Você está na página 1de 8

INSTITUTO EDUCACIONAL SANTA TEREZINHA

Trabalho de Literatura

Professor Douglas Vinícius de Moraes

ENSAIO LITERÁRIO SOBRE A OBRA:

De Machado de Assis: “Dom Casmurro”

Aluno: Mateus Sëgur (Nº 11)


Dom Casmurro foi escrito em 1899, sendo uma das maiores obras de Machado de Assis, e
apesar da literatura, atualmente, ser desvalorizada na sociedade brasileira, trata-se de um livro
premiado, reconhecido e de grande prestígio mundial. A obra completa a trilogia realista de
Machado de Assis iniciada com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881 e
Quincas Borba, em 1891. O livro está dividido em 148 curtos capítulos que apresentam um
enredo pouco dinâmico, até porque o narrador tem de ficar a retornar para explicar fatos
(como se fosse flashback, mas é apenas digressão).

A história tem o foco principal sobre o triângulo amoroso, além da dúvida principal que deixa
para o leitor, pois não deixa explícito o que aconteceu em relação à possível traição de
Capitu...

Apesar de parecer mais um clichê romântico, com o triângulo e o romantismo, o livro também
traz fatos sobre as pessoas da época da cidade do Rio de Janeiro, como a sociedade se
comportava e até costumes religiosos, narrado pelo próprio Dom Casmurro.

Dom Casmurro / Bento Santiago é um advogado de idade e ranzinza. Suas características são
peculiares de um homem reservado, quieto, fechado, que conforme cada parágrafo vai
explicando porque se tornou assim.

Bento Santiago, que sabia sua destinação à ser padre (O primeiro filho de seus pais, que
obviamente, seria seu irmão, não chegou ao mundo, então sua mãe, Dona Glória faz uma
promessa que o ‘’condena’’ a ser padre.

O pai de Bento acabou morrendo sem sequer saber da promessa, mas Bentinho nasceu e
cresceu forte e saudável. Por aí já é possível perceber como os costumes religiosos da época
estão presentes, e em algumas partes, Dona Glória mostra arrependimento nessa promessa
besta de tirar o livre arbítrio da vida do próprio filho; mas por se tratar de um tipo de
‘’sacrifício’’, não se desfez da promessa, pois é considerado uma dívida com Deus.

Numa tarde qualquer, Bentinho então estava passando atrás da porta quando ouve José Dias
recorrer a mãe da promessa, e dizendo que a mesma deveria fazê-lo padre logo menos, até
porque o garoto já está ‘’crescido’’ e mostrando clara uma relação cada vez mais estreita com
a vizinha Capitu, e afirma que estão toda hora sempre "de segredinhos e metidos pelos
cantos".

A narrativa é alterada para contar a biografia da vida de José Dias, que é um personagem
crucial, muito importante na história. Ele não faz parte da família, é uma pessoa que foi
agregada de forma muito curiosa: afirmou ser um médico e trouxe cura para escravos doentes
tempo atrás, conquistando a confiança da família, que lhe convidou para morar junto; José
Dias recusou na primeira instância, e foi embora, porém, meses depois retornou arrependido,
contando a verdade (pois nunca foi, de fato, médico) e aceitando a moradia passou a fazer
parte da família.

*Pode-se ressaltar que nessa época era bem comum que em cada família existisse um ou mais
agregados morando em suas residências. José Dias desempenhava então várias funções como
uma forma de gratidão pela estadia que recebeu. Seja como conselheiro, fazendo serviços
gerais ou apenas bajulando os donos. Outra característica que podemos observar nele é o
frequente uso de superlativos quando está conversando: belíssimo, amaríssimo, gravíssimo...
exagerando em suas falas, parecendo até teatral.

Depois da apresentação do personagem, a narração retorna para Bentinho escutando atrás da


porta e o narrador deixa óbvia a denúncia de José Dias, que permitiu saber da relação mais
íntima com Capitolina, sua vizinha...

Os dois viveram, cresceram sempre juntos e são bons amigos. Moram um do lado do outro e
há um portão entre os dois pátios, ajudando nas conversas; brincam juntos, conversam e não
se separam há muito tempo. E, apesar de ainda serem ‘’criançolas’’ (crianças, como falamos
hoje), como o próprio Bentinho afirma, pois ele tem quinze anos e Capitu, catorze, ele
questiona se a denúncia faz sentido, percebendo que o que ele sente por Capitu é melhor,
mais forte, do que uma simples amizade de infância.

Capitu mostra ser completamente ao contrário do que Bentinho é: resolvida, impetuosa e


sempre confiante, sabendo o que deve fazer, enquanto ele, mais frágil, apenas obedece às
ordens. Ela tem (segundo o agregado), "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" e é uma das
personagens mais bipolares que já vi: nunca dá para se saber suas reais intenções nas atitudes
que tem.

Após ouvir a fala de José Dias, Bentinho se desloca até Capitu para dar o recado de que logo
menos irá para o seminário, então, percebe que ela escreveu no muro o nome deles,
mostrando nesse instante que o sentimento ali existente é recíproco.

Entretanto, como já foi visto anteriormente, a narrativa é toda feita por um Bentinho já mais
velho e amargurado, um Casmurro que desde o princípio da história tenta dar ao leitor pistas
ou ideias da personalidade mal explorada de Capitu.
Isto é perceptível logo após ver a escrita no muro, Bento e Capitu começam a se olhar
fixamente e apaixonados, confessando dessa forma o amor que sentiam e ao se aproximarem,
o pai de Capitu entra em cena, ou melhor, no parágrafo, e a menina logo assume outra
conduta, apagando a escrita do muro e discutindo com o pai afirmando que estavam
brincando, que era só um jogo.

Em outro trecho que dá para se observar esse traço da personagem é quando, dias depois,
Capitu toma a iniciativa de dar o primeiro beijo em Bentinho. Ela faz isso quando ele está
penteando os cabelos dela, e nesse momento o pai novamente chega na sala. Capitu
rapidamente começa a dar risada e brincar, para disfarçar e tudo mais, falando que Bentinho
não sabia fazer tranças, provavelmente um duplo sentido aí. Falando com seu pai e avisando a
mãe para servir o jantar, enquanto Bentinho seguia tímido por causa do beijo.

*Uma coisa importante a se destacar é o fato de que Dom Casmurro trata-se de uma obra do
movimento realista, tendo como principal característica, diferentemente dos romances
românticos tão difundidos na época em que foi escrito, aqui nenhum dos personagens é
idealizado ou perfeito, o que é deixa tudo mais interessante e vivido.

Trata-se de pessoas muito reais, quase sempre com bem mais defeitos, pontos negativos do
que qualidades, pontos positivos. Ao contrário do romance romântico, um triângulo amoroso
seria composto de mocinho herói, moça perfeitinha ou princesa e vilão ou sujeito malvado,
um triângulo no realismo é composto por homem (Bentinho), mulher (Capitu) e amante
(Escobar), todos com muitos defeitos (orgulho, adultério, ambição, vaidade etc. características
da mente humana fora da literatura).

Outra coisa relevante que a se relembrar é o fato que a obra não segue uma ordem temporal
cronológica. Durante todo o livro, a história relaciona-se entre lembranças de Bentinho já mais
velho (Casmurro), momentos e pensamentos da atualidade no contexto e pausas para explicar
a descrição dos personagens que foram citados. Nesses momentos as pessoas procuram pistas
sobre a polêmica da traição, o grande ápice dessa obra...

Assim, Bento então retorna dos trechos sem rumo e conta que Capitu, indignada com o fato
dele ter que deixá-la para ir ao seminário, inicia sua revolta contra Dona Glória, chamando-a
de ‘’beata’’ e ‘’papa-missas’’ para ofendê-la, mas depois solicita a ele que convença o agregado
a mudar a concepção de sua mãe. Bentinho retoma a esperança no coração, mas, ao falar com
José Dias, o mesmo já percebe que isso é uma difícil tarefa, até porque como já explicado no
trabalho, Dona Glória é extremamente religiosa e fiel a sua proposta com Deus.
Passando então alguns meses, Bentinho acaba tendo que ir ao seminário, mas antes de partir,
faz uma promessa à Capitu: de que voltará e eles se casarão; ela promete o mesmo, e afirma
que jamais casaria com outro homem se não ele...

Já no seminário, Bento conhece Escobar, um homem considerado muito belo, e de "olhos


fugitivos". É descrito como um sujeito que possui um carisma como ninguém, não há quem
não goste de Escobar e graças a isso, logo ele e Bento se tornam muito amigos, a ponto de
compartilharem seus segredos: nenhum dos dois quer se tornar padre. Bentinho pretende sair
de lá para casar com a amada Capitu e Escobar possui o sonho de ser comerciante. Em não
muito tempo, Escobar começa até a frequentar a casa de Bentinho, onde também conquista à
confiança de todos.

Outro personagem que também faz cada vez mais visitas na casa é Capitu. Sutilmente, ela faz
de tudo para mostrar à Dona Glória que seria a ‘’nora perfeita’’, para o caso de uma possível
mudança de ideia e ela permitir que Bento abandone o seminário.

Capitu aguarda e presta todas as suas habilidades a Dona, costurando, cozinhando, tocando,
acompanhando Glória em tudo e sucessivamente, vai cada vez mais ganhando o carinho e
confiança da futura sogra.

Para o agregado, surge a função de mensageiro (ou mandalete): apenas para levar notícias de
Bentinho à família e vice-versa. Numa de suas idas ao seminário, Bento pergunta dos
sentimentos de Capitu e quando José Dias afirma que a menina está feliz e sorridente como
sempre, Bentinho fica ouriçado. Ele não entende como pode o amor da sua vida estar tão feliz
com sua ausência, enquanto ele chora de saudades dela todas as noites na sofrência.

Nesse ponto, de novo Machado de Assis põe em questão uma das principais questões do
romance: Capitu realmente tinha sentimentos verdadeiros por Bentinho, ou a personalidade
ele ofuscava muito a relação, pois ele desconfiava demais dela?

Assim, após muitas tentativas de tentar escapar do seminário, igual aluno escapa da escola,
quem dá a ideia é Escobar: Dona Glória prometera para Deus que se Bentinho ‘’vingasse’’, ela
recompensaria dando um padre, mas Escobar raciocinou e concluiu que esse padre não
precisaria ser necessariamente Bentinho, extremamente preciso e genial por parte do amigo;
Era necessário apenas de que houvesse a adoção de um menino disposto a realizar essa
função em troca de moradia, que ela proveria. Bentinho fica então todo eufórico com a ideia e
a propõe à sua mãe, que aceita rapidamente, pois estava com muita saudade do filho e já
demonstrara afeto com Capitu, que já a conquistara e tinha grande chance de aprovar o
casamento entre os dois.

Com isso, Bento então consegue sair do seminário, assim como Escobar, mas parte para
estudar leis, se tornando então advogado, digno de orgulho da família. Volta alguns anos
depois, quando finalmente se casa com Capitu. Escobar também realiza seu sonho de se tornar
se comerciante e acaba se casando com Sancha (que era melhor amiga de Capitu...).

Até aí a história era dividida em mais de cem capítulos, todos breves, mas, contados em
detalhes, de forma que os fatos ocorrem lentamente. Após o casamento de Casmurro e Capitu
cada parágrafo torna em uma representação de meses ou até de anos, ficando mais
demorados de se ler e compreender...

A relação e a vida dos dois casais não podiam ser melhores. As relações de amizades de
Capitu/Sancha e de Bentinho/Escobar se mantiveram, constantemente visitando uns aos
outros e marcando eventos juntos. A única coisa que se desenrolou de forma triste em meio à
tanta alegria era que enquanto Escobar e Sancha já tinham uma filha (a qual carinhosamente e
curiosamente batizaram de Capitu), Bento e Capitu tentavam, mas ela não conseguia
engravidar.

Os dois tentaram por muito tempo e muitas vezes Casmurro reclamou que Deus não lhe queria
conceder a ‘’graça da paternidade’’, então, eis que finalmente Capitu engravida, dando à luz à
um menino, o qual chamaram de Ezequiel (uma forma de homenagem à Escobar, que se
chamava Ezequiel Escobar).

O menino foi crescendo, se desenvolvendo e ficando cada vez mais parecido com Escobar (nos
traços) o que deixou Bento cada vez mais desconfiança, sentindo-se no usual sentido do termo
‘’corno’’, para efeitos de explicação.

Aos cinco anos, Ezequiel era adepto ao hábito de copiar tudo e todos e quando imita Escobar
todos sempre falam que o menino se assemelha muito ao amigo. E é essa semelhança uma das
paranoias de Bento.

Num dia simples, uma tragédia ocorreu: Escobar morreu afogado para a tristeza de todos os
personagens, principalmente Capitu. No velório, Bento percebe o olhar fixo e apaixonado de
sua esposa para o defunto, o que o cativou da ideia central...

Bravo, corroída por dentro e se sentindo profundamente traído, Bento chega a procurar
veneno nas lojas, e encontra, para tentar um suicídio, pois no momento só tinha intuito de
tirar a própria vida com tal atitude feita por Capitu, mas, em casa, observando o filho tão
parecido com Escobar (traços como os olhos, o mesmo sotaque francês, a mesma inteligência
para matemática, o rosto...), ele tenta envenenar Ezequiel, que se recusa a tomar a bebida.

Percebendo a situação, Capitu furiosa aparece e pergunta qual a razão do ultraje. Bento clama
saber que não é pai da criança, e acusando ela de adultério com Escobar. E a mesma se
ofende, falando que ‘’nem mesmo os mortos escapam dos ciúmes doentios de Bentinho’’.
Após toda essa polêmica, ela e Ezequiel acabam partindo embora para Europa, outra
característica da época do livro, onde muitos brasileiros com mais poder, partiam para
Portugal.

Ela segue enviando muitas cartas para Casmurro...

...porém, as mesmas nunca são respondidas e, mesmo viajando para a Europa várias e várias
vezes, Bento nunca teve disposição de visitá-la. Ele afirma que teve muitas outras mulheres
para consolá-lo de tamanha tristeza e sentimento de traição, mas que nenhuma delas teve seu
coração como sua amada Capitu.

Alguns anos após isso, Capitu morre e Ezequiel volta a procurar seu pai, mas, casmurro afirma
que o ver crescido só deu mais certeza da traição que sofreu.

O rapaz fica apenas alguns meses na casa do pai, indo novamente embora e morrendo logo
depois. Casmurro paga todas as despesas do funeral, e afirma que pagaria o três vezes mais só
para nunca vê-lo novamente.

Ao fim, Ezequiel morreu de febre tifoide, e por algum motivo, foi enterrado em Jerusalém com
as palavras “tu eras perfeito nos teus caminhos”.

Dom Casmurro apenas conclui que sua maior amiga e seu melhor amigo foram unidos pelo
destino e enganaram-o....

A história acaba do ponto onde começou: Bento amargurado, ranzinza e solitário.

Ele afirma a ‘’sensação de se sentir traído’’, porém, como a história é narrada apenas de um
ponto de vista (o dele), há um questionamento, o de que não se saber sobre a traição existir
ou não, o que é uma clara características dos livros de narrador personagem, quando não há
onisciência, nós leitores acabamos ficando longe da real circunstância, vivendo somente
dentro da cabeça de quem está vivendo tudo.

Conclusão do livro

A obra é basicamente, a narrativa a história de um jovem que busca unir as duas partes de sua
vida: a primeira é a busca de um ideal de felicidade idealizada por ele e praticamente toda a
população brasileira contemporânea (ou até hoje): um casamento feliz, e a segunda, marcada
pela batalha para recuperar essa felicidade por suas dúvidas e reflexões em relação a sua
amada Capitu, que o conquistou e o supostamente traiu no livro.

Além disso, por fato de não apresentar um desfecho definitivo e não ter pistas suficientes, o
leitor não sabe se, de realmente, Capitu traiu Bentinho, ou se o ciúme exagerado dele
(demonstrado em vários momentos do livro e do trabalho) faz com que ele se torne um
obcecado pela ideia que está sendo traído por ela.

O romance é narrado em primeira pessoa por Bento e é isso o que mantém o espírito do leitor
dessa dúvida quanto a fidelidade de Capitu.
Porém, pode-se ressaltar de que a verdadeiro intensão da obra não é, e nem que ser o
adultério. Se aconteceu, é de importância secundária, inclusive para o próprio Machado de
Assis, que nem quis deixar esse fato explícito para os leitores, até como parte de sua
personalidade.

A ‘’traição’’ ou a ‘’não-traição’’ de Capitu é só para o autor, ao menos parcialmente, sobre as


razões pessoais ou íntimas da conduta do homem nessa sociedade.

A personagem Capitu é uma das mais bem difundidas da literatura mundial, tendo em vista
sua extraordinária complexidade psicológica. Além dela, destaca-se também o personagem
José Dias, agregado da casa de Dona Glória (mãe de Bentinho), por ser personagem de crucial
no desenrolar da narrativa.

Tornando assim, Dom Casmurro uma das melhores obras da literatura brasileira e global; é um
romance original, até por se construir apenas com flashbacks.

Nele, o talento e a habilidade literária alcançaram o ponto mais alto, a obra mestra, o ápice e o
topo da capacidade de entreter numa narrativa romântica, e descrevendo isso, não apenas
para completar a necessidade mínima de mil e oitocentas palavras do trabalho, mas sim para
ressaltar tamanha imersão que Dom Casmurro pode proporcionar a mim, a você e a todos que
leram, estão lendo ou que talvez leiam a obra de Machado de Assis.

Você também pode gostar