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Critérios de definição das áreas de Patrulha na Cidade de

Maputo: Caso da 1ª Esquadra da Polícia da República de


Moçambique1 2013-2015

RESUMO
A presente pesquisa tem por objectivo compreender os critérios de definição das áreas de patrulha e
sua eficácia na prevenção e combate à criminalidade na área de jurisdição da 1ª Esquadra da Polícia
da República de Moçambique (PRM), na Cidade de Maputo, de 2013 a 2015. Nesta pesquisa
recorreu-se ao método qualitativo, auxiliado pelo quantitativo, e a recolha de dados foi feita com
auxílio às técnicas de observação, pesquisa documental, revisão bibliográfica, entrevista e
questionário. Os guiões de entrevista e do questionário foram os instrumentos aplicados na recolha de
dados, numa amostra constituída por trinta e três (33) elementos, dentre membros da PRM e cidadãos
transeuntes da área adstrita à 1ª Esquadra na Cidade de Maputo, seleccionados de forma intencional.
Através do trabalho de campo, foi possível perceber que há maior incidência de crimes contra a
propriedade e contra a integridade física no Bairro Central C, no período das 12h às 00h, verificando-
se uma deslocação espacial dos crimes pelas avenidas em função dos anos. A identificação das áreas
de patrulha é feita a partir da análise da situação criminal. Contudo, da análise cruzada de dados, a
pesquisa concluiu que não existem evidências que demonstrem claramente os procedimentos para
realização da análise criminal, as regras adoptadas e a razão da decisão para a definição das áreas de
patrulha. Os dados criminais não estão dispostos em bairros, ou seja, não existe um mecanismo de
espacialização dos crimes em função do local de ocorrência, quer seja em bairros, avenidas e ruas.
Assim, a pesquisa defende que a institucionalização do mapeamento das ocorrências criminais nas
Subunidades Policiais pode constituir um ganho na melhoria do trabalho técnico-operativo de
prevenção e combate ao crime.

Palavras-chave: critério, área de patrulha, Cidade de Maputo, Polícia

Criteria for defining patrol areas in Maputo City: Case of the 1st
Police Station of the Republic of Mozambique 2013-2015

ABSTRACT
This research aims to understand the criteria for defining patrol areas and their effectiveness in
preventing and combating crime in the area of jurisdiction of the 1st Police Station of the Republic of
Mozambique (PRM), in Maputo City, from 2013 to 2015. In this research, the qualitative method was
used, aided by the quantitative, and the data collection was carried out with the aid of observation
techniques, document research, literature review, interview and questionnaire. The interview and
questionnaire scripts were the instruments used in data collection, in a sample consisting of thirty-
three (33) elements, among members of the PRM and passing citizens of the area assigned to the 1 st
Police Station in Maputo City, intentionally selected. Through the fieldwork, it was possible to notice

1
Trabalho de Monografia elaborado para obtenção do grau académico de licenciatura em Ciências Policiais, no
perfil de Saída de Segurança Pública, pela Academia de Ciências Policiais, no ano 2017.

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that there is a higher incidence of crimes against property and physical integrity in Bairro Central C,
from 12:00 to 00:00, verifying a spatial displacement of crimes along the avenues as a function of the
years. The identification of patrol area is based on the analysis of the criminal situation. However,
from the cross-data analysis, the research concluded that there is no evidence that clearly
demonstrates the procedures for carrying out the criminal analysis, the adopted rules and the reason
for the decision to define the patrol areas. Criminal data are not available in neighborhoods, that is,
there is no mechanism for spatializing crimes according to the place of occurrence, whether in
neighborhoods, avenues and streets. Thus, the research defends that the institutionalization of the
mapping of criminal occurrences in the Police Sub-units can constitute a gain in the improvement of
the technical-operative work of preventing and combating crime.

Keywords: criteria, patrol area, Maputo City, Police

Introdução

A Polícia da República de Moçambique, abreviadamente designada PRM, por natureza é “


(…) uma Instituição paramilitar que superintende a área de Segurança Pública” (nº 1, art.º 2
da Lei 16/2013 de 12 de Agosto), e “é responsável pela actividade de direcção e de
preparação de técnicas e metodologias de actuação” (Art.º 14 da Lei 16/2013 de 12 de
Agosto). A par disso, nos dias actuais, as pesquisas no campo da Segurança Pública
constituem uma das questões fundamentais no desenvolvimento de acções de
prevenção e combate ao fenómeno da criminalidade, não só, como também um
subsídio necessário para a definição de políticas públicas orientadas para a protecção e
segurança de pessoas e bens.

Assim, o estudo sobre critérios de definição das áreas de patrulha visava,


fundamentalmente, compreender as regras adoptadas, a razão da decisão para a
definição das áreas de patrulha e sua eficácia na prevenção e combate à criminalidade
na área de jurisdição da 1ª Esquadra da PRM na Cidade de Maputo, no período de
2013 à 2015. Especificamente, a pesquisa visava (i) identificar a situação criminal
registada no período em estudo, (ii) descrever os critérios de definição das áreas de
patrulha e (iii) avaliar a eficácia dos factores considerados para a definição das áreas de
patrulha na prevenção e combate da criminalidade. Considerou-se, no entanto, que a
presença policial na via pública actua como força dissuasiva, prevenindo, deste modo,
a ocorrência de crimes (Assunção & Furtado s/d).

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Do levantamento estatístico da situação criminal realizado no local da pesquisa,
verificou-se que durante o período em estudo (2013-2015) foram registados 2214
casos, destes, 923, correspondentes a 41.7% em 2013; 641, que equivalem a 28.9%
em 2014; e 650, o correspondente a 29.4%, em 2015. Os dados recolhidos
demonstram ainda que há prevalência dos crimes contra a propriedade, com destaque
aos roubos, furtos, subtracção de acessórios em veículos, e dos crimes contra a
integridade física, com destaque aos de ofensas corporais, e esta prevalência pode ser
indício de insuficiência na capacidade policial de cobertura da sua área de jurisdição, bem
como uma possível fraca definição das áreas de patrulha. Assim, em face do fenómeno
descrito, formulou-se a seguinte pergunta de partida: Que critérios são aplicados para a
definição das áreas de patrulha na 1ª Esquadra da Cidade de Maputo?

Portanto, com este estudo, a partir da disfunção notada, entende-se que, os resultados obtidos
irão agregar valor na melhoria de estratégias técnico-operativas de identificação dos locais de
risco em termos de criminalidade e de definição de áreas de patrulha para prevenção criminal,
e assim reduzir os casos de criminalidade. Igualmente, a realização deste estudo
consubstancia-se com a pretensão de efectuar uma pesquisa baseada na evidência empírica
para intervir nas políticas públicas orientadas para a segurança de pessoas e bens,
especificamente no concernente às estratégias e metodologias técnico-operativas de
prevenção criminal.

Definição de Palavras-Chave

Critério: É uma exigência que deve ser respeitada para atingir um determinado
objectivo ou atender a uma necessidade, sendo que não tem existência autónoma, só
podendo ser compreendido se são levados em conta os papéis característicos que
desempenha nos assuntos humanos (Enciclopédia Culturama, 2013; Garver, 1994 apud
Maxwell s/d).

Área de Patrulha: É o espaço de interesse de Segurança Pública com características que o


tornam alvo de acção criminosa, gerando intranquilidade pública e riscos à comunidade. A
identificação dessa área, com sua delimitação, pode decorrer de análises de dados estatísticos
ou de outras fontes, como reivindicações da comunidade local, divulgações pela imprensa e
informações captadas pela própria polícia em serviço (Lima & Nassaro, 2011).

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Referencial Teórico

Teoria das Actividades Rotineiras

Defendida por Cohen e Felson (1979), a Teoria das Actividades Rotineiras advoga que os
crimes são vistos como necessitando de três ingredientes: um provável infractor, um alvo
adequado e a ausência de um tutor capaz de prevenir o acto criminoso. Guardião é
amplamente interpretado como qualquer pessoa capaz de desencorajar, mesmo que apenas
por sua mera presença, ou interceder em actos criminosos, neste caso a Polícia. O crime pode
ser evitado ou reduzido tornando as pessoas menos propensas a ofender, tornando os alvos
menos disponíveis e tornando os tutores mais numerosos ou eficazes. O processo de tornar os
alvos menos disponíveis de várias maneiras tornou-se conhecido pelo termo genérico
prevenção do crime situacional, que consiste em perguntar como cada elemento é distribuído
no espaço geográfico, ou seja, onde, quando e como os crimes acontecem (Clarke, 1992).

Metodologia

Para a pesquisa do problema levantado, o estudo recorreu ao método qualitativo, auxiliado


pelo quantitativo, baseado numa análise bibliográfica e documental (relatórios das estatísticas
criminais). Constituíram principais instrumentos de recolha de dados os guiões de entrevista e
de questionário, administrados a um total de trinta e três (33) elementos, dentre membros da
PRM, efectivos da 1ª Esquadra na Cidade de Maputo, e cidadãos transeuntes, categorizados
em (i) trabalhadoras de sexo, (ii) polidores de viaturas e (iii) vendedores ambulantes, na área
adstrita à 1ª Esquadra na Cidade de Maputo, seleccionados de forma intencional e dirigida.

Análise e discussão dos resultados do Estudo

O presente subcapítulo tem como finalidade analisar e discutir os resultados obtidos com a
pesquisa de campo.

De acordo com a literatura especializada, a definição das áreas de patrulha pode ser baseada
em três critérios, nomeadamente: Político, Técnico e o de Mapeamento das ocorrências
criminais. No critério político a definição das áreas de patrulha é baseada nas reivindicações
da comunidade local, divulgações pela mídia e imprensa sobre a criminalidade, perseguição

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dos crimes, apresentando sempre a questão de carência de recursos humanos; isso porque no
senso comum sempre faltam homens uniformizados para ocupação dos espaços públicos.

Acerca disso, Becker (cit. in Bengochea, 2009) afirma que o trabalho policial de garantia da
Segurança Pública não se resume ao exercício de vigilância, em uma concepção simplória de
um modelo já ultrapassado de policiamento. Existe, portanto, a necessidade de substituição
do critério político pelo critério técnico de distribuição de efectivo para a patrulha, visto que
para quem não se orienta por critérios técnicos de emprego do recurso humano, o efectivo
nunca será suficiente e o caminho mais cómodo será sempre a reivindicação, sem fim, de
mais e mais efectivo, o que pode acobertar uma incapacidade de gestão (Lima & Nassaro,
2011).

Assim, o correcto emprego dos recursos disponíveis resultará em “colocar o homem certo, no
local certo e na hora certa”. Por outro lado, uma patrulha desatenta posicionada em local com
mínima visibilidade (poucas pessoas notando a presença policial) em área e em horário com
histórico mínimo de ocorrências criminais (enquanto acontecem crimes em outro local)
significará, para o gestor de policiamento, ter colocado “o homem errado, no local errado e na
hora errada” (Ibidem, p. 121).

O Critério técnico de definição de áreas de patrulha pressupõe que a cobertura territorial


pelos agentes deve ser feita pela ocupação de pontos estratégicos (aqueles com grande
circulação de pessoas ou alto nível de vulnerabilidade), em modo fixo ou móvel, mediante
um planeamento dinâmico baseado no histórico recente das ocorrências criminais, com
realização de abordagens e bloqueios policiais (Ibidem, pp. 119-120). Associado a este
critério, está o mapeamento das ocorrências criminais, que consiste na representação em um
mapa dos crimes registados em uma determinada área geográfica.

Caracterização do local de estudo

A área de jurisdição da 1ª Esquadra da PRM na Cidade de Maputo é constituída por 02 (dois)


bairros, sendo, Central “B” e Central “C” com 92 quarteirões. O Bairro Central “B” possui
uma área de 3.912 Km2, 14.806 Habitantes e 56 quarteirões; e o Bairro Central “C” possui
uma área de 8.50 Km2, 9.885 habitantes e 36 quarteirões (Censo, 2007). No que se refere à
localização geográfica, a Norte faz limite com a área da 6ª Esquadra através da Avenida
Eduardo Mondlane; A Sul faz limite com as áreas do Destacamento da Polícia Costeira

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Lacustre e Fluvial (PCLF) e 8ª Esquadra através das Avenidas Mártires de Inhaminga e 10 de
Novembro e pelas Ruas Marques do Pombal e 8010; A Este limita-se com a área da 2ª
Esquadra através das Avenidas Amílcar Cabral, Patrice Lumumba e uma linha imaginária
que passa pelas barreiras de Maxaqueni até a Praça Robert Mugabe; A Oeste faz limite com a
área da 7ª Esquadra através da Avenida Guerra Popular.

Em termos operativos a 1ª Esquadra apresenta uma área de jurisdição caracterizada por


concentração de muitas pessoas em consequência da convergência de actividades comerciais,
empresas e instituições públicas. Acerca disso, a teoria das actividades rotineiras, defendida
por Cohen e Felson (1979), advoga que, altas densidades populacionais criam um alto
potencial para o crime porque as pessoas e os bens estão aglomerados em pequenos espaços.
A Esquadra caracteriza-se ainda pela existência de zonas quentes onde se concentram
mulheres trabalhadoras de sexo, objectos económicos e estratégicos e durante o período
diurno assim como nocturno serve para efeitos de lazer, principalmente aos finais de semana.
Nas palavras do chefe de operações diz tratar-se de uma área que compreende “discotecas,
barres, cinemas, cine teatro, etc.” Os maiores problemas nesta área são resultado da
conjugação da “afluência de pessoas, localização geográfica dos objectos económicos e
estratégicos e local de lazer” (Entrevista com um dos responsáveis da Esquadra). Deste
modo, acredita-se que estes e outros aspectos contribuem para que se verifiquem práticas
criminais nesta jurisdição.

Situação criminal da 1ª Esquadra da PRM-Cidade de Maputo no período de 2013 a 2015

Para recolha de dados sobre a situação criminal recorremos ao livro de controlo de autos, que
consiste num livro onde são registados os autos lavrados na Esquadra, contendo informações
sobre o tipo legal de crime cometido, local de ocorrência, data e hora de cometimento, nome
da vítima/denunciante, nome do suposto criminoso (caso se conheça), a data em que a vítima
deu entrada do caso na Esquadra e as circunstâncias nas quais o crime foi praticado. A opção
pela recolha de dados no livro de controlo de autos deveu-se ao facto de os relatórios
(mensais, trimestrais, semestrais, anuais) não demonstrarem o local de ocorrência dos crimes,
limitando-se apenas em apresentar dados estatísticos da criminalidade de forma global em
gráficos e tabelas.

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Com base nos dados recolhidos neste livro foi possível constatar que o ano 2013 teve maior
registo de casos criminais em relação aos anos 2014 e 2015, facto que podemos constatar
através da tabela que é apresentada a seguir.

Anos
Famílias Delitivas
2013 2014 2015
Crimes contra a propriedade (CCP) 598 442 400
Crimes contra a integridade física (CCIF) 99 72 90
Crimes contra a honra (CCH) 18 7 10
Crimes contra reserva da vida privada (CCRVP) 43 17 20
Crimes contra liberdade das pessoas (CCLP) 3 2 3
Crimes contra a liberdade sexual (CCLS) 21 5 2
Crimes contra a segurança do Estado (CCSE) 10 9 8
Crimes contra a vida (CCV) 1 - 5
Falsificação, burla e outras defraudações (FBD) 121 85 107
Violação à autoridade pública e desobediência (VAPD) 9 2 5
Total 923 641 650

Assim, torna-se visível que em toda jurisdição os crimes contra a propriedade é que tiveram
maior destaque entre os anos 2013 e 2015, seguido dos crimes de falsificação, burla e outras
defraudações e crimes contra a integridade física.

Os dados criminais acima registados ocorreram em períodos diferentes, e com isso


agrupamos os crimes em função do período de ocorrência, a saber: das 00h às 6horas, das 6
às 12horas, das 12 às 18horas, das 18 às 00horas e período incerto, conforme podemos
verificar na tabela abaixo.

Tabela 4.2 Número de crimes em função de período de ocorrência

Período de ocorrência
Ano
00H-06H 06H-12H 12H-18H 18H-00H Incerto
2013 139 189 253 200 142
2014 92 126 139 130 154
2015 100 131 159 132 128
Total 331 446 551 462 420
Fonte: adaptado pelo autor com base nos dados do livro de controlo de autos

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Os dados acima ilustrados indicam que das 12 às 18horas constitui o período com maior
incidência criminal. Segundo um dos responsáveis da Esquadra “das 12 às 18 é a hora em que
muitas pessoas entram na cidade, algumas vem para fazer compras e acabam sendo vítimas”.

Das 18 às 00H constitui o segundo período com maior índice de criminalidade. Este aspecto
deve-se ao facto deste constituir o período em que muitas pessoas estão a sair isoladamente
da cidade para suas residências e outras entrando para efeitos de lazer. Em entrevista, um dos
responsáveis da Esquadra afirmou que “18 horas é o período em que as pessoas estão a sair, o
afluxo já não existe e é onde as pessoas são vítimas de roubo com recurso a força física (…).”

Critérios de definição das áreas de patrulha na 1ª Esquadra

As áreas de patrulha na linguagem mais usual na PRM são denominadas por giros. Segundo o
plano de patrulha obtido na secretaria, a 1ª Esquadra compreende 14 postos fixos, 40 giros,
dos quais 17 são permanentes e 23 temporários.

Os 40 giros e 14 postos fixos compreendem a ocupação de toda área de jurisdição da 1ª


Esquadra da PRM-Cidade de Maputo, porém, segundo um dos responsáveis da Esquadra, o
processo de definição das áreas de patrulha vai consistir em dos 40 giros existentes
seleccionar as áreas nas quais a presença policial é imprescindível de acordo com o efectivo
disponível. No entanto, segundo Lima e Nassaro (2011), é neste momento em que se deve
verificar a capacidade de gestão de efectivo para a patrulha, na medida em que com o
efectivo que se tiver disponível terá de se garantir a visibilidade policial na sua área de
jurisdição.

Segundo o Comandante da Esquadra, tendo em conta o número de efectivo existente, por dia
são ocupados 12 giros, os quais envolvem giros temporários e permanentes. Portanto, para
definir as áreas de patrulha toma-se em consideração a análise da situação criminal. Esta
análise constitui a base para que se possam definir as áreas de patrulha e consiste em
sistematização dos dados criminais, procurando saber quantos crimes foram cometidos, onde
foram cometidos, a que horas foram cometidos e em quais circunstâncias foram cometidos.
Para ter acesso a estas informações baseiam-se, portanto nos relatórios produzidos
diariamente pelo oficial de permanência. Os responsáveis da Esquadra foram unânimes em
afirmar que ao final de um mês ou mesmo três meses reúnem os relatórios diários com o
intuito de realizar esta análise e identificar as áreas com maior incidência. Nesta análise

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buscam identificar somente os casos relevantes, como é o caso de arrombamento, furto
qualificado e raptos, e, deste modo direccionar o patrulhamento.

Um dos entrevistados da Esquadra afirmou ainda que “quando acontece crime num sítio nós
mandamos a polícia para patrulhar nesse local e quando se regista mais crimes na mesma
zona passa a ser um giro permanente”. Percebe-se, assim, que a polícia trabalha orientada à
perseguição de crimes num modo combativo e não de prevenção. No entanto, após a
verificação dos aspectos acima arrolados, as zonas nas quais houver maior incidência
criminal e maior afluxo populacional são consideradas como áreas de patrulha.

Percebe-se, assim, que a Polícia na 1ª Esquadra da Cidade de Maputo considera como


pressuposto de identificação das áreas de patrulha a realização da análise da situação criminal
vivenciada na respectiva área de jurisdição, tendo por base os relatórios da situação operativa
elaborados diariamente. Todavia, os relatórios quando já são de natureza mensal, trimestral,
semestral ou anual já não indicam o local de ocorrência dos crimes, apresentando os dados
criminais de forma global sem informação completa sobre o local de ocorrência. Acerca
disso, Máximo (2004) explica que a falta de dados completos pode consubstanciar no fraco
domínio da situação criminal e contribuir para o tratamento impreciso dos dados criminais.

A par disso, a literatura sugere que se recorra às tecnologias digitais para auxílio à actividade
policial de análise da situação criminal, através da realização do mapeamento da
criminalidade, o que permitirá a identificação dos pontos de incidência criminal.

Mapeamento das ocorrências criminais na 1ª Esquadra da PRM na Cidade de Maputo

De acordo com os dados recolhidos na pesquisa de campo, a situação criminal na 1ª Esquadra


da PRM na Cidade de Maputo é analisada na base de estatísticas descritivas através da
apresentação de dados quantitativos, viabilizando a descrição das variáveis, através de tabelas
e gráficos, o que por sua vez apresenta limitação em relação ao estudo espacial e temporal
dos crimes para posterior definição das áreas de patrulha.

No entanto, a operacionalização do mapeamento das ocorrências criminais possibilita a


realização do estudo espacial da situação criminal em determinada área geográfica. O estudo
espacial descreve e visualiza distribuições espaciais, descobre padrões de associação
espaciais e identifica observações atípicas. Pode avaliar a variação geográfica na ocorrência
de um fenômeno, visando identificar diferenciais de risco e orientar a alocação de recursos.

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Para realização do mapeamento das ocorrências criminais na 1ª Esquadra da PRM na Cidade
de Maputo recorremos aos aplicativos dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG), e
para o caso concreto usamos o programa ArcMap versão 10.1, empregando o método de
mapas pontuais (de pino), os quais utilizam pontos para representar incidentes individuais ou
números específicos, como quando um ponto equivale a cinco incidentes. Segundo Harrier
(1997), os mapas pontuais são os mais utilizados pela polícia, na medida em que mostram a
localização dos incidentes de maneira bastante precisa quando se utiliza dados no nível dos
endereços.

Assim, com observância dos pressupostos acima arrolados, a distribuição espacial dos crimes
ocorridos na área de Jurisdição da 1ª Esquadra no período de 2013 à 2015 é demonstrada na
figura abaixo:

De acordo com a legenda da figura acima, os crimes foram georreferenciados em famílias


delitivas, onde cada ponto representado no mapa corresponde aos vários crimes inseridos na
respectiva família delitiva. Com base neste mapeamento, torna-se possível analisar de forma
quantitativa os pontos de maior incidência criminal, onde podemos destacar a Rua do
Bagamoio, Rua da Mesquita, Rua Consiglieri Pedroso, no Bairro Central C, como locais que

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apresentam maior registo de crimes contra a propriedade. De acordo com os registos da
Esquadra, estes casos são amiúde apresentados por clientes das mulheres trabalhadoras de
sexo nestes pontos, e nalgumas vezes, tem sido as mulheres trabalhadoras de sexo a
denunciar quando são vitimizadas pelos seus clientes. Outrossim, o maior registo de casos
nestes locais está também associado à proximidade que apresenta em relação à Esquadra, do
que se subentende que a distância para com a Esquadra é um dos factores que contribui para
maior denúncia dos casos. Ao longo da Av. Guerra popular verifica-se maior incidência dos
crimes contra a integridade física, e pela Av. 25 de Setembro, Av. 24 de Julho, Av. Samora
Machel verificam-se mais os casos de Falsificação, Burla e outras Defraudações.

No entanto, a desagregação dos dados criminais por ano, possibilita, ainda, analisar como é
que os crimes evoluem em determinados espaços, bem como a identificação de situações
atípicas e de alteração da ordem pública. Acredita-se, portanto, que a verificação deste
processo pode facilitar a identificação das zonas quentes e melhor orientar a alocação de
recursos para gestão dos espaços públicos no contexto da actividade preventiva de patrulha
policial.

Avaliação da eficácia dos critérios de definição das áreas de patrulha na prevenção e


combate a criminalidade

O questionário para avaliação da eficácia dos factores considerados para a definição das áreas
de patrulha foi aplicado a trinta cidadãos.

Para avaliar a qualidade da patrulha policial nos pontos focais, recorreu-se a uma escala
comportamental, na qual de acordo com as suas necessidades de segurança e visibilidade
policial, os cidadãos indicariam a qualidade dos serviços de patrulha prestados pela PRM, e
esta escala variava em boa, razoável e má, indicando a respectiva justificação.

Relativamente a patrulha policial na jurisdição da 1ª Esquadra, em termos de avaliação desta


actividade de acordo o vivenciado no dia-a-dia, 50% dos inqueridos afirma que em termos
qualitativos a patrulha policial é má. Torna-se má na medida em que a polícia se posiciona de
modo a proteger áreas em que estão indivíduos de uma determinada classe social ou em
zonas onde possa ter benefícios pessoais. Não obstante, 33% afirma que a patrulha policial é
razoável, pois por vezes vêem o carro da patrulha a circular, embora os mesmos não desçam
da viatura. Por vezes a polícia é visível, mas por um determinado e curto tempo. E somente
17% dos inqueridos avalia a patrulha policial como sendo boa, visto que a polícia exerce

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muitos esforços para garantir a segurança. Os dados referentes a esta análise podemos
conferir com a figura apresentada a seguir.

Figura 4.6 Representação gráfica dos resultados da avaliação da patrulha policial

Avaliacao da Qualidade de patrulha


policial
60% Avaliacao da Qualidade
50% de patrulha policial
40%
20% 33%
17%
0%
Boa Razoável Má

Fonte: Adaptado pelo autor com base nos resultados do questionário (apêndice II)

De forma geral a actividade de patrulha policial tem em vista garantir a segurança de pessoas
e bens para poderem exercer as suas actividades num ambiente livre de qualquer
ameaça/perturbação e prestar serviços públicos ao cidadão.

Através do questionário buscou-se ainda perceber em termos numéricos em qual posição a


patrulha policial se encontra numa escala de 0 a 10, onde 0 significa muito má e 10 muito
boa. Os resultados obtidos são ilustrados a seguir na figura a seguir.

Figura 4.8 Gráfico dos resultados da posição da patrulha policial


30.00% 26.66%
25.00%
20.00%
15.00%
10.00% 10.00% 10.00% 10.00%
10.00% 6.67% 6.67% 6.67% 6.67%
5.00% 3.33% 3.33%
0.00%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Posicao da Patrulha Policial

Fonte: Adaptado pelo autor com base nos resultados do questionário

Efectuando uma análise da figura acima denota-se que maior parte dos cidadãos, avaliando a
patrulha policial apresenta-a numa escala equilibrada, na qual os serviços de patrulha
prestados pela polícia não são muito maus e nem muito bons.

Em relação aos dados apresentados, importa salientar que para a avaliação da eficácia do
trabalho policial, tomamos em consideração dois conceitos fundamentais: Segurança Pública
e Ordem Pública, conforme recomenda Figueiredo (2000) citado por Moreira Neto (s/d).
Estes dois conceitos estabelecem entre si uma relação de efeito para causa. Se as garantias

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proporcionadas pela segurança pública são eficientes e satisfatórias, tem-se mantida a ordem
pública. Se as garantias proporcionadas pela segurança pública são deficientes ou
insatisfatórias, tem-se abalada. Se as garantias proporcionadas pela segurança pública são
insuficientes, está sacrificada a ordem pública (Figueiredo cit. in Moreira Neto, s/d).

De acordo com os resultados obtidos no questionário subentende-se que as garantias


proporcionadas pela segurança pública, isto é, os serviços de patrulha prestados pela 1ª
Esquadra da PRM-Cidade de Maputo são deficientes/insatisfatórios e por isso mesmo, a
ordem pública encontra-se abalada.

Por seu turno Becker (cit. in Bengochea 2009) afirma que Departamentos de polícia
eficientes são aqueles que fazem o crime baixar em sua área de actuação. Sob esta
perspectiva, verificando o período em análise constata-se que de 2013 a 2014 a situação
criminal tendeu a baixar, o que na perspectiva deste autor constitui eficácia do trabalho
policial. Porém, destaca-se que de 2014 a 2015 a situação criminal tendeu a aumentar, o que
de certo modo dá a entender que se verifica certa ineficácia no trabalho preventivo dos tipos
legais de crimes que ocorrem na área de jurisdição da 1ª Esquadra da PRM na Cidade de
Maputo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema de investigação neste estudo foi o seguinte: Que critérios são aplicados para a
definição das áreas de patrulha na 1ª Esquadra da PRM na Cidade de Maputo? Neste
sentido, o objectivo geral do estudo foi compreender os critérios de definição das áreas de
patrulha e sua eficácia na prevenção e combate à criminalidade na 1ª Esquadra da PRM na
Cidade de Maputo. Este objectivo foi desdobrado nos seguintes objectivos específicos:
identificar a situação criminal registada no período em estudo; descrever os critérios de
definição das áreas de patrulha; e avaliar a eficácia dos factores considerados para a definição
das áreas de patrulha na prevenção e combate da criminalidade.

Na área de estudo seleccionada, a situação criminal revelou uma tendência decrescente entre
2013 e 2014 e uma ligeira subida em 2015; os dados da criminalidade registados indicam
uma prevalência preocupante de crimes contra a propriedade, seguidos pelos crimes contra a
integridade física, com maior incidência no Bairro Central C, no período das 12h00 às 00h00.

A identificação das áreas de patrulha é feita a partir da análise da situação criminal. Contudo,
da análise cruzada de dados, a pesquisa concluiu que não existem evidências que demonstrem

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claramente os procedimentos para realização da análise criminal, as regras adoptadas e a
razão da decisão para a definição das áreas de patrulha. A polícia orienta-se pela perseguição
de crimes num modo combativo e não preventivo, ou seja, quando numa determinada área
regista-se um crime, é para aí onde se direcciona a patrulha.

Para transformar dados brutos num conjunto de números organizados, que possam ser usados
para demonstrar o comportamento da situação criminal, torna-se necessário o uso de três
ferramentas: estatísticas descritivas, estudo temporal e estudo espacial da criminalidade. Não
obstante, os relatórios periódicos elaborados na Esquadra sobre a situação operativa não
demonstram o local de ocorrência dos crimes, apresentando os dados criminais de forma
global em gráficos e tabelas sem informação completa sobre o local de ocorrência. Os dados
criminais não estão dispostos em bairros, ou seja, não existe um mecanismo de espacialização
dos crimes em função do local de ocorrência, quer seja em bairros, avenidas e ruas.

Em relação à avaliação da eficácia do trabalho policial na prevenção e combate ao crime


naquela área, o estudo concluiu que as garantias proporcionadas pela segurança pública
demonstram-se deficientes/insatisfatórias e a ordem pública encontra-se abalada.

Portanto, para se adquirir êxito na realização da análise da situação criminal de forma mais
ágil e precisa, e posterior obtenção de informações que facilitem a definição das áreas de
patrulha, a pesquisa sugere as seguintes medidas:

 Que sejam institucionalizadas e disseminadas as normas princípio e as normas regras


para a análise criminal nas Esquadras da PRM;
 Que seja adoptado e operacionalizado o sistema de mapeamento digital das
ocorrências criminais nas subunidades Policiais.

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Legislação

Constituição da República de Moçambique (2004)

Lei 16/2013 de 12 de Agosto, lei que Aprova a Polícia da República de Moçambique

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