Você está na página 1de 55

0

FACI – FACULDADE IDEAL

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ANTÔNIO ATAIDES DE GUSMÃO GUIMARÃES

REQUALIFICAÇÃO DAS RUÍNAS DA IGREJA DOS JESUÍTAS DA FAZENDA


JAGUARARI.

BELÉM
2016
1

ANTÔNIO ATAIDES DE GUSMÃO GUIMARÃES

REQUALIFICAÇÃO DAS RUÍNAS DA IGREJA DOS JESUÍTAS DA FAZENDA


JAGUARARI

Monografia apresentada ao curso de Graduação


em Arquitetura e Urbanismo, da Devry | Faci,
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof. Dra. Rachel Sfair Ferreira


Benzecry

BELÉM
2016
2

ANTÔNIO ATAIDES DE GUSMÃO GUIMARÃES

REQUALIFICAÇÃO DAS RUÍNAS DA IGREJA DOS JESUÍTAS DA FAZENDA


JAGUARARI

Monografia apresentada ao curso de Graduação em


Arquitetura e Urbanismo, da Devry | Faci, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dra. Rachel Sfair Ferreira


Benzecry

Aprovada em: ___/___/___.

______________________________________________________________________
Profª. Drª. Rachel Sfair Ferreira Benzecry
Orientadora – Devry | Faci

______________________________________________________________________
Prof. Ms. Raul Da Silva Ventura Neto
Examinador interno – Devry | Faci

______________________________________________________________________
Prof. José Freire da Silva Ferreira
Examinador externo – Diretor Regional da ABDEH e Prof. Adjunto IV do Curso e
Arquitetura e Urbanismo da UFPA
3

A Deus,

Aos Meus pais Fernando e Rosangela,

A minha irmã Fernanda.

Aos Meus avós paternos Antônio e Astrid

Aos Meus avós maternos Ataídes e Martha


4

AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus, sentido maior de minha vida e responsável por todas as minhas
realizações.

A Maria, mãe de Deus e minha mãe que sempre aumenta minha fé.
Aos meus pais Fernando Amaral Guimarães e Rosangela C. F. de Gusmão Guimarães, meus grandes
exemplos em tudo, são minha fonte de inspiração para arquitetura e formadores de meu caráter, que eu
possa orgulha-los em cada passo de minha caminhada.

A minha querida irmã Fernanda que sempre alegra meus dias com seu jeito único e especial de ser.
A minha querida orientadora Drª. Rachel Sfair Ferreira Benzecry, extremamente dedicada e competente
em tudo o que faz e de quem tenho orgulho de ter sido orientando.
A todas as preciosas amizades que estiveram ao meu lado durante a vida acadêmica, parceiros para toda
a vida, os quais, de alguma forma cada um me ensinou um pouco e me fez evoluir.
Ao Prof. José Freire pela paciência e auxilio no método construtivo.

Ao Dr. Fernando Marques por ser o grande guia deste trabalho.


Ao Sr. Décio Guzmán por preciosas dicas e contatos.

A Socorro Lima e João Veloso por todas as contribuições.


Ao Jesuíta Pe. Ilário Govoni da Capelinha de Lourdes por esclarecimentos, confiança e precioso material
emprestado.
Aos meus amigos de vida, grandes tesouros sempre sendo motivo de alegria, força, motivação e em
todos os momentos.

Agradeço a todos os professores que tive durante a vida, sem eles nada disso seria possível.
Por último e não menos importante minha cadelinha Milk por ser fonte incondicional de alegria e carinho
me motivando a seguir em frente.
5

RESUMO

A Fazenda Jaguararí situada ás margens do Rio Moju, no Estado do Pará foi no século XVII
cede de um dos mais produtivos engenhos no poder dos Padres da Ordem dos Jesuítas na
Amazônia, este adquiriu enorme valor histórico através dos anos. Com as mudanças políticas,
os missionários foram expulsos do Brasil e suas terras tomadas durante a reforma pombalina,
logo, Jaguarari passou de mão em mão até os dias de hoje, suas terras também foram cortadas
pela construção da Ponte Moju-Alça inaugurada em 2002 que por sinal foi responsável por
grande perda de material arqueológico do local. Atualmente, no Sítio arqueológico Jaguararí é
possível ter contato com as ruínas de uma antiga Igreja ainda da época dos Jesuítas que está
condenada ao desaparecimento se uma atitude não for tomada. Este trabalho busca a
requalificação desta ruína, resgatando a memória do legado jesuíta e das diferentes culturas
envolvidas nessa fazenda, dentre elas as dos Africanos e Indígenas, trabalhadores na Amazônia.
Palavras-chave: Requalificação de ruínas. Engenho. Jesuítas. Igreja. Sítio arqueológico.
6

ABSTRACT

The Jaguarari Farm locatede at the Moju’s River bank, State of Pará, was the main office for
one of the most productive mill under control of The Jesuit Priests at the XVII century at
Amazon, this mil got a big historic valuation throug the years. Together with all the politics
changes the missionary got removed by force from Brazil and all theys lands taken during the
Pombaline reform, so, Jaguarari was passing hand by hand until today. Its lands got divided by
the construction of the Moju-Alça bridge inalgurated at 2002, the cause of a big loss on the
historical and archaeological material at the place. Currently, at the Jaguarari Archaeological
site is possible to have contact with old ruins of an old church from the time of the Jesuitic
Priests, which is condemned to desapear if any action is taken. This academic work seeks to the
requalification of this ruins, rescuing the memory of the Jesuit legacy and from the diferente
cultures involved at this farm, amonsgst them, the Africans and indians, workers at Amazon.
Key words: Ruins requalification. Mill. Jesuits. Church. Archaeological site.
7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Santo Inácio de Loyola.............................................................. 15


Figura 2- Tipologia - Planta do Colégio Jesuítico..................................... 16
Figura 3- Fachada Igreja de São Roque .................................................... 17
Figura 4- Engenho Nordestino do século XVII......................................... 18
Figura 5- Padre Antônio Vieira prega aos Índios...................................... 19
Figura 6- Desenhos de Alexandre Rodrigues Ferreira do Engenho
Jaguarari..................................................................................... 23
Figura 7- Iconografia do Casarão do Engenho por Alexandre Rodrigues
Ferreira....................................................................................... 25
Figura 8- Indentificação dos elementos da Igreja de Jaguarari durante a
escavação. .................................................................................. 30
Figura 9- Perspectiva externa Crepuscular Frontal..................................... 39
Figura 10- Perspectiva aérea a Sudeste ....................................................... 40
Figura 11- Perspectiva a Noroeste .............................................................. 41
Figura 12- Fachada frontal mostrando as tesouras sem linha ..................... 42
Figura 13- Perspectiva interna com novos elementos estruturais ................ 42
Figura 14- Perspectiva interna a partir do altar mor com opção de 43
mobiliário
Figura 15- Perspectiva interna c vista ao altar mor ..................................... 43
Figura 16- Perspectiva interna com opção de mobiliário ............................. 44
Figura 17- Perspectiva aérea a Sul ............................................................... 45
Figura 18- Piso em concreto e galeria de metal e vidro............................... 46
Figura 19- Perspectiva crepuscular a partir do cemitério............................. 47
Figura 20- – Limite entre a parede antiga e a nova...................................... 48
Figura 21- Perspectiva aérea a Sul............................................................... 49
Figura 22- Venezianas em vidro e Nicho..................................................... 50
Figura 23- Perspectiva interna vista lateral Sudoeste do altar mor............... 51
Figura 24- Vista aérea do terreno................................................................. 52
Figura 25- Perspectiva da via de acesso....................................................... 52
Figura 26- Vista a partir da ponte................................................................. 53
8

LISTA DE FIGURAS CARTOGRÁFICAS

Figura Cartográfica 1- Localização das terras de Jaguarari .................................... 22


Figura Cartográfica 2- Vista superior com identificação da Igreja, área do cemitério,
portão e estradas próximas........................................................... 24
9

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1- Vista frontal da Calha usada para geração de energia soterrada


e do novo galpão........................................................................ 26
Fotografia 2- Detalhe do interior da calha....................................................... 27
Fotografia 3- Interior das ruinas da Igreja sem fachada.................................. 28
Fotografia 4- Fachada leste da ruína................................................................ 28
Fotografia 5- Área devastada pela construção da Ponte Moju-Alça................ 29
Fotografia 6- Área devastada pela construção da Ponte Moju-Alça................. 30
Fotografia 7- Detalhe da parede de pedra e reboco em cimento..................... 31
Fotografia 8- Detalhe da parede tomada por vegetação.................................. 32
Fotografia 9- Coluna do arco interno. 33
Fotografia 10- Cemitério na direção Noroeste em relação à ruína
..................................................................................................... 34
Fotografia 11- Piso em tijoleira revelado na escavação...................................... 36
Fotografia 12- Ruína após limpeza..................................................................... 36
10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

2 LEGADO JESUÍTA NO PARÁ ................................................................................15

3 O SÍTIO JAGUARARI: ESTADO DE PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO


COMPLEXO..................................................................................................................22

4 PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DA IGREJA DOS JESUÍTAS: A IGREJA


DAS MERCÊS ...............................................................................................................37

4.1 As ideias de Cesare Brandi..................................................................................37

4.2 A proposta de Requalificação .............................................................................39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................53

REFERÊNCIAS.............................................................................................................54
11

1 INTRODUÇÃO

Segundo Santos (1985, p.18), “[...] cada lugar não é mais do que cada uma fração do
espaço total.”. é por essa razão que cada fração do espaço total possui por um lado
características semelhantes a outros lugares e por outro lado possui singularidades.
Estas singularidades que cada porção urbana possui devem ser valorizadas pela
sociedade, visto que, nestes lugares existem uma única combinação de estruturas, processos,
formas e função que ao se relacionarem produzem uma forma física única (SANTOS, Milton,
1985).
Neste sentido, o Sítio Arqueológico na Fazenda Jaguarari é uma fração urbana do
espaço total. E com isso, possui uma singularidade arquitetônica, social e paisagística que
combinadas entre si, torna essa Fazenda uma porção urbana singular.
A Fazenda Jaguarari, é de notável importância no tear da história do Pará,
principalmente a partir das missões Jesuítas. Situada às margens do Rio Moju, ao lado direito
da Ponte Moju-Alça da Alça Viária, possui rico material arqueológico e arquitetônico,
importantíssimos para a compreensão do passado e consequentemente uma análise mais clara
e segura do presente, dentre eles destacam-se as ruínas de uma Igreja secular, foco desta
monografia.
A Fazenda Jaguarari foi uma das mais importantes e produtivas fazendas na época dos
Jesuítas, que chegou nas mãos destes após um Casal doar as terras para que os missionários
pudessem trabalhar em prol das missões e tirar o próprio sustento. Esse tempo durou até a
reforma Pombalina (1750), quando a ordem Jesuíta fora expulsa do Brasil. (MARQUES, 2004)
Tendo como objetivo geral a requalificação de uma ruína localizada nesse sítio
histórico, serão consideradas as categorias de forma, função, estrutura e processo de Milton
Santos (1985; 2001), uma vez que com a existência de forma e função, estas surgem à partir de
estruturas e processos constituídos ao longo do tempo.
Para o método de interpretação e de análise faz-se necessário a análise da história de
longo prazo do Sítio arqueológico, em que seus elementos duram e perduram ao longo das
décadas, trazendo consigo os vestígios para contar a história de cada momento, os quais se
moldam principalmente conforme as ações sociais.
A História de longo prazo (longue durée) de Fernand Braudel (LECHTE, 2002)
contempla uma base ampla, em que existem várias perspectivas diferentes, não sendo nenhuma
delas baseada em uma única ótica. A história de longo prazo será a trajetória dos engenhos,
sobre seu papel durante os anos e a importância do sítio para as diversas culturas relacionadas
12

a este durante a história até os dias de hoje, ou seja, este trabalho contempla uma análise
histórica do século XVII aos dias de hoje.
A dinâmica social através do tempo será o foco de análise de um complexo que se
encontra atualmente abandonado. A longa história da Fazenda Jaguarari contempla desde sua
construção pela ordem dos padres Jesuítas (século XVII), até a tomada do mesmo pelo Marques
de Pombal (século XVIII), perpassando por alterações sociais e físicas que no decorrer do
tempo resultaram, nas severas ações da natureza que exerceram maior desgaste nas edificações
principalmente pela falta de manutenção ocasionada pelo esquecimento atual além de uma
grande “ferida” causada pela ponte que corta sua área ao meio. Além disso, a analise tomará
como referência outros exemplos de engenhos, principalmente situados na região amazônica.
A base principal para a requalificação da ruína da Igreja dos Jesuítas será conforme as
ideias de Cesare Brandi (1963), um dos mais importantes teóricos do restauro. A proposta de
requalificação busca, principalmente manter viva a história do legado jesuíta na Amazônia,
inclusive as ações do tempo e a falta de preservação que culminaram na descaracterização da
arquitetura original e lhe deram a forma atual de ruína, já que os motivos de se estar como está
contribuem para as conclusões tiradas a respeito de sua história. Portanto, os meios utilizados
para alcançar a proposta de requalificação de uma ruína jesuíta foram escolhidos de forma a
respeitar sua originalidade e sua história de vida desde a construção até o momento da
intervenção. Harmonizando com o todo ao mesmo tempo que se mostra nova e auxiliadora para
que o original possa ser valorizado e preservado, servindo novamente as pessoas, perdurando
de forma não apenas para que a estrutura física se mantenha, mas também todo o valor
sociocultural permeado em sua existência.
Com as transformações políticas através dos anos, este marco histórico foi condenado
ao esquecimento e logo a sua total destruição caso ninguém intervenha, então o trabalho
desenvolvido busca propor um anteprojeto de intervenção para que a ruína dos Jesuítas volte a
vida, através de uma proposta de requalificação, resultando em um novo espaço para a
população local e visitantes, assim como preservar a edificação de valor histórico e o que ela
representa na história do Pará. Foram consideradas três questões da problemática para a
construção deste trabalho:
- Qual o estado de preservação e conservação da ruína da Igreja dos Jesuítas?
- Qual a importância histórica do complexo?
- Como o projeto de requalificação da ruína da Igreja dos Jesuítas contribuirá para a
valorização social, econômica e política desta área?
A partir das questões da problemática foram desenvolvidas três hipóteses:
13

- O complexo possui uma das primeiras Igrejas da ordem dos Padres Jesuítas na região,
a qual possui arquitetura característica da época colonial.
- O estado de conservação da ruína da Igreja dos Jesuítas encontra-se em total
destruição sem a possibilidade de qualquer recuperação.
- O projeto trará vida ao local, abrindo espaço para o uso dos habitantes locais e
estimulando a visitação.
O objetivo geral é propor um anteprojeto de requalificação da ruína da Igreja da
Fazenda Jaguarari, resgatando a história do legado jesuíta na Amazônia desta ruína surgida no
período colonial, possibilitando assim aos visitantes apreciarem a história no local, bem como
trazer vida com o resgate do uso religioso.
A pesquisa tem natureza qualitativa-quantitativa. Qualitativa, pois será feita uma
análise espacial, com base nas ações da sociedade no tempo e quantitativa, pois será feita uma
proposta de intervenção arquitetônica para a requalificação do complexo existente.

Aliados a este objetivo geral, os objetivos específicos do trabalho são:


- Identificar importância histórica da Fazenda Jaguarari para a sociedade.
-Identificar as características arquitetônicas da ruína da Igreja dos jesuítas.
- Inserir novos usos ao complexo.

O método de investigação ou pesquisa tem natureza qualitativa-quantitativa.


Qualitativa, pois será feita uma análise espacial, com base nas ações da sociedade no tempo e
quantitativa, pois será feita uma proposta de intervenção arquitetônica para a ruína da Igreja
dos Jesuítas existente, a partir do levantamento de dados específicos da região.
Para alcançar o objetivo geral de propor um anteprojeto de requalificação de ruína da
Igreja dos Jesuítas na Fazenda Jaguarari o trabalho está estruturado em cinco partes
relacionadas entre si. A primeira e a quinta são respectivamente a Introdução e as Considerações
finais.
A segunda parte (Legado Jesuíta no Pará) é um levantamento histórico sobre a
Companhia de Jesus focando nas missões no Brasil, mais precisamente no Estado do Pará, além
de destacar o período e os principais acontecimentos sociais na época que estão mais
relacionados ao trajeto dos missionários nos registros da humanidade e o enredo formado por
consequência dos mesmos.
Na terceira parte (O Sítio Jaguarari: Estado de Preservação e Conservação do
Complexo.) tem-se o levantamento histórico da Fazenda Jaguarari, dados sobre a escavação
14

arqueológica feita no local e seu atual estado de preservação e conservação, estes contribuindo
para o conhecimento sobre a importância dos vestígios ali presentes em escala física.
O projeto de requalificação é a quarta parte deste trabalho, onde iremos abordar as
soluções escolhidas para tingir os objetivos da maneira mais respeitosa possível do ponto de
vista tanto dos teóricos do restauro quanto através da visão das pessoas relacionadas com a
história do lugar, possibilitando a preservação e conservação do patrimônio.
15

2 LEGADO JESUÍTA NO PARÁ

Vivia-se o contexto da Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero em 1517


quando surgiu a Companhia de Jesus, fundada em 1534 pelo padre Santo Inácio de Loyola,
nascido em 31 de Maio de 1491. No ano de 1537 o Papa Paulo III deu sua autorização e
reconhecimento a companhia. A ordem foi criada para levar o catolicismo ao mundo através
de suas missões, principalmente para a América, inserindo a cultura europeia (portuguesa e
espanhola) aos povos indígenas, ajudando na Contra-Reforma católica, visando conter o avanço
do protestantismo pelo mundo.

Figura 01 – Santo Inácio de Loyola

Fonte: Disponivel em: < http://jesuiticaheranca.blogspot.com.br/2012/07/levar-luz-de-no ssa-


santa-fe-aos-sertoes_18.html#more> Acessado em 17 de Set. de

Os jesuítas vieram para o Brasil em 1549 através da expedição de Tomé de Souza,


sendo o primeiro deles a pisar no Brasil o padre Manoel da Nobrega, estes eram apoiados pela
Coroa Portuguesa, que via os missionários como uma importante ferramenta de colonização,
pois estes faziam o primeiro contato com os índios, transmitindo sua fé e cultura, eram como
uma “ponte divina” entre os dois povos, além de ajudar a guiar os colonizadores na caminhada
espiritual e na instrução dos filhos dos brancos em suas instituições educacionais.
Nos primeiros momentos os missionários viviam em extrema pobreza, mendigavam
em suas paupérrimas vestes, pregavam em praças ou esquinas mas de todo modo se recusavam
16

a confortos vindos da corte que os apoiara na época. Este comportamento era visto por muitos
como ridículo segundo D’Azevedo (1999), as pessoas não davam o mesmo respeito e crédito
aos homens de vida modesta da mesma maneira que o faziam com os clérigos que ostentavam
influencia, confortos e poder na Europa. (D’AZEVEDO, 1999).
A mesquinhez da existência, a compostura modesta que os novos apóstolos
adoptavam, não podiam dar-lhes prestigio entre um povo costumado a ver no
clero ostentações de opulência e domínio. Começaram a ser designados no
vulgo idiotas. O favor que Don João III lhes dispensava causou surpresa; a
Universidade admirava-se que um rei prudente fizesse tanto caso de gente
idiota; e o conde de Sortelha, para desculpar o monarca, dizia que ele por
idiotas os considerava, e só ao mandára vir ao reino para converterem os
negros de Africa e os gentios da India. (D`AZEVEDO, 1999. p. 36)

Figura 02 – tipologia - Planta do Colégio Jesuítico

Fonte: Mendes, Veríssimo e Bittar, 2007


17

Figura 03 – Fachada Igreja de São Roque

Fonte: Mendes, Veríssimo e Bittar, 2007

Com o decorrer do tempo os Jesuítas buscaram estabelecer sua independência no


território americano, adquirindo terras para criação de animais e agricultura principalmente do
café e cana de açúcar.
As propriedades eram todas dos Colégios e Casas de formação da ordem, ou seja, não
pertenciam a uma ou mais pessoas e sim às instituições religiosas, visando manter os votos de
pobreza dos religiosos e garantindo a integridade dos meios da Ordem Jesuíta. Os Colégios,
além de uma função educacional, eram uma importantíssima ferramenta de gestão sobre os
bens, cujos métodos foram culturalmente determinados pelo próprio fundador Santo Inácio de
Loyola.
18

As primeiras edificações eram construídas de forma muito simples, exigindo constante


manutenção e mal suportavam a demanda que não parava de aumentar na época. Depois dos
missionários pedirem muito, a Ordem enviou em 1577 o Arquiteto Irmão Francisco Dias que
já havia trabalhado na Igreja de São Roque de Lisboa.
Chegando em Salvador em 1549, o partido adotado para os Colégios era em planta
quadrangular tendo no centro uma área descoberta e a Igreja sendo em um dos lados do Colégio.
Os Engenhos, um outro tipo de propriedade também pertencente a ordem Jesuíta eram
uma poderosa ferramenta em posse dos catequistas, geralmente utilizavam de partido aberto,
ou seja, as edificações eram separadas umas das outras. Normalmente a Casa-grande ficava em
uma colina por ser a parte mais privilegiada do lote além de proporcionar um ângulo favorável
ao controle do que estava acontecendo nas proximidades, logo ao lado poderia ser encontrada
a Capela e separada destes estariam a Senzala e depois o próprio Engenho. Muitos dos primeiros
a desfrutarem destas estruturas deram preferência a ter estes nas margens de rios, uma vez que
se poderia desfrutar do transporte fluvial e era favorável ao uso da força hidráulica para ativar
as moendas, substituindo animais de tração ou até mesmo humanos para seu funcionamento.
Figura 04 – Engenho Nordestino do século XVII.

Fonte: Mendes, Veríssimo e Bittar, 2007


19

Por volta de 1640 os Jesuítas finalmente conseguiram se fixar na Amazônia após


muitas e insistentes tentativas ao longo de anos. Este período foi marcado pelas ideias e métodos
de principalmente três figuras, os Padres Luís Figueira, Antonio Vieira e João Felipe
Bettendorf. Suas missões eram favoráveis ao projeto colonial, Portugal tinha grande interesse
em que os religiosos fossem mediadores na relação com os índios, pois desejavam aproveitar
estes como mão de obra no desenvolvimento da colônia.

Figura 05 – Padre Antônio Vieira prega aos Índios.

Fonte: http://jesuiticaheranca.blogspot.com.br/2012/07/levar-luz-de-nossa-santa-fe-aos-
sertoes_18.html#more acessado em 10 de Ago. de 2016.

Durante o século XVIII ainda se encontravam perante muitas dificuldades. Começou


em 1743 uma terrível epidemia que por cerca de sete anos aterrorizava e matava a população,
principalmente de negros e mestiços. Enquanto isso, os brancos definhavam pela própria
miséria, não possuíam recursos fortes o suficiente, nem reservas trazidas da terra natal e muito
menos uma economia estabilizada, tudo isso frente a um fisco colossal que a nação colonizadora
impunha a estes. Faltavam-lhes praticamente tudo, levando a um estado social que poderia ser
até chamado semibárbaro, ou seja, quase selvagens, sem estruturas, ferramentas ou
possibilidade de uso de técnicas mais sofisticadas de subsistência, tampouco resistência para
empenhar os cuidados agrícolas necessários, os colonos contemplavam seus bens se esvaindo.
20

Situação que levava a um ato desesperado pela sobrevivência, o pedido pela importação de
escravos africanos. (AZEVEDO, 1999)
O governo tentava impor o uso da moeda, e assim ter mais controle e imposição na
arrecadação dos impostos, estes usavam de rigidez e violência contra os que recusassem a
aceitar a moeda. Os negociantes com sofrimento e muito contrariados aceitavam as moedas,
porém não com o mesmo valor inserido na espécie, diferentemente se a negociação fosse
realizada através da troca. A principal moeda de troca eram as próprias mercadorias, os novelos
de algodão e panos em rolos eram os gêneros mais usados, e em seguida e principalmente para
negociações maiores, foram o cacau e o cravo.
O algodão, em novelos e rolos de panno, foi a moeda mais em uso; depois
delle, e para quantias maiores, o cacau e o cravo. Por vezes se tentou pôr em
circulação as especies de cobre, mas o costume inveterado, e o próprio bom
senso dos habitantes, levavam-nos a preferirem os productos, com valor real,
que representavam, a immediata utilidade nos usos da vida. Nem logravam
desvanecer essa justificada repugnancia as asperezas da lei. Cominava esta as
penas de degredo e açoutes, contra quem rejeitasse a moeda, a que o Provedor
da Fazenda baldadamente intentava dar curso no Estado. Muito violentados,
os negociantes acceitavam por fim desapreciado metal, mas só pela metade do
valor inscripto no cunho e, não obstando as diligencias do governo, o algodão
e o cacau continuaram a ser por muitos annos o principal e quasi exclusivo
instrumento das permutas. (AZEVEDO, 1999. p. 194)

Os conflitos de interesses se intensificam por volta de 1750, em que Portugal


representada pelo Marques de Pombal, incomodava-se com o poder dos religiosos sobre os
produtos das terras e sua relação com os nativos, responsáveis por serem os braços
trabalhadores dos meios de produção. Os corpos gestores ficavam cada vez mais ricos e
influentes, permitindo com que as missões evoluíssem cada vez mais, porém os colonos
reclamavam, pois não conseguiam competir com sua produção e nem tinham a mão de obra dos
índios a disposição tanto quanto os missionários. Provavelmente a grande diferença se daria em
que o produto poderia ser aplicado diretamente na manutenção das aldeias, o que juntamente
com a “[...] sujeição fácil da raça branda, o temor do castigo, o engodo das fúteis recompensas,
tudo isso junto à autoridade moral do catequista, mantinha as legiões de obreiros na
obediência.”(AZEVEDO, 1999. p.125).
Logo o apelo era totalmente diferente do aplicado por gente laical que tinha como
maior, se não a única preocupação, enriquecer a si próprios.
Portanto a concorrência era entre forças díspares, já que os Jesuítas gozavam do apoio
da mão de obra dos povos nativos que faziam com que tudo florisse em velocidade e tamanho
muito maior em favor de seus catequizadores. Insistentemente os brancos reclamavam das
dificuldades perante a concorrência com a Companhia de Jesus.
21

Um abuso, contra o qual governantes e simples cidadãos mais instantemente


reclamavam, era o de empregarem os missionarios grande numero de indios,
excedendo o que por lei lhes era concedido, na extração das drogas, e em
lavores do interesse exclusivo das comunidades. E aggravava as queixas a
circumstancia de motivarem recusas, allegando insufficiencia de gente
disponivelnas aldeias, quando alguma lhes requeriam, para os serviços do
Estado, ou em locação por salario aos moradores. (AZEVEDO, 1999. p. 198)

Era costume também que estes estivessem livres dos dízimos no Estado assim como
das tarifas alfandegárias da metrópole. Isso se dava, pois os lucros advindos seriam aplicados
no sustento das missões, o que nem por isso deixava de arruinar os homens comuns.
Portugal estava considerando, que estivessem agindo com insubmissão, pois os
missionários não estavam dando “satisfação” à coroa, suas obras estavam vindo antes dos
planos reais. Alegavam que a entidade religiosa deveria pagar impostos referentes as terras
adquiridas por compras e doações, no caso, as outras além das concedidas pelo governo no
início das missões. Outro ponto de atrito é de que eram totalmente contra a escravização dos
índios e por outro lado o Estado precisava da mão de obra para o crescimento da colônia e não
mais se intimidariam com a resistência.
Acerca dos religiosos, prescreve que, se fizerem dificuldades sobre as
escravidões, e recusarem pagar os salários, o governador os persuada a que se
sujeitem, e sejam os primeiros na obediência, sob pena de serem esbulhados
das terras, que só por abuso senhoreiam”. (AZEVEDO, 1999 p.238)
Outro fator importante foi em relação a prepotência da ordem, que outrora se via nas
graças dos poderosos monarcas além de contarem com a força conquistada nos seus seguidores,
fazendo com que estes se sentissem a vontade para enfrentar e impor seus interesses, por vezes
se recusando a pagar o dízimo do que arrecadavam, o que enfureceu ainda mais os que haviam
lhes fortalecido anteriormente.
Cada vez mais encoleiravam-se os defensores dos interesses da coroa contra a potência
que os Jesuítas haviam se tornado, buscando lhes desarticular de todas as formas já que iriam
contra os planos Portugueses. Com menção especial ao capítulo primeiro do Regimento das
Missões em que os missionários possuíam poder espiritual, político e temporal das aldeias e
todos os mais com esses relacionados, seria restituída a lei de 1663 em que os próprios índios,
denominados principais. A medida provem das propostas de Paulo da Silva Nunes, cujas ideias
serviram como base para a reforma pombalina, separando de uma vez por todas a administração
política da instrução espiritual, já que era vedado aos religiosos dominarem os assuntos do
governo já que estes são ministros de Deus e de sua igreja. Sendo em 1759 que o Marques de
Pombal realiza a expulsão definitiva da ordem dos Jesuítas da Colônia Portuguesa, enviando
navios com os ordenados de volta para a Europa.
22

3 O SÍTIO JAGUARARI: ESTADO DE PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO


COMPLEXO

Depois da expulsão dos Jesuítas ao final da década de 1750, muitas propriedades foram
entregues ao comando da Fazenda Real, aos cuidados do Governador João Pereira Caldas,
dentre eles estariam as terras do Jaguarari. (MARQUES, 2004. p. 170).
Figura Cartografica 01 – Localização das terras de Jaguarari

Fonte: Marques, 2004

As terras correspondentes ao Sítio Jaguarari foram primeiramente utilizadas como


fazenda em meados do século XVII. A propriedade era do casal Bernardo Serrão Palmelar e
sua mulher Isabel da Costa no ano de 1660, sendo que foram doadas aos padres da Companhia
de Jesus, mas a condição era de que estes sustentassem o casal até o fim de suas vidas.
(BETTENDORF, 1990, p 251; MARQUES, 2004 p. 107)
Fora implantada a fazenda por Francisco Veloso, reitor do Colégio dos Jesuítas de
1663 até 1668 e tanto a casa quanto a igreja pelo padre Manuel Nunes. Jaguarari foi uma das
fazendas mais prósperas no poder dos Jesuítas em toda a região.
Uma das maiores fazendas que tinham (os Jesuítas) era a que todos lá
conhecem como Jaguarari; é fazenda que tem dentro uma engenhoca, e
fábrica, de algumas aguardentes, que é o emprego de maior lucro
23

naquele estado; tem dentro uma famosa olaria, e muitos oficiais nela;
uma oficina de ferreiros, com bons mestres; fábrica de canoas, tecelões,
carpinteiros etc. Tem léguas de terras, cultivo da farinha-de-pau, searas
de milho, e arroz, fazenda de cacauais, e cafezais; um famosos curral
de gado e todo o preciso para todos os ofícios. (DANIEL, 2004, vol. 2,
p. 203 )

Após a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil e a tomada de suas propriedades e


controle das missões pelo Marques de Pombal, Jaguarari pertenceu a Ambrósio Henriques da
Silva Pombo, sendo um engenho muito próspero.
Alexandre Rodrigues Ferreira em uma viagem para a Amazônia fez analises da área e
deixou desenhos com planta baixa, fachada e até mesmo da calha do engenho, isso por volta de
1780.
Figura 06 – Desenhos de Alexandre Rodrigues Ferreira do Engenho Jaguarari

Fonte: Marques, 2004

Nos anos de 1820 houveram dois cientistas da Alemanha, Spix e Martius que se
hospedaram na fazenda e se empenharam a estudar sua área, equipamentos, construções e
abordar o cotidiano nos domínios.
24

A usina muito espaçosa e alta acomoda um grande engenho, de cana e


acessórios, um pilão para socar arroz, e os alambiques construídos
segundo o modelo inglês. Um riacho bastante considerável, que ao
mesmo tempo fornece água potável para os habitantes, movimenta a
máquina... A morada do administrador é contígua à usina e liga-a com
a casa do proprietário, de extremo bom gosto, que, de sua ensombrada
varanda, goza da alegre vista do rio tranqüilo e de suas margens
cultivadas. (SPIX & MARTIUS, 1981, p. 69)
É interessante que houve uma vila com trinta casas construídas em 1920 por um
alemão chamado Francisco Libon, uma verdadeira colônia agrícola, tendo um moinho à beira
da água que ativava a moenda de arroz e gerava energia para as casas, a vila durou cerca de
trinta anos. (MOREIRA, 2010, p. 6)
O sítio está situado às margens do Rio Moju e é cortado pela ponte Moju-Alça, a
terceira ponte para quem vai no sentido oposto a Belém, no km 46 da rodovia Alça-Viária.
Um grande terreno de 1200 metros por 300 metros. Hoje em dia pertence ao grupo
Y.Yamada que explora o espaço com pecuária.

Figura Cartografica 02 – Vista superior com identificação da Igreja, área do cemitério, portão e
estradas próximas.

Fonte: Marques, 2004


25

Não foi possível verificar o local das ruínas da Casa Grande no sítio Jaguarari, porém,
em outros sítios, como o Murutucu, a Capela e a Casa Grande foram assentadas na parte mais
elevada do terreno, em partido aberto, ou seja separados das demais edificações, sem muita
proximidade e em um ponto estratégico que permitia controle visual mais amplo do espaço,
normalmente no ponto mais alto do terreno, que permitia aos senhores observarem a redondezas
e manterem mais sua privacidade, o posicionamento geralmente permitia uma bela vista da
propriedade, de acordo com o livro Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI de Chico
Mendes, Chico Veríssimo e William Bittar é uma tendência fortemente notada em engenhos
coloniais brasileiros. Estas eram construções monumentais, com paredes de até um metro de
espessura, diferentemente das modestas construções da Senzala. (MARQUES, 2004. p170.)
Figura 07 – Iconografia do Casarão do Engenho por Alexandre Rodrigues Ferreira.

Fonte: Moreira, 2010.

A topografia possui perfil de ondulações suaves, com ocorrência de sulcos que servem
de drenagem, como o Igarapé Jaguarari também conhecido como Matiçari. A respeito da
vegetação, é predominantemente uma capoeira, bastante alterada através dos anos e que possui
ocorrência de gramíneas, atualmente uma área desmatada que vem servindo para criação de
gado. É possível verificar destaque em lateritas 1 argilosas e amareladas no local.

1
Solo após intensa lixiviação adquire aspecto duro, com menor permeabilidade, encontra-se mais notavelmente
na margem dos rios e notadamente se parecem com paredões.
26

Atualmente existem algumas construções em madeira, incluindo habitações de


funcionários do local e um grande galpão que abriga cavalos e maquinas agrícolas.

Fotografia 01 – Vista frontal da Calha usada para geração de energia soterrada e do novo
galpão.

Fonte: Marques, 2004.

Foram identificados vestígios do antigo engenho como a calha, e alicerces da fábrica,


além do muro de arrimo, que serviu de cais (junto ao rio).
27

Fotografia 02 – Detalhe do interior da calha.

Fonte: Marques, 2004.


Cerca de 800 metros de distância, rio abaixo, tomado por vegetação densa encontram-
se as ruínas, por sinal muito degradadas da Igreja com paredes em pedra que chegam a um
metro de espessura. A Igreja, que já serviu homenagens a Nossa Senhora de Assunção, e a
Nossa Senhora do Carmo em outro momento até sua desativação (não se sabe ao certo o ano),
tem diversos tipos de danos como: desintegração, perda, sujidade, vegetação, desgaste, dentre
muitos outros notados nas fotografias. A cobertura já não existe e alguns de seus destroços
podem ser encontrados no chão da edificação. (MOREIRA, 2010).
28

Fotografia 03 – Interior das ruinas da Igreja sem fachada

Fonte: Marques, 2004.

Fotografia 04 – Fachada leste da ruína

Fonte: Fotografia por Antônio Guimarães, 2016.

A degradação do patrimônio é feita por diversos agentes, existe a ação da natureza, a


falta de manutenção e abandono por décadas além da construção da própria ponte, responsável
29

por destruir irreversivelmente grande parte do sítio arqueológico em Jaguarari. A própria área
frontal da igreja fora perdida junto a um grande volume em camadas com componentes de
interesse arqueológico, tudo isso causou uma descaracterização extremamente agressiva à
paisagem da região. Não obstante, em 2004 houve o adicional de uma torre de linha de
transmissão de energia. (MOREIRA, 2010. p.9).

Fotografia 05 – Área devastada pela construção da Ponte Moju-Alça

Fonte: Marques, 2004.


O abandono torna as ações do tempo implacáveis em relação a destruição dos
elementos, porém existem outros fatores como marginalidade, insegurança, acesso difícil, falta
de interesse, vandalismo ou até mesmo a falta uma placa de sinalização da área.
30

Fotografia 06 – Área devastada pela construção da Ponte Moju-Alça

Fonte: Fotografia por Antônio Guimarães, 2016

Figura 08 – Identificação dos elementos da Igreja de Jaguarari durante a escavação.

Fonte: Marques, 2004


As paredes apresentam reboco com falhas, provavelmente agregado muito depois da
época de construção da Igreja, pois é possível identificar pedaços de tijolos de barro vazados e
31

cimento, materiais incomuns à época de construção. Os adornos presentes na edificação estão


muito comprometidos por conta dos desgastes feitos pelo tempo e principalmente pelas raízes
da vegetação presente que acaba por tirar as peças do lugar à medida que crescem e se
entranham no corpo da ruína, tornando as deformidades ainda mais notáveis.

Fotografia 07 – Detalhe da parede de pedra e reboco em cimento.

Fonte: Fotografia por Antônio Guimarães, 2016


32

Fotografia 08 – Detalhe da parede tomada por vegetação

Fonte: Fotografia por Antônio Guimarães, 2016


33

Fotografia 09 – Coluna do arco interno.

Fonte: IPHAN, 2016

É presente no mesmo terreno e próximo à ruína da Igreja um cemitério ativo, usado


principalmente pela comunidade local. Segundo relatos de moradores da área e trabalhadores
que estavam construindo túmulos, o cemitério costumava ser ainda maior antes da construção
da ponte.
34

Fotografia 10 – Cemitério na direção Noroeste em relação à ruína

Fonte: IPHAN, 2010

Um importante documento é o referido por Marques (2004) denominado “Manuscrito


de 1761”, documento este em que foram registradas todas as atribuições de Títulos e bens
pertencentes à Jaguarari. De maneira que contemplaremos um trecho deste manuscrito em que
o mesmo descreve a Igreja dos Jesuítas presente na Fazenda Jaguarari:
Huma igreja de pedra e cal com dez braças de cumprimento e tres de largura
com tecto do corpo da igreja por forrar toda cuberta de telhas com duas
janellas no coro com duas torres em cada huma dellas seu Campanário e com
dois púlpitos de entalho nova e dourada.
Quatro cortinas encarnadas com as sanctas deferentes nas quatro janellas do
corpo da Igreja.
Huma pia de Baptizar de pedra mármore rodeada com grades de pao torneado
e mais outra pia do mesmo de agoa benta.
Quatro painéis no corpo da Igreja.
Dous lampioins de folha de flandes com seus vidros.
Dous nixos de talhas pintadas em um delles huma imagem de São José feita
de pao comseu resplandor de prata e o menino com outro, e no outro nicho
huma imgem de Nosa Senhora da Conceisão com coroa de prata com seu
manto de primavera.
Dous confesionarios de entalha pintada em munto bom uso.
Huma lamina de cobre com seu vidro de Nossa Senhora e hum painel de
Sancto Estenislao e mais dous pegados no arco da Capella mor.

Capella Mor
35

Huma capella mor com seu forro bem pintado com a entalha bem pintada digo
dourada tudo quazi novo com suas grades de pao torneado.
Huma Imagem de Nossa Senhora da Asumpsão orago da mesma capella com
sua coroa de prata e dous anjos ao lado pegando cada hum em seu castisal.
Huma Imagem do Senhor Crucificado pequena.
Hum presépio debaixo do acento da dita Senhora com as figuras pertencentes
a elle.
Hum menino Jesus Croa de prata.
Huma Custodia de pao pequena dourada com seu agnus dei.
Hum sacrário com duas ambollas de prata hûa dellas dourada com sua cuberta
Tisso.
Huma imagem e Sancto Antonio de Loyolla com seu resplandor de prata.
Huma Imagem de São Francisco Xavier com seu resplandor de prata e seu
cruxificio de latão.
Huma Imagem de Nosa Senhora do Rozário com coroa de prata e su menino,
com outra com seu manto de veludo azul já velho e com veronica de prata no
rozario.
Huma imagem de Sancta Quitéria com seu resplandor de prata
Huma imagem de São Jerônimo e outra de São Benedicto com seu resplandor
de prata todas de pao huas maiores e outras mais pequenas.
Duas laminas de cobre boas sem vidros húa de São Jerônimo e outra de Sancta
Maria Madalena.
Quatro painéis pequenos com suas molduras e mais hû caixilho de relicário
com sua folheta de prata
Huma crus encima da entalha cheya de relíquias.
Seis castisais de bronze de dois palmos cada hû, treze de estanho pequeno de
latão também pequenos com duas campainhas.
Huma sacra com dous Evangelhos e huma pedra Dutra.
Huma estante de misal e hum par de galhetos de vidro com seu pratinho.
Huma imagem do Senhor morto debaixo do altar com seo veo de seda e
culsam de pao pintado de roxo com três imagens de senhora e das duas Marias
e com dois anjos no mesmo tumullo tudo de pao.
Dous arquibancos pintados de amarello.
Dous pares de cortina de chamalote em duas janellas da capella mor
Dous anjos de entalha grandes co dous castisais de tocha.
Seis retabolos e entalha dos mistérios Gloriozos da Senhora próximos do forro
da capella mor que lhe tomão toda a extensão.
Seis painéis pequenos pintura de fumo emais dois grandes pintura de cor nobre
com seis ramalhetes.
Huma lampeda de latam.
Dous cortinados de tafetá encarnado já velho nas duas portas da capella mor
com janellas de frente.
Duas banquetas junto ao Altar com seus frontais de pao tudo pintado.
(MARQUES, 2004).

De acordo com o manuscrito descrito acima, percebe-se que a Igreja de pedra e cal,
coberta de telha de barro era de porte médio possuía uma capela-mor com forro de madeira
pintada a mão, contendo diversas imagens de santos, elementos atualmente perdidos.
Seu piso original é em tijoleira de formato predominantemente triangular de acordo
com dados obtidos na escavação.
36

Fotografia 11 – Piso em tijoleira revelado na escavação

Fonte: IPHAN, 2010

Fotografia 12 – Ruína após limpeza

Fonte: IPHAN, 2010


37

4 PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DA IGREJA DOS JESUÍTAS: A IGREJA


DAS MERCÊS

4.1 As ideias de Cesare Brandi

Segundo Brandi, se compreende como restauração qualquer intervenção voltada a dar


novamente eficiência a um produto da atividade humana. Entende-se pela concepção que o
restauro só é aplicado sobre um produto da atividade humana; qualquer outra intervenção, seja
na esfera biológica ou física, não entra, portanto, sequer na noção comum de restauro.
Entende-se por restauro, a ser aplicado em duas situações diferente; a dos produtos ou
manufaturas industriais bem como ás obras de arte. A primeira está ligada a reparação ou
restituição de um estado anterior, a segunda se diferenciará pelos métodos e pelos objetivos que
podem gerar algo novo e diferente, sempre é claro respeitando a história.
O restauro em uma obra de arte fica muito a baixo do significado da mesma como obra
de arte quando experimentada e reconhecida como tal, sendo diferenciada de objetos comuns.
A obra de arte se mantem idêntica a ela através do tempo, mesmo que sofrendo desgastes ou
quaisquer mudanças através do tempo, porém é recriada toda vez que experimentada.
A restauração constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra
de arte na sua dupla polaridade estética e histórica, com vistas á transmissão
para o futuro. (BRANDI, 2005).
Brandi destaca a importância do meio físico pela qual a obra de arte consegue
continuar a transmitir às pessoas o seu significado como obra de arte. Visando a maior duração
da obra de arte, deverão ser feitos todas as pesquisas e esforços necessários.
Se as condições da obra de arte forem tais a ponto de exigirem sacrifício de
uma parte de uma consistência material, o sacrifício, ou, de qualquer modo, a
intervenção, deverá concluir-se segundo a instância estética. E será essa
instância a primeira em qualquer caso, porque a singularidade da obra de arte
em relação aos outros produtos humanos não depende da sua consistência
material e tampouco da dúplice historicidade (história do momento da criação
e do momento do futuro da mesma, em cada nova experiência. (BRANDI,
2005).
O segundo princípio do restauro para Brandi se dá em que deve-se restabelecer a
unidade potencial da obra de arte de maneira a não cometer falso histórico, falso artístico e sem
cancelar nenhum traço causado pela passagem do tempo.
A obra de arte é tida como o inteiro e não como uma/ umas partes, o que pode-se
comparar aos tijolos usados para construir as maravilhas arquitetônicas ou mesmo simples
palavras que podem estas em um dicionário ou serem utilizadas por um poeta para a criação de
uma obra de arte.
38

Uma interessante observação é quanto as partes que outrora fizeram parte da obra de
arte, como a composição de uma edificação em ruínas, onde os elementos restantes fazem
ligação com os que faltam, da mesma maneira quando vemos partes de carros em uma loja de
peças e ainda assim é possível ter a noção do inteiro, pelo conhecimento prévio.
Um dos princípios práticos na restauração é que a integração deverá ser sempre
facilmente reconhecível mas sem que isso distorça a unidade da obra. Brandi diz que deverá ser
invisível a distância porem com um olhar mais atencioso as integrações sejam logo
reconhecidas.
Outro princípio é que as estruturas, sendo neste caso, o que dá suporte à manifestação
da obra de arte tem maior dispõe de maior liberdade ao interagir com as integrações, desde que,
é claro, não interferindo na instância histórica inerente ao elemento base onde se manifesta a
obra de arte.
Brandi também usa como princípio o que as soluções do restauro possam manter as
possibilidades de intervenção futura de maneira até mesmo a favorecer as intervenções
posteriores.
As lacunas são casos em aberto, pois algo muito pior na vida de uma obra de arte do
que a subtração de si, é a introdução de um elemento estranho que crie um falso histórico. É de
bom tom que a lacuna seja perceptível, uma vez que pode fazer parte do histórico da obra de
arte através do tempo e os diversos elementos que possam ser influentes na forma em que se
apresenta a obra de arte. O restauro deve respeitar o lapso de tempo entre a conclusão da obra
e do seu presente estado.
Ruína é algo que testemunha o tempo humano, de história humana. O teórico Cesare
Brandi deixa claro que a restauração para ruínas tem intuito de consolidar e conservar o “status
quo”. A obra de arte impõe a necessidade de seu restabelecimento em virtude de seu potencial
histórico.
Não é necessário forçar que uma ruína volte a ter o potencial histórico a ponto da
mesma se tornar portadora de um falso histórico sobreo original.
Tomando como exemplo o Templo de Castor e Polux na Itália, seu estado de ruína já
consolida uma imagem, uma composição que não mais deve ser tocada para que seja apreciada
na maneira que se encontra, nesse caso devemos conserva-la. A ruína deve ser respeitada e
preservada com tal forma no momento em que sua atual forma desperta o mesmo significado
de ruína na consciência do observador da paisagem e não mais é capaz de despertar o
significado da obra de arte teria sido.
39

4.2 A proposta de Requalificação

Primeiramente deverá ser feita uma limpeza na área de intervenção, tirando a


vegetação e outros detritos que possam estar presentes no local, tomando maior cuidado ao
retirar a vegetação que estiver em contato com as ruínas e outros possíveis vestígios
arqueológicos.
Em seguida será realizado limpeza e tratamento impermeabilizante da estrutura já
existente das ruínas da Igreja para evitar mais desgaste. A proposta de requalificação abrange
principalmente a Igreja e seu acesso.
Figura 09 – Perspectiva externa Crepuscular Frontal

Fonte: Antônio Guimarães, 2016


40

Figura 10 – Perspectiva aérea a Sudeste

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Foram utilizados tijolos maciços de pigmentação cinza para se obter o fechamento


compondo com as antigas paredes de pedra e cal. Esse material foi escolhido por poder
harmonizar com as cores das pedras, respeitando e harmonizando, porém, fica claro que é um
elemento novo e não confunde o visitante, preservando a autenticidade da Igreja. Outro fator
interessante é que os novos fechamentos estariam em espessura diferente das antigas e robustas
paredes da Igreja (que possuíam cerca de um metro de espessura), destacando ainda mais a
diferença entre os materiais e tecnologias do passado e do presente.
41

Figura 11 – Perspectiva a Noroeste

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Foi desenvolvido um novo telhado para a proteção da ruína, construído em estrutura


independente das paredes originais, evitando assim sobrecarregar as estruturas originais.
Optou-se por colocar pilares em perfil metálico de 6 por 6 polegadas que sustentariam a nova
cobertura que seriam também em estrutura metálica, com perfis de 4 por 2 polegadas com
tesouras tipo Sem Linha (Tesoura Cruz de Santo André), fazendo uma referência ao estilo de
construção colonial, não sendo agressivo esteticamente ao antigo corpo, porém claramente uma
estrutura construída recentemente, já que o metal não era comumente utilizado para estes fins
na época de construção da Igreja, logo fica clara uma leitura contemporânea.
42

Figura 12 – Fachada frontal mostrando as tesouras sem linha

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Figura 13 – Perspectiva interna com novos elementos estruturais

Fonte: Antônio Guimarães, 2016


43

Figura 14 – Perspectiva interna a partir do altar mor com opção de mobiliário

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Figura 15 – Perspectiva interna e vista ao altar mor

Fonte: Antônio Guimarães, 2016


44

Figura 16 – Perspectiva interna com opção de mobiliário

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

As novas estruturas metálicas dos pilares e todos os elementos da cobertura serão


pintados na cor fendi.
As telhas escolhidas são do modelo Isotelha Colonial PUR da Isoeste, que garante
leveza, conforto térmico e acústico aliados a uma estética harmônica com a obra, possuindo
acabamento para o interior branco, favorece a iluminação interna da Igreja. Seu beiral é em
cachorrada, também fazendo uma referência a um estilo correspondente á época colonial.
A cobertura da nave se apresenta em um nível mais alto do que a do altar mor, sendo
este espaço de proporções menores, tendo uma parte sobreposta no encontro das duas coberturas
independentes. Com a sobreposição das duas coberturas criou-se uma abertura, situada no arco,
essa abertura ajuda na saída do ar quente, criando um ponto de escape na cobertura e assim
favorecendo o conforto térmico.
45

Figura 17 – Perspectiva aérea a Sul

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Com materiais incomuns à sua data de construção, a intervenção acaba não


confundindo o novo com o antigo, ou seja, evitando o restauro chamado estilístico de Viollet-
Le-Duc. Esta escolha foi feita já que não seria possível restaurar o elemento como ele realmente
era antes dos desmoronamentos, já que não existe material suficiente para comprovar suas
verdadeiras formas, portanto seria uma alternativa respeitosa e realista uma vez que existem
intervenções através de estruturas novas que compõe harmonicamente com o antigo sendo que
os novos elementos são visivelmente contemporâneos, não confundindo nem mesmo os leigos
no assunto.
Para o piso interno é feito primeiramente um assoalho de sacrifício feito em madeira,
sendo este em tabua corridas formando grandes painéis que serão locados sobre o a terra
nivelada que cobre o piso original, dando assim facilidade e possibilidade caso se possa
preservar o piso original de maneira adequada. E sobre este piso de cimento queimado. Haveria
um nicho no piso coberto composto de uma estrutura metálica e vidro formando uma galeria
expositora retro iluminada com fitas de LED para permitir destaque e visão a um trecho central
escavado na nave, revelando o piso original em tijoleira da Igreja. A escolha de manter
encoberto o piso original é para que o mesmo seja conservado, uma vez que não haveriam meios
viáveis de conserva-los em um primeiro momento e o uso deste pelos visitantes esperados na
edificação poderia trazer grande desgaste ao mesmo. O piso em cimento queimado se estende
46

para fora da Igreja criando um patamar de acesso parcialmente coberto e ligado a uma rampa
que faz o acesso da Igreja ser acessível.

Figura 18 – Piso em concreto e galeria de metal e vidro

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Luz é capaz de mudar totalmente a sensação que um espaço é capaz de transmitir, é


importante tomar melhor proveito desta para melhores resultados.
A iluminação interna e externa da nova composição seria com iluminação focal de cor
morna, 3000k, de maneira a destacar as texturas e formas da edificação e criando uma atmosfera
dramática, intensificando a experiência dos visitantes. A cor morna também é mais acolhedora,
dando a sensação de segurança aos visitantes.
47

Figura 19 – Perspectiva crepuscular a partir do cemitério

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

A fachada original não se faz mais presente na ruína (Fotografia 03), portanto a nova
é feita também em estrutura metálica e vidro compondo formas geométricas, tendo algumas
esquadrias com fechamento em vidro incolor temperado para manter a permeabilidade visual
para o interior alcançado com o desmoronamento da fachada, evento que já faz parte da história
de vida do prédio e é interessante que seja conservado para que não seja apagada essa parte de
sua história, servindo até mesmo como um alerta para a importância da preservação de
elementos históricos para que não sejam perdidos, parecido com as edificações em que optou-
se por manter aparentes as marcas da II Guerra situadas em Budapeste no Ministério do Interior
para manter viva a lembrança das consequências da guerra. Desta maneira é uma forma de
lembrar da necessidade de preservar o patrimônio.
48

Figura 20 – Limite entre a parede antiga e a nova

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Figura 21 – Perspectiva aérea a Sul


49

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

A nova fachada (Figura 11) é composta por uma porta de folha dupla pivotante e
janelas pivotantes para manter a ventilação quando abertas, e quando fechados criam uma
barreira protetora contra chuva, poeira e até mesmo alguns animais, a parte logo acima desta na
fachada também teriam fechamento em vidro, que compõe desenho geométrico e a parte
superior da fachada segue na mesma estrutura metálica, toda na cor fendi porem sem
fechamento em vidro, com intuito de favorecer a ventilação.
As janelas remanescentes receberam esquadrias em metal pintado na cor fendi e vidro
tipo veneziana para manter a luminosidade e ventilação constantemente.

Figura 22 – Venezianas em vidro e Nicho

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Outras janelas pivotantes compostas pelos mesmos materiais das outras esquadrias
foram introduzidas na lateral oeste do Altar Mor (Figura 23) onde houve uma perda mais
significativa da parede original, uma vez em que se entende que essa modificação causada pelo
tempo faz parte da história da Igreja e alterou significativamente o formato da mesma e
50

consequentemente a percepção das pessoas em relação a esta, optou-se por preservar a


subtração física e visual causada pelo tempo apenas agregando uma barreira protetora ao
interior das intempéries e pequenos animais invasores.

Figura 23 – Perspectiva interna vista lateral Sudoeste do altar mor

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Alguns nichos nas paredes da igreja perderam parte de seu fechamento e estes
receberam lamina de vidro fixo de maneira a retomar sua característica original preservando
sua forma atual e retomando a função de nicho.
A via de acesso através da Rodovia da Alça Viária seria pavimentada com tijolos
maciços, uma estrada de mão dupla ligaria a Rodovia a um estacionamento com vagas para 20
carros, sendo duas de tipo PCD, mais um caminho também em tijolos, é responsável por guiar
os pedestres até a uma pequena praça em frente Igreja, com espaço suficiente para a passagem
de um carro quando se fizer necessário.
51

Figura 24 – Vista aérea do terreno.

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Figura 25 – Perspectiva da via de acesso.

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Todo o caminho seria cercado por arvores trazendo um efeito de fechamento lateral e
direcionamento criando um pequeno suspense para quem chega e posteriormente permitindo
que a obra seja contemplada além de diminuir o contato entre aquém passa na ponte e a área da
52

Igreja, trazendo maior privacidade e criando barreira sonora, já que a proximidade com a ponte
Moju-Alça traz sensação de vulnerabilidade para quem está no nível da Igreja.
Figura 26 – Vista a partir da ponte.

Fonte: Antônio Guimarães, 2016

Almeja-se o resgate do uso religioso a partir da proposta de requalificação da Igreja


dos Jesuítas, em que existe um uso expressivo do cemitério ao lado da ruína da Igreja que é
bastante utilizado pela comunidade local segundo alguns moradores da Comunidade e
trabalhadores que estavam presentes no cemitério. As mesmas pessoas entrevistadas também
afirmaram que o uso religioso seria de bom tom uma vez que as pessoas precisam percorrer
longas distancias para ir ao encontro de outras Igrejas Católicas. Uma outra ideia de uso para o
local pós restauro é o uso como galeria de arte temporária ou um local onde possam haver
manifestações culturais locais aberta a visitantes.
53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta tem como objetivo valorização e preservação de patrimônio histórico


situado na Fazenda Jaguarari, dando a este utilidade e dinâmica, trazendo o lugar de volta a
vida, em que os dados coletados nos capítulos 2 e 3 foram utilizados para dar soluções práticas
e respeitosas em relação a ruína, sua arquitetura e tudo o que ela representa.
Foram levados em consideração os acontecimentos históricos, as transformações
políticas e suas consequências para os personagens de cada época que se relacionaram de
alguma forma com Jaguarari para que se pudesse ter a compreensão adequada do objeto de
estudo e assim desenvolver uma proposta que enalteça a construção secular e da mesma maneira
elaborar os alicerces necessários para que fossem preservados e dar nova vida ao local
agregando uso novamente.
Levantamento de dados no local, tanto em relação a edificação de caráter histórico,
entrevistas com pessoas da região e personalidades informadas sobre a área foram
importantíssimos para o trabalho, principalmente em relação a que novas funções a área poderia
ter agregadas.
A parte da proposta é onde foram levantados os alicerces necessários para que se possa
atingir a requalificação de um patrimônio histórico e cultural. Aqui foram unidas as soluções
viáveis para atingir os objetivos e de acordo com as ideias de Cezare Brandi, o grande guia para
as soluções escolhidas para este processo, soluções que se materializam em planta baixa, planta
de situação, cortes, perspectivas, planta de cobertura e prancha para detalhes.
As três hipóteses levantadas previamente puderam ser confirmadas no decorrer deste
trabalho.
Que fique implícito neste trabalho, além do levantamento de dados, reconhecimento
dos valores e soluções para os problemas a serem vencidos em prol de Jaguarari mas também
um alerta para a importância da valorização e conscientização em torno do patrimônio histórico,
que por traz de ruínas abandonadas esconde as raízes da identidade do hoje.
54

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, João Lucio. Os Jesuítas no Grão Pará: suas missões e a colonização. Belém: SECULT
1901 a 1999

BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. 2. Cotia: Ateliê Editorial, 2005. BETTENDORF


CENTRO DE MEMÓRIA DA AMAZÔNIA < http://bloggerdocma.blogspot.com.br/2012/01/uma-
outra-historia-de-belem.html> Acessada em 28 de Set. de 2016
DANIEL, João, 1722-1776. Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2004.
GOVONI, Ilário. Inventário Jesuítico do Pará: Os Bens dos Jesuítas no Grão Pará Confiscados, 250
anos atrás. Belém, 2009.

JESUITICAHERANÇA http://jesuiticaheranca.blogspot.com.br/2012/07/levar-luz-de-nossa-santa-fe-
aos-sertoes_18.html#more Acessada em 17 de Set. de 2016
LECHTE, John. 50 pensadores contemporâneos essenciais: do estruturalismo à pósmodernidade. Rio
de Janeiro: Difel, 2002.
MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Um Modelo da Agroindústria Canavieira Colonial no Estuário
Amazônico: Estudo Arqueológico de Engenhos dos Séculos XVIII e XIX. Porto Alegre: PUCRS,
2004.
MENDES, VERÍSSIMO, BITTAR, Chico, Francisco, William. Arquitetura no Brasil: de Cabral a D.
JoãoVI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007
MOREIRA, Gisele. Análise Potencial Arqueoturístico na Comunidade de Moju-PA. Belém: UFPA,
2010.

RUSKIN, John. A Lâmpada da Memória. Artes & Ofícios, São Paulo, Ateliê Editorial, 2008.

SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. (Coleção Espaços).
SCIELO <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202010000200009&script=sci_arttext>
acessado em: 25 de Ago. de 2016.
FERREIRA, Rachel Sfair da Costa. Para Além das Formas e das Funções: Preservação e gestão
dapaisagem do Centro Histórico de Belém (CHB) na perspectiva do espaço como instância e produção
social. Belém: 2014.

NEUFERT, Ernst. A arte de projetar em arquitetura. 18. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

Você também pode gostar