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Resumo e resenha – Dom Casmurro

Em Dom Casmurro acompanhamos as memórias de um homem,


na melhor das hipóteses, deprimido e carrancudo.

Tanto, que levou o apelido de Dom Casmurro por ter sempre um


semblante de quem está triste com a vida.

Não é pra menos, a partir de um certo marco temporal a vida de


Bento Santiago, ou Bentinho, ou ainda, Dom Casmurro, as
coisas desandam e sua organizada vida começa a desmoronar.

Bentinho, é o extremo oposto de seu par romântico,


Capitu. Uma cigana de olhos oblíquos e dissimulados, como o
próprio Bento a descreve.

Para facilitar a organização do resumo do livro, vou dividir este


resumo conforme os principais marcos temporais da história.

Ao todo, são pelo menos 3:

 Infância e adolescência

 Amadurecimento

 Velhice — ou melhor dizendo, sua rabugice.

Vamos lá.
Resumo da primeira parte: a infância e adolescência
de Dom Casmurro

Na parte inicial, primeiro marco temporal da história, Machado


de Assis nos apresenta elementos da história que vão compor a
obra Dom Casmurro.

As famílias de Bentinho e Capitu, personagens centrais, a


amizade entre ambos e a necessidade, por parte de uma
promessa feita pela mãe, Dona Glória, de que o rapaz devia virar
padre.

O que naturalmente desabastecia qualquer chance de namoro


entre os dois.

Durante os primeiros capítulos, os demais personagens são


introduzidos, o contexto da história é explanado e a vida e
amadurecimento de Bentinho e Capitu são discutidos.

Bentinho cresce dentro deste cenário familiar. Sendo filho de


uma família rica da época que possui grande relação e amizade
com Capitu e os parentes.

Nesta etapa da história, quase sempre Bentinho é descrito como


um menino tímido, quieto e que cresce a sombra da mãe e da
família, sem explorar ao certo, outras relações.

Fato que provavelmente moldará sua personalidade


com o decorrer dos anos.
Ao crescer, Bentinho nota que a cada dia se aproxima do dia de
pagar a promessa de sua mãe.

Por isso, pouco após ser considerado maduro o suficiente,


Bentinho vai ao seminário para cumprir a promessa feita por
sua mãe anos antes.

Capitu e seu amigo são, então, separados por esta formalidade


do destino. No entanto, Bentinho não desejava e nem sequer
possuía inclinação ao sacerdócio.

Embora isso seja evidente, sua mãe mantém a promessa que


obriga o filho a estudar para se tornar padre.

O fato é que no seminário ocorre um evento que vai marcar a


história de todos eles.

Bento conhece Ezequiel de Souza Escobar, ou simplesmente


Escobar, personagem que dá uma guinada na vida de todos.

A primeira grande mudança que Escobar propaga no arco


narrativo é quando apresenta uma solução eficaz para o dilema
de Bentinho.

Ele não queria se ordenar padre e apenas estava cumprindo a


promessa que sua mãe lhe fizera.
Por isso, Escobar apresenta uma solução para Dona Glória: ela
prometeu um sacerdote que não precisava ser exatamente o
seu filho.

Por isso, Escobar influencia os pensamentos de Dona Glória, que


após refletir e perceber que o rapaz tinha razão, manda um
escravo ao seminário e permite que Bento deixe a ordem.

Enquanto isso acontecia, Capitu e Dona Glória ficavam cada vez


mais próximas.

Resumo da segunda parte: o amadurecimento de


Dom Casmurro

Escobar e Bentinho não possuíam nenhuma inclinação para se


tornarem padres, e haviam projetados futuros diferentes.

Por isso mesmo, ambos saem da seminário e cada um toma um


rumo distinto.

Bentinho, por exemplo, volta pra casa, e logo em seguida começa


a estudar advocacia.

Escobar também toma seu rumo ao deixar o seminário. Aqui,


ocorre um novo recorte temporal, que é quando Bentinho
termina seus estudos e volta para casa, com diploma e também
com uma profissão.
Após idas e vindas, ameaços e rodeios, Bentinho e Capitu
finalmente se casam.

Paralelamente, Escobar conhece uma mulher, Sancha, e acabam


se casando.

O tempo de seminário não foi fecundo para ordenar os padres,


mas criou uma amizade que permaneceu.

Mesmo casados, Bentinho e Escobar mantiveram a relação


próxima. Agora casados, era comum que um casal visitasse o
outro com certa frequência.

A vida, aparentemente organizada, havia colocado tudo nos


trilhos para Bentinho.

Ele não precisou se ordenar padre, casou com a pessoa que


amava, tinha uma profissão e um futuro próspero.

Mas aqui é talvez o ponto que tudo começa a desandar para


Bentinho, os fatos a seguir começam a mudar sua personalidade
e ele se tornará conhecido pela alcunha de Dom Casmurro.

Em primeiro lugar, Escobar e Sancha tiveram uma filha. Bento e


Capitu ficaram felizes pela felicidade dos amigos…

Mas, ao mesmo tempo, uma nuvem cinza pairava sobre eles,


pois Capitu ainda não havia engravidado.
O que, de certo modo, gerava muita desconfiança. Sobretudo os
motivos dessa demora na personalidade de Bentinho.

A nuvem se dissipa após um período, quando Capitu descobre


que também estava grávida.

Resumo da terceira parte: Dom Casmurro emerge

O tempo passa, e Escobar, um exímio nadador, acaba morrendo


afogado.

Certo dia, atrapalhado pela morte do amigo, Bento começa a


notar uma semelhança muito grande entre Escobar — seu amigo
— e seu filho — chamado Ezequiel.

O jeito de andar, os traços no rosto. Tudo, segundo Dom


Casmurro, relembra Escobar.

Somado ao fator de que Capitu demorou engravidar e também


sentiu muito a morte do amigo, Bentinho sentencia em sua
cabeça: fui traído pela minha esposa e pelo meu melhor
amigo.

Num arco totalmente denso, Bentinho decide se matar pelo


desgosto que sua vida tomou.

Planeja tomar uma xícara de café envenenado, mas tem seu


plano interrompido pois Ezequiel, seu filho, chega.
Ele então decide matar a criança com o veneno dissolvido em
café, no entanto, isso não ocorre.

Neste momento da história. Dom Casmurro fala a Ezequiel que


ele não é seu filho.

A partir deste ponto, a vida de Bento se desmorona e ele


assumisse de vez o papel de Dom Casmurro.

Envia sua esposa e filho para Europa, pois de acordo com ele,
ver o filho era como ver uma prova viva da traição.

Só os visita quando os vizinhos começam a perguntar de Capitu


e Ezequiel, mesmo assim, fazendo viagens cada vez mais
escassas e distantes.

Os laços vão sendo aos poucos quebrados. Nas cartas que troca,
Capitu é amável ao marido ao ponto que ele é apenas rígido e
responde como se fosse apenas uma formalidade.

Os laços familiares se distanciam tanto que um dia Ezequiel


chega de surpresa para visitar seu pai.

Neste ponto, Dom Casmurro escreve que a semelhança com


Escobar era imensa, similar e rever seu falecido amigo.

Mas, Ezequiel surpreende, e conta que Capitu morreu e foi


enterrada na Europa. Ao contrário do que suspeitaria, Dom
Casmurro compreende a morte da esposa como algo comum, e
não sente comoção pelo triste evento.

Assumindo seu papel de pai, patrocina uma viagem do filho ao


outro lado do mundo para investigações científicas.

Recebe, tempos depois, uma carta avisando que o filho contraiu


febre tifoide e também morreu.

Para descrever sua comoção com a morte da esposa e do filho,


Dom Casmurro escreve pouco mais de 2 parágrafos, mostrando
o desprezo pela família.

Principalmente ao comparar com as quase 2 páginas que Bento


descreve a despedida de seu amigo Escobar.

Ao final, Bentinho perdeu seu melhor amigo, Escobar; a sua


esposa, Capitu; e seu filho, também chamado Ezequiel. A esposa
de Escobar, Sancha, e a sua filha viajam para o Paraná.

Todos os demais parentes apresentados no início da história, se


foram a muito tempo. Dom Casmurro envelhece só.

O semblante carrancudo do homem não é um exagero, ele viu


toda a sua rede de amizades e família desmoronar, e pior que
isso, acreditando fielmente que foi traído por todos, de algum
modo.
Resenha

Dom Casmurro é um clássico da nossa literatura.

É uma obra imortal, do imortal Machado de Assis. Deve ser, de


longe, um dos livros brasileiros mais lidos e traduzidos ao redor
do mundo.

Não é a toa, a história tem os diversos elementos que marcam


uma grande obra-prima, como personagens envolventes,
contextualização profunda, linha coesa de acontecimentos, e
talvez o principal elemento, discute um assunto atemporal, que
não possui uma data de vencimento.

A história de amor, ou de falta de amor, monopolizada na visão


de um personagem excêntrico traz a tona diversos sentimentos
que mesmo após um século ter se passado, ainda permanece
atual.

Além do mais, em Dom Casmurro, Machado de Assis faz um


recorte que vale a pena para todo leitor.

Ao refletir sobre a vida simples de criança e sua idealização de


mundo. Ao se confrontar com problemas e dúvidas na
adolescência. E, sobretudo, trazer o rancor e a angústia de um
personagem ao alcançar a idade adulta.
O imortal escritor brasileiro traça aspectos que, embora
centrados em um único personagem, de certo modo, são
encarnados em pessoas comuns, do dia a dia.

Talvez, em algum momento ou outro, vejamos as reflexões de


Dom Casmurro como sendo coisas que vivenciamos ou
pensámos.

Ou ainda, nós reconhecemos nas ações impensadas e


inesperadas de Capitu.

Ao contrário do que possa parecer, a história narrada é de uma


tragédia imensa, e não uma prova de amor.

O luto vivenciado e a falta de empatia são marcas muito fortes


do principal personagem da história.

Ao encarar essas reflexões, pensamentos e angústia, o livro se


torna rapidamente uma longa história de desamor.

No entanto, este final catastrófico acontece somente na parte de


encerramento da história, sendo que o restante é centrado nas
formalidades de uma vida sem considerar o aspecto fúnebre de
mortes, traições e isolamento social.

De certo modo, ao terminar a leitura de Dom Casmurro todos


nós temos um julgamento interno, se Capitu traiu ou não.
O impacto causado pelas lembranças de Dom Casmurro deixa
qualquer leitor desavisado pensativo sobre o assunto.

Talvez, a resposta possa flutuar conforme nosso momento


temporal. Conheço pessoas, por exemplo, que ao lerem o livro
mais de uma vez tiveram conclusões distintas.

Ao fim, ninguém poderá afirmar o que aconteceu, todos nós


somos expectadores da vida de Bento e Capitu.

E Capitu, traiu ou não traiu?

Li o livro 2 vezes, e nas duas leituras obtive a mesma


conclusão: Capitu não traiu o marido.

Acredito que Bentinho era um personagem extremamente


tímido que distorcia os fatos devido a personalidade assimétrica
de seu par romântico.

Ao mesmo tempo que para ele, por exemplo, era difícil falar de
seus sentimentos a alguém e criar laços sólidos.

Tanto que na história, encontramos apenas a figura de Escobar


como amigo que foi “conquistado”, todos os outros personagens
eram — de algum modo — próximos a ele.

Capitu não tinha problemas em ser honesta e fazer novas


amizades. Por isso mesmo, os risos e sinais que Dom Casmurro
notava como sendo elementos que comprovam a traição, seriam
na verdade, traços da personalidade da própria Capitu.

Não encontrei durante minhas leituras nenhum argumento


sólido e consistente que apresentasse a visão de Bentinho sobre
a traição.

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