Você está na página 1de 37

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA

CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP

KAUÊ LUIGI FARIAS LIMA

A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE

SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL


Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso Superior de Tecnólogo em Segurança
Pública da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como requisito para aprovação na
disciplina de TCC em Segurança Pública.

Orientação: Prof. Roberto Cavalcanti Vianna

POLO CENTRO – SOBRAL,CE


01 DE JUNHO DE 2023

KAUÊ LUIGI FARIAS LIMA

A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE

SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL

Kauê Luigi Farias Lima

Roberto Cavalcanti Vianna

Hidrolândia-CE, 01 de Junho de 20.


RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso, do Programa de Pós-Graduação em Segurança


Privada da Universidade do Sul de Santa Catarina, apresenta como tema a Segurança Privada

Como Aliada do Sistema Nacional de Segurança Pública no Combate à Criminalidade no


Brasil. Por meio da metodologia da pesquisa bibliográfica, o trabalho tem o objetivo de
apresentar possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores
público e privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência
no Brasil. O aumento constante da criminalidade no País, a partir do final do século XX,
associado à ineficiência do Estado em cumprir o seu dever constitucional de prover a
segurança à sociedade, por meio dos seus órgãos de segurança pública, tem gerado crescente
sensação de insegurança nos cidadãos. Percebe-se neste cenário a principal justificativa para o
crescimento dos serviços privados de segurança no País. Como prática comum e crescente, a
sociedade e o próprio setor público recorrem às empresas de segurança privada com o intuito
de garantir proteção mais eficaz para os seus ativos e patrimônios. A despeito do receio que
ainda há sobre o ingresso da iniciativa privada no que antes era considerado monopólio estatal
do uso legítimo da força, o Estado já reconhece a necessidade da complementariedade do
setor. Ao longo da pesquisa são analisadas questões essenciais para a viabilização da
contribuição mútua entre os setores, como a legislação vigente, o processo de formação dos
profissionais de ambos os setores, a quebra de paradigmas culturais, o modelo de polícia
utilizado no Brasil e os limites da abertura à privatização. A partir de iniciativas públicas,
privadas ou oriundas do próprio seio da comunidade, como um exemplo mostrado neste
trabalho, nota-se que há espaço para progressos na direção proposta - somatório de esforços -
com a adoção de medidas eficientes, que podem proporcionar ganhos em segurança para os
cidadãos, instituições e para o próprio Estado Brasileiro.

Palavras-Chave: Segurança Pública. Segurança Privada. Integração.


ABSTRACT

This working course completion, the Program of Graduate Studies in Private Security at the
University of Southern Santa Catarina, has as its theme the Private Security As Allied's
National Public Security System in Combating Crime in Brazil. Through bibliographical
research methodology, the study aims to present possible solutions for the development of
mutual cooperation between the public and private sectors of safety to more effectively in
preventing and combating violence in Brazil. The steady increase in crime in the country, from
the end of the twentieth century, associated with the inefficiency of the State to fulfill its
constitutional duty to provide security to society, through its law enforcement agencies, has
generated growing sense of insecurity in citizens. It can be seen in this scenario the main
reason for the growth of private security services in the country. As a common and growing
practice, society and the public sector itself resort to private security companies in order to
ensure more effective protection for its assets and assets. Despite the fear that there is still
about the entry of the private sector in what was considered state monopoly of the legitimate
use of force, the state already recognizes the need for complementarity in the industry. During
the research key issues are analyzed for the viability of the mutual contribution between
sectors, such as the current legislation, the process of training of professionals of both sectors,
the breaking of cultural paradigms, the police model used in Brazil and the limits opening to
privatization. From public initiatives, private or coming from the community itself, as an
example shown in this work, we note that there is room for progress in the direction proposed -
sum efforts - with the adoption of efficient measures that can provide gains in security for
citizens, institutions and the own Brazilian State.

Key-words: Public Safety. Private Security. Integration.

INTRODUÇÃO
Poucas questões no Brasil e no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à
violência e o avanço da criminalidade. O tema da segurança, no seu sentido mais amplo,
envolvendo todos os atores responsáveis ou passíveis de contribuir para o controle social e o
aumento do bem estar social, está no centro da agenda política da atual. A criminalidade está
presente de forma indiscriminada em países de primeiro e de terceiro mundos, impondo às
sociedades o desafio de descobrir maneiras eficientes para lidar com a questão de tamanha
complexidade. Os índices referentes à criminalidade no Brasil vêm crescendo
consideravelmente nas últimas décadas. Fatores como o aumento da desigualdade social, a
grande concentração populacional nos grandes centros urbanos, somada a falta de
infraestrutura de apoio, a expansão do tráfico de drogas e o desenfreado crescimento
populacional, contribuem para este fenômeno. A criminalidade se multiplica, amplia suas
modalidades e se infiltra por todos os setores e ambientes da sociedade, desafiando as
instituições voltadas para o seu controle.

No Brasil, para a sua segurança, a população depende da atuação do Estado, o


qual possui o dever constitucional de promover ações e medidas que permitam o controle
social de forma ampla, oferecendo estímulos positivos para que os cidadãos possam conviver
em paz entre si. O monopólio da violência física é legitimado somente ao Estado. Apenas este
pode usar da força para fornecer aos cidadãos a segurança necessária por meio da prevenção e
repressão de comportamentos criminosos, lesivos ao próprio Estado e à integridade física,
moral e patrimonial dos cidadãos. Todavia, as dificuldades que se apresentam aos Órgãos de
Segurança Pública no Brasil são inúmeras e acabam por causar a ineficácia no controle da
criminalidade.

Fruto deste cenário, verifica-se no Brasil o elevado e o constante crescimento do


setor privado de segurança, com a multiplicação de empresas voltadas para a segurança de
pessoas, de patrimônios particulares, de instituições financeiras e de transporte de valores.
Setores públicos e parcela crescente da população, influenciados pela sensação de insegurança,
recorrem a estas empresas buscando garantir sua proteção. Entretanto, a segurança privada
ainda é vista com grande preconceito, devido a fatores como a carência de atualização da
normatização, a elevada atuação de empresas ilegais e ao baixo nível de profissionalização do
setor. Nota-se, porém, que o efetivo de vigilantes (denominação 9

convencionada ao profissional da segurança privada) é consideravelmente superior ao do


somatório de todos os profissionais dos órgãos de segurança pública do País, aspecto que
também faz despertar sentimento de receio no Estado. Presentes por todo o País, as empresas
de segurança privada são controladas e fiscalizadas pelo Estado através da Polícia Federal, e o
setor é regulamentado a nível federal.

A complexidade e os índices atuais da criminalidade não deixam dúvidas sobre a


incapacidade do Estado em prover a segurança plena à sociedade brasileira, e fazem com que a
atuação das empresas privadas de segurança seja não só desejada como necessária no presente
cenário. As opiniões se divergem quanto ao incentivo ao setor, entretanto, percebe-se que não
há outro caminho senão estudar a melhor forma de empregá-lo, de maneira que exerça
eficiente complementariedade ao trabalho dos órgãos de segurança pública. Atualmente, as
áreas e formas de atuação de cada setor estão bem definidas, haja vista evitar a sobreposição
de responsabilidades e a garantir que os direitos constitucionais dos cidadãos não sejam
feridos. Portanto, é neste ponto que se encontra o nosso problema: há no Brasil dois
seguimentos voltados para garantir a segurança da sociedade, o público e o privado. Então, de
quais maneiras a Segurança Privada no Brasil pode contribuir, de forma sistematizada, com os
Órgãos de Segurança Pública no combate à criminalidade no Brasil?

Portanto, considerando o cenário atual do Brasil, à organização, à regulamentação


e o emprego dos Órgãos de Segurança Pública, e a crescente atuação das empresas privadas
voltadas para a segurança, este trabalho de pesquisa tem o objetivo geral de apresentar
possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores público e
privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência no País.
A pesquisa também apresenta análises sobre as características gerais e a legislação que regula
os dois setores, aborda experiências já vivenciadas no Brasil e no exterior, com a finalidade de
apresentar oportunidades de integração sistemática. A análise do conteúdo teórico com a
intensão de transportá-lo para medidas práticas faz crescer a importância deste trabalho.
Notase que a presente pesquisa trata de tema de interesse direto da população, haja vista o seu
anseio por medidas que conduzam a uma maior sensação de segurança. As pessoas almejam
poder ir e vir com tranquilidade, conduzir seus empreendimentos comerciais sem medo de
terem seu patrimônio roubado, de entrarem em instituições financeiras e sentirem protegidos,
ou seja, de terem seus direitos constitucionais plenamente garantidos. Como o Estado, sozinho,
não consegue cumprir com eficácia o seu dever previsto na Constituição Federal em vigor,
outras soluções possíveis certamente atraem o interesse social. Portanto, este trabalho
mergulha no impasse que existe entre a certeza sobre a importância da união de esforços entre
10

os setores público e privado de segurança no Brasil, e a forma de como e onde permiti-la, a fim
de apresentar possíveis oportunidades.
Com este intuito, a pesquisa trilhou uma sequência lógica de abordagens para
alcançar o seu objetivo principal. Inicialmente, buscou-se realizar uma ambientação sobre o
cenário atual da violência no Brasil e no mundo, focando na sua diversidade e complexidade.
A partir de então, é analisado o papel do Estado Brasileiro como responsável pela condução
das ações de controle social no País, expondo suas limitações e vulnerabilidades. Em seguida,
passa-se a tratar sobre a evolução da segurança privada, com abordagens sobre suas
características e particularidades no Brasil. Construída a fotografia do que já fato, inicia-se o
estudo sobre os possíveis caminhos para a integração dos setores público e privado de
segurança. Um caso real, prático e bem sucedido em uma comunidade, é explorado para
mostrar uma possibilidade e a viabilidade de projetos neste sentido. Entretanto, com o intuito
de mostrar que o assunto é muito mais complexo do que parece, é explorado o exemplo dos
Estados Unidos da América, que abriram as portas para a privatização da segurança. Por fim, o
trabalho mostra que o tema apresenta um campo fértil para discussões e possibilidades, mas
que o caminho é longo e ávido por mudanças, adaptações e correções no sistema de segurança
vigente no País.

1 A SEGURANÇA PÚBLICA E A PRIVADA NO BRASIL


1.1 A CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL

Poucas questões no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à violência e


o avanço da criminalidade. Este fenômeno é facilmente justificado haja vista a segurança ser
uma das necessidades básicas mais importantes de qualquer sociedade. Desde os primórdios
da humanidade o homem usa os meios disponíveis a sua época para conseguir se alimentar, se
manter saudável e se proteger. O homem também é um ser essencialmente social e para sua
sobrevivência necessita relacionar-se com o mundo que o cerca, ou seja, pessoas, natureza,
grupos sociais e instituições. Entretanto, é sabido que nem sempre é harmônica a relação entre
a vida em comunidade e a segurança. A disputa por espaço, por dinheiro, por condições
privilegiadas, ou pela simples busca desesperada por melhores condições de sobrevivência, são
alguns dos fatores causadores dos conflitos sociais do mundo moderno.

A desigualdade social se mostra o problema central e causador de todas as


vertentes e variedades de tipos de violência. Em busca de melhores condições devida, grandes
contingentes populacionais deixaram a vida rural para superlotar cidades sem condições de
infraestrutura para ampará-los. A falta de educação, de emprego, de condições sanitárias
mínimas e de alimentação, leva milhares de pessoas ao limite da sobrevivência. Então, para
muitos destes parece só haver soluções como, roubar, matar, traficar, etc. A criminalidade do
mundo atual está cada vez mais complexa e impregnada em todos os setores da sociedade,
entre os ricos e pobres. Está mais diversificada pelo tráfico de drogas e de pessoas, pela
corrupção generalizada, indo até os conflitos violentos no trânsito, nas comunidades e nas
famílias. No Brasil, um estudo apresentado por Júlio (2014), consolidado no Mapa da
Violência 2014, mostra que entre 2002 e 2012, o número total de homicídios registrados pelo
Ministério da Saúde passou de 49.695 para 56.337, sendo o maior registrado no País. Mostra,
também, que nenhuma capital, em 2012, teve taxa de homicídio abaixo do nível epidêmico.
Números como os apresentados por Júlio mostram que a criminalidade é uma tendência já
confirmada é a disseminação da violência nas diferentes regiões e cidades.

Martins (2014, p.1) contribui e acrescenta:

“Diante de tanta insegurança temos o crescimento de outro elemento característico da


modernidade: o individualismo. Um indivíduo amedrontado e inseguro tende a
pensar somente no seu próprio bem-estar, separando a sociedade em vários
indivíduos que pensam e agem para si próprios, excluindo aquele que lhes é
diferente. As desigualdades sociais e o crescimento da criminalidade aumentam
ainda mais o medo e a sensação de insegurança na sociedade de risco. O bombardeio
de notícias sobre a violência majorou a sensação de medo desenfreada na população”
Percebe-se, então, um comprometimento crescente da paz social no mundo e no
Brasil, repercutindo na rotina diária dos cidadãos e gerando nestes um sentimento de
impotência e de falta de proteção.

O tema segurança pública é carente de publicações acadêmicas, e talvez este seja


o grande motivo da freqüente ocorrência no Brasil e no mundo, de tentativas imediatistas e
pouco fundamentadas para tratar o assunto, muitas vezes contaminadas por manipulação
política e com apresentação de objetivos e resultados questionáveis. Confrontos envolvendo
medidas radicais como a de “tolerância zero” e propostas mais humanistas geram acaloradas
discussões desprovidas de análises mais aprofundadas e fundamentadas. Mas afinal, com quem
o cidadão brasileiro pode contar. De quem é a atribuição de zelar pela segurança pública no
País?

1.2 A SEGURANÇA E O PAPEL DO ESTADO

Perante este cenário de insegurança crescente o cidadão brasileiro tem a sua


disposição o braço do Estado, o qual tem a responsabilidade constitucional de zelar pelo
controle social. Assim prevê a Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88):

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.”

Ainda segundo a CF/88 a polícia federal atua como polícia judiciária da União,
sendo responsável pela apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional. A polícia rodoviária federal tem a função de realizar o patrulhamento ostensivo
das rodovias federais e a polícia ferroviária federal encarrega-se do patrulhamento das
ferrovias. As polícias civis, nos casos que não forem competência da União, atuam como
polícia judiciária na apuração de infrações penais, exceto as militares. As polícias militares,
como polícia administrativa, atuam como polícia ostensiva e na preservação da ordem pública.
Já os bombeiros militares têm a incumbência das atividades voltadas à defesa civil. No âmbito
dos municípios podem ser previstas, também, as guardas municipais, com o encargo de
proteger os bens, serviços e instalações dos mesmos.

O Estado, portanto, dispõe de um aparato de segurança organizado e que poderia


estar suprindo os anseios por segurança da sociedade. Entretanto, não é o que se pode observar
quando os cidadãos são questionados sobre assunto. O governo federal procura manter reserva
e distância quando se trata do tema segurança pública no Brasil. Uma vez que, por
determinação constitucional, o controle das polícias militar e civil fica a cargo dos estados,
suspeita-se de que não há interesse por parte da União em mostrar maior responsabilidade
sobre o assunto, trazendo para si a centralização do estudo para a adoção de medidas mais
efetivas, as quais, normalmente, mostram resultados de longo prazo. Certamente, como se trata
de assunto de difícil e demorada solução, é melhor para governo federal que os estados
continuem com esta “mancha” de ineficiência.

“O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz é o responsável pela elaboração do Mapa da


Violência no Brasil, um estudo detalhado sobre os índices de criminalidade em todos
os municípios. Ele afirma que o governo federal deve ajudar a envolver municípios
no combate à violência tomando a frente no trabalho de inteligência e mapeando os
problemas regionais. “O combate tem que ser específico para cada tipo de região.
Tem que haver diagnóstico. O primeiro passo da cura é a consciência da
enfermidade. Difundiu-se entre nós a ideia de que a violência é um fenômeno quase
natural, o que é um erro. Ela é um fenômeno determinado por fatores específicos que
podem ser removidos” (WAISELFISZ apud MELLO, p. 1).

Além da falta de engajamento efetivo do Estado, são vários os problemas


elencados como fatores contribuintes para a ineficácia do Sistema de Segurança Pública no
Brasil. Como exemplo, verifica-se a política da hiperostensividade policial, ou seja, a busca
pelo aumento, cada vez maior, do número de policiais nas ruas, especialmente nos Estados,
fundada na ideia de que a saturação evita o cometimento de crimes e reduz a criminalidade.

Entretanto, estudos mostram que a redução da criminalidade baseada preponderantemente na


presença do policial não gera efeitos concretos na redução de forma efetiva e perene. Essa
constatação se baseia principalmente no fato de que a presença da polícia ostensiva apenas
evita a prática do crime momentaneamente, pois resulta apenas no deslocamento da
criminalidade, sem evitar que o crime seja praticado.

Outro aspecto a considerar é a necessidade de “sintonia fina” entre a polícia


judiciária, onde o ciclo começa, e o Poder Judiciário, onde o ciclo se fecha com o julgamento.
Considera-se esta uma grande resposta para se reduzir o número de crimes, pois apenas o
criminoso preso ou que tenha a certeza de que o será deixa de praticar novos delitos. Portanto,
é fundamental a existência de um sistema de justiça criminal forte, aparelhado e equilibrado. A
falta de organização e equilíbrio de efetivos e encargos faz com que policiais que deveriam
estar trabalhando ostensivamente estejam envolvidos com processos investigativos e
viceversa. E o resultado é a ineficiência no desenvolvimento do ciclo com a consequente
punição aos criminosos.

“[...] a redução da criminalidade depende essencialmente de investigação, de


apuração dos crimes e dos autores, para que sejam levados a julgamento pelo Poder
Judiciário, condição essencial para que sejam condenados. Porém, na contramão da
relevante e indispensável função que exerce no contexto social e jurídico, a Polícia
Judiciária está em evidente declínio, à beira do colapso, gerando severas críticas de
alguns ‘especialistas’ ao modelo de investigação criminal existente no Brasil, [...]”.
(COSTA, 2014).

Portanto, a impunidade tem sido uma doença crônica, causadora de descrédito por
parte da população sobre todo o sistema judiciário no País. Há grande necessidade do governo
federal em desenvolver iniciativas, através do Ministério da Justiça, para as mudanças legais e
nos aparatos da Justiça e execução penal para reduzir as brechas da impunidade e assegurar a
punição ágil dos criminosos como instrumento de dissuasão.

Verifica-se do exposto que a problemática do provimento do nível de segurança


desejável pela população é um tema de grande complexidade, na medida em que são
necessárias mudanças de monta, que vão desde a reorganização estrutural e funcional no
âmbito órgãos de segurança pública, até a reformulação do sistema judiciário. Só assim, será
possível ao Estado cumprir o seu dever constitucional de garantir a segurança da sua
população.
1.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL

O resultado de toda essa problemática envolvendo a atuação do Estado na


promoção da segurança à sociedade brasileira, é a busca dos cidadãos e instituições de formas
mais eficientes para garantir a sua proteção. Segundo AUSEC (2013), com o intuito de
resolver a questão da segurança pública, [...] “já existem projetos de lei, que se propõem a
evoluir o sistema, fazendo com que a morosidade e a ineficiência sejam peças do passado.
Porém, até que chegue esse momento tão desejado por toda a sociedade, em que a polícia
deixe de ser reativa e passe a atuar preventivamente de fato, precisamos de medidas
alternativas.”

A solução mais procurada, então, tem sido o pagamento às empresas privadas pela
prestação de serviços de vigilância. Como forma alternativa, algumas empresas e instituições
têm preferido adotar no quadro organizacional, o seu setor próprio de segurança, chamado de
serviço orgânico de segurança. Entretanto, tudo tem o seu preço e nem todos têm condições de
pagar. A sensação de insegurança tem sido o fator motivador do crescimento da segurança
privada, criando o que muitos doutrinadores chamam de “indústria” da segurança, tamanha a
expansão e a oferta de tal serviço. Portanto, na ausência de um serviço eficiente de segurança
prestado pelo Estado, que o tem como obrigação, quem tem mais, gasta mais e se protege
melhor, até por ser sempre um alvo mais visado pelos criminosos.

Conforme a portaria nº 387/2006, do Departamento da Polícia Federal (DPF), são


consideradas atividades de segurança privada: vigilância patrimonial, transporte de valores,
escolta armada, segurança pessoal e cursos de formação.

Vigilância patrimonial

É exercida dentro dos limites dos estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou


privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a
integridade do patrimônio no local, ou nos eventos sociais. As empresas de vigilância
patrimonial não poderão desenvolver atividade econômica diversa da que estejam
autorizadas e somente poderá ser exercida dentro dos limites dos imóveis vigilados e,
nos casos de atuação em eventos sociais, como show, carnaval, futebol, devem se
ater ao espaço privado objeto do contrato.

Transporte de valores

A atividade de transporte de valores consiste no transporte de numerário, bens ou


valores, mediante a utilização de veículos, comuns ou especiais.
Escolta armada

A atividade de escolta armada visa a garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou


de valores.

Segurança Pessoal

A atividade de segurança pessoal é exercida com a finalidade de garantir a


incolumidade física de pessoas.
Curso de formação

Os cursos de formação têm por finalidade formar, especializar e reciclar os


vigilantes.

Portanto, verifica-se que os serviços de segurança a serem prestados por empresas


privadas são específicos, limitados e previstos em lei. No Brasil, o marco regulatório da
segurança privada é, atualmente, legislado pela Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983, e pelos
Decretos n. 89.056/83 e 1.592/95, complementados por decretos e portarias específicas que
atribuíram novos requerimentos à regulação. De acordo com este ordenamento jurídico, a
segurança privada é apresentada como subsidiária e complementar à segurança pública, sendo
que, desde 1996, suas atividades são reguladas, controladas e fiscalizadas pelo Departamento
da Polícia Federal, por meio de portarias e demais documentos legais emitidos pelo órgão.
(ZANETIC, 2009).

A legislação citada e as normas que a complementa deixam necessariamente clara


a fronteira de atuação entre os setores público e privado de segurança. Deixa evidente,
também, que para poder atuar no mercado, qualquer empresa tem que estar autorizada para tal,
bem como a obrigação de todo vigilante estar vinculado a uma empresa regularizada.

Zanetic (2009) ressalta:

“Embora haja uma clara distinção entre a polícia e as forças privadas que exercem
policiamento, verificada em termos tanto dos poderes conferidos aos policiais (como
por exemplo, o poder de prender) quanto das “vocações” das duas forças – vigilantes
possuem características mais preventivas e voltadas ao controle e regulação de
acesso, com seus objetivos definidos pelo contratante e seus interesses privados,
enquanto a polícia tem perfil mais repressivo e punitivo, há uma importante tensão
no sentido de ampliação do campo de ação dos agentes privados sobre a esfera de
atuação da polícia, criando zonas por vezes pouco definidas de distinção entre os
dois setores.”

A definição dos limites citada por Zanetic e especificada em normas é


fundamental para que não haja sobreposição de encargos, atuação de agentes em missões para
as quais não têm capacitação e consequentes embaraços judiciais. Observa-se, por exemplo, em
casas de show e outros estabelecimentos privados, a atuação das empresas de segurança privada
na segurança interna, somente dentro dos limites do estabelecimento.

Segundo AUSEC (2013) o crescimento acelerado da segurança privada com a


expansão e a oferta de tal serviço fez aumentar a concorrência empresarial no setor. Empresas
cada vez buscam se aperfeiçoar e se modernizar, proporcionando serviços diferenciados, de
forma a atender as demandas atuais, driblando os constantes aumentos da criminalidade.
Entretanto, um grande problema é o fato de que ainda assim, existe no mercado um número
altíssimo de empresas funcionando sem estarem regularizadas, empregando material
inadequado e, principalmente, pessoal sem a devida formação. Na realidade, são empresas que
oferecem um grande risco aos contratantes e se aproveitam das fragilidades das famílias e dos
empresários, oferecendo serviços que nunca são entregues, se aproveitando das falhas do
sistema. Cardoso (2011) afirma que “muitas empresas oferecem ao mercado, profissionais
muitas vezes sem a mínima qualificação, tudo para atender à demanda e concorrer em tão
atraente negócio. Como não é tão barato se proteger, a clandestinidade e seus preços atrativos
cresceram paralelamente ao mercado regular.” Este certamente é o principal motivo dos
corriqueiros casos de abusos por partes dos vigilantes, das situações ilícitas originadas por suas
condutas desmedidas e do cada vez maior número de demandas judiciais que envolvem algum
ente da segurança privada, tanto na esfera cível quanto criminal.

Zanetic (2009) destaca que o setor tem sua demanda disseminada em diferentes
setores da sociedade, sendo os principais contratantes dos serviços de segurança privada o
setor público, os bancos, as indústrias e o setor de serviços, sendo o setor público o maior
contratante. Na maioria dos países o contingente de vigilantes supera, em muito, o de policiais,
formando um verdadeiro exército privado. No Brasil a situação é ainda pior, pois o
policiamento sucateado faz a categoria privada ganhar ainda mais importância junto à
sociedade. O sucateamento da polícia acaba gerando outro problema à sociedade brasileira,
que é o do segundo emprego do policial, que diante de salários tão defasados se vê obrigado a
compor sua renda trabalhando em seus horários de descanso, exercendo o chamado “bico”, o
qual se dá principalmente com o exercício de atividades de segurança privada.

“Em 2012, foram R$ 10 bilhões as despesas com vigilantes e sistemas eletrônicos,


três vezes mais que há 10 anos. Naturalmente que a expansão da rede bancária
cresceu exponencialmente para cerca de 35 mil agências, mas os assaltos recuaram
para 422 em 2011, contra 1.903 no ano 2000. Em compensação, houve um aumento
expressivo nos arrombamentos dos terminais eletrônicos espalhados pelo país – 182
mil, sendo 50 mil fora das agências, segundo relatório de 2011 – reconhece a
Febraban, porém sem divulgar os números de ocorrências. Em relatório da
Organização dos Estados Americanos (OEA), Segurança Cidadã das Américas,
divulgado nos últimos dias, apontou o Brasil como tendo 4,9 seguranças privados em
2012 para cada policial. Só perde nas três Américas para a minúscula e pobre
Guatemala, com 6,7.”(AUSEC, 2013).

O grande efetivo existente no País de profissionais das empresas de segurança


(vigilantes), o qual extrapola, de forma considerável, o número de agentes dos órgãos de
segurança pública, é um dos aspectos que impactam na desconfiança e no preconceito para
com o setor, haja vista a carência de controle eficiente sobre o seguimento. Segundo Coelho
(2011), no Brasil, para cada agente da segurança pública temos de dois até quatro vigilantes
atuando na segurança privada, com um crescimento de 60%, entre 2006 e 2011, no
contingente de profissionais cadastrados na Polícia Federal.

Outro fator que faz aumentar o receio do cidadão para com o setor privado de
segurança é o baixo nível de escolaridade exigido dos seus agentes. Atualmente, o vigilante
precisa ter concluído somente o ensino fundamental. Este aspecto é considerado fundamental
quando se questiona se este nível de formação é suficiente para que um agente de segurança
corresponda ao que se espera dele, principalmente quanto ao seu nível de discernimento para
agir em situações complexas envolvendo risco.

Para CARDOSO (2011) “Em função disso [baixo nível de formação dos vigilantes],
somos obrigados a estar em contato com profissionais despreparados, por exemplo,
na entrada de um banco, ou então somos informados pela mídia da atuação
irresponsável de algum vigilante, como, por exemplo, a morte de uma pessoa que ele
achava ser perigosa. Muitos destes vigilantes agem pensando que são policiais, pois
estão embasados no status de autoridade que a profissão está ganhando [...]”.

Consequência do problema apresentado por Cardoso é o grande número de ocor-


rências, envolvendo vigilantes, desenquadradas dos aspectos legais, atos que vão do mero
constrangimento aos ilícitos penais como o homicídio, e que geram número crescente de
demandas judiciais envolvendo o setor. Portanto, verifica-se que a formação do vigilante é um
aspecto que precisa ser revisto, pois interfere em diversos aspectos da sua atuação junto ao
público como, a postura, a apresentação, a educação, o respeito, e principalmente o nível de
resposta empreendido às situações problemáticas as quais estão sujeitos.
Entretanto, já não se enxerga mais a possibilidade da sociedade atual viver em se-
gurança sem a atuação da segurança privada. Embora sua existência precise ainda de muitos
ajustes e continue causando implicações negativas, é impossível imaginar que o Estado vá
assumir a responsabilidade pela segurança. No cenário de violência do mundo atual a
intervenção da iniciativa privada acabou se configurando como um "mal necessário" diante do
sucateamento dos serviços públicos de segurança. No entanto, segundo Cardoso (2011) é
muito importante que a segurança privada fique adstrita à função de auxiliar da segurança
pública. O Estado deve admitir a importância da segurança privada e a existência dos
problemas ligados a ela, sendo mais efetivo em sua regulação e fiscalização, para que a

prestação de serviços de segurança não acabe por produzir ainda mais danos à sociedade.
Entretanto, a despeito dos números apresentados, os quais conferem à segurança
privada um grau de importância considerável para fins de contribuição na manutenção do
controle social, no Brasil as discussões sobre formas de adotar parceiras entre os setores
público e privado caminham de forma lenta. Neste sentido, iniciativas de alguns estados já são
percebidas nos últimos anos como, por exemplo, o primeiro simpósio sobre segurança privada
ocorrido em Aracajú-SE, o qual teve como tema “As Relações da Segurança Privada e Pública
Após a Copa do Mundo”. (COELHO, 2011). De acordo com o presidente do Sindicato das
Empresas de Segurança Privada do Estado de Sergipe (SINDESP/SE), durante o encontro foi
discutido sobre o trabalho desenvolvido pela segurança pública e privada para o sucesso da
Copa do Mundo de 2014.

Coelho (2011) acrescentou:

“O encontro tem o objetivo principal de esclarecer sobre o papel a ser desempenhado


por ambos os setores. “É importante esse debate porque a sociedade passa a entender
o papel da segurança pública e privada. Por vezes se tem eventos públicos com
segurança do governo, quando na verdade deveria ser com segurança privada,
cabendo apenas a Polícia Militar a parte que lhe compete à constituição que é a
segurança das vias e não da segurança interna em eventos particulares”.

A organização da segurança para a condução da Copa do Mundo no Brasil, em


2014, deu mostras de que é possível caminhar para uma maior aproximação entre os setores.
Foi uma experiência que obteve sucesso e que certamente servirá como laboratório para o
estudo de possibilidades mais amplas e permanentes de emprego conjunto. Neste sentido,
parece ser interessante de ser trabalhado o campo das informações. O mercado de segurança
privada tem suas empresas distribuídas por todo território nacional. Os vigilantes estão
presentes nas instituições financeiras, nos estabelecimentos comerciais, na defesa de
patrimônio de particulares, sobretudo nos mais variados tipos de órgãos públicos distribuídos
pelo País. Já assim estão colaborando sobremaneira com os Órgãos de Segurança Pública, pois
permite que estes possam dedicar maior atenção imediata às áreas externas. Além do fator
presença, o vigilante dispõe de todo o aparato tecnológico de segurança disponível na
atualidade, como os circuitos fechados de televisão, dispositivos eletrônicos de alarmes e
sensores de presença, etc. Ora, então essa quantidade enorme de “agentes” da segurança
privada, espalhados por todo “canto”, não poderiam participar como alimentadores do Sistema
de Inteligência de Segurança Pública, de forma a contribuir na prevenção do crime,
principalmente ajudando na montagem de cenários estatísticos a serem utilizados nos
planejamentos do setor público?

Mas uma questão é fundamental, será que o modelo de polícia adotado no Brasil
atualmente favorece a aproximação com o setor privado de segurança? Este aspecto também
deve ser considerado importante, pois parece essencial a quebra do modelo tradicional de
polícia para que o terreno passe a ser fértil à contribuição mútua entre policiais, cidadãos e
instituições. Neste sentido, é possível encontrar modelos de policiamento no exterior que
facilitem o estudo sobre esta integração. É o caso do modelo de Policiamento Comunitário ou
de Proximidade adotado no Japão (KOBAN), que utiliza estratégias de aproximação, ação de
presença, permanência, envolvimento e comprometimento com o local de trabalho e com as
comunidades na preservação da ordem pública, da vida e do patrimônio das pessoas.

Segundo Rolim (2006) um modelo, proativo, de policiamento deve estar tão


próximo e vinculado às comunidades quanto possível, inclusive com a retomada dos
patrulhamentos a pé. A ideia central nesse caso é substancialmente diferente daquela
direcionada para o número de prisões efetuadas ou taxa de resolução de crimes. Compartilha
também o pressuposto de que uma intervenção racional das forças policiais, em parceria com
entidades da sociedade civil, pode alterar várias das condições que são preditivas do crime e da
violência. Iniciativas importantes adotadas também no Brasil serão abordadas como a criação
das Unidades de Polícia Pacificadora, no Rio de Janeiro. Iniciativas no emprego do modelo de
policiamento comunitário passaram a ser comuns nas nações democráticas e o interesse pela
sua efetividade é cada vez maior.

Rolim (2006) ainda afirma:

[...] “alguns dos cuidados básicos a serem observados na viabilização operacional de


um projeto de policiamento comunitário envolvem a elaboração de estratégias de
mobilização da comunidade que estimulem a participação e a definição de objetivos
gerais pelos residentes. Ao mesmo tempo, o policial comunitário deve desempenhar
uma função básica para o sistema de inteligência policial – a coleta das informações
necessárias à prevenção do crime”.

Não se teria neste ponto, então, uma forte possibilidade de contribuição dos
vigilantes? É certo que muito é preciso mudar para que haja a integração desejada entre os
órgãos de segurança pública e as empresas de segurança privada. As necessidades de
adaptações começam pela mentalidade de segurança e policiamento, percorrem a formação
dos profissionais de ambos os setores, e a adequação da legislação e dos sistemas de controle,
particularmente referentes a setor privado. É um caminho longo a ser percorrido, com muito a
ser estudado.
2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2.1 ASPECTOS LEGAIS E ESTRUTURAIS

Na medida em que a criminalidade aumenta, se diversifica e se enraíza pelos


variados setores e classes da sociedade brasileira, é preciso unir esforços com inteligência e,
sobretudo, de forma fundamentada. É de suma importância a aproximação entre os órgãos de
segurança pública, principalmente na troca de dados de inteligência. Neste mesmo diapasão,
percebe-se também a possibilidade de abertura de portas de acesso ao setor privado de
segurança. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), criada em 2007, a qual faz
parte da estrutura organizacional do Ministério da Justiça, tem a incumbência de assessorar
este na implantação e no acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública.

Art. 12. À Secretaria Nacional de Segurança Pública compete:

[...]

III - elaborar propostas de legislação e regulamentação em assuntos de segurança


pública, referentes ao setor público e ao setor privado;

IV - promover a integração dos órgãos de segurança pública;

V - estimular a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança pública;

[...]

VIII - estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a elaboração de planos e


programas integrados de segurança pública, objetivando controlar ações de
organizações criminosas ou fatores específicos geradores de criminalidade e
violência, bem como estimular ações sociais de prevenção da violência e da
criminalidade;

[...]

X - implementar, manter, modernizar e dirigir a Rede de Integração Nacional de


Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização - Rede Infoseg;

[...]

Verifica-se do exposto que é a partir da Política Nacional de Segurança Pública


que se pretende criar oportunidades para maior integração entre as diversas instituições de
segurança do País, por meio da elaboração de planos e programas integrados. Consequência
deste Plano, em 2007, por meio da PL 1937, o Sistema Único de Segurança Pública (Susp),
com a finalidade geral de integrar as ações policiais no âmbito da União, dos Estados e dos
municípios.

Em seu Art. 2º, apresenta 8 (oito) objetivos do SUSP, que resumidamente consistem
em:

I - Estabelecer condições adequadas à integração sistêmica para viabilizar a


cooperação inter-institucional e potencializar, em escala nacional, as competências
institucionais, regionais ou locais dos órgãos de segurança pública;

II - Criar um ciclo básico comum, com currículo mínimo uniforme;

III - Organizar e difundir dados policiais, tornando possível a permuta de


informações e o trabalho cooperativo entre as polícias brasileiras;

[...]

VII - Instalar, em cada Estado e no Distrito Federal (DF), um Gabinete de Gestão


Integrada para discussão das prioridades a serem compartilhadas na provisão de
segurança pública e estratégias cooperativas; e,

[...]

A operacionalização deste Sistema é feita por meio da instalação dos Gabinetes de


Gestão Integrada (GGI) nos Estados participantes do programa. Os GGI são fóruns
deliberativos constituídos pelo secretário estadual de segurança pública, e representantes da
Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de

Bombeiros Militar e guardas municipais. Verifica-se, portanto, que os GGI são a “ponta da
linha” do sistema para fins de integração. Esta mudança de paradigma na forma de se pensar
segurança no Brasil é recente e carece de amadurecimento. Há muito que se evoluir para
conseguir vencer os inúmeros obstáculos que interferem no caminho da integração entre
órgãos públicos, dentre eles: históricos, culturais, estruturais e legais.

O Plano Nacional de Segurança Pública também apresenta considerações e


limitações do setor privado de segurança no Brasil e, para estas, propõe dentre suas soluções a
criação de mecanismos voltados à integração entre a segurança pública e a privada:
Para enfrentar os problemas diagnosticados na segurança privada, as seguintes
medidas devem ser adotadas:

[...]

3) descentralizar e desburocratizar os processos de credenciamento e cancelamento


de autorizações para empresas de segurança privada; transferir essa atribuição, assim
como a responsabilidade direta pela fiscalização e controle, aos estados e municípios,
com clara divisão de tarefas entre os dois níveis de governo. O Ministério da Justiça,
por intermédio do Departamento de Polícia Federal (DPF), manteria sua função
reguladora e coordenadora da atividade no país, responsabilizando-se diretamente,
porém, apenas pela fiscalização dos serviços particulares prestados a órgãos públicos
federais e em áreas sob jurisdição da União;

Estima-se provável que esta opção, por descentralizar o controle e a fiscalização


do setor para os estados e municípios, além de outros benefícios, permitiria maior aproximação
do setor privado, das iniciativas de integração já existentes no âmbito público, como a
instalação dos GGI no âmbito dos estados. No nível estadual, a discussão sobre formas do
setor privado de segurança poder contribuir com o SUSP fica facilitada, podendo, inclusive,
ser estudada a participação de representantes na composição dos GGI.

[...]

5) criar um banco de dados nacionalmente integrado e totalmente informatizado


sobre as empresas de segurança, vigilância, transporte de valores e segurança
orgânica, que permita cruzar informações do DPF, das Secretarias de Segurança
estaduais, da Receita Federal, do INSS, do Cadastro Geral de Atividade Econômica
(CAGED), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do Relatório
Anual de Informações Sociais (RAIS), do Diário Oficial, das Juntas de Comércio
estaduais e de outras fontes. Além de reunir todos os dados disponíveis sobre as
empresas e os trabalhadores, o banco deveria incluir informações sobre armas
furtadas/roubadas de firmas e/ou agentes de segurança particular;

[...]

Esta medida certamente aumentaria a eficiência no controle das empresas de segu-


rança privada. Naturalmente, a desconfiança sobre o setor tenderia a ser diminuída incentivando
a abertura de portas para a integração.

O Plano Nacional de Segurança Pública chega a propor medidas práticas que po-
deriam começar a estreitar os laços entre os agentes públicos e privados.

[...]

12) criar mecanismos legais e transparentes de colaboração entre a vigilância


particular e a segurança pública, como parte de programas integrados de controle da
criminalidade. Canais de comunicação (rádios, celulares, pagers , intranets, alarmes
conectados a postos policiais, entre outros) e protocolos de troca de informações
entre vigilantes e policiais poderão potencializar os recursos e aumentar a eficácia de
ambos os serviços de segurança.

Percebe-se que ações como estas, de simples operacionalização, poderiam


começar a criar uma cultura de ação conjunta e apoio mútuo. O ganho seria muito grande para
ambos os lados - os vigilantes poderiam contribuir com os órgãos de segurança pública
servindo como acionadores e informantes treinados - em contrapartida, o maior entrosamento
entre os setores poderia proporcionar uma resposta mais rápido aos alarmes dos vigilantes.
Considerando a grande quantidade de vigilantes distribuídos pelos mais variados setores do
comércio, de transportes, de estabelecimentos financeiros e empenhados na proteção de
patrimônios e pessoas, ter-se-ia uma ampla cobertura de vigilância oferecida por estes agentes
privados.

2.2 A INTELIGÊNCIA NO COMBATE A CRIMINALIDADE

O general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu (544 - 496 a.C.), na sua famosa
obra A Arte da Guerra afirma “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa
temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada
vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si
mesmo, perderá todas as batalhas [...]”. Neste livro, possuidor de ensinamentos sobre
estratégias militares que ainda hoje são estudados por exércitos do mundo inteiro, o autor
dedica várias linhas à importância das informações para o sucesso das operações. Essa
premissa está cada vez mais presente também no mundo empresarial, variando-se apenas
aquilo que é considerado “o inimigo”. Retornando ao foco do tema estudado, propõe-se como
o inimigo a própria criminalidade. Vários são os fatores que a constroem, a sustentam, a
tornam complexa e mutável. Conforme expõe Muniz (2001) não é possível se discutir soluções
de polícia e segurança pública sem se fazer o uso da ciência. As pesquisas ajudam na correção
de rumos, na percepção das demandas, e na compreensão da problemática de cada ambiente ou
cenário. As informações são, portanto, as peças formadoras destes grandes cenários. O
trabalho eficiente de um sistema de inteligência permite, através do estudo de dados,
informações e conhecimentos, a montagem de cenários prospectivos, fundamentais no
planejamento operacional e administrativo de qualquer organização.

“Uma previsão busca identificar novos atores que poderão atuar e os possíveis
efeitos de suas atuações. Assim, o sucesso na previsão daquilo que é provável que
aconteça e a eficiência da estimativa decorrente dependerão da adoção, por parte do
analista, de uma metodologia prospectiva de eficácia comprovada e do estudo do
problema de forma multidisciplinar. Esta “previsão” deve basear-se na construção de
cenários prováveis, o que possibilitará a identificação de novos atores, acompanhar
suas trajetórias, imaginar eventos prováveis, as interdependências entre os atores e
entre estes e os eventos. Com a elaboração de cenários, pode-se, ainda, identificar
fatores críticos em qualquer evolução de situação, possibilitando a
antecipação aos fatos, e permitindo minimização de uma possível ameaça ou a exploração, ao máximo, de uma
oportunidade potencial. É o que se chama construir o futuro.” (FERNANDEZ, p. 15, 2006)

A atividade de inteligência no Brasil evoluiu muito e continua a sofrer


transformações com o objetivo de diminuir a visão preconceituosa com a qual era percebida,
certamente decorrente da forma como era concebida nas suas origens. Cada vez mais ela vem
sendo considerada como um meio fundamental de apoio aos gestores de toda natureza, por
meio do fornecimento de informações e conhecimentos para apoio a processos decisórios
baseados em análises criminais. Assim também vem ocorrendo no âmbito da segurança
pública, como prova a criação da Lei n o 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que instituiu o
Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP). O Subsistema possui a finalidade de
coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País. Outro
fator importante é o avanço tecnológico que, com a diversificação e a modernização dos
meios de tecnologia da informação (TI), tem contribuído muito para a aplicabilidade das
atividades de inteligência em apoio às de segurança, bem como na integração dos OSP com
outros órgãos afins.

A atividade de inteligência também vem se expandindo no âmbito do setor


privado de segurança, porém ainda muito voltado para o viés da Inteligência Competitiva,
hoje intensamente aplicada no mundo empresarial. Entretanto, trata-se de um importante
início, na medida em que o perfeito entendimento sobre as finalidades da inteligência pode
ajudar na construção futura da mentalidade de compartilhamento de informações. Percebe-se
que a relação inteligência – setor privado ainda é vista com bastante receio. Basta que faça
uma observação sobre o ocorrido nos últimos anos nos Estados Unidos, onde boa parte da alta
cúpula de inteligência e investigação era privatizada. O vazamento de informações sensíveis
do Governo causou sérios problemas diplomáticos ao País. No entanto, trata-se neste trabalho
do apoio da segurança privada no seu nível elementar, ou seja, “na ponta da linha”,
enxergando-se o vigilante como um agente de inteligência. A Copa do Mundo de 2014, no
Brasil, foi um grande laboratório para se comprovar a importância do contato aproximado
entre as empresas de segurança privada e os órgãos públicos. Por ocasião deste evento,
verificava-se que as missões e os limites de cada setor estavam claramente definidos, porém, o
contato sistematizado entre eles foi fundamental para o sucesso da segurança de uma maneira
geral.

Naturalmente, considerando as especificidades e as motivações profissionais de


cada setor de segurança, o público e o privado, não se pode esperar que seja desenvolvido, a
curto prazo, um grande interesse por este caminho de aproximação, principalmente ao se tratar
da área de inteligência. É necessário compreender a prioridade comercial das empresas
privadas. Afinal, estas existem devido ao retorno financeiro que obtêm dos contratos
estabelecidos, portanto, quanto mais deles melhor – este é o principal objetivo. Outra
consideração relevante é o fato de que elas tiveram origem e vêm ganhando cada vez mais
espaço justamente devido à incapacidade do setor público de proporcionar a segurança
necessária à sociedade. Ora, então se torna fundamental, primeiramente, um trabalho de
mudanças de paradigmas em ambos os setores - uma mudança cultural que desperte a
consciência sobre como pode ser vantajoso para os dois lados o resultado do apoio mútuo que
resulte no ganho de segurança de uma maneira geral. O agente de segurança, independente de
ser público ou privado, precisa pensar e agir como tal e, ao mesmo como tempo, como um
cidadão que almeja, nos momentos em que se encontra despido da farda, se sentir seguro ao
sair às ruas com sua família.

2.3 CAMINHOS E OPORTUNIDADES PARA A INTEGRAÇÃO

Nota-se, portanto, a necessidade de um trabalho de base a ser executado nas


escolas e cursos de formação. É preciso também despertar nos bancos acadêmicos o interesse
de se aprofundar estudos nesta área. A iniciativa da implantação das discussões poderia partir
dos estados, com o apoio do governo federal. Não parece muito provável que o estímulo de
estudos no meio acadêmico dos órgãos de segurança pública, no sentido de se perceber
medidas práticas e pontuais de apoio mútuo entre os OSP e os vigilantes privados, poderia
originar excelentes ideias. Coordenações no campo das comunicações seria um campo fértil.
Poderia se estudar o estabelecimento de redes rádio específicas por meio das quais os
vigilantes teriam acesso rápido à polícia militar estadual. Outra possibilidade estaria na
sistematização do intercâmbio de informações – as empresas de segurança privada não
poderiam ter acesso, mesmo que limitado em alguns aspectos, ao banco de dados referentes à
criminalidade em determinada região de interesse? Em contrapartida, estas mesmas empresas
não poderiam contribuir na alimentação destes bancos de dados, com as observações e
impressões diuturnas coletadas pelos seus vigilantes? Naturalmente, tais medidas implicariam
em uma série de padronizações e uniformizações de conhecimentos e procedimentos no
âmbito dos setores.

Tudo isso estaria em perfeita consonância com os objetivos do Estado quando em


20 de junho de 2000 colocou em vigor o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), com o
principal objetivo de fomentar a integração de políticas de segurança, políticas sociais e ações
comunitárias, aperfeiçoando o Sistema de Segurança Pública brasileiro como um todo. O
PNSP foca na importância da discussão conjunta de soluções para a criminalidade, com a
participação do maior número possível de atores afins a segurança.
Nesse sentido, participação não é uma palavra vazia, um slogan demagógico, uma
retórica populista, nem uma fórmula mágica. É condição efetiva da elaboração
competente e do monitoramento racional de toda política pública de segurança que
se pretenda consistente e conseqüente. Esse novo ângulo de abordagem exige que as
proposições estejam em sintonia com a complexidade do problema a ser enfrentado
e, portanto, se traduzam em projetos multidimensionais, que mobilizem recursos
multissetoriais, que envolvam atores públicos e privados de diferentes tipos e que se
inspirem em conhecimentos interdisciplinares.

[...]

Será muito importante que, ato contínuo, a sociedade civil seja também convocada
para uma grande mobilização nacional pela construção social da paz, em cujo
âmbito as entidades não-governamentais, as associações, os sindicatos, as
instituições religiosas, as universidades e os representantes da iniciativa privada
serão chamados a participar de um amplo mutirão, a ser desenvolvido em múltiplos
níveis, simultaneamente, visando integrar a juventude excluída.

Verifica-se, então que há espaço para avançar no propósito da integração, o que


pode ainda faltar é a plena confiança dos setores públicos sobre o privado. O receio de que
este possa se tornar uma ameaça em potencial ao Estado democrático de direito, por ser
vulnerável às conjunções políticas, parece difícil de ser vencido. Segundo ANDERLE (2007)
tamanha força, “fora de controle, corre-se o risco de se perder de vista a distinção entre o
público e o privado no domínio da segurança interna, bem como poderão surgir milícias
populares, para grupos divergentes defenderem interesses próprios ou uns contra os outros,

“exércitos particulares” para guardar áreas de domínio do crime, ou o combate da


criminalidade por iniciativa privada”.

Entretanto, até mesmo neste sentido, não seria mais interessante buscar a
proximidade entre os setores? – não seria esta uma forma de dissuadir a ameaça de se ter uma
força de segurança cada vez maior, distante de qualquer vínculo de comprometimento com as
forças públicas?

Outro ponto que precisa ser priorizado com urgência é o nível de formação do
vigilante, a começar pela escolaridade mínima exigida para o ingresso na atividade.
Atualmente, o cidadão interessado em ser um profissional da segurança privada precisa ter
cursado até a 4ª série do ensino fundamental. Cada vez mais se espera mais dos vigilantes –
que saibam atuar com firmeza e precisão, mas com a devida educação e cordialidade; que
saibam agir conforme as leis que regulam o setor e atentos aos direitos dos cidadãos; que
saibam usar os meios modernos à disposição; que possam se tornar veículos de informação
para sistemas de inteligência; dentre outras expectativas. Ora, não se trata de muita
responsabilidade para pouca formação? Não são atribuições que necessitam de poder de
discernimento, muitas vezes com pouco de tempo para reação?
Entretanto, segundo ZANETIC (2009) esse quadro vem sendo aos poucos
modificado, embora ainda se verifique a baixa profissionalização do setor, principalmente no
que se refere ao perfil dos vigilantes, com um nível de qualificação, escolaridade e renda
bastante inferior ao dos policiais, este quadro vem se alterando significativamente ao longo do
tempo. Por meio de dados extraídos da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), Zanetic afirma que é possível se
verificar importantes mudanças no perfil socioeconômico e profissional da população
empregada tanto na segurança pública quanto na atividade de vigilância e guarda, nas
diferentes regiões do Brasil. O nível de escolaridade dos vigilantes privados é, ainda hoje,
consideravelmente menor do que o dos policiais, porém vem melhorando aceleradamente,
assim como entre os profissionais das forças públicas.

É muito provável que o crescimento natural do nível de escolaridade no universo


dos vigilantes empregados seja decorrente do aumento na demanda por profissionais mais
qualificados na área de segurança. Verifica-se atualmente a imperiosa necessidade do
vigilante se adequar e se adaptar ao uso de meios tecnológicos avançados e que se encontram
à disposição do setor. É comum hoje, por exemplo, a utilização de equipamentos rádio
providos de recursos facilitadores para a exploração segura, rápida e com possibilidades de
integração entre diferentes redes. O vigilante está inserido em um sistema de segurança
composto por diversos meios que se complementam e suplementam com o objetivo de
fornecer ao cliente um serviço com a menor vulnerabilidade a falhas possível. Naturalmente,
neste sistema, o fator humano [o vigilante] é considerado a peça chave, pois possui a
responsabilidade de saber utilizar com eficiência todos os outros meios, sabendo tirar o
melhor proveito destes.

Verifica-se, então, do exposto, que o aumento do nível de escolaridade exigido


para o profissional da segurança privada precisa ser formalizado, para que o próprio vigilante
receba a credibilidade necessária por parte dos cidadãos e empregadores, oferecendo com
isso, maior confiança também para o setor. Outro aspecto, diretamente relacionado ao perfil
do vigilante, que pode influenciar no processo de aproximação entre os setores público e
privado de segurança, criando oportunidades de atuação conjunta, é o modelo de polícia
adotado no País.

2.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELO DE POLÍCIA

A forma de atuação dos órgãos de segurança pública do País carrega hoje traços
predominantes e decorrentes das motivações das suas origens, principalmente dos órgãos
encarregados pelas atividades de polícia. A polícia nasceu com a missão de combater a
criminalidade que vem se tornando mais complexa com o passar do tempo. Conforme já
apresentado neste trabalho, verifica-se a grande dificuldade do poder público em reduzir os
crescentes índices de criminalidade na maioria dos estados do País e muitas são as
justificativas: a falta de efetivo, a omissão do Estado, a necessidade de reestruturação das
polícias, a necessidade de mudanças na legislação penal, etc. Entretanto, verifica-se que
criminalidade e segurança são assuntos que sempre geraram acaloradas discussões nos mais
diversos setores e ambientes da sociedade.

Considerando apenas o que se espera das forças policiais, porém, há grande


dificuldade em definir o que se quer. Há correntes que defendem a necessidade de enfatizar a
prisão dos culpados, fazendo com que a polícia opere como um braço da justiça criminal.
Outras defendem que sejam priorizadas as ações voltadas para a redução da criminalidade.
Segundo Rolim (2006) tais correntes apresentam o seguinte conflito – prevenir o crime é um
objetivo que pode ser alcançado mediante a presença ostensiva dos policiais nas ruas, de tal
forma que se crie uma sensação de onipresença policial para que os eventuais delinquentes
mudem de ideia quanto a realização de atos criminosos. Esta última medida, talvez por ser
mais visível politicamente, venha sendo mais empregada e destacada em detrimento de ações
voltadas para atuar nas causas do problema.

Entretanto, cada vez mais, países desenvolvidos e democráticos vêm percebendo


as vantagens de se adotar modelos de polícia que se caracterizam pela proximidade entre o
policial e o cidadão. Este modelo, denominado policiamento comunitário, quebra o paradigma
da polícia que causa medo aos cidadãos. Pelo contrário, objetiva o estreitamento do contato
com estes com o intuito de aumentar a confiança mútua. O policial passa a ser reconhecido
como um amigo, pacificador e interessado nos problemas individuais e coletivos da
comunidade onde atua.

Ainda segundo Rolim (2006) na viabilização operacional de um projeto de polícia


comunitária nota-se como primordial a elaboração de estratégias que estimulem a participação
da comunidade na elaboração dos planos de ação para os problemas locais. Em tais projetos,
vislumbra-se o estabelecimento de formas coletivas de vigilância e de colaboração dos
cidadãos com a polícia. Observam-se exemplos neste sentido com o estabelecimento de canais
diretos de comunicação entre os moradores e os policiais, inclusive com o uso de
equipamentos rádio. Outra forma de atuação tem sido a implantação de conselhos
comunitários de segurança pública que funcionam como órgãos de controle e que contribuem
na orientação do trabalho policial.

Ao mesmo tempo, o policial comunitário deverá desempenhar uma função básica


para o sistema de inteligência policial – a coleta de informações necessárias à
prevenção do crime. Em contato direto com a comunidade, ele passará a reconhecer
as principais ameaças que ela enfrenta e saberá repassar à instituição não apenas a
natureza desses problemas, mas outros dados imprescindíveis a respeito do perfil e
do modus operandi daqueles que violam a lei na região. Aliás, pode-se esperar que
os policiais comunitários desenvolvam uma capacidade maior do que a dos
patrulheiros que circulam por toda a cidade, exatamente por conta do grau de
conhecimento que passam a acumular sobre a região sob sua responsabilidade.
(ROLIM, p. 81, 2006).

Percebe-se, então, que o modelo favorece o trabalho de inteligência por parte dos
policiais no âmbito das comunidades onde atuam. Desta forma, a polícia conseguiria
consolidar as informações sobre a criminalidade e violência na região, com as finalidades de
identificar com mais precisão as tendências presentes, informar a população sobre os riscos de
vitimização e identificar os grupos mais vulneráveis à ação dos infratores.

Ora, do exposto no cenário do policiamento comunitário, não se pode deduzir que


os profissionais da segurança privada poderiam ser amplamente aproveitados como
contribuintes neste projeto. Os vigilantes, principalmente os que atuam na segurança
patrimonial e de pessoas, atuam de maneira mais fixa e em espaços físicos de amplitude mais
limitada do que cobertos pelo patrulhamento policial. Portanto, têm condições de serem
aproveitados como agentes preparados para coletar informações no ambiente onde atuam e
nas áreas vizinhas. Tais informações poderiam ser aproveitadas pelo setor público na
montagem do cenário da criminalidade local, o qual por sua vez, poderia ser utilizado,
também, em proveito do setor privado, na medida em que auxiliariam no planejamento das
medidas de segurança a serem adotadas pelas empresas em determinado espaço, face às
informações e a interpretação dos dados estatísticos disponíveis. Conforme afirma Rolim
(2006) uma parte considerável dos crimes é cometida em decorrência de situações
consideradas favoráveis aos infratores, os quais analisam o esforço exigido para a prática do
crime, o risco concreto que se corre ao praticá-lo e o tamanho da recompensa oferecida pela
sua realização. Então, considerando estes fatores, é possível planejar ações preventivas com
vistas a defender melhor os alvos de crime, dificultando aos infratores a aproximação, bem
como é possível de se desenvolver políticas que estimulem as pessoas a agir de forma correta
e educada, evitando o cometimento de delitos.

Portanto, o modelo de policiamento comunitário tende a facilitar o estreitamento


do contato dos policiais com os vigilantes de determinado setor, formando uma rede de
colaboradores com a finalidade comum de proporcionar um ambiente mais seguro para todos.
Verifica-se, mais uma vez, que há espaço a ser explorado na criação de um ambiente de apoio
mútuo entre os setores públicos e privados de segurança. Para tanto, é fundamental que o
crescimento de iniciativas nesta direção seja acompanhado da devida regulamentação de
amparo e que defina limites de forma precisa, tudo para que se possa obter o melhor proveito
da contribuição do setor privado para com a segurança pública sem, entretanto, colocar em
risco a segurança de áreas sensíveis do Estado.

2.5 UMA INICIATIVA BEM SUCEDIDA

Criada no ano 2000, a Associação Comunitária Chácara Santo Antônio surgiu da


decisão de um grupo de empresas da região sobre a necessidade de somar esforços para o
enfrentamento dos problemas relacionados à violência no local, o qual apresentava elevados
índices de roubo, furto de carros e sequestros-relâmpago. O sentimento de insegurança na
comunidade era muito grande. Segundo (Muller, 2014), um grupo de empresários se reuniu
para financiar um projeto ousado de segurança para o bairro, em que as empresas
considerassem não somente o conceito de segurança intramuros, mas também o bem-estar
daqueles que circulavam pela região e que, de uma maneira ou de outra, estavam contribuindo
para o desenvolvimento econômico da área. O projeto vislumbrava a participação não apenas
de empresários, mas também do poder público e da comunidade, e consistia na busca da
integração das informações de segurança das empresas, escolas, associações comunitárias e
comércio da região com a segurança privada das ruas e a segurança pública desenvolvida
pelas Polícias Civil e Militar. Muller (2014) explica que o Projeto consistia na criação de uma
equipe de vigilância privada ostensiva, uniformizada, bem equipada e treinada, que trabalharia
em estreita parceria com os porteiros e vigilantes das empresas e condomínios da região,
reportando-se sempre à Polícia Militar, que também se comprometeria a ceder policiais para
auxiliar no policiamento ostensivo. Além disso, haveria uma coordenação executiva, que
organizaria as informações coletadas, disseminando-as para as polícias e as empresas, e
monitoraria os dados de segurança na região. Os custos do projeto seriam compartilhados
pelas empresas participantes, mediante aprovação da proposta de orçamento.
Para se ter uma ideia de como funciona o trabalho da Ação Comunitária, talvez seja
mais útil citar um exemplo. Supondo-se que a câmera de vigilância de uma das
empresas instaladas no bairro tenha filmado um sequestro-relâmpago, esta filmagem
é enviada imediatamente à equipe da Ação Comunitária, que registra o local, hora,
carro e dados dos criminosos, como vestimentas e traços físicos. Estas informações
são repassadas para a vigilância privada, Polícias Militar e Civil e sistemas de
segurança das empresas da região. Ou seja, o crime e os criminosos são mapeados
em seus detalhes. A partir disso, é possível não apenas pensar em formas de
melhorar a segurança no local do crime – melhorar a iluminação ou o policiamento
ou realizar a poda de árvores, para tornar o local mais visível –, mas também alertar
os participantes quanto à presença daqueles criminosos. (MULLER, 2014).

Conforme expõe o coordenador executivo da Ação Comunitária, a implementação


das ações já resultou na apreensão de diversos criminosos que atuavam na área. Como o
monitoramento ocorre durante as 24 horas do dia, a Ação consegue acompanhar quais são os
criminosos que mais atuam no bairro, podendo planejar ações estratégicas orientadas ao
problema (Muller, 2014). Portanto, verifica-se que o projeto mudou consideravelmente o
quadro da criminalidade na região, ao mesmo tempo em que proporcionou o aumento da
sensação de segurança dos moradores locais.

Todos os participantes do projeto, contribuintes ou não, o veem de forma muito


positiva. Os policiais entendem que a ação conjunta proporcionada pelas atividades
da Ação Comunitária promovem a colaboração, a solidariedade entre as polícias e,
em última instância, o bem comum. Os membros do poder público se sentem
partícipes do projeto, pois notam que, ao colaborarem, também colhem os frutos da
ação. Os empresários, por sua vez, sabem bem que escolheram o caminho mais lento
para empreender mudanças, que é o da organização e ação coletiva, mas reconhecem
que se trata do caminho mais eficiente para obtenção de resultados. Por isso, é
mantido o canal de diálogos sempre aberto com a comunidade, até porque é ela
quem identifica mais rapidamente as zonas de perigo. (MULLER, 2014)

Verifica-se na iniciativa implementada na região da Chácara Santo Antônio, um


exemplo de envolvimento do setor empresarial de segurança, mais que simplesmente na
melhoraria das estatísticas de criminalidade no bairro, mas como participantes ativos e
desejosos da mudança de mentalidade acerca da maneira como resolver questões relacionadas
à segurança. Percebe-se o sentimento de corresponsabilidade pelo que ocorre na comunidade
e de que o controle da criminalidade não depende somente do poder público. A Ação
Comunitária Chácara Santo Antônio deu prova de que é possível a sociedade se organizar e
envolver o poder público em parcerias com o objetivo de proporcionar benefícios para os
próprios cidadãos em suas comunidades.
2.6 RISCO CONTROLADO - EXPERIÊNCIA AMERICANA

Um exemplo de País que deu grande ênfase ao setor privado de segurança foram
os Estados Unidos da América. Segundo Lopes (2011) a partir do início do século XXI, em
um curto espaço de tempo, a segurança privada nos EUA aumentou em tamanho e
importância. Esse crescimento surgiu como decorrente de uma mudança de mentalidade com
relação ao setor. Estudos realizados nas décadas de 70 e 80 conferiram maior confiabilidade
ao setor, na medida em que ofereceram à imagem de que a segurança privada não tratava de
uma tropa de choque privada, mas uma indústria como outra qualquer do setor de serviços. Os
assuntos relacionados à segurança passaram a ser considerados como uma questão de política
e soberania, com análises focadas em economia e eficiência, e abordagens em termos de
equilíbrio, proporção e grau. Lopes (2011) inclui que “essa mudança de mentalidade surgida
nos EUA foi completada com a ideia de que a segurança privada era um ‘parceiro júnior’ das
forças policiais, pois desempenhava tarefas simples de autodefesa (vigiar espaços, relatar
crimes, controlar acessos e prevenir perdas) que a polícia não tinha nem a vocação e nem os
recursos para realizar.”

A segurança privada ganhava nos EUA, cada vez mais espaço e amplitude:

“Se no começo do século XX, a segurança privada era vista com desconfiança pelo
governo americano, no começo do século XXI, ela passou a ser vista não apenas
como uma parceira no combate à criminalidade, mas também como uma parceira
fundamental na promoção da segurança interna. Essa percepção orientou um extenso
programa de reformas visando a engajar o setor de segurança privada na luta contra
o crime, especialmente através de parcerias com a polícia. Paralelamente, essa
concepção também orientou um programa de terceirização junto às Forças Armadas
e agências do Departamento de Defesa, o que levou ao envolvimento de empresas
militares privadas em atividades que até o final dos anos 80 eram desempenhadas
com exclusividade por agências estatais.” (LOPES, 2011).

Com a ocorrência dos atentados terroristas às Torres Gêmeas, em 11 de setembro


de 2001, houve consideráveis mudanças no cenário interno americano. A segurança privada
que era, até então, considerada como parceira da segurança pública no combate ao crime, foi
rapidamente elevada à condição de parceira chave para a promoção da segurança interna. Essa
mudança ocasionaram diversas implicações e desafios para a governança da segurança
doméstica dos EUA. As alterações não se restringiram ao ambiente interno. Externamente,
observa-se que os EUA têm feito uso de empresas militares privadas para prover a segurança
de seus recursos materiais e humanos em zonas de conflito, especialmente no Iraque e no
Afeganistão. Internamente, então, as ameaças de ataques terroristas contra a infraestrutura dos
EUA alçaram o setor de segurança privada à condição de parceiro chave na promoção da
segurança interna.

Esse novo papel atribuído à segurança privada desafia o modo como


tradicionalmente pensamos assuntos de segurança nacional, abordados pelas
disciplinas de Ciência Política e Relações Internacionais a partir de perspectivas
teóricas centradas no Estado. O novo papel atribuído à segurança privada também
desafia as políticas de segurança interna dos EUA. (LOPES, 2011).

Verifica-se, então, que os EUA abriram largo espaço e incentivaram o


crescimento do setor privado de segurança, sem a devida profundidade em estudos sobre os
riscos que tal decisão poderia causar à segurança do Estado. Entretanto, eventos recentes
como o vazamento de informações sensíveis do governo americano, de setores controlados
também por agentes privados, têm reforçado a intensão de regulamentar melhor o setor. Até
então, acreditava-se por lá que o suposto alinhamento de interesses fosse o suficiente para
garantir a devida participação da segurança privada na governança da segurança interna.
Porém, segundo Lopes (2011) diversos fatores passaram a conspirar para que a segurança
privada não seja empregada de acordo com o interesse público de promover a segurança
interna. Diante desse quadro de risco, o governo americano tem proposto mais regulação na
tentativa de fazer com que o setor de segurança privada aja de acordo com as prioridades de
segurança dos EUA. Por motivos diversos, essa mesma tendência para mais regulação já está
em curso em vários países da Europa.

Ainda segundo Lopes (2011), independentemente da tendência para mais


regulação governamental sobre a segurança privada se confirmar ou não nos EUA, a
participação desse setor de serviços na governança da segurança doméstica dos americanos
parece um fato consolidado. Há aqui um tema de pesquisa que merece a atenção dos cientistas
sociais, sobretudo dos interessados na análise dos novos padrões de governança na área de
segurança. E o tema parece importante não apenas para aqueles diretamente interessados na
sociedade americana. A segurança privada é um setor amplamente presente e reconhecido
como recurso auxiliar no combate à criminalidade em diversos países. Alguns desses países
têm como prioridade em sua agenda de segurança o problema do terrorismo, caso do Reino
Unido e da Espanha. Dada a liderança dos EUA no combate ao terrorismo e o papel que esse
país desempenha na difusão de modelos organizacionais, é possível que o padrão americano
de governança da segurança doméstica, que atribui papel de destaque à segurança privada na
proteção de infraestruturas críticas, também se reproduza em outras partes do mundo.
A despeito da diversidade de perspectivas presente em cada uma dessas abordagens,
em todas elas a segurança doméstica é vista como um problema que depende
basicamente da ação do Estado.
[...] A emergência da segurança privada como ator fundamental para a defesa de
recursos considerados essenciais à sobrevivência dos EUA desafia essa forma
tradicional de conceber assuntos de segurança doméstica.
[...] O grande desafio decorrente dessa nova realidade é como fazer com que um
setor privado, heterogêneo e que obedece a incentivos distintos dos que operam no
setor público, produza políticas de segurança com a efetividade e a transparência
requerida de atores que desempenham funções essenciais à coletividade. (LOPES,
2011).

Portanto, busca-se mostrar com esta experiência americana que a aproximação


entre os setores público e privado de segurança, a ponto de permitir espaço e condições para
atuações conjuntas ou complementares, normalmente rende bons frutos em matéria de
segurança, mas que é necessária a devida normatização deste processo. Somente desta forma,
o Estado e a sociedade poderá sentir a necessária ao incentivar esta importante evolução no
combate e prevenção à criminalidade no Brasil.
3 CONCLUSÃO

O estudo da argumentação apresentada ao longo deste trabalho de pesquisa,


juntamente com a análise do caso prático exposto, verifica-se que a união de esforços entre os
setores público e privado de segurança é um caminho bastante viável para a melhoria das
condições de segurança da população. O cenário da criminalidade atual em todo o País,
confrontado com o poder de reação do Estado, revela a nítida incapacidade do poder público
de resolver, sozinho, problema de tamanha dimensão complexidade. A pesquisa não deixa
dúvidas, portanto, de que o poder público precisa viabilizar o aproveitamento do grande
efetivo de profissionais e meios à disposição das empresas de segurança privada, que ainda
por cima, conta com todo aparato tecnológico da atualidade destinado às ações de segurança.

Verificou-se que o esforço de aproximação entre as empresas de segurança


privada e os órgãos de segurança pública no Brasil, tem um longo caminho a percorrer,
repletos de obstáculos e de paradigmas a serem vencidos. Há urgência na alteração da
regulamentação do setor privado. É preciso modificar o perfil profissional do vigilante e criar
mecanismos mais rigorosos de fiscalização do setor, com o intuito de aumentar a credibilidade
do mesmo. Somente desta forma será possível adequar a capacidade profissional dos
vigilantes às expectativas da sociedade e à possibilidade de inseri-los ativamente neste
processo de integração com o setor público.

Foi percebido que há grandes espaços para se explorar a integração entre os


setores público e privado de segurança, particularmente no nível que se costuma chamar a
“ponta da linha”, ou seja, o que compreende as ações dos agentes públicos e dos vigilantes.
Percebeu-se, por exemplo, que os ambientes ligados às comunicações e às ações de
inteligência seriam propícios para aprofundamentos. Porém, verificou-se que o sucesso de
todo este processo seria muito facilitado pela intensificação da utilização no País, do modelo
de polícia comunitária, o qual foca na aproximação entre o policial e o cidadão. Esta
modificação cultural na nossa polícia, apresentaria uma instituição aberta para discussões mais
amplas sobre soluções eficientes e duradouras para o combate e a prevenção à criminalidade.

Entretanto, o exemplo apresentado na iniciativa da “Associação Comunitária


Chácara Santo Antônio”, mostrou que soluções simples podem se mostrar bastante eficazes.
Sugere, também, que o início do processo de transformação pode ser impulsionado pela
própria sociedade, ou seja, o caminho inverso do qual mais se espera – o Estado à frente de
todos os problemas dos cidadãos. O exemplo de uma comunidade relativamente pequena
mostra que uma sociedade organizada, movida por eficientes lideranças e fortemente
motivada para resolver seus problemas, pode envolver os setores públicos e privados em seus
propósitos.

Numa outra vertente de raciocínio, a pesquisa também conduz à conclusão parcial


de que a abertura ao setor privado dos assuntos relacionados à segurança deve ser
cuidadosamente acompanhada e criteriosamente balizada. O exemplo americano prova que é
preciso haver limites, principalmente quando se trata da inserção de profissionais privados em
setores críticos e sensíveis à segurança do Estado.

Por fim, naturalmente, esta pesquisa não tem a pretensão de apresentar fórmulas
para a resolução do problema exposto, mas de despertar possibilidades para estudo e
aprofundamento, já que, durante as fases de planejamento e confecção deste trabalho, foi
percebida a grande carência de literatura e trabalhos acadêmicos sobre o assunto.
REFERÊNCIAS

AUSEC AUTOMAÇÃO E SEGURANÇA. A insegurança no Brasil fomenta a segurança


privada. Disponível em:< http://www.ausec.com.br/novidades/a-inseguranca-no-
brasilfomenta-a-seguranca-privada/163>. Acesso em: 2 fev. 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Decreto Nº 6.061, de 15 de março de 2007. Aprova a Estrutura Regimenta e o


Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da
Justiça, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6061.htm> Acesso em
22 jan. 2015.

CARDOSO, Cíntia Menezes. A atuação das empresas de segurança privada no Brasil:


investigação de casos encaminhados ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul . 2011. 142
f. Dissertação (Mestrado em Ciências Criminais) - Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

COELHO, Fernando da Cruz. Gestão e modelos legais de segurança privada: um estudo


em empresas orgânicas e especializadas. 2011. 107f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Ciências Empresariais da Universidade Fumec, Belo Horizonte, 2011. Disponível em: <.>.
Acesso em 15 dez. 2014.

COSTA, Thiago Frederico de Souza. Qual o problema da segurança pública?. Jus Navigandi,
Teresina, ano 19, n. 3908, 14 mar. 2014. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/26882>.
Acesso em: 24 fev. 2015.

FERNANDES, Fernando do Carmo: Inteligência ou informações? Revista Brasileira de


Inteligência / Agência Brasileira de Inteligência, Brasília, v. 2, n. 3, p. 7-21, set. 2006.
LOPES, Cleber da Silva. Segurança Privada e Infraestrutura Crítica: os desafios para a
governança doméstica dos EUA, 6., 2011, São Paulo. Anais eletrônicos...Disponível em:
<http://www.opeu.org.br/wp-content/uploads/2011/10/OPEU_Estudos_06.pdf>. Acesso em: 2
abr. 2015.

MARTINS, Helena. Mapa mostra aumento e disseminação da violência no Brasil. EBC


Agência Brasil, Brasília, jul. 2014. Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-07/p-2brasil-viveu-aumento-
edisseminacao-da-violencia-segundo-mapa-da-violencia>. Acesso em 21 fev. 2015.

MELLO, Fernando. Os gargalos da segurança pública. Revista VEJA, ago. 2010. Disponível
em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-gargalos-da-seguranca-publica>. Acesso em 24
fev. 2015.
MULLER, Jorge. Ação Comunitária Chácara Santo Antônio. Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, 2014. São Paulo: Urbania.
40

MUNIZ, Jaqueline. Polícia brasileira tem história de repressão social. Disponível


em:<http://www.comciencia.br/entrevistas/jacquelinemuniz.htm>. Acesso em: 24 mar. 2015.

ROLIM, Marcos. A síndrome da rainha vermelha: policiamento e segurança pública no


século XXI. 3. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

TZU, Sun. A arte da guerra. 1. Ed. Brasil: Novo Século, 2014.

VIGILANTES, Associação Brasileira dos Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de.


Manual do Vigilante: curso de formação, v. 1, 2007.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2014. Disponível em:


<http://www.mapadaviolencia.org.br/index.php>. Acesso em 2 fev. 2015.

ZANETIC, André. A segurança privada no Brasil: disseminação, controle e regulação. In: IV


SIMPÓSIO DOS PÓS- GRADUANDOS EM CIÊNCIA POLÍTICA DA USP; 2006, São
Paulo. Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/aSeguran%C3%A7a-Privada-No-Brasil-Dissemina
%C3%A7%C3%A3o/52852325.html>. Acesso em: 5 fev. 2015.

______. Segurança privada: características do setor e impacto sobre o policiamento. Revista


BSP, 2009. Disponível em
<http://www.pm.al.gov.br/apm/downloads/bc_policial/pol_04.pdf> Acesso em 10 jan. 2015.

Você também pode gostar