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Alinhavando questões1
Resumo
No século xx, dois filósofos, M. Heidegger e L. Wittgenstein,
revisitaram os princípios de nossa filosofia — aquela dos gregos — e questionaram suas bases. Em outras palavras, exa‑
minaram o próprio conceito de fundamento: o “Ser” como totalidade, tomado em múltiplos sentidos mediante os quais
os entes ganham sentido. Se o Ser deve ser pensado como o tempo se apropriando do homem, Heidegger precisa definir a
própria linguagem como exercício de apropriação de cada ente que é e o próprio Ser. Wittgenstein, em contrapartida, con‑
sidera a linguagem como jogo que se ocupa de signos e objetos. Consequentemente, questionar o ser é um erro gramatical.
Para ambos os filósofos, o conceito de razão carece de sentido, independentemente de como é concebido.
Palavras‑chave: Ser; jogo de linguagem; crítica da razão.
Tacking Questions
Abstract
In the twentieth century, two philosophers, M. Heidegger and
L. Wittgenstein, revisited the principles of our philosophy — that of the Greeks — and questioned its basis. In other
words, they inquired about the concept of foundation itself: “Being” as wholeness, taken in multiple senses, through
which any being that is receives meaning. If Being should be thought as time appropriating the man, Heidegger needs
to define language itself as an exercise of approprieting every thing that is and the Being itsef. Wittgenstein, on the other
hand, considers language as a game that deals with signs and objects. Therefore, questioning about being is a grammatical
mistake. Consequently, for both philosophers, the concept of reason lacks meaning, independently of how we conceive it.
Keywords: Being; language‑game; critique of reason.
[*] Universidade de São Paulo, São Tentei, como me foi possível, aliviar o pensamento de
Paulo, São Paulo, Brasil. E-mail:
jagiannotti@uol.com.br
Heidegger e de Wittgenstein do peso de seus primeiros sucessos, que
terminaram bloqueando o entendimento de suas últimas inovações.
[1] Último capítulo de Contraponto,
Heidegger/Wittgenstein, livro a ser pu-
Ambos se libertaram, a seu modo, do imperialismo da lógica formal
blicado pela Companhia das Letras como lógica da verdade, elegendo a linguagem natural como paradig‑
em 2019.
ma do pensamento filosófico. As soluções, porém, não poderiam ser
[2] Em vez de pensar o Ser como mais opostas. Heidegger dela se livra através do jogo de espelho (sem
criador ou fundamento, Heidegger
o considera como um acontecimen-
espelhos) dos apelos e respostas no âmbito do Ereignis;2 Wittgenstein
to que se apropria historicamente projeta pedaços da linguagem em jogos de linguagem em que se ex‑
dos homens mortais determinando-
-se em vista dos imortais diante da
plicitam os vínculos objetivantes das palavras e das ações. O primeiro
luta entre a terra e o céu. No lugar da abandona de vez a proposição apofântica e o julgar como bússola de
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Referências bibliográficas
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