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Da periferia para o centro da cidade: o mercado de moda popular de

jeans de Fortaleza / From suburb to downtown: the Popular Fashion Jeans


Market of Fortaleza

Resumo
O mercado de moda popular caracteriza-se como um segmento de mercado que surge
do trabalho informal nas periferias e expande para os centros das cidades com oferta
de produtos fabricados para atender a procura das classes populares. As negociações
dos mercados de moda popular, principalmente na região nordeste do Brasil, têm
apresentado rendimentos expressivos para a economia brasileira, devido aos seus
índices na produção e comercialização de jeans. Por isso, esta investigação tem como
intuito a coleta de informações sobre o mercado de jeans dos centros de
comercialização “Feirão do Buraco da Gia” e “Beco da Poeira” da cidade de Fortaleza,
Ceará. Para a realização desta investigação aplicou-se os métodos de levantamento
bibliográfico, observação de campo e entrevistas aberta e semiestruturada. Este artigo
tem as informações organizadas em introdução, metodologia, levantamento
bibliográfico, realização da pesquisa, conclusões e referências. A partir da realização
deste trabalho constatou-se que grande parte dos empreendimentos são familiares, os
modelos das peças surgem da conjunção de referências de imagens da mídia e da
influência dos consumidores, a fabricação é realizada em processos fragmentados, os
compradores são de diferentes regiões do país, em maior número da região Norte do
Brasil e detectou-se que o Facebook e o aplicativo What’sApp são as principais
ferramentas de comunicação direta com os compradores.
Palavras-chave moda popular, produção periférica, centros comerciais populares

Abstract
The popular fashion market is characterized as a market segment that appears informal
works in the suburbs and expands to the downtown with supply of manufactured products
to meet the demands of the popular classes. Negotiations at popular fashion markets,
especially in Northeast Brazil, have brought significant income to the Brazilian economy,
by its indexes in the jeans production and trading. Therefore, this research is intended to
collect information about the trading center of the jeans market "Feirão do Buraco da Gia",
and “Beco da Poeira” in the city of Fortaleza, Ceará. In carrying out this research we
applied the state of the art, field observation and open semi structured interviews. This
article has information organized into introduction, methodology, literature, conducting the
research, conclusion and references. From this work it was found that most enterprises
are familiar, the models of the pieces comes from the conjunction of media images and the
influence of consumers, manufacturing is performed in fragmented processes, buyers are
from different regions of the country, a greater number of northern Brazil and it was found
that Facebook and the What'sApp application is the main direct communication tool with
buyers.
Keywords: popular fashion, suburban production, popular markets.

1. Introdução
O mercado de moda popular da região do Nordeste brasileiro é importante devido à
criação de oportunidades de trabalho, geração de rendimentos para a população pobre
das cidades e de regiões rurais. (Alves, 2009a)
Os estados que têm apresentado maior visibilidade no mercado popular são
Pernambuco e Ceará, em razão da ampliação do número de confecções domésticas e
informais, da extensão dos espaços de comercialização e da expansão da produção.
Em Fortaleza, no Ceará, os centros comerciais populares, “Beco da Poeira”, “Feira da
José Avelino” e “O Feirão do Buraco da Gia” tem se destacado principalmente no setor
de vestuário.(Braga et al., 2015).
O segmento de jeans tem se destacado, estabelecendo um mercado de jeans popular,
na criação, produção, comercialização e consumo de peças jeans pelas classes
subalternas.
Contudo, este trabalho consiste na apresentação de uma pesquisa dos pontos de
venda de comercialização de vestuário de jeans em Fortaleza. O principal objetivo
desta investigação consiste em compreender as movimentações dos negócios do
mercado de jeans popular de Fortaleza, tendo como cenário de investigação os centros
de comercialização popular do centro da cidade de Fortaleza, “Beco da Poeira” e
“Feirão do Buraco da Gia”.
2. Metodologia
Para a construção e o delineamento desta investigação aplicou-se a combinação dos
métodos: levantamento bibliográfico, observação de campo e entrevistas abertas semi
estruturadas.
Para uma melhor apresentação das informações, o presente artigo está organizado em
introdução, metodologia, referencial teórico, realização da pesquisa e conclusões.
O referencial teórico consiste na apresentação da compilação do levantamento
bibliográfico das publicações científicas que apresentam informações acerca do tema,
o que possibilita conhecer o repertório científico existente sobre o mercado de moda
popular do Brasil e Nordeste relacionados ao segmento de jeans popular, assim
construindo a base teórica de consolidação desta investigação.
O desenvolvimento da pesquisa refere-se à descrição do processo de execução das
atividades no campo. Iniciadas com observação, que segundo Gil (2008) é um
processo importante para uma fiel coleta de dados.
A aplicação das entrevistas abertas e semiestruturadas com os
produtores/comerciantes dos mercados populares tem como intuito conhecer a
realidade acerca da operacionalização dos negócios de jeans popular realizados no
“Beco da Poeira” e “Feirão do Buraco da Gia”.
Nas considerações finais, apresenta-se os resultados analisados a partir das
informações com base nos elementos do referencial teórico e dos dados coletados por
meio da elaboração da pesquisa durante a observação de campo e da aplicação das
entrevistas.

3. Referencial teórico
O referencial teórico consiste na apresentação do levantamento bibliográfico do que se
tem escrito acerca do assunto, com a finalidade de melhor compreender o mercado de
jeans popular do “Beco da Poeira” e do “Feirão do Buraco da Gia” e assim entender e
conhecer a sistematização do popular dentro de diferentes parâmetros.
3.1 Mercado de moda popular brasileira
A contemporaneidade é marcada por inúmeros processos de transformação que
refletiu na melhoria da qualidade de vida e na facilidade ao acesso às informações,
modificando os comportamentos sociais, culturais e de consumo, assim como
mudanças nos valores sociais (Rocha & Silva, 2008).
No Brasil, as publicações e investigações desenvolvidas sobre o universo popular
surgiram com maior intensidade, segundo Piquiera (2015) somente a partir de 2007
nos ambientes académicos e nos institutos de investigação devido a melhores
condições de rendimentos das classes subalternas.
Sarti (2003) e Barros (2007), relatam que as fontes de rendimentos das famílias pobres
brasileiras, em sua grande maioria, não provêm somente de fontes de emprego ditos
formais, mas, também, de trabalhos informais, definidos como trabalhos sem contrato,
portanto, sem segurança e proteção social, por exemplo, os trabalhadores por conta
própria. (Ramos & Jorge, 2013)
A expansão territorial dos negócios informais refere-se, à comercialização dos produtos
em feiras populares e comércio ambulante como principais pontos de venda dos
produtos fabricados pelos modos de produção informal.
Os trabalhos informais desenvolveram-se, inicialmente, relacionados à produção de
vestuário, que atendessem às necessidades das classes subalternas, com
características semelhantes às das grandes marcas, sendo acessíveis em razão do
menor preço e por terem as feiras populares como principais pontos de
comercialização. (Lyra, 2005)
Desde então, estes negócios progrediram com expressivo crescimento da produção e
ampliação dos campos de comercialização, configurando-se na formação de um
mercado de moda popular.
Sendo esta definida por Alves (2009) como os produtos de vestuário concebidos,
fabricados e consumidos por confecções direcionados a atender os consumidores de
baixos rendimentos económicos, em produções domiciliares caseiras/domésticas e
informais, que têm como principais pontos de venda as feiras e/ou shoppings
populares.
Já Dulci (2013) define a moda dos mercados populares como um movimento de uma
moda aberta, pluralista. A elaboração deste conceito baseia-se nas informações
expressas nas entrevistas realizadas com o público consumidor de moda popular das
ruas do centro de Belo Horizonte.
A pluralidade da moda aberta é exemplificada pelo estudo de Guimarães (2007) ao
relatar que o uso da moda por grupos sociais periféricos, como prostitutas com a grife
Daspu e rappers da periferia como Rapping Hood, como meio de consolidação de uma
identidade marcante, expressa no modo de vestir, e de conquistar espaços de
visibilidade na sociedade.
A reviravolta do universo popular é destacado por Mauro e Trindade (2012) e Maia,
Alves e Amaral (2012), ao identificarem que a moda das empregadas domésticas
transformadas em telenovelas e então as classes subalternas, o estilo empreguete
torna-se tendência de moda, com os enfeites, as purpurinas e o colorido.
Além da exuberância do popular das trabalhadoras domésticas caracterizadas na
telenovela Empreguetes da Rede Globo de Televisão (2012) destacou-se também, a
reprodução da imagem das mulheres nordestinas que migram para os grandes centros
para desempenharem as atividades domésticas, como a personagem Socorro.
Socorro é empregada doméstica da glamorosa cantora Chayene, é nordestina, do
estado do Piauí, seu vestuário, expressões corporais e sua fala são associados à
representação icónica da população do Nordeste brasileiro. Tal construção simbólica
propagou uma representação com linguagem de interpretação cómica do vestir popular
da região Nordeste.
Para melhor analisar e compreender o vestir popular da região nordeste do Brasil o
tópico subsequente tem ponto de destaque investigações sobre esta “moda nordestina”
a partir dos parâmetros dos centros de produção e consumo de vestuário popular.

3.2 Moda popular da região nordeste do Brasil


O mercado de moda popular da região Nordeste do Brasil conquistou notável
visibilidade na economia nacional pelos índices de desenvolvimento económico,
produtivo e de consumo, em diferentes setores, calçados e acessórios e vários
segmentos de vestuário, chegando a gerar, em 2011, 120 mil empregos diretos. Os
estados da região que mais se destacam pelo desenvolvimento das atividades de
confecção de vestuário são Paraíba, Pernambuco e Ceará (SEBRAE, 2013) .
Toritama, nos últimos anos, tem sido responsável por 16% da fabricação de vestuário
em jeans produzido no país, um dos maiores produtores, e abriga em seu território o
Parque da feiras, centro de escoamento da produção da cidade que, além do espaço
coberto do parque, inclui a feira livre (ALVES, 2009).
Os compradores que circulam pela feira de Caruaru, a maior feira livre a céu aberto da
América Latina, estão à procura de peças de vestuário a baixos preços, consumidores
diretos e em sua grande maioria revendedores ambulantes, “sacoleiros(as)”.
Os “sacoleiros(as)” compram em grandes quantidades para revenderem em suas
cidades. Estes vêm de diferentes regiões do país, como Brasília, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo entre outras.
A cada feira, a cidade de Caruaru recebe 60 mil pessoas, sendo que nos meses de
junho, novembro e dezembro chega a 100 mil pessoas, com vendas que rendem R$ 30
milhões (€ 9,37 milhões) (IEMI, 2013).
O desenvolvimento do mercado de moda popular da região tem atraído o interesse da
mídia, do governo, das instituições privadas (SEBRAE, 2013) e da academia que tem
realizado inúmeras investigações como as de Alves (2009), Oliveira e Braga (2014),
entre outros, que direcionam suas pesquisas para o universo popular criado, produzido,
comercializado por esta região e consumido não só por pernambucanos mas também
por todo o país.
Segundo Alves (2012) o processo de criação das coleções lançadas pelas fábricas de
Toritama são fruto de inúmeras conexões e combinações de informações oriundas dos
catálogos e dos Book’s de tendências, conciliados com os modelos expostos pela
mídia e com o entrelaçamento das manifestações populares expressas pelas ruas da
cidade.
O mercado de moda informal do estado do Ceará, nos últimos anos, tem apresentado
crescimento e expansão tanto na descentralização da produção como nos espaços de
comercialização, transformando o centro da cidade de Fortaleza, Montenegro (2011)
define como grande mercado dos pobres, a população pobre e periférica, ocupa o
centro da cidade, as Praças da Lagoinha e a Praça José de Alencar com feiras livres e
comércio ambulante.
Os vendedores ambulantes da Praça José de Alencar, em 1989, construíram um
espaço coberto, inicialmente com 1011 boxes, que após sua primeira reforma, em
1991, passou a ter 2030 boxes e a ser denominado por Centro dos Comerciantes
Ambulantes, mas popularmente conhecido como “Beco da Poeira” (COSTA, 2012).
Com o fortalecimento e crescimento do setor de moda popular, outros espaços foram
sendo ocupados, como os antigos casarões, vizinhos da Igreja da Sé e do Mercado
Central, e transformados em centro comercial de moda popular, por exemplo, a rua
José Avelino com suas lojas e onze galpões com 700 boxes cada (MATOS et al. 2011).
Matos e Mota (2006) ao investigar o “Beco da Poeira”, detectam que as negociações
de moda popular são importante para a circulação da economia, por gerar emprego,
possibilitando o sustento de inúmeros grupos familiares chegando a gerar mais de 300
mil empregos diretos e indiretos e promovendo rendimentos para as fábricas de tecidos
e toda a cadeia têxtil da cidade e região metropolitana de Fortaleza.
Matos e Mota (2006) informaram, ainda, que as vendas do Beco da Poeira eram 70%
em grandes quantidades para compradores que vinham de cidades do interior do
Ceará, de outros estados, principalmente do Piauí, Maranhão e do Pará, os outros 30%
eram vendas para consumidores locais.

4. Realização da Pesquisa
Seguindo as recomendações metodológicas de Gil (2008) e Provdanov & Freitas
(2013) para a realização desta investigação, utilizou-se a observação de campo
estruturada sistemática e aplicação de entrevista aberta semi estruturada como
técnicas de coleta de dados.
Para a execução da recolha de informações elaborou-se um plano de observação,
realizado por meio de sistemáticas visitas aos centros comerciais, “Beco da Poeira” e
“Feirão do Buraco da Gia”. As ferramentas de registro de informações utilizadas foram
anotações e fotografias.
Durante as visitas aos centros populares de comercialização, acima referidos, aplicou-
se entrevistas com os vendedores/produtores dos pontos de venda de peças jeans.
O plano de recolha de informações percorreu o seguinte roteiro de observação:
a) Localização e estrutura física do ambiente:
O “Feirão do Buraco da Gia”, localiza-se no centro da cidade, possui duas entradas de
acesso, uma na Rua São José( Imagem 1) e outra na Rua Sobral (Imagem 2). Está
alocado dentro de um grande galpão, com telhado metálico, com aproximadamente
600 bancas (pontos de venda), fixadas uma ao lado da outra, formando estreitos
corredores. Para além da comercialização de vestuário, existe uma praça de
alimentação, salão de beleza, lojas de vendas de manequins, expositores e
embalagens plásticas e de produtos de contrafação de equipamentos eletrónicos.

Imagem 1: Localização (Google 2016)

Imagem 2: Feira do Buraco da Gia, entrada da Rua Sobral (Autor 2015)

O Centro Municipal de Pequenos Negócios, “Beco da Poeira”, está localizado no centro


da cidade na Avenida Imperador (Imagens 3 e 4). Possui 2100 boxes, sendo em maior
número pontos de venda de confecções e praça de alimentação.

Imagem 3 Localização do “Beco da Poeira” (Google 2016)


Imagem 4 Entrada do “Beco da Poeira” (Google 2016)

b) Pontos de venda:
No “Feirão do Buraco da Gia” são bancas de metal (Imagens 5 e 6), são divididas em
dois compartimentos: no superior estão as prateleiras e um espaço para expor as
mercadorias, que são organizadas em pilhas, uma ao lado da outra e para a
apresentação dos produtos utilizam manequins plásticos em vários modelos meio
corpo, corpo inteiro; no inferior está um armário com portas e chave, um estoque para
armazenar as mercadorias em segurança.

Imagem 5 Modelo de banca com prateleiras (Autor 2015)

Imagem 6 Modelo de banca com prateleiras e compartimento para os manequins (Autor 2015)
No “Beco da Poeira” os pontos de venda além das pequenas lojas com portas de
metal, denominados box, existem também as bancas de metal iguais as do “Feirão do
Buraco da Gia”. Todos os boxes possuem ganchos superiores para pendurar os
manequins para exposição dos produtos. No interior dos boxes, cada ponto está
organizado de acordo com os tipos de produtos ofertados. Na imagem 8 demonstra o
interior de um box de comercialização de short’s jeans, onde as mercadorias em
estoque são organizadas por modelos em prateleiras de metal. Os produtos são
apresentados na parte externa em um modelo de arara que é fixa à parede e que move
como portas. Estas araras fecham a parte interna do box e estando à mostra para os
clientes, as peças expostas estão ordenadas por modelos e tamanhos.

Imagem 7 Box com portas fechadas (Autor 2015)

Imagem 8 Interior Box (Autor 2015)

c) Gestão da produção dos negócios de jeans:


Em entrevistas com os vendedores, que em alguns casos também são produtores,
tanto no “Beco da Poeira”, quanto no “Feirão do Buraco da Gia”, relatam que os
produtos comercializados são de fabricação familiar. As etapas de produção das peças
são divididas entre os membros da família, vizinhos e costureiras espalhadas por
diferentes bairros periféricos da cidade de Fortaleza.
Segundo a vendedora/produtora Cléria do “Feirão do Buraco da Gia” “Nós, eu, meu
marido e minha filha, fazemos assim porque fica mais barato do que ter toda a
estrutura de fábrica montada em casa. Antes eu tinha tudo na sala da minha casa
como a modelagem, o corte e a costura, a parte dos acabamentos eram na casa dos
vizinhos. Mas assim o preço da produção saia muito mais cara. Agora eu distribuo as
peças para serem montadas nas costureiras entre os bairros do Pirambu e Barra do
Ceará, para pregar os botões levo para o Parque Presidente Vargas, a lavandaria fica
na Granja Portugal e depois volta para Parque Presidente Vargas para finalização com
a limpeza das peças. No final é separado por pacotes de modelos e distribuído.”
d) Descrição dos produtos:
No “Beco da Poeira” assim como no “Feirão do Buraco da Gia” as peças de jeans são
ricas em brilhos e adereços, sendo que no “Beco da Poeira” (Imagens 10 e 12)
observou-se que algumas peças são mais simples do que as peças do “Feirão do
Buraco da Gia” (Imagens 11 e 13).
Andando pelos corredores do “Feirão do Buraco da Gia” ouve-se muitas vezes as
peças serem ofertadas com referências a mulheres famosas como atrizes e cantoras,
como forma de atrair os clientes. Tanto é que ao questionar sobre um modelo de short
o vendedor explicou “esse é o modelo hot pant da Anitta” (Imagem 9). Referindo-se a
cantora de funk Anitta.

Imagem 9: Modelo de short’s da cantora Anitta (Catelan, 2016)


Imagem 10 Short do “Beco da Poeira”(Autor 2015)

Imagem 11 Short do “Feirão do Buraco da Gia” (Autor 2015)

Imagem 12 Calça do “Beco da Poeira” (Autor 2015)

Imagem 13 calça do “Feirão do Buraco da Gia” (Autor 2015)

e) Compradores: observou-se que os compradores circundantes são na maioria das


vezes revendedores, e não consumidores diretos. No “Beco da Poeira” (Imagem 14)
são encontrados mais consumidores diretos do que compradores revendedores. A
principal negociação realizada no “Feirão do Buraco da Gia” (Imagem 15) é do tipo
grossista, os produtores vendem em grandes quantidades para revendedores.
Os compradores revendedores são originários de cidades do interior do Ceará, da
regiões Norte e Nordeste e dos estados como Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Goiás e
Brasília, sendo os da Região Norte em maior número.

Imagem 14 Compradores e vendedores do “Beco da Poeira” (Autor 2015)

Imagem 15 Compradores e vendedores do “Feirão Buraco da Gia” (Autor 2015)

f) Comunicação: dos negócios de moda jeans popular do centros comerciais visitados,


no “Feirão do Buraco da Gia” dos 36 produtores que se teve contato direto durante a
pesquisa, 32 comunicam-se com os clientes através do aplicativo “What’sApp”. Já no
“Beco da Poeira” a comunicação é realizada também via Facebook e email. Por meio
destas ferramentas são apresentados os novos modelos, obter informações e opiniões
dos clientes e meio de realização de encomendas, pelos clientes.

Conclusões
Diante dos dados recolhidos pela pesquisa de campo, foi possível confirmar as
informações apresentadas pelas publicações acerca do mercado de moda popular de
Fortaleza (Matos & Mota 2006; Matos et al. 2011), constatando-se que parte dos
empreendimentos são familiares. A fabricação é realizada em processos fragmentados.
Constatou-se que nos mercados de Fortaleza, assim como relatado por Alves (2012)
acerca do processo de criação das peças de Toritama, o percurso de criação das
peças parte da combinação de informações coletados na mídia e com as
manifestações de gostos populares expressas pelas ruas.
Por isso, compreende-se que os produtos de moda jeans popular dos centros de
populares do “Beco da Poeira” e do “Feirão do Buraco da Gia” surgem da conjunção
das imagens da mídia e dos consumidores, pois além de ter como principais ícones de
beleza e moda as cantoras e influência das redes sociais, tem como direcionamento da
criação das peças baseadas nas concepções estéticas dos consumidores populares,
ricos em brilhos, cores e adereços, e em alguns modelos apresentam modelagens
complexas, com vários recortes e aplicações.
A comunicação dos negócios de moda jeans popular dos centros comerciais visitados,
com os clientes é interativa, clara e direta, tendo como ferramenta fundamental o
aplicativo “What’sApp”, além de página no Facebook e e-mail.
Por fim, percebeu-se que apesar do mercado de jeans popular de Fortaleza apresentar
novos modelos de estratégias de negócios e relevantes rendimentos económicos para
a economia, ainda há muito o que investigar e desvendar sobre o universo da moda
popular.

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Agradecimentos
Agradeço aos comerciantes e produtores dos centros comerciais do “Buraco da Gia” e
do “Beco da Poeira” que contribuíram com essa investigação.
Aos alunos do curso de Design Moda da Universidade Federal do Ceará que auxiliaram
na coleta dos dados dessa investigação.
E por fim agradeço à Universidade Federal do Piauí por consentir a minha liberação
para a realização destas investigações.

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