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INTELIGÊNCIA POLICIAL: UMA FERRAMENTA NA

GESTÃO ESTRATÉGICA DA SEGURANÇA PÚBLICA

POLICE INTELLIGENCE: A TOOL IN THE STRATEGIC


MANAGEMENT OF PUBLIC SAFETY

Jakson Aquiles Busnello


Mestrando em Administração Profissional pela Universidade Estadual do
Centro-Oeste/PR (UNICENTRO)
http://lattes.cnpq.br/3049160789625242
Data de submissão: 21/06/2023

RESUMO:
Na contemporaneidade ao discutirmos sobre segurança pública, vemos
que o policiamento fundamentado na Inteligência Policial surge como
uma ferramenta diferenciada, já que, a violência e criminalidade no
Brasil, assim como em todo o mundo, são dinâmicas, ou seja, estão cada
vez mais aprimoradas, expondo uma dificuldade para prevenir e punir o
delito, e por vezes colocando a credibilidade da ação do Estado em
dúvidas. Este estudo visa explanar sobre o emprego da Inteligência
Policial como ferramenta de gestão estratégica das políticas públicas e
para desenvolver a temática foi utilizada a abordagem qualitativa,
consubstanciada em ampla revisão explicativa-bibliográfica, com
conhecimento voltado para o ramo da Segurança Pública,
fundamentando-se mais precisamente em legislações, artigos científicos,
sites oficiais e estudos relacionados ao assunto, bem como Brandão,
Paula, Ratcliffe, tendo como objetivo argumentar sobre as técnicas de
Inteligência Policial e sua aplicabilidade, bem como verificar as vantagens
do policiamento orientado pela Inteligência Policial sobre outras
modalidades, permitindo, de certa forma, a previsão do comportamento
criminoso, pela análise de padrões, o uso de técnicas operacionais de
inteligência e a integração de dados e informações de diversas fontes,
assim como possíveis desvantagens. Conceitua-se Segurança Pública,
Atividade de Inteligência e Inteligência Policial. A questão norteadora
procura indagar como a Inteligência Policial pode ser operada como
ferramenta estratégica de gestão em Segurança Pública para prevenir e
combater o crime? Ressalta-se que a Inteligência Policial deve ser
utilizada de forma ética e responsável, garantindo o acatamento aos
direitos humanos e individuais dos cidadãos.
Palavras-chaves: Crime. Gestão. Inteligência Policial. Policiamento.
Segurança Pública
RESUME:
In contemporary times, when discussing public security, we see that
policing based on police intelligence emerges as a differentiated tool, since
violence and crime in Brazil, as well as around the world, are dynamic,
that is, they are increasingly improved, exposing a difficulty in preventing
and punishing the crime, and sometimes putting the credibility of the
State's action in doubt. This study aims to explain the use of police
intelligence as a tool for the strategic management of public policies and
to develop the theme, a qualitative approach was used, embodied in a
broad explanatory-bibliographic review, with knowledge focused on the
field of Public Security, based on more precisely in legislation, scientific
articles, official websites and studies related to the subject, as well as
Brandão, Paula, Ratcliffe, with the objective of arguing about police
intelligence techniques and their applicability, as well as verifying the
advantages of policing guided by police intelligence over other modalities,
allowing, to a certain extent, the prediction of criminal behavior, through
the analysis of patterns, the use of operational intelligence techniques
and the integration of data and information from different sources, as
well as possible disadvantages. Public Security, Intelligence Activity and
Police Intelligence are conceptualized. The guiding question seeks to ask
how police intelligence can be operated as a strategic public safety
management tool to prevent and combat crime? It is emphasized that
police intelligence must be used ethically and responsibly, ensuring
compliance with the human and individual rights of citizens.
Keywords: Crime. Management. Police Intelligence. Policing. Public
security
1. INTRODUÇÃO

A Segurança Pública, é dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos os cidadãos residentes no país, sendo garantida pelos mais
diversos órgãos, dentre eles a Polícia Militar, como nos aponta o artigo
144 da Constituição Federal.

Art. 144. A Segurança Pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Nos dias atuais pode-se definir Segurança Pública de acordo com


Lopes (2014, p. 20):

Um processo sistêmico e otimizado que engloba um conjunto de


ações públicas e comunitárias, que tem como meta proteger o
indivíduo e a coletividade, ampliando a justiça da punição,
recuperação e tratamento dos que violam a lei, garantindo
direitos e cidadania a todos.

É uma das áreas mais complexas em se desenvolver ações visto os


diversos fatores e variáveis que a afetam, pois ela é o pleno exercício da
cidadania, no entanto tem se tornado uma das grandes preocupações de
governantes e da sociedade civil como um todo, ainda mais quando
acompanhamos estatísticas sobre a violência, uma sensação de
impunidade e uma cobrança enfática da população, tornam ainda mais
evidente a necessidade de políticas de prevenção e também no combate
a criminalidade.
Na atualidade, a gestão estratégica das organizações de Segurança
Pública é um desafio contínuo e, à medida que as ameaças e os desafios
enfrentados pela sociedade se tornam mais sofisticados e complexos,
torna-se cada vez mais importante empregar, novas tecnologias e
abordagens, ações inovadoras e eficazes para lidar com a dinâmica
desses ambientes operacionais. Dentro deste contexto, a Inteligência
Policial tem se tornado um importante recurso para a gestão da
informação, capaz de coletar, analisar e disseminar dados relevantes
para a tomada de decisões em atividades operacionais e estratégicas, e
para um maior conhecimento do tema fizemos uso de uma abordagem
qualitativa.
Segundo Denzin e Lincoln (2006).

A pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa


do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as
coisas em seus cenários naturais, tentando entender os
fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles
conferem.

A condução do policiamento norteado pela inteligência perpassa


pela materialização da doutrina nacional de Inteligência Policial,
solidificando as políticas de Segurança Pública com fundamentado pelos
planos de ações desenvolvidos pelas agências de inteligência, e o uso da
pesquisa explicativa se fez imprescindível para realizar essa conexão
dessas ideias aproximando-as da realidade.
De acordo Lakatos & Marconi (2001).

Este tipo de pesquisa visa estabelecer relações de causa-efeito


por meio da manipulação direta das variáveis relativas ao 23
objeto de estudo, buscando identificar as causas do fenômeno.
Normalmente, é mais realizada em laboratório do que em
campo.

A admissão desse modelo de gestão alicerçado na Inteligência


Policial deve ser fundamentada no reconhecimento de que a preservação
da ordem pública, frente a evolução da sociedade, requer de sistemas
mais eficientes para entender o ambiente sociocultural e minimizar os
riscos.
Com o intuito de desenvolver o estudo, a técnica de pesquisa
bibliográfica foi utilizada, com a finalidade de exercitar reflexões a
respeito da temática priorizada, sendo consultada e analisada as
referências teóricas sobre o uso da Inteligência Policial como ferramenta
de gestão estratégica em atividades de segurança pública..
Para Andrade (2010, p. 25) a definição de pesquisa bibliográfica é:
A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de
graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas
as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de
campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica
preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos,
monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é
obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema
de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto,
nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é
verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de
laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem
exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão
empreender pesquisas bibliográficas.

A intenção é fornecer uma visão geral sobre o papel da Inteligência


Policial na gestão estratégica de informações, considerando suas
potencialidades e limitações na tomada de decisão em atividades de
segurança pública
Porém ainda somos carentes de uma estruturação baseada nesse
conceito. Como afirma Brandão (2010, p. 17):

Ainda não alcançamos no país um grau de especialização e


proeminência capaz de gerar o que em outros países já se chama
de policiamento liderado pela inteligência (intelligence led-
policing). É crucial construir uma cultura capaz de perceber as
respostas e os resultados operacionais imediatos que a Atividade
de Inteligência pode fornecer e que depende fundamentalmente
da sinergia produzida entre os ganhos tecnológicos viabilizados
pela infraestrutura de tecnologia de informações e
comunicações, pela riqueza dos bancos de dados e das
informações entranhadas na própria atividade operacional
(preventiva e investigativa) e pela capacidade analítica.
2. CONCEITUANDO INTELIGÊNCIA POLICIAL

Um dos mais controversos assuntos para os profissionais e


estudiosos da inteligência é o conceito de Inteligência Policial, uma vez
que devido às inúmeras intercessões existentes entre a Atividade de
Inteligência em si e a investigação criminal, torna-se difícil estabelecer de
forma clara os limites entre elas.
Neste sentido Cepik (2003, p. 27-29) nos define inteligência como:

Inteligência, em uma definição ampla, é toda informação


coletada, organizada ou analisada para atender as demandas de
um tomador de decisão qualquer.

Paula (2013, p. 35) nos explana sobre conceito de Atividade de


Inteligência:
Atividade de Inteligência compreende a obtenção e o
processamento de um conjunto de ativos informacionais que são
de interesse de uma organização ou entidade visando à produção
de determinados conhecimentos que possam vir a gerar
influências em determinados juízos, ações e comportamentos,
em especial no tocante as influências para os processos
decisórios voltados para as pessoas, à sociedade e ao Estado.

A Lei Federal nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, a qual institui


o Sistema Brasileiro de Inteligência e cria a Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN), em seu artigo 1º, § 2º, nos é apresentado o que se
entende por Atividade de Inteligência.

A atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de


conhecimentos, dentro e fora do território nacional, sobre fatos
e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo
decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a
segurança da sociedade e do Estado.

Segundo a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança


Pública (DNISP, 2000) podemos compreender a essência de Inteligência
Policial como sendo um processo sistemático e exploratório de ações.

A Inteligência Policial apresenta peculiarmente um processo


sistemático ou mesmo exploratório de algumas ações, entre elas
a coleta, análise e disseminação de informações, que fornecem
subsídios para em identificar, avaliar, analisar e gerenciar riscos
e ameaças à segurança pública, apresentando alternativas ao
gestor cuja finalidade procurará em subsidiar a tomada de
decisões. Esta é uma abordagem baseada em técnicas de
investigação, inteligência e análise de dados, que envolve a
utilização de tecnologias avançadas, métodos e procedimentos
especializados para identificar padrões e tendências que possam
fornecer informações úteis para a tomada de decisão. A
Inteligência tem como finalidade a produção e proteção de
conhecimentos, logo, a Atividade de Inteligência de Segurança
Pública (ISP) possui dois ramos: a Inteligência e a
Contrainteligência. Como espécies estabelecidas na Inteligência
de Segurança Pública estão a Inteligência Bombeiro Militar,
Inteligência Policial Militar, Inteligência Policial Judiciária,
Inteligência Policial Rodoviária.

Compreender o papel da Inteligência Policial como ferramenta de


gestão estratégica é primordial para a validação desse arquétipo de gestão
da segurança pública, sendo assim, uma revisão bibliográfica sobre o uso
da Inteligência Policial como ferramenta de gestão estratégica em
atividades de Segurança Pública é primordial para o entendimento.
A Inteligência Policial na definição que visa à obtenção, análise e
disseminação de informações decorrentes da segurança pública, e com o
objetivo de orientar a tomada de decisões em atividades operacionais e
estratégicas dos gestores. Destarte, a gestão estratégica de informações
é um dos principais desafios enfrentados pelas organizações de
segurança pública, uma vez que os dados disponíveis são complexos,
heterogêneos e em constante mudança.
De acordo com Jamil e Neves (2000, p.6):

Em tempos do movimento chamado de globalização, a


informação deixou de ser componente para ser a ferramenta de
ação, para assumir seu lugar no primeiro plano na atividade
gerencial.

Silva; Rolim (2017) nos certifica sobre a importância da Atividade


de Inteligência da Segurança Pública diante do enfrentamento da
criminalidade em todas as suas particularidades:

A Atividade de Inteligência de Segurança Pública tem


importância fundamental para as decisões em prol da segurança
das pessoas possam acontecer. Operações de Segurança Pública
voltadas para a prevenção criminal perpassa pela incorporação
de ocorre após análise e produção de conhecimentos que
respaldem o tomador de decisão no enfrentamento a
criminalidade e todas as suas nuances. A Inteligência Policial
é uma ferramenta que permite que a coleta de informações
relevantes para a tomada de decisões ofertando vantagens em
relação às abordagens tradicionais de coleta de informações pois
é capaz de fornecer informações em tempo real, que podem ser
utilizadas para orientar ações proativas e de repressão aos
crimes.

O professor Ferro Júnior (2008), retrata os conceitos da


Inteligência Policial:

A Inteligência Policial é a atividade que objetiva a obtenção,


análise e produção de conhecimentos de interesse da Segurança
Pública no território nacional, sobre fatos e situações de
imediata ou potencial influência da criminalidade, atuação de
organizações criminosas, controle de delitos sociais,
assessorando as ações de polícia judiciária e ostensiva por
intermédio da análise, compartilhamento e difusão de
informações.

A análise de dados é outro componente fundamental da


Inteligência Policial, que envolve uma metodologia de produção do
conhecimento por intermédio de técnicas e ferramentas de mineração de
dados para identificar padrões e tendências, e o produto da inteligência
é obtido pelo processo de transformação de dados brutos em informações
úteis para a tomada de decisões.
A produção do conhecimento transforma dados em conhecimento
que poderão ser utilizados no processo decisório, sobre isso nos explica
Mesquita e Sette Junior (2020):

A produção do conhecimento é para a inteligência Segurança


Pública (ISP), conforme a doutrina, a transformação de dados
e/ou informações em conhecimentos avaliados,
significativos, úteis, oportunos e seguros, de acordo com a
sua metodologia, a qualifica também como uma atividade de
Inteligência, e que na medida em ocorre a coleta e busca
dados através da metodologia que a transforma em
conhecimento com a finalidade utilização no processo decisório
pelo gestor.
A Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP,
2000) deixa claro que a disseminação do conhecimento é uma etapa em
que as informações são divididas aos setores encarregados.

A disseminação desse conhecimento, já é uma a etapa em que


as informações produzidas são compartimentadas com os
setores ou responsáveis pelas tomadas de decisões e por fim, a
avaliação de resultados a qual é a etapa em que são avaliados os
resultados das ações tomadas com base nas informações
produzidas pela Inteligência Policial.

Conclui-se, portanto, que a Inteligência Policial é uma ferramenta


de gestão estratégica precípua em atividades de segurança pública, pois,
objetiva a coleta, análise e disseminação de informações relevantes para
a tomada de decisões, demonstrando tendências com base em análise de
risco, análise de vínculo e análise criminal. As Atividades de Inteligência
Policial envolvem o uso de tecnologias avançadas, métodos especializados
e procedimentos rigorosos, visando a identificação de padrões e
tendências comportamental que possam contribuir para a promoção da
segurança pública.
3. TÉCNICAS DE INTELIGÊNCIA POLICIAL

A Inteligência Policial é composta por uma miscelânea de


conceitos, metodologias e técnicas que visam a busca do dado negado,
coleta, análise e difusão do conhecimento que tenha relevância para a
gestão estratégica em atividades de Segurança Pública para a obtenção
da preservação da ordem pública. Essas informações são utilizadas para
orientar as tomadas de decisão em diferentes contextos, como
investigações criminais, prevenção de crimes, proteção de pessoas e
patrimônio, entre outros.
Os modelos de Inteligência Policial normalmente são divididos em
três categorias principais: estratégicos, táticos e operacionais. Os
modelos estratégicos estão voltados para a definição de políticas e
diretrizes gerais para a segurança pública. Os modelos táticos são
voltados para nortear as ações em atividades específicas, como
investigações criminais ou operações de combate ao crime organizado. Já
os modelos operacionais são voltados para a execução das ações
definidas pelos modelos táticos, como a realização de prisões, buscas e
apreensões.
Para a busca e coleta de informações, são utilizadas diversas
técnicas operacionais, tais como fontes abertas (sites, redes sociais e
mídia), fontes fechadas (como bancos de dados de órgãos públicos e
privados), e técnicas de vigilância (como monitoramento de comunicações
telefônicas e eletrônicas). A análise de dados é realizada por intermédio
de técnicas estatísticas, mineração de dados, inteligência artificial e
outras técnicas avançadas, a fim de identificar padrões e tendências que
possam ser utilizáveis para a tomada de decisões.
Segundo Bechara (2016, p. 172)

A Atividade de Inteligência produz conhecimento, cujo conteúdo


é composto por informações, as quais são obtidas não somente
em fontes publicamente acessíveis, como jornais e revistas, mas
também em fontes protegidas pelo sigilo legal, como o dado
bancário e fiscal, por exemplo.
Nesse contexto, alguns autores entendem que a fase de avaliação
dos dados se baseia numa retroalimentação oriunda dos consumidores
do conhecimento gerada pela própria de inteligência, e segundo Fuentes
(2006, p. 6):

O Ciclo de Inteligência é o processo pelo qual as lacunas de


inteligência são identificadas, os dados/informações relevantes
são atribuídos e coletados e depois convertidos em inteligência
finalizada para disseminação aos consumidores nos níveis
tático, operacional e estratégico. Esses consumidores, no devido
tempo, usam essa inteligência para tomar decisões mais bem
informados. Os consumidores incluem formuladores de
políticas, gestores, investigadores, analistas ou agentes -
qualquer pessoa com o direito de saber e a necessidade de
conhecer a inteligência.

A aplicação da Inteligência Policial em diferentes contextos


depende das necessidades e objetivos específicos de cada situação, por
exemplo, em investigações criminais, a Inteligência Policial é utilizada
para identificar suspeitos e mapear ações criminosas, já prevenção de
crimes, a Inteligência Policial é utilizada para identificar locais de maior
risco e implementar medidas preventivas, por outro lado, na proteção de
pessoas e patrimônio, a Inteligência Policial é utilizada para monitorar
atividades suspeitas e garantir preservação da ordem pública.
Os conceitos, modelos e técnicas operacionais de Inteligência
Policial são fundamentais para a gestão estratégica em atividades de
segurança pública, e que a aplicação desses conceitos em diferentes
contextos pode contribuir para a redução da criminalidade e para a
promoção da Segurança Pública de forma mais eficiente e eficaz.
4. A VISÃO GERAL SOBRE O PAPEL DA INTELIGÊNCIA POLICIAL NA
GESTÃO ESTRATÉGICA DE INFORMAÇÕES E SUAS
POTENCIALIDADES

A Inteligência Policial desempenha um papel fundamental na


gestão estratégica de informações em atividades de segurança pública,
pois ela se baseia na coleta, análise e disseminação de informações
relevantes para a tomada de decisões em diferentes cenários levando em
consideração diversos atores, e que sua aplicação transpassa desde a
atividade de prevenção, até mesmo em a aplicação em operações policiais.
Como ferramenta, a Inteligência Policial é primordial para a gestão
estratégica do conhecimento no ramo de segurança pública, e sua
aplicação permite o desenvolvimento de estratégias proativas para a
prevenção e combate a crimes, por meio da coleta e análise de
informações relevantes baseadas em análise de risco, análise de vínculo
e análise criminal. O acompanhamento pela Inteligência Policial das
ações policiais, entregam aos gestores caminhos importantes que
auxiliam no lançamento do policiamento ostensivo nas vias públicas,
em abordagens policiais, e na antecipação dos crimes.
Dentre as potencialidades da Inteligência Policial, destaca-se sua
capacidade de fornecer informações atualizáveis e precisas sobre o crime,
a criminalidade e suas tendências e isso permite que os órgãos de
Segurança Pública possam antecipar e prevenir crimes, bem como
identificar e neutralizar organizações criminosas.
Conforme Delpeuch & Ross (2016, p. 19) desse modo, entendemos
que:

As informações devem ser usadas de maneira a ajudar os


tomadores de decisão policiais a entender as questões de
Segurança Pública em seu território; selecionar prioridades de
aplicação; e desenvolver estratégias de solução de problemas. A
inteligência também deve ajudar os comandantes a selecionar
as abordagens de solução de problemas mais promissoras, a fim
de garantir um uso eficiente de recursos limitados da aplicação
da lei.
Essa mesma Inteligência Policial possibilita a identificação de
tendências criminais e a análise de dados estatísticos, contribuindo para a
definição de políticas e diretrizes mais eficazes no combate ao crime, sendo
possível realizar a avaliação de riscos e a identificação de áreas críticas,
permitindo que medidas preventivas sejam implementadas de forma mais
estratégica.
Também, segundo Ratcliffe ( 2016, p. 66) corrobora com o pensamento,
quando afirma que:

O policiamento baseado em inteligência enfatiza a análise e a


inteligência como essenciais para uma estrutura objetiva de
tomada de decisão que prioriza os pontos críticos do crime,
vítimas recorrentes, infratores prolíficos e grupos criminosos.
Facilita o crime e a redução de danos, interrupção e prevenção
por meio de gerenciamento estratégico e tático, implantação e
fiscalização.

Por outro viés, a Inteligência Policial também tem demonstrado


como uma importante ferramenta para a investigação criminal,
permitindo que os órgãos de Segurança Pública como um todo possam
coletar e analisar informações de forma mais eficiente e eficaz, deste
modo, isso pode levar à identificação de suspeitos, à localização de
evidências e à solução de crimes.
Destaca-se que a Inteligência Policial não é uma panaceia para
todos os problemas de segurança pública, mas ela depende de recursos
adequados, pessoal capacitado, tecnologias avançadas, mudança
organizacional e até mesmo orçamentos proporcionais a área. Além disso,
é fundamental que haja uma cultura organizacional voltada para a
valorização da Inteligência Policial, bem como a existência de
mecanismos controle e supervisão. Muitos são desafios e desvantagens,
como a necessidade de investimentos em tecnologias e recursos humanos
especializados, e como dificuldades na coleta de informações em algumas
áreas, decorrente da necessidade de garantir a proteção de dados
sensíveis e pessoais dos cidadãos.
Por todo esse contexto, a implementação da Inteligência Policial
como ferramenta de gestão estratégica deve ser realizada de forma
cuidadosa e planejada, com base em uma avaliação das necessidades e
possibilidades da instituição policial e do contexto em que atua, somado
a isso, é importante que haja uma integração efetiva entre os diferentes
órgãos e instituições envolvidos na segurança pública, de forma a
maximizar os resultados obtidos.
Para Ferro Júnior & Alves (2005, p. 73)

É questão de sobrevivência institucional para a Segurança


Pública a “capacidade de se construir um modelo de gestão do
conhecimento, com estratégia, estrutura, decisão e identidade,
apto a responder a um contexto cada vez mais complexo e
instável da sociedade.

A discussão sobre a Inteligência Policial como ferramenta de


gestão estratégica também passa pela importância da ética e dos direitos
humanos na sua aplicação, e que é fundamental garantir que a coleta e
análise de informações respeitem os direitos individuais dos cidadãos,
evitando o uso abusivo de técnicas e ferramentas que possam violar a
privacidade e a dignidade das pessoas.
Em resumo, a Inteligência Policial é uma ferramenta fundamental
para a gestão estratégica de informações em atividades de segurança
pública, permitindo que os órgãos de Segurança Pública possam
antecipar, prevenir e investigar crimes de forma mais eficiente e eficaz.
Suas potencialidades são diversas, mas é preciso que haja um ambiente
institucional propício para sua utilização adequada.
5. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INTELIGÊNCIA POLICIAL E A
ATUAÇÃO NO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

Destacamos neste capítulo, algumas vantagens e desvantagens


na utilização da Inteligência Policial como ferramenta de gestão,
apresentando assim uma série de possibilidades, que pela análise a cada
caso analisado pelo gestor são importantes no contexto da Segurança
Pública, com a finalidade em apresentar uma solução para comunidade
frente a cada problema.
A Inteligência Policial como ferramenta de gestão estratégica
apresenta vantagens em relação aos demais modelos de policiamento,
dentre elas:

1- É uma abordagem proativa e não reativa, e que outros modelos de


policiamento se baseiam precipuamente na resposta a crimes já ocorridos
ou modelos estatísticos. A Inteligência Policial se concentra na coleta e
análise de informações que possam elucidar esses de crimes, e com
proatividade, permite que as forças de segurança atuem de forma mais
preventiva, reduzindo a incidência de crimes e aumentando a sensação
de segurança da população, pois não focam apenas no crime e sua
criminalidade, mais possui uma abordagem sistêmica
2- Como ferramenta a Inteligência Policial, permite uma alocação mais
eficiente dos recursos disponíveis, ao identificar áreas críticas e
organizações criminosas, sendo é possível concentrar as operações de
Segurança Pública nesses locais e grupos específicos, maximizando o
impacto das ações policiais;
3- Diminui a dispersão de recursos e melhora a eficácia do trabalho
policial, quando existe um foco de trabalho, concentrando forças bem
específicas e adequadas, com respostas eficientes;
4- Capacidade de produzir informações mais precisas, atualizadas e
contextualizadas sobre a criminalidade, permitindo que as forças de
Segurança Pública identifiquem tendências comportamentais criminais e
adaptem suas estratégias de acordo com as mudanças no cenário
criminal;
5- Garante uma resposta mais ágil e efetiva às demandas de Segurança
Pública da sociedade;
6- Capacidade de antecipar tendências criminais, permitindo uma
resposta mais rápida e eficaz da polícia.
7- Ajudar a identificar e combater criminosos mais perigosos e
organizações criminais, bem como auxiliar a persecução penal com
subsídios mais firmes.
No Curso Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária
(BRASIL, 2013) é possível verificar que nem sempre os novos modelos de
policiamento são aceitos, tendo, portanto, que se traçar estratégias de
policiamento orientadas a esses objetivos.

Os gestores da Segurança Pública nem sempre aceitam novos


modelos de policiamento, e tem dificuldades em lançar nova
metodologia, na busca de objetivos coletivos. Neste contexto
podemos elencar quatro grandes grupos de estratégias de
policiamento: Policiamento tradicional, policiamento estratégico,
policiamento orientado para o problema e polícia comunitária.
Uma estratégia de policiamento orienta os objetivos da polícia,
com foco de atuação, objetivamente as estratégias do
policiamento tradicional e estratégico têm como objetivo
principal pelo esforço em baixar as taxas de crime, já o
policiamento orientado para o problema e a polícia comunitária
tem foco mais preventivo.

Constata-se ainda, por meio do Curso Nacional de Multiplicador


de Polícia Comunitária (BRASIL, 2013) que o policiamento tradicional é
baseia-se em patrulhamento ostensivo e reativo a ações delituosas.

Ao analisarmos o policiamento tradicional, constatamos que ele


é baseado principalmente em patrulhamento ostensivo e reativo
a ações delituosas

Por outro lado, a Inteligência Policial como ferramenta de gestão


estratégica se concentra na análise de informações para prevenir crimes
e antecipar tendências comportamentais, e tem a vantagem de ser mais
proativa e eficaz na prevenção de crimes em comparação com o
policiamento tradicional.
Conforme Trojanowicz & Bucqueroux (1994), a Inteligência
Policial é aplicada como ferramenta de gestão estratégica que
complementa o policiamento comunitário.

Já em comparação com policiamento comunitário: o


policiamento comunitário tem como objetivo construir parcerias
com a comunidade para promover a segurança. A Inteligência
Policial também pode se beneficiar de parcerias com a
comunidade, mas seu foco principal é na análise de informações
para prevenir crimes. Dessa forma, a Inteligência Policial como
ferramenta de gestão estratégica pode complementar o
policiamento comunitário, oferecendo uma abordagem mais
orientada por dados e de análise criminal.

Por fim, a Inteligência Policial tem uma abordagem mais eficiente


e responsável do que outros modelos de policiamento isso porque, ela é
fundamentada na busca de dados e sua análise, não em suposições,
muitas das vezes baseadas em preconceitos, sujeita a supervisão e
controle mais rígidos, o que evita abusos e excessos por parte das forças
de segurança pública.
Em relação as desvantagens da Inteligência Policial temos:
1- Risco potencial de violações de privacidade e direitos civis, sendo que
a coleta e análise de informações, caso não seja seguida uma rigorosa
observância à aos procedimentos, pode levar a preconceitos e
discriminação, além de questionamentos sobre a legalidade e a ética da
coleta de informações.
2- Alta onerosidade, comparada com os demais modelos de Segurança
Pública, pode exigir novas tecnologias, exigir habilidades e treinamento
especializado trazendo assim algumas dificuldades.
Sem dúvida as vantagens são muito superiores as desvantagens,
marcando aqui o marco de que a Inteligência Policial como ferramenta de
gestão estratégica na Segurança Pública apresenta superioridade em
relação aos demais modelos de policiamento. Ela é mais proativa,
eficiente, precisa, adaptável e responsável, o que a torna uma abordagem
mais adequada às demandas contemporâneas da segurança pública. No
entanto, é importante que seja usada de forma ética e legalmente correta,
a fim de evitar violações de privacidade e direitos civis.
6. CONCLUSÃO

Por meio do presente trabalho foi possível concluir que a


Inteligência Policial é uma ferramenta essencial para a gestão estratégica
de informações em atividades de Segurança Pública, e seu uso permite a
antecipação de ações criminosas, a utilização de técnicas específicas de
investigação e a integração de dados e informações de diferentes fontes.
Vale ressaltar que o emprego da Inteligência Policial deve ser
realizada com ética e responsabilidade, assegurando os direitos humanos
e individuais dos cidadãos, além disso, é necessário investir em
tecnologias e recursos humanos especializados, de forma a certificar a
efetividade da ferramenta.
Pontualmente em relação aos modelos de policiamento existentes
entre o policiamento tradicional e o policiamento comunitário, ambos
buscam na Inteligência Policial vantagens significativas, como a
possibilidade de coleta e análise de informações mais precisas e
atualizadas, mas seu uso também apresenta desafios, como a
necessidade de investimentos em recursos humanos e tecnológicos.
Por fim, é possível afirmar que a Inteligência Policial como
ferramenta de gestão estratégica é uma importante aliada na prevenção
e combate ao crime, desde que utilizada de forma adequada e consciente,
sendo que sua implementação deve ser planejada e avaliada
constantemente, de forma a assegurar sua efetividade e a ética na
utilização da ferramenta.
7. REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico:


elaboração de trabalhos na graduação. São Paulo, SP: Atlas, 2010.

BRANDÃO, P. C. A inteligência criminal no Brasil: um diagnóstico. In:


Latin American Studies Association International Congress, 29. Toronto,
Canadá. Oct. 2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em 01 fevereiro 2023.

BRASIL. Lei n. 9.883, de 07 de dezembro de 1999. Disponível em:


https:// https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9883.htm. Acesso
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