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TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

GABRIEL FERNANDES SOUZA

RESUMO

A eficiência das investigações criminais é crucial para identificar os responsáveis pelos


crimes, iniciando assim o processo penal, enquanto se protegem os direitos dos suspeitos.
Atualmente, os procedimentos policiais, especialmente em casos de crimes de rua, tendem
a ser simplistas, focando em confissões e testemunhos. Essas falhas de procedimento
persistem desde a polícia até a decisão judicial, com efeitos dramáticos, particularmente em
situações de reconhecimento formal do suspeito pela vítima. No Brasil, essa realidade
provocou uma mudança no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, exigindo o estrito
cumprimento do Código de Processo Penal. A próxima etapa para corrigir esses erros
depende de uma transformação na rotina policial, com fiscalização do Ministério Público e
coleta de provas ilícitas pelo juiz, utilizando critérios baseados no conhecimento científico
sobre reconhecimentos equivocados. Os objetivos incluem descrever e explicar as técnicas
de investigação utilizadas pelas forças de segurança, analisar sua eficácia em diferentes
contextos, explorar a importância do respeito aos direitos humanos e à legislação vigente,
investigar como a tecnologia influencia as técnicas de investigação, analisar os desafios
contemporâneos enfrentados pelos investigadores, oferecer conselhos práticos e destacar a
importância dessas técnicas na manutenção da ordem social, prevenção de crimes e busca
pela justiça.

Palavras-chave: Investigação Criminal; Processo Penal; Técnicas de Investigação.

ABSTRACT

The efficiency of criminal investigations is crucial for identifying those responsible for crimes,
thereby initiating the criminal process, while protecting the rights of the suspects. Currently,
police procedures, especially in cases of street crimes, tend to be simplistic, focusing on
confessions and testimonies. These procedural flaws persist from the police to the judicial
decision, with dramatic effects, particularly in situations where the suspect is formally
identified by the victim. In Brazil, this reality has prompted a change in the understanding of
the Superior Court of Justice, demanding strict compliance with the Criminal Procedure
Code. The next step to correct these errors depends on a transformation in police routine,
with oversight from the Public Prosecutor's Office and the collection of illicit evidence by the
judge, using criteria based on scientific knowledge about mistaken identifications. Objectives
include describing and explaining the investigation techniques used by security forces,
analyzing their effectiveness in different contexts, exploring the importance of respecting
human rights and current legislation, investigating how technology influences investigation
techniques, analyzing contemporary challenges faced by investigators, offering practical
advice, and highlighting the importance of these techniques in maintaining social order,
preventing crimes, and pursuing justice.

Key words: Criminal Investigation; Criminal Procedure; Investigation Techniques.


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1. INTRODUÇÃO

As técnicas de investigação criminal desempenham um papel fundamental na


aplicação da lei e na busca da verdade em casos de crimes. Elas englobam um
conjunto de procedimentos e métodos cuidadosamente planejados e executados por
profissionais da área, como detetives, peritos forenses e outros especialistas em
segurança pública. A investigação criminal tem como objetivo coletar evidências,
reunir informações e reconstruir eventos que levaram à ocorrência de um crime, com
o propósito de identificar os autores e reunir elementos suficientes para sustentar a
acusação em um tribunal de justiça. Este processo desempenha um papel crucial na
garantia da justiça e na manutenção da ordem pública (SOARES, 2014).

Dentre as principais técnicas de investigação criminal, cabe ressaltar sua


importância na resolução de casos e na proteção da sociedade. Sendo que, a coleta
de evidências é um dos pilares fundamentais da investigação criminal. As evidências
podem ser físicas, como impressões digitais, DNA, armas de fogo, drogas ou objetos
relacionados ao crime, ou documentais, como registros, documentos financeiros e
eletrônicos. A coleta eficaz de evidências exige habilidades técnicas, como o
manuseio adequado de provas, a preservação da cadeia de custódia e a
documentação rigorosa (INVESTIGAÇÃO CRIMINAL, 2022).

As entrevistas e interrogatórios desempenham um papel central na obtenção


de informações de testemunhas e suspeitos. Os investigadores usam técnicas de
comunicação e psicologia para obter informações relevantes e confiáveis. É
importante garantir que essas técnicas sejam usadas dentro dos limites legais e
éticos, respeitando os direitos do entrevistado (HOFFMANN – RIEM, 2015).

A análise forense envolve o uso de métodos científicos para examinar


evidências, como amostras de DNA, impressões digitais, análise de fibras, balística
e exames de toxicologia. Essa abordagem é crucial para estabelecer conexões entre
provas e suspeitos, bem como para determinar a causa da morte em casos de
homicídio (CABRAL, 2016).

A vigilância e o monitoramento são usados para observar suspeitos e


atividades relacionadas ao crime. Isso pode envolver o uso de câmeras de
segurança, escutas telefônicas, rastreamento de veículos e outras técnicas de
vigilância eletrônica. No entanto, essas técnicas devem ser usadas com cuidado e
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dentro dos limites legais para evitar violações de privacidade (ÀVILA, 2022).

A tecnologia desempenha um papel crescente nas investigações criminais. As


agências de aplicação da lei usam sistemas de gerenciamento de casos, bancos de
dados de informações criminais, análise de dados e técnicas de mineração de dados
para identificar padrões, suspeitos e conexões em casos complexos (ARAS, 2013).

A colaboração entre diferentes agências de aplicação da lei, como polícia,


promotores, laboratórios forenses e agências federais, é essencial para o sucesso
das investigações criminais. A troca de informações e a cooperação ajudam a
resolver casos de forma mais eficaz e a abordar ameaças à segurança pública de
maneira mais abrangente (LEWANDOWSKI, 2018).

Enquanto as técnicas de investigação criminal desempenham um papel


crucial na busca da verdade e na aplicação da lei, elas também enfrentam vários
desafios. Isso inclui questões relacionadas à proteção dos direitos dos suspeitos, à
privacidade das pessoas, ao uso de tecnologia invasiva e ao risco de erro humano.
Além disso, a evolução da tecnologia e a sofisticação dos criminosos exigem uma
constante adaptação e atualização das técnicas de investigação (ARAS, 2013).

Dessa forma, as técnicas de investigação criminal desempenham um papel


vital na aplicação da lei e na busca da verdade em casos criminais. No entanto, é
crucial que essas técnicas sejam usadas de maneira ética, legal e eficaz para
garantir a justiça e o respeito pelos direitos individuais. O constante desenvolvimento
e aprimoramento dessas técnicas são necessários para enfrentar os desafios em
constante evolução no mundo da criminalidade (ARAS, 2013).
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Até o momento presente, a legislação brasileira não apresenta um dispositivo


legal que defina precisamente o conceito de investigação criminal. Apesar de
referências na Constituição Federal, no Código de Processo Penal e na Lei
12.830/13, o termo em si não é definido de forma explícita. Portanto, a referência à
legislação paralela se torna necessária para contextualizá-lo (PAULINO, 2022).

Assim, do ponto de vista normativo, não há uma definição clara de


investigação criminal. A partir da análise dos dispositivos legais mencionados, pode-
se inferir que a investigação criminal tem como objetivo principal a apuração das
infrações penais, sendo esta uma atribuição da polícia judiciária. A investigação
criminal representa o ponto de partida para a persecução penal, iniciando a busca
pelo conhecimento dos fatos e circunstâncias relacionadas a um crime (SHALDERS,
2022).

Além disso, é importante destacar que a investigação, mesmo fora do


contexto criminal, é fundamental como fonte de conhecimento e aprendizado. Ela
representa a busca pelo saber, seja por curiosidade intelectual ou necessidade de
compreensão (PAULINO, 2022).

No âmbito do direito criminal, a investigação assume uma importância ainda


maior, pois está ligada à satisfação do interesse público e à garantia da justiça. Ela é
vista como um mandamento essencial do sistema de justiça criminal, refletindo a
necessidade de buscar a verdade real e reunir os meios para provar os fatos em
juízo (PINTO, 2022).

A investigação criminal abrange todo o processo de apuração da


responsabilidade penal, desde a busca inicial pelo conhecimento dos fatos até a
análise dos elementos obtidos pelos atores do sistema de justiça criminal. Ela
permite a experimentação da verdade provável com base nos elementos coletados
(FELDENS, 2022).

Com base nessas considerações, pode-se conceituar a investigação criminal


sob dois aspectos: prático e jurídico. Do ponto de vista prático, ela consiste em um
conjunto de diligências preliminares formalizadas destinadas a apurar a existência,
materialidade, circunstâncias e autoria de uma infração penal, coletando provas e
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elementos de informação para uso na persecução penal (FELDENS, 2022).

Do ponto de vista jurídico, a investigação criminal é definida como a atividade


estatal destinada à averiguação de fatos supostamente criminosos. Ela possui uma
tríplice funcionalidade na apuração desses fatos: evitar imputações infundadas
(função garantidora), preservar a prova e os meios de sua obtenção (função
preservadora) e propiciar justa causa para a ação penal ou impedir sua inauguração
(função preparatória ou inibidora do processo criminal) (FELDENS, 2022).

Essa tríplice funcionalidade da investigação criminal é um mandamento


implícito do sistema constitucional e reflete a necessidade de equilibrar a eficácia
investigativa com a proteção dos direitos individuais e garantias constitucionais
(CAPEZ, 2018).

É importante destacar que, conforme estabelecido pela Constituição Federal,


a apuração de infrações penais e as funções de polícia judiciária competem, como
regra geral, à Polícia Federal e às Polícias Civis, cabendo às Polícias Militares o
policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública. A Polícia Federal tem
competência para apurar infrações penais contra a ordem política e social, enquanto
as Polícias Civis têm atribuição para apurar infrações penais no âmbito estadual
(CAPEZ, 2018).

Portanto, a investigação criminal é uma atribuição da polícia judiciária,


representada pela Polícia Federal e pelas Polícias Civis, conforme estabelecido pela
Constituição e pelas leis infraconstitucionais pertinentes, como o Código de
Processo Penal e a Lei 12.830/13 (ÁVILA, 2022).
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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia da pesquisa aborda a importância das técnicas de investigação


criminal na resolução de crimes e na identificação dos responsáveis, contribuindo
para a justiça e a segurança da sociedade. O estudo das técnicas de investigação
não apenas auxilia na prevenção de crimes, mas também na coleta eficaz e legal de
evidências, garantindo sua admissibilidade em tribunal. Além disso, a pesquisa das
técnicas de investigação é crucial para garantir o respeito aos direitos individuais dos
suspeitos, prevenindo abusos e garantindo o devido processo legal (ARAS, 2013).

O desenvolvimento contínuo dessas técnicas permite às agências de


aplicação da lei aprimorar suas abordagens, tornando as investigações mais
eficazes e eficientes. Um sistema de investigação criminal bem desenvolvido é
essencial para combater a impunidade e criar um ambiente mais seguro para a
comunidade. As técnicas de investigação também ajudam as autoridades a entender
as tendências criminais e adaptar suas estratégias de aplicação da lei conforme
necessário (CABRAL, 2016).

Em síntese, o estudo das técnicas de investigação criminal desempenha um


papel crucial na manutenção da justiça, na prevenção de crimes e na proteção da
sociedade. A eficácia dessas técnicas está diretamente ligada à qualidade das
investigações e à aplicação rigorosa da lei, respeitando os direitos individuais dos
suspeitos e garantindo um sistema de justiça justo e equitativo. Para realizar esta
pesquisa, foi adotada uma abordagem bibliográfica, com foco nos conceitos de
investigação, percursos forenses, criminalidade e métodos, utilizando bases de
dados relacionadas ao Ordenamento Jurídico brasileiro e Artigos Científicos sobre o
tema (MARÇAL, 2018).
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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

As novas tecnologias, como a análise de dados forenses e a inteligência


artificial, estão desempenhando um papel significativo na evolução das técnicas de
investigação criminal modernas. A análise de dados forenses permite aos
investigadores examinar grandes volumes de dados digitais, como registros de
comunicação, registros financeiros e metadados de dispositivos eletrônicos, para
identificar padrões, conexões e evidências relevantes para uma investigação. Por
outro lado, a inteligência artificial (IA) possibilita o desenvolvimento de algoritmos e
sistemas capazes de analisar dados, identificar tendências e até mesmo prever
comportamentos criminosos com base em modelos estatísticos e de aprendizado de
máquina (DE – LORENZI, 2019).

Essas tecnologias têm o potencial de acelerar e aprimorar o processo de


investigação criminal, fornecendo insights valiosos e ajudando os investigadores a
tomarem decisões mais informadas. Por exemplo, a análise de dados forenses pode
ajudar a rastrear atividades suspeitas online, identificar redes criminosas e até
mesmo localizar suspeitos com base em padrões de comportamento. Da mesma
forma, a inteligência artificial pode ser usada para analisar grandes conjuntos de
dados e identificar correlações entre diferentes variáveis, auxiliando na identificação
de possíveis suspeitos e na prevenção de crimes (MOREIRA, 2014).

No entanto, o uso dessas tecnologias também apresenta desafios éticos e


legais significativos. Um dos principais desafios éticos é garantir que o uso de dados
e inteligência artificial respeite os direitos individuais e a privacidade das pessoas
envolvidas em uma investigação. Por exemplo, a coleta e análise de dados pessoais
sem consentimento adequado ou sem justificativa legal pode violar direitos
fundamentais de privacidade (NEVES, 2011).

Além disso, o uso de algoritmos de inteligência artificial pode gerar


preocupações sobre discriminação e viés, especialmente se os modelos forem
treinados com conjuntos de dados que refletem preconceitos existentes na
sociedade. Isso pode levar a decisões injustas ou discriminatórias, prejudicando a
confiança no sistema de justiça criminal (NEVES, 2011).

Para equilibrar a eficácia investigativa com a proteção dos direitos individuais


e da privacidade, é essencial implementar salvaguardas adequadas e garantir a
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transparência e a prestação de contas no uso de tecnologias de investigação. Isso


pode incluir a adoção de políticas claras de governança de dados, o uso de técnicas
de anonimização para proteger a identidade dos indivíduos envolvidos e a realização
de avaliações de impacto ético antes da implementação de novas tecnologias
(SHALDERS, 2020).

Além disso, é importante garantir a supervisão adequada do uso de


tecnologias de investigação criminal por parte das autoridades reguladoras e
judiciais, garantindo que os direitos individuais sejam protegidos e que o uso dessas
tecnologias esteja em conformidade com os princípios legais e éticos estabelecidos.
O desenvolvimento de diretrizes e padrões éticos para o uso de tecnologias de
investigação criminal também pode ser útil para orientar as práticas das agências de
aplicação da lei e garantir que o equilíbrio adequado entre eficácia investigativa e
proteção dos direitos individuais seja alcançado em um mundo cada vez mais digital
(WUNDERLICH, 2020).

A investigação policial, componente fundamental do processo penal, é muitas


vezes subestimada em comparação com a atividade instrutória em juízo. No Brasil, a
maioria das investigações criminais é conduzida pela Polícia Civil, embora o
Ministério Público possa participar em casos específicos, especialmente
relacionados à macrocriminalidade. Nos crimes de rua, como roubo e crimes
violentos, a Polícia Civil desempenha um papel central na coleta de evidências, e os
depoimentos de policiais militares frequentemente desempenham um papel crucial
na formação dessas provas (WUNDERLICH, 2020).

Em casos de roubo, quando o autor não é capturado no momento do crime, a


investigação policial depende do reconhecimento formal da pessoa suspeita. Esse
processo pode envolver a descrição do suspeito pela vítima, a apresentação de
possíveis suspeitos pela polícia e, em alguns casos, um confronto direto entre o
suspeito e a vítima. No entanto, a confiabilidade desses reconhecimentos informais
pode ser questionada (SOARES, 2014).

A legislação brasileira, especificamente o Código de Processo Penal,


estabelece diretrizes claras para o reconhecimento de pessoas, incluindo a
descrição prévia do suspeito pela vítima, a realização do reconhecimento em
conjunto com outras pessoas semelhantes e a elaboração de um registro detalhado
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do processo. No entanto, na prática, muitas vezes essas diretrizes não são seguidas
corretamente, levantando questões sobre a validade dessas provas (JARDIM, 2003).

O reconhecimento formal de suspeitos é uma parte crucial da investigação


policial em casos de roubo e outros crimes. No entanto, a forma como esses
reconhecimentos são conduzidos nem sempre segue os procedimentos legais
estabelecidos, o que pode comprometer sua confiabilidade como prova em
processos criminais (WANDERLEY, 2021).

Destaca-se, através dos estudos realizados, a falta de conformidade entre as


práticas de reconhecimento de suspeitos e as diretrizes legais, apesar da clareza
das normas. Uma mudança na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
exemplificada pelo caso do Habeas Corpus n. 598.886-SC, revelou uma série de
falhas nos processos de reconhecimento formal de suspeitos. Um levantamento de
dados do STJ entre 27/10/2020 e 19/12/2021 identificou 89 casos em que a ordem
foi concedida devido a falhas no ato de reconhecimento (WANDERLEY, 2021).

Essas falhas incluem reconhecimentos feitos com o suspeito detido na


delegacia ou através de fotografias, muitas vezes sem a apresentação de outros
suspeitos semelhantes. Exemplos específicos de casos destacam problemas como
apresentações de fotos sugestivas, falta de corroboração de outros elementos de
prova e reconhecimentos baseados em características peculiares (VIEIRA, 2019).

Apesar da mudança na jurisprudência, alguns casos continuam a apresentar


vícios no processo de reconhecimento. No entanto, a recomendação da Vice-
Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro para reavaliar
decisões baseadas apenas em reconhecimento fotográfico indica uma mudança
positiva na consciência judicial (PAULINO, 2022).

Há também a necessidade de conscientização das corporações policiais para


evitar erros judiciais no processo de reconhecimento de suspeitos. Um Grupo de
Trabalho no âmbito do Conselho Nacional de Justiça está empenhado em
desenvolver produtos para minimizar os riscos de erros judiciais decorrentes de
falhas nesse processo (SHALDERS, 2022).

A persistência de aspectos inquisitoriais e autoritários no Código de Processo


Penal brasileiro, mesmo após 80 anos de sua existência e várias reformas
legislativas. Essas características refletem a influência de governos autoritários do
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século XX, como o regime de Getúlio Vargas, que promulgou o código em 1941,
baseado em ideias estatizantes e hierárquicas (WANDERLICH, 2020).

A democratização do Brasil, especialmente com a Constituição de 1988,


trouxe mudanças significativas, reconhecendo os direitos individuais e
transformando o cidadão em sujeito de direitos. No entanto, certos hábitos e visões
de mundo persistem, especialmente no sistema de justiça criminal, influenciados
pela cultura jurídica lusitana e pela história colonial do país (MOREIRA, 2004).

A lógica investigativa continua centrada em obter confissões e depoimentos


de testemunhas, com o ato de reconhecimento do suspeito desempenhando um
papel crucial. No entanto, esse procedimento muitas vezes é realizado sem seguir
as normas legais, levando a condenações baseadas em provas insuficientes (LIMA,
2021).

Sendo assim, ressalta-se a necessidade de uma mudança nos procedimentos


policiais, com o Ministério Público exercendo um papel mais ativo na fiscalização
das investigações e os juízes rejeitando provas obtidas de forma irregular. Essa
mudança requer uma revisão dos "costumes persecutórios" arraigados e uma
abordagem mais crítica em relação aos entendimentos jurisprudenciais consolidados
(FELDENS, 2014).

A necessidade de racionalizar os procedimentos policiais, especialmente no


que diz respeito aos reconhecimentos pessoais, a fim de evitar condenações
injustas. É ressaltado que a academia tem produzido pesquisas sobre as
deficiências do sistema de persecução penal, mas é necessário implementar
estratégias concretas para melhorar a instrução e implementação de protocolos
técnicos (DE-LORENZI, 2019).

Sugere-se que as polícias adotem medidas como treinamento dos policiais,


procedimentos "cegos" de identificação, instruções padronizadas para ouvir
testemunhas e documentação do nível de confiança das testemunhas. O Ministério
Público é chamado a exercer seu papel de controle externo da atividade policial,
garantindo o respeito aos direitos individuais e à ordem jurídica (INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL, 2022).

A responsabilidade do Poder Judiciário em proteger os direitos do acusado e


em não validar reconhecimentos realizados em desconformidade com a lei. Além
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disso, enfatiza a importância de seguir as prescrições legais relativas à prova para


limitar o poder dos órgãos encarregados de obter a prova e proteger os direitos dos
suspeitos, investigados ou acusados (INVESTIGAÇÃO CRIMINAL, 2022).

Essa nova abordagem implica a possibilidade de anulação de processos e a


soltura de pessoas injustamente processadas, com o objetivo de minimizar o número
de condenações injustas e ilegais. Em última análise, prioriza-se a ideia de que
nenhum inocente deve ser punido, mesmo que isso signifique não punir alguns
culpados (ÁVILA, 2022).

A presunção de inocência como princípio é fundamental aos tratamentos


dados aos investigados e acusados no sistema penal. Destaca-se que esse princípio
exige que todas as partes envolvidas no processo penal, incluindo juízes,
promotores, policiais e servidores, tratem o suspeito com respeito à sua dignidade e
não o equiparem àqueles que já foram condenados (LIMA, 2021).

Há uma reflexão sobre a necessidade de avanços não apenas em países com


problemas democráticos, mas também em nações desenvolvidas, onde ainda
existem práticas punitivas antiquadas e desrespeitosas. O texto ressalta que a forma
como o sistema de justiça criminal trata os acusados reflete diretamente a postura
autoritária ou respeitosa do Estado e suas instituições (LIMA, 2021).

Além disso, a presunção de inocência não se limita à atividade judicial, mas


deve ser observada em todas as fases do processo, incluindo a investigação policial.
Destaca-se a importância do tratamento respeitoso ao suspeito, mesmo antes da
fase judicial, para garantir a dignidade humana e a justiça no sistema penal
(FELDENS, 2022).

A abordagem destaca a necessidade de legitimidade na atuação policial,


baseada no respeito aos direitos individuais e na qualidade do tratamento oferecido
aos cidadãos. Em última análise, o texto ressalta que o processo penal não deve ser
apenas um instrumento de punição, mas também uma garantia dos direitos do
acusado e uma expressão dos valores da dignidade humana e da civilização
(MARÇAL, 2018).

No contexto do Código de Processo Penal brasileiro, os métodos de


investigação referem-se às técnicas e procedimentos estabelecidos para conduzir
investigações criminais e produzir provas que esclareçam os delitos. Essas
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investigações, realizadas principalmente pela polícia judiciária, visam identificar os


responsáveis por crimes e reunir evidências para embasar processos legais. O
processo inclui diligências como o inquérito policial, uma apuração formal para
coletar informações e evidências relacionadas ao crime (VIEIRA, 2019).

A investigação forense abrange técnicas como a do pó, usada para decalcar


impressões digitais em superfícies lisas, e técnicas do nitrato de prata, que reagem
com substâncias presentes na pele para revelar impressões em superfícies porosas.
O uso de iodo também é comum, pois sua sublimação reage com as impressões,
formando uma substância marrom-amarelada. Esses métodos são cruciais na
obtenção de evidências para investigações criminais (INVESTIGAÇÃO CROMINAL,
2022).

Além disso, é essencial compreender a investigação preliminar, a primeira


fase do processo penal, que reúne elementos mínimos sobre a prática de um crime
para justificar sua investigação. O inquérito policial é parte desse processo, sendo
um procedimento administrativo para apurar uma infração penal e identificar os
responsáveis, fornecendo elementos para que o Ministério Público ou as vítimas
possam formular acusações (WANDERLEY, 2021).

A Cadeia de Custódia, regulamentada pela Lei 13.964/19, garante a


rastreabilidade e preservação adequada das evidências desde sua identificação até
sua descartagem. A perícia desempenha um papel crucial na análise de provas, com
suas funções incluindo a realização de tarefas especializadas, a aplicação de
normas técnicas, a análise de materiais e a avaliação dos contextos dos casos
(OLIVEIRA, 2019).

A evolução tecnológica trouxe mudanças significativas nas investigações


criminais, com a introdução de evidências digitais e eletrônicas como parte essencial
do processo penal. A ciência forense digital tornou-se crucial na recuperação e
análise de dados eletrônicos, exigindo métodos específicos para garantir a
integridade e autenticidade das provas coletadas (MATIDA, 2021).

O princípio da integridade é fundamental na preservação das evidências


digitais, evitando qualquer alteração ou perda de dados ao longo do processo
investigativo. A evolução legislativa também reflete o reconhecimento crescente de
documentos digitais como meios de prova válidos no sistema jurídico. Dessa forma,
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os métodos de investigação forense, aliados aos avanços tecnológicos,


desempenham um papel essencial na elucidação de crimes, fornecendo evidências
cruciais para embasar processos legais e garantir a justiça no sistema jurídico
(OLIVEIRA, 2019).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A técnica utilizada para o desenvolvimento de provas em todo o mundo está


em constante atualização, impulsionada pelo avanço dos meios tecnológicos que
permeiam tanto o campo da informática quanto o da medicina. À medida que essa
evolução se intensifica, observa-se que diversos recursos auxiliam não apenas os
profissionais do âmbito jurídico, mas também aqueles de outras áreas relacionadas.
É notável que, com a crescente incidência de tecnologias no cenário
moderno, o desenvolvimento de técnicas de investigação digital, assim como a
proteção e o manuseio de dados, torna-se cada vez mais imprescindível.
Em suma, o texto abrangeu um amplo panorama da investigação forense no
Brasil, abordando métodos de produção de provas, procedimentos periciais e a
importância da cadeia de custódia. Destacou-se o papel crucial dos avanços
tecnológicos na elucidação de crimes, ressaltando a relevância da simplificação
desses métodos para uma compreensão mais ampla.
Embora a investigação forense tenha sido historicamente subestimada no
país, sua importância se revela vital na resolução de casos, inclusive em contextos
amplamente divulgados pela mídia, enfatizando a evolução das normativas legais
para a aceitação de documentos digitais como prova no contexto jurídico.
Dessa forma, conclui-se que a investigação forense, aliada aos avanços
tecnológicos e à rigidez das normativas legais, desempenha um papel essencial na
elucidação de crimes, proporcionando não apenas a resolução de casos específicos,
mas também contribuindo para o desenvolvimento e aprimoramento contínuo do
sistema jurídico no Brasil.
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6. REFERÊNCIAS

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