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GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PIAUÍ-UESPI


CAMPUS DOM JOSÉ VASQUEZ DIA – BOM JESUS/PI
COORDENADORIA DO CURSO DE: DIREITO
DISCIPLINA: LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA - BLOCO – 1º - 2022.2
Prof.º: RÔMULO LIMA

Resenha Crítico- Possibilidade ou não da Linguagem Neutra no Discurso Jurídico

Aelma dos S. Cunha de Freitas - Matricula Nº 1086004


Carlos Eduardo de Carvalho – Matrícula Nº 1086009
Josele de Carvalho e Silva – Matrícula Nº 1086016
Maria Eliete de Macedo Sousa – Matrícula Nº1086206
Tatiano Ribeiro dos Santos - Matricula Nº 108606

Bom Jesus – PI
2023
RESENHA CRÍTICA

A linguagem jurídica tradicional parece não corresponder às necessidades da


sociedade moderna, caracterizada pela ampliação do acesso à justiça e pelo grande
avanço dos meios de comunicação. A escrita excessivamente formal, carregada de
expressões técnicas e burocráticas, afasta a população do debate jurídico e
contraria a expectativa social de compreensão das decisões judiciais, prejudicando o
desenvolvimento da cidadania. O emprego de linguagem simples, direta e
compreensível torna-se um dever ético para os juízes e os demais operadores do
Direito. A linguagem jurídica é um linguajar técnico e, por vezes, os termos não são
entendidas pelo público envolvido e interessado nas decisões do Poder Judiciário.

É importante, enfatizar que a origem da linguagem está relacionada com a


necessidade de comunicação entre os seres humanos, seja ela expressada por
meio de fala, escritos ou gesticulação. Em algumas áreas, por exemplo, a área
jurídica, existe uma determinada comunicação, que somente os profissionais da
mesma irão entender. Surgem então muitas críticas sobre linguagem jurídica, à
forma como ela é exposta muitas vezes, juristas também criticam a forma da escrita
correta, principalmente para advogados.

A manutenção do modelo cultural atualmente difundido, que tolera a condução


dos debates jurídicos com o uso de termos e expressões incompreensíveis aos
leigos, parece não considerar as necessidades da vida em sociedade no século XXI.

Linguagem Jurídica e a Possibilidade De Mudança

Em março de 2004 o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística


(IBOPE) realizou uma pesquisa de opinião intitulada “Imagem do poder Judiciário”,
que além de constatar o hermetismo do Judiciário aos olhos do cidadão, expuseram
em sua conclusão que o acesso à informação e à transparência é as principais
expectativas das pessoas quanto ao judiciário. Seguindo os resultados da pesquisa
do IBOPE, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) se manifestou no
sentido de encorajar os juízes, advogados e outros agentes do judiciário a usarem
de vocabulário mais simples, além de publicar cartilhas informativas, e dicionários de
“Juridiquês”. A existência dos dicionários de “Juridiquês” não é atual, eles são
bastante consumidos nas academias, na formação dos bacharéis, que devem ser
iniciados em um novo vocabulário para penetrar o mundo do direito. A linguagem
jurídica é então defendida como um instrumento de trabalho, e comparado à
linguagem técnica da medicina, das engenharias e etc. Os termos técnicos são
extremamente úteis, já que condensam conceitos em enunciados curtos e de fácil
expressão, muito embora convivam com outras formas de expressão, não tão
técnicas, mas tão herméticas quantas, como os arcaísmos, preciosismos e
estrangeirismos. Por outro lado, de forma diferente das outras ciências que dispõem
de seu próprio vocabulário, o direito é regido pelo princípio da publicidade e pelo
princípio do acesso à Justiça.

A linguagem usada nos tribunais brasileiros, embora seja a norma culta da


língua portuguesa, não é de fácil entendimento para a maioria dos cidadãos. A
linguagem jurídica deve ser objetiva e clara, tanto por parte dos juízes como por
parte dos advogados. Publicada a decisão qualquer pessoa deveria entendê-la, sem
precisar de explicações de profissionais da área. No dia-a-dia dos tribunais, a
extinção do seu uso ainda soa distante. Ao contrário, flui entre doutores. Um dialeto
que aprendido nas salas de aula do curso de Direito, ganha novos falante, em nome
da vaidade e da tradição. Os truques advêm de citações em latim, mesóclises e
outras pirotécnicas verbais. Mais do que jargão, o Juridiquês tornou-se inimigo da
justiça e aparece como uma das principais queixas da população sobre a justiça.

Essa mobilização por uma língua mais acessível, de certo modo acaba por
exigir maior objetividade e propicia maior contato com o universo jurídico. Até
porque, é no terreno do Juridiquês que surgem os sentidos dúbios, as interpretações
errôneas, o não cumprimento das leis e a esperteza. Esse problema está na origem
milenar da nossa cultura, mas juízes e promotores não aceitam mudar esse tipo de
linguagem ou adequa- lá para cada tipo de público. Sabemos que o nosso Direito é
natural do Direito romano, mas não podemos perder o valor e a essência da língua
portuguesa. Na advocacia, sentimos a carência da construção de textos jurídicos
cada vez mais claros, disposto a facilitar a leitura dos interessados e o próprio
andamento dos processos.

A inserção do gênero neutro no âmbito do Direito (deixando de lado os casos


em que isto se possa fazer sem burla às regras morfológicas e sintáticas)
representaria sérias dificuldades, porquanto o uso da língua portuguesa é obrigatório
no processo judicial, o debate, que interfere com o plano da validade, e não só com
a esfera da correção/adequação, haveria de levar em conta também o fato de que
dificilmente regras, princípios, máximas, brocardos e aforismos jurídicos fórmulas
portadoras de um sentido histórico muito valorizado pelos juristas cederiam espaço a
inovações. Diante disso, pode-se dizer que haveria barreiras praticamente
intransponíveis para alterações tão profundas como, não se podendo desconsiderar
que mudanças estruturais da língua são resultado de um processo de
transformações histórico-sociais que dizem muito sobre a maneira como um povo
vive e experimenta o idioma, sobre a sua identidade. E o Direito é partícipe dessas
relações, tanto assim que muitas expressões surgidas no ambiente jurídico, com o
tempo, foram incorporadas ao repertório dos falantes.

O Direito é uma grande reserva de racionalidade comunicativa, no contexto


real, há uma série de dificuldades em respeitar as condições ideais de fala, nas
quais está baseado o agir comunicativo, pressuposto das práticas igualitárias,
inclusivas e participativas. A modernização da linguagem jurídica é um dever ético
dos profissionais do Direito, compromisso que recai de maneira especial sobre os
magistrados, porque são os responsáveis pelo pronunciamento das decisões que
devem ser cumpridas por todos.

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