Você está na página 1de 28

09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

    

Anúncio
Free Writing App For Work
Grammarly
DOWNLOAD

Direito Fundamental à Segurança Pública


01/02/2015

Resumo: O presente trabalho traz uma reflexão sobre os delineamentos do direito social à
segurança pública, garantido no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, e definido no artigo
144 da Constituição Federal, como dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através das polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal, polícias civis, polícias militares
e corpos de bombeiros militares. Os direitos fundamentais sociais presentes na Constituição de
1988 têm sua fundamentalidade garantida no texto constitucional positivo e na sua relação
com valores e objetivos estampados na carta constitucional, especialmente com a dignidade da
pessoa humana. Diante do aumento vertiginoso da criminalidade que causa um grande
sentimento de insegurança, a garantia da segurança pública passou a constituir uma das
atribuições prioritárias do Estado brasileiro. As políticas públicas como único instrumento na
concretização do direito à segurança pública. As problemáticas sobre a concretização dos
direitos fundamentais sociais envolvem questionamentos relacionados às omissões
inconstitucionais, à discricionariedade estatal, ao controle jurisdicional das políticas públicas e a
irreversibilidade do direito à segurança pública. Em síntese, o problema da segurança pública
não é afeto apenas a atividade policial, pois atualmente a prioridade das ações policiais, são as
prisões de criminosos através de caráter repressivo. É preciso o Estado reconhecer que deve
implementar políticas preventivas no combate a violência respeitando os direitos humanos,
aplicando boas práticas de educação e de cidadania, a participação popular na elaboração das
políticas públicas, aprimorar o policiamento comunitário e políticas para grupos vulneráveis.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 1/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

Palavras-chave: Criminalidade, Polícia, Política Pública, Segurança Pública.

Esse conteúdo ajudou você? Está precisando comprar um livro?  Clique AQUI e vá direto para
Livraria do Âmbito Jurídico!

Abstract: The present work brings a reflection about the guidelines of the social right to public
security, guaranteed by article 6 of the federal constitution of 1988, and defined in article 144
of the federal constitution, as duty of the state, law and responsibility of all, exercised for the
preservation of public order and safety of the people and the patrimony, through the federal
police, federal road federal railway police, civilians, military and police bodies of military
firefighters. Fundamental social rights in the constitution of 1988 have their fundamentally
guaranteed in the constitutional text and positive in relation to values and objectives printed on
constitutional charter, especially with the dignity of the human person. Before the dizzying
increase in criminality that causes a great feeling of insecurity, the assurance of public safety
went on to be one of the priority tasks of the Brazilian state. Public policies as the only
instrument in the realization of the right to public safety. The problems on the implementation
of the fundamental social rights involve questions related to omissions unconstitutional, the
state discretion, the jurisdictional control of public policies and the irreversibility of the right to
public safety. In summary, the problem of public security is not affection only police activity,
because currently the priority of the police actions, are the arrests of criminals through
repressive character. We must recognize that the state must implement preventive policies in
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 2/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

combating violence, respecting human right, applying best practices in education and
citizenship, popular participation in public policy-making, improve community policing and
policies for vulnerable groups.

PUBLICIDADE

Keywords: Criminality, Police, Public Policies, Public Security.

Sumário: 1 Introdução, 2 A segurança pública na Constituição Federal de 1988, 2.1 Ordem


pública e segurança pública na redação do artigo 144 da Constituição Federal de 1988, 2.2 A
polícia com um dos órgãos da segurança pública, 2.3 O papel das guardas municipais de
acordo com a Constituição Federal de 1988, 2.4 A multiplicidade dos órgãos de defesa, 3 A
polícia nas escolas, 4 As políticas públicas na concretização da segurança pública, 5 A
participação popular nas políticas de segurança pública, 6 O encarceramento gera segurança?,
7 Limites e possibilidades do controle jurisdicional das políticas de segurança pública, 8
Irreversibilidade do direito social à segurança pública, 9 Conclusão, 10 Referências
bibliográficas.

1 Introdução

Segurança é o direito fundamental, predominantemente difuso, que os cidadãos e a sociedade


possuem de sentirem-se protegidos, interna e externamente, em decorrência das políticas
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959
públicas de segurança pública praticada pelo Estado e da prestação adequada, eficiente e
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 3/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

eficaz do serviço público de segurança pública.

PUBLICIDADE

A segurança pública é um dos problemas mais agudos de nossa sociedade atual, o interesse
pelo tema tem aumentado de forma significativa, diariamente as emissoras de rádio e televisão
e outros meios de comunicação noticiam crimes graves, em números sempre crescentes,
mostrando o estágio avançado da criminalidade e a sua influência nefasta na vida da
população.

A sensação de insegurança afeta o país inteiro, especialmente as cidades mais populosas,


colocando a segurança pública em destaque e proporcionando campo fértil para as discussões
de mecanismos públicos de combate à criminalidade, principalmente sobre a eficácia e
adequação das atividades públicas de prevenção de crimes.

A violência e o descontrole da criminalidade afetam a todos, desde o cidadão mais simples ao


mais culto, ocorrem tanto no ambiente das favelas aos condomínios mais luxuosos.

A criminalidade não é estática, fato que pressupõe a necessidade de dinamismo na fixação e


alteração da política de segurança pública e o seu plano de ação, para a efetiva prestação de
serviço de prevenção e combate das práticas delituosas.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 4/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

 O assunto segurança pública é amplo, e o presente trabalho visa analisar os aspectos


disciplinados na Constituição Federal de 1988, a eficiência do serviço de segurança pública, as
políticas públicas para sua efetivação e a possibilidade do controle judicial.

 2 A segurança pública na constituição federal de 1988

Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.

“A acolhida dos direitos fundamentais sociais em capítulo próprio no catálogo dos direitos
fundamentais, ressalta, por sua vez, de forma incontestável sua condição de autênticos direitos
fundamentais, já que nas cartas anteriores os direitos sociais encontravam-se positivados no
capítulo da ordem econômica e social, sendo-lhes, ao menos em princípio e ressalvadas
algumas exceções, reconhecido caráter meramente programático”. (SARLET, 2012, p. 66)

Art. 21. Compete à União:

Esse conteúdo ajudou você? Está precisando comprar um livro?  Clique AQUI e vá direto para
Livraria do Âmbito Jurídico!
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 5/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

“III – assegurar a defesa nacional;

PUBLICIDADE

-7% -7%

VER AGORA VER AGORA

IV – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo
território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do
Distrito Federal e dos Territórios;

XXII – executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;”

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

“XXI – normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e


mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;

XXII – competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais.”

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

“XVI –R$organização,
179 R$ 229
garantias, R$ 69
direitos e deveres R$ 1.609
das polícias civis.” R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 6/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através
dos seguintes órgãos:

“I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.”

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:

“I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;

PUBLICIDADE

II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o


descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas
de competência;

III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 7/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.”

“§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais.

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
federais.

§ 4º – às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a


competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares.

PUBLICIDADE

§ 5º – às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos


corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.

§ 6º – As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do


Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º – A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela


segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8º – Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus


bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

 § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo
será fixada na forma do § 4º do art. 39.”
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 8/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

A Carta Magna definiu a segurança como um direito social a ser concretizado pelo Estado, de
modo a garantir que os cidadãos possam viver com dignidade, ter plena liberdade de ir e vir,
garantindo-lhes a integridade física, psíquica e moral através de todos os mecanismos que
estejam ao alcance.

PUBLICIDADE

O aparato policial tem o condão de prevenir o cometimento de delitos, investigar e capturar


àqueles que porventura cometerem alguma infração penal, bem como servir de desestímulo à
prática criminosa.

O Supremo Tribunal Federal, em seu pleno já decidiu que o rol do artigo 144, da Constituição
Federal é taxativo e não há possibilidade de ampliação dos órgãos da Segurança Pública,
descritos no citado dispositivo, através de legislação infraconstitucional, inclusive nas
Constituições Estaduais.

“STF – Incompatibilidade, com o disposto no artigo 144 da Constituição Federal, da norma do


artigo 180 da Carta da Constituição do Rio de Janeiro, na parte em que inclui no conceito de
segurança pública a vigilância dos estabelecimentos penais e, entre os órgãos encarregados dessa
atividade, a ali denominada ‘Polícia Penitenciária’. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente, por maioria de votos” (STF – Pleno – Adin nº 236-8/RJ – Rel. Min. Octávio Gallotti –
Diário da Justiça, Seção I, 1º Jun.2001, p.75). 

“Os Estados-membros, assim como o Distrito Federal, devem seguir o modelo federal. O art. 144
da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública. Entre eles não
está o Departamento de Trânsito. Resta pois vedada aos Estados-membros a possibilidade de
estender o rol, que esta Corte já firmou sernumerus clausus, para alcançar o Departamento de
Trânsito.” (ADI 1.182, voto do Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-11-2005, Plenário, DJ de 10-
3-2006. Vide: ADI 2.827, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 16-9-2010, Plenário, DJE de 6-
4-2011).

R$ 179 R$ 229 PUBLICIDADE


R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 9/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

2.1 Ordem pública e segurança pública na redação do artigo 144 da constituição federal
de 1988

É o estado de estabilidade das relações e instituições sociais e jurídicas no qual as pessoas, em


virtude de suas condutas e das dos demais, assim como da atuação estatal, sentem-se,
segundo os valores éticos e jurídicos vigentes, vivendo de forma salubre, aceitavelmente
seguras e em paz.

Na definição de Silva (2009) “ordem pública será uma situação de pacífica convivência social,
isenta de ameaça de violência ou de sublevação que tenha produzido ou que supostamente
possa produzir a curto prazo, a prática de crimes” (SILVA, 2009, p. 777 e 778).

“O conceito jurídico de ordem pública não se confunde com incolumidade das pessoas e do
patrimônio (art. 144 da CF/1988). Sem embargo, ordem pública se constitui em bem jurídico que
pode resultar mais ou menos fragilizado pelo modo personalizado com que se dá a concreta
violação da integridade das pessoas ou do patrimônio de terceiros, tanto quanto da saúde pública
(nas hipóteses de tráfico de entorpecentes e drogas afins). Daí sua categorização jurídico-positiva,
não como descrição do delito nem cominação de pena, porém como pressuposto de prisão
cautelar; ou seja, como imperiosa necessidade de acautelar o meio social contra fatores de
perturbação que já se localizam na gravidade incomum da execução de certos crimes. Não da
incomum gravidade abstrata desse ou daquele crime, mas da incomum gravidade na perpetração
em si do crime, levando à consistente ilação de que, solto, o agente reincidirá no delito. Donde o
vínculo operacional entre necessidade de preservação da ordem pública e acautelamento do meio
social. Logo, conceito de ordem pública que se desvincula do conceito de incolumidade das
pessoas e do patrimônio alheio (assim como da violação à saúde pública), mas que se enlaça
umbilicalmente à noção de acautelamento do meio social (HC 101.300, Rel. Min. Ayres Britto,
julgamento em 5-10-2010, Segunda Turma, DJE 18-11-2010).”

PUBLICIDADE

2.2 A polícia como um dos órgãos da segurança pública

Segundo o conceito de Zanobini (1950)[1] apud Moraes (2011), Polícia é:


R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 10/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

“a atividade da administração pública dirigida a concretizar, na esfera administrativa,


independentemente de sanção penal, as limitações que são impostas pela lei à liberdade dos
particulares ao interesse da conservação da ordem, da segurança geral, da paz social e de
qualquer outro bem tutelado pelos dispositivos penais”(ZANOBINI, 1950, p. 17 apud MORAES,
2011, p. 1665)

De acordo com a previsão do artigo 144, da Constituição Federal de 1988, a segurança pública
é exercida pela polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis,
polícias militares e corpos de bombeiros militares.

No imaginário popular a presença de mais policiais nas ruas podem inibir o cometimento de
crimes, e mesmo com toda a vigilância não é possível evitar o cometimento de crimes. A
atividade das policias se diferenciam em administrativas e de segurança, sendo que, esta
engloba a polícia ostensiva e a polícia judiciária.

PUBLICIDADE

As polícias civis e militares possuem uma baixa avaliação de confiança e qualidade de seus
serviços, a qual beira a 70%, e essa desconfiança aumenta ainda mais a sensação de
insegurança, pois há um número pequeno de crimes esclarecidos, grande burocracia como nos
casos em que o cidadão passa horas em uma delegacia de polícia para registrar uma
ocorrência.

Outro desafio que precisa ser enfrentado é mudar a imagem que os policiais são violentos,
corruptos, como noticiado diariamente na imprensa, por exemplo, nos casos das recentes
manifestações populares e policiais que exigem dinheiro de membros de facções criminosas.
Para isso é necessário divulgar as boas práticas de enfrentamento da violência e ações de
controle e punição dos maus policiais.

2.3 O papel das guardas municipais de acordo com a constituição federal de 1988

O constituinte não garantiu ao município a instituição de órgão policial de segurança, bem


como,R$de
179
polícia judiciária.
R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 11/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

Na dicção do parágrafo 8º, da Constituição Federal, apenas reconheceu a faculdade de instituir


as guardas municipais “os municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à
proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei”, vale dizer, não garantiu
a atividade de polícia ostensiva, a qual é função exclusiva da polícia militar.

 Conforme acentuou Diógenes Gasparini (1992):

 “…mesmo que pela sua natureza se pudesse entender a prestação dos serviços de polícia
ostensiva e de preservação da ordem pública como de interesse local, esses não seriam do
Município por força do que estabelece o § 5º do art. 144 da CF, que de forma clara atribui essas
competências à Polícia Militar”. (GASPARINI, 1992, p. 229).

 Desta maneira vem se manifestando a jurisprudência:

“ O Município não pode ter guarda que substitua as atribuições da polícia militar, que só pode ser
constituída pelos Estados, Distrito Federal e Territórios (…). Diga-se, desde logo, com todas as
letras, que guarda municipal não constitui segmento de segurança pública, não sendo lícita
qualquer ação buscando a repressão à criminalidade. Esta se repete, pertence às polícias, e
guarda municipal não é polícia” (Apelação Criminal nº 124-767-3/5 – 5ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça de São Paulo).

PUBLICIDADE

 “A Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, julgando a Apelação Criminal
nº 96.007-3/0, da Comarca de Araras, prolatou oportuno Acórdão referente à matéria que
estamos comentando, ressaltando que “guarda municipal é guarda de patrimônio público
municipal e que não está investido de funções de natureza policial, não lhe cabendo arvorar-se
em agente policial e dar busca pessoal em quem que seja e sem razão plausível, pelo que o
manifesto abuso dos guardas leva a que se lhe rejeitem os informes prestados” (Relator Des.
Weiss Andrade in Comentários à Constituição de 1988, Forense Universitária, 1992, Vol. VI, nº
455, p.
R$ 3426).
179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 12/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Na lição de Tácito (1959)[2] apud Lazzarini (1996):

“a primeira condição da legalidade é a competência do agente. Não há, em direito


administrativo, competência geral ou universal: a lei preceitua, em relação a cada função
pública, a forma e o momento do exercício das atribuições do cargo. Não é competente quem
quer, mas quem pode, segundo a norma de direito. A competência é, sempre, um elemento
vinculado, objetivamente fixado pelo legislador” (TÁCITO, 1959, p.27 apud LAZZARINI, 1996,
p.60)

PUBLICIDADE

Na prática, as guardas municipais estão atuando como polícia ostensiva, sem o devido respaldo
constitucional para realizar tal atribuição, mas que acabam sendo por elas executadas em
função da falência dos órgãos de segurança pública estadual.

Atualmente este exemplo é bem marcante, sendo necessário reconhecer a necessidade de


participação dos municípios na garantia da segurança pública de seus munícipes, através de
suas guardas municipais, com a devida garantia constitucional no combate a violência e
criminalidade.

Está em andamento a Proposta de Emenda à Constituição nº 534 de 2002 que “Altera o art. 144
da Constituição Federal, para dispor sobre as competências da Guarda Municipal e criação da
Guarda Nacional”. Definindo uma nova competência para as guardas municipais, que é a de
realizar a proteção de suas populações.

Em 12 de setembro de 2013 foi apresentado requerimento nº. 8592/2013, pelo Deputado


Major Fábio, que solicitou a inclusão na ordem do dia da proposta de Emenda à Constituição
nº. 534 de 2002, com a justificativa de que a inclusão dos Municípios no Sistema de Segurança
Pública concorrerá para o aumento de pessoal e de recursos materiais e orçamentários para o
desenvolvimento das ações necessárias para a efetiva redução da criminalidade e para o
aumento da qualidade do serviço e do nível de segurança oferecidos à população.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 13/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

2.4 A multiplicidade de órgãos de defesa

A multiplicidade dos órgãos de defesa da segurança pública, pela Constituição Federal de 1988,
teve dupla finalidade: o atendimento aos reclamos sociais e a redução da possibilidade de
intervenção das Forças Armadas na segurança interna.

A execução, pelas Forças Armadas, de operações de segurança está ressalvada apenas em


momentos excepcionais: Estado de defesa, Estado de sítio, Intervenção federal, A realização de
investigação criminal no âmbito de inquérito policial militar, A execução de operações de
policiamento ostensivo em contextos que predomine o interesse nacional, em especial em
visitas de chefes de estados estrangeiros.

No tocante a Força nacional de segurança pública criada em 2004, esta não compõe os órgãos
responsáveis pela segurança pública, é composta por membros das polícias dos Estados. Trata-
se de um convênio entre a União, os Estados membros e o Distrito Federal, instituída através da
Lei 11.473/07, com a exclusiva finalidade da execução de atividades e serviços imprescindíveis à
preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio.

PUBLICIDADE

3 A polícia nas escolas

A escola é um ambiente de socialização, mas atualmente a violência está incorporada ao


ambiente escolar e a polícia aparece como uma alternativa para solucionar o problema da
violência nas escolas.

A presença das polícias geralmente é no entorno dos estabelecimentos de ensino, com a


finalidade de orientar prevenir delitos e proteger as unidades escolares, propiciando um nível
tolerável de segurança, aos professores, alunos, funcionários e à comunidade.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 14/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

No caso do Estado de São Paulo, a polícia militar possui a diretriz N°PM3 – 014/02/05 de 07 de
novembro de 2003, que disciplina a ronda escolar, na busca de atender aos anseios e
necessidades, estreitando o contato entre a polícia militar, diretores de escolas, alunos e seus
familiares.

Os principais casos de violência nas escolas são agressões físicas e verbais entre alunos, contra
professores e outros funcionários, bem como, ameaças, discriminação racial, porte de armas,
furtos, roubos e o tráfico de drogas.

PUBLICIDADE

Tanto professores, funcionários e alunos, acreditam ser positiva a presença da polícia nas
escolas, mas essa prática acaba gerando outra consequência, ou seja, a única tentativa de
manter a disciplina nas escolas acaba virando caso de polícia, onde os professores perdem seu
papel de educador de forma integral.

Nesse caminho, pode-se concluir que o papel da polícia nas escolas é mais para intimidar,
amedrontar, do que efetivamente evitar e solucionar os problemas. Para mudar esta imagem a
polícia deve levar à escola programas que tenham um enfoque educativo na prevenção do uso
de drogas, agressões e brigas, buscando a construção de um ambiente mais seguro.

4 As políticas públicas na concretização da segurança pública

 A Segurança Pública figura como direito social materializado por meio da política social de
Segurança Pública. Para tanto, o Poder Executivo Federal, via Ministério da Justiça,
implementou em 2000, o Plano Nacional de Segurança Pública, no intuito de proporcionar a
articulação entre os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público, bem como
demais instâncias públicas – Estados, municípios, sociedade civil e demais setores – na “guerra”
contra a violência.

PUBLICIDADE
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 15/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Em 2003, o Governo Federal ajustou a forma como se daria o repasse de recursos para a
consolidação do Plano Nacional de Segurança Pública em todos os entes Federados, por meio
da presença da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, como intermediadora.

Compete à Secretaria Nacional de Segurança Pública:

“assessorar o Ministro de Estado na definição, implementação e acompanhamento da Política


Nacional de Segurança Pública e dos Programas Federais de Prevenção Social e Controle da
Violência e Criminalidade;

planejar, acompanhar e avaliar a implementação de programas do Governo Federal para a área


de segurança pública;

elaborar propostas de legislação e regulamentação em assuntos de segurança pública, referentes


ao setor público e ao setor privado;

promover a integração dos órgãos de segurança pública;

PUBLICIDADE

estimular a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança pública; 

promover a interface de ações com organismos governamentais e não-governamentais, de


âmbito nacional e internacional;

realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados para a redução da criminalidade e da violência;

estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a elaboração de planos e programas


integrados de segurança pública, objetivando controlar ações de organizações criminosas ou
fatores específicos geradores de criminalidade e violência, bem como estimular ações sociais de
prevenção da violência e da criminalidade;

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959


exercer, por seu titular, as funções de Ouvidor-Geral das Polícias Federais;
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 16/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

implementar, manter, modernizar e dirigir a Rede de Integração Nacional de Informações de


Segurança Pública, Justiça e Fiscalização – Rede Infoseg;

PUBLICIDADE

promover e coordenar as reuniões do Conselho Nacional de Segurança Pública;

incentivar e acompanhar a atuação dos Conselhos Regionais de Segurança Pública;

coordenar as atividades da Força Nacional de Segurança Pública.”

No ano de 2007, o Governo Federal instituiu, por meio da Medida Provisória nº 384, um novo
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, com a finalidade de reunir “ações de
prevenção, controle e repressão da violência com atuação focada nas raízes sócio-culturais do
crime”, bem como promover a articulação de “programas de segurança pública com políticas
sociais já desenvolvidas pelo governo federal, sem abrir mão das estratégias de controle e
repressão qualificada à criminalidade. O Pronasci, para alcançar seus objetivos, engloba uma
série de medidas, dentre elas, destacam-se:

“Inclusão social de jovens em situações de risco.

Estabelecimento de um piso remuneratório para os policiais.

PUBLICIDADE

Política criminal.

Formação e aperfeiçoamento de policiais

Modernização do sistema de segurança pública e valorização de seus profissionais e


reestruturação do sistema prisional;

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 17/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Ressocialização de jovens com penas restritivas de liberdade e egressos do sistema prisional;

Inclusão do jovem em situação infracional ou criminal nas políticas sociais do governo;

Enfrentamento à corrupção policial e ao crime organizado;

Promoção dos direitos humanos, considerando as questões de gênero, étnicas, raciais, de


orientação sexual e diversidade cultural; Recuperação de espaços públicos degradados por meio
de medidas de urbanização.”

Os governos em geral fazem apenas um aporte cada vez maior de recursos visando a
renovação de frota, recomposição do efetivo, construção, ampliação e reforma de prédios,
modernização e integração dos sistemas de inteligência e ampliação de vagas prisionais

PUBLICIDADE

Os temas da segurança pública não pertencem apenas às policias, mas dizem respeito a todos
os órgãos governamentais que se integram, por vias de medidas sociais de prevenção ao
delito.

O aumento da percepção de insegurança e a elevação dos índices de criminalidade tem


colocado em debate a efetividade das ações de prevenção e controle da violência cada vez
mais em evidência.

Tradicionalmente, a abordagem teórica e as práticas institucionais se encaminharam para


valorizar os nexos entre crime e criminoso, entre crime e drogas ou mesmo entre crime e
cultura criminal.

Deve-se pensar nas condições que favorecem o crime e nas possibilidades em que,
considerando determinados fatores, pode haver a potencialização do ato criminoso e de fatos
da criminalidade.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 18/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Não é possível propiciar segurança pública sem mecanismos primários, de ordem político-
social que garantam a cidadania. As questões sociais estão visceralmente ligadas aos
problemas da violência e da criminalidade.

PUBLICIDADE

“O conceito de cidadania, em sua fase madura, comporta: as liberdades individuais expressas,


pelos direitos civis – direito de ir e vir, de imprensa, de fé, de propriedade, os direitos políticos –
de votar e ser votado, de participar do poder político; e os direitos sociais, caracterizados como
o acesso a um mínimo de bem estar econômico e de segurança, com vistas a levar a vida de
um ser civilizado” (MARSHALL, 1967, p. 63-64).

A atividade estatal voltada para a prevenção criminal vem refletir a falência de outras políticas
governamentais. Essa ineficiência decorre da descura com os organismos policiais envolvidos
no combate à criminalidade e também do descaso ou ineficiente atendimento à família carente,
à escola pública, ao atendimento à saúde das populações mais pobres, política de emprego e
distribuição de rendas e patrimônio e, talvez o mais importante, a falta de política educacional
no sentido mais amplo.

5 A participação popular nas políticas de segurança pública

A Constituição Federal, ao caracterizar a segurança pública como “direito e responsabilidade de


todos” e ao positivar o princípio democrático, estabelece o fundamento jurídico dos arranjos
institucionais que permitem a participação popular na formulação e no controle da gestão das
políticas de segurança. É o que ocorre, por exemplo, nas experiências de policiamento
comunitário ou, ainda, na dos conselhos de segurança pública. Tais experiências, particulares ao
campo da segurança pública, se inserem no contexto atual de ampliação dos espaços de
participação popular, no sentido da superação dos limites da democracia meramente
representativa.

PUBLICIDADE
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 19/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

A esse propósito, Silva (2009), lembra que “se faz necessária uma nova concepção de ordem
pública, em que a colaboração e a integração comunitária sejam os novos e importantes
referenciais” (SILVA, 2009, p. 636).

O poder público deve estimular e facilitar a participação da sociedade, promovendo


campanhas e audiências públicas, periodicamente, com a presença de cidadãos, especialistas
em segurança pública, representantes da sociedade civil, para apresentação das propostas
governamentais, captação de sugestões populares e dos entes interessados.

A participação popular na fixação e alteração da política criminal deve ser adequada, podendo
intervir o povo em todos os pontos que não sejam sigilosos ou que não prejudiquem a
execução da prevenção de crimes.

6 O encarceramento gera segurança

É possível ilustrar este imaginário com o discurso do Coronel Erasmo Dias. Ex-Secretário de
Segurança em São Paulo: “o fator primordial da violência não é a baixa faixa de renda, e sim a
existência de muitos criminosos à solta. quando eles estiverem na cadeia a criminalidade
voltará a níveis normais” (BENEVIDES, 1983, p. 58)

PUBLICIDADE

Não existe uma relação direta entre prisão e criminalidade.

É possível que o aumento no número de prisioneiros provoque um aumento na violência. Os


prisioneiros são geralmente soltos na sociedade após alguns anos, e se não há tentativas
efetivas de reabilitá-los e de prepará-los para a reintegração social, eles estarão em sua maioria
mais propensos a cometer novos crimes, pois passarem os últimos anos entre um grande
número de criminosos, formando novas alianças, aprendendo novas técnicas criminosas,
conhecendo novas oportunidades criminais e formando sua mentalidade criminosa.

O clamor social por penas mais rígidas diante da sensação de insegurança, onde o Estado vem
buscando
R$ 179 dar uma resposta com o encarceramento
R$ 229 R$ 69 recorde nosR$
últimos
1.609 anos. R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 20/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

“Em 2000 a população carcerária brasileira era de 232.755 presos, em 2010, a população
carcerária era de 496.251 presos, já em 2012, a população carcerária era de 548.003 presos.

PUBLICIDADE

Atualmente só no Estado de São Paulo a população carcerária é de 205.000 presos”.

Os estabelecimentos prisionais não acompanham a política de aprisionamento, pois há um


déficit de aproximadamente 211 mil vagas, e esta superlotação torna as prisões verdadeiras
fábricas de descumprimento dos direitos individuais.

Na ausência do Estado em garantir os direitos dos presos, muitos acabam sendo


arregimentados pelo crime organizado que lhes oferecem assistência material quanto aos itens
de higiene pessoal, ou assistência jurídica, e no caso em se tratando de viciados, estes acabam
por contrair dividas dentro do cárcere o que pode desencadear na reincidência da pratica de
novos crimes para saldar a dívida que possui, ou ainda, passam a integrar facções criminosas
fazendo um juramento de lealdade com o crime, e desta maneira entrando de maneira
definitiva no mundo do crime.

A maioria dos presos são de jovens até 25 anos de idade, com baixa escolaridade e sem
qualificação profissional. Durante o encarceramento não há políticas que efetivamente
preenchem essa deficiência cultural, onde poderiam dar continuidade no ciclo do ensino
fundamental e médio, ou ofertado uma qualificação profissional visando uma alocação no
mercado de trabalho quando do retorno ao seio social.

PUBLICIDADE

7 Limites e possibilidades do controle jurisdicional das políticas públicas de segurança


pública

O termo políticas públicas refere-se à atividade estatal, direcionado à direta ou indiretamente,


consecução dos direitos fundamentais.
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 21/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

A atividade jurisdicional deve ser voltada ao atendimento dos mandamentos constitucionais


visando à sua máxima efetividade. A segurança deve ser encarada pelo judiciário como direito
fundamental que é, de modo que deixe de ser um sonho constitucional e passe a ser uma
realidade cotidiana. Se o poder executivo não cumpre de forma adequada o seu mister, o
judiciário não pode se furtar da sua missão de concretizados supletivo da vontade
constitucional.

Cabe ao Judiciário, sobretudo, observar o “princípio da realidade” e “reserva do possível”.

Há exemplo no Estado do Paraná de controle da omissão estatal na execução de políticas de


segurança. Constam, de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual (Promotor
Denis Pestana), os seguintes pedidos:

PUBLICIDADE

“destinar o necessário para a reforma da Cadeia Pública local, segundo normas de segurança e
compatíveis com os artigos 88 e 120, da Lei de Execução Penal”; “destinar e manter no exercício
de suas funções, nos Municípios de Sabáudia e Arapongas, Delegados, agentes, investigadores,
escrivães, devidamente concursados junto a Administração Pública do Estado”; “destinar e
manter, no exercício de suas funções nos Municípios de Sabáudia e Arapongas, número suficiente
de policiais militares, além dos já existentes”; ”destinar e manter, aos Policiais Militares, no
exercício de suas funções nos Municípios referidos, armas em perfeitas condições de utilização e
munição em quantidade suficiente”; “tomar as providências legais, em matéria administrativa e
em matéria orçamentária, para cumprimento desta pretendida decisão judicial, imediatamente
após seu trânsito em julgado”; “nos Municípios de Sabáudia e Arapongas, nesta Comarca,
destinem exclusivamente ao exercício das funções policiais, pessoas devidamente concursadas,
impedindo nomeações de suplentes e ad hoc para qualquer atividade policial”.
                                                                   

Muitas vezes, não há recursos materiais disponíveis para a execução de determinada política. A
atuação judiciária, nesse campo, pode ter lugar, mas deve se dar de maneira moderada e
subsidiária às decisões do Executivo e do Legislativo.

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 22/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

PUBLICIDADE

O Supremo Tribunal Federal entendeu, por exemplo, inexistir “nexo de causalidade” entre o
assalto e a omissão da Autoridade pública que teria possibilitado a fuga de presidiário, o qual
veio a integrar a quadrilha que praticou o delito, cerca de vinte e um meses após a evasão.

 “1. Cabe ao ente municipal a responsabilidade pela implementação das políticas públicas de
proteção a crianças e adolescentes, entre as quais está o programa permanente de atendimento a
adolescentes autores de atos infracionais que devem cumprir medida socioeducativa em meio
aberto. 2. A reiterada omissão do ente municipal, que vem sendo chamado a cumprir com seu
encargo, legitima a ação do Ministério Público de postular ao Poder Judiciário a imposição dessas
medidas. 3. É cabível a determinação de que a administração pública municipal estabeleça, na
sua previsão orçamentária, as verbas destinadas à implementação e manutenção do referido
programa de atendimento” (TJ-RS, j. 17 out. 2007, AI nº 70.020.195.616, Rel. Des. Sérgio F. V.
Chaves).

8 Irreversibilidade do direito social à segurança pública

PUBLICIDADE

Não basta ao Estado atuar para satisfazer o direito social à segurança pública, mas, também,
deve se abster de empenhar qualquer medida que possa vir a prejudicar o direito concretizado.

No dizer de Cristina Queiroz (2006):

“A proibição do retrocesso social determina, de um lado, que, uma vez consagradas legalmente as
‘prestações sociais’, o legislador não pode depois eliminá-las sem ‘alternativas’ ou
‘compensações’. Do outro, a garantia de uma proteção efectiva do direito jusfundamental não
resulta criada a partir da legislação, antes esse âmbito de proteção vem garantido através da
actuação dessa legislação. Nisto consiste o ‘dever de proteção’ jurídico-constitucional, que deve
ser pressuposto quer pela administração pública quer pelo poder judicial.” (QUEIROZ, 2006,
p.103)
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 23/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Dessa forma, Nunes (2009) afirma que “suprimir um serviço já disponibilizado ou cassar, pela
revogação da lei, um direito já exercido por seus destinatários, configuraria violação à norma
constitucional com base na qual a lei ou a ação administrativa tenham sido desenvolvidas”.
(NUNES, 2009, p. 119)

PUBLICIDADE

Portanto, não há como se sustentar a impossibilidade de se recorrer ao Poder Judiciário para


concretizar o direito à segurança pública, pois, do contrário, não passaria o direito social de
mero apelo ao legislador, sem qualquer vinculação jurídica.

9 Conclusão

A abordagem central do tema segurança pública pairou sobre a questão se a segurança pública
é um problema restrito à polícia e às suas atividades preventivas, investigativas e repressivas ou
será que envolve aspectos do acesso da população à educação, saúde, emprego e à igualdade
material.

Parte da indagação já fora respondida quando destacado que a segurança pública não é
atividade exclusiva da polícia, e a Constituição Federal de 1988, estabeleceu a segurança como
um direito social a ser efetivado pelo Estado, garantindo que os cidadãos possam viver com
dignidade, ter plena liberdade de ir e vir, garantindo a integridade física, psíquica e moral
através de todos os mecanismos que estiverem ao alcance.

PUBLICIDADE

A efetivação do direito à segurança pública depende da conjugação de políticas públicas que


satisfaçam vários direitos fundamentais sociais, pois ambos estão interligados com a questão
da violência, no caso o direito à educação, saúde, emprego e a igualdade material.

Os gastos com a segurança pública são exorbitantes, no ano de 2012, foram investidos mais de
61 bilhões de reais. Além da dotação financeira, é preciso uma reforma institucional e a
implementação
R$ 179
de açõesR$
que
229
ataquem as causas
R$ 69
imediatas da violência.
R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 24/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

A título de destaque, não que a educação seja a solução de todos os problemas, insta
consignar que, o nível de escolaridade da população carcerária brasileira compõe-se da
seguinte forma: 5,82% são analfabetos, 13,01% alfabetizados, 47,44% possui o ensino
fundamental incompleto, 18,87% possui o ensino fundamental completo, 11,49% possui o
ensino médio incompleto, 7,71% possui o ensino médio completo, 0,77% possui o ensino
superior incompleto, 0,39% possui o ensino superior completo e 0,03% acima do superior
completo.

PUBLICIDADE

A prevenção é tão ou mais importante que a punição, a segurança pública deve ultrapassar o
modelo repressivo e buscar a efetivação através de outras políticas públicas. O Estado deve não
insistir em considerar a questão do crime e da criminalidade pelo ponto de vista da legislação
penal e da ampliação de vagas no sistema prisional.

As políticas de segurança devem estar vinculadas a outros direitos sociais, ampliando as


oportunidades para as populações mais vulneráveis. A presença do tráfico de drogas e do
crime organizado nas áreas de periferias dos grandes centros urbanos, combinada com a
ausência do Estado, o poder paralelo se instala e passa a ditar as regras, aliciando os jovens
como soldados do crime.

Cerca de 26% da população é composta por jovens com idade entre 15 e 29 anos, e este grupo
está em maior número nas estatísticas como vítimas e autores na prática de delitos, o que
demonstra a necessidade de uma política pública específica para este grupo etário.

A juventude é uma fase em que a experimentação é vivida mais intensamente, neste momento
estes indivíduos são menos amadurecidos psicologicamente. Ao se envolverem com a
criminalidade e possível passagem pelo sistema prisional, a partir deste momento tudo ficará
mais difícil, pois a sociedade irá rotulá-los como “ex-preso”.

PUBLICIDADE
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 25/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Durante o cumprimento de pena os jovens não dão continuidade nos estudos, não são
qualificado profissionalmente, consequentemente ao retornarem ao convívio social, não
atenderão as exigências do mercado de trabalho, que ainda poderá exigir atestado de
antecedentes criminais, não restando outra alternativa senão o trabalho informal.

Diante do quadro apresentado, é preciso efetivar e reforçar os direitos fundamentais sociais e a


cidadania, elaborar estratégias para combater a criminalidade organizada, diagnosticar as
causas da criminalidade e atuar preventivamente sempre com a participação da sociedade civil
na elaboração das políticas públicas.

Conclui-se, pois, que as políticas públicas podem ser consideradas o principal instrumento para
combater a criminalidade, bem como, a única alternativa capaz de mudar o atual quadro que se
encontra a segurança pública brasileira.

Referências:
BENEVIDES, Maria Victória. Violência, povo e polícia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil: Titulo V, Da Defesa
do Estado e das Instituições Democráticas. Capítulo III da Segurança Pública. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%201359>. Acesso em 10
novembro de 2013.
CECATTO, Maria Aurea Baroni et al. Cidadania, Direitos Sociais e Políticas Públicas. São Paulo:
Conceito Editorial, 2011.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 22. ed. São Paulo, Atlas, 2009.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Trad. De Meton Porto Gadelha. Rio de
Janeiro: Zahar, 1967.
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 8. ed.
São Paulo: Atlas, 2011.
________. Direito Constitucional. 24. ed. –São Paulo: Atlas, 2009.
NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. A cidadania social na Constituição de 1988: estratégias de
positivação e exigibilidade judicial dos direitos sociais. São Paulo: Verbatim, 2009.
QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais sociais. Coimbra: Coimbra Editora, 2006.
SETTE CÂMARA, Paulo. Reflexões sobre segurança pública. Belém: Universidade da Amazônia,
Imprensa oficial do Estado do Pará, 2002.
R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 26/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 11. ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2012.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. 6. ed. atual. até a Emenda
Constitucional 57, de 18.12.2008. São Paulo: Malheiros, 2009.
__________. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30. ed. atualizada até a Emenda
Constitucional 56, de 20.12.2007. São Paulo: Malheiros, 2008.

Notas:
[1] Zanobini, G. (1950). Corso di diritto amministrativo. Bolonha: Il Molino.

PUBLICIDADE

[2] Tácito, C. (1959). O abuso de poder administrativo no Brasil: conceitos e remédios. São Paulo:
Departamento Administrativo do Serviço Público e Instituto Brasileiro de Ciências
Administrativas.

Informações Sobre o Autor

Adelson Joaquim de Souza

Bacharel em Direito pela Universidade do Oeste Paulista Unoeste Presidente Prudente/SP.


Especialista em Direito Processual Penal pela Escola Paulista da Magistratura do Estado de São
Paulo Mestrando em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba/SP. Servidor da
Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo

PUBLICIDADE PUBLICIDADE

Direito Constitucional Revista 133


R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 27/28
09/11/2020 Direito Fundamental à Segurança Pública - Âmbito Jurídico

Deixe uma resposta

Deixe seu comentário...

Nome

E-mail

Site

Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar.

Publicar comentário

R$ 179 R$ 229 R$ 69 R$ 1.609 R$ 959

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direito-fundamental-a-seguranca-publica/ 28/28

Você também pode gostar