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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar os efeitos da utilização de câmeras corporais
individuais por policiais militares, de modo a estudar se o uso dessa tecnologia poderá
favorecer ou não a atividade policial. O crescente índice de criminalidade vem
demandando do Estado buscar novas medidas para promover a segurança pública por
meio de suas instituições policiais, nesse sentido a tecnologia surge como forma de
otimização dos serviços. A hipótese é que o uso de câmeras corporais individuais, pelos
policiais militares, poderá influenciar na percepção da legitimidade policial pela
sociedade, uma vez que proporcionará maior transparência e publicidade das atividades
realizadas por eles. Primeiramente, serão tecidos comentários sobre os equipamentos de
câmeras individuais acopladas no fardamento policial e suas potencialidades. Em seguida
será discorrido a respeito da legitimidade policial e da necessidade do seu reconhecimento
pela sociedade. Feito isso, passa-se a analisar os efeitos práticos gerados pela utilização
das câmeras corporais individuais durante a abordagem policial, as quais poderão servir
como meio de obter as provas que integrarão os inquéritos policiais e as demandas
judiciais, contribuindo para o melhor entendimento dos casos concretos, bem como
proporcionará maior transparência da atividade policial realizada. Ao final, conclui-se por
uma perspectiva favorável a utilização de câmeras acopladas ao fardamento, com a
ressalva de que seu uso também poderá gerar efeitos indesejados, devido à possibilidade
de os policiais se sentirem intimidados e expostos pelas gravações das câmeras durante
suas ações. Para mitigar esse efeito indesejável, propõe-se a instrução detalhada ao efetivo
a respeito dos detalhes técnicos e legais sobre o uso das câmeras corporais, bem como da
importância de seu uso.
ABSTRACT
This article aims to analyze the effects of the use of individual body cameras by military
police officers, in order to study whether or not the use of this technology may favor
police activity. The growing crime rate has been demanding the State to seek new
measures to promote public safety through its police institutions, in this sense technology
appears as a way of optimizing services. The hypothesis is that the use of individual body
cameras by military police may influence society's perception of police legitimacy, since
it will provide greater transparency and publicity for the activities carried out by them.
First, comments will be made on the equipment of individual cameras attached to police
uniforms and their potential. Then, it will be discussed about police legitimacy and the
need for its recognition by society. Once that is done, the practical effects generated by
the use of individual body cameras during the police approach are analyzed, which may
serve as a means of obtaining evidence that will integrate police investigations and
judicial demands, contributing to the better understanding of concrete cases, as well as
providing greater transparency of the police activity carried out. In the end, it is concluded
that the use of cameras attached to the uniform is favorable, with the caveat that its use
can also generate unwanted effects, due to the possibility of police officers feeling
intimidated and exposed by the recordings of the cameras during their actions. In order
to mitigate this undesirable effect, it is proposed to provide detailed instruction to the staff
regarding the technical and legal details about the use of body cameras, as well as the
importance of their use.
Keywords: public security, Military Police, technology, body cameras, practical effects.
1 INTRODUÇÃO
O Estado tem a responsabilidade de promover a segurança pública, a qual deverá
ser exercida para preservação da ordem pública e a integridade dos indivíduos e do
patrimônio, conforme previsto no artigo 144 da Carta Magna. Ainda, caberá à Polícia
Militar promover o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública. Neste
sentido, o policial militar deve resguardar, defender e conservar os direitos previstos
constitucionalmente, bem como, aqueles estabelecidos no plano infraconstitucional.
Para que a polícia possa atuar de forma eficiente é fundamental que existam
práticas que favoreçam a percepção social quanto a sua legitimidade para o poder que
exerce, isto é, ao reconhecer a legitimidade policial o cidadão obedecerá a suas ordens
não por temor, mas sim pela convicção de que aquele poder exercido é legitimo. De todo
modo, em algumas circunstâncias de extrema necessidade, a polícia poderá valer-se da
força para fazer cumprir os preceitos legais e constitucionais, o que permitirá que haja um
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE CÂMERAS CORPORAIS
INDIVIDUAIS
Antes de abordar a questão da utilização das câmeras corporais individuais, é
necessário compreender que o século XX foi marcado por diversos avanços tecnológicos
e que, neste processo de desenvolvimento, a atividade de segurança pública foi aos poucos
absorvendo e implementando tais inovações. Assim, diante do cenário em que a
segurança pública e a garantia da paz se tornaram premente, tornou-se necessário a
1
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V -
polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.”
(BRASIL, 1988)
A extensa gama de atividades compreendidas pela função policial militar pode ser
resumida por meio das seguintes competências:
As imagens das câmeras corporais individuais também podem ser utilizadas pra
transmissão em tempo real, permitindo a participação cooperada de agentes externos à
ocorrência em auxílio àqueles que estão verdadeiramente in loco.
Em que pese num primeiro momento haver desconfiança dos benefícios das
câmeras corporais individuais, muitas organizações policiais perceberam que as
filmagens produzidas por tais equipamentos podem melhorar o desempenho policial em
várias frentes, como atendimento ao cidadão, tática em operações e abordagem,
comunicação entre agentes, etc. (DA SILVA; CAMPO, 2015, p. 237-238).
Consequentemente, essa medida tende a proporcionar um aumento da confiança dos
cidadãos nas instituições policiais, tornando os protocolos padrões ainda mais precisos
em suas finalidades (BONATO JUNIOR, 2022).
Todavia, não se pode deixar de enfatizar que o uso das câmeras corporais
individuais também traz alguns efeitos indesejados. Um deles é a utilização dos dados
grados de forma a denegrir as ações das instituições policiais. Pode-se citar, por exemplo,
a morte de George Floyd no fim de maio de 2020 nos Estados Unidos, onde os policiais
usavam câmeras individuais e mesmo assim ocorreu a abordagem que provocou a morte
do indivíduo abordado sem qualquer fundamento justificável. As gravações das câmeras
corporais serviram geraram uma repercussão extremamente negativa com relação a
imagem da polícia, por mais que tenha sido um ato isolado (LORENZI, 2021). A
utilização de câmeras individuais não é a solução para todos os problemas da abordagem
policial. O erro está diretamente relacionado ao caráter humano, e os policiais não são
exceção. Atos isolados de determinados agentes não podem ser vistos como uma regra da
abordagem policial por parte da mídia, enfraquecendo, de forma generalizada, a
legitimidade policial frente a população. (LORENZI, 2021)
3 CONCLUSÃO
Ao longo deste artigo, buscou-se tratar a respeito da utilização de câmeras
corporais individuais acopladas ao fardamento de policiais militares e seus possíveis
efeitos e potencialidades. Para tanto, foi analisado o contexto do início da utilização
tecnologia, a importância da inovação na otimização do combate à criminalidade, a
competência de atuação policial e a importância da legitimação da atuação policial.
Também se analisou como as câmeras podem ajudar a estimular a percepção de
legitimidade da população com relação às instituições policiais, bem como a colaboração
delas para coleta de provas para instrução de inquéritos policiais e demandas judiciais,
além de permitirem outras possibilidades práticas relacionadas aos serviços policiais.
Como visto, a implementação das câmeras corporais teve início nos Estados
Unidos e a prática foi se aperfeiçoando no compasso do surgimento de novas tecnologias,
tendo já demonstrado resultados positivos em relação ao seu uso. No cenário brasileiro,
somente alguns estados já fazem uso dessa ferramenta, consequentemente seus efeitos
ainda não totalmente conhecidos. Esse aspecto merece destaque, pois, o caráter de
incerteza e imprevisibilidade, inerente aos resultados promovidos pelas novas
tecnologias, deve ser levado em consideração com muita atenção pelos gestores das
corporações policiais. Como o uso das câmeras corporais, no Brasil, ainda é recente e
tratado como inovação, seu uso deve ser estudado com cuidado, cabendo às instituições
elaborarem doutrinas de emprego e de instrução a respeito dessa tecnologia.
Contudo, não há que se negar que o aperfeiçoamento tecnológico do Estado e a
utilização de inovações, como as câmeras corporais, é capaz de otimizar os serviços
prestados. O incremento tecnológico das instituições policiais permite que esses órgãos
combatam de modo mais eficiente e mais inteligente as atividades delituosas.
No que tange a legitimidade policial, restou claro que a partir de seu
reconhecimento pela população, as câmeras corporais acopladas ao fardamento tornam
transparente a conduta policial, proporcionando confiança e colaboração diante do fato
de que tantos os policias, como quaisquer outros envolvidos, estarão cientes de que as
ações estão sendo filmadas e gravadas.
Apesar de este trabalho não ter por objetivo a pretensão de esgotar esse tema tão
complexo, buscou-se demonstrar que o uso das câmeras corporais é capaz de permitir
maior eficiente na coleta de provas, otimização dos serviços e aumento do nível de
cooperação e confiabilidade entre cidadão e policial. De todo modo, vale ressaltar que
mesmo havendo resultados positivos pela utilização de câmeras corporais individuais
pelos policiais, há efeitos desfavoráveis, inclusive já vivenciados por outras instituições.
Dentre eles, destaca-se a possibilidade de inibição dos policiais em virtude da
presença dessa tecnologia, causando receio do efetivo no uso de força em momentos
necessários, diante do temor relacionado às consequências das gravações, gerando uma
espécie de cautela excessiva. A inibição dos policiais, juntamente com essa cautela
desproporcional poderá impactar negativamente na produtividade das corporações
policiais, gerando desestímulo por parte de seus agentes. Como forma de mitigar esse
efeito indesejável, foram propostas instruções detalhadas ao efetivo a respeito dos
detalhes técnicos e legais sobre o uso das câmeras corporais, bem como da importância
de seu uso tanto para si próprios, como para a sociedade.
REFERÊNCIAS
BONATO JUNIOR, João Carlos. Uso De Bodycam pela Polícia Militar do Paraná:
Uma Análise Incipiente do Tema. 2022. Disponível em:
https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/1009/840. Acesso em: 7 out.
2022.
DA SILVA, Jardel; CAMPO, Joamir Rogerio. Monitoramento das Ações Policiais por
Meio do Uso de Câmeras de Porte Individual: Uma Análise de sua Utilização nas
Atividades Operacionais. v. 8, n. 2, jul./dez., 2015. Revista Ordem Pública.
LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2 ed. São Paulo: Revista dos
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LIMA, Gabriel Domingues de. OLIVEIRA, Natan Flores de. COSTA, Simone Teles da
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