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Autor: XXXXXXXXXXXXXXX
Orientadora: XXXXXXXXXXXXXXXX
Coorientadora: XXXXXXXXXXXXXXXX
Brasília/DF
2023
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Autor: XXXXXXXXXXXXXXX
Orientadora: XXXXXXXXXXXXXXXX
Coorientadora: XXXXXXXXXXXXXXXX
Brasília/DF
2023
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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
2 TIPOS DE POLÍCIA
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Significado: “mãos longas”. Disponível em: https://vademecumbrasil.com.br/palavra/ longa-manus. Acesso
em: 10 Janeiro 2023.
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condições para que os direitos sociais sejam exercidos, além de uma atuação negativa, que
consiste na não violação do direito à vida, liberdade e à propriedade (MALAQUIAS, 2021).
A segurança pública reúne as diversas dimensões dos direitos fundamentais, mas pode
ser caracterizada principalmente pela dimensão que dispõe sobre o direito à paz, por estar
neste direito o fim que se busca alcançar com a segurança pública. Isto porque esta, além de
ser um valor supremo, é também um direito fundamental de terceira dimensão/geração e um
“supremo direito da humanidade”2.
Verificam-se da análise do art. 144 da CRFB/1988, que há seis modalidades de
polícia, a saber: “polícia ostensiva, polícia de investigação, polícia judiciária, polícia de
fronteiras, polícia marítima e polícia aeroportuária” (BRASIL, 1988, s.p.) , sem contar com
algumas espécies de atividades policiais (se é que se pode chamar assim) menos amplas,
como a da guarda do patrimônio municipal (§ 8º do art. 144 da CRFB/1988), bem como a
recentemente incluída no texto constitucional, pela Emenda Constitucional 82, de 2014,
polícia de segurança viária (§ 10 do art. 144 da CRFB/1988), que, na verdade, é uma
modalidade de polícia ostensiva. Interessa a este trabalho a atividade da polícia ostensiva.
A função da polícia ostensiva é a de prevenir e reprimir de pronto a prática de delitos.
O policiamento ostensivo é realizado por policiais uniformizados, ou por força policial que
possa ser imediatamente reconhecida por algum equipamento do qual faz uso ou viatura. O
objetivo, nos termos do art. 144, § 5º da CRFB/1988 é explicitar “a presença policial nas ruas,
dando azo à percepção de que a prática de crimes será prontamente reprimida” (BRASIL,
1988, s.p.) – o que de certa forma exerce um efeito preventivo na criminalidade. Em geral, a
atividade de polícia ostensiva é exercida pelas polícias militares estaduais3.
A força de segurança tem a competência constitucional de prevenção da criminalidade
e, desta forma, deve utilizar-se da função de vigilância para evitar que se violem os limites da
lei e os demais atos institucionais das autoridades administrativas para a defesa da ordem
interna e a preservação dos direitos individuais e a manutenção da legalidade democrática.
Nesse sentido, lecionam Canotilho e Moreira:
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Caso adote-se o entendimento de que o direito à paz é de quinta dimensão, o direito à segurança pública
também será de quinta dimensão.
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De acordo com o art. 2º, n. 27, do Decreto 88.777/83, que aprova o regulamento para as polícias militares e
corpos de bombeiros militares (R-200): “Policiamento Ostensivo” pode ser definido como a “ação policial,
exclusiva das Polícias Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados
de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública. São
tipos desse policiamento, a cargo das Polícias Militares ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas,
os seguintes: ostensivo geral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de mananciais; rodoviária e ferroviário, nas
estradas estaduais; portuário; fluvial e lacustre; de radiopatrulha terrestre e aérea; de segurança externa dos
estabelecimentos penais do Estado; outros, fixados em legislação da Unidade Federativa, ouvido o Estado-Maior
do Exército através da Inspetoria-Geral das Polícias Militares” (HAGEN, Acácia Maduro. As classificações do
trabalho policial. Revista de Estudos Criminais, v. 6, n. 22, abr./jun. 2006).
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O exercício de qualquer direito não pode funcionar como limite dos direitos dos
outros. Todos temos o direito a circular na via pública – a pé, com veículo (etc.) –
mas este direito não pode implicar a restrição total do direito de liberdade de
circulação dos demais cidadãos, o que implica uma acção de vigilância sobre os que
circulam na via pública de modo a que estes não ponham em causa as normas que
regulamentam o direito de circulação, a legalidade do próprio acto e os direitos de
todos os demais cidadãos (CANOTILHO; MOREIRA, 2011, p. 956).
3 DA PREVENÇÃO CRIMINAL
excepcional da violência como forma de garantir a incolumidade dos que assim se apresentam
em risco em seus bens tutelados.
A Polícia, no seu ideal de bem servir, tem por incumbência ser serena em sua
atividade, ponderada nas suas ações, onipresente e regularmente protetora dos bens tutelados,
zelando pela harmonia das comunidades, dos bons costumes, do bem-estar do povo e por sua
tranquilidade (DIAS NETO, 2000).
De outra forma não é possível que a Polícia, sendo órgão responsável por garantir a
incolumidade dos cidadãos, exercer suas funções sem se pautar pela legalidade e pela
observância dos direitos humanos como forma de resgatar a cidadania das pessoas menos
favorecidas.
Freitas e Teixeira (2014) entendem que a Polícia Cidadã, na filosofia comunitária, não
pode usurpar os limites das convenções socialmente firmadas, prejudicando a liberdade dos
direitos civis, por meio de abusos e arbitrariedades mesmo em situações de aumento de
violência onde ações enérgicas sejam inevitáveis.
Dallari (1996, p.33) argumenta que “em virtude dos problemas sociais, a Polícia
ganhou uma relevância muito especial. A sua responsabilidade é grande. Ela é acionada para
resolver tudo”.
Espera-se, certamente, uma Polícia eficiente, especialmente no que se refere ao
contexto local. Essa qualidade decorre exatamente do nível de preparação do profissional,
para agir com denodo e presteza diante do que a população anseia. É importante que o policial
esteja preparado. Necessário conhecer a função social que exerce sobre a sociedade, porque
ser policial não é uma atividade amadora mas fundamentalmente técnica e também dotada de
cientificidade, em todos os ramos onde desempenha sua atividade (LEAL, 2003).
O agente de segurança, nesta linha, deve ter conhecimento amplo e irrestrito sobre a
conjuntura que o cerca. Além de ter conhecimento mínimo de sua atividade fim, deve agregar
conhecimento a outras áreas e, neste particular, se desdobra a atuação social direta da polícia
como interventor efetivo da prevenção da violência.
Enfim, trata-se da tentativa de conferir característica humana ao profissional que atua
no policiamento ostensivo e não somente um número de telefone ou uma instalação física que
lhe sirva de referência. Esta humanização é um dos elementos que conformam a proposta do
policiamento comunitário.
Ao se comparar o ideal separatista do exercício policial com a ferramenta inovadora de
agregação social às práticas de segurança, respostas a problemas antigos começam a surgir na
atuação do operador estatal.
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As ciências da Biologia, Psicologia, Sociologia, Psiquiatria foram a base dessas escolas para
explicar o fenômeno do crime (MALAQUIAS, 2019).
Ao longo do tempo, diversas escolas e teorias surgiram na tentativa de explicar o
fenômeno da criminalidade. Algumas possuem ênfase no indivíduo, analisam seu
comportamento, sua psique e, até mesmo, sua genética e morfologia (física e psicológica) e
seu baixo intelecto. Por outro lado, as teorias que dão ênfase na sociedade analisam o meio
social em que vive o indivíduo e as desigualdades sociais.
A Escola Clássica, assim denominada pelos positivistas, surgiu entre o fim do século
XVIII e a meados do século XIX com o Iluminismo opondo-se ao totalitarismo do Estado
Absolutista. Seu precursor foi Cesare Beccaria (1764) com a obra “Dos delitos e das penas”
propondo uma individualização da pena e uma humanização das ciências penais. Francesco
Carrara e Giovanni Carmignani também foram representantes dessa escola (PENTEADO
FILHO, 2020).
A Escola Positiva surgiu no início do século XIX na Europa e possui três fases: (1)
Antropológica (Lombroso); (2) Sociológica (Ferri) e jurídica (Garofalo) (MALAQUIAS,
2019).
O médico psiquiatra Cesare Lombroso (1835-1909), conhecido como pai da
criminologia, propôs a utilização do método empírico-indutivo ou indutivo-experimental, e
concluiu que o homem delinquente possui características morfológicas (físicas e psicológicas)
específicas que o distingue dos demais. Para o psiquiatra, o crime era um fenômeno biológico,
de modo que o homem já nascia delinquente. Para ele, o homem criminoso apresentava a
seguinte fisionomia: fronte fugidia, crânio assimétrico, cara larga e achatada, maçãs do rosto
grandes e arredondadas, lábios mais finos, canhotismo, barba rala, olhar fugidio ou duro etc.
Para Lombroso, o verdadeiro delinquente era nato, razão pela qual a aplicação de pena era
ineficaz face a sua natureza. Defendia que o delinquente nato não deveria ser encarcerado por
ser um doente, mas segregado da sociedade antes da conduta criminosa, já que ostentava uma
característica imutável de criminalidade (FERNANDES, 2022).
Enrico Ferri (1856-1929), criador da sociologia criminal, defendia que a criminalidade
decorria de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Negou que a imputabilidade
estivesse associada ao livre arbítrio. Classificava os criminosos como natos, loucos, habituais,
de ocasião e por paixão. Fundamentava a responsabilidade penal na responsabilidade social e
que a razão para punir o delinquente é a defesa social, ou seja, a prevenção é mais eficaz que a
repressão. Defendia que o delinquente poderia ser recuperado, readaptável e considerava
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Como visto na breve descrição sobre as teorias sobre o crime, a desorganização social
é um fator criminógeno. Ela constrói uma ecologia social da cidade ao observar os fatores de
zona de trabalho, residência, distribuição de serviços, propagação de doenças etc. Por outro
lado, é muito criticada em razão de projetar suas pesquisas apenas nos bairros pobres e não no
local em que o crime é realmente cometido, comprometendo sua pesquisa, levando à
equivocada conclusão de que o ambiente com certa desorganização influencia a atividade
criminosa. Portanto, referida escola apresenta uma visão preconceituosa ao criar estereótipos
de criminosos em razão da pobreza (MALAQUIAS, 2021).
Os investigadores associados à escola de Chicago analisaram a distribuição do crime
na zona urbana e tentaram demonstrar que o crime era um produto social do urbanismo. A
fundamentação teórica encontrava-se nos trabalhos de Robert Park (apud FERNANDES,
2021), que considerava que a cidade era mais que uma realidade geográfica e, tal como
qualquer sistema ecológico, não se desenvolvia de forma aleatória. Cada uma das suas zonas
expandia-se e invadia, ou tentava dominar, as zonas adjacentes.
Clifford Shaw e Henry Mckay (apud FERNANDES, 2021), dois alunos de Park,
utilizaram o enquadramento analítico “das zonas concêntricas” de Ernest Burgess para
investigarem as causas sociais do crime. Esta abordagem, em vez de recorrer à explicação
baseada nas características biológicas e psicológicas do indivíduo, produziu uma nova
explicação para as causas do crime pois explicava o mesmo com base nas causas sociais,
culturais e estruturais que acompanhavam as mudanças sociais durante os anos 1920.
A partir dos anos 1950 podemos encontrar autores que defendem a introdução de
soluções arquitetônicas e de utilização do espaço para tornar certos locais mais seguros e, ao
mesmo tempo, reforçar a percepção de segurança de quem os utilizava.
As críticas que as teorias individualistas e sociais sofrem e os questionamentos que
não conseguem responder, levanta a questão se elas são, sozinhas, suficientes para explicar
um fenômeno tão complexo como a criminalidade. É possível que um olhar avaliando apenas
um fator, seja ele individual ou social, não seja capaz de abranger tudo que envolve e pode
levar uma pessoa a se tornar criminosa. Dessa forma, e como alguns teóricos já apontam, a
criminalidade não deve ser vista como uma questão individual ou social, mas como um
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exemplo da casa do ofensor. Portanto, de acordo com o tipo do ambiente em que o crime
ocorreu, há espaço para inferências sobre características do ofensor.
A partir destes dados, pode-se inferir, através da lógica, que um ofensor que ataca em
ambientes abertos tem menos habilidades sociais e seu crime também pode ter sido o
resultado de uma oportunidade que se apresentou. Por outro lado, um ofensor que ataca em
ambientes fechados tem mais controle sobre a situação, é mais planejado e tem mais
habilidades sociais ou criminais. Porém, devemos sempre considerar o contexto específico do
crime sob análise (TURVEY, 2011). Se um ofensor conseguiu passar horas com sua vítima
em um ambiente aberto e pouco isolado, isto pode indicar que ele tem um alto poder de
controle sobre a vítima e conhecimento do local do crime para saber que não seria
interrompido ou atrapalhado.
Apesar de apresentar potencial, este tipo de informação ainda não teve a devida
atenção no âmbito investigativo, ou não foram confirmadas todas as hipóteses teóricas. De
todo modo, algumas pesquisas já conseguiram identificar relações significativas entre
ambiente do local do crime e características do ofensor. A pesquisa de ter Beek et al. (2010)
identificou que estupradores que atacavam suas vítimas em ambientes fechados, eram menos
prováveis de apresentarem histórico criminal por crimes violentos ou contra a propriedade.
Outras tentativas de relacionar ambiente e características se voltam para a distância percorrida
pelo agressor. Entretanto, pesquisas como a de Lino et al. (2018) e a de Warren et al. (1998)
não encontraram uma relação significativa entre as duas variáveis. Até mesmo as correlações
significativas encontradas são consideradas fracas, como no estudo de Synnott et al. (2019),
onde atacar vítimas em ambientes fechados estava negativamente correlacionado com a
distância percorrida.
5 CONCLUSÃO
Nesse contexto a polícia ostensiva pode valer-se também das teorias da criminologia
visando melhor compreender o comportamento do criminoso para dessa forma, prevenir o
crime.
Nesse artigo, a teoria da criminologia utilizada foi a criminologia ambiental. Foi visto
que o crime e a violência influenciam a organização do espaço urbano levando, por um lado, à
crescente construção de espaços defensivos afluentes, onde as classes abastadas vivem,
protegidas por muros e segurança privada e, por outro, ao desenvolvimento de espaços de
exclusão social e econômica onde vivem as classes menos favorecidas, excluídas do acesso
aos serviços mais básicos das cidades, como água potável ou transportes públicos.
É importante destacar que o estudo da relação entre o comportamento humano, o
crime e o ambiente (que inclui os indivíduos, o meio físico e social, e que compreende uma
área territorial com fronteiras reconhecíveis) não é novo. Historicamente podem ser
identificadas práticas de condicionar o comportamento humano e de explorar as
oportunidades preventivas geradas por um adequado planeamento e utilização do espaço
público, e dos espaços que o ligam com o espaço privado, de modo a obter um maior nível de
segurança.
Do exposto foi possível concluir que o estudo da criminologia ambiental se mostra
importante na prevenção da criminalidade tendo em vista que como é de conhecimento, as
cidades são constituídas por processos quotidianos de interações sociais e econômicas, e,
nesse contexto, a forma de planejar, construir e reconstruir as cidades pode interferir nesse
processo e potencializar o crime.
REFERÊNCIAS
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Saraiva Jur, 2020. v. 1.
JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 13. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
LINO, Denis. Criminal Profiling - Perfil Criminal. Curitiba: Juruá Editora, 2021.
MALAQUIAS, Roberto Antônio Darós. Segurança Pública. 2. ed. Curitiba: Juruá Editora,
2019.
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 10. ed. São
Paulo: Saraiva Jur, 2020.
SYNNOTT, J.; BAKKER, M.; IOANNOU, M. et al. Crime location choices: A geographical
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Profiling, v. 16, n. 2, p. 110-123, 2019.
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WARREN, J.; REBOUSSIN, R.; HAZELWOOD, R.R. et al. Crime Scene and Distance
Correlates of Serial Rape. Journal of Quantitative Criminology, v. 14, n. 1, p. 35-59, 1998.