIK; GRASMICK, 1993).

Isso não quer dizer que os criminologistas não reconhecessem que as oportunidades
encontradas em níveis micro do local possam impactar na ocorrência do crime, como
o trabalho de Sutherland5 (1947). No entanto, tanto Sutherland (1947) como outros
criminologistas não apresentaram os microespaços (micro places) de crime como foco
relevante do estudo criminológico.

Embora o foco em indivíduos e comunidades tenha continuado a desempenhar um


papel central na teoria e na prática criminológica, as teorias e abordagens tradicionais
foram submetidas a críticas substanciais a partir da década de 1970 (WEISBURD;
BRAGA, 2006). No âmbito dessas críticas às abordagens tradicionais, alguns estudos
documentaram falhas nas iniciativas tradicionais de prevenção ao crime (SECHREST;
WHITE; BROWN, 1979; WHITEHEAD; LAB,1989), o que acarretou também em
censuras substanciais aos métodos de policiamento.

Uma premissa fundamental para o modelo de policiamento americano era a ideia de


que o espalhamento amplo da presença policial pelo espaço urbano era um método
importante para prevenir o crime e aumentar a sensação de segurança dos cidadãos
(WEISBURD; BRAGA, 2006).

Entretanto, em uma avaliação da patrulha preventiva na cidade de Kansas, Missouri,


a Police Foundation concluiu que aumentar ou diminuir a intensidade da patrulha
preventiva não afetou o crime, a prestação de serviços ou a sensação de segurança
dos cidadãos (KELLING et al., 19746 apud WEISBURD; BRAGA, 2006). Da mesma

5 Sutherland (1947) tinha o foco principal nos processos de aprendizagem que levam os delinquentes
a participar no comportamento criminoso. O autor observou em sua obra clássica de criminologia que
o ambiente imediato influencia o crime de muitas maneiras. Sutherland (1947) cita como exemplos:
um ladrão pode furtar de uma banca de frutas quando o dono não está à vista, mas abstém-se quando
o dono está à vista; um assaltante de banco pode atacar um banco mal protegido, mas abster-se de
atacar um banco protegido por vigias e alarmes contra roubo (WEISBURD; BRAGA, 2006).
6 KELLING,G. et al. E. The Kansas City preventive patrol experiment: Summary report. Washington,

DC: The Police Foundation, 1974.


24

forma, a resposta rápida a chamadas de emergência para a polícia foi considerada


um componente crucial da eficácia da polícia. Ainda em outro estudo de grande
escala, Spelman e Brown (1984) concluíram que a melhoria nos tempos de resposta
da polícia não tem impacto apreciável na apreensão ou prisão de infratores. Esses e
outros estudos nas décadas de 1970 e 1980 levaram os estudiosos a desafiar a
premissa fundamental de que a polícia poderia ter um impacto significativo sobre o
crime (GREENWOOD; PETERSILIA; CHAIKEN, 1977; LEVINE, 1975).

Uma crítica à criminologia tradicional que influenciou o desenvolvimento do


Policiamento de Pontos Quentes foi introduzida por Cohen e Felson (1979). Eles
argumentaram que a ênfase colocada na motivação individual na teoria criminológica
falhou em reconhecer a importância de outros elementos da “equação do crime”. O
crime, de acordo com a teoria original das atividades rotineiras7, é resultado da
convergência de três elementos no tempo e no espaço: a presença de ofensor
provável ou motivado; a disponibilidade de alvos em potencial; e a ausência de
guardiões capazes de prevenir o ato criminal (COHEN; FELSON, 1979).

Um provável ofensor inclui qualquer indivíduo com uma inclinação para cometer um
crime (FELSON, 1983).

Um alvo em potencial abarca alguma pessoa ou bem que suscite a ação de um


criminoso, que inclua o valor real do alvo (monetário e/ou simbólico) e que desperte o
desejo do ofensor (FELSON, 1983).

Segundo Eck e Weisburd (1995) o guardião é uma pessoa capaz de proteger o


potencial alvo. A ausência de guardiões formais, como as autoridades policiais ou
seguranças pessoais, pode ser suprida por cidadãos comuns, incluindo amigos,
pessoas próximas (parentes, professores, empregados), gestores (zeladores).
Segundo Felson (1983; 1994) são esses cidadãos comuns em sua rotina os guardiões
mais importantes.

7 Atividades rotineiras significam “[...] quaisquer atividades recorrentes que supram as necessidades
básicas individuais e da população, independentemente das suas origens biológicas ou culturais [...],
incluindo o trabalho formalizado, o lazer, a interação social, a aprendizagem [...] que ocorrem em
casa, nos postos de trabalho e em outras atividades fora de casa” (COHEN, FELSON, 1979, p. 593).
25

A teoria das atividades rotineiras foi utilizada por Cohen e Felson (1979) para explicar
o aumento das taxas de crime nos Estados Unidos uma vez que, segundo os autores,
outras teorias não poderiam explicar. Assim, o crescimento da taxa criminal pode ser
explicado pelo aumento da oportunidade para o cometimento de crimes não havendo,
portanto, relação com número de ofensores e vítimas.

Com base em temas semelhantes, estudiosos britânicos, liderados por Ronald Clarke,
exploraram as possibilidades teóricas e práticas da “Prevenção Situacional do Crime”
(situacional crime prevention) (CLARKE, 1983; 1992; 1995; CORNISH; CLARKE,
1986). O foco das pesquisas estava nos contextos criminais e nas possibilidades de
reduzir as oportunidades de crime em situações muito específicas. A abordagem
deles, como a de Cohen e Felson (1979), alterou radicalmente a teoria tradicional da
prevenção do crime. No centro da equação do crime estava a oportunidade. E eles
procuraram mudar a oportunidade em vez de mudar os infratores. Na prevenção
situacional do crime, na maioria das vezes, “a oportunidade faz o ladrão” (FELSON;
CLARKE, 1998).

A prevenção situacional do crime visa à eliminação de oportunidades para o crime.


Segundo Clarke (1992) esta metodologia inclui ações dedicadas à redução de
chances que são dirigidas a formas específicas de crime. Envolve a gestão,
concepção ou manipulação do ambiente imediato de maneira sistemática e
permanente, de modo a aumentar o esforço e os riscos do cometimento de crimes,
além de reduzir as recompensas percebidas pelos criminosos8.

8 A abordagem do crime do ponto de vista econômico foi desenvolvida inicialmente por Gary Becker na
obra a Crime and punishment: An Economic Approach (BECKER, 1968). Segundo a abordagem de
Becker, o indivíduo, em determinadas situações ou diante de certos incentivos, faz uma análise
racional entre o custo-benefício da sua ação, ou seja, o que ele espera ganhar com a conduta – o
benefício – que pode ser dinheiro, poder, entre outros, e o custo a ser por ele suportado, como a
probabilidade de ser pego e a possível punição. Posteriormente, Clarke e Cornish (1986), desenvolvem
a teoria da escolha racional apontando, ao contrário da ideia clássica de Becker, que os sujeitos agem
em uma racionalidade limitada pela influência de diversos fatores, como a falta de conhecimento
completo acerca dos riscos, esforços e recompensas do crime, limitações de tempo e inexistência de
um planejamento prévio e detalhado. Normalmente, os delinquentes traçam planos gerais,
improvisam diante do imprevisto e, uma vez iniciada a execução do crime, o foco passa a ser mais
as recompensas que os riscos
26

Mais tarde, a prevenção situacional da criminalidade foi influenciada pela noção de


Policiamento Orientado para o Problema, descrito por Goldstein (1979), que é uma
abordagem destinada a identificar e resolver os problemas de determinadas
comunidades em vez de esperar que esses problemas resultem em comportamento
criminoso visto como um sintoma dos problemas subjacentes.

Segundo Weisburd e Braga (2006), citando os trabalhos de Eck e Weisburd (1995) e


Taylor (1997), uma consequência natural dessas perspectivas foi que os locais
específicos, onde o crime ocorre, se tornariam um foco importante para os
pesquisadores de prevenção do crime. Enquanto a preocupação com a relação entre
crime e lugar remonta às gerações fundadoras da criminologia moderna com os
trabalhos seminais de Guerry (1833) e Quetelet (1842), a abordagem “micro” dos
lugares surgiu apenas nas últimas décadas, com os trabalhos de Brantingham e
Brantingham (1975, 1981); Duffala (1976); Mayhew et al. (1976); Rengert (1980,
1981); LeBeau (1987); Hunter (1988), entre outros.

Lugares, nesse microcontexto, são locais específicos dentro dos ambientes sociais
mais amplos de comunidades e bairros (ECK; WEISBURD, 1995). Eles são algumas
vezes definidos como prédios ou endereços (GREEN, 1996; SHERMAN; GARTIN;
BUERGER, 1989a), algumas vezes como faces de quarteirões ou segmentos de rua
(SHERMAN; WEISBURD, 1995; TAYLOR, 1997) e também como grupos de
endereços, faces de quarteirões, ou segmentos de rua (BLOCK; DABDOUB;
FREGLY, 1995; WEISBURD; GREEN, 1995).

Na década de 1980, um grupo de criminologistas começa a examinar a distribuição


dos crimes nos microespaços. O mais proeminente dentre os estudos foi liderado por
Lawrence Sherman (SHERMAN; GARTIN; BUERGER, 1989a). No trabalho,
desenvolvido em 1986, intitulado Repeat call address policing: The Minneapolis
RECAP experimente, examinaram 323.000 chamadas para a polícia na cidade de
Minneapolis (SHERMAN, 1995, p. 36). Os resultados indicaram que 3% dos
endereços em Minneapolis respondiam por 50% das ligações de crimes para a polícia.
27

Outros trabalhos9 encontraram resultados semelhantes em locais diferentes e usando


metodologias diferentes, cada um sugerindo uma concentração muito alta de crimes
em microlugares.

Em 2004, Weisburd e equipe de pesquisadores, por meio de um estudo longitudinal


realizado em Seattle, Washington, com dados de 14 anos, demostraram que a
concentração da criminalidade em hot spots apresentou-se estável ao longo do tempo
(WEISBURD et al., 2004).

A concentração do crime em microespaços não segue necessariamente as ideias


tradicionais sobre o crime e as comunidades. Conforme Weisburd e Green (1994) os
achados das pesquisas indicaram que havia lugares livres de crime em bairros
considerados “problemáticos” e pontos quentes de crime em bairros que eram
geralmente vistos como favorecidos e não propensos ao crime. Assim, a pesquisa
reforçou perspectivas teóricas que enfatizaram a importância dos locais de crime e
sugeriram um foco em pequenas áreas, muitas vezes abrangendo apenas um ou
alguns quarteirões que poderiam ser definidos como focos de crime.

2.1.1 Lei de concentração do crime nos lugares – A Lei de Weisburd

Weisburd, em uma palestra para a Sociedade Americana de Criminologia ocorrida em


Sutherland em 2014, afirmou que há uma consistência no grau em que o crime está
concentrado em pontos quentes em todas as cidades (e ao longo do tempo nas
cidades) (WEISBURD, 2015). Essa consistência era tão forte que sugeria uma “lei de
concentração do crime nos lugares” (law of crime concentration at places), a qual
prevê que nas cidades maiores cerca de 50% da criminalidade está concentrada em
5% dos segmentos de rua e 25% do crime em apenas 1% dos segmentos de rua
(WEISBURD; GROFF; YANG, 2012).

A primeira e mais importante observação empírica na denominada “criminologia do


lugar” (criminology of place) é que o crime se concentra em unidades geográficas

9 Pierce, Spaar e Briggs (1988); Weisburd e Green (1995); Weisburd et al. (2004); Weisburd, Maher e
Sherman (1992).
28

muito pequenas (WEISBURD; AMRAM, 2014; WEISBURD, 2015, 2004; WEISBURD;


GROFF; YANG, 2012). Essa descoberta é o catalisador não apenas para o interesse
emergente nessa área na década de 1990, mas também para o desenvolvimento de
programas de prevenção ao crime em locais, como o policiamento de pontos quentes
(SHERMAN; WEISBURD, 1995).

Muitos estudos10, desde o final da década de 1980, descobriram que há um


agrupamento significativo de crimes em unidades microgeográficas de análise. No
entanto, os estudos até o momento variaram muito nas unidades geográficas usadas,
no tipo de dados sobre crimes (por exemplo, chamadas para atendimento e incidentes
criminais) e nos tipos de crimes examinados (WEISBURD, 2015).

Dois estudos iniciais, examinando endereços de ruas e medidas gerais de crime,


encontraram resultados surpreendentemente semelhantes. Pierce, Spaar e Briggs
(1988) descobriram que 3,6% dos endereços de rua, em Boston, incluíam 50% das
chamadas de emergência para a polícia. Sherman, Gartin e Buerger (1989b), em uma
análise de chamadas de emergência para endereços de rua, descobriram que apenas
3,5% dos endereços em Minneapolis produziam 50% de todas as chamadas de crimes
para a polícia em um único ano. Da mesma forma, Eck, Gersh e Taylor (2000) também
examinaram ligações de crimes em endereços e descobriram que os 10% mais
representativos (em termos de crime), no Bronx e Baltimore, representavam
aproximadamente 32% de uma combinação de roubos, assaltos, arrombamentos,
furtos e roubos de automóveis. Observando locais públicos, como escolas de ensino
médio, conjuntos habitacionais públicos, estações de metrô e parques, Spelman
(1995) descobriu que os 10% piores dos locais produziam 50% das chamadas de
crimes.

Outros estudiosos analisaram incidentes criminais em segmentos de rua ou grupos


de segmentos de rua. Um estudo realizado por Weisburd et al. (2004b) confirma não
só a concentração do crime no local, mas também a estabilidade dessa concentração

10Andresen; Malleson (2011); Braga, Papachristos; Hureau (2014); Brantingham; Brantingham (1999);
Curmen; Andresen; Brantingham (2014); Pierce; Spaar; Briggs (1988); Sherman; Gartin; Buerger
(1989a, 1989b); Weisburd; Amram (2014); Weisburd et al. (2004); Weisburd; Green (1994); Weisburd;
Lawton; Ready (2012); Weisburd; Maher; Sherman (1992); Weisburd; Morris; Groff (2009).
29

ao longo do tempo. Weisburd et al. (2004) examinaram segmentos de rua na cidade


de Seattle de 1989 a 2002, eles descobriram que 50% dos incidentes criminais,
durante o período de 14 anos, ocorreram em apenas 4,5% dos segmentos de rua.

Curman, Andresen e Brantingham (2014) também examinaram incidentes criminais


em Vancouver, Canadá, por segmento de rua usando dados de incidentes, eles
descobriram que 7,8% dos segmentos de rua produzem 60% do crime e que os
padrões de crime em locais de alta taxa são relativamente estáveis ao longo do tempo.

Weisburd e Mazerolle (2000) estudaram os mercados de drogas, que frequentemente


incluíam grupos de segmentos de rua, eles descobriram que aproximadamente 20%
de todos os crimes de desordem e 14% dos crimes contra pessoas estavam
concentrados em apenas 56 pontos de tráfico de drogas em Jersey City, Nova Jersey,
uma área que compreendia apenas 4,4% dos segmentos de ruas e cruzamentos da
cidade (WEISBURD; GREEN, 1995).

Alguns estudos relataram concentração de crimes para tipos específicos de crimes.


No trabalho original de Sherman, Gartin e Buerger (1989b), eles documentaram
concentrações de crimes por tipos específicos de crimes:

a) todas as ligações de roubo vieram de apenas 2,2% dos lugares da cidade;


b) todos os roubos de veículos motorizados vieram de 2,7% dos lugares; e
c) todas as ligações de estupro vieram de 1,2% dos lugares (SHERMAN;
GARTIN; BUERGER, 1989b).

Mesmo alguns crimes, que talvez pareçam menos propensos a se concentrar de


forma tão dramática, como roubos, assaltos e distúrbios domésticos também
mostraram altos níveis de concentração no nível microgeográfico. Todos os roubos
vieram de 11% dos lugares, todos os assaltos vieram de 7% dos lugares e todos os
distúrbios domésticos vieram de 9% dos lugares (WEISBURD, 2015).

Considerando que o estudo da concentração do crime para crimes específicos muitas


vezes tem sido dificultado por causa das baixas taxas de base em áreas
30

microgeográficas, estudos mais recentes de tipos de crimes específicos também


mostram fortes evidências de altos níveis de concentração (BRAGA; HUREAU;
PAPACHRISTOS, 2010; TOWNSLEY; HOMEL; CHASELING, 2003).

Braga, Hureau e Papachristos (2010) examinaram incidentes de violência armada


entre 1980 e 2008 em Boston. Eles descobriram que os incidentes de violência
armada eram estáveis e concentrados em menos de 5% dos segmentos de rua e
cruzamentos, também relataram que entre 1% e 8% dos segmentos de ruas e
cruzamentos foram responsáveis por quase 50% de todos os roubos comerciais e
66% de todos os roubos de rua.

Ao estudar os pontos quentes do crime juvenil, Weisburd, Morris e Groff (2009)


descobriram que 86 segmentos de rua, de aproximadamente 25.000 em Seattle,
representaram um terço de todos os crimes juvenil oficiais em um período de 14 anos.

Esses estudos estabeleceram claramente que o crime está concentrado em unidades


microgeográficas. Mas é difícil tirar conclusões sólidas sobre até que ponto existem
semelhanças na concentração do crime entre as cidades devido à natureza variada
das unidades de análise, tipos de dados e tipos de crimes examinados (WEISBURD,
2015).

Weisburd (2015) declara que os dados apresentados por ele sugerem que existe uma
lei de concentração do crime. Esta lei estabelece que para uma medida definida de
crime, em uma unidade microgeográfica específica, a concentração de crime cairá
dentro de uma estreita faixa de porcentagens para uma proporção cumulativa definida
de crime.

Uma medida definida do crime é necessária porque a concentração do crime pode


variar dependendo dos tipos de crimes e da natureza dos dados criminais examinados
(chamadas de emergência ou registros policiais, por exemplo). Por sua vez, a
concentração do crime pode flutuar de acordo com a unidade microgeográfica
específica de análise examinada, desde endereços ou instalações até aglomerados
de segmentos de ruas ou zonas de proteção geográfica definidas (WEISBURD, 2015).
31

Os estudiosos têm argumentado geralmente que o crime se concentra em unidades


microgeográficas (WEISBURD; GROFF; YANG, 2012).

Uma lei de concentração do crime prevê que a faixa percentual de unidades


microgeográficas - Weisburd (2015) chama de largura de banda de porcentagens -
que está associada a uma proporção cumulativa específica de crime (por exemplo,
25% ou 50% do crime na cidade) seria muito estreita para uma unidade padrão de
crime e geografia. As análises subsequentes representam uma tentativa inicial de
definir a largura de banda da lei da concentração do crime nas cidades e ao longo do
tempo.

A forte concentração de crimes em pontos microgeográficos tornou-se uma


regularidade fundamental de pesquisa sobre o crime no local (TELEP; WEISBURD,
2018). Isso sugere que o crime é vivenciado com maior intensidade em um número
muito pequeno de lugares de uma cidade e que os governos e as agências de
aplicação da lei precisam se concentrar nas ruas que representam o top 1% (e 5%)
das ruas que “produzem” cerca de um quarto (e metade) do problema do crime
(WEISBURD; ZASTROW, 2021).

Weisburd e Zastrow (2021) apresentaram relatório de pesquisa sobre estudo das


“ruas hot-spot” (também tratada como hot streets) na cidade de Nova Iorque em 2010,
2015 e 2020. Segundo os autores, nos últimos anos, tem havido uma percepção
crescente de que o crime em Nova Iorque se tornou um problema marginal, ou pelo
menos que diminuiu para níveis tais que não havia necessidade de colocar muita
ênfase no controle do crime. No início da década de 1990, havia mais de 700.000
crimes registrados na cidade a cada ano. Em 2010, esse número havia caído para
menos de 200.000 crimes. Entre 2010 e 2019, Nova Iorque teve um declínio adicional
de 11% nos indicadores criminais (WEISBURD; ZASTROW, 2021).
32

Gráfico 1 – Concentração de Crimes em Nova Iorque 2010-2020

Fonte: Weisburd e Zastrow (2021).

A distribuição dos crimes por tipologia (crimes gerais, crimes violentos e crimes contra
o patrimônio) apresentou um comportamento semelhante em termos da porcentagem
de crimes concentrados por segmento de rua no período. Conforme o Gráfico 1:

a) crimes gerais: 25% dos crimes totais se concentram em 1,38% em 2010, 1,27%
em 2015 e 1,38% em 2020; 50% dos crimes ocorreram em 5,78% dos
segmentos de rua em 2010, 5,54% em 2015 e 5,71% em 2020; 75% dos
eventos se concentraram em 16,12% dos microespaços em 2010, 15,50% em
2015 e 15,60% em 2010; por fim, 100% dos eventos criminais ocorreram em
58,15% dos segmentos em 2010, 56,79% em 2015 e 55,22% em 2020. Desta
33

forma os crimes gerais mantiveram uma persistência de concentração de


pontos quentes no período;
b) crimes violentos: 25% dos crimes violentos se concentram em 1,12% dos
segmentos de rua em 2010, 1,01% em 2015 e 1,03% em 2020; 50% dos crimes
violentos ocorreram em 4,02% dos segmentos de rua em 2010, 3,84% em 2015
e 3,70% em 2020; 75% dos eventos se concentraram em 10,13% em 2010,
9,81% em 2015 e 9,46% em 2020; por fim, 100% dos crimes violentos
ocorreram em 26,49% dos microespaços em 2010, 26,13% em 2015 e 23,90%
em 2020. Desta forma os crimes violentos também mantiveram um mesmo
padrão de concentração de pontos quentes no período;
c) crimes contra o patrimônio: 25% dos crimes violentos se concentram em 0,75%
dos segmentos de rua em 2010, 0,69% em 2015 e 0,78%% em 2020; 50% dos
crimes violentos ocorreram em 4,71% dos segmentos de rua em 2010, 4,31%
em 2015 e 4,55% em 2020; 75% dos eventos se concentraram em 14,29% em
2010, 13,48% em 2015 e 13,58% em 2020; por fim, 100% dos crimes contra o
patrimônio ocorreram em 42,78% dos microespaços em 2010, 41,99% em 2015
e 40,97% em 2020. Desta forma os crimes violentos também mantiveram um
mesmo padrão de concentração de pontos quentes no período.

Por meio da análise dos períodos 2010, 2015 e 2020, considerando-se o foco nos
segmentos de rua que produziram 25% do crime em Nova Iorque, é possível dizer que
os níveis de criminalidade são muito altos nessas ruas, comparando com os demais
segmentos de rua da cidade. Em 2010, 1.154 segmentos de ruas tiveram níveis
médios de criminalidade (a média numérica nas ruas) de mais de 80 crimes em um
único ano. O nível médio de criminalidade (ou pontuação do percentil 50) foi de 60
crimes, ainda sugerindo um número muito grande de crimes registrados em um único
ano. Em 2020, aproximadamente o mesmo número de segmentos produziram 25%
do crime. O nível de criminalidade é um pouco menor, mas ainda muito alto para um
único segmento de rua, com média de 73 crimes e mediana de 55 crimes. A tendência
geral nos três anos analisados é interessante, uma vez que o número médio de
incidentes criminais para 1% dos segmentos de rua aumentou entre 2010 e 2015,
apesar de uma diminuição na criminalidade total na cidade. Isso sugere que o número
34

total de crimes na cidade não é necessariamente o único impacto no crime de rua


(WEISBURD; ZASTROW, 2021).

O fenômeno também se reflete no número médio de crimes: 60 ocorrências de crimes


em 2010, 63 em 2015 e 55 em 2020. A mediana é menos afetada por discrepâncias
que impulsionam as maiores estimativas para o número médio de crimes nos três
anos. Mas esses outliers sugerem que há uma série de ruas na cidade com níveis de
criminalidade extremamente altos. Em 2010, havia 185 segmentos de rua com níveis
de criminalidade acima de 100 crimes por ano. Em 2015, são 210 segmentos de rua
com mais de 100 denúncias de crimes e, em 2020, são 159 segmentos de ruas com
mais de 100 denúncias de crimes. Existem algumas ruas com índices de criminalidade
extraordinariamente altos. Cinco ruas têm 500 ou mais relatórios de crimes em 2010
e duas ruas em 2020. Essas ruas são geralmente estabelecimentos comerciais
(WEISBURD; ZASTROW, 2021).

Ao comentar os resultados de Nova Iorque, Weisburd e Zastrow (2021, p. 10, tradução


nossa11, grifo nosso) relataram que:

Os dados até agora seguem estudos anteriores em outras cidades maiores:


cerca de 1% das ruas produzem 25% do crime geral e cerca de 5% das ruas
produzem 50% do crime geral (ver Weisburd, 2015; Telep e Weisburd, 2018).
Nesse contexto, o número de segmentos de rua que podem ser definidos
como focos de crime permaneceu relativamente estável ao longo dos anos,
apesar do declínio geral da criminalidade observado na cidade. Mas uma
questão-chave – dada a queda muito grande da criminalidade em Nova
Iorque nas últimas décadas – é se as ruas dos pontos quentes
continuam quentes. Em outras palavras, as ruas de hotspots têm um grande
número de crimes, ou o grande declínio da criminalidade em Nova Iorque,
trouxe o crime nas ruas de hotspots para níveis muito baixos?

Weisburd e Zastrow (2021) afirmam no relatório de pesquisa que uma questão


importante para avaliar a disseminação do policiamento em uma cidade é a
distribuição geográfica dos focos de criminalidade. Eles estão localizados apenas em

11 The data so far follow earlier studies in other larger cities: about 1% of streets produce 25% of crime
overall, and about 5% of streets produce 50% of crime overall (see Weisburd, 2015; Telep and
Weisburd, 2018). In this context, the number of street segments that can be defined as crime hot
spots remained relatively stable across the years despite the overall crime decline observed in the
city. But a key question—given the very large crime drop in NYC over the past few decades—is
whether hot-spot streets remain hot. Put differently, do hot-spot streets have large numbers of
crimes, or has the large crime decline in NYC brought crime on hotspot streets to very low levels?
35

um bairro específico de Nova Iorque ou em bairros muito específicos? Ou estão


espalhados pela cidade? Existe uma forte variabilidade rua a rua ou os pontos quentes
são realmente “bairros quentes”? Um mapa mostrando os segmentos de rua mais
quentes em Nova Iorque (os 1,4% dos segmentos de rua que produzem 25% do crime)
em 2020 está na Figura 1.

Figura 1 – Mapa dos segmentos de rua responsáveis por 25% dos crimes em Nova
Iorque - 2020

Fonte: Weisburd e Zastrow (2021, p. 14).

O mapa da Figura 1 mostra que há pontos de alta criminalidade em cada um dos


bairros da cidade, embora o número varie. As maiores concentrações de pontos
36

quentes são encontradas em Manhattan, Brooklyn e Bronx, representando as partes


mais densamente povoadas e urbanas da cidade.

Uma questão importante é se os focos de criminalidade permanecem relativamente


estáveis geograficamente. Weisburd e Zastrow (2021) mapearam as ruas de crime
mais quentes do Bronx para ilustrar esse padrão para 2010 e 2020 (FIGURA 2).

Figura 2 – Pontos Quentes de Crimes no Bronx – Nova Iorque – 2010-2020

Fonte: Weisburd e Zastrow (2021, p. 18).

Pelo mapa da Figura 2 fica evidente que os padrões geográficos são semelhantes, o
que não significa que as ruas não mudam em termos de seus níveis de criminalidade,
mas sugere uma estabilidade ao longo do tempo. Isso é reforçado ao olhar para as
ruas do Bronx que estavam no grupo de maior foco de criminalidade (que produziu
25% do crime na cidade) em 2010 e em 2020. Das ruas que foram focos de alta
criminalidade em 2010 (top 25% do crime) quase metade (50%) eram pontos quentes
de alta criminalidade em 2020. Outros 45% das ruas passaram da categoria mais alta
de pontos quentes para a segunda categoria (que produziu 25%–50% do crime). Isso
sugere que quase todas as ruas que eram pontos quentes em 2010 também foram
pontos quentes em 2020.
37

Essas descobertas de Weisburd e Zastrow (2021) seguem estudos anteriores sobre


a estabilidade do crime ao longo do tempo em unidades microgeográficas como o de
Weisburd et al. (2004). Há muitas razões para o crime permanecer relativamente alto
em pontos quentes, incluindo fatores ambientais, como densidade populacional ou
áreas de compras que estão fortemente correlacionadas com o crime no local
(WEISBURD; GROFF; YANG, 2014). “Essas descobertas apontam para a importância
de manter os esforços de prevenção ao crime em locais com características que os
tornam continuamente vulneráveis ao crime” (WEISBURD; ZASTROW, 2021, p. 18,
tradução nossa12).

Weisburd e Zastrow (2021) se concentraram nos pontos críticos de alta criminalidade


onde 25% e 50% dos crimes de Nova Iorque foram registrados. O crime nessas ruas
sugere que, apesar do declínio geral nas últimas décadas, muitas ruas da cidade
continuam a ter níveis de criminalidade muito altos.

O declínio expressivo dos índices criminais na cidade de Nova Iorque leva a duas
questões: a primeira é a suposta pouca importância do trabalho policial e a segunda
se os pontos quentes permanecem quentes perante este cenário de declínio das taxas
gerais de crimes. Sobre isso, Weisburd e Zastrow (2021) descrevem que:

Nossas análises sugerem que é mera retórica imaginar que o crime é tão
baixo nas ruas de Nova Iorque que não há necessidade de policiamento.
Apesar de um grande declínio da criminalidade nas últimas décadas, as ruas
dos pontos quentes continuam “quentes” e um número muito grande de ruas
enfrenta altos níveis de criminalidade. Observar as taxas gerais de
criminalidade em Nova Iorque mascara os graves problemas de criminalidade
enfrentados por muitos nova-iorquinos que vivem ou trabalham em ruas
movimentadas. Enquanto a reforma da polícia e esforços para identificar
soluções sociais e comunitárias para os problemas do crime devem ser uma
parte central da agenda da cidade em Nova Iorque, o policiamento continua
a ser um serviço crítico necessário para grande número de ruas da cidade
(WEISBURD; ZASTROW, 2021, p. 21, tradução nossa13).

12 These findings point to the importance of maintaining crime-prevention efforts at places


withcharacteristics that make them continually vulnerable to crime.
13 Our analyses suggest that it is simply rhetoric to imagine that crime is so low on New York City
streets that there is no need for policing. Despite a large crime decline over the last few decades,
hot-spot streets continue to be “hot,” and a very large number of streets are faced with high crime
levels. Looking at overall crime rates in NYC masks the very serious crime problems that face many
New Yorkers who live or work on hot-spot streets. While police reform and efforts to identify social
and community-based solutions to crime problems should be a central part of the city agenda in
NYC, policing continues to be a critical service needed by large numbers of streets in the city.
38

2.1.2 Implicações teórico-práticas da análise de microespaços

Considerando o consistente corpo de pesquisas apresentados até aqui sobre a


concentração de crimes em locais específicos, verifica-se que os microespaços (como
os segmentos de rua) são a força motriz por trás de uma mudança mais ampla de
bairro/distrito (ANDRESEN; MALLESON, 2011). Partindo dessas premissas,
Andresen e Malleson (2011) descrevem que há implicações teóricas e práticas:

Se os microlugares são as unidades espaciais apropriadas de análise em


qualquer esforço para entender o crime, uma série de implicações são
imediatamente aparentes. Essas implicações são melhor organizadas ao
longo de duas linhas de pensamento: teoria e política. (ANDRESEN;
MALLESON, 2011, p. 74, tradução nossa14).

2.1.2.1 Implicações teóricas

Segundo Andresen e Malleson (2011), as implicações teoréticas podem ser


organizadas em três perspectivas discutidas em termos de crime em lugares: teoria
da atividade de rotina, teoria do padrão do crime (ou geométrica do crime) e teoria da
escolha racional.

Quanto às implicações teóricas citadas pelos autores, são emergentes os seguintes


estudos por tipo de teoria elencada:

a) quanto à teoria das atividades rotineiras (COHEN; FELSON, 1979), deve-se


buscar o entendimento da convergência dos elementos necessários para que
um crime ocorra (autor motivado, alvo/vítima disponível e ausência de
guardiões capazes) num determinado segmento de rua e não em outro, que
leve em consideração também uma análise temporal. Isso se deve ao fato de
que mudanças nas atividades de rotina levam a mudanças correspondentes no
crime. Embora insights significativos possam ser obtidos por meio de
comparações de vários lugares ao mesmo tempo, as relações são menos
prováveis de serem causais quando a mudança temporal não é considerada.

14 If micro places are the appropriate spatial units of analysis in any effort to understand crime, a
number of implications are immediately apparent. These implications are best organized along two
lines of thought: theory and policy.
39

Sendo assim, além da identificação da concentração nos microlocais, deve-se


também se considerar a concentração temporal dos eventos (ANDRESEN;
MALLESON, 2011);
b) quanto à teoria do padrão do crime ou teoria geométrica do crime
(BRANTINGHAM; BRANTINGHAM, 1981, 1993), deve-se buscar a realização
de testes empíricos com dados detalhados do crime (espacialmente e para
criminosos individuais), mas também informações sobre padrões de
movimentos legítimos e de movimentos criminosos de um grande número de
pessoas. Normalmente, os dados utilizados nesta análise são longitudinais (ao
longo do tempo) e muito precisos espacialmente, mas não possuem
informações sobre os infratores individuais, muito menos seus padrões de
movimento (ANDRESEN; MALLESON, 2011);
c) quanto à teoria da escolha racional (CORNISH; CLARKE, 1986), normalmente
dá-se uma ênfase à importância de se concentrar em escolhas específicas para
uma classificação determinada de crime (CLARKE; CORNISH 1985;
CORNISH; CLARKE, 1986). As decisões necessárias para cometer um furto
são diferentes das decisões necessárias para roubar uma loja de conveniência,
por exemplo. Assim, além da análise de determinadas tipologias criminais para
a escolha do infrator em cometer o delito, deve-se associar as escolhas
criminais em locais específicos: um segmento de rua versus outro. Como tal, o
microespaço deve ser considerado uma das muitas propriedades estruturantes
de escolha para o cometimento de um crime (ANDRESEN; MALLESON, 2011).

2.1.2.2 Implicações práticas

Independentemente da perspectiva teórica dentro da criminologia espacial, a


importância do crime em microlugares tem implicações práticas. A incorporação
desses poucos lugares que geram a maioria dos crimes nas paisagens urbanas
reforça que o crime é de fato um evento raro. Há determinadas circunstâncias que
determinam as convergências, padrões de atividade e escolhas que levam o crime a
ocorrer nesses locais distintos (ANDRESEN; MALLESON, 2011).
40

No que diz respeito à política, a estabilidade dos padrões espaciais do crime implica
que a prevenção do crime por meio do design ambiental seja um curso de ação
apropriado (JEFFERY 1969, 1971, 1976, 1977).

Em sua aplicação mais comum, a teoria das atividades rotineiras é usada para fazer
afirmações sobre a mudança das atividades rotineiras para vítimas de crimes. No
entanto, é muito mais fácil mudar e/ou regular lugares do que indivíduos (SHERMAN
et al. 1989a). E devido ao fato desses lugares serem “microlugares”, a atividade
específica de prevenção ao crime que deve ser usada é a prevenção situacional do
crime (CLARKE, 1980, 1983). Esse foco na prevenção situacional do crime deve
ocorrer porque a prevenção situacional do crime funciona melhor quando aplicada a
problemas específicos do crime e do local. Embora se possa argumentar que isso
resultará simplesmente no deslocamento espacial do crime, as pesquisas sobre
deslocamento espacial indicam que isso não ocorrerá (GUERETTE; BOWERS, 2009;
WEISBURD et al., 2006). De fato, as pesquisas mostram que provavelmente haverá
a difusão de benefícios para os lugares do entorno (conforme será melhor explorado
mais adiante neste trabalho).

Devido à estabilidade dos padrões espaciais do crime em microlugares, estes devem


poder ser interrompidos ou alterados para prevenir o crime – modificando as
condições para uma das propriedades de estruturação de escolha do crime. A
justificativa teórica e o suporte empírico para tal prática são bem conhecidos
(ANDRESEN; MALLESON, 2011).

Assim, Andresen e Malleson (2011) afirmam, com base na crescente literatura sobre
crimes em locais específicos, que há justificativa tanto teórica quanto de suporte
empírico para a aplicação de atividades de prevenção ao crime focadas em
microlugares.

Pode-se depreender, portanto, que as estratégias de prevenção devem ser focadas


na análise do crime em microespaços. Desta forma, a importância da identificação dos
pontos quentes está na possibilidade de servir como uma ferramenta para subsidiar a
41

estratégia de Policiamento de Pontos Quentes, enquanto uma atividade de prevenção


criminal, a qual será tratada no próximo tópico deste trabalho.

2.2 Policiamento de Pontos Quentes

Paradigmas teóricos emergentes e descobertas empíricas levaram Sherman e


Weisburd (1995) a explorar as implicações práticas da abordagem dos pontos quentes
para o policiamento. No entanto, a criminologia aplicada na gestão policial exige que
uma teoria da redução do crime seja baseada em outra teoria baseada em evidências
do que funciona na liderança da prestação de serviços policiais em grande escala,
eventualmente, cobrindo qualquer parte de uma jurisdição onde o crime esteja
concentrado em pontos quentes (SHERMAN et al., 2014).

Sherman et al. (2014) apontam que a ideia de estratégia como teoria sugere o valor
de uma teoria integrada de patrulhamento de pontos quentes em que as causas das
patrulhas estão ligadas às causas do crime e redução da desordem.

A teoria em desenvolvimento (BRAGA; WEISBURD, 2010; SHERMAN, 1990;


SHERMAN; WEISBURD, 1995) de como as patrulhas de pontos quentes podem
reduzir o crime é ilustrado no trabalho de Sherman et al. (2014) será apresentada a
seguir.

2.3 Patrulha de Pontos Quentes como a causa de redução dos crimes

A teoria de redução do crime, como produto do patrulhamento policial, é derivada


basicamente de dois aspectos: doutrina clássica de dissuasão e evidências modernas
sobre inovações policiais. Levadas juntas, essas fontes oferecem uma oportunidade
para refinar conceitos-chave como base para uma afirmação teórica. O conteúdo
teórico foi organizado em 18 conceitos-chave que se tornaram um padrão de
vocabulário e não apenas princípios vagos sobre patrulhas de pontos quentes
(SHERMAN et al., 2014).
42

Os conceitos15 definidos são: pontos quentes (hot spots), dissuasão local (local
deterrence), deslocamento local (local displacement), dissuasão regional (regional
deterrence), dissuasão e deslocamento do infrator (offender deterrence and
displacement), repressão (crackdowns), recuos (backoffs), dissuasão inicial (initial
deterrence), dissuasão residual (residual deterrence), decaimento de dissuasão
(deterrence decay), dosagem (dosage), frequência (frequency), intermitência
(intermittency), incerteza (uncertainty), curvas de dosagem-resposta (dosage-
response curves), engajamento (engagement) e legitimidade (legitimacy) (SHERMAN
et al., 2014).

A declaração formal da teoria dos efeitos de patrulha de pontos quentes conecta os


conceitos em uma série de proposições sobre as condições necessárias e suficientes
para causar menos crimes em uma jurisdição policial e não apenas em um ponto
quente (SHERMAN et al., 2014).

A seguir são abordados cada um dos conceitos que compõem a teoria de policiamento
de pontos quentes

2.3.1 Pontos quentes (hot spots)

Um “ponto quente” foi definido de diferentes maneiras por diferentes criminologistas


para diferentes propósitos. Segundo Sherman et al. (2014) a definição de nível mais
micro seria o nível de um edifício ou endereço específico (SHERMAN; GARTIN;
BUERGER, 1989a) identificado a partir do rastreamento do sistema de dados da
Polícia em Minneapolis para medir para onde a polícia era enviada. Uma definição
muito influente baseada em análises de longo prazo do crime na cidade de Seattle
tem sido os segmentos de rua: ambos os lados de uma rua de um cruzamento para o
próximo (WEISBURD et al., 2004; WEISBURD; GROFF; YANG, 2012).

Considerando-se a adequação do conceito para os propósitos de uma teoria de


patrulhamento policial, os procedimentos descritos por Buerger, Cohn e Petrosino

15 Optou-se pela tradução livre dos termos indicados por Sherman et al. (2014), cujas terminologias
originais constam entre parênteses para cada um dos conceitos para manter a referência original.
43

(1995) para o experimento de patrulhamento de pontos quentes de Minneapolis


(SHERMAN; WEISBURD, 1995) são os mais relevantes, pois enfatizam a visibilidade
de todas as pessoas que estão em um lugar para um policial e vice-versa. Essa
definição exclui o uso de uma regra circunferencial de incluir todos os crimes dentro
de um raio de 50 metros de um ponto preciso em um mapa, o que é feito
eficientemente com programas de mapeamento computadorizados, mas não
apropriado para a teoria da dissuasão. Em vez disso, ele se baseia em um teste
conceitual: “um ambiente físico fixo que pode ser visto completa e simultaneamente,
pelo menos em sua superfície, a olho nu” (SHERMAN et al., 1989a, p. 31).

Isso significa que, se um policial estiver estacionado em uma esquina ele poderá ver
todos os crimes que possam ocorrer dentro do campo de visão e todos os criminosos
em potencial poderão ver o carro ou o uniforme da polícia.

2.3.2 Dissuasão local

A doutrina clássica da dissuasão poderia descrever o patrulhamento policial como um


exemplo de dissuasão geral, uma ameaça a qualquer um e a todos em uma sociedade
que se cometerem um crime poderão ser presos e penalizados (SHERMAN;
WEISBURD, 1995).

No entanto, Sherman et al. (2014) descrevem que é mais correto descrever patrulhas
em pontos quentes como dissuasão local, pois cada patrulha visa apenas uma
localidade por vez.

Enquanto a ameaça (percepção de um possível infrator de que pode ser capturado


pela patrulha no caso do cometimento de algum delito) de uma patrulha policial for
limitada àqueles que podem ver a patrulha, faz mais sentido descrever qualquer efeito
da patrulha na redução do crime em pontos quentes como dissuasão local.

Assim, independentemente de os eventos criminais serem ou não deslocados por


patrulhas policiais em pontos quentes, a redução da criminalidade nos pontos quentes
ainda pode ser considerada uma dissuasão local. Conforme Reiss (1985),
44

[...] a polícia pode efetivamente controlar o crime leve [...] aumentando sua
presença em situações em que desejam controlar a incidência de crimes
leves ou suas consequências. Por estarem presentes, eles [...] aumentam os
riscos de potenciais infratores ao ponto de que a infração seja frustrada
(REISS, 1985, p. 29-30).

Desta forma, a dissuasão local pode ser descrita como o efeito da aplicação da
escolha racional do infrator que calcula o custo versus benefício entre a possibilidade
de lograr êxito no cometimento de algum crime e a potencialidade de ser preso e/ou
punido por ele, considerando a presença policial.

2.3.3 Deslocamento local

O fenômeno da dissuasão local tem sido aceito há muito tempo pelos críticos das
políticas destinadas a criá-lo que negam que isso impeça o crime por completo, mas
apenas empurra o crime “ao virar da esquina” (WEISBURD et al., 2006).

A ideia “hidráulica” de que o crime, como a água, existirá em uma massa constante,
independentemente de onde ocorrer (CLARKE; MAYHEW, 1988), não tem base em
evidências, mas seu apelo intuitivo parece muito poderoso.

A alegação de deslocamento do crime não se limita ao deslocamento local de um


ponto quente para uma zona tampão imediatamente circundante, embora essa seja
uma das duas únicas maneiras pelas quais essa teoria atende ao padrão científico
mínimo de falseamento; a outra alegação falsificável é que os infratores cometerão
crimes em outros lugares medidos pelos locais dos crimes que levaram a prisões
(SHERMAN et al., 2014).

O influente tratado de Reppetto (1976) sobre deslocamento incluiu outros tipos de


deslocamento que são amplamente infalsificáveis e, portanto, além do domínio da
ciência. O artigo de Repetto (1976), intitulado Crime Prevention and the Displacement
Phenomenon, baseia-se, em parte, em dois estudos que examinaram os
antecedentes criminais e entrevistas com 146 assaltantes (robbers) e arrombadores
(burglars).
45

No trabalho são descritos muitos destinos possíveis para a “água” de eventos


criminais que incluíam diferentes tipos de crimes, bem como uma ampla gama de
locais e situações diferentes. Repetto (1976) indica cinco hipóteses de formas de
deslocamento que podem ocorrer após a implementação do programa de controle do
crime: temporal, tática, alvo, territorial e funcional.

a) O deslocamento temporal prevê que talvez o deslocamento mais simples


para o infrator seja continuar cometendo o mesmo tipo de crime nos mesmos
lugares, contra os mesmos alvos, usando as mesmas táticas, mas num tempo
diferente. Por exemplo, a patrulha policial intensiva no Bronx (uma seção da
cidade de Nova Iorque) durante a noite produziu uma redução em certos tipos
de crimes, mas às custas de um aumento no número de crimes ocorridos no
final da tarde (REPETTO, 1976);
b) o deslocamento tático, alternativamente, prevê que os delinquentes podem
continuar a cometer o mesmo crime nas mesmas horas e locais e contra os
mesmos alvos, mas podem alterar as suas táticas. A instalação de alarmes em
estabelecimentos comerciais, por exemplo, pode fazer com que os ladrões
passem de arrombamento e entrada em uma loja para quebrar uma vitrine,
subtrair algo e fugir (REPETTO, 1976);
c) o deslocamento de alvo diz que quando um alvo parece relativamente
inacessível a qualquer tática criminosa os infratores podem simplesmente
mudar para outro alvo. Após um aumento no patrulhamento policial nos metrôs
de Nova Iorque, por exemplo, houve um aparente aumento nos roubos de
ônibus. Mais tarde, quando a mesma medida foi instituída com relação aos
ônibus, os roubos de ônibus diminuíram e os roubos de metrô aumentaram.
Um estudo desse fenômeno concluiu que o deslocamento, tanto para longe
quanto para o metrô, ocorreu por causa de mudanças percebidas ou reais na
atratividade relativa de ônibus e metrôs como alvos para ladrões (REPETTO,
1976);
d) o deslocamento territorial prevê que os infratores podem se mover não
apenas de um alvo para outro, mas também de um lugar para outro. Um
aumento substancial na mão de obra policial, em uma delegacia de Manhattan,
aparentemente produziu uma redução no roubo de rua, mas também pode ter
46

sido responsável por um aumento no mesmo crime nas delegacias adjacentes


(REPETTO, 1976);
e) o deslocamento funcional está baseado na ideia de que os infratores podem
simplesmente mudar funcionalmente de um tipo de crime para outro:
assaltantes podem se tornar agentes de furto ou vice-versa (REPETTO, 1976).

Em resumo, essas seriam as formas de deslocamento do crime: temporal (mudança


no tempo), tático (mudança no método), alvo (mudança na vítima), territorial (mudança
de local) e funcional (mudança no tipo de crime).

Como esses, outros destinos no espaço e no tempo podem estar em qualquer lugar
do mundo, a hipótese de que o crime localmente dissuadido irá para qualquer lugar
não pode ser falsificada pelas ferramentas de medição existentes. Apesar de sua
potência política, permanece cientificamente insignificante. O que é significativo é o
que pode ser testado: se o crime é deslocado “na esquina” – quase literalmente – e
se os infratores que cometem crimes em um ponto quente podem se mudar para
outros locais na mesma jurisdição policial (SHERMAN et. al, 2014).

Estudos identificaram diferentes tipos de deslocamento para diferentes crimes.


Santiago (1998) identificou que esforços para reduzir crimes de roubos a veículos em
Newark - Nova Jersey deslocou o crime par a áreas adjacentes. Canter (1998)
também observou deslocamentos de crimes de furtos a residência (arrombamentos -
burglary) na cidade de Baltimore. Chainey (2000) descobriu que o uso de circuitos de
TV foi eficaz em reduzir roubos de rua (com violência - robbery no idioma original) e
furtos de veículos (auto theft), mas que houve algum deslocamento dos roubos de
automóveis para áreas vizinhas. Já no caso dos roubos de rua, o deslocamento não
foi observado.

Barr e Pease (1990) acrescentam, aos tipos de deslocamento descritos por Repetto
(1976), o deslocamento do autor (perpetrator displacement). O deslocamento do
autor é mais comum em crimes de fabricação e distribuição de drogas. Paynich e Hill
(2009) citam o seguinte exemplo:
47

[…] os esforços de aplicação da lei podem fazer com que um traficante de


drogas desista de continuar traficando drogas (talvez ele tenha sido preso e
esteja preso). No entanto, no mercado de drogas, esses esforços criam uma
posição vaga para outro traficante de drogas avançar e tomar seu lugar.
Assim, trocamos um traficante de drogas por outro (PAYNICK; HILL, 2009, p.
117, tradução nossa16).

Independentemente do tipo de deslocamento que pode ocorrer com o crime movido


pelas estratégias de policiamento preventivo, Repetto (1976) afirma que os “custos”
envolvidos na mudança de modus operandi do infrator, quando ocorre qualquer tipo
de deslocamento, acaba por diminuir a sua frequência delitiva acarretando numa
menor “produtividade criminal”. Sobre o efeito do deslocamento na produtividade,
Repetto (1976) descreve que:

Este artigo examinou o argumento de que os programas de prevenção


mecânica não têm valor devido ao fenômeno do deslocamento. Nossa análise
não confirma essa hipótese por dois motivos. Alguns crimes são de natureza
tão oportunista que sua prevenção em uma circunstância não levará à sua
reincidência em outra. Mesmo no caso mais provável em que os infratores
bloqueados em uma esfera desejem operar em outra, existem limites ou
custos reais para fazê-lo, essas limitações e custos diminuirão sua
frequência de operação e, portanto, reduzirão a taxa geral de crimes.

Entre as várias possibilidades de deslocamento, foi levantada a hipótese de


que a realocação geográfica para áreas adjacentes é a mais provável. Isso
sugere que as estratégias de prevenção ao crime mais eficazes são aquelas
aplicadas em áreas geográficas bastante extensas, particularmente naquelas
onde se concentram crimes graves, como roubos. As estratégias mais
apropriadas parecem ser aquelas que permitem ampla cobertura de área,
alavancagem de recursos e flexibilidade (REPETTO, 1976, p. 177, grifo
nosso, tradução nossa17).

16 […] law enforcement efforts may cause a drug dealer to desist from further drug dealing (perhaps he
was arrested and is in jail). However, in the drug market, these efforts create a vacant position for
another drug dealer to step and take his place. Thus, we have traded onde drug dealer for another.
17 This paper has examined the argument that mechanical prevention programs are without value
because of the phenomenon off displacement. Our analysis does not confirm this hypothesis for two
reasons. Some crimes are so opportunistic in nature that their prevention in one circumstance will
not lead to their recurrence in another. Even in the more likely instance where offenders blocked in
one sphere would wish to operate in another, there are real limits or costs to their doing so, and these
limitations and costs will lessen their frequency of operation and therefore reduce the overall crime
rate.

Among various displacement possibilities, it has been hypothesized that geographic relocation to
adjacent areas is most likely. This suggests that the most effective crime prevention strategies are
those applied across fairly large geographic areas, particularly those where serious crimes such as
robbery are concentrated. The most appropriate strategies appear to be those which permit wide
area coverage, leveraging of resources, and flexibility.
48

Desta forma, com a adoção das estratégias de policiamento de pontos quentes,


mesmo que provoquem uma mudança do local de cometimento de crimes também
acarretarão, em última instância, na redução geral da taxa de crimes.

2.3.4 Dissuasão do infrator como consequência da difusão de benefícios

O conceito de “difusão do benefício” foi nomeado para contrariar a refutação


generalizada da dissuasão local com a hipótese do deslocamento. A difusão de
benefícios é definida como “[...] a disseminação da influência benéfica de uma
intervenção para além dos locais diretamente visados, dos indivíduos que são objeto
de controle, do crime que é o foco da intervenção ou dos períodos de tempo em que
uma intervenção é interposta” (CLARKE; WEISBURD, 1994, p. 169, tradução
nossa18).

Clarke e Weisburd (1994) argumentam que existem duas fontes possíveis de difusão:
dissuasão e desencorajamento. Para explicar os dois tipos, os autores citam os
seguintes exemplos: imagine que o departamento de polícia local anunciou pela mídia
que terá como alvo os ladrões de várias lojas locais durante os meses de verão.
Infratores em potencial podem ser dissuadidos de furtar em lojas que não são
identificadas no anúncio por medo de estarem muito próximas das lojas que receberão
a fiscalização reforçada (dissuasão); da mesma forma, é possível que os infratores
esperem até o final do outono para retornar às lojas para furtar, tendo em vista que a
fiscalização isolada pode persistir até meados de setembro (desencorajamento).

Essa delimitação “buffer” de espaço ou tempo fornece a base dos esforços de


prevenção ao crime sem realmente se envolver neles. Os infratores são
desencorajados a furtar nas lojas durante esses períodos porque seu risco percebido
foi aumentado pelo reforço da fiscalização.

O que é frequentemente visto, em departamentos de polícia típicos, são áreas de


atividade de fiscalização, ou o que poderia ser referido como áreas de fiscalização

18 [...] the spread of the beneficial influence of an intervention beyond the places which are directly
targeted, the individuals who are the subject of control, the crimes which are the focus of intervention
or the time periods in which an intervention is brought.
49

seletiva. Essas são pequenas seções geográficas da cidade que foram designadas
para patrulhas extras, aumento da apreensão de infratores ou outros programas de
prevenção ao crime. Dependendo da eficácia do aumento da fiscalização, nessa
pequena área geográfica, pode-se ver resultados de difusão benéficos não apenas
dentro da pequena vizinhança que a circunda (PAYNICH; HILL, 2009).

Sherman et al. (2014) afirmam que a ideia de dissuasão regional expressa a difusão
de benefícios em termos espaciais. Subjacente à observação da dissuasão regional,
no entanto, está também a premissa de que são os indivíduos, como potenciais
infratores, que decidiram não cometer crimes dentro ou em torno de pontos quentes
quando percebem maiores riscos de presença policial. A dissuasão regional é
simplesmente a soma de todos os efeitos dissuasores do infrator individual.

2.3.5 Dissuasão e deslocamento do infrator

Se a redução da criminalidade dentro dos pontos críticos é acompanhada pelo


aumento da criminalidade na região é também, presumivelmente, resultado dos
efeitos do deslocamento individual. Independentemente de o crime aumentar ou
diminuir na região em torno de um ponto quente – porque há evidências de ambos os
fenômenos (RATCLIFFE et al., 2011; SHERMAN, 1990; TAYLOR; KOPER; WOODS,
2011) – a refutação inclui a possibilidade que os infratores decidam cometer seus
crimes, supostamente inevitáveis, fora da região onde a dissuasão local os impediu
temporariamente.

Ao desviar o local da ofensa para longe de um ponto quente, se é isso que a dissuasão
local faz, as decisões dos ofensores se tornam mais difíceis de medir, mas ainda não
impossíveis. Como demonstra Mazeika (2014), os nomes dos infratores presos em
um ponto quente em uma determinada cidade podem ser usados para identificar
quaisquer novos locais na mesma cidade onde eles podem ser presos, após uma
repressão criar dissuasão local onde eles foram presos no passado.
50

2.3.6 Repressão

Sherman (1990) definiu uma repressão policial como um aumento repentino “na
presença de policiais, sanções e ameaças de apreensão por um crime específico ou
por todos os crimes em um local específico” (SHERMAN, 1990, p. 1). A conceituação
inicial dos efeitos dissuasores das patrulhas de pontos quentes (SHERMAN;
WEISBURD, 1995) definiu cada aparição de uma patrulha policial em um ponto quente
como uma “mini-repressão”.

Ao contrário das repressões formais, em larga escala e muitas vezes duradouras


incluídas na revisão de Sherman (1990), a visita de cada carro de patrulha ou patrulha
a pé a um local específico também pode se qualificar como repressão em bases
teóricas (SHERMAN et al., 2014).

O conceito de repressão dentro da teoria de Policiamento de Pontos Quentes diverge


da comumente utilizada pelas instituições policiais no Brasil. Utiliza-se a ideia de que
ação policial antes da eclosão de delito é uma atividade preventiva e, quando o delito
não pode ser prevenido, passa-se à fase de repressão (COSTA, 2010). Não obstante,
nesse trabalho, para efeitos da teoria de Policiamento de Pontos Quentes, quando se
tratar de repressão, referir-se-á a ação de presença policial no ponto quente.

2.3.7 Dissuasão inicial

Sherman (1990) detectou um padrão geral de dissuasão em uma revisão de 18


estudos de caso cujos resultados foram: o crime cai de forma mais acentuada e
profunda logo após o início da repressão (considerada como sendo a presença policial
no ponto quente). Essa observação foi vista pela primeira vez no final do experimento
de campo de San Diego (BOYDSTUN, 1975) e depois em outras avaliações de
impacto. Em 15 dos 18 casos, o efeito de dissuasão inicial foi observado em diversos
tipos de crimes e locais. Esse efeito abriu a porta para o surgimento de dois outros
padrões: dissuasão residual e decadência da dissuasão, ambos baseados em um
terceiro conceito, de recuo (saída do policiamento do local definido como ponto
quente).
51

2.3.8 Recuo

Um recuo é mais facilmente definido como o fim de uma repressão que reduz, gradual
ou repentinamente, as dimensões do aumento das ameaças para o infrator que
definiram a repressão. É importante, além de mensurável, em relação à duração de
um efeito dissuasor local. Um simples efeito de dissuasão pode terminar
imediatamente após um recuo repentino da polícia; como é o caso, por exemplo, no
caso de greves policiais, conforme ocorreu em 1919 em Boston e Liverpool e 1976
em Helsinque (SHERMAN, 1992), além de 2013 na Argentina (SHERMAN et al.,
2014). No entanto, essa reação não é inevitável. Uma ideia mais interessante e útil é
que quando a polícia reduz suas ameaças de prender criminosos em uma localidade,
o efeito dissuasor pode desaparecer gradualmente e não imediatamente (SHERMAN
et al., 2014).

2.3.9 Dissuasão residual

O fenômeno da dissuasão residual foi identificado, pela primeira vez, pela revisão de
Sherman (1990) das avaliações da repressão policial como uma continuação da
dissuasão inicial após um recuo: em todos os cinco casos, em que o crime foi medido
após um efeito dissuasor inicial e um recuo, a revisão descobriu que as frequências
de crimes permaneceram mais baixas do que antes da repressão. Só gradualmente
voltaram a subir para os níveis que precederam a repressão.

Essa observação inicial do fenômeno foi massivamente confirmada por Koper (1995),
através da análise de 6.273 observações de carros de polícia chegando e saindo de
pontos quentes em Minneapolis entre os anos de 1988 e 1989. A observação contínua
após a saída da polícia observou se, e com que rapidez, ocorreram quaisquer crimes
ou conduta desordeira.
52

O trabalho de Koper (1995), intitulado Just enough Police presence: reducing crime
and disorderly behavior by optimizing patrol time in crime hot spots19, buscou conhecer
de táticas de patrulha eficazes em locais de alta criminalidade. O estudo investigou os
efeitos dissuasores residuais associados a instâncias específicas de presença policial
em tais locais e mostrou que dosagens mais fortes, medidas pela duração das
presenças policiais melhoram a dissuasão residual de comportamentos criminosos e
desordens. Os dados coletados no trabalho constam no gráfico presente na Figura a
seguir:

Figura 3 – Curva de duração de resposta

Fonte: Koper (1995, p. 664).

Conforme a Figura 3, os resultados revelam que as paradas devem atingir uma


dosagem limite de cerca de 10 minutos para gerar uma dissuasão residual
significativamente maior do que a gerada pela simples condução por um ponto quente.
Os modelos mostraram que dentro de uma faixa de dosagem de 20 minutos, a
duração ideal para presenças policiais é de cerca de 14 a 15 minutos (KOPER, 1995).

A justificativa para os resultados é dedicada, segundo Koper (1995), ao fato de que


presenças mais longas, pelo menos até certo ponto, aumentam a incerteza e
aumentam as percepções de risco em pontos quentes.

19Presença policial apenas o suficiente: reduzindo o crime e o comportamento desordenado,


otimizando o tempo de patrulha nos pontos críticos do crime (tradução livre).
53

Koper (1995) cita trabalhos de Sherman (1990) e Sherman e Weisburd (1995)


correlacionando seus resultados aos apresentados pelos outros autores em suas
pesquisas de campo, conforme se vê:

A implicação política deste estudo é que a polícia pode maximizar a redução


do crime e da desordem nos pontos quentes, fazendo paradas proativas e de
duração média nesses locais de forma aleatória e intermitente de maneira
semelhante à estratégia de rotação de repressão e recuo de Sherman (1990).
Desta forma, a polícia pode maximizar a dissuasão e talvez minimizar a
quantidade de tempo desnecessário que passa em pontos quentes. De fato,
os resultados implicam que paradas mais longas de patrulha nos pontos
quentes experimentais no Experimento de Patrulha Preventiva de
Minneapolis (Sherman e Weisburd 1995) podem ter sido um mecanismo
primário pelo qual o crime e outros comportamentos de desordem foram
reduzidos nesses locais (KOPER, 1995, p. 668, tradução nossa20).

Koper (1995) retoma também outros trabalhos para afirmar que a parada de patrulhas
(chamada de pontos-base pela PMMG), em pontos quentes pelo período adequado,
desempenha um efeito dissuasor ou promove o deslocamento do crime para outros
locais. Ressaltando que o foco dessa estratégia de policiamento preventivo deve ser
em microespaços (o que ele chama de locais problemáticos específicos).

Este estudo reforça a afirmação de Sherman e Weisburd (1990, 1995) de que


a patrulha preventiva, se focalizada adequadamente, tem um efeito dissuasor
(ou pelo menos de deslocamento) sobre o crime. Também fornece uma
justificativa adicional para a concentração proativa de mais recursos em
locais problemáticos específicos em vez de bairros (ver PIERCE; PARK;
BRIGGS, 1988; SHERMAN et al., 1989a; TAYLOR; GOTTFREDSON, 1986)
(KOPER, 1995, p. 668, tradução nossa21).

Outro aspecto abordado por Koper (1995) é o fato de que o patrulhamento preventivo
diminui os comportamentos não-criminosos22 de desordem. O autor relata que, apesar
das dificuldades inerentes à dissuasão desses comportamentos, presenças policiais

20 The policy implication of this study is that police can maximize crime and disorder reduction at hot
spots by making proactive, medium-length stops at these locations on a random, intermittent basis
in a manner similar to Sherman's (1990) crackdown-backoff rotation strategy. In this way, police can
maximize deterrence and perhaps minimize the amount of unnecessary time they spend at hot spots.
In fact, the results imply that longer patrol stops at the experimental hot spots in the Minneapolis
Preventive Patrol Experiment (Sherman and Weisburd 1995) may have been a primary mechanism
by which jcrime and other disorderly behaviors were reduced in those places.
21 This study reinforces Sherman and Weisburd's (1990, 1995) contention that preventive patrol, if
focused properly, has a deterrent (or at least a displacement) effect on crime. It also provides further
justification for proactively concentrating more resources on specific troublesome locations rather
than on neighborhoods (see PIERCE; PARK; BRIGGS, 1988; Sherman et al. 1989; Taylor and
Gottfredson 1986).
22 Fatos que envolvem conflitos de valores ou contextos emocionais que não possuem penalidades
criminais.
54

mais longas exercem um efeito restritivo. Para Koper (1995), embora o estudo não
possa demonstrar conclusivamente que a redução da desordem não-criminal reduz o
crime, ele fornece indicações claras de que esses fenômenos estão interligados. Para
ele, pode-se dizer que a desordem não-criminal responde às mesmas medidas
preventivas (ou seja, presença policial fardada e/ou em viaturas) aplicadas para os
casos de crimes.

Para Koper (1995), considerando que há uma ligação entre desordem e medo, as
paradas (pontos-base) intermitentes de patrulha em pontos quentes têm o potencial
de melhorar a percepção dos cidadãos sobre esses locais.

Apesar de promissor para a época, Koper (1995) descreveu como questões ainda a
serem descobertas como:

a) o estudo solidificou ainda mais a base para paradas proativas nesses locais,
mas não abordou o que os policiais fazem nos pontos quentes. Um próximo
passo lógico (além de investigar melhor o ponto de utilidade máxima para a
duração das paradas) seria experimentar diferentes estilos de policiamento;
b) outra questão diz respeito ao deslocamento. Os dados não permitem avaliar os
efeitos do deslocamento. No entanto, os pontos quentes parecem ter
características sociais e físicas que facilitam o crime e a desordem;
c) mais pesquisas são necessárias para determinar se essas descobertas podem
ser generalizadas para cidades com climas mais quentes e maiores problemas
de crime e desordem;
d) pesquisas futuras podem mostrar com que frequência os policiais devem parar
em pontos quentes para obter o máximo efeito.

Por fim, Koper (1995) assevera que a principal implicação do seu estudo é que a
otimização do tempo de patrulha nos locais mais problemáticos de uma cidade pode
ajudar a reduzir o crime e o comportamento perturbador nesses locais, melhorando
assim a eficácia do patrulhamento preventivo.
55

Em resumo, no padrão “Curva de Koper”, a análise demonstrou que quanto mais


tempo a polícia permanecia em um ponto quente (até 15 minutos) – quase sempre
sem nenhum crime ocorrendo enquanto eles estavam presentes – maior o período de
dissuasão residual (definido como tempo livre do crime) depois que eles partiram. O
efeito da presença policial mais longa na dissuasão residual começou a decair após
15 minutos. Como resultado, as doutrinas de Policiamento Baseados em Evidências23
(Evidence-based policing), geralmente recomendam mover as patrulhas policiais de
um ponto quente para outro após 10 a 15 minutos, sem tornar os padrões de patrulha
muito previsíveis ou certos para possíveis infratores (SHERMAN et al., 2014).

2.3.10 Decaimento da dissuasão

Segundo Sherman et al. (2014), o fim da dissuasão inicial e residual pode ser definido
como decaimento da dissuasão. Quer a polícia mantenha ou reduza o aumento do
nível de ameaça, parece que os infratores, inicialmente dissuadidos, podem
eventualmente tornar-se encorajados a cometer crimes com maior frequência. Em
termos de hot spot, podem haver poucos crimes cometidos na frente de policiais, mas
podem ocorrer enquanto a polícia se preocupa com outros assuntos e,
temporariamente, desvia o olhar da vigilância.

E, como Koper (1995) demonstra, o declínio da dissuasão inicial após a saída da


polícia é inevitável, mas não ocorre de maneira imediata.

2.3.11 Dosagem

Evidências sobre dissuasão residual e decaimento apontam para a dimensão central


da teoria de Policiamento de Pontos Quentes: o tempo total ou “dosagem” de presença
policial dedicada a um ponto quente com visibilidade para todos os infratores
potenciais presentes no local (SHERMAN et al., 2014).

23 O Policiamento Baseado em Evidências é o uso da melhor pesquisa disponível sobre os resultados


do trabalho da polícia para implementar diretrizes e avaliar agências, unidades e funcionários
(SHERMAN, 2019).
56

A centralidade dessa dimensão não tem sido suficiente para garantir que ela seja
medida de forma consistente em experimentos de patrulhamento de pontos quentes.
Conforme Sherman et al. (2014), até dezembro de 2013, o único experimento
publicado em periódico com medição precisa de minutos de presença de patrulha
uniformizada nos pontos quentes foi o teste original de Sherman e Weisburd (1995)
em Minneapolis. No estudo foram utilizados estudantes de pós-graduação com
cronômetros como observadores para contar as mais de 6.000 visitas a 100 pontos
quentes de um total de 110, sendo 50 experimentais e 50 controles.

Com o advento de carros de polícia e rádios monitorados pelo Sistema de


Posicionamento Global (GPS) torna-se possível medir a dosagem de patrulha por
localização. O uso de monitores GPS também torna barato medir uma dimensão
separada da patrulha: a frequência (SHERMAN et al., 2014).

2.3.12 Frequência

A porcentagem total de tempo em que a polícia está presente – ou seja, a dosagem –


é uma dimensão que é completamente independente do número de vezes que a
polícia entra e sai durante um dia ou noite – ou em média ao longo de muitas semanas
ou meses (SHERMAN et al., 2014). Essa quantidade de vezes que a polícia chega e
sai de um ponto quente é definida como frequência.

A polícia pode estar presente em um ponto quente em 15% do tempo entre as 18h e
2h da manhã entrando e saindo apenas uma vez, 100 vezes ou mais. Teoricamente,
a frequência parece alterar o efeito dissuasor local da presença policial, pelo menos
até certo ponto (SHERMAN et al., 2014). A ideia é que a frequência, ou a
previsibilidade da frequência, provoca um nível de incerteza para os infratores em
potencial, dissuadindo-os do cometimento de infrações nos locais em que
“esperariam” a presença a qualquer momento.

Se os infratores em potencial souberem que a polícia virá apenas uma vez


por noite a um local, mesmo que permaneçam por 2 horas, eles podem ter
certeza de que a polícia não voltará. Se tais infratores observadores
concluírem que a polícia virá apenas duas ou três vezes, eles também
poderão estimar o melhor momento para cometer um crime sem que a polícia
chegue no meio do evento. Essa alegação não é baseada em evidências
57

ainda. Também carece de orientação sobre se a relação entre frequência e


dissuasão local é linear ou não, ou seja, se há um ponto de inflexão de
frequência (como cinco visitas por noite), após o qual os infratores não podem
mais acompanhar o que a polícia está fazendo. Sob esse modelo de
frequência não linear e de mudança gradual, uma vez atingido o limite, seria
desnecessário que a polícia fizesse mais visitas por noite do que o necessário
para atingir o limite (SHERMAN et al. 2014, p. 103, tradução nossa24).

Não basta apenas saber quantas vezes a polícia deve visitar um ponto quente
(frequência) e por qual tempo (dosagem) é necessário definir em quais intervalos isso
deve acontecer. Este conceito será abordado no próximo item.

2.3.13 Intermitência

O conceito de frequência requer um conceito complementar de intermitência – os


períodos entre as partidas e chegadas da polícia. A questão não respondida no
Policiamento de Pontos Quentes é se padrões diferentes, ou mais variáveis, de
partidas e chegadas da polícia produzem diferentes níveis de dissuasão local
(SHERMAN et al., 2014).

A chegada e partida da polícia como um relógio a cada 2 horas, por exemplo,


seria um período fixo de intermitência, que os criminosos poderiam identificar
facilmente. Eles poderiam simplesmente esperar até que a polícia saísse com
grande certeza de que a polícia não voltaria por mais 2 horas. Períodos que
variam de 5 horas a 5 minutos, no entanto, podem deixar até criminosos
profissionais como batedores de carteira confusos sobre seus riscos de
apreensão (SHERMAN et al. 2014, p. 103, tradução nossa25).

Além de realizar as previsões já mencionadas é importante que um potencial infrator


não consiga prever a presença policial em um ponto quente, este conceito será
abordado a seguir.

24 If potential offenders know that police will come only once a night to a location, even if they stay for
2 hr, they can be assured that police will not come back. If such observant offenders conclude that
police will come only twice or three times, they will also be able to estimate the best time to commit
a crime without police arriving in the middle of the event. This claim is not based on evidence (yet—
although some experiments are collecting it). It also lacks guidance on whether the relationship
between frequency and local deterrence is linear or not, that is, whether there is a tipping point of
frequency (such as five visits per night), after which offenders can no longer keep track of what police
are doing. Under this nonlinear, step-change model of frequency, once the threshold is reached, it
would be unnecessary for police to pay any more visits per evening than required to hit the threshold.
25
The arrival and departure of police like clockwork every 2 hr, for example, would be a fixed period of
intermittency, one that criminals might easily identify. They could simply wait until police left with
great certainty that police would not return for another 2 hr. Periods ranging from 5 hr to 5 min,
however, could leave even such professional criminals as pickpockets confused about their risks of
apprehension.
58

2.3.14 Incerteza

A frequência de visitação aos pontos quentes (número de visitas) pelo tempo


adequado para promover a dissuasão (dosagem), aliada à intermitência (tempo entre
uma saída e uma nova chegada do policiamento ao ponto quente), promovem uma
percepção de aumento do custo (possibilidade de ser capturado) que tende a diminuir
a ação do infrator num determinado ponto quente. Essa percepção do aumento do
risco é o conceito de incerteza.

A extensão, em que a intermitência é variável, determina a incerteza estatisticamente


objetiva das chegadas e partidas da polícia. Quanto maior a variabilidade da
intermitência, maior a incerteza que os criminosos podem ter sobre os riscos de serem
pegos. Conforme a hipótese de Sherman (1990), quanto maior a incerteza, maior o
risco percebido. Essa previsão é derivada da teoria da perspectiva (prospect theory)
(KAHNEMAN; TVERSKY, 1979) que prevê que as pessoas dão mais peso a uma
perda prospectiva do que a um ganho prospectivo.

A teoria da perspectiva surgiu como uma das principais alternativas à


utilidade esperada como uma teoria de decisão sob risco [...]. A teoria é mais
conhecida por sua hipótese de que os indivíduos são avessos ao risco em
relação aos ganhos e estão propensos ao risco em situações que
envolvam perdas[...] (LEVY, 1992, p. 171, tradução nossa26, grifo nosso).

2.3.15 Curvas de Dosagem-Resposta

Os conceitos de dosagem, frequência, intermitência e incerteza podem ser


combinados para criar medidas de mais curvas de dosagem-resposta entre esses
conceitos e crimes por hora em um ponto quente (SHERMAN et al., 2014). A curva de
Koper (1995) é um excelente exemplo de curva de dosagem-resposta, mas não é a
única curva possível desse tipo. Além disso, é uma curva observacional, não
experimental: uma correlação que não necessariamente demonstra causalidade.

26 Prospect theory has emerged as a leading alternative to expected utility as a theory of decision under
risk […]. The theory is best known for its hypothesis that individuals are risk-averse with respect to
gains and risk-acceptant with respect to losses […].
59

De maneira ideal, as curvas de dosagem-resposta devem ser construídas a partir de


um grande número de experimentos usando diferentes níveis de dosagem. Cada
resultado experimental, com uma determinada dosagem (ou frequência, ou
intermitência) de patrulha, pode ser plotado como um único ponto de dados com o
nível de patrulha do grupo de controle, servindo como base para estimar quão grande
é o efeito para cada nível de dosagem. Esse procedimento, por sua vez, cria o desafio
de usar um nível padrão de dosagem no grupo de controle em todos os experimentos
e, também implica a necessidade de pontos quentes com taxas de frequência de
crimes bastante semelhantes, porque as taxas básicas também podem afetar as
curvas de dosagem-resposta (SHERMAN et al., 2014).

2.3.16 Engajamento

Um conceito central sobre como fazer patrulhas em pontos quentes é o engajamento:


a medida em que a polícia inicia o contato com os cidadãos. Sherman et al. (2014),
citando resultados de Kubrin et al. (201027); Sampson e Cohen (198828); Wilson e
Boland (197829), relatam que mais importante que a quantidade de policiais
empregados é o engajamento deles no exercício da atividade policial.

Seja uma conversa amigável sobre o clima ou um bate-papo agressivo, ele


envia uma mensagem muito mais clara de que a polícia está presente. A
evidência de que mesmo o aumento da fiscalização de trânsito pode reduzir
o roubo (em análises em nível de cidade) sugere que o engajamento pode
ser ainda mais importante do que quantos policiais estão empregados em
uma cidade (SHERMAN et al., 2014, p. 104).

O engajamento refere-se, portanto, à postura do policial durante o seu serviço. Quanto


mais engajamento os policiais de patrulha realizarem durante o tempo de patrulha em
pontos quentes – conversas com a população, paradas para abordar suspeitos,
aplicação de multas em caso de infrações sob fiscalização da polícia e realização de
prisões - menos frequentes e graves crimes serão nos pontos quentes (SHERMAN et
al., 2014).

27 KUBRIN, C. E. et al.. Proactive policing and robbery rates across U.S. cities. Criminology, 2010,
48, 57-97.
28 SAMPSON, R. J.; COHEN, J.. Deterrent effects of the police on crime: A replication and theoretical
extension. Law & Society Review, 1988, 22, 163-189.
29 WILSON, J. Q.; BOLAND, B.. The effects of the police on crime. Law & Society Review, 1978,12,
367-390.
60

2.3.17 Legitimidade

Legitimidade refere-se aos “[...] julgamentos que os cidadãos comuns fazem sobre a
legitimidade da conduta policial” (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2004, p. 291,
tradução nossa30).

Conforme dados do National Research Council (2004), pesquisas recentes sugerem


que, quando os cidadãos percebem as ações policiais como legítimas eles não
apenas têm mais probabilidade de ver a polícia de forma mais positiva, mas também
têm mais probabilidade de cumprir a lei no futuro.

Embora os moradores possam inicialmente ficar satisfeitos com a polícia abordando


os problemas em suas ruas, Rosenbaum (2006) sugere que, com o tempo, existe o
risco de que os moradores comecem a se sentir como alvos da polícia em vez de
parceiros na prevenção do crime. Rosenbaum (2006) também argumenta que o
Policiamento de Pontos Quentes levará a impactos adversos nas relações policiais
com a comunidade e, portanto, na legitimidade da polícia na comunidade.

Kochel (2011), no trabalho intitulado Constructing hot spots policing: Unexamined


consequences for disadvantaged populations and for police legitimacy 31, argumenta
que:

[...] a polícia deve reconhecer que, nos pontos quentes, está trabalhando com
populações mais céticas e menos confiantes na polícia. Portanto, táticas de
policiamento agressivas ou intrusivas, embora eficazes como estratégias de
combate ao crime de curto prazo, podem ter implicações de longo prazo para
a legitimidade da polícia (KOCKEL, 2011, p. 366, tradução nossa32).

O envolvimento do público na seleção de estratégias pode ser importante para alguns


grupos. O respeito e a dignidade concedidos aos cidadãos durante a aplicação de

30 Legitimacy refers to the “judgments that ordinary citizens make about the rightfulness of police
conduct.
31 Construindo o policiamento de pontos quentes: consequências não examinadas para populações
desfavorecidas e para a legitimidade da polícia (tradução livre).
32 [...] that police must recognize that in hot spots, they are working with populations who are more
skeptical and less trusting of the police.
61

estratégias de resposta são importantes para outros grupos. No entanto, o que se


destaca entre todos os grupos constituintes é se as estratégias de resposta
selecionadas implicam que os policiais tomem com precisão decisões imparciais e
baseadas em dados e apliquem as leis de forma consistente a todas as pessoas. Se
as estratégias de resposta aos pontos quentes puderem ser descritas com precisão
nesses termos, as implicações do Policiamento dos Pontos Quentes nas percepções
de legitimidade policial são promissoras (SHERMAN et al., 2014).

Assim, depreende-se que a legitimidade da polícia está diretamente atrelada ao


engajamento. A forma como os policiais interagem nos pontos quentes determinará,
a longo prazo, como será a legitimidade de sua atuação.

2.4 Síntese das proposições acerca do Policiamento de Pontos Quentes

A teoria de Policiamento de Pontos Quentes de Sherman et al. (2014) combina os


conceitos abordados anteriormente.

O conceito de ponto quente, nessa proposta teórica de estratégia de Policiamento de


Pontos Quentes, pode ser descrito a partir da previsão de que a maioria dos crimes e
desordens em locais públicos, em qualquer espaço territorial, durante um ano ou mais,
está concentrada em uma pequena fração de todos os seus endereços ou segmentos
de rua, onde um carro de polícia ou policial a pé podem ser vistos de qualquer ponto
dentro dos limites de pontos quentes, que podem ser alvo de receber muito mais
dosagem de patrulha que todas as outras partes na área de responsabilidade territorial
do policiamento (SHERMAN et al., 2014).

Ainda segundo Sherman et al. (2014), quanto maior a proporção de todos os crimes
e desordens abrangidos por uma lista de pontos quentes, maior a proporção de
redução do crime que uma estratégia de Policiamento de Pontos Quentes pode
alcançar sujeita às condições especificadas no Quadro a seguir:
62

Quadro 1 – Síntese dos aspectos relacionados à teoria de Policiamento de Pontos


Quentes
Aspecto Previsão pela teoria da estratégia do Policiamento de Pontos Quentes
Quanto mais frequentes forem as visitas de policiais uniformizados a cada ponto
Frequência quente, outras coisas (incluindo a dosagem) sendo iguais, mais dissuasão inicial e
residual cada ponto quente experimentará.
Quanto mais longa for a visita de policiais uniformizados a cada ponto quente,
Dosagem maior será a dissuasão inicial causada por cada visita, até o ponto de decadência
da dissuasão.
Quanto mais longa for a visita de policiais uniformizados a cada ponto quente,
Dissuasão
maior será a dissuasão residual causada após o término de cada visita, até o ponto
residual
de retornos decrescentes.
Quanto maior a proporção do tempo total em que a polícia está visivelmente
Dissuasão
presente em um ponto quente, menos frequentes ou graves serão os crimes dentro
local
desse ponto quente, especialmente durante as horas de maior crime.
Dissuasão Quanto maior o efeito de dissuasão local criado pelas patrulhas de pontos quentes,
regional maior o efeito de dissuasão regional.
Quanto maior o efeito de dissuasão local criado pelas patrulhas de pontos quentes,
Difusão de maior o efeito de dissuasão do infrator. É improvável que a produtividade do infrator
benefícios em outro local decorrente do deslocamento seja igual e nunca excederá o efeito
local.
Quanto maior a variação na intermitência da presença policial em um ponto quente,
Intermitência maior a imprevisibilidade objetiva de quando a polícia aparecerá em um ponto
quente em um determinado momento.
Quanto maior a imprevisibilidade objetiva e a incerteza percebida publicamente
Incerteza sobre quando e por quanto tempo a polícia aparecerá e permanecerá em um ponto
quente, menos frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto quente.
Quanto mais engajamento os policiais de patrulha realizarem durante o tempo de
patrulha em pontos quentes – conversas com a população, paradas para abordar
Engajamento suspeitos, aplicação de multas em caso de infrações sob fiscalização da polícia e
realização de prisões - menos frequentes e graves os crimes serão nos pontos
quentes.
Quanto mais legitimidade policial os patrulheiros criarem tratando todos os
cidadãos de maneira respeitosa com procedimentos justos durante as patrulhas
Legitimidade
em pontos quentes, menos frequentes e graves serão os crimes nesses pontos
quentes.
Fonte: Adaptado de Sherman et al. (2014).

Essa teoria formal pode ser usada para avaliar o crescente número de testes de
patrulha de pontos quentes (BRAGA; PAPACHRISTOS; HUREAU, 2012), tanto do
ponto de vista teórico quanto do ponto de vista empírico.

2.5 Conceitos-chave e uma estratégia para implementar patrulhas de pontos


quentes

A implementação de uma estratégia de policiamento perpassa pela análise do


trabalho policial de maneira geral.
63

O marco teórico acerca da análise do trabalho policial é a obra Varieties of Police


Behavior de James Q. Wilson (1968), a qual aborda papeis do patrulheiro (patrolman)
e do administrador de polícia (police administrator) e três estilos de policiamento: o
vigilante (watchman), o legalista (legalistic) e os estilos de serviço (servie styles), os
quais são analisados e correlacionados com a política local (WILSON, 1968).

Desde o clássico de Wilson (1968), os estudiosos da polícia não lutaram teoricamente


com a cadeia de comando que liga as ações da liderança policial à conduta do policial
no campo. A tipologia de Wilson de três tipos de estratégia policial foi útil, mas muito
geral. Ela não oferece um modelo lógico de causa e efeito do tipo necessário para
transformar radicalmente a ideia de como os policiais de patrulha realizam suas
atividades. Na ausência de teoria dedutiva, uma teoria indutiva pode ser gerada a
partir da literatura mais ampla sobre inovações e as experiências específicas dos
principais experimentos de Policiamento de Pontos Quentes. Essas fontes ajudam a
fornecer um glossário de conceitos-chave que podem ser integrados a uma teoria
formal de como criar uma estratégia de patrulhamento de pontos quentes em nível de
área (SHERMAN et al., 2014).

Ainda segundo Sherman et al. (2014), os 10 conceitos-chave para as causas-das-


causas desta teoria da prevenção do crime são: ampliação, infraestrutura,
direcionamento de pontos quentes de longo prazo, policiamento preditivo de curto
prazo, rastreamento de patrulha no tempo e no espaço, accountability pela entrega da
patrulha, retroalimentação tempo de patrulha, COP-stat33 (aplicação de estatística
computadorizada na atividade-fim), cadeias de rituais de interação e liderança
transformacional. Esses conceitos são abordados individualmente a seguir.

2.5.1 Ampliação

Segundo Sherman et al. (2014), o conceito-chave da literatura sobre inovações é


definido pela transição para uma mudança organizacional em larga escala de um teste
de pequena escala (ou mesmo um “piloto” não testado que apenas demonstra como

33 Sherman faz uma alusão ao COMPSTAT e adapta o termo para COP-Stat para se referir ao
emprego da estatística computadorizada à ponta da linha da atividade policial.
64

algo pode ser feito sem testar seus efeitos nos resultados contra um controle
apropriado do grupo). Segundo os autores, testes em pequena escala podem contar
com condições ideais (ou pelo menos melhores), com pessoal escolhido a dedo e
gerenciamento e liderança intensivos. A implementação em larga escala deve contar
com condições mais típicas, incluindo pessoal indiferente, gerenciamento e liderança
menos focados.

Sherman et al. (2014), apropriam-se da metodologia de ensaios clínicos


(PIANTADOSI, 1997), para afirmar que o efeito reduzido de uma implementação
“escalada” em relação ao teste é tão central para a inovação, que na medicina há uma
distinção rígida entre ensaios de “eficácia” de pequena escala e ensaios de “eficácia”
de grande escala. A distinção abrange a diferença entre quão bem uma prática pode
funcionar se a teoria for seguida versus quão bem ela funciona com níveis mais típicos
de desvio dos procedimentos exigidos pela teoria de causa-efeito. O que isso significa
para o policiamento baseado em evidências é uma advertência extremamente
importante: novas políticas baseadas em testes de pequena escala provavelmente
deveriam ser testadas novamente em condições de grande escala para gerar
estimativas mais realistas de relações custo-benefício (SHERMAN et al., 2014).

A escalada de implementação de qualquer política encontra um problema de


discrepância entre a política elaborada no papel e a política efetivamente
implementada na prática. Este fenômeno é tratado na literatura como “burocracia do
nível de rua” (CAVALCANTI; LOTTA; PIRES, 2018).

Essa constatação se deve ao fato de que os agentes públicos possuem


necessariamente algum grau de discricionariedade no exercício de suas funções
cotidianas. Isso implica que seus comportamentos são guiados somente até
determinado ponto por normas, hierarquia e estrutura organizacional, enquanto uma
porção considerável de seu trabalho e de suas decisões lhes é delegada em função
da própria natureza de suas funções (LIPSKY, 1980, 2010).

Desta forma, para se empreender numa ampliação de uma estratégia de uma política
pública, deve-se atentar para que a implementação na ponta da linha sofrerá nuances
65

de adaptação às características do local e à execução do serviço. Pode-se depreender


desta forma que no caso de uma estratégia ser adotada pela PMMG, a qual possui
uma capilaridade em todos os 853 municípios do Estado de Minas Gerais, para que
não haja distorções significativas de implementação, é necessário envolvimento da
gerência local e engajamento por parte de todos os agentes.

2.5.2 Infraestrutura

Sherman et al. (2014, p. 107, tradução nossa34) definem infraestrutura como “[...] a
capacidade de produzir grandes quantidades do matérias-primas necessárias para
entregar todas as saídas necessárias para causar o resultado”. Segundo os autores,
o grau de impacto de uma prática sobre os resultados (como a redução do crime)
diminui ao passar de testes em pequena escala para ampliá-los em larga escala. A
ampliação depende de uma ampla gama de condições resumidas como infraestrutura.

A infraestrutura, para o policiamento de pontos quentes, refere-se à disponibilidade


de dados precisos de distrito por distrito, equipe por equipe (preferencialmente de
dispositivos GPS), para localizar onde os crimes ocorrem; mapas mostrando os limites
dos pontos quentes; “cercas” geográficas desses limites em monitores GPS de
agências policiais que rastreiam viaturas e policiais e/ou equipes policiais; gráficos
mostrando quanto tempo de patrulha eles estão entregando em tendências ao longo
do tempo e comparações entre unidades; e mapas criminais atualizados mostrando
se novos crimes estão dentro ou fora dos pontos quentes. Na ausência dessas
ferramentas, é muito difícil motivar ou até mesmo disciplinar os policiais em apoio à
concentração da dosagem de patrulha em pontos quentes (SHERMAN et al., 2014).

2.5.3 Identificação de pontos quentes de longo prazo

A identificação começa com o primeiro dos três “Ts” do policiamento baseado em


evidências - identificação, teste, rastreamento (targeting, testing, tracking)

34 […] the capacity to produce large quantities of the raw materials needed to deliver all the outputs
needed to cause the outcome.
66

(SHERMAN, 2013): a identificação de concentrações de crime em que os recursos


podem ser concentrados para uso mais eficiente.

Muitos experimentos de pontos quentes usaram direcionamento gerado por


computador com algoritmos, como um raio de 50 m em torno de um epicentro do crime
no espaço. Essa abordagem tem as vantagens de garantir poder estatístico para
testes em nível de pontos quentes, mas não fornece um vínculo teórico claro para a
dissuasão local (diferente da regional) (SHERMAN et al., 2014).

É somente desenhando à mão os limites de cada ponto quente que os


requisitos mínimos de visibilidade podem ser atendidos (BUERGER et al.,
1995). A exigência de usar pelo menos 1 ano de dados [...], no entanto,
significa que o esforço necessário para a construção manual de hot
spots deve ser investido apenas uma vez por ano, no máximo
(SHERMAN et al., 2014, p. 107, tradução nossa35, grifo nosso)

Muitos pontos quentes permanecem quentes por 10 anos ou mais (WEISBURD et al.,
2004). Uma vez que um limite do ponto quente é estabelecido, ele pode ser usado por
pelo menos um ano ou mais para medir e gerenciar a dosagem de patrulha dentro dos
limites (SHERMAN et al., 2014).

2.5.4 Policiamento preditivo de curto prazo

O conceito de “policiamento preditivo” comercializado para produtos como Predpol ®,


por exemplo, é radicalmente diferente do direcionamento de pontos quentes com
base em um histórico mínimo de 1 ano de distribuição de crimes (SHERMAN et
al., 2014).

Segundo Sherman et al. (2014), o policiamento preditivo tem como premissa a


afirmação já falsificada de que os pontos quentes não são estáveis e que fatores
específicos de data e hora devem ser levados em consideração para prever com
segurança onde o crime se concentrará em curtos períodos de tempo.

35 The requirement to use at least 1 year of data [...]), however, means that the effort needed for manual
construction of hot spots must only be invested once a year, at most.
67

Na ausência de qualquer validação publicada da confiabilidade dessas previsões, é


impossível dizer se elas são mais precisas que pontos críticos direcionados a
distribuições de crimes de longo prazo no espaço. No entanto, mesmo sem o
policiamento preditivo, muitas agências policiais mapeiam os pontos quentes com
base em um período de tempo muito curto, geralmente inferior a um ano. É improvável
que o crime seja concentrado ou previsível com períodos de tempo tão curtos. Pontos
quentes de longo prazo (com base em 1 ano ou mais) são unidades relevantes
e confiáveis para direcionar a dosagem extra de patrulha (SHERMAN et al., 2014).

2.5.5 Patrulha de rastreamento no tempo e no espaço

Em mais de duas décadas de COMPSTAT e outras iniciativas de gestão para


direcionar estratégias policiais, houve uma questão ainda não respondida: se a polícia
está realmente entregando mais tempo de patrulha aos pontos quentes visados. A
pergunta permaneceu sem resposta enquanto não pudesse ser respondida de forma
barata. O advento do rastreamento por GPS de carros de polícia e policiais mudou
esse contexto, com relatórios potencialmente baratos de onde e quando a patrulha
policial foi entregue (SHERMAN et al., 2014).

2.5.6 Accountability (responsabilidade36) pela entrega da patrulha

Sherman et al. (2014) citam que, embora duas décadas de COMPSTAT tenham se
concentrado em direcionamento e táticas, também houve responsabilização dos
comandantes pelos resultados: se o crime diminui ou não. Essa responsabilidade
pode ou não ser grosseiramente injusta.

Há muitas coisas que podem aumentar ou diminuir a contagem de crimes de um


distrito, especialmente no curto prazo – incluindo flutuação de chances37. O mito de
que a polícia não pode afetar o crime (GOTTFREDSON; HIRSCHI, 1990) é paralelo
ao mito da total responsabilidade policial pelas tendências do crime. É muito mais

36 Apesar do termo accountability não ter uma tradução única, neste contexto, o termo assume o
conceito de responsabilização.
37 Esta informação pode ser verificada por meio da análise das taxas criminais no período de Pandemia
de COVID-19 que em Belo Horizonte apresentaram uma redução 36% para os crimes contra o
patrimônio durante a fase de distanciamento social (FARIA; DINIZ; ALVES, 2022).
68

realista responsabilizar os comandantes de polícia pela entrega dos resultados que


pelos resultados, mesmo porque os resultados são produzidos dentro de um sistema
fechado de organizações policiais (SHERMAN et al., 2014).

O conceito de responsabilidade pela entrega de patrulhas é aquele que torna os


resultados, mas não os resultados do crime, a responsabilidade compartilhada de
comandantes de polícia, supervisores, oficiais de patrulha individuais e policiais. A
chave para essa responsabilidade compartilhada é a informação compartilhada
(shared information), ou o que o Departamento de Polícia da Cidade de Nova Iorque
(NYPD) COMPSTAT (MAPLE, 1999) chamou de “inteligência oportuna e precisa”
(timely and accurate intelligence).

2.5.7 Dando feedback para a Patrulha no tempo e no espaço

Sherman et al. (2014) escreveram que a proposição-chave dessa teoria é que o


feedback é essencial para a expansão. Os autores citam que a “produção em massa”
de patrulhas de pontos quentes não pode ser assegurada se os próprios produtores
não forem informados se estão produzindo o que é necessário, de acordo com as
especificações detalhadas do produto. O feedback deve ter duas dimensões:

Uma é cognitiva, para que a polícia compreenda as dimensões relevantes de


sua entrega de patrulha em relação à teoria de prevenção ao crime. A outra
dimensão é a afetiva (emocional), para que os policiais se comprometam
com a entrega de seu patrulhamento da forma e quantidade mais
efetivas possíveis. A informação cognitiva pode ser apresentada em
tendências comparando a entrega de uma unidade de patrulha ao longo do
tempo, em dosagem total, dosagem em pontos quentes (como porcentagem
da patrulha total) (SHERMAN et al., 2014, p. 109, tradução nossa38, grifo
nosso).

Os mesmos autores exemplificam as formas de apresentação do feedback cognitivo,


por meio de gráficos de barras comparando diferentes unidades ou por meio de mapas
rastreando as localizações progressivas de um carro de patrulha em um determinado

38 One is cognitive, so that police understand the relevant dimensions of their patrol delivery in relation
to the crime prevention theory specified above. The other dimension is affective (emotional), so that
police become committed to the delivery of their patrol in the most effective manner and amounts
possible. The cognitive information can be presented in trends comparing a patrol unit’s delivery over
time, in total dosage, dosage in hot spots (as a percent of total patrol).
69

turno, é uma evidência ainda mais clara de onde um carro esteve (ou não) e por
quanto tempo (SHERMAN et al., 2014).

2.5.8 “COP-Stat”: aplicação de estatística computadorizada na atividade-fim

Sherman et al. (2014) afirmam que informação cognitiva por si só pode mudar as
práticas policiais. Para os autores é ainda mais improvável que o retorno das
informações, por escrito ou discussões individuais com os supervisores, tenham o
mesmo efeito que o feedback aos oficiais operacionais em um contexto de grupo. Não
se conhece nenhum “COMPSTAT” que tenha focado os policiais de rua prestando os
serviços, com todos eles na sala durante as discussões periódicas.

Os autores propõem que:

[...] convocar reuniões quinzenais para fornecer feedback aos policiais da


linha de frente sobre seus resultados de entrega de patrulha pessoal uma
estratégia “COP-Stat”. Algo para os policiais de rua, não apenas para os
gerentes. Em breves reuniões de cerca de 30 minutos, os comandantes
distritais e os líderes de turno podem revisar os últimos 14 dias de
patrulhamento de uma maneira que seja cognitivamente clara e
emocionalmente poderosa (SHERMAN et al., 2014, p. 109, tradução
nossa39).

2.5.9 Cadeias de rituais de interação

Sherman et al. (2014) retomam o conceito de “efervescência coletiva” (collective


effervescence) de Emile Durkheim (1965), de “cadeias rituais de interação” (interaction
ritual chains) de Erving Goffman (1967) e do “ritual de interação eficaz” (effective
interaction ritual) proposta por Randall Collins (2004), para definir cadeias de rituais
de interação como: “[...] quando as pessoas têm uma experiência de grupo envolvente
que enfatiza o compromisso com valores e objetivos compartilhados, isso renova e

39 [...] call bi-weekly meetings providing feedback to the frontline officers on their personal patrol
delivery outputs a “COP-Stat” strategy: something for the street cops, not the managers alone. In
brief meetings of some 30 min, district commanders and shift leaders can review the past 14 days of
delivering patrol in a manner that is both cognitively clear and emotionally powerful.
70

fortalece seu compromisso moral de defender esses valores e atingir esses objetivos”
(SHERMAN et al., 2014, p. 110, tradução nossa40).

Sherman et al. (2014) apropriam-se dessa teoria para aplicá-la à estratégia policial,
de forma que a liderança se atente aos requisitos de um ritual de interação eficaz.

2.5.10 Liderança transformacional

O conceito-chave para a entrega bem-sucedida de patrulhas de pontos quentes mais


eficazes é inspirar aqueles que fazem as patrulhas por uma razão emocionalmente
convincente.

Apenas seguir ordens não é uma ideia muito inspiradora. Como Burns (1978)
sugere em seu tratado clássico sobre liderança, um líder transformacional é
aquele que inspira os seguidores a querer servir a uma causa ou interesse
maior do que suas próprias necessidades pessoais ou desejos egoístas. Não
é o medo da punição, mas o orgulho da conquista, que inspirará os policiais
de patrulha a realizar o melhor trabalho de patrulhamento que puderem. É o
orgulho na prevenção do crime que os motivará a fazer ainda melhor na
próxima semana do que na semana passada. Os líderes da polícia em todos
os níveis [...] devem manter essa ideia de uma missão ou propósito maior do
que o próprio eu na vanguarda de cada palavra e ação (SHERMAN et al.,
2014, p. 111, tradução nossa41

Realizadas todas as considerações acerca dos conceitos-chave que perpassam uma


implementação de Policiamento de Pontos Quentes, apresenta-se a seguir um
resumo dos principais elementos.

40 [...] when people have an engaging group experience that stresses commitment to shared values
and goals, it renews and strengthens their moral commitment to upholding those values
accomplishing those goals.
41 Merely following orders is not a very inspiring idea. As Burns (1978) suggests in his classic treatise
on leadership, a transformational leader is one who inspires followers to want to serve a cause or
interest larger than their own personal needs or selfish desires. It is not fear of punishment, but pride
of achievement, that will inspire patrol officers to carry out the best patrolling work they can. It is pride
in preventing crime that will motivate them to do even better next week than they did last week. Police
leaders at every level [...] must keep this idea of a mission or purpose larger than the self at the
forefront of their every word and deed.
71

2.5.11 Resumo dos pontos para implementação de Patrulhas de Pontos Quentes


eficazes

A seguir apresenta-se um resumo dos dez conceitos de Sherman et al. (2014) para
uma teoria que promova patrulhas de pontos quentes cada vez mais eficazes:

a) aumentar o tempo de patrulhamento para pontos de alta criminalidade de longo


prazo requer um plano de ação integrado para criar e manter infraestrutura,
responsabilidade e entrega de mais patrulhamento e menos crime, sob
liderança transformacional em todos os níveis;
b) a implementação de uma estratégia de policiamento de pontos quentes em
nível distrital requer uma infraestrutura de toda a organização policial para
focalizar os pontos quentes, medir a patrulha no tempo e no espaço e dar
feedback da entrega da patrulha diretamente aos policiais que a realizam;
c) a responsabilidade pela entrega organizacional de mapas de pontos quentes e
registros de dosagem de patrulha deve ser claramente atribuída a um líder que
se reporte diretamente ao diretor executivo da agência;
d) os comandantes distritais devem prestar contas a seus supervisores imediatos
nas revisões mensais do COMPSTAT das tendências mais recentes, de 12 a
24 meses no tempo total de patrulha no distrito, em seus pontos de acesso alvo
na proporção desses dois e em suas relações com as tendências do crime em
cada ponto quente do distrito;
e) os comandantes de turno em cada distrito devem ser responsabilizados pelo
desempenho de suas equipes de policiais pelo comandante do distrito, em
revisões quinzenais do período mais recente de 14 dias, bem como dos últimos
12 meses de dados sobre o tempo de patrulha e criminalidade;
f) os dados sobre o tempo total e de patrulhamento de pontos quentes devem ser
apresentados aos comandantes de turno e policiais em patrulha em cada
distrito, como feedback para discussão e ação, em “COP-stats” quinzenais, em
cada estação distrital;
g) quanto mais a entrega desse feedback seguir os princípios de rituais de
interação eficazes, mais eficaz será para melhorar a quantidade e a qualidade
do patrulhamento de pontos quentes;
72

h) os supervisores dos comandantes distritais devem comparecer sem aviso


prévio nas reuniões distritais do COP-stat para demonstrar interesse nas
questões e sucessos a serem encontrados em cada distrito – e para incentivar
o orgulho e a satisfação na entrega de resultados, bem como encorajar os
resultados;
i) quanto mais os policiais da linha de frente forem informados de que a liderança
policial se preocupa com o que estão fazendo, e perceber com grande precisão
como estão fazendo isso, mais receptivos eles serão a fazer mais e melhores
patrulhas em pontos quentes;
j) quanto mais os policiais forem informados (e sentirem) que seu trabalho está
tendo sucesso na prevenção do crime, mais e melhor patrulhamento eles farão
nos pontos quentes;
k) quanto mais feedback os policiais de patrulha receberem sobre seu
envolvimento com os cidadãos em pontos quentes, mais envolvimento eles
farão; câmeras corporais, por exemplo, podem promover o uso de
autofeedback pelos oficiais da linha de frente, bem como feedback gerencial;
l) quanto mais feedback os policiais de patrulha receberem sobre sua
conformidade (compliance) com os princípios éticos e de justiça durante o
envolvimento com os cidadãos, mais conformidade eles alcançarão e mais
legitimidade policial eles criarão em populações que vivem nos pontos quentes.

Ao final desta seção, verificou-se que há uma série de conceitos e pressupostos que
devem ser considerados para que uma estratégia de policiamento seja considerada
como sendo de Policiamento de Pontos Quentes. As abordagens realizadas neste
capítulo serão utilizadas como base conceitual para analisar as percepções e práticas
adotadas pelos comandantes de Unidade de Execução Operacional da PMMG quanto
ao policiamento preventivo dirigido realizado e sua aderência às previsões do modelo
de Policiamento de Pontos Quentes.
73

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA SUSTENTAR UMA


ESTRATÉGIA DE POLICIAMENTO DE PONTOS QUENTES: mapeamento de
hot spots, grafos e o estudo de rotas otimizadas para o policiamento
preventivo

Esta seção está dividida em três partes. A primeira parte é dedicada às formas de
mapeamento de hot spots, considerando-se as possibilidades de mapeamento e suas
perspectivas analíticas para melhor identificação dos pontos quentes. A segunda parte
dedica-se ao instrumental, para solução de rotas otimizadas por meio do estudo da
rede viária a partir de grafos e a terceira descreve a metodologia de roteamento que
tem aderência à solução do problema de aplicação no planejamento de rotas de
policiamento.

3.1 Mapeamento de Hot Spots

Várias técnicas de mapeamento diferentes são usadas para identificar pontos críticos
de crime - mapeamento de pontos, mapeamento temático de áreas geográficas,
elipses espaciais, mapeamento temático de grade e estimativa de densidade do
kernel. Vários estudos de pesquisa discutiram o uso desses métodos para identificar
focos de crime, geralmente com base em sua facilidade de uso e capacidade de
interpretar espacialmente a localização, tamanho, forma e orientação de grupos de
incidentes de crime (CHAINEY; TOMPSON; UHLIG, 2008; ECK et al., 2005;
JEFFERIS, 1999; RATCLIFFE; MCCULLAGH, 1998).

Identificar os hot spots é o primeiro passo que uma agência de policiamento precisa
dar ao discernir onde melhor priorizar seus recursos. A tentativa de fazer isso por meio
de mapeamento de pontos tornou-se desatualizada desde a proliferação do software
de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e a crescente sofisticação das técnicas
de mapeamento (CHAINEY; TOMPSON; UHLIG, 2008).

A necessidade de mapeamento criminal surge de dois pressupostos-chave: o crime


tem uma qualidade inerentemente geográfica e o crime não distribuído de maneira
aleatória no espaço (CHAINEY; RATCLIFFE, 2013).
74

A regra do espaço no crime se assenta no fato de que o fenômeno criminal é


composto por quatro dimensões:

a) uma lei;
b) um ofensor (delinquente);
c) um alvo;
d) um lugar (BRANTINGHAM; BRANTINGHAM, 1981).

Neste sentido, para que o crime ocorra, todos os elementos acima devem estar
presentes. Deve existir uma lei para tornar ilegal um ato ou comportamento e,
portanto, criminoso. Um ofensor deve estar presente, pois é a pessoa que age ou
se comporta de uma forma que viola a lei. E para que o evento criminoso realmente
ocorra, também deve haver um alvo (propriedade a ser subtraída ou uma pessoa que
pode ser prejudicada), bem como um lugar para o evento criminoso ocorrer. Um lugar
é “uma área muito pequena, geralmente uma esquina, endereço, construção ou
segmento de rua” ou um “local específico dentro de ambientes sociais maiores” (ECK;
WEISBURD, 1995, p. 1-3).

A apropriação do conhecimento da concentração criminal é fundamental para as


instituições policiais. Eck (2005, p. 1, tradução nossa42)

A polícia usa esse entendimento todos os dias. As decisões sobre como


alocar recursos escassos baseiam-se parcialmente em onde as demandas
da polícia são mais altas e onde elas são mais baixas. Os policiais são
instruídos a prestar atenção especial a alguns comportamentos em algumas
áreas, mas não recebem orientação sobre outras áreas onde esse
comportamento é escasso. O policiamento comunitário está particularmente
atento aos bairros de alta criminalidade, onde os moradores têm grande
dificuldade de exercer controles sociais. O policiamento orientado para o
problema leva os policiais a identificar concentrações de crime ou atividade
criminosa, determinar o que causa essas concentrações e, em seguida,
implementar respostas para reduzir essas concentrações. Muito do que é

42 Police use this understanding every day. Decisions about how to allocate scarce resources are
based partially on where the demands for police are highest and where they are lowest. Officers are
told to be particularly attentive to some behavior in some areas, but are given no guidance about
other areas where this behavior is scarce. Community policing is particularly attentive to high-crime
neighborhoods, where residents have great difficulty exerting social controls. Problem-oriented
policing pushes police officials to identify concentrations of crime or criminal activity, determine what
causes these concentrations, and then implement responses to reduce these concentrations. Much
of what is called crime analysis is dedicated to locating concentrations of crime—hot spots—and
much of crime mapping is devoted to their detection.
75

chamado de análise do crime é dedicado à localização de concentrações de


crimes – pontos quentes – e muito do mapeamento do crime é dedicado à
sua detecção.

Diferentes interpretações de pontos quentes requerem diferentes tipos de mapas de


crimes. Os mapas de pontos quentes do crime podem orientar de forma mais eficaz
a ação policial quando a produção desses mapas é guiada pela teoria. Com a teoria
do crime apropriada, os mapas do crime podem comunicar informações vitais aos
policiais e membros da comunidade de forma eficiente e eficaz (ECK, 2005).

3.1.1 Precedentes históricos do mapeamento criminal: a Escola Cartográfica de


Criminologia

Antes do surgimento da teoria da desorganização social, outros estudos exploraram


os efeitos dos fatores ecológicos sobre a criminalidade. Segundo Paulsen e Robinson
(2004), houve três correntes distintas de pesquisa relacionadas ao crime e ao local,
incluindo:

a) conduzida por estatísticos franceses e belgas do século XIX, que descrevia


essencialmente os padrões espaciais do crime de forma não teórica;
b) conduzida por sociólogos norte-americanos do início do século XX, que
começaram por descrever as condições ecológicas em Chicago e, em seguida,
voltaram-se para conceitos sociológicos para explicar a ocorrência de áreas de
alta criminalidade;
c) que começaram na década de 1970, por estudiosos como Jeffery (1971) e
Newman (1972), e continuaram na década de 1990 por outros nomes como
Crowe (1991) que se concentrou no desenho urbano e arquitetura e como eles
influenciaram o crime e a sensação de segurança.

Phillips (1972) sugere que “centenas de estudos espacialmente orientados sobre o


crime e a delinquência foram escritos por sociólogos e criminologistas desde 1830
[...]” e reconhece a chamada escola cartográfica ou geográfica de criminologia ou
ainda estatística moral (1830-1880) como pioneira no estudo da criminologia
ambiental.
76

De acordo com Levin e Lindesmith (1971, p. 63), os primeiros estudos sistemáticos


da ecologia no campo da criminologia foram realizados por A. M. Guerry e Adolphe
Quetelet. Guerry (183343) e Quetelet (183544) analisaram e mapearam as estatísticas
criminais francesas. Encontraram distribuições específicas de ocorrências criminais
em todo o país, incluindo altas taxas de crime em algumas áreas e baixas taxas em
outras áreas, diferenças entre crimes violentos e contra o patrimônio e estabilidade
dessas taxas ao longo do tempo.

Guerry, com seu colaborador Adriano Balbi, criou um mapa estatístico contendo a
comparação entre níveis educacionais e taxas de crime na França. Guerry utilizou de
métodos cartográficos para representar o relacionamento entre as estatísticas
criminais e fenômenos sociais, o que posteriormente foi feito por outros na Inglaterra,
País de Gales e Estados Unidos (PAULSEN; ROBINSON, 2004).

Como exemplo, Guerry dividiu a França em cinco regiões: norte, sul, leste, oeste e
centro e utilizou mapas coropléticos (sombreamento) para representar: crimes na
França entre 1825-1830; gênero e crime; idade e crime; variações sazonais e crime;
educação e crime; distribuição de suicídios; etc. (PAULSEN; ROBINSON, 2004).

43 GUERRY, A.M. Essai sur la Statistique Morale de la France. Paris: Crochard. 1833.
44 QUETELET, L. A. A Treatise on Man. Edinburg: Willian and Robert Chambers. 1835.
77

Figura 4 - Mapeamento de Crimes por Guerry e Balbi em 1829

Fonte: Friendly (2007, p. 5).


Nota: No topo à esquerda: crimes contra a pessoa; topo à direita: crimes contra a propriedade e abaixo:
nível de instrução.

Outro importante autor do período foi Henry Mayhew (1862) que analisou o crime e os
problemas sociais na Inglaterra e País de Gales usando métodos semelhantes.
Mayhew (1862) serviu-se de sua profissão, o jornalismo, para registrar o dia a dia da
Londres da segunda metade do século XIX. O trabalho sobre vagabundos e
criminosos, intitulado de London labour and the London poor, foi dividido em quatro
volumes, sobretudo artigos jornalísticos. Na obra destaca-se a construção da tipologia
que propõe, mas a sua contribuição mais importante refere-se à metodologia. Introduz
na Criminologia as metodologias qualitativas, e mais concretamente a história oral, a
entrevista e a observação direta.

Mayhew (1862) aproxima-se das zonas marginais de Londres para que os seus
próprios habitantes lhe descrevam por palavras suas os trabalhos e sofrimentos.
78

Entrevista delinquentes juvenis e visita os seus lares. Juntamente com esta


metodologia qualitativa, o autor recorre a um elevado número de estatística. No seu
estudo sobre a delinquência juvenil pode-se concluir, juntamente com a abordagem
descritiva, um interesse etiológico que inclui causas múltiplas, parecendo destacar a
falta de controle por parte dos pais (GARCIA, 2010).

Mayhew (1862) foi também um dos primeiros a usar técnicas cartográficas, ao


elaborar mapas sobre a distribuição do crime e da delinquência em Londres,
denominados mapas sociais. Mayhew (1862) produziu 15 mapas que foram criticados
por alguns estudiosos, pois pouco revelam, especialmente, pelo fato de apresentar
temas incomuns a época, relacionados à criminalidade, como abusos sexuais e raptos
(NUNES, 2012).

3.1.2 Técnicas de mapeamento de hot spots: potencialidades e limitações

Diferentes técnicas de mapeamento são usadas para descrever os hot spots, incluindo
as seguintes: pontos, elipses espaciais, mapas temáticos, quadrículas, interpolação e
estimativa de densidade do kernel (CHAINEY; TOMPSON; UHLIG, 2008; ECK et al.,
2005).

3.1.2.1 Mapeamento de pontos

No mapeamento de pontos, a distribuição de fenômenos geográficos discretos (ou


seja, um objeto ou evento) é representada usando pontos idênticos. Nesse caso, o
hot spot é um ponto em um endereço específico. A identificação de grupamentos
(clusters) pela observação de eventos únicos como pontos em uma área pode ser
problemática, pois dependeria da percepção visual do observador (COLUMBIA
PUBLIC HEALTH, s.d.).

Um exemplo de mapa de pontos aplicado para análise criminal consta na Figura 5.


79

Figura 5 – Mapa de distribuição de pontos de cometimento de crime


de uma gangue a partir do centro médio de localização
da residência dos componentes da gangue

Fonte: Faria et al. (2018, p. 62).

Conforme o mapa (FIGURA 5), verifica-se que uma questão relevante para o
mapeamento por pontos é a escala de representação dos dados. Para melhor permitir
a identificação dos eventos é necessário que se utilize uma escala maior (mapa à
direita) o que não é possível no mapa da esquerda, por exemplo. Desta forma, para
identificação de microespaços de ocorrências criminais sugere-se que se utilize uma
escala adequada à representação desses espaços.

3.1.2.2 Mapeamento de elipses espaciais (elipses de desvio padrão)

A técnica de elipses espaciais aplica elipses de desvio padrão em torno de clusters


de pontos para exibir pontos de acesso em um mapa. No entanto, as elipses podem
não ser tão informativas quanto outras técnicas de mapeamento quando o tipo de hot
spot, em análise, não segue uma forma elíptica (ECK et al., 2005).
80

A aplicação de elipses de desvio padrão ocorre como uma forma de análise de


medidas centrográficas (centro médio, distância padrão e elipse de desvio padrão).
Comparando a técnica com a distância padrão, tem-se a vantagem de permitir agregar
o aspecto direcional do espalhamento de eventos o que não é possível na distância
padrão.

Assim como o círculo descrito pela distância padrão, a elipse é capaz de identificar o
centro de uma distribuição, bem como suas extensões espaciais, ou seja, a dispersão.
Não obstante, uma elipse mede a forma e a orientação da distribuição resumindo a
variância máxima e mínima ao longo dos eixos x e y (EBDON, 1988). Como resultado,
a elipse pode explicar um arranjo não uniforme de eventos (LEFEVER, 1926; LEVINE,
2007). Essas diferenças estão ilustradas na Figura a seguir.

Figura 6 - Exemplo comparativo dos modelos circular e elíptico

Fonte: Adaptado de Kent e Leitner (2007, p. 151).

Segundo Faria, Diniz e Alves (2020, p. 637), “embora excessivamente simplista, pela
Figura 6 demonstra-se que uma elipse é mais capaz de explicar a distribuição irregular
de eventos que o modelo circular, ou seja, o modelo elíptico combina tanto a
orientação quanto a variação na dispersão”.
81

Figura 7 – Representação de elipse espacial para a distribuição de crimes em


Belo Horizonte

Fonte: Faria, Diniz e Alves (2020a, p. 639).

3.1.2.3 Mapas temáticos

Os mapas temáticos usam limites geográficos ou quadrículas (blocos censitários ou


grades uniformes, por exemplo) agregando os dados e detalhes espaciais por área
temática. Um exemplo de mapa temático é um mapa coroplético. Os hot spots
detectados por meio dessa abordagem de mapeamento são restritos ao formato das
unidades temáticas, o que é problemático na hora de fazer interpretações,
principalmente quando não leva em conta as características de cada área específica
(densidade populacional, por exemplo) (COLUMBIA PUBLIC HEALTH, s.d.).

Para o caso do mapeamento criminal, os limites de uma determinada unidade


geográfica utilizados para este tipo de mapeamento temático geralmente são definidos
arbitrariamente para uso administrativo ou político podem ser blocos censitários ou
distritos, por exemplo. Crimes, como pontos em um mapa, podem ser agregados a
essas áreas de unidades geográficas que podem ser sombreadas de acordo com o
número de crimes que se enquadram nelas (CHAINEY; TOMPSON; UHLIG, 2008).
82

Williamson et al. (2001) afirmam que os mapas criados desta forma são rápidos de
produzir e requerem pouco conhecimento técnico para serem interpretados. Além
disso, essa técnica permite que o usuário determine rapidamente quais áreas têm uma
alta incidência de crimes e permite um diagnóstico mais aprofundado do problema.
Além disso, as áreas do censo podem ser facilmente vinculadas a outras fontes de
dados, como população, para calcular uma taxa de criminalidade - aumentando sua
versatilidade para análise.

Uma vantagem do método de quadrículas ou limites é a possibilidade comparação de


cada unidade espacial por uma sequência temporal longitudinal (comparação de
quantidade de crimes para um determinado setor a cada ano, por exemplo).

Figura 8 - Distribuição dos crimes de Figura 9 - Diferença do número de


roubo em Belo Horizonte roubos por quadrículas
(2007-2013) (2013-2007)

Fonte: Faria, Alves e Abreu (2018, p. 1012). Fonte: Faria, Alves e Abreu (2018, p. 1014).

Os mapas constantes da Figura 8 e 9 apresentam mapas de concentração de roubos


em Belo Horizonte no período de 2007 a 2013. Conforme afirmado anteriormente, a
vantagem da técnica de mapeamento por quadrículas é a possibilidade de análise dos
eventos ao longo de um percurso temporal. Outra possibilidade de aplicação da
técnica é a análise de correlação entre variáveis, por meio do agrupamento de dados
pelas unidades celulares (quadrículas).
83

Figura 10 – Distribuição dos crimes de roubo e equipamentos urbanos - Belo


Horizonte - 2007 a 2013

Fonte: Faria, Alves e Abreu (2018, p. 1014).

No exemplo da Figura 10, Faria, Alves e Abreu (2018) identificaram uma correlação
entre os eventos de roubo e estabelecimentos de uso comercial, seguido pela
presença de instituições bancárias, com coeficientes moderadamente positivos.

Outra possibilidade de mapas temáticos é a utilização de agrupamento de eventos por


unidade administrativa (setor censitário, bairro, município, etc.). Um exemplo deste
tipo de mapeamento está representado na Figura 11 a seguir.
84

Figura 11 – Mapa de ataques a instituições bancárias – 7ª RPM – 2012-2017

Fonte: Nominato, Faria e Alves (2021).

3.1.2.4 Estimativa de densidade de kernel

Uma técnica de mapeamento de hot spots que os descreve como uma superfície de
densidade suave é a estimativa de densidade do kernel - Kernel Density Estimation
(KDE) (COLUMBIA PUBLIC HEALTH, s.d.). É um método de mapeamento popular
devido ao seu impacto visual intuitivo. Os pontos negativos do mapa de kernel é que
a técnica cria uma superfície de densidade incluindo-se os locais em que não houve
nenhum evento, superestimando o fenômeno, além de dificultar a localização precisa
das ocorrências do fenômeno em estudo.
85

Figura 12 – Mapa de Kernel para crimes violentos –


34º BPM - 01/01/2022 – 04/08/2022.

Fonte: Sistema de Gestão Operacional da PMMG.

A densidade de estimativa de kernel cria um mapa de superfície suave e contínuo


mostrando gradientes da variação na intensidade de eventos nas áreas de estudo
sem se limitar a fronteiras temáticas. Assim, essa forma de mapeamento é diferente
dos outros métodos em que a superfície gerada é baseada em uma estimativa não
paramétrica da função de intensidade em grades de células, usando uma função de
ponderação baseada em uma largura de banda constante ou raio de pesquisa
(WALLER; GOTWAY, 2004; CHAINEY; TOMPSON; UHLIG, 2008). A largura de
banda pode ser obtida por meio de uma análise de Moran I45, que determinará a menor
distância em que o agrupamento de eventos é mais intenso e significativo,
representando, portanto, uma escala de análise adequada. A seleção de larguras de
banda maiores aumenta o grau de suavização (COLUMBIA PUBLIC HEALTH, s.d.).

45 O índice global de Moran I, é a expressão da autocorrelação considerando apenas o primeiro vizinho


(CARVALHO et al., 2004).
86

Embora o Kernel seja uma abordagem mais flexível para visualizar em um mapa, ele
ainda sofre das mesmas limitações do mapeamento temático, pois não identifica hot
spots e cold spots estatisticamente significativos (COLUMBIA PUBLIC HEALTH, s.d.).

3.1.2.5 Mapeamento e hot spots por agrupamento de eventos segmentos de


vias

Devido ao incremento de estudos da distribuição espacial de crimes especificamente


no ambiente urbano, utilizando de diferentes escalas de análise, notadamente bairros
e comunidades, identificou-se que havia uma concentração de eventos em segmentos
de ruas (incluindo ambos os quarteirões de uma rua, interseção a interseção)
(WEISBURD; ZASTROW, 2021).

Weisburd et al. (2004), em estudo das tendências do crime em Seattle entre 1989 e
2002, indicaram um declínio de quase 25% no crime em geral. Mas esse declínio foi
responsável por apenas 14% dos segmentos de rua (WEISBURD; GROFF; YANG,
2012). A maioria das ruas experimentou pouca mudança na criminalidade e cerca de
2% dos segmentos de rua (mais de 500 ruas) apresentaram aumentos médios de
quase 50%.

As descobertas nas pesquisas ilustram a importância de aprofundar o estudo das


tendências localizadas como fator essencial para o entendimento do fenômeno
criminal, em especial, sobre a criminalidade nos segmentos de rua da cidade.

Em relatório de pesquisa publicado em 2021, Weisburd e Zastrow investigaram a


concentração de crimes nas ruas (hot-spot streets) na cidade de Nova Iorque nos anos
de 2010, 2015 e 202046. A pesquisa indica o método de mapeamento de crimes por
hot spot streets. Segundo os autores,

[...] implementamos um método direto no qual as contagens de crimes são


somadas para cada segmento de rua da cidade. Nesta análise, há 83.547
segmentos de ruas, segundo o NYC OpenData. Não seria possível utilizar
uma unidade espacial menor que o segmento de rua porque os dados do
boletim de ocorrência são codificados na linha central do segmento de rua e
não fornecem informações ao nível de endereço. Ao mesmo tempo, os

46 Para mais detalhes, ver seção 2.1.1.


87

segmentos de rua tornaram-se as unidades geográficas mais comuns usadas


para estudos de concentração de crimes (LEE et al., 2017) porque podem ser
vistos como configurações de comportamento (ver WICKER, 1987;
WEISBURD; GROFF; YANG, 2012; WEISBURD; GROFF; YANG, 2014) e
possuem limites bem definidos e objetivos. Além disso, o uso de segmentos
de rua minimiza os erros que podem ocorrer por erros de codificação de
endereços em dados oficiais (ver WEISBURD; GREEN, 1995; KLINGER;
BRIDGES, 1997; WEISBURD; GROFF; YANG, 2014) (WEISBURD;
ZASTROW, 2021, p. 3, tradução nossa47).

A Figura 13 ilustra o que Weisburd e Zastrow (2021) queriam dizer como um segmento
de rua em referência a um conjunto de ruas em uma grade de ruas.

Figura 13 – Ilustração de um segmento de rua

Fonte: Weisburd e Zastrow (2021, p. 3)

47we implement a straightforward method in which crime counts are summed for each street segment
in the city. In this analysis, there are 83,5476 street segments, according to NYC OpenData. It would
not be possible to use a spatial unit smaller than the street segment because the crime report data are
coded to the street-segment center line and do not provide address-level information. At the same
time, street segments have become the most commonly used geographic unit for studies of crime
concentration (Lee et al., 2017) because they can be seen as behavior settings (see Wicker, 1987;
Weisburd, Groff, and Yang, 2012; Weisburd, Groff, and Yang, 2014) and have well-defined and
objective boundaries. Moreover, the use of street segments minimizes the errors likely to develop from
miscoding of addresses in official data (see Weisburd and Green, 1995; Klinger and Bridges, 1997;
Weisburd, Groff, and Yang, 2014).
88

Weisburd e Zastrow (2021) utilizaram a agregação dos eventos ao segmento de rua


mais próximo, para análise da distribuição dos crimes em Nova Iorque, usando o
pacote de software do sistema de informações geográficas ArcGIS 10.

Os autores identificaram que um problema chave na identificação da concentração do


crime em microunidades geográficas é que interseções são frequentemente
conectadas a quatro segmentos de ruas específicos, tornando ambíguas as alocações
de crimes para ruas específicas (WEISBURD; ZASTROW, 2021). Para o trabalho,
Weisburd e Zastrow (2021) excluíram crimes ocorridos em cruzamentos.

De acordo com Weisburd e Zastrow (2021), embora tenha havido debate na


literatura48 sobre a concentração do crime e como lidar com crimes ocorridos em
cruzamentos, a maioria dos estudos exclui crimes em interseções porque diferem do
crime do segmento de rua, particularmente, no número de relatórios de crimes
relacionados ao trânsito.

Em 2020, 69% das infrações de trânsito e veículos de Nova Iorque ocorreram nos
cruzamentos, apesar do fato de que há cerca de duas vezes mais segmentos de
rua como cruzamentos. No geral, 13% a 19% das denúncias de crimes na cidade
estão relacionadas a cruzamentos (WEISBURD; ZASTROW, 2021, p. 4).

48Curman, Andresen e Brantingham, (2015); Dario et al. (2015); Gill, Wooditch e Weisburd (2017);
Telep, Mitchell e Weisburd (2014); Weisburd (2015); Weisburd et al. (2006); Weisburd, Groff e Yang,
(2012).
89

Figura 14 – Variação de Crimes Violentos em Nova Iorque – Estados


Unidos - 2020

Fonte: Weisburd e Zastrow (2021, p. 3)

3.1.3 Comparação entre os métodos de mapeamento

Em pesquisa, Chainey, Tompson e Uhlig (2008) buscaram identificar se existem


diferenças entre certas técnicas comuns de mapeamento de hot spots. Para tanto,
eles escolheram quatro técnicas para gerar mapas de hot spots: elipses espaciais,
mapeamento temático de áreas de fronteira, mapeamento temático de grade e
estimativa de densidade kernel. Essas técnicas foram escolhidas por serem as
técnicas mais comuns usadas por aqueles que geram mapas de hot spots do crime
(WEIR; BANGS, 2007).
90

Quadro 2 – Comparação entre as técnicas de mapeamento (continua)


Técnica de
Pontos positivos Pontos negativos
Mapeamento
Elipses espaciais Representa hot spots sem Hot spots de crime não se formam
(elipses de desvio depender de limites definidos, naturalmente em elipses convenientes,
padrão) como unidades de censo ou portanto não representam a distribuição
limites administrativos da polícia; espacial real do crime e muitas vezes
requer poucos parâmetros; e é podem enganar (ECK et al., 2005;
compatível com a maioria das RATCLIFFE; MCCULLAGH, 2001).
aplicações GIS (MARTIN; Finalmente, a visualização dos
BARNES; BRITT, 1998). resultados produzidos nega qualquer
comparação com eventos que não se
enquadram nas elipses espaciais (ECK
et al., 2005).
Mapas temáticos de Williamson et al. (2001) afirmam Devido à variação de tamanho e forma
áreas delimitadas que os mapas criados desta da maioria das fronteiras geográficas, o
geograficamente forma são rápidos de produzir e sombreamento temático pode enganar o
requerem pouco conhecimento leitor do mapa ao identificar a existência
técnico para serem das maiores concentrações de crimes
interpretados. Além disso, essa (ECK et al., 2005). Assim, esta técnica
técnica permite que o usuário pode não revelar padrões através e
determine rapidamente quais dentro da divisão geográfica das áreas
áreas têm uma alta incidência de de fronteira (CHAINEY; RATCLIFFE,
crimes. Além disso, as áreas do 2005).
Censo (setores censitários)
podem ser facilmente vinculadas
a outras fontes de dados, como
população, para calcular uma
taxa de criminalidade -
aumentando sua versatilidade
para análise.
Mapa temático de Para combater os problemas O uso de grades ainda restringe como os
quadrículas associados aos diferentes hot spots podem ser exibidos. O detalhe
tamanhos e formas das regiões espacial dentro e através de cada
geográficas, grades uniformes quadrante é correspondentemente
podem ser desenhadas em um perdido porque os eventos do crime
SIG como uma camada sobre a precisam estar de acordo com uma
área de estudo e sombreadas quadra específica, o que pode levar a
tematicamente. Portanto, todas uma interpretação imprecisa pelo
as áreas utilizadas para o usuário do mapa. Além disso, muitos
sombreamento temático são de comentários foram feitos sobre a
dimensões consistentes e aparência “em blocos” dessa técnica
comparáveis, auxiliando na (CHAINEY; RATCLIFFE, 2005; ECK et
identificação rápida e fácil de hot al., 2005; HOME OFFICE, 2001), que é
spots. afetada pelo tamanho da célula da grade.
A solução, reduzindo o tamanho de cada
célula, pode destruir a resolução do
mapa temático, tornando-o “manchado”
e pode deixar de fornecer qualquer
informação útil sobre onde o crime se
agrupa (CHAINEY; RATCLIFFE, 2005).
91

(conclusão)
Técnica de
Pontos positivos Pontos negativos
Mapeamento
Mapa de Kernel Um mapa de superfície lisa é Eck et al. (2005) destacam que a escolha
produzido, mostrando a variação da faixa temática a ser utilizada ainda se
da densidade de pontos/crime apresenta como um problema, pois as
ao longo da área de estudo, sem agências não questionam a validade ou
a necessidade de conformar a robustez estatística do mapa
formas geométricas como produzido, ficando presas em sua “isca
elipses. Há flexibilidade ao visual”. Isso afeta em grande parte como
definir parâmetros como os hot spots são identificados e aumenta
tamanho da célula da grade e a variação de mapas formados a partir
largura de banda (raio de dos mesmos dados. Há também
pesquisa); no entanto, apesar de preocupações de que pequenas
muitas recomendações úteis quantidades de dados possam
(CHAINEY; RATCLIFFE, 2005; desinformar o leitor de mapas (HOME
ECK et al., 2005, RATCLIFFE, OFFICE, 2001).
1999), não existe uma doutrina
universal sobre como defini-las e
em que circunstâncias.
Fonte: Chainey, Tompson e Uhlig (2008).

Em termos de policiamento preditivo, os resultados da pesquisa de Chainey, Tompson


e Uhlig (2008) demonstraram que existem diferenças entre as técnicas de
mapeamento de hot spots em sua capacidade de prever futuros padrões de crime. A
estimativa de densidade do kernel provou ser a melhor técnica de mapeamento de hot
spot para prever onde os crimes podem ocorrer no futuro e as elipses espaciais
parecem ser as piores. O mapeamento temático das áreas geográficas e o
mapeamento temático das grades produziram se mostraram semelhantes.

Concluindo-se a abordagem sobre a ferramenta de técnicas de mapeamento para


planejamento de Policiamento de Pontos Quente, passa-se à abordagem da questão
do roteamento de serviços policiais.

3.2 Roteamento de serviços e sua aplicação na atividade policial

O policiamento dos territórios é uma atividade de segurança para a sociedade,


notadamente no que tange à prevenção e repressão de crimes e desordens. Para que
o controle e a prevenção criminal sejam bem-sucedidos é necessário uma definição e
planejamento adequado das patrulhas. Para tanto, há necessidade de agrupar todos
os locais de cobertura policial em setores ou distritos policiais, bem como definir
apropriadamente as rotas de cada setor. As duas vertentes (setorização e roteamento)
92

não podem ser tratadas independentemente, uma vez que dependem uma da outra
(PEREIRA, 2019).

Pereira (2019) ainda destaca que duas das principais preocupações da polícia urbana
são o uso eficiente dos veículos patrulha e a carga de trabalho equilibrada entre
agentes policiais em diferentes distritos. Nesse trabalho é abordada a questão do uso
eficiente dos veículos de patrulhas policiais, considerando que o foco do trabalho é a
atividade de patrulhamento dirigido, não sendo abordada a questão de
dimensionamento da carga de serviço.

3.2.1 Roteamento

O termo “Roteamento” é definido no ramo da logística como o processo de


eficientemente movimentar bens ou trabalhadores de forma a coincidir, e até melhorar,
as exigências do mercado (LAPORTE; OSMAN, 1995). Martinho et al. (2018)
descrevem como o método de procura de um conjunto de circuitos, cada um para
cada veículo, satisfazendo a demanda de cada cliente, a um custo mínimo.

Nesse sentido, o objetivo no Problema de Roteamento (PR) passa por executar uma
ou várias viagens para cobrir determinadas necessidades e minimizar alguns
parâmetros, tal como o custo total de serviço (MOURÃO; NUNES; PRINS, 2009).

No presente estudo, o parâmetro a minimizar foi a distância a ser percorrida que


representa segmentos de rua com baixas concentrações de crimes (cold spots),
priorizando os seguimentos com maior concentração. Desta forma, conforme será
abordado mais adiante, percorrer-se-á os seguimentos de via com maior custo
(impedância), ou seja, os seguimentos de rua que compreendem os pontos quentes,
no caso, podendo ser tratados como “ruas quentes” (hot streets) ou rotas quentes (hot
routes).

Considerando-se que estrutura viária é o local onde se dá o deslocamento para os


pontos de interesse (hot spots) e que esta estrutura pode ser abstraída para o plano
analítico como uma rede de arestas (segmentos ou trechos de rua) e nós
93

(entroncamentos entre ruas), a abordagem de grafos é uma ferramenta útil para este
tipo de análise.

3.3 Grafos: conceitos e aplicações

Segundo Barroso (1998, p. 13), um Grafo “é uma estrutura matemática constituída de


dois conjuntos sendo um V, finito e não vazio, de n vértices, e outro E, de m arestas,
que são pares não ordenados de elementos de V”. Para as estruturas em que a
direção das arestas é relevante tem-se um “digrafo”.

O grafo será valorado quando suas arestas e/ou vértices estão relacionados a algum
atributo (estes grafos são utilizados na modelagem de problemas que buscam
minimizar distâncias – em termo espacial, temporal, de custos, etc.). Os grafos podem
ser representados por diversas formas, dentre as quais se destacam a por meio de
matrizes (adequados para a manipulação matemática) e a geométrica, que facilita a
compreensão (principalmente de informações espaciais) (BARROSO, 1998).

3.3.1 Teoria de grafos para estudo de redes geográficas

Diferentes tipologias de redes podem ser estudadas a partir da estruturação do


conjunto das relações (conexões - representadas pelas arestas de um grafo) e
elementos que as compõem (elementos/indivíduos - representados pelos nós de um
grafo).

Segundo Marques (2000), no campo das Ciências Sociais, o conceito de redes pode
ser aplicado sob três perspectivas:

a) rede como uma metáfora: trabalha com a ideia de entidades e indivíduos


conectados entre si;
b) rede como uma função normativa: utilizado como forma de estruturação de
determinadas entidades em busca de seus objetivos – tais como fluxos e
tarefas em um determinado ambiente (mapeamento de processos, por
exemplo);
94

c) redes como análise de redes sociais: descrição e análise dos padrões e


relações por ela determinados (MARQUES, 2000).

As pesquisas sobre redes sociais têm se mostrado um campo importante para a


utilização de grafos como elementos de análise, destacando-se os trabalhos de
Bavelas (1950); Freeman (1979); Wasserman e Faust (1994); Clauset, Newman e
Moore (2004); Bordin, Gonçalves e Todesco (2014); Higgins e Ribeiro (2018). Esses
trabalhos focam nas relações sociais entre diferentes indivíduos e grupos: os nós
representam os indivíduos estudados e as arestas representam os laços e
relacionamentos estabelecidos entre os elementos individuais.

As redes geográficas compartilham importantes características das redes sociais,


sendo consideradas redes sociais espacializadas, podem também ser consideradas
redes sociais por serem construções humanas criadas por diferentes relações sociais.
As redes se tornam geográficas quando se considera sua espacialidade, suas
localizações qualificadas e a interação espacial entre elas (CORRÊA, 2011, p. 200-
201).

Assim, a análise de redes sociais, incluindo-se as redes sociais espacializadas,


constitui um conjunto de métodos quantitativos aplicado a dados relacionais,
operacionalizados a partir de dois tipos de mecanismos: álgebra de matrizes e teoria
topológica de grafos (ALVES, 2020).

Devido à sua versatilidade e possibilidades de aplicações, os grafos têm sido


utilizados como forma de representação e modelo lógico conceitual para diferentes
tipologias de análise de redes, dentre elas citam-se estudos com aplicação de análises
de redes sociais, redes urbanas, redes de distribuição de água, redes criminais, dentre
outras (ALVES, 2020).

Alves (2020) apresenta três diferentes escalas de redes urbanas: regional, municipal
e intraurbana, nas quais é possível verificar, ainda que implicitamente, uma estrutura
composta por vértices e arestas.
95

Figura 8: Redes Urbanas e Grafos em Diferentes Escalas

Fonte: Alves (2020).

Conforme Figura 8, à esquerda tem-se os vértices representando as cidades e arestas


as estradas do estado. Ao centro, arestas representam as estradas e vértices as
localidades dentro de uma única região. E à direita, as arestas representam os
entroncamentos (esquinas) e vértices sendo as vias urbanas (ruas e avenidas).

Para essa pesquisa, elaborou-se uma estrutura de grafos para a rede intraurbana
baseada na rede via viária (ruas e avenidas) sendo os nós as interseções entre as
vias e as arestas cada um dos seguimentos de rua.

3.3.1.1 Uso de grafos para solução de caminho mínimo

Uma das aplicações espaciais dos grafos é a identificação de caminhos mínimos e na


identificação de ciclos (caminhos que passam uma única vez por todas as arestas do
grafo e alcançam todos seus vértices). Esses conceitos se tornam de grande utilidade
na resolução de problemas geográficos, sendo amplamente utilizados para a
resolução de questões logísticas, planejamento de rotas eficientes de transporte,
modelagem de redes de transporte complexas e alocação de recursos (ALVES, 2020).

As aplicações de caminho mínimo em grafos são utilizadas como formas de se


minimizar a distância (ou os custos) de percurso entre os nós. Cabe ressaltar que esta
distância pode ser medida de diferentes maneiras (distância métrica, distância-tempo,
custo de percurso, etc) (ALVES, 2020).
96

Um dos mais famosos algoritmos utilizados na resolução deste problema é o de


Dijkstra (1959) que permite a resolução para arestas com pesos positivos (LIMA;
BARROSO; ABREU, 2012).

O algoritmo de Djikstra (1959) define o caminho mínimo com sendo aquele no qual a
soma das arestas resulta no menor valor possível entre todas as somas de arestas
possíveis, ou seja, que liguem os dois vértices selecionados. Tendo em vista se
basear em soma e sua rápida implementação computacional, o algoritmo de Dijkstra
é utilizado por diferentes softwares comerciais que lidam com o conceito de distância
em redes, como é o caso dos aplicativos de sistemas de posicionamento global (GPS).

Tomando por base o conceito de grafo valorado, em que cada uma das arestas
recebe um valor/peso específico, diferentes abordagens e aplicações de caráter
cotidiano têm sido possíveis. Pode-se descrever como exemplos práticos os diversos
aplicativos voltados à definição de caminhos “ótimos” entre duas localidades, dentre
os quais destacam-se o Google Maps® e o Waze® (ALVES, 2020).

As análises de distâncias, caminhos e localizações utilizando grafos também buscam


responder problemas típicos de Análise Espacial tais como: o menor caminho entre
diversos pontos de parada (Travelling Salesman Problem – Problema do Caixeiro
Viajante); localização ótima de facilities49 diversas em razão da existência de uma
demanda especializada (Location-Allocation); alcance de determinada localização
(Service Area) e definição de serviços mais próximos ao atendimento de uma
determinada demanda (ALVES, 2020).

Devido ao interesse pela solução de rotas otimizadas de policiamento com execução


de pontos-base, o problema de roteamento “Problema do Caixeiro Viajante” possui
aderência com à temática da pesquisa.

49 Instalações e equipamentos urbanos.


97

3.3.1.2 Problema do Caixeiro Viajante

Dentre os modelos clássicos de problemas de roteamento, o Problema do Caixeiro


Viajante encontra aderência para a solução do caso em estudo. Esse problema é
bastante conhecido dos ramos da Matemática, da Investigação Operacional e da
Ciência da Computação (PEREIRA, 2019), o Traveling Salesman Problem (TSP) -
Problema do Caixeiro Viajante (PCV) consiste em determinar a distância mais curta
do circuito ou ciclo Hamiltoniano50 de um dado grafo, G, dependendo se esse grafo é
orientado ou não.

Seja G = (V; E), sendo V = {v1, ..., vn} é um conjunto de vértices e E = {(vi, vj): i < j, vi,
vj  V} é um conjunto de arestas não direcionadas (LAPORTE; OSMAN, 1995).

A seguir tem-se a representação de um grafo, formado por quatro vértices, em que


um deles é o ponto inicial e final de viagem (Vértice "D") e os demais são pontos de
passagem do viajante (Vértices “1”, “2” e “3”). Entre cada vértice, existe uma aresta a
qual está associado um valor. Este valor indica o "custo" dessa travessia.

Figura 15 - Representação de Grafo com 4 Vértices e seus respetivos custos

Fonte: Adaptado de Pereira (2019, p. 12).

50 Um grafo é dito hamiltoniano se possui um ciclo hamiltoniano, ou seja, apresenta um ciclo que
percorre todos os vértices do grafo (SANTOS, 2016).
98

O Problema do Caixeiro Viajante (PCV) é utilizado para determinar qual a menor rota
a percorrer entre várias cidades, por um dado vendedor, que inicia e encerra a viagem
no mesmo ponto e que visita cada uma das cidades apenas uma vez. A necessidade
de otimização decorre da percepção de que o tempo despendido, bem como os custos
associados ao transporte, entre as cidades a visitar, poderiam ser reduzidos
(PEREIRA, 2019).

3.3.3 Aplicação do roteamento à atividade policial: um estudo de rotas otimizadas no


Hipercentro de Belo Horizonte

Faria, Alves e Barroso (2015) realizaram um trabalho com objetivo de propor, a partir
da teoria de grafos e técnicas de análise espacial, uma metodologia de modelagem
do fenômeno criminal no espaço urbano a fim de definir pontos de interesse espacial
para definição de rotas seguras e otimização dos recursos públicos de prevenção
criminal.

O trabalho contou com o mapeamento da concentração de crimes violentos do ano


de 2013 na área de abrangência da 6ª Companhia de Polícia Militar e a modelagem
dos caminhos tendo como base a estrutura viária. A partir dos dados das ocorrências,
foi feito um mapa de Kernel, implementado em ambiente ArcGis versão 10.0,
utilizando como raio de busca 250 metros. Esta técnica permitiu a identificação de hot
spots e de áreas com menor incidência de criminalidade (FARIA; ALVES; BARROSO,
2015).
99

Figura 16 - Densidade crimes violentos no hipercentro de Belo Horizonte - 2013

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).

No trabalho de Faria, Alves e Barroso (2015) foi a atribuído como custo de cada aresta
do grafo o grau de incidência de criminalidade da área por ela percorrida. As 10
classes do mapa de concentração de crimes foram agrupadas em cinco classes para
a atribuição de custos (impedância) para a modelagem do grafo.
100

Figura 17 - Representação da atribuição de custos a partir da


densidade de crimes no hipercentro de Belo
Horizonte.

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).

Para definição das rotas de policiamento, Faria, Alves e Barroso (2015) definiram o
custo de maneira invertida, ou seja, que se atribuísse um custo mínimo para a maior
incidência criminal e vice-versa. Para cada uma das arestas foi atribuído o maior custo
das áreas por elas percorridas, ou seja, se uma aresta se estende por áreas com
diferentes concentrações de ocorrências (diferentes pesos), o peso atribuído à aresta
é o referente ao da área com maior densidade (maior custo), conforme exemplifica a
figura a seguir.
101

Figura 18 - Exemplo da atribuição de custos às arestas, a partir da


densidade de crimes no hipercentro de Belo Horizonte

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).

No exemplo, observa-se que a aresta em destaque (ao lado esquerdo) “corta” três
áreas de densidades criminais distintas com custos iguais a 3 (área amarela), 4 (área
laranja) e 5 (área vermelha). Conforme Figura 19 (à direita), a aresta do “grafo
valorado” herdou o maior custo, ou seja, passou a ser uma aresta de custo 5 (FARIA;
ALVES; BARROSO, 2015). Essa etapa permitiu a confecção de um “grafo valorado”,
o qual permite a análise de caminhos mínimos, tanto de análise das rotas mais curtas
quanto de rotas otimizadas ou para instalação de facilidades.

Figura 19 - Representação do “grafo valorado” a partir da densidade criminal

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).


102

Foram propostas, a partir da análise de caminhos mínimos (algoritmo de Dijkstra) rotas


diferentes que passassem pelos mesmos pontos no hipercentro.

Figura 20 - Representação da rota otimizada para o patrulhamento

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).

Tal trabalho de 2015, apresentou uma proposta metodológica para a definição de


roteamento para policiamento preventivo, conforme é o objetivo deste trabalho.
Entretanto, para o trabalho atual, foi utilizada outra metodologia, adotando-se as
propostas de mapeamento por ruas a fim de se identificar os segmentos diretamente
pela agregação dos dados a cada segmento, conforme será apresentado adiante na
Seção dedicada ao percurso metodológico.
103

4 PERCURSO METODOLÓGICO

Esta seção apresenta e discute a escolha das abordagens metodológicas adotadas,


a captação e recorte dos dados, além das técnicas utilizadas durante a pesquisa. Para
tanto, dividiu-se o capítulo em três partes, sendo que na primeira parte, são descritas
as abordagens metodológicas empregadas, na segunda, apresenta-se a origem,
recorte e captação dos dados referentes aos eventos analisados no presente trabalho
e a terceira parte trata da operacionalização da pesquisa.

4.1 Tipo de Pesquisa

A pesquisa pode ser classificada, segundo Prodanov e Freitas (2013), quanto ao


método de abordagem do tema, método de abordagem do problema, natureza da
pesquisa, fins da pesquisa e métodos de procedimento.

Os métodos de abordagem do tema definem as bases lógicas da investigação


científica e “possibilitam ao pesquisador decidir sobre o alcance da investigação e as
regras de explicação dos fatos e da validade das generalizações” (PRODANOV;
FREITAS, 2013, p. 26). Para a presente pesquisa foi utilizado o método dedutivo, pois
partiu-se de um conhecimento teórico prévio sobre Policiamento de Pontos Quentes
para investigar a sua aplicabilidade no caso individual da estratégia de policiamento
para o caso individual da Polícia Militar de Minas Gerais.

A pesquisa quanto ao método de abordagem do problema foi qualitativa e quantitativa


em duas instâncias:

a) a primeira abordagem quantitativa buscou captar as percepções do nível de


gestão operacional da PMMG (Comandantes de Unidade de Execução
Operacional) quanto à execução do planejamento de policiamento preventivo
por meio de cartões-programa, quanto ao conhecimento acerca dos aspectos
que compõem a teoria de policiamento de pontos quentes, quanto ao
diagnóstico dos recursos (insumos e ferramentas) utilizados para realizar o
104

planejamento, quanto à execução, coordenação e controle do patrulhamento


preventivo. Nesta mesma fase também se captou as percepções e
contribuições qualitativas por meio da exposição de experiências exitosas e
pontos de melhoramento para o processo de planejamento e execução de
policiamento preventivo dirigido;
b) a segunda buscou identificar, a partir da análise dos dados criminais, a
execução do planejamento preventivo por meio da estratégia de policiamento
de pontos quentes.

Quanto aos fins, a pesquisa se enquadra como exploratória, descritiva e explicativa.


A parte exploratória refere-se à aplicação dos procedimentos de pesquisa bibliográfica
e documental, que tem como finalidade trazer a ambientação com o tema do trabalho
por meio de abordagens teóricas e revisão de trabalhos pretéritos, notadamente sobre
os temas de Policiamento de Pontos Quentes, formas de mapeamento criminal,
resolução de problema de roteamento por meio da aplicação de grafos. O estudo
descritivo refere-se à observação do fenômeno sem intervenção do pesquisador, com
intuito de levantar características de uma determinada população (no caso, o processo
de elaboração de cartão-programa para o patrulhamento dirigido). A pesquisa
explicativa foi desenvolvida com a análise do processo do planejamento de
policiamento e potenciais da estratégia de Policiamento de Pontos Quentes como
forma de otimizar a aplicação dos recursos institucionais.

Quanto à natureza, a pesquisa é aplicada, pois dedica-se à solução de um problema


prático e atual, vivenciado na gestão operacional da atividade de polícia ostensiva na
Polícia Militar de Minas Gerais.

Quanto aos procedimentos, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, documental e de


campo:

a) a pesquisa bibliográfica foi utilizada em decorrência da necessidade de


registrar, analisar e interpretar as relações existentes entre o referencial teórico
relacionado ao problema investigado;
b) a pesquisa documental foi realizada por meio de consultas às bases de dados
de ocorrências policiais (documentação indireta), a qual serviu de base para
105

análise do objeto de estudo (incidência criminal) para elaboração das rotas de


policiamento;
c) o estudo de campo foi empreendido, por meio de documentação direta
extensiva (questionários), para coletar informações quantitativas e qualitativas
sobre o processo de planejamento e execução de rotas de policiamento
preventivo.

4.2 Métodos e Técnicas

A técnica de coleta de dados na realização dessa pesquisa foi documentação indireta


para realização da pesquisa bibliográfica e documental. Para a pesquisa bibliográfica
utilizou-se de livros, artigos de periódicos especializados e trabalhos acadêmicos. A
pesquisa documental de banco de dados de ocorrências policiais.

A base de dados foi composta com os seguintes critérios:

a) tipologia de crimes: crimes violentos e furtos;


b) período: 01/01/18 a 31/12/21;
c) delimitação espacial: município de Belo Horizonte – 1ª Região de Polícia Militar.
d) Sistema de Gestão Operacional (SIGOP) da PMMG disponível na IntranetPM,
cujo banco de dados foi extraído em 23 de junho de 2022 (MINAS GERAIS,
2022b).

A pesquisa de campo para pesquisa de campo foi realizada em âmbito de toda a


PMMG: comando das Unidades de Execução Operacional.

Desta forma, a pesquisa se deu em duas escalas de análise:

a) pesquisa de campo: todo o Estado de Minas Gerais, 89 Unidades de Execução


Operacional, sendo 70 Batalhões e 19 Companhias Independentes, devido ao
interesse em diagnosticar a prática de planejamento de policiamento preventivo
e o conhecimento sobre os pressupostos da estratégia de policiamento de
pontos quentes;
106

b) análise documental: município de Belo Horizonte, sendo 86 setores de


policiamento pertencentes à 1ª Região de Polícia Militar51, para os quais foi
analisado as rotas de policiamento preventivo para as motocicletas
empregadas nas Bases de Segurança Comunitárias (BSC).

4.3 Operacionalização da pesquisa

O caminho percorrido para elaboração da pesquisa pode ser sintetizado por meio do
Fluxo descrito na Figura 21.

Figura 21 – Fluxo metodológica da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir da definição dos objetivos da pesquisa, definiram-se os critérios para a coleta


de dados: o objeto de estudo (crimes de furto e crimes violentos), o recorte espaço-
temporal (Belo Horizonte, de 01/01/2018 a 31/12/2021). Após a coleta dos dados,
realizou-se uma crítica a eles no intuito de identificar e suprimir valores estranhos ao
levantamento, como incompatibilidade entre endereços de ocorrência e
geolocalização dos eventos, informações faltantes, equivocadas, alterações na

51 Desconsiderou-se os setores correspondentes a aglomerados subnormais, os quais possuem os


Grupos Especializados em Policiamento de Área de risco (GEPAR), sendo um serviço do portfólio
da PMMG dedicado.
107

categorização, etc. A apresentação dos dados trabalhados por meio de técnicas de


estatística espacial foi feita por meio de tabelas, gráficos e mapas.

Com relação à pesquisa de campo, foi elaborado questionário e aplicado aos


comandantes de Unidade de Execução Operacional da PMMG, conforme descrito na
sequência desta seção.

A análise e interpretação dos dados tiveram por base o referencial teórico abordado
nas seções 2 e 3 desta pesquisa.

4.3.1 Pesquisa de campo

Foi realizado um questionário destinado a todos os comandantes de Unidades de


Execução Operacional da PMMG, sendo:

a) 70 Batalhões de Polícia Militar;


b) 19 Companhias Independentes de Polícia Militar.

O questionário foi elaborado na plataforma Google Formulários sendo enviado por


meio de link via mensagem institucional de Painel de Mensagem da IntranetPM em 8
de agosto de 2022.

As perguntas do questionário foram destinadas a captar informações sobre a


localidade do respondente, a fim de verificar a representatividade de cada Região de
Polícia Militar (RPM) e suas percepções sobre os aspectos teóricos que compõem a
estratégia de policiamento de pontos quentes, as percepções quanto aos elementos
que definem o planejamento para realização de patrulhamento dirigido, a prática
adotada nas unidades para elaboração do cartão-programa de policiamento, as
adequações e necessidades de melhoria no processo. Por fim, realizou-se uma
questão aberta para coletar informações qualitativas sobre a realidade do
planejamento e a execução do policiamento preventivo na Unidade do respondente
tais como dificuldades de implementação, experiências exitosas, demandas por
melhoria.
108

Utilizou-se questões fechadas de múltipla escolha, bem como a utilização da escala


Likert para identificar o posicionamento do respondente frente a uma afirmação. Os
resultados foram tratados estatisticamente.

Considerando-se que se tratou de uma pesquisa censitária, o questionário foi enviado


para todos os componentes do universo (89 comandantes de UEOp). Não obstante,
houve uma perda, auferindo-se 75 retornos de respostas (84%). Este valor de 75
respostas resulta em um nível de confiança para a amostra de 95% com margem de
erro de 4,51%.

O roteiro do Questionário encontra-se no Apêndice A deste trabalho.

4.3.2 Mapeamento e solução de roteamento por meio de rotas otimizadas

Para o trabalho de identificação dos trechos de vias de Belo Horizonte com maior
incidência criminal (hot spots) foram mapeadas, inicialmente sob a forma pontual, as
ocorrências de furtos e Crimes Violentos no período de 2018, 2019, 2020 e 2021.

A partir do par de coordenadas contido nos REDS as referidas ocorrências foram


espacializadas, totalizando:

a) furtos:
 72.054 ocorrências em 2018;
 69.596 ocorrências em 2019;
 53.239 ocorrências em 2020;
 55.012 ocorrências em 2021;

b) crimes violentos:
 28.006 ocorrências em 2018
 19.848 ocorrências em 2019
 12.758 ocorrências em 2020
 9.860 ocorrências em 2021
109

Os dados foram espacializados segundo o Datum SAD6952 e posteriormente


reprojetados para o sistema SIRGAS200053 – segundo os parâmetros do Sistema
Geodésico Brasileiro.

O resultado desta operação foi a obtenção de oito conjuntos de dados (um conjunto
de dados para cada ano e para cada categoria mapeada), além de um arquivo vetorial
completo, contendo o total de dados. O croqui abaixo exemplifica um destes arquivos
de dados pontuais.

52 O SAD69 é um sistema geodésico regional adotado para a América do Sul.


53 O SIRGAS 2000 é o sistema de referência geodésico oficial para o Brasil (IBGE, 2010).
110

Figura 22 – Exemplo de representação do conjunto de


dados pontuais espacializados – Crimes
Violentos – Belo Horizonte - 2021

Fonte: Elaborado pelo autor.

Embora os dados pontuais representem grandes possibilidades de análises espaciais,


os mesmos nem sempre representam fielmente a distribuição espacial do fenômeno
criminal ao longo dos principais eixos viários de Belo Horizonte. Desta forma, para
atingir o objetivo geral da pesquisa, foi necessário agregar os dados pontuais aos
eixos viários da cidade.

A partir de uma análise dos dados viários disponíveis nos bancos de dados públicos,
verificou-se mais apropriado utilizar os dados individualizados na escala dos trechos
(segmentos de rua) e não das vias unificadas. Estes “trechos” representam as
111

parcelas de uma via delimitados pela interseção de duas vias consecutivas, podendo
também ser entendidos como as vias ao longo de um único quarteirão. A modelagem
de dados nesta escala se mostrou mais apropriada na percepção deste pesquisador
aos objetivos de estudo, uma vez que uma mesma via pode apresentar diferentes
padrões de distribuição criminal ao longo de toda sua extensão. A exemplificar, cita-
se a Avenida Afonso Pena com toda sua heterogeneidade quanto ao fenômeno
criminal ao longo do seu traçado partindo do hipercentro da capital em direção à zona
sul. A Figura 23 exemplifica esta situação, na qual cada trecho de uma mesma via é
representado por uma cor diferente, permitindo a identificação da escala de
abordagem do trabalho.

Figura 23 – Exemplo de representação de segmento de via

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a agregação dos dados pontuais às polilinhas representativas dos eixos viários,
há necessidade em adotar um índice comum (como o nome das ruas, endereço ou
outro geocodificador) aos dois bancos de dados.
112

Tendo em vista as diferentes escalas de abordagens e origens também distintas


destes conjuntos de dados, a adoção de um endereçamento comum mostrou-se
pouco eficiente, uma vez que não há homogeneidade entre as codificações adotadas.
Desta forma, a agregação de dados se deu por união espacial de dados, partindo do
princípio que, uma vez georreferenciados, os dados compartilham uma variável
comum: a localização espacial.

Ao se agregar linhas a pontos observou-se um fator dificultador oriundo da própria


escala, uma vez que, não sendo utilizada uma distância de tolerância (um buffer de
“captura” em torno dos pontos ou das linhas), a agregação espacial se limita
exclusivamente aos pontos que coincidem espacialmente com as linhas, o que não
reflete a realidade das ocorrências. Estas, por sua vez, muitas vezes adotam
coordenadas espacialmente deslocadas em relação ao eixo das vias, vide Figura 24.

Figura 24 – Exemplo de representação dos pontos de


ocorrência em comparação às linhas que
representam os eixos viários

Fonte: Elaborado pelo autor.

De forma a agregar a maior quantidade de dados e representar de forma mais fiel a


realidade do fenômeno estudado, foram estabelecidas distâncias em torno dos
113

trechos de vias (buffer) para que as ocorrências pudessem ser agregadas, como pode
ser observado na Figura 25.

Figura 25 – Exemplo de buffer em torno das linhas para agregar os pontos à linhas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Durante a pesquisa foram testadas distâncias “buffers” ao longo dos eixos das vias,
de forma a verificar qual a distância que, ao mesmo tempo, captura a maior quantidade
de dados e não provoca sobreposições significativas em áreas de interseções e
cruzamentos.

A partir de um teste de interseção direta entre os pontos e os trechos de vias, foram


obtidos os seguintes resultados:

a) distância 0 m a partir dos Eixos – 0% dos pontos interceptados;


b) distância 5 m - a partir dos Eixos - 20% dos pontos interceptados;
c) distância 10 m - a partir dos Eixos - 50% dos pontos interceptados;
d) distância 12 m - a partir dos Eixos - 64% dos pontos interceptados;
e) distância 15 m - a partir dos Eixos - 78% dos pontos interceptados;
f) distância 20 m - a partir dos Eixos - 92% dos pontos interceptados.
114

Tendo por base os resultados dos testes, foi adotada a distância de 20 metros como
buffer ao longo das vias para captura dos pontos. A partir desta distância, há pouco
ganho de dados e um maior risco de sobreposições entre trechos localizados
espacialmente próximos.

Para lidar com as eventuais sobreposições geradas durante este processo e evitar
que os pontos pudessem ser contabilizados em duplicata, os dados de polígonos
(buffers) foram tratados topologicamente, sendo excluídas as áreas de sobreposição.
Utilizou-se como regra de exclusão a manutenção das áreas sobrepostas nos
polígonos com maior área e exclusão destas nos polígonos de menor área.

Após estas operações, os oito conjuntos de dados pontuais (quatro anos de cada
tipologia de crimes) foram agregados aos polígonos dos buffers das vias, gerando um
banco de dados de polígonos com valores de contagem de ocorrências por cada
trecho, sendo possível a sua representação espacial conforme Figura 26.

Figura 26 – Exemplo de polígonos criados a


partir dos buffers com agregação
dos dados pontuais de ocorrências

Fonte: Elaborado pelo autor.


115

Os códigos dos trechos constantes na base de dados da Prefeitura de Belo Horizonte


(PBH) foram mantidos em todas as operações, permitindo a identificação dos trechos
e das vias às quais estes pertencem em todas as etapas do processo.

Em etapa posterior os dados foram subdivididos segundo os setores de policiamento,


de forma a permitir a identificação de cada hot spot dentro de seu respectivo setor.
Para esta operação, os arquivos vetoriais e polígonos representativos dos limites dos
setores foram utilizados como máscara de recorte dos trechos de vias. Tendo em vista
que um trecho pode estar presente em dois setores, foi utilizada como regra de
atribuição do trecho ao setor que contenha o ponto central deste trecho de via – um
trecho é atribuído a um determinado setor na medida em que seu centro se encontra
inserido neste setor. Desta forma, evitou-se que um mesmo trecho seja contabilizado
para a análise de hot spots de dois setores contíguos.

Figura 27 – Exemplo de critério para recorte e inclusão de segmento por setor


de policiamento

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.3.3 Análise da concentração de crimes

Foram realizados basicamente dois tipos de análise de concentração dos crimes por
segmentos de rua:

a) frequência de eventos por segmento: contagem do número de crimes em


mesmo segmento, utilizando a codificação de segmento contida no banco de
116

dados), a fim de se identificar o percentual de segmentos que concentravam


25%, 50% e 100% dos crimes na área de análise;
b) frequência relativa: quantidade de vezes que o mesmo valor de variável
apareceu dentro do conjunto, para saber por exemplo, quantos segmentos não
houve crimes;
c) coeficiente de Gini, para auferir o nível de concentração e desigualdade entre
os segmentos de via (explicado amiúde na sequência).

Uma das formas utilizadas para calcular a desigualdade de distribuição dos crimes
por segmento de ruas foi o coeficiente de Gini. O Gini é uma medida de desigualdade
desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini e publicada em 1912. Esse índice
é comumente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas
pode ser usada também para qualquer distribuição.

Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade


(todos têm a mesma distribuição da variável) e 1 corresponde à completa
desigualdade (um indivíduo da população concentra toda a variável). A construção do
coeficiente de Gini é baseado na “curva de Lorenz54”.

54
A curva de Lorenz é um instrumental gráfico e analítico que permite descrever e analisar a distribuição
de uma variável dentro de uma determinada população. A curva de Lorenz sempre se encontra entre
a linha de perfeita igualdade e a de extrema desigualdade. Quando mais próxima ela estiver da linha
de perfeita igualdade, mais igualitária é a distribuição de variável (NERI, s.d.).

A linha de extrema desigualdade corresponde aos segmentos AO e AB, e a uma situação na qual
todos recebem zero com exceção do que possui maior valor, que recebe o total da variável (NERI,
s.d.). A linha de perfeita igualdade é representada pelo segmento OB e a curva OB são os valores
observados.
117

Para uma amostra finita ou população de tamanho n com medidas x1, x2, …, xn em
ordem crescente, o índice de Gini pode ser definido pela seguinte equação (ZAIONTZ,
2022):

2 ∑𝑛𝑖=1 𝑖𝑥𝑖 𝑛 + 1
𝐺= ∙ −
𝑛 𝑥𝑖 𝑛

Para o trabalho foram realizados os seguintes passos utilizando-se o software


Microsoft Excel 2016:

a) ordenação crescente da contagem de crimes por segmento;


b) identificação da população percentual acumulada;
c) identificação do percentual de crime acumulado por segmento (ordem
crescente);
d) cálculo da área abaixo da curva de Lorenz:

Figura 28 – Fórmula para cálculo da área abaixo da curva de Lorenz

Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Statology (2022).

e) cálculo do coeficiente de Gini:


118

Figura 29 – Fórmula para cálculo do coeficiente de Gini

Fonte: Elaborado pelo autor baseado em Statology (2022).

4.3.4 Análise de correlação entre variáveis

A correlação linear é uma medida de associação linear entre variáveis, que pode ser
definida pelo coeficiente de correlação de Pearson (r), que descreve quão bem uma
linha reta se ajustaria através de nuvem de pontos.

No caso da correlação de Pearson (r) as duas variáveis se associam pelo


compartilhamento de variância, ou seja, ele é uma medida da variância compartilhada
entre duas variáveis.

Em termos gráficos, por relação linear entende-se que a melhor forma de ilustrar o
padrão de relacionamento entre duas variáveis é através de uma linha reta. Portanto,
a correlação de Pearson (r) exige um compartilhamento de variância e que essa
variação seja distribuída linearmente (FIGUEIREDO FILHO; SILVA JUNIOR, 2010).
O coeficiente é utilizado para dados que estão linearmente relacionados e, para
aplicação desse coeficiente, faz-se necessário que a amostra seja aleatória e as
variáveis sejam normalmente distribuídas.
119

Tabela 1 – Magnitude da correlação conforme intervalo do coeficiente de Pearson R s


Intervalo rs Magnitude da correlação

0,1 < rs < 0,4 fracamente positiva


0,4 < rs < 0,8 moderadamente positiva
0,8 < rs < 1,0 altamente positiva
-0,2 < rs < -0,4 fracamente negativa
-0,4 < rs < -0,8 moderadamente negativa
-0,8 < rs < -1,0 altamente negativa
rs = 0 não há correlação

Fonte: Ferreira (2014, p. 99).

4.3.4 Proposta de criação de rotas de Policiamento de Pontos Quentes

Para a descrição da forma de elaborar rotas de policiamento é necessário, antes,


fazer uma descrição da articulação operacional territorial da PMMG.

4.3.4.1 Articulação da PMMG

A Polícia Militar de Minas Gerais está articulada operacionalmente numa estrutura


hierárquica e vertical de acordo com o espaço geográfico ou missão institucional
(MINAS GERAIS, 2019a).

O Estado de Minas Gerais está dividido em frações com diversas dimensões, tendo
como base os limites geográficos dos municípios, que ficam sob a responsabilidade
de determinada estrutura da PMMG em seus respectivos níveis, quais sejam: Região
de Polícia Militar (RPM), Batalhão de Polícia Militar (BPM), Companhia de Polícia
Militar Independente (Cia PM Ind), Companhia de Polícia Militar (Cia PM), Pelotão de
Polícia Militar (Pel PM), Grupo de Polícia Militar (Gp PM) e Subgrupo de Polícia Militar
(Sub Gp PM) (MINAS GERAIS, 2019a).

Para este trabalho, reveste-se de importância a articulação das unidades da PMMG


que possuem responsabilidade territorial. Neste sentido, o emprego operacional
120

ocorre por meio de uma infraestrutura de Unidades Operacionais que são articuladas
de forma a cobrir todo o território do Estado, estratificadas em níveis de comando com
responsabilidade territorial, hierarquizadas sobre Regiões, Áreas, Subáreas, Setores
e Subsetores de policiamento.

Considerando-se que foi realizado o estudo do fenômeno criminal especificamente em


âmbito das UEOp da 1ª RPM, descreve-se a articulação desta Unidade de Direção
Intermediária.

Figura 30 – Unidades de Execução Operacional da PMMG – 2022

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Estado de Minas Gerais está dividido em 19 Regiões de Polícia Militar, as quais se


dividem em 89 Unidades de Execução Operacional, sendo 70 Batalhões de Polícia
Militar e 19 Companhias Independentes de Polícia Militar.

A capital mineira é de responsabilidade da 1ª Região de Polícia Militar, a qual se


organiza em oito Batalhões com responsabilidade territorial:

a) 1º BPM: responsável pelo centro de Belo Horizonte;


b) 5º BPM: responsável pela porção Oeste da cidade;
121

c) 13º BPM: responsável pelo Norte de Belo Horizonte;


d) 16º BPM: responsável pelo Leste e Nordeste de Belo Horizonte;
e) 22º BPM: responsável pela porção Centro-Sul da cidade;
f) 34º BPM: responsável pela porção Noroeste de Belo Horizonte;
g) 41º BPM: responsável pela área do Barreiro;
h) 49º BPM: responsável pela área de Venda Nova.

Cada Batalhão tem sua área de responsabilidade dividida em Companhias de Polícia


Militar. Cada subárea de Companhia, por sua vez, também é dividida em Setores de
policiamento. Em Belo Horizonte há 98 Setores, destes, 13 são locais de atuação dos
Grupamentos Especializados em Policiamento em Área de Risco (GEPAR) por
constituírem aglomerados subnormais e 83 possuem serviço de Bases de Segurança
Comunitária (BSC). A articulação de Batalhões e Setores da 1ª RPM consta dos
mapas da Figura 31 a seguir:

Figura 31 – Articulação da 1ª RPM em Batalhões e Setores – 2022

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o presente trabalho, foram consideradas os 83 setores com atendimento das


BSC, para as quais foi elaborado o cartão-programa para um setor de policiamento
de cada Batalhão, para as motocicletas que compõem o serviço da BSC.
122

Considerando que o objetivo da elaboração dos cartões-programa nesta pesquisa é


meramente exemplificativo, para apresentar o método de elaboração, o critério da
amostragem de setor para elaboração do cartão-programa foi não-probabilístico
(intencional e estratificado), sendo definido após a análise dos microespaços por
segmentos de rua, a partir de um ranking de setores com maior número de crimes.

Foi escolhido o setor de policiamento com maior número de crimes violentos e furtos
(intencional) um para cada Batalhão (estratificado).

Tabela 2 – Ranking de soma de crimes por Setor


Ranking BPM Código Setor Soma de Crimes
1 1º BPM 1,6,2 17.480
2 1º BPM 1,6,3 11.445
3 1º BPM 1,6,1 10.487
4 34º BPM 34,17,3 6.506
5 1º BPM 1,4,1 6.409
6 16º BPM 16,20,1 5.952
7 1º BPM 1,5,3 5.531
8 1º BPM 1,3,2 5.077
9 41º BPM 41,11,1 4.936
10 13º BPM 13,16,1 4.613
11 22º BPM 22,125,4 4.532
12 49º BPM 49,14,5 4.462
13 49º BPM 49,15,3 4.150
14 22º BPM 22,127,2 4.143
15 22º BPM 22,124,3 3.999
16 34º BPM 34,9,1 3.891
17 1º BPM 1,4,2 3.847
18 16º BPM 16,20,2 3.523
19 22º BPM 22,124,2 3.396
20 34º BPM 34,8,3 3.392
21 34º BPM 34,9,2 3.308
22 5º BPM 5,126,2 3.133
... ... ... ...
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

O setor 34.17.3 (São Luiz) tem as taxas criminais impactadas sobremaneira pela
localização do Estádio Governador Magalhães Pinto, o que para efeitos de
exemplificação, empobreceria a análise, conforme a Figura 32 a seguir.
123

Figura 32 – Motivação da substituição do Setor 34.17.3 para análise e definição de


rotas

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

Desta forma, o Setor 34.17.3 (São Luiz) foi substituído pelo Setor 34.9.1 (Padre
Eustáquio), que figura como próximo setor do 34º BPM no ranking.

4.3.4.1 Elaboração do planejamento de rotas de policiamento na PMMG

Antes de apresentar o método para elaboração do cartão-programa, importante


destacar sucintamente os aspectos normativos da instituição que abordam o
patrulhamento dirigido e a setorização.

A Diretriz Geral de Emprego Operacional – Diretriz nº 3.01.01/2019-CG (MINAS


GERAIS, 2019) traz o modelo de gestão operacional por resultados na PMMG, que é
norteado pelos seguintes pressupostos desejáveis para a atividade-fim:

a) regionalização ou setorização das atividades de polícia ostensiva;


b) emprego das Unidades de Recobrimento como potencializadoras das
UEOp de área da capital e do interior do Estado;
c) acompanhamento da evolução da violência, criminalidade e
características socioeconômicas dos municípios, com uso do
geoprocessamento e de indicadores estatísticos de segurança
pública, e produção de conhecimentos no campo da Inteligência de
Segurança Pública;
124

d) estabelecimento de metas a serem atingidas e avaliação sistemática de


resultados;
e) otimização da administração operacional nas frações e unidades básicas
de policiamento;
f) ênfase preventiva e rapidez no atendimento;
g) planejamento e execução das atividades de polícia ostensiva com
maior especificidade, oferecendo serviços adequados de acordo
com as demandas locais;
h) modelo gerencial que favoreça ações/operações descentralizadas;
i) adequada distribuição de recursos e o ordenamento dos processos
de trabalho, por intermédio do patrulhamento produtivo direcionado,
e portanto, não-aleatório;
j) autonomia aos comandantes de UEOp, de Companhia e de setores
de policiamento, para planejar e buscar soluções para os problemas
de segurança pública afetos à localidade, respeitadas as diretrizes e
normas estratégicas e do nível tático;
k) modernização das técnicas de gestão visando à diminuição das atividades
burocráticas, dando prioridade aos resultados e ao atendimento ao
público;
l) adequada coleta e utilização das informações gerenciais de
segurança pública, em especial aquelas relacionadas à
geoestatística;
m) produção de ações/operações de polícia ostensiva preventiva, de
acordo com características e tipologia criminais predominantes em
seus espaços geográficos específicos;
n) esforços específicos e articulados com outros atores do Sistema de
Defesa Social, procurando agir sobre as causas, fatores, locais, horários,
condições e circunstâncias vinculadas ao cometimento de crimes e
desordens;
o) Policiamento Orientado para a Solução de Problemas;
p) Policiamento Orientado pela Inteligência de Segurança Pública;
q) sistemas de incentivo e recompensas direcionados à valorização dos
policiais que atuem em atividades de polícia ostensiva de prevenção
criminal e atendimento de ocorrências junto à comunidade;
r) direcionamento dos recursos logísticos para as sedes de Companhias e
Pelotões, de forma a aprimorar a efetividade dessas frações;
s) foco nos resultados, prevalecendo a qualidade sobre a quantidade;
t) transparência e divulgação dos resultados positivos à comunidade,
utilizando-se a rede de contatos via CONSEP, Redes de Proteção
Preventiva, mídia local, periódicos, informativos diversos etc;
u) intensificação da atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP)
como estratégia para orientar e potencializar os serviços da PMMG na
prevenção e repressão qualificadas da criminalidade (MINAS GERAIS,
2019, pp. 46-47).

Considerando que a DGEOp tem força normativa, genérica e principiológica, os


pressupostos apresentados devem ser obrigatoriamente observados no planejamento
e execução do policiamento. Destacou-se na citação do documento os quesitos que
encontram total aderência ao trabalho e que orientaram a elaboração dos cartões-
programa ilustrados na presente pesquisa.

O roteamento de patrulhas preventivas exigiu a modelagem dos caminhos possíveis


dentro de cada setor, a partir do grafo definido pela rede viária. Para a modelagem do
125

grafo, inicialmente foram criadas as arestas em cada um dos logradouros da região


em estudo. O modelo foi implementado por meio do conjunto de ferramentas Network
Analyst, contido no software ArcGis versão 10.0, basendo-se no percurso utilizado no
trabalho de Faria, Alves e Barroso (2015).

As arestas foram criadas para cada um dos quarteirões na área de abrangência. Os


vértices foram criados a partir dos entroncamentos dos logradouros, conforme
demonstrado na figura a seguir.
126

Figura 33 – Exemplo de Mapa contendo Grafo modelado a partir da rede viária


do hipercentro de Belo Horizonte

Fonte: Faria; Alves; Barroso (2015).

O cartograma da Figura 33 mostra o grafo modelado a partir dos logradouros (arestas)


e entroncamentos (vértices).

A partir desses insumos foram propostas, a partir da análise de caminhos mínimos


pelo ArcGis versão 10.0, que opera o algoritmo de Dijkstra, uma rota partindo da Base
127

de Segurança Comunitária do Setor, passando pelos hot spots e retornando à base,


sempre tomando como referência o menor caminho entre os pontos.
128

5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Nesta seção apresenta-se o produto da pesquisa de campo e da análise documental


das ocorrências policiais. A fim de proporcionar uma melhor organização da
apresentação e das análises, os resultados estão dispostos em duas partes distintas:
a primeira se refere à pesquisa de campo realizada com os Comandantes de Unidade
de Execução Operacional da PMMG; a segunda contempla a análise dos crimes em
Belo Horizonte, e se propõe a demonstrar as possibilidades de mapeamento a partir
da constatação da concentração criminal, além de propor a elaboração de rotas de
policiamento por meio da análise de grafos.

5.1 A realização do policiamento preventivo dirigido pela Polícia Militar de Minas


Gerais: percepções dos comandantes de Unidade de Execução Operacional
e expertise no planejamento, execução, coordenação e controle da atividade

Buscou-se investigar como é realizado o policiamento dirigido, em especial, como se


dá o planejamento para execução desta atividade, quais os elementos são
considerados fundamentais para a composição da análise criminal que subsidia a
elaboração dos cartões-programa, além de analisar o domínio dos aspectos
conceituais que compõem a teoria de Policiamento de Pontos Quentes.

Para vários questionamentos utilizou-se a escala Likert. Na análise dessas questões


além da distribuição de respostas por nível de concordância com a assertiva proposta
também será apresentada a pontuação da escala. A escala varia entre 1 e 5, sendo
que a pontuação da escala facilita a leitura do indicador em termos de concordância
ou discordância, valores próximos de 1 indicam discordância, próximos de 3 indicam
neutralidade e próximos de 5 indicam concordância.

5.1.1 Perfil dos participantes da pesquisa

Conforme explicitado na seção dedicada ao percurso metodológico, foram aplicados


questionários a todos os Comandantes de Unidades de Execução Operacional
129

(UEOp), totalizando um universo de 89 UEOp. Obteve-se retorno de 75 questionários


(84%). Isso significa um erro amostral de 4,5% com intervalo de confiança de 95%. A
distribuição dos participantes (respondentes do questionário) consta no mapa da
Figura a seguir:

Figura 34 – Mapa de localização dos Regiões dos participantes da Pesquisa


– Minas Gerais – 2022

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme mapa da Figura 31, há representatividade de todas as Regiões de Polícia


Militar. Este fator é importante, pois a instituição policial estudada está presente em
todos os 853 municípios e a captação de percepções e experiências que tenham
representatividade das diversidades do Estado permite um melhor alcance de
aproximação das diferentes realidades.

A 2ª RPM (sediada em Contagem) e a 12ª RPM (sediada em Ipatinga e responsável


pelo Vale do Aço) foram as regiões com maior participação na pesquisa, com sete
comandantes de Unidade em cada uma das regiões. A 1ª RPM (responsabilidade
territorial pela capital) e a 11ª RPM (sediada em Montes Claros e responsável pelo
130

Norte de Minas), aparecem na sequência com seis participações cada uma. A 3ª RPM
(sede em Santa Luzia) e a 7ª RPM (sede em Divinópolis) contribuíram com cinco
participações cada. Quatro comandantes participaram da pesquisa pela 4ª RPM (sede
em Juiz de Fora), pela 5ª RPM (sede em Uberaba), 8ª RPM (sede em Governador
Valadares) contaram com a participação de quatro comandantes cada, a 14ª RPM
(sede em Curvelo), a 15ª RPM (sede em Teófilo Otoni), a 17ª RPM (sede em Pouso
Alegre). Três comandantes participaram pela 6ª RPM (sede em Lavras), a 9ª RPM
(sede em Uberlândia) e 18ª RPM (sede em Poços de Caldas). Dois participantes
participaram da 13ª RPM (sede em Barbacena) e 19ª RPM (sede em Sete Lagoas).
Por fim, a 10ª RPM (sede em Patos de Minas) e 16ª RPM (sede em Unaí), cada uma
com um respondente.

5.1.2 Percepção quanto ao patrulhamento preventivo e utilização de cartão-


programa como ferramenta para planejamento de rotas de policiamento
preventivo

As respostas quanto ao grau de importância patrulhamento preventivo e utilização de


cartão-programa como ferramenta para planejamento de rotas de policiamento
preventivo, constam dos Gráficos a seguir:

Gráfico 2 – Percepção quanto ao patrulhamento preventivo como ferramenta eficiente


para prevenção criminal – Minas Gerais - 2022
70 64
60
50
Número de respostas

40
30
20
9
10 2
0 0
0
Nada Pouco Neutro Importante Muito
Importante Importante Importante
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.
131

Quanto ao nível de importância que patrulhamento preventivo tem em relação à


eficiência para a prevenção criminal, verificou-se que 85% dos respondentes (64
respondentes) indicaram que consideram muito importante, 12% (9 respondentes)
como importante e 2% (2 respondentes) como neutro. A pontuação auferida pela
escala Likert para a questão foi de 4,82, indicado um alto grau de concordância com
relação à assertiva. Cabe salientar que o modelo de gestão operacional por resultados
adotado na PMMG é norteado, entre outros, pelos seguintes pressupostos: “ênfase
preventiva e rapidez no atendimento” e “adequada distribuição de recursos e o
ordenamento dos processos de trabalho, por intermédio do patrulhamento produtivo
direcionado, e, portanto, não-aleatório” (MINAS GERAIS, 2019, pp. 46-47), logo, há
previsão normativa para que seja realizado o patrulhamento preventivo dirigido. As
respostas indicam que em sua grande maioria, os comandantes de UEOp apresentam
alinhamento com essas diretrizes institucionais.

Como forma de identificar o nível de importância com relação ao custo versus


benefício da atividade de patrulhamento preventivo, sendo custo considerado como
os ativos institucionais dedicados ao cumprimento do patrulhamento preventivo
dirigido e benefício considerados os resultados alcançados. Os dados constam do
Gráfico 3.

Gráfico 3 – Percepção quanto à relação custo x benefício do patrulhamento preventivo


dirigido – Minas Gerais - 2022
70 61
Número de respostas

60
50
40
30
20
10
10 4
0
0
Custo baixo x Custo baixo x Custo alto x benefício Custo alto x benefício
benefício alto benefício baixo alto baixo
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.
132

Conforme o Gráfico 3, os comandantes de UEOp participantes da pesquisa


consideram em sua maioria (61 respondentes ou 82%) que a atividade de
patrulhamento dirigido focado na prevenção criminal possui custo baixo e benefício
alto; 5% consideram que a atividade tem custo baixo e benefício baixo; 13%
consideram que tem benefício alto, mas com custo alto de execução. Depreende-se,
portanto, que a atividade além de ser considerada como muito importante, também
possui viabilidade de execução, não demandando altos custos de implementação.
Num cenário com reduções progressivas de efetivo policial (conforme citado na
introdução desta pesquisa, o efetivo de policiais militares da ativa nos últimos cinco
anos 2017-2019 sofreu uma redução de 15%, conforme dados da Primeira Seção do
Estado-Maior (MINAS GERAIS, 2022). Desta forma, é imperioso que haja uma
atividade que possua eficiência maior, ou seja, que alcance os resultados almejados
com mínimo de recursos empregados. E esta é a visão da maioria dos comandantes
de UEOp da PMMG para o patrulhamento dirigido preventivo também se encontra
assentada na previsão da DEGOp quanto ao planejamento das intervenções policiais:
“A racionalização do emprego de recursos humanos e materiais no policiamento são
fundamentais para a eficiência e eficácia das atividades, e deve ter por base
informações gerenciais de segurança pública [...]” (MINAS GERAIS, 2019, p. 43).

Gráfico 4 – Utilização do cartão-programa na UEOp – Minas Gerais - 2022

1%

Não
Sim

99%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.
133

Quanto à utilização de cartão-programa como uma ferramenta para elaboração de


rotas de policiamento preventivo, verifica-se por meio do Gráfico 4 que 99% dos
respondentes (74) indicaram que utilizam do cartão-programa e apenas uma Unidade
pesquisada (pertencente à 12ª RPM) não utiliza. Esta informação é relevante pois as
questões que são afetas aos critérios ou metodologias adotadas para a composição
do cartão-programa necessitam que esse instrumento seja empregado, logo, quanto
a essas questões específicas, serão consideradas apenas as respostas das UEOp
em que há utilização de cartão-programa, ou seja, 74 das 75 respostas válidas.

5.1.3 Percepção dos Comandantes de UEOp quanto aos elementos utilizados para
elaboração dos cartões-programa

Para esta subseção utilizou-se 74 das 75 respostas válidas, considerando-se que uma
UEOp não realiza o planejamento de rotas de policiamento por meio dessa
ferramenta.

A percepção do grau de importância dos dados de estatística criminal como elementos


fundamentais para a elaboração do cartão-programa consta no Gráfico a seguir:

Gráfico 5 – Percepção quanto ao uso de dados de estatística criminal como


fundamentais para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais -
2022
60 53
50
Número de respostas

40

30
19
20

10
0 0 2
0
Nada Pouco Neutro Importante Muito
Importante Importante Importante
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.
134

Conforme se vê pelo Gráfico 5, 72% dos respondentes (53) afirmaram considerar as


estatísticas criminais como elementos fundamentais para elaboração do cartão-
programa; 26% (19 respondentes) indicaram considerar importante e 2% (2
respondentes) indicaram ser este um elemento neutro. A pontuação pela escala Likert
para a questão foi de 4,69, indicado um alto grau de concordância com relação à
assertiva. A utilização de estatísticas criminais para elaboração de planejamento de
Policiamento de Pontos é uma das estratégias de implementação deste tipo de
policiamento (SHERMAN et al., 2014).

Outro aspecto que também se refere à infraestrutura para implementação de uma


estratégia de Policiamento de Pontos Quentes é o mapeamento criminal dos pontos
quentes. Considerando-se a disponibilidade de mapas de calor (Kernel) pelo Sistema
de Gestão Operacional da PMMG (SIGOP), foi questionado aos comandantes de
UEOp o nível de importância que eles atribuem à utilização deste recurso. As
respostas constam no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Percepção quanto à utilização de Mapa de Calor (Kernel) como


fundamental para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais - 2022

40
34
35
Número de respostas

30
25 23
20
14
15
10
5 1 2
0
Nada Pouco Neutro Importante Muito
Importante Importante Importante
Percepção

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme se vê, 46% dos respondentes (34) consideram o mapa de calor (Kernel)
como elemento fundamental para elaboração do cartão-programa; 31% (23
respondentes) indicaram considerar importante e 19% (14 respondentes) não se
135

posicionaram quanto a importância do mapa para elaboração de cartões-programa,


dois respondentes consideraram pouco importante e um nada importante. A
pontuação pela escala Likert para a questão foi de 4,16, indicado um alto grau de
concordância com relação à assertiva. Os resultados indicam que há uma
infraestrutura que dá suporte ao Policiamento de Pontos Quentes, tanto de dados de
estatística criminal quanto de mapeamento dos pontos quentes, o que está em
conformidade com as previsões teóricas (SHERMAN et al., 2014). Mais adiante no
trabalho, será avaliado se a técnica de mapeamento por meio do mapa de Kernel é a
mais adequada para análise do crime em nível micro, o que é um fator imprescindível
para o Policiamento de Pontos Quentes.

Um elemento que agrega o fator qualitativo às informações de estatística criminal é a


utilização de informações de Inteligência de Segurança Pública. O Gráfico 7 apresenta
a percepção dos comandantes de UEOp quanto a este elemento para elaboração do
planejamento do policiamento dirigido por meio de cartões-programa.

Gráfico 7 – Percepção quanto à inteligência de segurança pública como fundamental


para elaboração de cartão-programa – Minas Gerais - 2022
50 47
45
40
Número de respostas

35
30 25
25
20
15
10
5 2
0 0
0
Nada Pouco Neutro Importante Muito
Importante Importante Importante
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

As informações de inteligência representam a análise qualitativa que complementa a


análise quantitativa realizada por meio de estatísticas e mapas criminais. 64% do
público pesquisado (47 comandantes) indicou que considera a inteligência de
136

segurança pública como sendo um elemento muito importante para a elaboração de


cartões-programa. 34% (25 respondentes) afirmaram ser um elemento importante e
dois não se posicionaram quanto a importância da inteligência para o planejamento
de rotas de policiamento. A pontuação da escala Likert para a questão foi de 4,61
indicando uma forte concordância em considerar a inteligência como elemento
importante no processo.

Percebe-se que a percepção dos comandantes de UEOp está em consonância com


o pensamento institucional da PMMG. O Memorando nº 30.041.2/18-CG faz
referência à necessidade de aliar as análises quantitativas às qualitativas, por meio
da Inteligência de Segurança Pública, para elaboração dos cartões-programa:

A associação de tais elementos com a Inteligência de Segurança Pública


permitem o direcionamento das ações e operações desenvolvidas pela
atividade-fim da Instituição, permitindo ao gestor a identificação e localização
dos problemas de Segurança Pública; o emprego racional tanto dos recursos
humanos como logísticos; a execução de atividades de
fiscalização/supervisão de forma direta e específica; o monitoramento dos
resultados; a realização do acompanhamento geral e específico dos serviços;
dentre outras (MINAS GERAIS, 2018).

A DGEOp também traz o elemento da Inteligência de Segurança Pública como


pressuposto do modelo de gestão operacional por resultados na PMMG, que é
norteado pelos seguintes pressupostos desejáveis para a atividade-fim:

[...]
c) acompanhamento da evolução da violência, criminalidade e características
socioeconômicas dos municípios, com uso do geoprocessamento e de
indicadores estatísticos de segurança pública, e produção de
conhecimentos no campo da Inteligência de Segurança Pública;
[...]
p) Policiamento Orientado pela Inteligência de Segurança Pública [...]
(MINAS GERAIS, 2019, pp. 46-47, grifo nosso).

Passando-se especificamente ao cerne do que compõe a estratégia de Policiamento


de Pontos Quentes, questionou-se a percepção de importância atribuído pelos
comandantes a análise criminal em nível de microespaços. As respostas constam do
Gráfico 8 e Gráfico 9.
137

Gráfico 8 – Percepção quanto a análise Gráfico 9 – Percepção quanto aos


de incidência criminal em microespaços (quadras,
nível de microespaços praças, segmentos de
(quadras, praças, rua) como elementos
segmentos de rua) para fundamentais para
identificar os locais que elaboração de cartão-
concentram a maior parte programa
dos delitos
35 35
31
29
30 30
26 26

Número de respostas
Número de respostas

25 25

20 20
16
14 15
15

10 10

5 3 5 2
1
0
0 0

Percepção Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados
pesquisa. da pesquisa.

Os Gráficos 8 e 9 indicam o reconhecimento dos microespaços como locais que


concentram proporcionalmente a maior parte dos delitos, conforme abordado pela Lei
de Concentração dos Crimes de Weisburd (2015), e a percepção desses
microespaços como elementos fundamentais para elaboração dos planejamentos de
rotas de policiamento, premissa fundamental considerada na teoria de implementação
de estratégia de Policiamento de Pontos Quentes (SHERMAN et al, 2014).

Observou-se que há uma tendência de respostas para ambos os questionamentos.


Para as duas questões obteve-se exatamente a mesma pontuação pela escala Likert
(4,08 pontos), apresentando uma tendência favorável (considerando importante) em
relação às assertivas. Pelo Gráfico 8 vê-se que 77% dos respondentes reconhecem a
importância dos microespaços na análise de concentração criminal (35% muito
importante e 42% importante). Já com relação ao Gráfico 9, 55% dos respondentes
138

se manifestaram favoravelmente quanto à importância de considerarem os


microespaços para a elaboração de cartões-programa (39% muito importante e 35%
importante).

Conforme já abordado na Seção 2 deste trabalho, o conceito de ponto quente criado


como pressuposto teórico para a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes
considera a maioria dos crimes e desordens em locais públicos, em qualquer espaço
territorial, durante um ano ou mais, está concentrada em uma pequena fração de todos
os seus endereços ou segmentos de rua. Estes locais identificados devem receber
muito mais dosagem de patrulha que todas as outras porções territoriais dentro do
setor/distrito (SHERMAN et al., 2014).

Gráfico 10 – Percepção da análise de incidência criminal em nível de articulação


operacional (Batalhão, Companhia) como suficiente para elaboração de
policiamento de pontos quentes – Minas Gerais - 2022
30
25
25 23
Número de respostas

20

15 13
9
10
4
5

0
Nada Pouco Neutro Importante Muito
Importante Importante Importante
Percepção

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

O Gráfico 10 apresenta a percepção dos comandantes de UEOp quanto a suficiência


da análise criminal em nível de divisões territoriais definidas pela articulação
institucional. Conforme se vê, houve uma distribuição das respostas demonstrando
não haver uma tendência de padrão de pensamento quanto a este aspecto. Isso fica
melhore representado pela pontuação da escala Likert que obteve valor de 3,30,
portanto, indicando valor próximo da neutralidade. Conforme a teoria de Policiamento
139

de Pontos Quentes, as estratégias de policiamento de pontos quentes acarretam uma


mudança dos níveis de cometimento de crime a partir dos microespaços, para, a partir
deles, promoverem uma mudança geral das taxas de crimes. Ou seja, a dissuasão
regional é uma resposta do somatório de dissuasões locais (SHERMAN et al., 2014).
Desta forma, é imperioso que os gestores das Unidades de nível operacional tenham
domínio destes elementos conceituais que possam contribuir com o controle/redução
do crime nas suas áreas de responsabilidade territorial, partindo do nível micro até o
nível macro.

Verificados os aspectos de percepção quanto a importância dos elementos que


compõem o planejamento de patrulhamento dirigido preventivo, passa-se a investigar
a experiência prática das UEOp no que se refere à elaboração de cartões-programa.

5.1.4 Expertise das UEOp para elaboração dos cartões-programa

Para esta subseção utilizou-se 74 das 75 respostas válidas, considerando-se que uma
UEOp não realiza o planejamento de rotas de policiamento por meio da elaboração
de cartões-programa.

Gráfico 11 – Período de tempo em que é realizada a análise criminal para


atualização dos cartões-programa – Minas Gerais - 2022

Quinzenalmente
19% Mensalmente
24%

Bimestralmente
3%
Não há uma
periodicidade
definida
9%

Semanalmente
Mais de 1 vez por 27%
semana
18%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.
140

Conforme o Gráfico 11, observa-se uma pulverização de respostas quanto ao período


considerado como base para elaboração de cartões-programa. Dentre as respostas,
destacaram-se os períodos de uma semana (27% das Unidades), de um mês (24%
das Unidades), quinzenalmente (19% das Unidades) e análise de períodos inferiores
a uma semana (18%).

Do ponto de vista teórico, a identificação dos pontos quentes deve levar em


consideração períodos não inferiores a um ano (SHERMAN et al., 2014). Sendo
assim, a partir do momento em que se identificam os pontos quentes, a base de dados
pode ser usada por pelo menos um ano ou mais para medir e gerenciar a dosagem
de patrulha dentro dos limites.

Sherman et al. (2014) sustenta que períodos inferiores a um ano somente seriam
válidos para realização de policiamento preditivo, o que na visão dos autores, carece
de validações confiáveis.

Sobre esse aspecto, Sherman et al. (2014) ainda criticam o fato de que muitas
agências policiais mapeiam os pontos quentes com base em um período de tempo
muito curto, geralmente inferior a um ano. Para os autores, é improvável que o crime
seja concentrado ou previsível com períodos de tempo tão curtos. Pontos quentes de
longo prazo (com base em 1 ano ou mais) são unidades relevantes e confiáveis para
direcionar a dosagem extra de patrulha (SHERMAN et al., 2014).

Os períodos indicados pelos Comandantes de UEOp estão, pelos menos


parcialmente, em consonância com a normativa da PMMG para elaboração e cartões-
programa: “Os cartões-programa deverão ser atualizados, no mínimo,
quinzenalmente, sob coordenação das Seções de Emprego Operacional (P3), em
consonância com as frações das Unidades” (MINAS GERAIS, 2018, p. 2-3).
Entretanto, para a implementação de uma estratégia de Policiamento de Pontos
Quentes calcada nos pressupostos teóricos e sugere-se que o documento institucional
(Memorando nº 30.041.2/18-CG) seja revisto e atualizado.
141

Pesquisou-se sobre o tipo de mapeamento realizado para o mapeamento criminal.


Conforme foi visto na Seção 3, diferentes tipos de mapeamento promovem níveis de
detalhamento das informações e permitem abstrações que podem contribuir/subsidiar
ou dificultar o planejamento de policiamento. Neste sentido, o impacto visual intuitivo
dos mapas de Kernel podem “mascarar” o fenômeno, pois a técnica cria uma
superfície de densidade incluindo-se os locais em que não houve nenhum evento o
que pode dificultar a localização precisa das ocorrências do fenômeno em estudo.

Gráfico 12 – Tipo de mapa de calor (Kernel) utilizado para análise


criminal – Minas Gerais - 2022

MapInfo QGIS
6% 1%
Outro
11%

Nenhum
1%

Disponível no
SIGOP
50%

Power BI
31%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 12, buscou-se identificar qual o mapa de Kernel a UEOp utiliza,
sendo a metade das Unidades usuárias do mapa disponível no Sistema de Gestão
Operacional (SIGOP) da PMMG, disponibilizado via Intranet PM. Na sequência, tem-
se o Power BI como ferramenta utilizada pela UEOp para mapeamento dos crimes,
ferramenta que tem se tornado popular, notadamente em âmbito da PMMG,
posicionando-se na segunda preferência de utilização dentre os respondentes. Por
fim, foram citados o MapInfo e o QGIS. Caso a PMMG opte por realizar mapeamento
de pontos quentes por meio de segmentos de rua é importante que a ferramenta esteja
o mais próximo possível do público usuário, preferencialmente via Intranet PM.
142

Considerando-se que um elemento-chave da estratégia de Policiamento de Pontos


Quentes é a dissuasão do infrator, é necessário que a alocação do policial seja precisa
no que tange ao local e horário empregado e suas variáveis conceituais apresentadas:
frequência, dosagem e intermitência, principalmente (SHERMAN et al., 2014). Desta
forma, a partir do mapeamento criminal, os pontos quentes devem promover a escolha
minuciosa dos itinerários e pontos-base, sendo que estes últimos são os locais que
receberão o incremento de policial por um tempo maior.

A percepção dos comandantes de UEOp quanto à definição dos locais de pontos-


base consta do Gráfico 13.

Gráfico 13 – Percepção quanto a aleatoriedade da definição de pontos-base nos


cartões-programa da UEOp

70
63
60
Número de respostas

50

40

30

20

10 6
1 2 2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 13, verifica-se que a prática das Unidades é a alocação do


policiamento em pontos-base pré-definidos e não aleatórios. A ampla maioria dos
respondentes 85% (63 respondentes) indicaram não definir os pontos-base de
maneira aleatória. A pontuação de Likert para esta questão foi de 1,30, apresentando
quase que uma discordância total com relação à assertiva. Salienta-se ainda que o
patrulhamento não aleatório é uma premissa da gestão operacional para resultados
adotada pela PMMG: “adequada distribuição de recursos e o ordenamento dos
processos de trabalho, por intermédio do patrulhamento produtivo direcionado, e
143

portanto, não-aleatório”, conforme previsto na DGEOp (MINAS GERAIS, 2019, p. 47)


e também presente no Memorando nº 30.041.2/18-CG que regula a elaboração do
cartão-programa:

O policiamento orientado para a solução de problemas, estratégia conhecida


mundialmente na prevenção criminal, e metodologias analíticas diagnósticas
e de gestão como o SARA (modelo IARA), diagrama de causa e efeito,
diagrama 5W2H, dentre outras, apontam para o patrulhamento dirigido, em
contraposição a modalidade aleatória (MINAS GERAIS, 2018).

Dentre questões elementares para realização do Policiamento de Pontos Quentes


tem-se a dosagem, que é definida como o tempo total de presença policial dedicada
a um ponto quente com visibilidade para todos os infratores potenciais presentes no
local (SHERMAN et al., 2014).

Conforme os resultados do trabalho de Koper (1995) revelam, os pontos-base devem


atingir uma dosagem limite de cerca de 10 minutos para gerar uma dissuasão residual
significativamente maior do que a gerada pela simples condução por um ponto quente.
Os modelos mostraram que dentro de uma faixa de dosagem de 20 minutos, a
duração ideal para presenças policiais é de cerca de 14 a 15 minutos.

Assim, conforme pressuposto teórico proposto por Koper (1995), o tempo mínimo para
promover uma dissuasão residual é 10 minutos e o máximo de 15 minutos. Este
intervalo deve ser considerado, devido a necessidade de otimização dos recursos
empregados para o serviço preventivo.
144

Gráfico 14 – Tempo de ponto-base e patrulhamento por hora de


serviço dedicado – Minas Gerais - 2022
30 min. de ponto-
base e 30 min. de
patrulhamento
19%

Não há um critério
ideal para estes
quesitos.
20 min. de ponto- 10%
base e 40 min. de
patrulhamento
10 min. ponto-base
54% e 50 min. de
patrulhamento
5%

15 min. de ponto-
base e 45 min. de
patrulhamento
12%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme Gráfico 14, 54% das UEOp consideradas no estudo utilizam um tempo de
ponto-base de 20 minutos, 19% das UEOp utilizam a dosagem de 30 minutos
(excessiva), 12% utilizam o período considerado ideal de 15 minutos e 5% utilizam um
período de 10 minutos. O restante (10%) dos respondentes indicou não haver um
critério para definição de pontos-base.

Depreende-se, portanto, que há um potencial de melhoria na definição de um padrão


de dosagem para o Policiamento de Pontos Quentes na PMMG. O Memorando nº
30.041.2/18-CG traz em seu bojo que “O cartão-programa indica os locais dos postos
de policiamento, o itinerário a ser percorrido e os horários a serem observados. Seu
cumprimento obriga o policial militar a permanecer, por determinado período, em
certos postos de policiamento” (MINAS GERAIS, 2018), entretanto, o documento não
traz o período em que o policial deverá permanecer em cada ponto-base.

No exercício de suas atividades, o policial militar emprega os conhecimentos


organizacionais definidos nas doutrinas de emprego operacional, bem como nas
normas administrativas que disciplinam a atividade policial. Não obstante, o
145

conhecimento tácito do policial é indissociável do conhecimento formal no momento


em que executa suas tarefas.

Desta forma, o conhecimento experiencial é um fator que influenciará o policial em


suas atividades profissionais. Entretanto, este conhecimento não deve ser a base
conceitual para elaboração de planejamentos de patrulhamento dirigido, por meio de
cartão-programa, considerando-se as limitações de informações e a necessidade de
suporte para processamento dos dados de forma a influenciar na melhor tomada de
decisão.

Segundo Sherman et al. (2014), a própria teoria de Policiamento de Pontos Quentes


prescreve que para compor uma estratégia de implementação deste tipo de
policiamento, tem-se como elemento fundamental a infraestrutura que, para o
policiamento de pontos quentes, refere-se à disponibilidade de dados precisos de
distrito por distrito (ou setor por setor), equipe por equipe (preferencialmente de
dispositivos GPS), para:

a) localizar onde os crimes ocorrem;


b) mapas mostrando os limites dos pontos quentes;
c) “cercas” geográficas desses limites em monitores GPS de agências policiais
que rastreiam viaturas e policiais e/ou equipes policiais;
d) gráficos mostrando quanto tempo de patrulha eles estão entregando em
tendências ao longo do tempo e comparações entre unidades; e
e) mapas criminais atualizados mostrando se novos crimes estão dentro ou fora
dos pontos quentes.

Na ausência dessas ferramentas, é muito difícil motivar ou até mesmo disciplinar os


policiais em apoio à concentração da dosagem de patrulha em pontos quentes
(SHERMAN et al., 2014). O Gráfico 15 traz a percepção dos comandantes de UEOp
sobre a experiência profissional e o conhecimento do local de atuação dos
responsáveis como base conceitual para elaboração dos cartões-programa.
146

Gráfico 15 – Percepção quanto a experiência profissional e o conhecimento do local


de atuação dos responsáveis como base conceitual para elaboração dos
cartões-programa – Minas Gerais - 2022
25 23
21
20
Número de respostas

15
15 13

10

5
2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme Gráfico 15, pelas respostas obtidas, há uma tendência de uma posição de
neutralidade (pontuação de Likert igual a 3,40), demonstrando não haver um
posicionamento claro quanto a questão apresentada. Assim, depreende-se que há
necessidade de enfatizar os aspectos que compõem os insumos para elaboração de
planejamento de pontos quentes, conforme descritos por Sherman et al. (2014), não
ficando o planejamento adstrito apenas ao conhecimento intrínseco dos policiais
responsáveis por sua elaboração.

Reconhecendo-se, portanto, a previsão teórica de necessidade de infraestrutura


informacional de apoio à tomada de decisão como uma estratégia de implementação
de Policiamento de Pontos Quentes, questionou-se aos comandantes de UEOp se
são utilizados recursos computacionais algoritmos ou softwares específicos para
criação de rotas de policiamento. Os resultados constam do Gráfico 16.
147

Gráfico 16 – Utilização de recursos computacionais como


algoritmos ou softwares específicos para criação de
rotas de policiamento – Minas Gerais - 2022

Sim
19%

Não
81%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

O Gráfico 16 representa a utilização de recursos computacionais para a elaboração


de planejamento de rotas de policiamento. Conforme se observa, 81% das UEOp não
utilizam nenhum recurso específico e apenas 19% das UEOp utilizam. A partir dessa
constatação, buscou-se identificar quais recursos computacionais são utilizados como
suporte para elaboração e cartões-programa.

Na sequência, foi solicitado aos respondentes que indicassem os recursos


computacionais utilizados para a confecção dos cartões-programa. Os resultados
foram sintetizados na nuvem de palavras presente na Figura 35 a seguir.
148

Figura 35 – Nuvem de palavras para os recursos indicados pelos respondentes

Fonte: Elaborado pelo autor em WordArt Create (online55) a partir dos dados da pesquisa.

Apenas 17 respondentes informaram os recursos que são utilizados para elaboração


dos cartões-programa. Destacou-se o Power BI com sete respostas, seguido pelo
Google Maps com três respostas e SIGOP com duas. As demais indicações
apresentaram apenas uma aparição (Excel, GEOSITE, Mapa Cad, My Maps, QGIS)
(FIGURA 35).

Observa-se que nenhum dos recursos indicados é hábil para elaboração de cartões-
programa para automatizar o processo, pois demandaria aplicações específicas como
algoritmos que operem soluções de roteamento, como por exemplo, o apresentado
no trabalho de Faria, Alves e Barroso (2015), no qual foi utilizado o pacote de soluções
Network Analyst, contido no software ArcGis. Este é mais um potencial de melhoria
no processo de elaboração de cartões-programa que demandaria uma definição de
solução adequada, treinamento de usuários para posterior padronização.

A Tabela 3 condensa as informações sobre a frequência de utilização dos recursos


para elaboração dos cartões-programa:

55 https://wordart.com/create
149

Tabela 3 – Frequência de utilização de recursos para elaboração de cartões-programa

Informações de

Mapas de calor
Conhecimento

Residência de
Microespaços
de incidência
Google Maps
Inteligência

Experiência
profissional
Frequência

do local de
estatística

(kernel )
atuação
criminal

criminal
Dados

alvos
Nunca 0% 0% 0% 0% 3% 0% 1% 1%
Raramente 0% 0% 0% 1% 0% 11% 4% 1%
Às vezes 0% 1% 12% 14% 12% 15% 14% 24%
Frequentemente 12% 26% 24% 34% 35% 26% 45% 39%
Muito frequentemente 88% 73% 64% 51% 50% 49% 36% 34%
Pontuação Likert 4,88 4,72 4,51 4,35 4,30 4,12 4,11 4,03
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme a Tabela 3, pela polarização das respostas, há uma tendência de que os


itens indicados sejam apontados como utilizados com frequência ou alta frequência,
conforme extrai-se das pontuações do Likert para cada item. Todos os quesitos
tiveram pontuação superior a quatro pontos.

Após concluir a análise de percepções e práticas adotadas pelos comandantes de


UEOp da PMMG na elaboração de patrulhamento preventivo dirigido, a sequência de
pesquisa foi realizada para coletar aspectos conceituais sobre a teoria que sustenta o
Policiamento de Pontos Quentes.

5.1.5 Percepção quanto aos aspectos conceituais que compõem a teoria de


Policiamento de Pontos Quentes

Na sequência das análises, coletou-se as percepções dos comandantes de UEOp


quanto aos conceitos-chave do Policiamento de Pontos Quentes. Foram consideradas
todas as respostas obtidas (75 respondentes), incluindo-se as respostas da UEOp em
não se realiza o policiamento dirigido por meio de cartões-programa, uma vez que o
objetivo das questões foi captar a compreensão e adesão aos conceitos que
compõem a teoria, independentemente de serem ou não aplicados à prática.
150

Gráfico 17 – Percepção de que quanto maior for a frequência de pontos-base num


determinado ponto quente (nº de vezes em que é visitado), mantendo-
se inalteradas outras variáveis como o tempo de realização, maior será
a dissuasão de um eventual infrator que esteja motivado a cometer um
crime naquele local – Minas Gerais - 2022
30
26
25
Número de respostas

21
20

15 12 13

10

5 3

0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

O Gráfico 17 contém a representação das respostas quanto à percepção dos


Comandantes de UEOp sobre a frequência de realização de policiamento nos pontos
quentes. A previsão teórica é de que, quanto mais frequentes forem as visitas de
policiais uniformizados a cada ponto quente mais dissuasão inicial e residual cada
ponto quente experimentará (SHERMAN et al., 2014). Os posicionamentos dos
comandantes pesquisados foram em uma tendência de concordância (77% de
respostas com concordo parcialmente ou concordo totalmente). Entretanto, pela
pontuação da escala Likert obteve-se um resultado de 3,78, o que representa uma
tendência de neutralidade para concordância dos comandantes com relação a este
aspecto.

Outro ponto chave da teoria é a dosagem de policiamento (tempo de permanência do


policial em um ponto quente). A percepção dos comandantes sobre esse conceito
consta no Gráfico 18.
151

Gráfico 18 – Percepção de que quanto maior for o tempo de ponto-base a cada ponto
quente, maior será a dissuasão inicial causada por cada visita, até o
ponto em que a os efeitos da dissuasão caem
35
29
30
Número de respostas

25
20
20 17
15
10 8

5
1
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme se vê, a percepção dos comandantes de UEOp pesquisados foi em média


de concordância em relação a este aspecto, porém com tendência de neutralidade. O
resultado da pontuação Likert para esta questão foi 3,76. A previsão teórica é de que,
quanto mais longa for a visita de policiais uniformizados a cada ponto quente, maior
será a dissuasão inicial causada por cada visita, até o ponto de decadência da
dissuasão (SHERMAN et al., 2014), assim, pode-se depreender que a falta de domínio
conceitual sobre essa questão corrobora com a resposta sobre o tempo de ponto-
base e de patrulhamento (GRÁFICO 14) em que se observou que não há um
consenso sobre o tempo de permanência do policial em cada ponto-base: 54% das
UEOp utilizam um tempo de ponto-base de 20 minutos, 19% das UEOp utilizam a
dosagem de 30 minutos, 12% utilizam o tempo de 15 minutos e 5% utilizam um
período de 10 minutos, os demais 10% dos respondentes indicaram não haver um
critério para definição de dosagem para o pontos-base.

Além da dissuasão inicial há um conceito diretamente relacionado a ele, que é


dissuasão local. Assim, foi questionado aos comandantes quanto a sua percepção em
relação ao conceito da dissuasão local, conforme Gráfico 19.
152

Gráfico 19 – Percepção de que quanto maior a proporção do tempo total em que a


polícia está visivelmente presente em um ponto quente, menos
frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto quente,
especialmente durante as horas de maior incidência criminal
40 37
35 33
Número de respostas

30
25
20
15
10
5 2 3
0
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme a teoria de Policiamento de Pontos Quentes, a dissuasão local prevê que,


quanto maior a proporção do tempo total em que a polícia está visivelmente presente
em um ponto quente, menos frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto
quente, especialmente durante as horas de maior crime (SHERMAN et al., 2014). De
acordo com o Gráfico 19, 93% dos comandantes de UEOp indicaram concordar com
a assertiva, 4% não se posicionaram a respeito e 3% se manifestaram contrariamente.
A pontuação Likert foi 4,46, demonstrando a tendência de os gestores do processo de
policiamento apresentarem uma adesão às proposições teóricas sobre os efeitos da
dissuasão local promovida pelo Policiamento de Pontos Quentes.

Na sequência lógica da construção do conhecimento sobre a teria de Policiamento de


Pontos Quentes, questionou-se os comandantes sobre suas percepções sobre o
conceito de dissuasão residual.
153

Gráfico 20 – Percepção quanto aos efeitos do ponto-base realizados pelos policiais a


cada ponto quente, se propagam por um determinado tempo (dissuasão
residual) após o término de cada visita, até um determinado ponto
35
29
30
Número de respostas

25
20
20 17
15
10 8

5
1
0

Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme a teoria de Policiamento de Pontos Quentes, a dissuasão residual prevê


que, quanto mais longa for a visita de policiais uniformizados a cada ponto quente,
maior será a dissuasão residual causada após o término de cada visita, até o ponto
de retornos decrescentes (SHERMAN et al., 2014). O Gráfico 20 aborda o domínio
conceitual dos comandantes sobre este conceito, 77% dos comandantes de UEOp
indicaram concordar com a assertiva e 23% não se posicionaram a respeito, a
pontuação Likert para a assertiva foi de 4,14. Assim, há uma tendência de os gestores
do processo de policiamento apresentarem uma adesão às proposições teóricas
sobre os efeitos da dissuasão residual promovida pelo Policiamento de Pontos
Quentes.

Uma das justificas para o enfoque no policiamento de microespaços é de que os


efeitos produzidos pelo incremento de policiamento dos locais mais problemáticos
dentre uma determinada unidade de análise (Setor, Distrito, etc.) se propagam para
contribuir com a redução das taxas gerais de crimes nesses locais. O Gráfico 21
apresenta a percepção dos comandantes de UEOp da PMMG sobre essa concepção.
154

Gráfico 21 – Percepção de que quanto maior o efeito de dissuasão local criado pelas
patrulhas de pontos quentes, maior o efeito de dissuasão regional (na
área de toda a Unidade por exemplo)
40 36
35
Número de respostas

30
25 23
20
15 13
10
5 1 2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme a teoria de Policiamento de Pontos Quentes, a dissuasão regional prevê


que, quanto maior o efeito de dissuasão local criado pelas patrulhas de pontos
quentes, maior o efeito de dissuasão regional (SHERMAN et al., 2014). De acordo
com o Gráfico 21, 79% dos pesquisados indicaram que concordam com esta previsão
teórica, 17% não se posicionaram e apenas 4% apresentaram discordância. A
pontuação da escala Likert foi de 4,09 apresentando uma tendência de concordância
do público pesquisado.

A justificativa teórica para que a dissuasão local do infrator se traduza em dissuasão


regional está nos efeitos que o deslocamento do criminoso provoca em termos da
redução de sua “produtividade criminal” (difusão de benefícios), pois do contrário,
haveria apenas mudança dos locais de pontos quentes, o que na prática não tem sido
observado pelos trabalhos empíricos (SHERMAN et al., 2014). A percepção dos
comandantes de UEOp sobre os efeitos do deslocamento e dissuasão do infrator
constam no Gráfico 22.
155

Gráfico 22 – Percepção de que é provável que o deslocamento do ofensor (provocado


pela dissuasão decorrente do policiamento de pontos quentes) para o
cometimento de crimes em outro local provoque uma menor
produtividade no cometimento de crimes, se comparado com a sua ação
no local em que está habituado
40
34
35
Número de respostas

30 27
25
20
15 11
10
5 2 1
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Sobre o conceito de difusão de benefícios, cuja previsão e de que é provável que o


deslocamento do ofensor (provocado pela dissuasão decorrente do policiamento de
pontos quentes) para o cometimento de crimes em outro local provoque uma menor
produtividade no cometimento de crimes, se comparado com a sua ação no local em
que está habituado (SHERMAN et al., 2014). De acordo com o Gráfico 22, 81% dos
comandantes apresentaram concordância com o conceito. 15% dos comandantes não
se posicionaram sobre o conceito. 4% dos comandantes apresentaram discordância
com a afirmação teórica. A pontuação Likert foi de 4,16 de mostrando a posição de
concordância com o conceito.

Na sequência aborda-se questões práticas da aplicação conceitual. Nesse aspecto,


com relação ao conceito de intermitência, cuja previsão é de que, quanto maior a
variação na intermitência da presença policial em um ponto quente, maior a
imprevisibilidade objetiva de quando a polícia aparecerá em um ponto quente em um
determinado momento (SHERMAN et al. 2014), tem-se a percepção dos comandantes
de UEOp no Gráfico 23.
156

Gráfico 23 – Percepção de que quanto maior a variação da presença policial


(intermitência) em um ponto quente, maior a imprevisibilidade objetiva
de quando a polícia aparecerá em um ponto quente em um determinado
momento, o que tenderá a diminuir a atividade criminal no local
45
40
40
Número de respostas

35
30
25 22
20
15
9
10
5 3
1
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Os resultados da pesquisa indicam que 83% dos respondentes concordam em algum


nível com a existência da intermitência. 12% dos respondentes não se posicionaram
a respeito da assertiva e 5% dos respondentes posicionaram com discordância. O
resultado da pontuação Likert 4,10 demonstra a concordância com a proposição
teórica da aplicação do policiamento com emprego da intermitência.

Na sequência fez-se o questionamento para captar a percepção dos comandantes de


UEOp quanto ao impacto da imprevisibilidade objetiva (quando a polícia aparecerá
em um ponto quente em um determinado momento) e de incerteza (quando e por
quanto tempo a polícia aparecerá e permanecerá em um ponto quente) em termos da
frequência e gravidade dos crimes dentro de um ponto quente (SHERMAN et al.,
2014). As repostas constam no Gráfico 24.
157

Gráfico 24 – Percepção de que quanto maior a imprevisibilidade objetiva e a incerteza


percebida publicamente sobre quando e por quanto tempo a polícia
aparecerá e permanecerá em um ponto quente, menos frequentes ou
graves serão os crimes dentro desse ponto quente
40 38

35
Número de respostas

30
25
19
20
14
15
10
4
5
0
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme se vê no Gráfico 24, 76% dos respondentes concordam com a previsão


teórica de impacto da incerteza na frequência e gravidade dos crimes, 19% não se
posicionaram a respeito e 5% discordou parcialmente. A pontuação da escala Likert
4,01 demonstram que os comandantes concordam parcialmente com a assertiva, o
que indica uma necessidade de maior esclarecimento teórico para os gerentes do
processo sobre as previsões teóricas do impacto da incerteza do infrator de quando e
por quanto tempo o policiamento estará presente na dissuasão para o cometimento
de crimes.

A próxima questão aborda os efeitos do engajamento dos policiais na frequência e


gravidade dos crimes nos pontos quentes.
158

Gráfico 25 – Percepção de que quanto mais engajamento os policiais apresentarem


durante o tempo de patrulha em pontos quentes (conversas com a
população, paradas para revistar suspeitos, e realização de prisões, por
exemplo) menos frequentes e graves crimes serão os crimes nos pontos
quentes
50 47
45
40
Número de respostas

35
30
24
25
20
15
10
5 1 1 2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Sobre o impacto do engajamento dos policiais no trabalho realizado nos pontos


quentes em relação a influenciar negativamente na frequência e gravidade dos crimes
nos pontos quentes (SHERMAN et al. 2014), verificou-se que 94% concordam em
alguma medida com o pressuposto teórico, 3% não se posicionaram e 2%
discordaram em alguma medida. A pontuação Likert 4,60 indica uma concordância
preponderante com essa previsão.

Como último conceito a percebido pelos comandantes de UEOp, questionou-se sobre


a o impacto da legitimidade sobre a redução da frequência e gravidade dos crimes
nos pontos quentes.
159

Gráfico 26 – Percepção de que quanto mais legitimidade policial os policiais criarem


tratando todos os cidadãos de maneira respeitosa com procedimentos
justos durante as patrulhas em pontos quentes, menos frequentes e
graves serão os crimes nesses pontos quentes
50
45 43
40
Número de respostas

35
30
25 21
20
15
10 7
5 2 2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Com relação à influência da legitimidade do trabalho policial (tratando todos os


cidadãos de maneira respeitosa com procedimentos justos durante as patrulhas em
pontos quentes) sobre a redução da frequência e gravidade dos crimes nos pontos
quentes (SHERMAN et al., 2014), verificou-se que os comandantes, em sua maioria,
(85% dos respondentes) concordam com a teoria, 9% não se posicionou e 5%
discordam em alguma medida. A pontuação Likert foi 4,41 apresentando uma alta
concordância com a assertiva.

5.1.5 Potenciais de melhoria no processo na visão dos Comandantes de UEOp

Por meio do questionário, foram pesquisados potenciais de melhoria nos processos


de elaboração de planejamento para o patrulhamento dirigido. As questões visaram
extrair a percepção dos comandantes quanto à necessidade de padronização de
elaboração de cartões-programa, quanto a aspectos de coordenação e controle da
execução de patrulhamento preventivo e quanto ao nível de eficiência que os
planejamentos executados atingem. As respostas forma organizados nos Gráficos a
seguir.
160

A primeira questão verificada foi a visão dos comandantes de UEOp quanto a


implementação de cartões-programa a partir do mapeamento de pontos quentes por
segmentos de rua.

Gráfico 27 – Percepção de que uma metodologia padronizada para elaboração de


planejamento de patrulhamento preventivo por meio de cartões-
programa que permitisse identificar os segmentos de rua e as faixas de
horário que que concentram a maioria dos delitos, contribuiria para o
planejamento de emprego operacional
50 46
45
40
Número de respostas

35
30 25
25
20
15
10
5 3
0 1
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

De acordo com o Gráfico 27, na percepção de 95% dos comandantes de UEOp


pesquisadas uma metodologia que padronizasse a elaboração de planejamento de
patrulhamento preventivo por meio de cartões-programa que viabilizassem a
identificação dos segmentos de rua e as faixas de horário que que concentram a
maioria dos delitos, contribuiria para o planejamento de emprego operacional. 4% não
posicionaram quanto a esta demanda e 1% discordou parcialmente. A pontuação
Likert para a questão foi 4,61, representando que na visão dos comandantes há
necessidade de avançar institucionalmente quanto a um método de apoio para o
planejamento que seja focado na identificação dos segmentos prioritários e assim
alocar de maneira mais eficiente os recursos institucionais.
161

O próximo questionamento foi sobre o cumprimento dos planejamentos na visão dos


comandantes. Os resultados constam do Gráfico 28.

Gráfico 28 – Percepção de que a tropa da Unidade do respondente cumpre de maneira


fidedigna a previsão contida no cartão-programa
50 45
45
40
Número de respostas

35
30
25
20 16
15
9
10
4
5 1
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme foi visto na teoria, existe um problema de implementação, entre a


política/estratégia que é planejada e o resultado que é efetivamente aplicado, uma vez
que a atuação do agente do Estado envolve alguma medida de discricionariedade no
exercício de suas funções rotineiras. Assim, o comportamento dos agentes estatais é
somente até certo ponto guiado por normas, hierarquia e estrutura organizacional;
outra parcela considerável do trabalho e de suas decisões são delegadas em função
da própria natureza de suas funções (LIPSKY, 1980, 2010).

De acordo com o Gráfico 28, na percepção de 72% dos comandantes de UEOp


pesquisadas, a tropa sob seu comando cumpre de maneira fidedigna a previsão
contida no cartão-programa, destacando-se a concordância parcial com relação a esta
questão. Outros 21% dos respondentes não se posicionaram a respeito e 7%
manifestaram contrariamente à ideia de que o policiamento planejamento é fielmente
empregado na prática. A pontuação Likert 3,81 apresenta-se próximo de concordar
parcialmente com a afirmativa. Disso, pode-se identificar um potencial de utilização
de ferramentas que contribuam com a coordenação e controle das atividades de
162

patrulhamento, de maneira que além de um planejamento bem idealizado também


haja uma implementação adequada.

Ainda sobre a capacidade de coordenação e controle da atividade de patrulhamento


dirigido, foi questionado aos comandantes de UEOp se eles consideram que essa
atividade fácil de ser realizada com os recursos atualmente disponíveis. Os dados das
respostas constam no Gráfico 29.

Gráfico 29 – Percepção quanto a facilidade na supervisão do exato cumprimento do


cartão-programa por parte dos militares encarregados da coordenação
e controle dos turnos de serviço, bem como dos escalões superiores.
40 37
35
Número de respostas

30
25
20 17
15 12
10 7
5 2
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente
Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Com relação à coordenação e controle do policiamento preventivo, verifica-se que


72% dos respondentes julgam que há facilidade de supervisão do cumprimento dos
cartões-programa.16% não se posicionaram a respeito da questão e 12% indicaram
que há dificuldade em supervisionar o cumprimento dos cartões-programa. A
pontuação Likert 3,85 indica uma posição entre a neutralidade e a concordância
parcial. Mais um indicativo de potencial para melhoria na coordenação e controle do
cumprimento do policiamento planejado.
163

Gráfico 30 – Percepção quanto aos cartões-programa na UEOp do respondente


serem os mais adequados no que se refere à eficiência56 a que se
propõe
35
30 31
30
Número de respostas

25
20
15 12
10
5 2
0
0
Discordo Discordo Neutro Concordo Concordo
totalmente parcialmente parcialmente totalmente

Percepção
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Procurou-se verificar a autoavaliação dos comandantes de UEOp no que se refere à


sua eficiência de planejamento de patrulhamento dirigido. 81% dos respondentes se
manifestaram em algum nível de concordância com essa questão. 16% não se
posicionaram e 3% discordaram parcialmente. A pontuação da escala Likert foi de
4,26 apresentando uma concordância parcial quanto ao questionamento.
Considerando a necessidade imposta pela constante redução de efetivo, há
necessidade de constante aprimoramento de eficiência, a fim de se alcançar os
objetivos do policiamento com mínimo emprego de recursos.

O último ponto analisado por meio do questionário foi se o respondente conhece a


estratégia de Policiamento de Pontos Quentes e se na sua percepção a PMMG
executa este tipo de policiamento. A análise consta da próxima subseção.

56 Cobrir o maior espaço de policiamento possível utilizando-se do mínimo de recursos possíveis com
a melhor rota possível (seguimentos de rua com maior incidência criminal nos horários de maior
concentração de eventos).
164

5.1.6 Conhecimento sobre a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes e


percepção se a Polícia Militar de Minas Gerais executa Policiamento de Pontos
Quentes

Por meio da análise do nível de percepção dos comandantes de UEOp da PMMG


acerca dos conceitos-chave da teoria de Policiamento de Pontos Quentes, é possível
inferir que há necessidade de difundir os tais conceitos de maneira a contribuir para a
internalização das variáveis a serem contempladas no planejamento e execução do
Policiamento de Pontos Quentes.

Apesar da constatação do não domínio conceitual, questionou-se diretamente aos


comandantes se eles têm conhecimento sobre o Policiamento de Pontos Quentes, os
resultados constam do Gráfico 31.

Gráfico 31 – Conhecimento sobre Policiamento de Pontos Quentes


Não
8%

Sim
92%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 31, 92% dos respondentes da pesquisa disseram conhecer a


estratégia de Policiamento de Pontos Quentes e 8% afirmaram não conhecer.
Entretanto, se forem analisados conjuntamente com as demais questões abordadas,
verifica-se que não há pleno domínio dos aspectos conceituais que compõem essa
estratégia. Assim, caso seja de interesse institucional da PMMG a adoção do
165

Policiamento de Pontos Quentes deve-se promover uma difusão dos conhecimentos


que compõem essa metodologia.

Gráfico 32 – Percepção se a PMMG utiliza da estratégia de


Policiamento de Pontos Quentes
Não
12%

Sim
88%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 32, a percepção de 88% dos respondentes é que a PMMG aplica
a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes enquanto 12% afirmaram que a
PMMG não utiliza. Conforme abordado nas questões anteriores, a PMMG não aplica
de maneira adstrita às previsões teóricas os pressupostos que contemplam a
estratégia de Policiamento de Pontos Quentes. Portanto, depreende-se novamente a
necessidade instrucional acerca da estratégia, caso seja interesse da Instituição
adotar esta modalidade de emprego.

Por fim, de maneira qualitativa, solicitou-se aos comandantes de UEOp que


fornecessem informações e conhecimentos que pudessem contribuir com relação ao
planejamento e a execução do policiamento preventivo por meio de patrulhamento
dirigido. As contribuições encontram-se organizadas no Quadro 3.
166

Quadro 3 – Contribuições com o conhecimento produzido sobre o planejamento e a


execução do policiamento preventivo por meio de patrulhamento dirigido
– Minas Gerais – 2022 (continua)

Informações do Comandante de UEOp pesquisado que possam contribuir com


Id RPM o conhecimento produzido sobre o planejamento e a execução do
policiamento preventivo por meio de patrulhamento dirigido
O policiamento de pontos quentes é uma metodologia nova; contudo, na PMMG tem
várias normas orientando para o policiamento em ZQC. Zona Quente de
7 14ª RPM
Criminalidade, pode ser entendido como pontos quentes, devendo atentar quanto a
espaço.
As dificuldades hoje existente (sic) na maioria das unidades é o baixo efetivo, não
8 12ª RPM
permitindo que as patrulhas consiga cumprir na íntegra os cartões programas.
No interior, o cartão-programa (sic) é cumprido quando não há atendimento de
ocorrência pelas RP [radiopatrulhas]. TM [Tático Móvel] tem sido um portfólio capaz
10 18ª RPM de atender o policiamento nos pontos quentes com vistas a reduzir a incidência
criminal. Na minha experiência, somente o PB [ponto-base] não produz resultado
efetivo, sem que o policial seja pro ativo.
A maior dificuldade em se cumprir os Cartões Programa ou patrulhamento dirigido é
a necessidade da GuRp [Guarnição de Radiopatrulhamento] está (sic) liberada para
realizar o patrulhamento contudo, com a demanda de atendimento de ocorrências,
13 8ª RPM
eventos, o tempo gasto em delegacias, sempre crescente e os recursos humanos
escassos fica dificultoso o cumprimento do patrulhamento preventivo de forma
rotineira e contínua para tornar mais efetiva a prevenção.
O policiamento por (sic) pontos quentes não é mto (sic) efetivo quando os números
de crimes são muito baixos. Temos frações na área da Unidade com meta zero de
17 11ª RPM
crimes violentos ou números muito próximos de zero, devendo assim serem
consideradas outras variáveis para confecção dos cartões programas.
Considerando a redução de efetivo, fica cada vez mais difícil debruçar sobre estudos
pormenorizados para elaborar o planejamento eficaz do cartão-programa (sic), na
forma que deveria ser. Por outro lado, se faz cada vez mais necessário elaborar
18 9ª RPM cartão-programa (sic) inteligente, dinâmico, que consiga atender a demanda
preventiva e potencializar a visibilidade policial. Portanto, entendo que ferramentas
tecnológicas seriam de grande importância para otimizar essa estratégia, dando mais
eficiência aos cartões programas.
A associação de outras ferramentas podem auxiliar neste tipo de policiamento, como
é o caso das câmeras de videomonitoramento (Olho Vivo, espelhamento de câmeras
comerciais e privadas), o policiamento unitário em centros comerciais em horários de
pico (grande fluxo), visto que o custo x benefício tem se tornado oneroso (custo com
manutenção de viaturas e dispêndio de efetivo para o cumprimento dos cartões
programas). Outro aspecto interessante é o fato de que uma estratégia bem
elaborada pode auxiliar no custo x benefício, visto que alguns pontos quentes podem
ser excluídos do trajeto dos cartões programas, devido ao uso dessas tecnologias de
monitoramento, o que a longo prazo tem reflexo direto na criminalidade. Além disso,
o uso de parcerias com a rede comercial e de vizinhos para o espelhamento de
25 18ª RPM câmeras de vigilância, bem como com Prefeituras, no uso de funcionários/servidores
no monitoramento qualificado de vias, bem como com o uso de viaturas do serviço
de trânsito em pontos estratégicos que visem a fiscalização de trânsito em pontos
quentes, com possível acionamento do aparato policial.
167
(continuação)
Informações do Comandante de UEOp pesquisado que possam contribuir com
Id RPM o conhecimento produzido sobre o planejamento e a execução do policiamento
preventivo por meio de patrulhamento dirigido
Atualmente a Unidade passa por dificuldades na implementação do policiamento
preventivo por meio do patrulhamento dirigido devido a redução do efetivo
operacional, sendo que alguns serviços já foram suprimidos e com o retorno das
atividades comerciais e expansão empresarial na área da Unidade, houve aumento
da demanda operacional e sobrecarga do atendimento. O Plantão Virtual para
recebimento de ocorrências também têm impactado significativamente na prestação
dos serviços, sendo recorrente filas de espera de viatura de inúmeras Unidades do
26 3ª RPM
Estado, chegando ocorrer espera de mais de 16 horas para recebimento de
ocorrências, impactando diretamente nos recursos lançados no turno, bem como nas
escalas seguintes, prejudicando assim a realização do patrulhamento dirigido devido
indisponibilidade do recurso. No interior ainda temos o problema de endereços
inválidos que acabam contaminando os mapas de calor pela falta de
georreferenciamento das ocorrências, no entanto, devido o (sic) controle efetivo dos
crimes violentos, há o controle efetivos dos locais de incidência.
Necessidade de criação de um algoritmo que consiga apresentar um cartão-
34 2ª RPM programa que contemple a relação incidência criminal, repetência criminal, horário e
principais corredores ou pontos quentes.
Há grande facilidade de patrulhamento nos Pontos Quentes, mas há também grande
dificuldade na realização de Pontos Base haja vista a alta demanda de atendimento
35 6ª RPM
de ocorrências policiais. Tudo será possível através das restrições de empenho, o
que tem sido raro face ao escasso efetivo.
Pontuar apenas que o não cumprimento de forma fidedigna do cartão-programa se
39 5ª RPM
dá em virtude de emprego para atendimento de ocorrências.
Saliento que, a carência de recursos logísticas e humanas (sic), são fatores
42 14ª RPM preponderantes para dificultarem uma maior eficiência e efetividade do policiamento
preventivo por meio de patrulhamento dirigido.
As ferramentas (mapas, gráficos, possibilidades de cruzamento de dados) do SIGOp
43 5ª RPM
precisam melhorar, para atender as necessidades da análise criminal das Unidades.
Cada vez mais necessitamos através de informações quantitativas e qualitativas
empregar os recursos disponíveis de forma precisa e inteligente levando-se em conta
45 7ª RPM
o horário, pontos, blocos ou localidades que haja maior demanda e que impactam
com a maioria dos crimes violentos principalmente roubos e HC.
A disponibilização do Cartão-programa em formato digital, por meio de link de acesso
e visualização no Google Maps, facilita a compreensão do executor, principalmente
aquele que não domina a área de atuação (recém-chegado, hipotecado, etc.).
52 2ª RPM
Por outro lado, as ferramentas tecnológicas disponibilizadas pelas instituição ainda
não fornecem plenas condições de confecção técnica do Cartão-programa (sic), bem
como da plena fiscalização do seu cumprimento.
54 2ª RPM Alinhar a ferramenta estatística com o conhecimento da inteligência.
Implementar a subsetorização favorece sobremaneira a gestão operacional da
56 4ª RPM
Unidade.
As viaturas TM tem que conhecer o planejamento feito no que se refere aos Pontos
65 1ª RPM
Quentes, para que elas possam contribuir cada vez mais com o objetivo proposto.
Acredito que um cartão-programa (sic) bem confeccionado, utilizando as ferramentas
66 19ª RPM pertinentes, aliado à aceitação e o convencimento da tropa, permitirá uma redução
considerável de crimes e aumentará a sensação de segurança pública.
O patrulhamento preventivo tem pouca influência na redução criminal em ZQC se não
tiver outras ações como planejamento de operações. O PB e o Cartão-programa são
ferramentas mais importantes e úteis na preservação da sensação de segurança do
67 9ª RPM que da prevenção como uma ferramenta eficiente. Isso significa dizer que o
balizamento do PB e Cartão-programa (sic) de ser mais voltado ao cidadão de bem,
à maior visibilidade em locais estratégicos e horários adequados, do que estritamente
ZQC.
168

(conclusão)
Informações do Comandante de UEOp pesquisado que possam contribuir com
Id RPM o conhecimento produzido sobre o planejamento e a execução do policiamento
preventivo por meio de patrulhamento dirigido
69 15ª RPM Efetivo diminuto.
Coloco como experiência exitosa o patrulhamento dirigido com comboio de viaturas
pelos pontos quentes, com sirenes e giroflex ligados, em sequência, as viaturas se
70 11ª RPM dividem em patrulhas a pé pela região estudada, realizando abordagens diversas
(pessoas, veículos, etc), enquanto as viaturas (neste momento somente com os
motoristas) continuam circulando a área e dando apoio a operação.
Dificuldade de implementação reside, principalmente, no efetivo reduzido, que
dificulta manutenção de policiamento lançado durante todos os turnos, em todos os
72 17ª RPM setores. O patrulhamento preventivo dirigido impede o lançamento empírico dos
recursos humanos e logísticos, bem como permite o fortalecimento do elo de
cooperação social.
O Planejamento e Execução do Policiamento Preventivo necessita obrigatoriamente
de um alinhamento perfeito com as estatísticas georreferenciadas. Nesse contexto,
nossa Instituição carece de ferramenta computacional específica para confecção de
cartões-programa. A criação do SIGOP constituiu um marco na análise e
73 5ª RPM planejamento operacional possibilitando um emprego efetivo dos recursos humanos
e logísticos voltados para a resolução do problema. A transcrição das informações do
SIGOP junto ao cartão-programa ainda é rudimentar, necessitando de um
investimento tecnológico a fim de facilitar essa confecção chegando até mesmo no
nível de fração destacada.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

A partir dos principais apontamentos dos comandantes de UEOp permite-se inferir


que:

a) há uma confusão conceitual entre pontos quentes e Zonas Quentes de


Criminalidade, sendo apontadas, por vezes, como sendo sinônimos
(respondente 7 e 67), o que não é uma verdade, conforme definição de Zona
Quente de Criminalidade prevista na Diretriz Geral de Emprego Operacional da
PMMG: “Todo local que, por sua característica e histórico do registro de
ocorrências policiais, apresente grande probabilidade de reincidência,
demandando emprego preventivo e repressivo direcionado e dedicado”
(MINAS GERAIS, 2019, p. 18);
b) vários comandantes apontaram a dificuldade de cumprimento do
patrulhamento preventivo dirigido devido ao baixo efetivo (respondentes 8,18,
25, 26, 42, 69, 72). Esta constatação reafirma a necessidade de estratégias
que otimizem os recursos empregados, ou seja, que haja menos recursos
capazes de cobrir um espaço territorial maior, o que pode ser obtido por meio
do Policiamento de Pontos Quentes;
169

c) outra questão apontada é a realidade de frações da Polícia Militar no interior


do Estado em que há uma taxa criminal muito baixa (respondente 17), o que
dificulta a priorização dos locais para o patrulhamento dirigido. Este ponto
carece de uma pesquisa específica a fim de analisar as diferentes realidades.
Lembra-se que, de acordo com a Lei de Concentração do Crime de Weisburd
(2014), independentemente do local há uma previsão de 1% dos segmentos de
rua concentrem 25% dos crimes e 5% dos segmentos de rua concentrem 50%
dos crimes;
d) foram apontadas necessidades tecnológicas que suportem o planejamento de
patrulhamento preventivo dirigido;
e) foi apontado diversas vezes a dificuldade de recursos exclusivos ao
patrulhamento preventivo, o que alia a escassez de efetivo à demanda de
atendimento de ocorrências (respondentes 10, 13, 26, 35, 39);
f) foi indicada a necessidade de melhoria nas ferramentas (mapas, gráficos,
possibilidades de cruzamento de dados) do SIGOp para atender as
necessidades da análise criminal das Unidades;
g) foi apresentada também demanda quanto às ferramentas tecnológicas
disponibilizadas pela instituição, as quais ainda não fornecem plenas condições
de confecção técnica do cartão-programa, bem como da plena fiscalização do
seu cumprimento;
h) indicada a necessidade de ferramentas tecnológicas que automatizem a
elaboração de cartões-programa.

[...] Instituição carece de ferramenta computacional específica para


confecção de cartões-programa. A criação do SIGOP constituiu um marco na
análise e planejamento operacional possibilitando um emprego efetivo dos
recursos humanos e logísticos voltados para a resolução do problema. A
transcrição das informações do SIGOP junto ao cartão-programa ainda é
rudimentar, necessitando de um investimento tecnológico a fim de facilitar
essa confecção chegando até mesmo no nível de fração destacada
(RESPONDENTE 73, 2022).

Pela análise conjuntural de todos os aspectos investigados nesta pesquisa de campo


percebe-se que a PMMG aplica parcialmente as estratégias que compõem o
Policiamento Pontos Quentes, havendo necessidade de mudanças em relação à
metodologia de planejamento e emprego operacional do policiamento preventivo nos
pontos quentes, por meio da aplicação dos pressupostos teóricos e a utilização de
170

recursos tecnológicos que melhorem aspectos do mapeamento disponibilizado


institucionalmente aos comandantes como subsídio para os seus planejamentos, bem
como soluções informatizadas que automatizem ao máximo a elaboração de rotas,
com aplicação de análise de grafos, por exemplo.

5.2 Análise da distribuição espacial dos crimes de Belo Horizonte: mapeamento


de pontos quentes

A base de dados de 2018 a 2021 (MINAS GERAIS, 2022b) utilizada para


processamento contou com:

a) 249.901 ocorrências de furtos;


b) 70.472 ocorrências de crimes violentos.

A partir da base inicial, foi realizada uma análise crítica, retirando-se os dados com
coordenadas inválidas e dados inconsistentes, permanecendo o banco de dados com:

a) 245.901 ocorrências de furtos;


b) 65.180 ocorrências de crimes violentos.

O erro amostral para os dados obtidos consta da Tabela a seguir:

Tabela 4 – Erro amostral para os dados validados no Banco de Dados da Pesquisa


Dados Dados Nível de Erro
Tipos de crimes
iniciais validados confiança amostral
Furtos 249.901 245.901 99% 0,03%
Crimes Violentos 70.472 65.180 99% 0,14%
(Furtos + Crimes Violentos) 320.373 311.081 99% 1,25%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Para o mapeamento por segmentos de rua e apreciação de concentração dos eventos


por essa unidade de análise, considerou-se a base de ruas do município de Belo
Horizonte com 57.382 trechos de via mapeados.
171

Tabela 5 – Erro amostral para os dados de segmentos de via mapeados


Dados Dados Nível de Erro
Tipos de crimes
iniciais validados confiança amostral
Furtos 249.901 207.160 99% 0,12%
Crimes Violentos 70.472 58.128 95% 5,42%
(Furtos + Crimes Violentos) 320.373 265.288 95% 2,50%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Para a identificação dos pontos quentes, foi realizado inicialmente a comparação dos
tipos de mapeamento.

5.2.1 Comparação entre métodos de mapeamento de pontos quentes

Primeiramente, analisou-se as possibilidades de mapeamento por técnica:


mapeamento de pontos, por densidade de Kernel, temático por quadrículas, hot spot
por trecho de vias. Para tanto, foi criado um mapa para cada tipo de técnica utilizando
de maneira exemplificativa os dados para os crimes de furto para o ano de 2021.
172

Figura 36 – Mapa de pontos para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021

Furtos 2021 – Representação por Dados Pontuais

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.


173

Figura 37 – Mapa de Kernel para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021

Furtos 2021 – Representação de incidência por superfície de estimativa de


densidade de Kernel

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.


174

Figura 38 – Mapa por quadrículas para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021

Furtos 2021 – Representação de incidência por quadrículas

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.


175

Figura 39 – Mapa por segmento de rua para crimes de furto - Belo Horizonte – 2021

Furtos 2021 – Representação de incidência por segmentos de rua

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.


176

Conforme os mapas das Figuras 36 a 39, pode-se realizar algumas ponderações


quanto a melhor forma de realização do mapeamento.

Verifica-se que o mapeamento por pontos (FIGURA 36) se torna inadequado, pois não
permite a identificação de pontos de concentração dos crimes, uma vez que há grande
volume de dados. Para realização de uma análise criminal que seja subsidie a
elaboração de planejamento de qualquer estratégia de policiamento, o mapa de
pontos não permitiria identificar qual a priorização de locais para receber policiamento
com maior intensidade. Este tipo de mapeamento seria viável para escalas maiores
(que cobrisse áreas menores), a fim de identificar possíveis correlações entre a
localização precisa dos eventos com o espaço representado. Além do exposto,
ressalta-se que o conjunto de dados, por contar com um grande volume de
ocorrências, indica visualmente a existência de uma falsa homogeneidade nos dados,
não permitindo identificar nesta escala os pontos de maior incidência criminal.

Com relação ao mapa de densidade de Kernel (FIGURA 37), verifica-se que há


formação de uma mancha que representa as diferentes probabilidades de se
encontrar um crime, o que torna a leitura do mapa muito intuitiva. Por exemplo, torna-
se nítida a concentração de crimes nas regiões centrais de Belo Horizonte: o
hipercentro de Belo Horizonte, em Venda Nova (porção Norte da cidade) e Barreiro
(porção a sudoeste), além das concentrações ao longo dos grandes corredores. Este
tipo de mapa é importante para análises iniciais, de cunho exploratório, pois as
inferências percebidas neste nível podem desencadear outras análises mais
específicas por meio de outras ferramentas de representação. Como subsídio
analítico para planejamento de policiamento, porém, o mapa de Kernel não permite
identificar os locais específicos que mereçam a dedicação de um policiamento dirigido,
uma vez que o “espalhamento” da mancha fornece uma impressão de que o espaço
é isotrópico, possuindo toda a área marcada uma determinada cor a mesma incidência
criminal, o que não é uma verdade.

Cabe destacar, ainda, que em um mapa de superfície de densidade de Kernel, as


áreas mapeadas são tratadas da mesma forma, não havendo diferenciação entre
177

quadras, eixos de vias, parques e outras características geográficas que possam


servir de apoio ao planejamento do policiamento.

O mapa temático de concentração de crimes por quadrículas (FIGURA 38), é uma


adaptação do mapa de Kernel, porém permite um detalhamento melhor que este, pois
as superfícies de concentração são definidas (no caso do mapa representado com
dimensões de 200 metros x 200 metros), evitando a superestimação de eventos em
locais onde não há incidência. Para o caso de ser utilizado numa análise criminal, o
mapa de quadrículas fornece a identificação fixa das áreas com as dimensões
especificadas (200 x 200) que são mais urgentes de policiamento. Por meio dessa
técnica também pode-se fazer comparações longitudinais (ao longo do tempo)
permitindo verificar a evolução do fenômeno em cada unidade espacial monitorada.

O mapa de quadrículas, entretanto, mostra-se mais indicado a estudos de caráter


temporal, uma vez que fornece uma base de análise fixa e em escala definida (a malha
de quadrículas). Assim como o mapa de Kernel, este método de representação não
permite diferenciar os diferentes obstáculos e características que compõem o espaço
urbano. Ressalta-se ainda a dependência deste tipo de análise à adoção de uma
escala de abordagem adequada (tamanho das quadrículas) a partir da qual todo o
conceito de vizinhança é construído.

O mapa de concentração por segmentos de rua (FIGURA 39), além de fornecer uma
visão geral da concentração dos eventos, também permite identificar, mesmo com a
escala para todo o município, os microespaços que concentram a incidência criminal,
apresentando-se como a melhor alternativa que, dentre as técnicas utilizadas,
viabilizaria o planejamento para alocação de recursos de prevenção e como subsídio
para elaboração de rotas de policiamento preventivo dirigido.

Assim, embora seja uma alternativa de modelagem mais trabalhosa e exigir mudanças
de escala no processo de agregação dos dados pontuais (ocorrências) aos dados
lineares (trechos de vias), esta abordagem se mostra muito apropriada ao
planejamento das atividades que reflitam na circulação pelas vias, como o
policiamento e o roteamento.
178

5.2.2 Identificação dos pontos quentes em Belo Horizonte e análise a partir da Lei de
Concentração do Crime

Com a finalidade de identificar os pontos quentes em Belo Horizonte dos crimes de


furto e crimes violentos, realizou-se o mapeamento por segmentos de vias para o
período de análise de 2018 a 2021.

Figura 40 – Mapa de furtos por segmentos de rua – Belo Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.


179

Por meio do mapa de concentração de furtos (FIGURA 40) verifica-se que, dos 57.382
segmentos, 29.139 segmentos (50,78% do total) não tiveram um crime de furto sequer
no período de 2018 a 2021; 8.429 segmentos (14,69%) tiveram apenas um furto no
período; 5.041 segmentos (8,78%) tiveram dois registros, 3.355 segmentos tiveram
(5,85%) três registros; 2.303 segmentos (4,01%) contaram quatro registros de furtos
no período, ou seja, média de um registro por ano. Assim, 84,12% dos segmentos de
rua de Belo Horizonte em um período de quatro anos tiveram uma média de um ou
menos registros de furto por ano. A seguir, a Tabela 6 demonstra o número de eventos
de furtos e a quantidade de segmentos de rua correspondentes.

Tabela 6 – Número de eventos de furto por quantidade de segmentos de rua–


Belo Horizonte – Acumulado 2018-2021
Quantidade de Percentual dos
Número de furtos
segmentos de rua segmentos
0 29.139 50,78%
1 8.429 14,69%
2 5.041 8,78%
3 3.355 5,85%
4 2.303 4,01%
5 1.687 2,94%
6 1.261 2,20%
7 899 1,57%
8 741 1,29%
9 566 0,99%
10 483 0,84%
>10 3.478 6,06%
Total 57.382 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

O padrão visual do mapa (FIGURA 40) indica uma concentração preponderante na


região do hipercentro da capital correspondendo aos 25% de segmentos com maior
incidência. A análise agregada de quatro anos impede que maiores inferências do
comportamento espacial do crime seja realizada, sendo assim, a análise específica
dos furtos em cada ano do período de análise, consta na próxima seção do trabalho.

Encerradas as considerações acerca da análise agregada dos furtos, a seguir tem-se


o mapa de concentração dos crimes violentos com dados agregados para o período
de 2018 a 2021.
180

Figura 41 - Mapa de crimes violentos por segmentos de rua – Belo


Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

O mapa de pontos quentes de crimes violentos (FIGURA 41) possui uma conformação
diferente do mapa de crimes de furto. Enquanto para o furto há uma concentração
exacerbada do fenômeno em um número diminuto de segmentos de rua que
conformam os segmentos que figuram como os 25% (cor vermelha no mapa) de maior
181

concentração, quase que todos localizados na região do hipercentro, o crime violento


apresenta uma distribuição de hot spots por quase toda a cidade.

Tabela 7 – Número de eventos de crimes violentos por quantidade de


segmentos de rua – Belo Horizonte – Acumulado 2018-2021
Quantidade de Percentual dos
Número de furtos
segmentos de rua segmentos
0 35.361 61,62%
1 9.931 17,31%
2 5.139 8,96%
3 2.768 4,82%
4 1.532 2,67%
5 880 1,53%
6 526 0,92%
7 304 0,53%
8 217 0,38%
9 147 0,26%
10 108 0,19%
>10 469 0,82%
Total 57.382 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

Verifica-se que há um número maior de ruas em que não houve crime violento no
período de quatro anos (35.361 para crimes violentos e 29.139 para os furtos).
Também há um número bem menor de segmentos em que houve mais de 10
ocorrências (469 para crimes violentos e 3.478 para os furtos). As estatísticas
criminais demonstram que há um número maior de ocorrências de furtos, entretanto,
observa-se que há um comportamento do fenômeno criminal bem distinto para as
tipologias, o que leva à reflexão de que para empreender em medidas preventivas
para um tipo ou outro de crime, é necessário se realizar uma análise criminal
específica que subsidie um planejamento de intervenção particular e, no mesmo
sentido, medidas preventivas para um tipo de delito podem não ser adequadas para
o outro. Em analogia às ciências médicas, há um tratamento para cada tipo de doença.

A análise dos pontos quentes por ano consta na seção 5.2.2.2, mais adiante. A Figura
42, a seguir, apresenta os dados consolidados de crimes violentos e furtos.
182

Figura 42 - Mapa de crimes violentos e furtos por segmentos de rua – Belo


Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

A análise para ambas as tipologias de crimes apresenta que o aspecto do mapa


(FIGURA 42) aproxima-se do mapa de pontos quentes para o furto (FIGURA 40),
apesar disso, pode-se observar que também guarda certa similaridade com o de
183

crimes violentos (FIGURA 41) devido este fenômeno também ocorrer de maneira
concentrada, não se recomendando que seja realizada apenas a análise de uma
tipologia. A aproximação maior em relação ao mapa para os furtos reside no fato de
que há um número maior de ocorrências de furtos: 207.160 ocorrências de furtos e
58.128 ocorrências de crimes violentos, ou seja, há uma proporção de 3,56 furtos para
1 crime violento.

Apesar da relevância em termos absolutos dos crimes de furtos em detrimento dos


crimes violentos, a análise de ambas as tipologias conjuntamente para efeitos de
planejamento de rotas de policiamento pode ser relevante, pois o patrulhamento
dirigido é voltado para o nível de setor de policiamento. Assim, pode ocorrer que na
realidade específica dos setores, a quantidade relativa de eventos de crimes violentos
(principalmente do roubo que também possui características de comportamento
criminal predatório57 similar ao furto) determine uma rota que abarque essas
modalidades criminais conjuntamente.

Tabela 8 – Número de eventos de crimes violentos e furtos por quantidade de


segmentos de rua – Belo Horizonte – Acumulado 2018-2021
Quantidade de Percentual dos
Número de furtos
segmentos de rua segmentos
0 25.043 43,64%
1 7.540 13,14%
2 5.231 9,12%
3 3.769 6,57%
4 2.763 4,82%
5 2.257 3,93%
6 1.725 3,01%
7 1.367 2,38%
8 1.092 1,90%
9 846 1,47%
10 704 1,23%
>10 5.045 8,79%
Total 57.382 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

57 São crimes em que o infrator realiza uma caçada pela vítima ou alvo, agindo contra eles
intencionalmente. As formas mais comuns de crimes predatórios – estupro, roubo, assalto,
arrombamento, furto e roubo de automóveis – ocorrem com mais frequência em ruas urbanas
(SHERMAN; GARTIN; BUERGER, 1989a).
184

Destaca-se na Tabela 8 que no agregado de tipos de crime ao longo dos quatro anos,
43,64% dos segmentos não registraram sequer um evento de crimes violentos ou furto
e ainda, 77,28% dos trechos tiveram em média um ou menos crimes em quatro anos.
Essa constatação reforça a oportunidade para emprego de uma estratégia de
Policiamento de Pontos Quentes em Belo Horizonte.

5.2.2.1 Pontos de quentes de furtos em Belo Horizonte

A concentração de crimes de furto para os anos de 2018 a 2021, constam nos mapas
da Figura 43.
185

Figura 43 – Pontos quentes de furtos – Belo Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

A partir da visualização do mapa de distribuição por segmentos (FIGURA 43),


vislumbra-se uma manutenção da concentração dos crimes de furto ao longo do
período de análise, com os mapas por ano apresentando mesmas feições.
186

Complementarmente à visualização, descreve-se a concentração por meio do Gráfico


33:

Gráfico 33 – Concentração de furtos por segmento de rua – Belo Horizonte – 2018-


2021
35% 25% furtos 50% furtos 100% furtos
Percentual de segmentos de rua

29,07%
30% 27,84%
25,22% 26,17%
25%

20%

15%

10%

5% 2,42% 1,94% 2,36% 2,56%


0,31% 0,24% 0,35% 0,40%
0%
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 33, verifica-se que houve uma manutenção na concentração dos
furtos ao longo do período de estudo. Em termos dos trechos que concentraram 25%
dos segmentos mais ativos para os crimes de furto, houve uma média de 0,33% 
0,07% de segmentos ao longo do período; os trechos que concentraram 50% dos
furtos ocorreram em média de 2,32%  0,27% dos segmentos totais ao longo do
período e os trechos que concentraram 100% dos furtos ocorreram em média em
27,08%  1,72% dos segmentos de rua de Belo Horizonte. Assim observa-se uma
estabilidade muito alta em termos percentuais, representada pela média e desvio
padrão entre os percentuais de segmentos de rua que concentraram os crimes.

Estes resultados confirmam a aplicação da Lei de Concentração do Crime para o local


de estudo, sendo a previsão teórica de que 50% da criminalidade está concentrada
em 5% dos segmentos de rua e 25% do crime em apenas 1% dos segmentos de rua
(WEISBURD, 2015; WEISBURD; GROFF; YANG, 2012). Para o caso de Belo
Horizonte esta concentração foi ainda maior.
187

Ainda com a finalidade de se analisar a concentração dos crimes ao longo do período,


tem-se na Tabela 9 a quantidade relativa de segmentos de rua em que não houve
crime de furto registrado durante o ano, bem como a quantidade percentual de
segmentos em que houve uma quantidade determinada de eventos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,
8, 9, 10 ou mais de 10 registros.

Tabela 9 – Frequência de número de furtos por percentual


de segmentos correspondentes

Número de Percentual de segmentos de rua


eventos 2018 2019 2020 2021
0 70,93% 72,16% 74,78% 73,83%
1 14,42% 14,24% 13,55% 13,86%
2 6,05% 5,70% 5,14% 5,27%
3 2,89% 2,62% 2,26% 2,47%
4 1,58% 1,45% 1,27% 1,35%
5 0,99% 0,89% 0,67% 0,81%
6 0,62% 0,56% 0,51% 0,51%
7 0,45% 0,46% 0,33% 0,30%
8 0,31% 0,28% 0,26% 0,24%
9 0,25% 0,24% 0,17% 0,19%
10 0,23% 0,16% 0,12% 0,13%
>10 1,29% 1,24% 0,93% 1,04%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme a Tabela 9, os segmentos de rua estudados em que não houve furtos


representam entre 71% e 75% do total dos segmentos. Entretanto, percebe-se uma
quantidade significativa de segmentos com quantidade acima de 10 eventos: 738
segmentos em 2018, 710 segmentos em 2019, 536 em 2020 e 595 em 2021. Os
valores apresentaram uma estabilidade no período de análise.

5.2.2.2 Pontos de quentes de crimes violentos em Belo Horizonte

A concentração de crimes violentos para os anos de 2018 a 2021, constam nos mapas
da Figura 44 a seguir:
188

Figura 44 – Pontos quentes de crimes violentos – Belo Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Numa análise visual do mapa da Figura 44, verifica-se que há uma dispersão maior
da incidência de crimes por segmentos no primeiro ano de análise (2018), diminuindo
gradativamente ao longo dos quatro anos até assumir uma conformação mais
concentrada em 2021. Em todos os anos a região do hipercentro de Belo Horizonte
189

figura como destaque em termos da concentração de crimes. De forma a melhor


analisar a quantidade de segmentos que concentram os 25% do total de crimes
violentos (hot streets), 50% do total e o total de crimes, construiu-se o Gráfico 34:

Gráfico 34 – Concentração de crimes violentos por segmento de rua – Belo Horizonte


– 2018-2021

25% 25% crimes violentos


Perentual de segmentos de rua

22,71%
50% crimes violentos
20% 18,08% 100% crimes violentos

15% 12,82%
10,43%
10%
5,54%
4,59%
5% 3,66% 3,42%
1,56% 1,33% 1,04% 0,96%
0%
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 34, verifica-se que houve uma tendência de concentração dos
crimes violentos ao longo do período de estudo. Para todas as três faixas de análise
de concentração, houve diminuição do número de segmentos representando o
patamar de concentração (25%, 50% e 100% do total de crimes).

Em 2018, 1,56% dos segmentos eram responsáveis por 25% dos CV em Belo
Horizonte, este valor decresceu ao longo do período (1,33% dos segmentos
respondendo por 25% dos CV em 2019, 1,04% dos segmentos com 25% dos CV em
2020) até atingir o valor de 0,96% dos segmentos concentrando 25% dos CV em Belo
Horizonte no ano de 2021, no período houve média de 1,22%  0,28%. A
concentração de 50% dos eventos de crimes violentos ocorreu em média de 4,28% 
0,99% dos segmentos ao longo do período com menor valor de 3,42% em 2021 e
maior de 5,54% em 2018.
190

Os resultados desta pesquisa encontram similaridade se comparados ao trabalho de


Weisburd e Zastrow (2021) em Nova Iorque, cujos dados foram coletados em 2020:

a) a concentração de 25% dos crimes violentos em 2020 de 1,04% em Belo


Horizonte e 1,03% em Nova Iorque;
b) a concentração de 50% dos crimes violentos em 2020 foi de 3,66% em Belo
Horizonte e 3,70% em Nova Iorque.

Apesar de constituírem espaços de análise totalmente distintos, verifica-se a


amplitude de aplicação da lei de concentração de crimes de Weisburd.

Tabela 10 – Frequência de número de crimes violentos por


percentual de segmentos correspondentes

Número de Percentual de segmentos de rua


eventos 2018 2019 2020 2021
0 77,29% 81,92% 87,18% 89,57%
1 14,19% 12,65% 9,84% 8,43%
2 4,99% 3,45% 1,93% 1,40%
3 1,83% 1,05% 0,56% 0,31%
4 0,72% 0,37% 0,21% 0,12%
5 0,36% 0,21% 0,09% 0,06%
6 0,17% 0,12% 0,05% 0,04%
7 0,13% 0,06% 0,02% 0,02%
8 0,10% 0,04% 0,04% 0,02%
9 0,05% 0,02% 0,02% 0,01%
10 0,03% 0,02% 0,01% 0,01%
>10 0,15% 0,10% 0,04% 0,03%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

A frequência de CV por segmento, vide Tabela 10, reforçam o aspecto da


concentração de crimes, conforme Tabela 10. Enquanto são expressivas as
quantidades de unidades estudadas em que não houve crimes violentos (entre 77% e
90%), há uma parcela ínfima com proporções acima de 10 crimes registrados por ano:
,15% dos segmentos (85 unidades58) em 2019 como maior valor e 0,03% dos
segmentos (17 unidades59) em 2021 como menor valor.

58 Considerando-se o total de 57.382 segmentos em Belo Horizonte.


59 Considerando-se o total de 57.382 segmentos em Belo Horizonte.
191

5.2.2.3 Pontos de quentes de crimes totais (crimes violentos + furtos) em Belo


Horizonte

Figura 45 – Pontos quentes de CV e furtos – Belo Horizonte – 2018-2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.


192

Conforme os mapas constantes da Figura 45, verifica-se que há uma manutenção


visual da concentração dos crimes violentos e furtos por segmentos de rua em Belo
Horizonte ao longo do período de análise. Observa-se, no entanto, que o ano de 2020
há uma considerável diminuição de segmentos com registros de crime, o que pode
ser atribuído pelos impactos do distanciamento social promovidos pelas medidas
sanitárias e administrativas decorrentes da Pandemia de COVID-19 (FARIA; DINIZ;
ALVES, 2022).

Gráfico 35 – Concentração de crimes violentos e furtos por segmento de rua – Belo


Horizonte – 2018-2021

25% crimes violentos


Perentual de segmentos de rua

45% 50% crimes violentos


40% 38,21% 100% crimes violentos
35,13%
35% 30,81% 30,60%
30%
25%
20%
15%
10%
4,00% 3,05% 3,25% 3,23%
5%
0,56% 0,37% 0,47% 0,50%
0%
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Quando se analisa os dados agregados de ambas as tipologias (furtos e crimes


violentos), obtém-se uma grande estabilidade em termos da concentração ao longo
do período de análise (GRÁFICO 35). A concentração de 25% dos eventos ocorreu
em 0,56% em 2018, 0,37% em 2019, 0,47% em 2020 e 0,50% em 2021 (média de
0,48%  0,08%). Isso significa uma quantidade média de 273 segmentos
problemáticos, que merecem maior atenção da polícia para realização da prevenção
criminal. A concentração de 50% das ocorrências de furtos e de crimes violentos
ocorreram em 4,00% dos segmentos de vias em 2018, 3,05% em 2019, 3,25% em
2020 e 3,23% em 2021 (média de 3,38%  0,42%). Com relação aos segmentos que
concentraram a totalidade dos eventos, houve uma redução de 7,61% o que
193

representa uma diminuição de 4.367 segmentos de rua com incidência criminal


registrada.

Tabela 11 – Frequência de crimes violentos e furtos por


percentual de segmentos correspondentes

Número de Percentual de segmentos de rua


eventos 2018 2019 2020 2021
0 61,79% 64,87% 69,19% 69,40%
1 16,06% 15,98% 15,37% 15,53%
2 8,24% 7,73% 6,74% 6,45%
3 4,65% 3,77% 3,17% 3,13%
4 2,65% 2,26% 1,69% 1,62%
5 1,70% 1,36% 0,97% 1,03%
6 1,07% 0,91% 0,60% 0,63%
7 0,83% 0,60% 0,45% 0,39%
8 0,52% 0,44% 0,33% 0,29%
9 0,40% 0,30% 0,24% 0,23%
10 0,28% 0,20% 0,16% 0,15%
>10 1,80% 1,58% 1,10% 1,16%
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

De acordo com a Tabela 11, a análise da frequência de crimes por percentual de


segmentos demonstra que ao longo do período houve um aumento do número de
segmentos sem crimes, entretanto, houve um discreto aumento em 2021 se
comparado a 2020 dos trechos mais problemáticos (acima de 10 eventos/ano) de
1,10% dos segmentos ou 634 trechos de rua em 2020 para 1,16% dos segmentos ou
669 trechos de rua em 2021.

5.2.3 Mensuração da desigualdade de concentração de crimes por segmentos

Com a finalidade de se mensurar o nível de desigualdade entre as concentrações de


eventos por segmentos, foi calculado o coeficiente de Gini para os crimes de furto,
crimes violentos e crimes totais (TABELA 12).
194

Tabela 12 – Coeficientes de Gini para crimes de furto, crimes violentos e


crimes totais – Belo Horizonte – 2018-2021

Número de Número de Coeficiente de


Furtos
segmentos de rua Crimes Gini

2018 57.382 58.412 0,8801


2019 57.382 57.619 0,8905
2020 57.382 44.638 0,9141
2021 57.382 46.491 0,9064

Crimes Número de Número de Coeficiente de


Violentos segmentos de rua Crimes Gini

2018 57.382 23.116 0,7889


2019 57.382 16.455 0,8738
2020 57.382 10.516 0,9391
2021 57.382 8.041 0,9605

Furtos +
Número de Número de Coeficiente de
Crimes
segmentos de rua Crimes Gini
Violentos
2018 57.382 81.528 0,8345
2019 57.382 74.074 0,8679
2020 57.382 55.154 0,9058
2021 57.382 54.532 0,9076
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da pesquisa.

Usando esta abordagem (TABELA 12), encontrou-se evidências de concentração


muito forte para as três tipologias utilizadas na pesquisa. Para todos os crimes, o
coeficiente de Gini generalizado varia entre 0,84 e 0,91 ao longo dos quatro anos
estudados, para crimes violentos entre 0,79 e 0,96 e para crimes de furto entre 0,88 e
0,91. Esses dados indicam que os níveis de concentração na cidade são estáveis,
com tendência a maior concentração na atualidade, apesar das quedas de
criminalidade observadas.

Respeitando-se os critérios de comparabilidade, percebe-se certa similaridade com o


trabalho de Weisburd e Zastrow (2021), que encontrou para Nova Iorque resultados
similares: coeficiente de Gini entre 0,77 e 0,79 para todos os crimes; entre 0,81 e 0,84
para crimes violentos e entre 0,80 e 0,82 para crimes contra o patrimônio.
195

5.2.4 Estabilidade de Pontos Quentes no período de 2018 a 2021

Uma questão importante a se verificar é se, a despeito de variação da taxa geral de


crimes no período, os segmentos de ruas que eram pontos quentes em 2018
permanecem como pontos quentes em 2021. Verifica-se que no período de 2018 a
2021 houve uma redução de crimes de 23,53%, conforme apresentado no Gráfico 36
a seguir:

Gráfico 36 – Evolução do número de furtos – Belo Horizonte – 2018-2021


80.000
72.054
69.596
70.000

60.000 55.012
53.239
Número de Eventos

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SIGOP (2022).

Partindo da constatação de queda na criminalidade, resta uma questão: os segmentos


que eram hot spots em 2018 continuam sendo hot spots em 2021? Ou seja, há
estabilidade da condição de concentração por segmento, mesmo com a redução geral
de crimes?

Para responder a esse questionamento, categorizou-se cada dos segmentos de rua


por um status por ano:

a) entre os segmentos que concentraram 25% do total dos crimes (hot spots) do
ano;
b) entre os segmentos que concentraram entre 25% e 50% dos crimes;
196

c) entre os segmentos que concentraram entre 50% e 100% dos crimes (cold
spots);
d) entre os segmentos que não apresentaram crime.

Na sequência, foi construído um quadro comparativo, no qual se confrontou os anos


de 2018 (início do período de análise) com 2021 (fim do período de análise). Os
resultados desta análise demonstraram que houve uma estabilidade de 75,16% de
status dos segmentos por concentração de crimes de furto no período, ou seja, do
total de 57.382 segmentos de rua, 43.126 mantiveram o patamar de concentração dos
crimes. Assim, apesar da redução expressiva no número de eventos gerais no período
de 2018 a 2021 (GRÁFICO 36), verificou-se que cada segmento de rua em particular
manteve seu mesmo status de concentração de crime no período de 4 anos,
permitindo inferir que houve uma estabilidade expressiva dos hot spots neste período.

Com relação aos crimes violentos, o período de 2018 a 2021 verificou uma queda de
64,79% no índice de criminalidade violenta, conforme Gráfico 37:

Gráfico 37 – Evolução do número de crimes violentos – Belo Horizonte – 2018-2021


30.000 28.006

25.000

19.848
Número de Eventos

20.000

15.000 12.758
9.860
10.000

5.000

0
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SIGOP (2022).

Com relação aos crimes violentos, de maneira similar ao que foi observado quanto ao
crime de furto, houve uma manutenção de status quanto ao nível de criminalidade
para os crimes violentos para 73,73% dos segmentos de rua, representando uma
197

estabilidade dos pontos quentes no período de quatro anos. Apenas 26,27% dos
segmentos não mantiveram o mesmo nível de incidência por faixa (top 25%, entre
25% e 50%, entre 50% e 100% ou não tiveram nenhum crime no período) (GRÁFICO
37).

Em uma análise contemplando as duas tipologias de crimes considerados nesta


pesquisa (crime violentos e furtos) verifica-se que houve uma redução de 35,17% no
acumulado dos crimes, conforme representado no Gráfico 38:

Gráfico 38 – Evolução do número de crimes violentos e furtos– Belo Horizonte


– 2018-2021
120.000

100.060
100.000
89.444
Número de Eventos

80.000
65.997 64.872
60.000

40.000

20.000

0
2018 2019 2020 2021

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SIGOP (2022).

Na análise acumulada dos eventos (crimes violentos e furtos) observou-se que


também houve uma expressiva estabilidade dos pontos quentes, obtendo-se 72,32%
de manutenção dos níveis de incidência criminal por segmento de 2021 comparado a
2018.

Os resultados desta pesquisa sugerem uma estabilidade de pontos quentes ao longo


do período. Este achado corrobora com os resultados de Weisburd e Zastrow (2021)
em Nova Iorque, onde os autores para o período de 10 anos concluíram que em os
segmentos que em 2010 figuravam como “top 25% do crime”, quase metade (50%)
eram pontos quentes de alta criminalidade em 2020. Outros 45% das ruas passaram
198

da categoria mais alta de ponto quente para a segunda categoria (que produziu 25
%–50% do crime). Isso sugere que quase todas as ruas que foram pontos quentes,
como definido pelos pesquisadores em 2010, também foram pontos quentes em 2020.

Além do citado trabalho recente de Weisburd e Zastrow (2021), as descobertas do


trabalho seguem outros estudos anteriores sobre a estabilidade do crime ao longo do
tempo em unidades microgeográficas, como de Weisburd et al. (2004).

Os estudos pretéritos indicam possíveis fatores ambientais como razões para o crime
permanecer relativamente alto em pontos quentes, tais como: densidade populacional
ou áreas de compras que estão fortemente correlacionadas com o crime no local
(WEISBURD; ZASTROW, 2021; WEISBURD; GROFF; YANG, 2014).

As evidências encontradas reforçam a importância de manter os esforços de


prevenção ao crime em locais com características que os tornem continuamente
vulneráveis ao crime. Além da concentração espacial identificada, passa-se a
investigar a distribuição do crime ao longo do tempo (por dia da semana e por faixa
horária) a fim de verificar se o mesmo comportamento de concentração ocorre na
dimensão temporal.

5.2.5 Análise da distribuição temporal dos eventos (Burningtimes)

Considerando-se a importância também do aspecto temporal na análise de


concentração do crime, conforme abordado por Andresen e Malleson (2011),
descreve-se o perfil de distribuição dos eventos por faixa horária.

A Tabela 13, a seguir, apresenta a distribuição temporal dos eventos de furtos em


Belo Horizonte para o período de 2018-2021. Verifica-se que há uma concentração
dos eventos em faixas horárias e por dia da semana, o que pode ser atribuído às
atividades de rotina (tanto de vítimas quanto de autores), corroborando com a
literatura de base (COHEN; FELSON, 1979; ANDRESEN; MALLESON, 2011).
199

Tabela 13 – Distribuição Furtos por faixa horária – Belo Horizonte - 2018-2021


Dias da Semana
Faixa de horário TOTAL %
Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab
00:00 00:59 876 704 603 578 661 690 811 4.923 1,97%
01:00 01:59 880 626 474 546 581 575 725 4.407 1,76%
02:00 02:59 980 615 619 622 617 685 871 5.009 2,00%
03:00 03:59 856 633 604 590 619 661 773 4.736 1,90%
04:00 04:59 720 521 490 529 535 542 597 3.934 1,57%
05:00 05:59 618 519 495 501 519 543 559 3.754 1,50%
06:00 06:59 507 935 794 832 833 723 634 5.258 2,10%
07:00 07:59 668 1.872 1.531 1.515 1.515 1.390 913 9.404 3,76%
08:00 08:59 922 2.660 2.123 2.077 2.050 1.946 1.223 13.001 5,20%
09:00 09:59 996 2.347 2.059 2.011 1.933 1.897 1.361 12.604 5,04%
10:00 10:59 1.398 2.548 2.512 2.367 2.296 2.113 1.722 14.956 5,98%
11:00 11:59 1.279 2.168 2.172 2.174 1.957 1.927 1.582 13.259 5,31%
12:00 12:59 1.269 2.167 2.140 2.141 1.996 2.070 1.495 13.278 5,31%
13:00 13:59 1.096 1.993 1.964 1.889 1.849 1.794 1.475 12.060 4,83%
14:00 14:59 1.318 2.568 2.397 2.462 2.289 2.353 1.799 15.186 6,08%
15:00 15:59 1.459 2.665 2.561 2.470 2.334 2.401 1.657 15.547 6,22%
16:00 16:59 1.420 2.354 2.286 2.282 2.189 2.300 1.660 14.491 5,80%
17:00 17:59 1.385 2.223 2.149 2.096 2.048 2.123 1.516 13.540 5,42%
18:00 18:59 1.434 2.303 2.318 2.204 2.203 2.250 1.578 14.290 5,72%
19:00 19:59 1.569 2.287 2.379 2.388 2.312 2.191 1.614 14.740 5,90%
20:00 20:59 1.548 1.963 2.127 2.147 2.075 2.038 1.783 13.681 5,47%
21:00 21:59 1.268 1.550 1.673 1.847 1.788 1.649 1.506 11.281 4,51%
22:00 22:59 1.141 1.232 1.302 1.493 1.476 1.619 1.468 9.731 3,89%
23:00 23:59 825 748 866 929 975 1.178 1.310 6.831 2,73%
TOTAL 26.432 40.201 38.638 38.690 37.650 37.658 30.632 249.901 100,00%
% 10,6% 16,1% 15,5% 15,5% 15,1% 15,1% 12,3%
Fonte: Dados da Pesquisa.

Conforme a Tabela 13, em termos de dias da semana em Belo Horizonte nos anos de
2018 a 2021, há uma relevância dos dias úteis da semana, com decréscimos
progressivos ao longo dela: segundas-feiras (16,1%), seguido pela terça-feira e
quarta-feira (ambas com 15,5%), na sequência quinta-feira e sexta-feira (15,1% cada).
Os finais de semana apresentaram o sábado concentrando 12,3% dos furtos e o
domingo com 10,6%.

Os dados demonstram que a concentração horária ocorre da seguinte forma:


200

a) o período compreendido entre 8h e 12h59min ocorre uma concentração de


26,85% dos furtos, o que pode ser atribuído ao horário de deslocamento de
pessoas para as atividades habituais de trabalho e escola;
b) o período em que há maior concentração se dá entre 14h e 20h59min, quando
ocorrem 40,61% de todos os eventos de furto.

A análise de distribuição temporal dos furtos por faixas de horário e por dias da
semana permite atentar para aspectos determinantes (tipicidade, gravidade e
incidência de ocorrências policiais militares, presumíveis ou existentes) e
condicionantes (dia da semana e horário) do planejamento operacional (MINAS
GERAIS, 2019a), a fim delinear possíveis estratégias de policiamento preventivo que
possibilitem maior alocação de recursos nos horários de maior incidência.

A incidência dos crimes violentos por faixa horária e dias da semana encontra-se
organizada na Tabela 14. Em termos da distribuição por dia da semana, há uma
correlação muito alta entre os crimes violentos e furtos. O coeficiente de Pearson (r)
para esta análise indicou um valor de r = 0,995, ou seja, quase uma correlação perfeita
(r = 1,000) (FERREIRA, 2014).
201

Tabela 14 – Distribuição CV por faixa horária – Belo Horizonte - 2018-2021


Dias da Semana
Faixa de horário TOTAL %
Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sáb
00:00 00:59 446 411 411 400 425 389 383 2.865 4,07%
01:00 01:59 347 274 226 233 250 282 372 1.984 2,82%
02:00 02:59 331 196 148 180 187 185 307 1.534 2,18%
03:00 03:59 280 164 121 141 138 165 282 1.291 1,83%
04:00 04:59 267 195 164 172 136 175 255 1.364 1,94%
05:00 05:59 324 401 340 421 378 387 364 2.615 3,71%
06:00 06:59 263 426 423 438 434 419 342 2.745 3,90%
07:00 07:59 212 350 343 349 346 358 273 2.231 3,17%
08:00 08:59 173 313 283 299 292 253 185 1.798 2,55%
09:00 09:59 163 335 345 306 294 310 222 1.975 2,80%
10:00 10:59 189 357 374 378 357 353 279 2.287 3,25%
11:00 11:59 184 369 364 406 361 421 240 2.345 3,33%
12:00 12:59 229 424 449 470 430 410 298 2.710 3,85%
13:00 13:59 210 379 415 425 369 402 271 2.471 3,51%
14:00 14:59 228 441 375 418 400 439 310 2.611 3,71%
15:00 15:59 271 406 447 394 405 382 284 2.589 3,67%
16:00 16:59 299 410 379 393 381 381 261 2.504 3,55%
17:00 17:59 273 433 410 431 383 386 325 2.641 3,75%
18:00 18:59 383 516 601 517 548 570 405 3.540 5,02%
19:00 19:59 577 853 805 769 719 703 578 5.004 7,10%
20:00 20:59 691 951 965 919 920 862 705 6.013 8,53%
21:00 21:59 707 978 906 910 890 823 722 5.936 8,42%
22:00 22:59 653 826 852 840 778 745 662 5.356 7,60%
23:00 23:59 537 599 593 618 573 576 567 4.063 5,77%
TOTAL 8.237 11.007 10.739 10.827 10.394 10.376 8.892 70.472 100,00%
% 11,7% 15,6% 15,2% 15,4% 14,7% 14,7% 12,6%
Fonte: Dados da Pesquisa.

De acordo com a Tabela 14, a distribuição dos crimes violentos por dia semana em
Belo Horizonte (2018-2021) é: segunda-feira (15,6%), terça-feira (15,2%), quarta-feira
(15,4%), quinta-feira e sexta-feira (14,7% cada), sábado (12,6%) e domingo (11,7%).

Já a distribuição por faixa horária ocorre de maneira peculiar para cada tipologia
(furtos e crimes violentos), sendo a correlação de Pearson r = 0,283, ou seja,
correlação fracamente positiva (FERREIRA, 2014). Os crimes violentos se distribuem
ao longo do dia da seguinte forma:

a) diferente do crime de furtos em que há um pico de ocorrências no período


matutino e início do período vespertino, os crimes violentos não apresentam
uma concentração significativa nesta faixa de horários;
202

b) o horário compreendido entre 18h e 23h 59 min apresenta uma concentração


de 42,45% de todos os crimes violentos, sendo a mais representativa deste
estudo.

Assim, pode-se depreender que não há uma confluência que permita a sobreposição
de horários para ambas as modalidades, sendo que há necessidade de estratégias
diversas, tanto do ponto de vista espacial (conforme visto nas seções anteriores)
quanto das faixas de horários. Não obstante, na busca de uma possível identificação
de quais os horários prevalecem entre as tipologias de crimes, construiu-se os dois
gráficos (Gráfico 39 e Gráfico 40) a seguir:

Gráfico 39 – Furtos e CV por faixa Gráfico 40 – Percentual dos Furtos e CV


horária – Belo Horizonte por faixa horária – Belo
– 2018-2021 Horizonte – 2018-2021

7.000 18.000
Quantidade de Crimes Violentos

16.000
6.000
Quantidade de Furtos

14.000
5.000
12.000
4.000 10.000

3.000 8.000

6.000
2.000
4.000
1.000
2.000

- -
08:00
00:00
02:00
04:00
06:00

10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
20:00
22:00

CV Furtos

Fonte: Dados da Pesquisa. Fonte: Dados da Pesquisa.

O Gráfico 39 foi construído com dois eixos (principal para CV e secundário para furtos)
devido a quantidade absoluta de eventos ser bem diversa entre os tipos de crime. O
objetivo foi identificar quais as faixas de horário há uma confluência de maior
incidência de ambas as tipologias. Verifica-se que as curvas do gráfico se cruzam em
quatro porções diferentes, porém no horário de 20h com maior quantidade absoluta
de eventos. Assim, construiu-se o Gráfico 40 em forma de radar, com as quantidades
relativas de crimes por faixas de horário. Pelas sobreposições das áreas observa-se
203

que o horário entre 14 e 23h 59 min ocorre uma sobreposição mais significativa: 52%
dos furtos e 57% dos crimes violentos ocorrem neste período.

Dentre os serviços da PMMG dedicados à prevenção criminal, destaca-se as Bases


de Segurança Comunitária:

Base de Segurança Comunitária (BSC) – utiliza como referência uma viatura


(tipo trailer ou van adaptados) e o processo de policiamento de motocicletas.
A BSC tem como propósito consolidar a setorização da UEOp e é empregada
em local previamente definido e fixo que somente pode ser modificado com
autorização do Comando-Geral (MINAS GERAIS, 2019b, p. 8).

Atualmente o horário de atuação das BSC é de 14h às 23h30min, “nove horas e trinta
minutos de efetivo serviço no posto, em turno único, não se computando o tempo
destinado à chamada, instrução, montagem de equipamentos e deslocamentos”
(MINAS GERAIS, 2018, p. 15).

Conforme análise dos Gráficos 39 e 40, o horário de atuação das BSC abarca o
correspondente a 52% da incidência de furtos e 57% dos crimes violentos, sendo,
portanto, uma estratégia adequada a utilização das motocicletas da BSC para
prevenção criminal nos setores.

Por meio da análise espacial e temporal da distribuição de crimes em Belo Horizonte


de 2018 a 2021 atingiu-se o objetivo de identificar os locais e horários que concentram
grande parte dos crimes violentos e furtos na capital mineira. A partir das evidências
apuradas também foi possível detectar um tipo de serviço no portfólio da PMMG que
possui conceito operacional e horário compatível para realizar a prevenção criminal
das tipologias estudadas, a Base de Segurança Comunitária. A seguir, apresenta-se
de maneira exemplificativa rotas otimizadas de policiamento dos pontos quentes, uma
rota para cada setor da 1ª Região de Polícia Militar.

5.3 Rotas de policiamento a partir da análise de microespaços por setor

As Figuras 46 a 53 apresentam o mapeamento de pontos quentes referentes aos


dados de 2021 para os setores com maior incidência por Batalhão. Para cada setor
foi realizado o recorte para os segmentos de rua que concentram 25% dos crimes (cor
204

vermelha), entre 25% e 50% (cor laranja) e entre 50% e 100% - cold spots (cor verde).
Os trechos em que não houve crimes registrados em 2021 foram identificados na cor
azul.

O recorte foi necessário para permitir identificar individualmente por unidade de


análise de “Setor” quais os segmentos que concentram a maior parte dos crimes da
localidade. A partir desta análise é possível elaborar rotas de policiamento que
contemplem as áreas prioritárias utilizando-se o menor número de recursos possível.

O ponto de partida adotado para as rotas foram as Bases de Segurança Comunitárias


(BSC), as quais além de ponto fixo de policiamento no horário previsto na Instrução
que regulamenta o serviço em âmbito da PMMG – Instrução nº 3.03.21/2017-CG 2ª
Edição Revisada (MINAS GERAIS, 2018) também possuem equipe composta por dois
motociclistas, os quais são empregados com restrição de empenho (ou seja,
dedicados à prevenção criminal) e devem dentre outras demandas, “realizar o
policiamento comunitário e o patrulhamento preventivo/repressivo no setor de
atuação, orientado pelo cartão-programa confeccionado periodicamente pelo
Comandante do Setor/Companhia” (MINAS GERAIS, 2018, p. 24, grifo nosso).

Conforme foi observado, o horário de emprego das BSC é aderente a esta escolha de
tipo de serviço para realização do policiamento, considerando-se a distribuição
temporal dos eventos (GRÁFICOS 39 e 40).

Desta forma, de maneira exemplificativa, apresenta-se o mapeamento de pontos


quentes e rota de policiamento por Setor, um por Batalhão da 1ª RPM (Belo
Horizonte), conforme se segue:
205

Figura 46 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Praça Sete


(1º BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.

Figura 47 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Buritis (5º


BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.
206

Figura 48 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Planalto (13º


BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.

Figura 49 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Santa


Tereza (16º BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.
207

Figura 50 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Prado (22º


BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.

Figura 51 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Padre


Eustáquio (34º BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.
208

Figura 52 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Barreiro


(41º BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.

Figura 53 – Pontos Quentes CV e Furtos e Rotas de Policiamento - Setor Venda


Nova (49º BPM) - 2021

(a) (b)
Fonte: Dados da Pesquisa.
Legenda: (a) Pontos Quentes do Setor. (b) Rotas de Policiamento do Setor.
209

As rotas apresentadas nos mapas são exemplificativas e possuem apenas o intuito


de ilustrar a aplicabilidade de se produzir rotas otimizadas a partir da análise de
segmentos de rua. Sendo assim, além da aderência do contexto belo-horizontino para
a distribuição espacial de eventos de crimes violentos e furtos ocorrer conforme as
previsões teóricas (lei de concentração do crime) e de maneira similar a outros
trabalhos empíricos realizados em diferentes realidades, verificou-se que há
viabilidade de emprego da estratégia de Policiamento de Pontos Quentes, conforme
análise de conjunto de dados apresentados neste trabalho.

Concluída esta seção, passa-se às considerações finais da pesquisa.


210

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo apresentado é uma análise descritiva do policiamento preventivo dirigido


realizado pela Polícia Militar de Minas Gerais em todo o Estado, a partir das
informações prestadas pelos Comandantes de Unidade de Execução Operacional, e
uma pesquisa exploratória do comportamento espacial do crime em Belo Horizonte,
por meio da análise de microespaços para identificação de pontos quentes com a
finalidade de se verificar a viabilidade de implementação da estratégia de Policiamento
de Pontos Quentes. Nesta seção, conclui-se a pesquisa, apresenta-se os limites e
restrições do trabalho, além de expressar algumas sugestões oriundas do
conhecimento gerado.

6.1 Conclusões

Como objetivo central do trabalho, buscou-se analisar a viabilidade de implantação da


estratégia de Policiamento de Pontos Quentes como ferramenta para elaboração de
rotas de policiamento preventivo na Polícia Militar de Minas Gerais. Da construção das
práticas discursivas ao aprofundamento metodológico, com vistas à legitimação
científica do estudo, os resultados revelaram que o objetivo foi plenamente alcançado.

Interessante observar que o caminho percorrido na pesquisa se baseou inicialmente


num panorama acerca do fenômeno social do crime e sua distribuição assimétrica ao
longo do tecido urbano, a fim de se conceber um arcabouço epistemológico sobre o
objeto de análise, pontos quentes de criminalidade por meio da análise de
microespaços, metodologia ainda pouco explorada em trabalhos brasileiros.

Também foi realizada uma revisão bibliográfica sobre as construções teórico-


metodológicas que fornecem sustentação para uma estratégia de Policiamento de
Pontos Quentes: mapeamento de hot spots, grafos e o estudo de rotas otimizadas
para o policiamento preventivo.
211

Por meio do caminho de pesquisa adotado, baseado na captação das percepções dos
comandantes de Unidades de Execução Operacional da PMMG e de técnicas de
geoestatística e análise espacial, foi possível investigar e responder ao problema de
pesquisa de “como a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes pode contribuir
para a otimização de rotas de policiamento da Polícia Militar de Minas Gerais?”.

Obteve-se como resposta que a estratégia de Policiamento de Pontos Quentes


fornece uma série de pressupostos de intervenção policial em microespaços
identificados como pontos quentes, os quais tem potencial para contribuir com o
aprimoramento do emprego operacional da PMMG e possibilidade de redução das
taxas criminais nos locais de atuação (pontos quentes) e, consequentemente, nos
níveis de articulação operacional da PMMG (Setor, Companhia, Batalhão).

Destaca-se que da análise das percepções dos comandantes de UEOp da PMMG


sobre a temática foi possível identificar que a PMMG, apesar de não possuir nenhuma
doutrina específica acerca da estratégia de Policiamento de Pontos Quentes proposta
por Sherman et al. (2019) já realiza alguns aspectos que compõem o Policiamento de
Pontos Quentes, entretanto, merece destaque a necessidade de esclarecimento sobre
alguns conceitos-chave para a sua completa concepção:

a) o mapeamento disponibilizado pelo Sistema de Gestão Operacional da PMMG


(mapa de Kernel), apesar de intuitivo, não fornece informações em nível de
detalhamento adequado para alocação do policiamento nos pontos quentes,
qual seja o agrupamento dos crimes por segmentos de rua;
b) o período de análise criminal para elaboração do planejamento de rotas de
policiamento não é uniforme entre as UEOp da PMMG, sendo adotado
principalmente uma semana (27% das Unidades), de um mês (24% das
Unidades), quinzenalmente (19% das Unidades) e análise de períodos
inferiores a uma semana (18%). Conforme visto, o período mínimo de um ano
é o sugerido na teoria como ideal para análise que subsidie este tipo de
intervenção (SHERMAN et al. 2019);
212

c) também não há padronização quanto ao tempo de patrulhamento e pontos-


base, sendo que a teoria e os trabalhos empíricos pretéritos indicam que o
tempo adequado por ponto-base (dosagem) é de cerca de 14 a 15 minutos;
d) outros elementos da estratégia de atuação como a frequência (quantidade de
vezes) em que o policiamento é alocado no ponto-quente e a intermitência
(tempo em que o policiamento não está no ponto-quente) são aspectos
fundamentais e ainda não abordados nos planejamentos de cartões-programa.

No que se refere à aderência do local de estudo às previsões teóricas quanto à Lei de


Concentração do Crime (WEISBURD, 2015), observou-se que para o caso específico
de Belo Horizonte há um perfeito amoldamento entre os dados coletados e o que é
descrito pela teoria. À guisa de exemplificação, em 2021 houve concentração de 25%
dos furtos ocorridos em 0,40% dos segmentos de rua em Belo Horizonte e 50% deste
mesmo tipo de delito ocorreu em 2,56% dos segmentos. Os crimes violentos também
apresentaram comportamento semelhante. Para o ano de 2021, 25% dos crimes
violentos ocorreu em 0,96% dos segmentos de rua e 50% destes delitos ocorreu em
3,42% dos segmentos de rua de Belo Horizonte. De maneira complementar, verificou-
se que uma desigualdade muito grande em termos de concentração criminal, os
coeficientes de Gini indicaram em média valores próximos de 0,90, o que significa que
o crime no município está muito concentrado em pequenas porções do seu território.

Assim, os resultados da análise criminal são promissores para a implementação da


estratégia de Pontos Quentes, pois poderia se focar em um número reduzido de locais,
os quais tem potencial em contribuir com maior possibilidade de redução das taxas
gerais de crimes.

Outra previsão teórica que se confirmou foi a estabilidade dos pontos quentes. Em
Belo Horizonte os dados indicaram que houve uma estabilidade de manutenção do
status em termos de concentração criminal entre o período de análise (2018 a 2021)
acima de 70% para ambos os crimes analisados, o que demonstra que, apesar de
diminuição geral nas taxas criminais durante o período, os pontos quentes
permaneceram quentes. Esta constatação além de fornecer melhor subsídio para a
implementação do Policiamento de Pontos Quentes também robustece a ideia de que
213

a análise para elaboração de cartões-programa deve ser por períodos acima de um


ano, já que no período de quatro anos não houve mudanças substanciais na
distribuição dos crimes ao longo do tecido urbano.

Em termos da distribuição temporal dos crimes violentos e de furtos, observou-se que


houve uma certa coincidência na distribuição por dias da semana, mas um
comportamento peculiar para cada tipologia por faixa horária. Em termos de
concentração, destacou-se o período entre 14h e 23h59min com taxas de ocorrência
acima de 50% do total de eventos ocorridos nos anos de 2018 a 2021 (52% no caso
dos furtos e 57% para os crimes violentos).

Tendo-se em vista a coincidência de horários de maior incidência criminal, o


roteamento de patrulhas preventivas foi sugerido utilizando-se o serviço das Bases de
Segurança Comunitárias. O início da rota proposta foi o ponto de instalação deste
serviço, descreveu-se uma rota otimizada que cobrisse os locais de maior
concentração criminal utilizando-se um caminho mínimo para tal. O roteamento
proposto idealizado para realização pela dupla de motociclistas que atuam nas BSC,
considerando as peculiaridades de restrição de empenho para atendimento de
ocorrências (portanto, maior dedicação à atividade preventiva) e horário de instalação
dos serviços, que ocorrem de maneira fixa no período de 14h às 23h30min, sendo
horário de maior demanda de ocorrências.

Um aspecto que merece relevo no momento de conclusão da pesquisa é a colocação


da Polícia Militar de Minas Gerais na vanguarda dos estudos sobre a criminalidade.
Não se identificou na literatura outros estudos nacionais que tivesse o foco nos
microespaços e suas possibilidades de emprego operacional dedicado. Salienta-se
ainda que esta tônica de pesquisas está em voga em termos de institutos científicos
e de outras instituições policiais ao redor do mundo. Exemplo disso é a recente
publicação utilizada como balizador do presente trabalho publicado por Weisburd e
Zastrow em 2021 como relatório de pesquisa, tendo como foco a cidade de Nova
Iorque, Estados Unidos da América.
214

Desta forma, coloca-se a PMMG como protagonista de estudos do que há de mais


moderno em termos científicos sobre a criminologia ambiental, podendo dialogar com
outros trabalhos pioneiros, o que além de trazer reconhecimento para a instituição em
termos de inovação científica, também permite a liderança na elaboração de métodos
mais eficazes para um atendimento ao cidadão mineiro, com serviços de maior
qualidade e aprimoramento para alcance da missão organizacional “contribuindo para
a garantia de um ambiente seguro para se viver, trabalhar e empreender em Minas
Gerais” (MINAS GERAIS, 2021, p. 20).

6.2 Sugestões fruto da pesquisa

Com vistas à melhoria progressiva na qualidade dos serviços prestados pela


instituição policial-militar, especialmente dedicados à prevenção, a conclusão deste
trabalho permite a apresentação de sugestões significativas:

a) que o Memorando nº 30.041.2/18-CG, que estabelece o emprego de


estatística, análise criminal e geoprocessamento na melhoria da Gestão
Operacional, Coordenação e Controle dos meios empregados, seja atualizado
e substituído por uma Instrução que contemple o Policiamento de Pontos
Quentes, o qual deverá descrever a melhor técnica para elaboração de cartões-
programa na PMMG;
b) que seja difundido o conhecimento acerca da estratégia de Policiamento de
Pontos Quentes por meio de plano de comunicações, especialmente para o
Alto-Comando da PMMG e para os policiais militares em função de comando,
considerando a necessidade de uma liderança transformacional para que a
estratégia seja bem-sucedida;
c) que os mapas de análise de microespaços sejam produzidos pelo menos uma
vez ao ano, a fim de fornecer subsídios para alocação de recursos e elaboração
de cartões-programa por Setor de Policiamento;
d) que os policiais militares empregados nas Seções de Emprego Operacional
(P3) das UEOp e UDI tenham treinamento/conhecimento sobre outras
possibilidades de análise criminal (mapeamento e roteamento principalmente),
notadamente voltados para o nível de microespaços, a fim de fornecerem
215

assessoramento adequado para o nível de decisão quanto às prioridades de


alocação dos recursos, considerando a necessidade de otimização dos ativos
para auferir cada vez mais eficiência ao trabalho policial (atingimento dos
objetivos com menores recursos).

6.3 Limites, restrições e sugestões para futuros trabalhos

Reconhecendo-se a limitação do trabalho ora apresentado, cita-se como pontos


importantes o período temporal curto em relação à necessidade de tratamento e
validação pormenorizada dos dados, determinada pela incompletude ou
inconsistência das informações contidas nos boletins de ocorrência pesquisados.
Outra observação é que a análise se ateve espacialmente aos eventos no município
de Belo Horizonte, devido também à limitação de tempo para a realização do trabalho.

Ainda em termos de limitações, merece ser destacado o aspecto que as teorias e


dados empíricos disponíveis são referentes ao crime em ambiente urbano.
Considerando-se a amplitude da área de atuação da PMMG, com diversas localidades
compreendidas na zona rural, não há, em princípio, pesquisas realizadas que
demonstrem a validade de aplicação do método adotado e proposto nesta pesquisa
para tais realidades.

Considerando-se que novos questionamentos surgem na realização de uma


investigação científica, principalmente devido ao ineditismo do campo de pesquisa,
algumas questões carecem de resposas. Assim, como sugestões para futuras
pesquisas citam-se:

a) análise da distribuição criminal em outros locais, incluindo-se municípios de


pequeno, médio e grande porte;
b) ampliação do rol de crimes para se verificar a viabilidade e aplicabilidade da
estratégia de Policiamento de Pontos Quentes para outras tipologias criminais;
c) pesquisas sobre a dosagem de aplicação dos pontos-base nos pontos quentes,
com a finalidade de se auferir o tempo adequado para a dissuasão local, bem
216

como do alcance da difusão de benefícios (alcance espacial da dissuasão,


considerando o policiamento nos pontos quentes);
d) aplicação experimental da estratégia de Policiamento de Pontos Quentes pela
PMMG, avaliado por meio da metodologia do Policiamento Baseado em
Evidências, a fim de verificar a sua eficiência e possibilidade de ampliação em
escala institucional.
217

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233

APÊNDICE – ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO

Pesquisa Policiamento de PontosQuentes (CESP 2022)

Senhor(a) Comandante,

Sou aluno do Curso de Especialização em Segurança Pública (CESP) e estou


desenvolvendo uma pesquisa determinada pelo Comando da Instituição como Trabalho de
Conclusão de Curso com o tema: Policiamento de Pontos Quentes como chave para
elaboração de planejamento de rotas de policiamento preventivo. Diante do exposto, solicito
a Vossa Senhoria que responda o presente questionário a fim de ser utilizado como parte do
trabalho. Os dados serão utilizados exclusivamente com objetivo acadêmico de coletar as
percepções dos Comandantes de Unidades de Execução Operacional acerca da temática.

Não há qualquer identificação pessoal dos respondentes. Desde já agradeço a atenção


dispensada.

Respeitosamente,

Antônio Hot Pereira de Faria, Cap PM

1. Qual a Região a Unidade que o Sr. comanda pertence? *

1ª RPM
2ª RPM
3ª RPM
4ª RPM
5ª RPM
6ª RPM
7ª RPM
8ª RPM
9ª RPM
10ª RPM
11ª RPM
12ª RPM
13ª RPM
14ª RPM
15ª RPM
16ª RPM
17ª RPM
18ª RPM
19ª RPM

2. Durante o comando de V. Sª., a UEOp elabora cartões programa para realização do


policiamento preventivo?

Sim
Não
234

3. Qual o nível de importância o(a) Sr.(a) julga que possui o patrulhamento preventivo
quanto à eficiência para a prevenção criminal.

Nada 1 2 3 4 5 Muito
importante importante

4. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os dados de estatística


criminal são elementos fundamentais para a elaboração do cartão-programa.

Discordo 1 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

5. Com que base em qual período de tempo é realizada a análise criminal para atualização
dos cartões- programa?

Mais de 1 vez por semana Semanalmente


Quinzenalmente Mensalmente Bimestralmente
Semestralmente Anualmente
Não há uma periodicidade definida

6. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os mapas de calor são


elementos fundamentais para a elaboração do cartão-programa.

Discordo 1 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

7. Na avaliação do(a) Sr.(a) qual é a relação custo x benefício em relação ao patrulhamento


preventivo dirigido? (custo: ativos institucionais dedicados ao cumprimento do
patrulhamento preventivo dirigido e benefício: resultados alcançados).

Custo alto x benefício baixo


Custo alto x benefício alto
Custo baixo x benefício baixo
Custo baixo x benefício alto

8. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os mapas de calor (Kernel) são
elementos fundamentais para a elaboração do cartão-programa.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

9. Qual mapa de calor (kernel) é utilizado para análise criminal? *

SIGOP
MapInfo
Power BI
QGIS
Nenhum
Outro
235

10. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: informações de inteligência de


segurança pública são elementos fundamentais para a elaboração do cartão-programa.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

11. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os microespaços (quadras,


praças, segmentos de rua) são elementos fundamentais para elaboração do cartão-
programa.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

12. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: a análise de inncidência


criminal em nível de microespaços (quadras, praças, segmentos de rua) permite
identificar os locais que concentram a maior parte dos delitos.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

13. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: a análise de incidência


criminal em nível de porções territoriais definidas na articulação operacionais
(Batalhão, Companhia) são suficientes para elaboração de policiamento de
pontos quentes.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

14. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os pontos-base indicados


nos cartões programa são escolhidos aleatoriamente dentro do espaço definido
para realização do cartão-programa.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

15. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior for a frequência
de pontos-base num determinado ponto quente (nº de vezes em que é visitado),
mantendo-se inalteradas outras variáveis como o tempo de realização, maior será a
dissuasão de um eventual infrator que esteja motivado a cometer um crime naquele
local.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

16. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior for tempo de
ponto-base a cada ponto quente, maior será a dissuasão inicial causada por cada
visita, até o ponto em que a os efeitos da dissuasão caem.
236

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

17. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os efeitos do ponto- *


base realizados pelos policiais a cada ponto quente, se propagam por um
determinado tempo (dissuasão residual) após o término de cada visita, até
um determinado ponto.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

18. Considerando-se um recurso dedicado exclusivamente à prevenção, na concepção do(a)


Sr.(a), qual o tempo de patrulhamento e tempo de ponto baseé realizado pela UEOp
para realização da prevenção criminal?

10 minutos ponto-base e 50 minutos de patrulhamento por hora


15 minutos de ponto-base e 45 minutos de patrulhamento por hora
20 minutos de ponto-base e 40 minutos de patrulhamento por hora
30 minutos de ponto-base e 30 minutos de patrulhamento por hora Não
há um critério ideal para estes quesitos.

19. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior a *


proporção do tempo total em que a polícia está visivelmente presente em um ponto
quente, menos frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto quente,
especialmente durante as horas de maior incidência criminal.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

20. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior o efeito de
dissuasão local criado pelas patrulhas de pontos quentes, maior o efeito de dissuasão
regional (na área de toda a Unidade por exemplo).

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

21. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: É provável que o


deslocamento do ofensor (provocado pela dissuasão decorrente do policiamento de
pontos quentes) para o cometimento de crimes em outro local provoque uma menor
produtividade no cometimento de crimes, secomparado com a sua ação no local em
que está habituado.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

22. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior a*variação
da presença policial (intermitência) em um ponto quente, maior a imprevisibilidade
objetiva de quando a polícia aparecerá em um ponto quente em um determinado
momento, o que tenderá a diminuir a atividade criminal no local.
237

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

23. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto maior a


imprevisibilidade objetiva e a incerteza percebida publicamente sobre quando e por
quanto tempo a polícia aparecerá e permanecerá em um ponto quente, menos
frequentes ou graves serão os crimes dentro desse ponto quente.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

24. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto mais engajamento os
policiais apresentarem durante o tempo de patrulha em pontos quentes (conversas
com a população, paradas para revistar suspeitos, e realização de prisões, por
exemplo) menos frequentes e gravescrimes serão os crimes nos pontos quentes.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

25. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: quanto mais legitimidade
policial os policiais criarem tratando todos os cidadãos de maneira respeitosa com
procedimentos justos durante as patrulhas em pontos quentes, menos frequentes e
graves serão os crimes nesses pontosquentes.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

26. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: a base conceitual para
elaboração dos cartões programa é a experiência profissional e o conhecimento do
local de atuação dos responsáveis.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

27. São utilizados recursos computacionais como algoritmos ou softwares específicos para
criação de rotas de policiamento da sua UEOp?

Sim
Não

28. Se marcou SIM na questão anterior, indique qual software.


238

29. Na prática de elaboração dos cartões-programa, quais elementos são utilizados.

Nunca Raramente As vezes Frequentemente Muito


frequentemente
Dados de
estatística
criminal
Informações
de inteligência
Mapas de
calor (kernel)
Experiência
profissional
Conhecimento
do local de
atuação
Microespaços
de incidência
criminal
Residência de
alvos
Ferramenta
Google Maps

30. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: uma metodologia


padronizada para elaboração de planejamento de patrulhamento preventivo por meio
de cartões programa que permitisse identificar os seguimentos de rua e as faixas de
horário que que concentram a maioria dos delitos, contribuiria para o planejamento de
emprego operacional.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

31. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: a tropa cumpre de maneira
fidedigna a previsão contida no cartão-programa de minha unidade.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

32. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: existe facilidade na


supervisão do exato cumprimento do cartão-programa por parte dos militares
encarregados da coordenação e controle dos turnos de serviço, bem como dos
escalões superiores.

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

33. Indique o grau de concordância com relação à afirmação: os cartões programa


239

elaborados em minha UEOp são os mais adequados no que se refere à efetividade a


que se propõe - cobrir o maior espaço de policiamento possível utilizando-se do mínimo
de recursos possíveis com a melhor rota possível (seguimentos de rua com maior
incidência criminal nos horários de maior concentração de eventos).

Discordo 2 3 4 5 Concordo
totalmente totalmente

34. O(A) Senhor(a) conhece a metodologia de planejamento de emprego operacional


denominado "Policiamento de Pontos Quentes"?

Sim
Não

35. Na percepção do Sr., a PMMG utiliza da estratégia de Policiamento de Pontos Quentes


como ferramenta para planejamento e emprego operacional?

Sim
Não

36. Favor descrever informações que o(a) Sr.(a) julgue que possa contribuir com o
conhecimento produzido sobre o planejamento e a execução do policiamentopreventivo
por meio de patrulhamento dirigido, tais como dificuldades de implementação,
experiências exitosas, demandas por melhoria, etc.

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